Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quinta-feira, 9 de setembro de 2021
Fundamental
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"Fundamental é tudo que é essencial, imprescindível."
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O extremismo tem se valido de campanhas de ódio, desinformação, meias verdades e teorias conspiratórias, que visam enfraquecer os fundamentos da democracia representativa.
Leia a íntegra do pronunciamento de Barroso sobre manifestações antidemocráticas
Presidente do TSE fez pronunciamento em que rebateu ataques de Bolsonaro contra o tribunal e as urnas eletrônicas durante atos no 7 de Setembro.
Por G1 — Brasília
09/09/2021 11h07 Atualizado há 6 horas
'A democracia vive um momento delicado', diz Luís Roberto Barroso em pronunciamento
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Rafaela Lara e Neila Guimarães da CNN
em São Paulo e Brasília
09/09/2021 às 10:36 | Atualizado 09/09/2021 às 13:32
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O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, afirmou nesta quinta-feira (9) que a “democracia vive um momento delicado”. A fala de Barroso acontece após os atos de 7 de Setembro e os discursos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante as manifestações desta terça-feira.
“A democracia vive um momento delicado em diferentes partes do mundo, em um processo que tem sido batizado como recessão democrática, retrocesso democrático, constitucionalismo abusivo, democracias iliberais ou legalismo autocrático”, disse Barroso. Em seguida, Barroso cita diversos países que tiveram suas democracias atacadas ao longo dos últimos anos.
O ministro ressaltou que a subversão democrática se deu nos países citados após a eleição de chefes de Poder devidamente eleitos pelo voto popular que passaram a “desconstruir a democracia e pavimentar o caminho para o autoritarismo”.
“O populismo tem lugar quando líderes carismáticos manipulam as necessidades e os medos da população, apresentando-se como anti-establishment, diferentes ‘de tudo o que está aí’ e prometendo soluções simples e erradas, que frequentemente cobram um preço alto no futuro.”
*** *** https://www.cnnbrasil.com.br/politica/democracia-vive-momento-delicado-diz-barroso-apos-atos-do-7-de-setembro/ *** ***
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'A democracia vive um momento delicado', diz Luís Roberto Barroso em pronunciamento
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O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, fez um pronunciamento nesta quinta-feira (9) em que criticou o presidente Jair Bolsonaro e rebateu ataques feitos pelo presidente da República durante os atos do 7 de Setembro em favor do governo e de pautas antidemocráticas.
Leia abaixo a íntegra do pronunciamento de Barroso:
Pronunciamento do ministro Luís Roberto Barroso
Na abertura da sessão do Tribunal Superior Eleitoral de 9.09.2021
I. Introdução
1. A propósito dos eventos e pronunciamentos do último dia 7 de setembro, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Luiz Fux, já se manifestou com relação aos ataques àquele Tribunal, seus Ministros e às instituições, com o vigor que se impunha.
2. A mim, como Presidente do Tribunal Superior Eleitoral cabe apenas rebater o que se disse de inverídico em relação à Justiça Eleitoral. Faço isso em nome dos milhares de juízes e servidores que servem ao Brasil com patriotismo – não o da retórica de palanque, mas o do trabalho duro e dedicado –, e que não devem ficar indefesos diante da linguagem abusiva e da mentira.
3. Já começa a ficar cansativo, no Brasil, ter que repetidamente desmentir falsidades, para que não sejamos dominados pela pós-verdade, pelos fatos alternativos, para que a repetição da mentira não crie a impressão de que ela se tornou verdade. É muito triste o ponto a que chegamos.
Þ Antes de responder objetivamente a tudo o que precisa ser respondido, faço uma breve reflexão sobre o mundo em que estamos vivendo e as provações pelas quais têm passado as democracias contemporâneas. É preciso entender o que está acontecendo para resistir adequadamente.
II. A Recessão Democrática no Mundo
1. A democracia vive um momento delicado em diferentes partes do mundo, em um processo que tem sido batizado como recessão democrática, retrocesso democrático, constitucionalismo abusivo, democracias iliberais ou legalismo autocrático. Os exemplos foram se acumulando ao longo dos anos: Hungria, Polônia, Turquia, Rússia, Geórgia, Ucrânia, Filipinas, Venezuela, Nicarágua e El Salvador, entre outros. É nesse clube que muitos gostariam que nós entrássemos.
2. Em todos esses casos, a erosão da democracia não se deu por golpe de Estado, sob as armas de algum general e seus comandados. Nos exemplos acima, o processo de subversão democrática se deu pelas mãos de presidentes e primeiros-ministros devidamente eleitos pelo voto popular. Em seguida, paulatinamente, vêm as medidas que desconstroem os pilares da democracia e pavimentam o caminho para o autoritarismo.
III. Três fenômenos distintos
1. Há três fenômenos distintos em curso em países diversos: a) o populismo; b) o extremismo e c) o autoritarismo. Eles não se confundem entre si, mas quando se manifestam simultaneamente – o que tem sido frequente – trazem graves problemas para a democracia.
2. O populismo tem lugar quando líderes carismáticos manipulam as necessidades e os medos da população, apresentando-se como anti-establishment, diferentes “de tudo o que está aí” e prometendo soluções simples e erradas, que frequentemente cobram um preço alto no futuro.
3. Quando o fracasso inevitável bate à porta – porque esse é o destino do populismo –, é preciso encontrar culpados, bodes expiatórios. O populismo vive de arrumar inimigos para justificar o seu fiasco. Pode ser o comunismo, a imprensa ou os tribunais.
4. As estratégias mais comuns são conhecidas:
a) uso das mídias sociais, estabelecendo uma comunicação direta com as massas, para procurar inflamá-las;
b) a desvalorização ou cooptação das instituições de mediação da vontade popular, como o Legislativo, a imprensa e as entidades da sociedade civil; e
c) ataque às supremas cortes, que têm o papel de, em nome da Constituição, limitar e controlar o poder.
5. O extremismo se manifesta pela intolerância, agressividade e ataque a instituições e pessoas. É a não aceitação do outro, o esforço para desqualificar ou destruir os que pensam diferente. Cultiva-se o conflito do nós contra eles. O extremismo tem se valido de campanhas de ódio, desinformação, meias verdades e teorias conspiratórias, que visam enfraquecer os fundamentos da democracia representativa. Manifestação emblemática dessa disfunção foi a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, após a derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais. Por aqui, não faltou quem pregasse invadir o Congresso e o Supremo.
6. O autoritarismo, por sua vez, é um fenômeno que sempre assombrou diferentes continentes – América Latina, Ásia, África e mesmo partes da Europa –, sendo permanente tentação daqueles que chegam ao poder.
7. Em democracias recentes, parte das novas gerações já não tem na memória o registro dos desmandos das ditaduras, com seu cortejo de intolerância, violência e perseguições. Por isso mesmo, são presas mais fáceis dos discursos autoritários.
8. Uma das estratégias do autoritarismo, dos que anseiam a ditadura, é criar um ambiente de mentiras, no qual as pessoas já não divergem apenas quanto às suas opiniões, mas também quanto aos próprios fatos. Pós-verdade e fatos alternativos são palavras que ingressaram no vocabulário contemporâneo e identificam essa distopia em que muitos países estão vivendo.
9. Uma das manifestações do autoritarismo pelo mundo afora é a tentativa de desacreditar o processo eleitoral para, em caso de derrota, poder alegar fraude e deslegitimar o vencedor.
10. Visto o cenário mundial, falo brevemente sobre o Brasil e os ataques sofridos pela Justiça Eleitoral.
IV. Referências ao TSE e ao processo eleitoral
1. No tom, com o vocabulário e a sintaxe que é capaz de manejar, o Presidente da República fez os seguintes comentários que dizem respeito à Justiça Eleitoral e que passo a responder.
I. “A alma da democracia é o voto”.
1. De fato, o voto é elemento essencial da democracia representativa.
2. Outro elemento igualmente fundamental é o debate público permanente e de qualidade, que permite que todos os cidadãos recebam informações corretas, formem sua opinião e apresentem seus argumentos.
3. Quando esse debate é contaminado por discursos de ódio, campanhas de desinformação e teorias conspiratórias infundadas, a democracia é aviltada.
Þ O slogan para o momento brasileiro, ao contrário do propalado, parece ser: “Conhecerás a mentira e a mentira te aprisionará”.
II. “Não podemos admitir um sistema eleitoral que não fornece qualquer segurança”
1. As urnas eletrônicas brasileiras são totalmente seguras. Em primeiro lugar, elas não entram em rede e não são passíveis de acesso remoto. Podem tentar invadir os computadores do TSE (e obter alguns dados cadastrais irrelevantes), podem fazer ataques de negação de serviço aos nossos sistemas, nada disso é capaz de comprometer o resultado da eleição. A própria urna é que imprime os resultados e os divulga.
2. Os programas que processam as eleições têm o seu código fonte aberto à inspeção de todos os partidos, da Polícia Federal, do Ministério Público e da OAB um ano antes das eleições. Estará à disposição dessas entidades a partir de 4 de outubro próximo. Inúmeros observadores internacionais examinaram o sistema com seus técnicos e atestaram a sua integridade.
3. Ainda hoje, daqui a pouco, anunciarei os integrantes da Comissão de Transparência das Eleições, que vão acompanhar cada passo do processo eleitoral. Nunca se documentou qualquer episódio de fraude.
Þ O sistema é certamente inseguro para quem acha que o único resultado possível é a própria vitória. Como já disse antes, para maus perdedores não há remédio na farmacologia jurídica.
III. “Nós queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública de votos”
1. As eleições brasileiras são totalmente limpas, democráticas e auditáveis. Eu não vou repetir uma vez mais que nunca se documentou fraude, que por esse sistema foram eleitos FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro e que há 10 (dez) camadas de auditoria no sistema.
2. Agora: contagem pública manual de votos é como abandonar o computador e regredir, não à máquina de escrever, mas à caneta tinteiro. Seria um retorno ao tempo da fraude e da manipulação. Se tentam invadir o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, imagine-se o que não fariam com as seções eleitorais!
3. As eleições brasileiras são limpas, democráticas e auditáveis. Nessa vida, porém, o que existe está nos olhos do que vê.
IV. “Não podemos ter eleições onde (sic) pairem dúvidas sobre os eleitores”
1. Depois de quase três anos de campanha diuturna e insidiosa contra as urnas eletrônicas, por parte de ninguém menos do que o Presidente da República, uma minoria de eleitores passou a ter dúvida sobre a segurança do processo eleitoral. Dúvida criada artificialmente por uma máquina governamental de propaganda. Assim que pararem de circular as mentiras, as dúvidas se dissiparão.
V. “Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral”
1. O Presidente da República repetiu, incessantemente, que teria havido fraude na eleição na qual se elegeu. Disse eu, então, à época, que ele tinha o dever moral de apresentar as provas. Não apresentou.
2. Continuou a repetir a acusação falsa e prometeu apresentar as provas. Após uma live que deverá figurar em qualquer futura antologia de eventos bizarros, foi intimado pelo TSE para cumprir o dever jurídico de apresentar as provas, se as tivesse. Não apresentou.
3. É tudo retórica vazia. Hoje em dia, salvo os fanáticos (que são cegos pelo radicalismo) e os mercenários (que são cegos pela monetização da mentira), todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história.
VI. “Não é uma pessoa no Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável”.
1. Não sou eu que digo isso. Todos os ex-Presidentes do TSE no pós-88 – 15 Ministros e ex-Ministros do STF – atestam isso. Mas, na verdade, quem decidiu que não haveria voto impresso foi o Congresso Nacional, não foi o TSE.
2. A esse propósito, eu compareci à Câmara dos Deputados após três convites: da autora da proposta, do Presidente da Comissão Especial e um convite pessoal do Presidente daquela Casa. Não fiz ativismo legislativo. Fui insistentemente convidado.
3. Lá expus as razões do TSE. Não tenho verbas, não tenho tropas, não troco votos. Só trabalho com a verdade e a boa fé. São forças poderosas. São as grandes forças do universo. A verdade realmente liberta. Mas só àqueles que a praticam.
4. Foi o Congresso Nacional – não o TSE – que recusou o voto impresso. E fez muito bem. O Presidente da Câmara afirmou que após a votação da Proposta, o assunto estaria encerrado. Cumpriu a palavra. O Presidente do Senado afirmou que após a votação da Proposta, o assunto estaria encerrado. Cumpriu a palavra. O Presidente da República, como ontem lembrou o Presidente da Câmara, afirmou que após a votação da proposta o assunto estaria encerrado. Não cumpriu a palavra.
5. Seja como for, é uma covardia atacar a Justiça Eleitoral por falta de coragem de atacar o Congresso Nacional, que é quem decide a matéria.
VII. Conclusão
1. Insulto não é argumento. Ofensa não é coragem. A incivilidade é uma derrota do espírito. A falta de compostura nos envergonha perante o mundo. A marca Brasil sofre, nesse momento, uma desvalorização global. Somos vítimas de chacota e de desprezo mundial.
2. Um desprestígio maior do que a inflação, do que o desemprego, do que a queda de renda, do que a alta do dólar, do que a queda da bolsa, do que o desmatamento da Amazônia, do que o número de mortos pela pandemia, do que a fuga de cérebros e de investimentos. Mas, pior que tudo, nos diminui perante nós mesmos. Não podemos permitir a destruição das instituições para encobrir o fracasso econômico, social e moral que estamos vivendo.
3. A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. O que nos une na diferença é o respeito à Constituição, aos valores comuns que compartilhamos e que estão nela inscritos. A democracia só não tem lugar para quem pretenda destruí-la.
Þ Com a bênção de Deus – o Deus do bem, do amor e do respeito ao próximo – e a proteção das instituições, um Presidente eleito democraticamente pelo voto popular tomará posse no dia 1º de janeiro de 2023.
JAIR BOLSONARO
LUÍS ROBERTO BARROSO
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL
*** *** https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/09/09/leia-a-integra-do-pronunciamento-de-barroso-sobre-manifestacoes-antidemocraticas.ghtml *** ***
Significado de Fundamental
O que é Fundamental:
Fundamental significa básico, essencial, necessário. É um adjetivo que faz referência àquilo que serve de fundamento, ou seja, que serve de base, de alicerce, de sustentáculo.
Fundamental é algo que exerce grande importância, que tem papel crucial, ou que é indispensável. Ex.: ensino fundamental, direito fundamental, pedra fundamental etc.
Ensino fundamental
Ensino fundamental é o período escolar que tem início aos seis anos de idade e se prolonga por nove anos, dividido em Fundamental I, que tem duração de cinco anos (1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª séries), e o Fundamental II, que se prolonga por quatro anos (6ª, 7ª, 8ª e 9ª séries). É nessa fase que os estudantes recebem os ensinamentos básicos de uma educação escolar.
Direito fundamental
O direito fundamental do cidadão é estabelecido pela constituição, onde todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, tendo garantido a liberdade, a igualdade, a segurança etc., além de uma vasta gama de preceitos fundamentais, consolidados em regras e princípios que garantam o Estado Democrático de Direitos e Deveres do cidadão.
Pedra fundamental
Pedra fundamental é o primeiro bloco de pedra ou alvenaria, colocado simbolicamente no local de uma futura edificação, durante uma solenidade de lançamento da construção.
Nas construções antigas, a pedra angular era a pedra fundamental, a primeira a ser assentada na esquina do edifício, formando um ângulo reto entre duas paredes. Servia para definir a colocação das outras pedras e alinhar toda a construção.
Data de atualização: 19/08/2014.
*** *** https://www.significados.com.br/fundamental/ *** ***
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Marieta Severo: 'Nunca senti uma angústia cívica tão profunda'
AUGUST 22, 2021
Marieta Severo assumiu os cabelos brancos: 'Pandemia me ajudou a dar esse espaço. Eu e a muitas mulheres, isso é maravilhoso' Foto: Leo Aversa
Marieta Severo assumiu os cabelos brancos: 'Pandemia me ajudou a dar esse espaço. Eu e a muitas mulheres, isso é maravilhoso' Foto: Leo Aversa
Marieta Severo estranha quando se olha no espelho. Ainda não se acostumou com os cabelos brancos. Mas está “felicíssima” após passar quase 30 de seus 74 anos retocando os fios com tinta escura. A pandemia a libertou (“eu e a um monte de mulheres, o que é maravilhoso!”). Quem dá de cara com a atriz pessoalmente tem a impressão de que ela nasceu para o novo penteado. Ele contrasta com a pele morena e coroa a elegância de seu corpo esguio dentro da roupa preta. Mas é pela tela do Zoom que a atriz desanda a falar, emendando um assunto no outro com a urgência de quem está entalada. — Todo mundo está com gritos parados na garganta, né? Ou berrando mesmo — analisa a atriz, que define os últimos dois anos como “os mais difíceis da minha vida”.
Atriz Marieta Severo Foto: LEO AVERSA / Agência O Globo
Atriz Marieta Severo Foto: LEO AVERSA / Agência O Globo
Um dos casais mais simpáticos da TV brasileira: Dona Nenê e Lineu, vividos pelos atores Marieta Severo e Marco Nanini, na série
Um dos casais mais simpáticos da TV brasileira: Dona Nenê e Lineu, vividos pelos atores Marieta Severo e Marco Nanini, na série "A grande família" Foto: Carlos Ivan / TV Globo
Marieta Severo com o elenco de
Marieta Severo com o elenco de "A grande família" Foto: João Miguel Júnior
Aderbal Freire-Filho e Marieta Severo na estreia de 'Gira', espetáculo do Grupo Corpo, no Teatro Municipal do Rio Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Aderbal Freire-Filho e Marieta Severo na estreia de 'Gira', espetáculo do Grupo Corpo, no Teatro Municipal do Rio Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Marieta Severo e sua filha Silvia Buarque Foto: Bia Guedes / Agência O Globo - 28/04/2006
Marieta Severo e sua filha Silvia Buarque Foto: Bia Guedes / Agência O Globo - 28/04/2006
Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho dançam em uma festa, em 2017 Foto: Cristina Granato
Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho dançam em uma festa, em 2017 Foto: Cristina Granato
Marieta Severo, a filha Luísa Buarque e Cláudio Baltar Foto: Paulo Mazzoni / Agência O Globo - 24/03/2005
Marieta Severo, a filha Luísa Buarque e Cláudio Baltar Foto: Paulo Mazzoni / Agência O Globo - 24/03/2005
Marieta Severo, Silvia Buarque de Holanda e Guta Stresser Foto: Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo - 14/12/2015
Marieta Severo, Silvia Buarque de Holanda e Guta Stresser Foto: Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo - 14/12/2015
Marieta Severo e Fernanta Montenegro foram vizinhas de espetáculo no Teatro Leblon, em 1998 Foto: Ana Branco / Agência O Globo - 14/08/1998
Marieta Severo e Fernanta Montenegro foram vizinhas de espetáculo no Teatro Leblon, em 1998 Foto: Ana Branco / Agência O Globo - 14/08/1998
Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho na estreia do filme 'Feminices', de Domingos Oliveira, no Cine Odeon: casados há 18 anos Foto: Cristina Granato
Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho na estreia do filme 'Feminices', de Domingos Oliveira, no Cine Odeon: casados há 18 anos Foto: Cristina Granato
Marieta e o amigo e também ator Pedro Paulo Rangel Foto: Carlos Sadicoff / Arquivo - 31/05/1997
Marieta e o amigo e também ator Pedro Paulo Rangel Foto: Carlos Sadicoff / Arquivo - 31/05/1997
A atriz Marieta Severo e Chico Buarque de Holanda na entrega do Prêmio Molière, em 1981, quando eram casados Foto: Antônio Nery / Agência O Globo - 09/10/1981
A atriz Marieta Severo e Chico Buarque de Holanda na entrega do Prêmio Molière, em 1981, quando eram casados Foto: Antônio Nery / Agência O Globo - 09/10/1981
Pedro Paulo Rangel com Marieta Severo, na peça
Pedro Paulo Rangel com Marieta Severo, na peça "Um beijo, um abraço, um aperto de mão" Foto: Arquivo
Amigos e atores Marieta Severo e Reynaldo Gianecchini – Fanny e Anthony, de
Amigos e atores Marieta Severo e Reynaldo Gianecchini – Fanny e Anthony, de "Verdades secretas" Foto: Paulo Belote
Silvia Buarque, Chico Buarque, Marieta Severo e a neta Irene (Filha de Silvia Buarque e Chico Diaz) na pré-estreia do filme
Silvia Buarque, Chico Buarque, Marieta Severo e a neta Irene (Filha de Silvia Buarque e Chico Diaz) na pré-estreia do filme "Os pobres diabos", de Rosemberg Cariry Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo - 03/07/2017
Marieta Severo e Antonio Pitanga Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo - 03/07/2017
Marieta Severo e Antonio Pitanga Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo - 03/07/2017
Marieta Severo no seriado
Marieta Severo no seriado "As Noivas de Copacabana" Foto: Irineu Barreto / Agência O Globo - 17/04/1992
Marieta Severo e Andréa Beltrão na pré-estréia do filme 'Vai que dá certo 2' Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo 06/01/2016
Marieta Severo e Andréa Beltrão na pré-estréia do filme 'Vai que dá certo 2' Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo 06/01/2016
Marieta Severo posa ao lado dos atores Felipe De Carolis e Flávio Tolezani. Colegas em
Marieta Severo posa ao lado dos atores Felipe De Carolis e Flávio Tolezani. Colegas em "Verdades Secretas" eles também atuaram juntos no premiado espetáculo "Incêndios" Foto: Estevam Avellar
Andréa Beltrão e Marieta Severo, posam com Sérgio Nogueira Lopes em encontro na Fiorentina, point de artistas e da boemia carioca Foto: Armando Araújo / Agência O Globo - 01/11/2016
Andréa Beltrão e Marieta Severo, posam com Sérgio Nogueira Lopes em encontro na Fiorentina, point de artistas e da boemia carioca Foto: Armando Araújo / Agência O Globo - 01/11/2016
Zé Victor (Rafael Losso) e Sophia (Marieta Severo), em
Zé Victor (Rafael Losso) e Sophia (Marieta Severo), em "O Outro Lado do Paraíso", novela que foi ao ar em 2018 Foto: Raquel Cunha
Atriz Marieta Severo Foto: Leonardo Aversa / Agência O Globo
Atriz Marieta Severo Foto: Leonardo Aversa / Agência O Globo
Marieta Severo e Paulo Betti nos bastidores de
Marieta Severo e Paulo Betti nos bastidores de "O Outro Lado do Paraíso" Foto: Marilia Cabral
Os motivos vêm do micro e do macro, como ela diz. Em junho do ano passado, Aderbal Freire-Filho, seu companheiro há quase 20 anos, sofreu um AVC. Os dois viviam um casamento em lares separados, mas depois do episódio, Marieta o acolheu. É na casa dela, em meio a um esquema hospitalar, que o diretor teatral encara, consciente, a batalha para recobrar os movimentos (“acredito que ele vai conseguir recuperar algo da vida dele e da nossa”).
O medo da morte ficou ainda mais concreto quando a atriz contraiu Covid em dezembro. Ficou internada a poucos metros do marido, no mesmo hospital. Diante do diagnóstico de quase 50% do pulmão comprometido, perguntou ao médico: “Vou ser intubada e morrer?”. Felizmente, escapou dessa. Mas a dor de ver o parceiro impossibilitado de exercer plenamente sua capacidade intelectual e o espírito combativo que marca sua personalidade, é um duro golpe para a Marieta, que credita à atual situação política do país outra razão pela qual tem sido tomada por um baixo-astral constante.
— Nunca senti uma angústia cívica tão profunda, apesar de ser de uma geração que viveu a ditadura. Sei o que é ter uma barreira diante dos sonhos, do melhor do país, impedindo a gente de florescer em plena juventude. Aqueles tanques na rua (refere-se ao desfile de blindados realizado em Brasília dias atrás)... Como alguém defende um regime que coloca um cano de descarga na boca de um jovem, arrastado em um quartel? — diz a atriz, com a voz embargada, ao lembrar o assassinato de Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel, que era sua amiga. — Não acho que exista clima ou conjuntura internacional para um golpe, mas está tudo preparado para isso. Sou gata escaldada, né? Ter que voltar a lidar com esse medo é assustador. Essa ideologia que está dominando não só o Brasil, mas vários lugares, o desmonte das nossas conquistas, o retrocesso dos direitos trabalhistas, tudo que está sendo feito por debaixo do panos...
O cerceamento à liberdade artística também é motivo de alerta. A atriz enxerga um projeto ideológico em andamento que “não acredita na democracia e quer asfixiar a liberdade de expressão”, secando verbas para projetos que não sigam a cartilha do governo.
— O que vão permitir que se filme, arte sacra? A gente se perde diante dos absurdos. O que estará tramando Damares? Um negro que demoniza negros na Fundação Palmares. Pessoas são escolhidas pelo viés ideológico e não pela capacidade de ocupar cargos. O país está desmoronando por dentro — afirma, criticando ainda a conduta do presidente na pandemia. — Senti inveja de países que lidaram com a desgraça de forma, responsável, com orientações precisas e não com o uso político da tragédia. Esse acréscimo de desespero é imperdoável, matou muita gente.
'Precisava ter o impulso de mudar o mundo'
Para Marieta, é impossível assistir a tudo isso calada. Ela, no entanto, não se sente no direito de cobrar posicionamento de ninguém.
— O princípio da minha vida é a liberdade individual. Cada um se manifesta como quer, com sua consciência. Se quiser usar a voz só em sua música, é um direito. Também tem gente que não está se manifestando porque concorda — acredita. — Acho que quanto maior a consciência de como a política está impregnada em nossas vidas, melhor para a coletividade. Sou de uma geração que nunca se furtou a se posicionar. Cada trabalho que escolhi tinha uma uma intenção, eu precisava ter dentro de mim o impulso de mudar o mundo.
Esse impulso permanece vivo em Marieta, tanto no Teatro Poeira, que mantém em Botafogo, quanto em Dona Noca, personagem que encarna em “Um lugar ao sol”, novela em fase de gravação. No mais, ela trava a luta diária contra o abatimento armada de seu famoso bom humor.
— Tenho que viver muito para ver a virada do Brasil na direção do país que a gente sabe que ele é. Por isso, faço muita ginástica para ficar saudável — brinca. — Acho que quanto mais as forças contrárias tentam, os melhores pensamentos também se reforçam. Não adianta reprimir homossexual, ser racista, violento. O caldeirão vai ficando mais denso e vem à tona. O ser humano quer ser livre. Quem quer ser sufocado, que se sufoque. Reprima seu filho, bote ele de azul, a filha, de rosa... Mas não vem impor isso como regra a um país.
Na busca pela alegria, a família é fonte certa. Os encontros que reúnem as três filhas e os sete netos funcionam como um alimento para a alma. Neles, Marieta baba diante do neto mais velho, Chico Brown, tocando piano, ou Lia, filha de Luísa, na flauta.
— É uma família musical, estou querendo ver quem vem para o palco — provoca Marieta, que conta aprender sobre a pauta contemporânea com as meninas. — Minhas netas estão dando um banho no que se refere à consciência de gênero, de raça e da situação econômica do país. Por isso, repito: não adianta querer segurar as rédeas do mundo.
Mas Marieta, sobretudo, ensina, como conta a neta Irene, de 15 anos, filha de Silvia.
— Minha avó me ensina a ser justa e a seguir a vida com calma quando as coisas não estão tão tranquilas assim. Quando ela diz que vai dar certo, eu sei que vai.
'Resgato minha humanidade através da ficção'
Além da família, a ficção salva Marieta Severo. É na pele de Dona Noca, a cozinheira batalhadora e cheia de jogo de cintura que ela interpreta na próxima novela das 9, "Um lugar ao sol", que a atriz tem encontrado ânimo para seguir.
— É o personagem mais positivo que já fiz. Ela tem muita sabedoria de vida. Superou momentos difíceis e os transformou em coisas construtivas. Às vezes, estou com uma questão grave, leio o texto e penso: "Que danada! Que bacana o que ela pensou diante disso". Dona Noca sempre me resgata — conta Marieta, que recentemente protagonizou o delicado filme "Noites de alface", de Zeca Ferreira.
Além de valores comunitários, o longa também fala sobre perdas e de envelhecimento, assunto com o qual Marieta tem uma maneira própria de lidar.
— Sempre tive a tendência de achar que o momento em que estou é melhor. Que para frente só vai ficar pior (risos). Também acho que, em cada idade, você tem todas as outras. Quando é jovem, tem momentos de velhice, de desânimo. Há dias em que estou com 20 ou 30, em outros, com 90 — brinca ela que, a partir de amanhã, volta a protagonizar cenas sexys na reprise de "Verdades secretas".
A amoral e inescrupulosa Fanny, personagem da atriz na série, marcou uma virada na carreira de Marieta, que havia passado 14 anos pele da Dona Nenê de "A grande família".
— Fanny era tudo que eu precisava. Acho que o público tinha esquecido que eu era uma atriz fazendo a Dona Nenê. Virei a própria. Mas, agora, vamos ver como esse Brasil mais careta e conservador vai reagir... Porque tem todo um erotismo, uma sexualidade...
Outra motivação que leva Marieta adiante são os 17 anos do Teatro Poeira e do Poeirinha, as salas dela e de Andréa Beltrão. As duas, junto com Aderbal, tinham programado a comemoração dos 15 anos dos teatros, mas aí veio a pandemia... A data será comemorada em janeiro, com a reabertura das salas e uma exposição que celebra a memória do teatro a as peças que passaram por lá, com curadoria de Bia Lessa.
— Será uma grande comemoração, a gente está precisando. É quase que nos festejar também. Apesar desse olhar malévolo que estão tentando colocar sobre o mundo artístico, o ser humano não vive sem a ate. Isso ficou ainda mais claro na pandemia — lembra Marieta. — Eu resgato a minha humanidade através da ficção, da Noca, do Poeira. Isso me alimenta, me faz sobreviver.
Amiga e parceira profissional mais constante, Andréa Beltrão é testemunha dessa garra.
— Marieta vive o presente e constrói para o futuro sempre. Com força, alegria, doçura, firmeza, curiosidade, inquietação e amor. Ela é a amiga presente em todas as horas, minha vida se divide em antes e depois de Marieta — derrete-se.
A importância de Marieta para o cinema nacional será lembrada pelo Inffinito Film Festival, que homenageará a atriz em sua próxima edição, em setembro. Uma mostra só com filmes estrelados pela artista, que tem 34 longas no currículo, será exibida no evento.
— Marieta representa a força do cinema brasileiro. A força da retomada, simbolizada com "Carlota Joaquina", e também a força feminina, com papeis marcantes e potentes —, destaca Adriana L. Dutra, documentarista e diretora do festival.
Fonte: O GLOBO
Marieta Severo: 'Nunca senti uma angústia cívica tão profunda'
AUGUST 22, 2021
Marieta Severo assumiu os cabelos brancos: 'Pandemia me ajudou a dar esse espaço. Eu e a muitas mulheres, isso é maravilhoso' Foto: Leo Aversa
Marieta Severo assumiu os cabelos brancos: 'Pandemia me ajudou a dar esse espaço. Eu e a muitas mulheres, isso é maravilhoso' Foto: Leo Aversa
Marieta Severo estranha quando se olha no espelho. Ainda não se acostumou com os cabelos brancos. Mas está “felicíssima” após passar quase 30 de seus 74 anos retocando os fios com tinta escura. A pandemia a libertou (“eu e a um monte de mulheres, o que é maravilhoso!”). Quem dá de cara com a atriz pessoalmente tem a impressão de que ela nasceu para o novo penteado. Ele contrasta com a pele morena e coroa a elegância de seu corpo esguio dentro da roupa preta. Mas é pela tela do Zoom que a atriz desanda a falar, emendando um assunto no outro com a urgência de quem está entalada. — Todo mundo está com gritos parados na garganta, né? Ou berrando mesmo — analisa a atriz, que define os últimos dois anos como “os mais difíceis da minha vida”.
Atriz Marieta Severo Foto: LEO AVERSA / Agência O Globo
Atriz Marieta Severo Foto: LEO AVERSA / Agência O Globo
Um dos casais mais simpáticos da TV brasileira: Dona Nenê e Lineu, vividos pelos atores Marieta Severo e Marco Nanini, na série
Um dos casais mais simpáticos da TV brasileira: Dona Nenê e Lineu, vividos pelos atores Marieta Severo e Marco Nanini, na série "A grande família" Foto: Carlos Ivan / TV Globo
Marieta Severo com o elenco de
Marieta Severo com o elenco de "A grande família" Foto: João Miguel Júnior
Aderbal Freire-Filho e Marieta Severo na estreia de 'Gira', espetáculo do Grupo Corpo, no Teatro Municipal do Rio Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Aderbal Freire-Filho e Marieta Severo na estreia de 'Gira', espetáculo do Grupo Corpo, no Teatro Municipal do Rio Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo
Marieta Severo e sua filha Silvia Buarque Foto: Bia Guedes / Agência O Globo - 28/04/2006
Marieta Severo e sua filha Silvia Buarque Foto: Bia Guedes / Agência O Globo - 28/04/2006
Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho dançam em uma festa, em 2017 Foto: Cristina Granato
Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho dançam em uma festa, em 2017 Foto: Cristina Granato
Marieta Severo, a filha Luísa Buarque e Cláudio Baltar Foto: Paulo Mazzoni / Agência O Globo - 24/03/2005
Marieta Severo, a filha Luísa Buarque e Cláudio Baltar Foto: Paulo Mazzoni / Agência O Globo - 24/03/2005
Marieta Severo, Silvia Buarque de Holanda e Guta Stresser Foto: Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo - 14/12/2015
Marieta Severo, Silvia Buarque de Holanda e Guta Stresser Foto: Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo - 14/12/2015
Marieta Severo e Fernanta Montenegro foram vizinhas de espetáculo no Teatro Leblon, em 1998 Foto: Ana Branco / Agência O Globo - 14/08/1998
Marieta Severo e Fernanta Montenegro foram vizinhas de espetáculo no Teatro Leblon, em 1998 Foto: Ana Branco / Agência O Globo - 14/08/1998
Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho na estreia do filme 'Feminices', de Domingos Oliveira, no Cine Odeon: casados há 18 anos Foto: Cristina Granato
Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho na estreia do filme 'Feminices', de Domingos Oliveira, no Cine Odeon: casados há 18 anos Foto: Cristina Granato
Marieta e o amigo e também ator Pedro Paulo Rangel Foto: Carlos Sadicoff / Arquivo - 31/05/1997
Marieta e o amigo e também ator Pedro Paulo Rangel Foto: Carlos Sadicoff / Arquivo - 31/05/1997
A atriz Marieta Severo e Chico Buarque de Holanda na entrega do Prêmio Molière, em 1981, quando eram casados Foto: Antônio Nery / Agência O Globo - 09/10/1981
A atriz Marieta Severo e Chico Buarque de Holanda na entrega do Prêmio Molière, em 1981, quando eram casados Foto: Antônio Nery / Agência O Globo - 09/10/1981
Pedro Paulo Rangel com Marieta Severo, na peça
Pedro Paulo Rangel com Marieta Severo, na peça "Um beijo, um abraço, um aperto de mão" Foto: Arquivo
Amigos e atores Marieta Severo e Reynaldo Gianecchini – Fanny e Anthony, de
Amigos e atores Marieta Severo e Reynaldo Gianecchini – Fanny e Anthony, de "Verdades secretas" Foto: Paulo Belote
Silvia Buarque, Chico Buarque, Marieta Severo e a neta Irene (Filha de Silvia Buarque e Chico Diaz) na pré-estreia do filme
Silvia Buarque, Chico Buarque, Marieta Severo e a neta Irene (Filha de Silvia Buarque e Chico Diaz) na pré-estreia do filme "Os pobres diabos", de Rosemberg Cariry Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo - 03/07/2017
Marieta Severo e Antonio Pitanga Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo - 03/07/2017
Marieta Severo e Antonio Pitanga Foto: Bárbara Lopes / Agência O Globo - 03/07/2017
Marieta Severo no seriado
Marieta Severo no seriado "As Noivas de Copacabana" Foto: Irineu Barreto / Agência O Globo - 17/04/1992
Marieta Severo e Andréa Beltrão na pré-estréia do filme 'Vai que dá certo 2' Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo 06/01/2016
Marieta Severo e Andréa Beltrão na pré-estréia do filme 'Vai que dá certo 2' Foto: Marcos Ramos / Agência O Globo 06/01/2016
Marieta Severo posa ao lado dos atores Felipe De Carolis e Flávio Tolezani. Colegas em
Marieta Severo posa ao lado dos atores Felipe De Carolis e Flávio Tolezani. Colegas em "Verdades Secretas" eles também atuaram juntos no premiado espetáculo "Incêndios" Foto: Estevam Avellar
Andréa Beltrão e Marieta Severo, posam com Sérgio Nogueira Lopes em encontro na Fiorentina, point de artistas e da boemia carioca Foto: Armando Araújo / Agência O Globo - 01/11/2016
Andréa Beltrão e Marieta Severo, posam com Sérgio Nogueira Lopes em encontro na Fiorentina, point de artistas e da boemia carioca Foto: Armando Araújo / Agência O Globo - 01/11/2016
Zé Victor (Rafael Losso) e Sophia (Marieta Severo), em
Zé Victor (Rafael Losso) e Sophia (Marieta Severo), em "O Outro Lado do Paraíso", novela que foi ao ar em 2018 Foto: Raquel Cunha
Atriz Marieta Severo Foto: Leonardo Aversa / Agência O Globo
Atriz Marieta Severo Foto: Leonardo Aversa / Agência O Globo
Marieta Severo e Paulo Betti nos bastidores de
Marieta Severo e Paulo Betti nos bastidores de "O Outro Lado do Paraíso" Foto: Marilia Cabral
Os motivos vêm do micro e do macro, como ela diz. Em junho do ano passado, Aderbal Freire-Filho, seu companheiro há quase 20 anos, sofreu um AVC. Os dois viviam um casamento em lares separados, mas depois do episódio, Marieta o acolheu. É na casa dela, em meio a um esquema hospitalar, que o diretor teatral encara, consciente, a batalha para recobrar os movimentos (“acredito que ele vai conseguir recuperar algo da vida dele e da nossa”).
O medo da morte ficou ainda mais concreto quando a atriz contraiu Covid em dezembro. Ficou internada a poucos metros do marido, no mesmo hospital. Diante do diagnóstico de quase 50% do pulmão comprometido, perguntou ao médico: “Vou ser intubada e morrer?”. Felizmente, escapou dessa. Mas a dor de ver o parceiro impossibilitado de exercer plenamente sua capacidade intelectual e o espírito combativo que marca sua personalidade, é um duro golpe para a Marieta, que credita à atual situação política do país outra razão pela qual tem sido tomada por um baixo-astral constante.
— Nunca senti uma angústia cívica tão profunda, apesar de ser de uma geração que viveu a ditadura. Sei o que é ter uma barreira diante dos sonhos, do melhor do país, impedindo a gente de florescer em plena juventude. Aqueles tanques na rua (refere-se ao desfile de blindados realizado em Brasília dias atrás)... Como alguém defende um regime que coloca um cano de descarga na boca de um jovem, arrastado em um quartel? — diz a atriz, com a voz embargada, ao lembrar o assassinato de Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel, que era sua amiga. — Não acho que exista clima ou conjuntura internacional para um golpe, mas está tudo preparado para isso. Sou gata escaldada, né? Ter que voltar a lidar com esse medo é assustador. Essa ideologia que está dominando não só o Brasil, mas vários lugares, o desmonte das nossas conquistas, o retrocesso dos direitos trabalhistas, tudo que está sendo feito por debaixo do panos...
O cerceamento à liberdade artística também é motivo de alerta. A atriz enxerga um projeto ideológico em andamento que “não acredita na democracia e quer asfixiar a liberdade de expressão”, secando verbas para projetos que não sigam a cartilha do governo.
— O que vão permitir que se filme, arte sacra? A gente se perde diante dos absurdos. O que estará tramando Damares? Um negro que demoniza negros na Fundação Palmares. Pessoas são escolhidas pelo viés ideológico e não pela capacidade de ocupar cargos. O país está desmoronando por dentro — afirma, criticando ainda a conduta do presidente na pandemia. — Senti inveja de países que lidaram com a desgraça de forma, responsável, com orientações precisas e não com o uso político da tragédia. Esse acréscimo de desespero é imperdoável, matou muita gente.
'Precisava ter o impulso de mudar o mundo'
Para Marieta, é impossível assistir a tudo isso calada. Ela, no entanto, não se sente no direito de cobrar posicionamento de ninguém.
— O princípio da minha vida é a liberdade individual. Cada um se manifesta como quer, com sua consciência. Se quiser usar a voz só em sua música, é um direito. Também tem gente que não está se manifestando porque concorda — acredita. — Acho que quanto maior a consciência de como a política está impregnada em nossas vidas, melhor para a coletividade. Sou de uma geração que nunca se furtou a se posicionar. Cada trabalho que escolhi tinha uma uma intenção, eu precisava ter dentro de mim o impulso de mudar o mundo.
Esse impulso permanece vivo em Marieta, tanto no Teatro Poeira, que mantém em Botafogo, quanto em Dona Noca, personagem que encarna em “Um lugar ao sol”, novela em fase de gravação. No mais, ela trava a luta diária contra o abatimento armada de seu famoso bom humor.
— Tenho que viver muito para ver a virada do Brasil na direção do país que a gente sabe que ele é. Por isso, faço muita ginástica para ficar saudável — brinca. — Acho que quanto mais as forças contrárias tentam, os melhores pensamentos também se reforçam. Não adianta reprimir homossexual, ser racista, violento. O caldeirão vai ficando mais denso e vem à tona. O ser humano quer ser livre. Quem quer ser sufocado, que se sufoque. Reprima seu filho, bote ele de azul, a filha, de rosa... Mas não vem impor isso como regra a um país.
Na busca pela alegria, a família é fonte certa. Os encontros que reúnem as três filhas e os sete netos funcionam como um alimento para a alma. Neles, Marieta baba diante do neto mais velho, Chico Brown, tocando piano, ou Lia, filha de Luísa, na flauta.
— É uma família musical, estou querendo ver quem vem para o palco — provoca Marieta, que conta aprender sobre a pauta contemporânea com as meninas. — Minhas netas estão dando um banho no que se refere à consciência de gênero, de raça e da situação econômica do país. Por isso, repito: não adianta querer segurar as rédeas do mundo.
Mas Marieta, sobretudo, ensina, como conta a neta Irene, de 15 anos, filha de Silvia.
— Minha avó me ensina a ser justa e a seguir a vida com calma quando as coisas não estão tão tranquilas assim. Quando ela diz que vai dar certo, eu sei que vai.
'Resgato minha humanidade através da ficção'
Além da família, a ficção salva Marieta Severo. É na pele de Dona Noca, a cozinheira batalhadora e cheia de jogo de cintura que ela interpreta na próxima novela das 9, "Um lugar ao sol", que a atriz tem encontrado ânimo para seguir.
— É o personagem mais positivo que já fiz. Ela tem muita sabedoria de vida. Superou momentos difíceis e os transformou em coisas construtivas. Às vezes, estou com uma questão grave, leio o texto e penso: "Que danada! Que bacana o que ela pensou diante disso". Dona Noca sempre me resgata — conta Marieta, que recentemente protagonizou o delicado filme "Noites de alface", de Zeca Ferreira.
Além de valores comunitários, o longa também fala sobre perdas e de envelhecimento, assunto com o qual Marieta tem uma maneira própria de lidar.
— Sempre tive a tendência de achar que o momento em que estou é melhor. Que para frente só vai ficar pior (risos). Também acho que, em cada idade, você tem todas as outras. Quando é jovem, tem momentos de velhice, de desânimo. Há dias em que estou com 20 ou 30, em outros, com 90 — brinca ela que, a partir de amanhã, volta a protagonizar cenas sexys na reprise de "Verdades secretas".
A amoral e inescrupulosa Fanny, personagem da atriz na série, marcou uma virada na carreira de Marieta, que havia passado 14 anos pele da Dona Nenê de "A grande família".
— Fanny era tudo que eu precisava. Acho que o público tinha esquecido que eu era uma atriz fazendo a Dona Nenê. Virei a própria. Mas, agora, vamos ver como esse Brasil mais careta e conservador vai reagir... Porque tem todo um erotismo, uma sexualidade...
Outra motivação que leva Marieta adiante são os 17 anos do Teatro Poeira e do Poeirinha, as salas dela e de Andréa Beltrão. As duas, junto com Aderbal, tinham programado a comemoração dos 15 anos dos teatros, mas aí veio a pandemia... A data será comemorada em janeiro, com a reabertura das salas e uma exposição que celebra a memória do teatro a as peças que passaram por lá, com curadoria de Bia Lessa.
— Será uma grande comemoração, a gente está precisando. É quase que nos festejar também. Apesar desse olhar malévolo que estão tentando colocar sobre o mundo artístico, o ser humano não vive sem a ate. Isso ficou ainda mais claro na pandemia — lembra Marieta. — Eu resgato a minha humanidade através da ficção, da Noca, do Poeira. Isso me alimenta, me faz sobreviver.
Amiga e parceira profissional mais constante, Andréa Beltrão é testemunha dessa garra.
— Marieta vive o presente e constrói para o futuro sempre. Com força, alegria, doçura, firmeza, curiosidade, inquietação e amor. Ela é a amiga presente em todas as horas, minha vida se divide em antes e depois de Marieta — derrete-se.
A importância de Marieta para o cinema nacional será lembrada pelo Inffinito Film Festival, que homenageará a atriz em sua próxima edição, em setembro. Uma mostra só com filmes estrelados pela artista, que tem 34 longas no currículo, será exibida no evento.
— Marieta representa a força do cinema brasileiro. A força da retomada, simbolizada com "Carlota Joaquina", e também a força feminina, com papeis marcantes e potentes —, destaca Adriana L. Dutra, documentarista e diretora do festival.
Fonte: VEJA
Severo, em três tempos da arte.
“A arte tem a capacidade infinita de prever os fatos”, diz Marieta Severo
JUNE 17, 2021
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Marieta Severo no set de filmagem de Noite de Alface, sorrindo
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Marieta Severo: 'Filme Noites de Alface mostra que, sem ficção, as pessoas sucumbem" Afinal Filmes/Divulgação
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Em 2018, quando fez uma imersão na pacata e bucólica ilha de Paquetá para gravar o filme Noites de Alface, de Zeca Ferreira, Marieta Severo – e o mundo todo – jamais imaginava que, em breve, viriam tempos de isolamento e solidão. Temas esses muito caros ao longa que chega às telonas no dia 24 de junho, depois de um ano de atraso causado pelo novo coronavírus.
“É muto interessante esse filme ter sido feito antes da pandemia. A arte tem uma capacidade infinita de prever os fatos, antecipar conclusões e olhar para o passado com outras lentes. Agora podemos ter essas leituras todas de uma história muito singela e delicada”, disse a atriz, que interpreta a protagonista Ada, em coletiva on-line realizada nesta quinta (17).
Noites de Alface é baseado no livro homônimo da jornalista Vanessa Barbara. Na história, Otto – papel de Everaldo Pontes – é um senhor ranzinza que acaba de ficar viúvo. Por mal sair de casa e viver absorto em livros com narrativas de crime, ele perde seu elo com o mundo exterior, que era a esposa, Ada (Marieta Severo).
+ Racismo no Leblon: suspeito de roubar bicicleta, branco, é preso
Observando os excêntricos vizinhos de uma pequena cidade do interior, Otto lida com a falta da esposa criando histórias em sua cabeça e fantasiando a presença dela no casarão escuro em que vive. O nome Noites de Alface vem do chá que a personagem de Marieta preparava com a leguminosa para que o marido vencesse a insônia.
O que é verdade na narrativa e o que é inventado por Otto? O espectador é conduzido para uma bela viagem narrativa, com novos olhares sobre a a alma humana, a solidão e as perdas, sem a menor necessidade da pergunta ser respondida ao final.
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O meu amor
Elba Ramalho, Marieta Severo
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O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Quando rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois briga comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes.
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que me deixa louca, quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita.
O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa.
Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.
Fonte: Musixmatch
Compositores: Chico Buarque
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Para dar unidade ao elenco de apoio, Zeca Ferreira – estreante na direção de longas – convocou Teuda Bara, Inês Peixoto e Eduardo Moreira, do célebre Grupo Galpão que, somados a João Pedro Zappa, brilham, meio tom acima, dando um ar teatral, portanto ainda mais onírico, à produção, que teve orçamento enxuto.
“Os valores que prevalecem no Brasil hoje são de asfixia à cultura, à poesia. Temos um governo que enaltece a arma, a violência, o obscurantismo. O filme acabou sendo um respiro muito bonito em meio ao que estamos vivendo”, conclui Marieta.
Fonte: VEJA Rio
Lindolfo Hill, um ‘elemento comunista’, ganha biografia
O militante e ex-vereador de Juiz de Fora é protagonista do livro “Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda”, de Alexandre Müller Hill Maestrini
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Por Gabriel Ferreira Borges
05/09/2021 às 07h00
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Lindolfo Hill foi eleito vereador em Juiz de Fora para a legislatura 1947-1950, mas teve o mandato cassado após o Governo Eurico Gaspar Dutra encerrar as atividades do PCB (Foto: Arquivo pessoal)
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Em novembro de 1950, o delegado-geral de Ordem Pública de Juiz de Fora, José Henrique Soares, encaminhou ao delegado especializado da Ordem Pública de Belo Horizonte, João Luiz Alves Valadão, fotografias de elemento subversivo. “Atendendo solicitação constante de vosso radiograma de 6 do corrente datado, remeto-vos inclusas fotografias de Lindolfo Hill, conhecido elemento comunista e ora procurado pela polícia”, escreveu, sem delongas. Pouco antes, Lindolfo (1917-1977) fora eleito vereador em Juiz de Fora para a legislatura 1947-1950 pelo Partido Comunista do Brasil (PCB). Entretanto, o mandato seria cassado antes do término, após o Governo Eurico Gaspar Dutra determinar o encerramento das atividades do “Partidão”.
A memória de Lindolfo Hill será resgatada pelo professor Alexandre Müller Hill Maestrini na obra “Lindolfo Hill – Um outro olhar para a esquerda” (Instituto Caio Prado Jr., 250 páginas). A biografia será lançada em Juiz de Fora na próxima terça-feira (7), em transmissão ao vivo, às 18h. “Ele é renegado em Juiz de Fora. Apesar de Lindolfo ter sido cassado, não tem muita homenagem a ele. Um dos meus objetivos é justamente resgatar a sua memória. Depois, vou pedir à Câmara que restitua o título de vereador, já que, no meu entender, foi injustamente cassado”, observa Alexandre, sobrinho-neto de Lindolfo Hill. A única referência à memória do comunista é uma rua no Bairro Santos Dumont, Cidade Alta. A homenagem foi feita em outubro de 1984.
A militância de Lindolfo começou ainda aos 17 anos, quando trabalhava na construtora Pantaleone Arcuri & Spinelli. “O pai de Lindolfo (Carlos José Hill) tinha uma empresa de construção, mas ele morreu quando o filho nasceu. Não consegui saber por que Lindolfo foi trabalhar na Pantaleone. Talvez tenha caído lá por acaso. Ele não conheceu o pai, mas seguiu a sua carreira”, pontua Alexandre. Lindolfo era conhecido entre os demais pedreiros justamente em razão da militância ativa. “Sempre conversava com os companheiros, gostava muito de ler, era informado etc. Lindolfo era uma liderança natural”, acrescenta. Ele, inclusive, presidiu o Sindicado dos Trabalhadores na Construção Civil de Juiz de Fora. O encontro com o comunismo viria nesta época, em 1934.
O PCB então se reorganizava em busca de afirmação diante da promulgação de nova Constituição e, posteriormente, da eleição de Getúlio Vargas. Na ocasião, o “Partidão” realizou, por exemplo, a I Conferência Nacional. A atuação de Lindolfo junto à categoria chamaria a atenção da legenda. A filiação ao PCB viria pelas mãos de Pedro Pomar (1913-1976) – Pomar seria assassinado na Chacina da Lapa, em 1976. “Qual foi a sacada do PCB? Juiz de Fora era uma das cidades mais industrializadas do Brasil nesta época. Havia várias indústrias de calçados e, depois, se instalou uma siderúrgica. A cidade era industrializada e bem perto do Rio de Janeiro”, explica o biógrafo. Lindolfo passou a fazer parte da célula comunista juiz-forana junto a outros como Luiz Zuddio.
Embora a militância comunista atuasse clandestinamente ao menos desde 1927, quando fora criminalizada depois de poucos meses de legalidade durante o Governo Washington Luís, a vida de Lindolfo era o PCB. “O Partidão tinha prioridade na vida dos militantes. Esta era a filosofia. Todos eram irmãos e dedicariam a vida ao partido. Pelo que os documentos mostram, o Lindolfo, assim como outros militantes, era profissional. As lideranças recebiam do PCB e trabalhavam o dia inteiro”, afirma Alexandre. Desde que entrara no Partidão, Lindolfo já não trabalhava mais como pedreiro. Os empregos eram de fachada onde quer que estivesse, fosse São Paulo ou Rio de Janeiro. Há relatos, conta Alexandre, de que Lindolfo trabalhou em uma tipografia e na própria construção civil. “Mas, nesta época, já estava ativo, fazia parte do Comitê Central e todos os custos eram bancados pelo Partidão.”
Uma vida nas sombras da noite
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Lindolfo Hill ao lado da esposa Carmem Barroso Hill no casamento da filha em 1972 (Foto: Arquivo pessoal)
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A própria família de Lindolfo reiterou o comprometimento ao PCB em depoimentos para Alexandre durante a pesquisa. “A filha me disse que, caso o partido lhe pedisse para ir para São Paulo, ele iria para São Paulo.” Os filhos sabiam que o pai viajava. Só não sabiam o porquê. “Eles foram criados praticamente pela mãe (Carmem Barroso Hill). Quando voltava de viagem, Lindolfo pegava o trem à noite para não ser reconhecido. Ele vivia apenas durante a noite. Descia em Juiz de Fora, visitava a família e, na noite seguinte, já ia embora novamente.” No entanto, as poucas memórias de infância que os filhos tinham de Lindolfo são agradáveis. “Eles lembram de um pai carinhoso, brincalhão.”
O “Partidão” deixaria a ilegalidade ao fim do Estado Novo (1937-1945), quando, provisoriamente, recuperou o registro do partido junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Naquele ano, aliás, Lindolfo se candidataria a deputado pelas fileiras do PCB, mas sem sucesso. O militante já era um dos principais quadros do “Partidão” no Brasil, uma vez que integrava a direção nacional ao lado de Luís Carlos Prestes, Carlos Marighella, Diógenes Arruda Câmara, Pedro Pomar, João Amazonas, Maurício Grabois etc. “Havia um seleto Comitê Nacional, eleito pelas convenções, e o Lindolfo sempre fazia parte. Estava sempre ativo. Só que era muito na dele, recatado. Muitos dos militantes comunistas foram ofuscados por figuras como o Prestes, que era muito forte.”
Ainda em 1945, Lindolfo faria parte da delegação do Movimento Unificador dos Trabalhadores no Congresso Operário Mundial de Paris ao lado de Alcy Pinheiro, Pedro Carvalho Braga e Domingos Mano. A militância não passava desapercebida da repressão do Dops. “Membro da comissão executiva do CN do PCB, no Rio, do CE, em Belo Horizonte. Secretário político do CM de Juiz de Fora. Em fins de 1945, representou os trabalhadores brasileiros no congresso operário de Paris. Não era fichado pela polícia na época da ilegalidade. Contudo, segundo a ‘Tribuna Popular’ do Rio, ‘é dos elementos de mais expressão do PCB’ e é o mais jovem membro da comissão executiva do Partido, tendo ‘dez anos de lida partidária’”, registra um prontuário.
Embora a empreitada para ser deputado tenha sido malsucedida, Lindolfo seria eleito para a Câmara Municipal de Juiz de Fora então “como o segundo parlamentar mais votado”, ressalta Alexandre. “Acho que ele sempre acreditou na via institucional, na legalidade. Tanto é que o Lindolfo lutava pela legalidade do PCB. Ele queria a inserção do PCB no esquema democrático. Eu não vi em momento algum qualquer documento ou até mesmo depoimento que apontavam que ele queria pegar em armas.” Entretanto, o mandato de Lindolfo logo seria cassado. O registro provisório do “Partidão” fora cassado em 1947 e, posteriormente, todos os comunistas com mandato no país, suprimidos no ano seguinte. A nova criminalização daria o contexto para o lançamento do Manifesto de Agosto de 1950.
Um juiz-forano na União Soviética
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Alexandre Maestrini é sobrinho-neto de Lindolfo Hill, que conheceu durante a pesquisa para o título “Franz Hill – Diário de um imigrante alemão” (2018) (Foto: Arquivo pessoal)
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Quando o Dops o acusava de perambular pelo interior de Minas Gerais, Lindolfo estava, na verdade, a caminho de Moscou em 1952. “A União Soviética preparava lideranças comunistas, para, depois, caso conseguissem chegar ao poder, ter líderes para a revolução”, pontua o biógrafo. O militante foi um dos indicados pelo “Partidão” para estudar, na então União Soviética, história geral do movimento operário, geografia geral, história do Partido Comunista da União Soviética e russo.” Lindolfo voltaria apenas em 1955 ao Brasil, um ano após ser considerado foragido. “Quando voltou, Lindolfo não fazia ideia de onde estava a família, porque ela estava na clandestinidade, os nomes das crianças foram mudados etc. Após chegar ao Rio, ainda ficou um tempo sem encontrar a família.” A esposa e os filhos estavam em São Gonçalo, no então Estado da Guanabara.
Lindolfo ainda fazia parte do núcleo dirigente do PCB quando Nikita Kruschev, então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, denunciou os crimes de Joseph Stalin. A denúncia repercutiu no alto escalão do “Partidão”. Líderes até então identificados com o stalinismo, como Diógenes Câmara Arruda, João Amazonas e Maurício Grabois, foram afastados da comissão executiva. A ruptura levaria à dissidência de nomes como os próprios Amazonas e Grabois, assim como Pomar, que criariam, em 1962, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), já que, no ano anterior, o PCB havia voltado a ser Partido Comunista Brasileiro. “O Lindolfo seguiu a linha de Luís Carlos Prestes, que era um comunista, mas não falava em revolução armada, como Marighella e Pomar. Ele permaneceu no PCB.”
Ainda que o comunista tenha sido preso inúmeras vezes, diz Alexandre, não há documento que confirme que Lindolfo tenha sido torturado. Mas o biógrafo supõe que o militante tenha enfrentado duros interrogatórios. “Ninguém foi interrogado de boa. A maioria foi sob tortura. O Lindolfo tem vários depoimentos no Dops. Ele conta, inclusive, qual era o nome de combatente. Ele falou coisas que só pessoas sob tortura diriam.” Nos últimos anos de vida, Lindolfo não era mais ativo, ressalta Alexandre. “Ele morava no Méier, no Rio de Janeiro, e não recebia visitas. Era praticamente ele e Carmem. Ninguém mais dava bola para o Lindolfo.” O comunista morreu aos 60 anos, devido às complicações de um câncer de próstata. O próprio enterro de Lindolfo denunciaria a condição de anonimato da vida do militante. “A filha conta que no enterro havia apenas os familiares próximos. Ninguém foi homenageá-lo.” Lindolfo morreu com o PCB ainda na clandestinidade e dois anos antes da promulgação da Lei da Anistia, em 1979.
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Geraldeli Da Costa Rofino Rofino
A restituição do Mandato Popular do Vereador Lindolfo Hill, pelo PCB, deve merecer acolhida, pela Câmara Municipal. Os Vereadores causados pela Ditadura de 64, tiveram os Mandatos restituídos, dentre eles, o do saudoso Vereador Francisco Pinheiro. O livro resgatar a trajetória classista exemplar do sindicalista, dirigente e Vereador. Bravo!
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Mário Guilherme von Marius
Tovarisch!
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Rogério Barros
Minha saudosa tia Carminha, saudades. Meu tio que não tive oportunidade de conhecer.
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*** *** https://tribunademinas.com.br/noticias/cultura/05-09-2021/lindolfo-hill-um-elemento-comunista.html *** ***
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Breve História do PCB
LIVRARIA EDITORA CIÊNCIAS HUMANAS
São Paulo
1981
José Antonio Segatto
A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL 8
Nos últimos anos, um debate realmente grande vem sendo travado na imprensa, no meio intelectual, no movimento operário, etc. - em torno da participação e influência do Partido Comunista Brasileiro na (PCB) na sociedade nacional em geral e no seio das classes subalternas em particular, nas suas seis décadas de vida.
Este debate, porém, nem sempre tem sido construtivo, esclarecedor, compreensível aos que dele participam, ou ainda, àqueles a que o debate diz respeito e envolve direta ou indiretamente. Isto ocorre, geralmente e em boa parte, por falta de dados, elementos, subsídios, etc., sobre a história do partido, isto é, pelo desconhecimento, às vezes quase que absoluto, sobre a trajetória política do PCB, ao longo de sua existência, no interior da história sócio-política brasileira.
Os objetivos desta Breve História do PCB, vão, justamente, no sentido de fornecer elementos e subsídios acerca da história do PCB, visando, desta forma, contribuir para o esclarecimento e o desenvolvimento da polêmica que se tem travado em torno das suas ação e influência na sociedade nacional.
Deve-se salientar que a Breve História do PCB não tem a pretensão de esgotar o seu tem ou de apresentar qualquer tese ou interpretação pronta e acabada da história do PCB - pelo contrário, sua intenção é bastante modesta: trata-se de uma tentativa de sistematizar e, ao mesmo tempo, traçar um panorama histórico da trajetória deste partido, de forma didática e sem consultar uma determinada concepção (posição) política.
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