Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 28 de setembro de 2025
No breu das tocas
O Que Será
Chico Buarque
O que será, que será?
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que andam nas cabeças andam nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que andam falando alto pelos butecos
E gritam nos mercados que com certeza
Está na natureza será, que será?
O que não tem certeza nem nunca terá
Que não tem conserto nem nunca terá
Que não tem tamanho...
O que será, que será?
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dià dia das meretrizes
No plano dos bandidos dos desvalidos
Em todos os sentidos...
Será, que será?
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido...
O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão REpicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meNINOS vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o padre eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juizo...
Lá lá lá lá lá....
O que será, que será?...
Que todos os avisos não vão evitar...
... que não tem governo nem nunca terá...
... O que não tem vergonha nem nunca terá...
... O que não tem juizo....
Composição: Chico Buarque / Nilton Nascimento.
Fica
Chico Buarque
Diz que eu não sou de respeito
Diz que não dá jeito
De jeito nenhum
Diz que eu sou subversivo
Um elemento ativo
Feroz e nocivo
Ao bem-estar comum
Fale do nosso barraco
Diga que é um buraco
Que nem queiram ver
Diga que o meu samba é fraco
E que eu não largo o taco
Nem pra conversar com você
Mas fica
Mas fica ao lado meu
Você sai e não explica
Onde vai e a gente fica
Sem saber se vai voltar
Diga ao primeiro que passa
Que eu sou da cachaça
Mais do que do amor
Diga e diga de pirraça
De raiva ou de graça
No meio da praça, é favor
Mas fica
Mas fica ao lado meu
Você sai e não explica
Onde vai e a gente fica
Sem saber se vai voltar
Diz que eu ganho até folgado
Mas perco no dado
E não lhe dou vintém
Diz que é pra tomar cuidado
Sou um desajustado
E o que bem lhe agrada, meu bem
Mas fica
Mas fica, meu amor
Quem sabe um dia
Por descuido ou poesia
Você goste de ficar
Composição: Chico Buarque 1965.
[PDF] organizadores)
Brejo da Cruz
Chico Buarque
A novidade
Que tem no Brejo da Cruz
É a criançada
Se alimentar de luz
Alucinados
Meninos ficando azuis
E desencarnando
Lá no Brejo da Cruz
Eletrizados
Cruzam os céus do Brasil
Na rodoviária
Assumem formas mil
Uns vendem fumo
Tem uns que viram Jesus
Muito sanfoneiro
Cego tocando blues
Uns têm saudade
E dançam maracatus
Uns atiram pedra
Outros passeiam nus
Mas há milhões desses seres
Que se disfarçam tão bem
Que ninguém pergunta
De onde essa gente vem
São jardineiros
Guardas-noturnos, casais
São passageiros
Bombeiros e babás
Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz
São faxineiros
Balançam nas construções
São bilheteiras
Baleiros e garçons
Já nem se lembram
Que existe um Brejo da Cruz
Que eram crianças
E que comiam luz
Composição: Chico Buarque.
domingo, 28 de setembro de 2025
Nação e imperialismo. Por Luiz Sérgio Henriques
O Estado de S. Paulo
A superação do ideário ‘nacional-popular’, bem como do anti-imperialismo unilateral, habilita-nos a uma visão atualizada do cosmopolitismo
Nenhuma dúvida: o pessimismo da razão autoriza um olhar melancólico sobre o mundo em que vivemos. A inteligência artificial e demais frentes do avanço tecnológico convivem com programas políticos regressivos, e os protagonistas desses dois âmbitos, a tecnologia e a política, se misturam de forma incompreensível e cada vez mais perigosa. Diz-nos a razão, esta dama de temperamento cético, que uns e outros, reforçando-se mutuamente, preparam-nos um ambiente de acordo com as piores projeções das antiutopias, nas quais o velho homem e a sociedade de sempre surgem negativamente renovados.
De fato, a regressão não só está inscrita em programas, como tem a seu dispor atores decididos a impulsioná-la acima das normas legais. Consideremos a reação trumpiana ao declínio relativo da superpotência norte-americana e os meios ideológicos que mobiliza para revertê-lo. Vemos o presidente Trump clamar, por exemplo, contra a opressão nas “nações cativas”, como se o ateísmo de Estado ou a perseguição religiosa vigorassem em modernas nações democráticas e exigissem condenação ou interferência. Ou ainda denunciar genocídios inexistentes, como contra os africâneres, calando dolosamente sobre Gaza e Cisjordânia, e tergiversando sobre a Ucrânia.
Nas relações entre os Estados Unidos e as Américas, caminhamos quase em marcha forçada – só que para trás. Difícil encontrar em outra parte, como encontramos já no discurso de posse presidencial, a ideia de expandir o território, como se regiões ou países pudessem ser anexados ou cancelados ao bel-prazer. Até observadores menos atentos notaram que, associada à exaltação do “destino manifesto”, ressurge a intenção de restaurar a política de grande potência, dona da esfera de influência respectiva. Boquiabertos, assistimos à volta de um sucedâneo malfeito da Doutrina Monroe, segundo o qual – infere-se – a presença chinesa na América Latina pode ser afastada ao modo das tentativas de recolonização europeia no século 19.
Na verdade, especialmente neste seu segundo mandato, o presidente Trump indica como poucos o espírito do tempo. Cada nação, não importando o tamanho do seu território ou sua tradição política e cultural, deve ser “grande de novo”. Os “soberanismos” se disseminaram, para usar um termo nascido no outro lado do Atlântico. Lá, em vez do sonho unitário ou da perspectiva de associação política e livre circulação de bens e pessoas, o encerramento nos próprios muros, inexpugnáveis como fortalezas medievais.
Também deste nosso lado do oceano, a política trumpista, ao reciclar velharias e oscilar ciclicamente entre isolamento e predação, pode ter consequências menos positivas para as forças progressistas. Como se sabe, essas últimas, por causa das circunstâncias do capitalismo brasileiro, tiveram um passado mais nacionalista (soberanista, em última análise) do que democrático. As palavras de ordem “anti-imperialistas” conheceram ampla circulação, mesmo quando o “capitalismo dependente e associado” já se instalara como realidade inevitável e indicava o País que de fato existia.
Nação e antinação continuaram a ser por muito tempo os termos em que se concebia o drama político, com consequências nefastas. Antes de 1964, por antinação se entendiam classes e camadas “entreguistas”, associadas ao imperialismo. Depois de 1964, esse figurino passou a ser enfiado nos opositores da ordem “revolucionária”, que seriam muitas vezes alvo de cerco, tortura e morte. Só aos poucos, e não sem persistentes dificuldades, tais opositores se unificaram em torno da então chamada questão democrática, vista como condição sem a qual, daí por diante, não se poderia definir internamente a nação nem entender sua posição no mundo.
Com esse entendimento, corporificado na Carta de 1988, tornamo-nos politicamente adultos. Não há mais correntes banidas da competição eleitoral e da disputa de ideias, desde que pacíficas e legalistas – o que, evidentemente, não é o caso dos que refutam as urnas e conspiram no breu das tocas. Os diferentes governos orientam ecumenicamente as relações externas, e é suposto que, ao fazê-lo, não queiram trocar uma relação de subalternidade por outra nem tenham uma concepção de imperialismo restrita ao poderio norte-americano. O nexo nacional-internacional afirma-se, assim, em toda a sua intensidade. Somos uma das maiores democracias existentes, assumimos suas imperfeições (ainda) gritantes e, coerentemente, não escutamos o canto de sereia das autocracias – sejam disfuncionais ou “eficientes”.
A superação do ideário “nacional-popular” dos anos 1950 ou 1960, bem como do anti-imperialismo unilateral que era sua marca registrada, habilita-nos a uma visão atualizada do cosmopolitismo. O ponto de partida é o Estado-nação, nele é que temos pés bem fincados e tarefas imensas a resolver. O horizonte, porém, é a inserção ativa no processo de unificação de um mundo hoje tremendamente fragmentado, a partir de alianças e aproximações, antes de tudo, com quem compartilha o apreço pelo método democrático e a justiça social.
domingo, 28 de setembro de 2025
O que querem negociar EUA e Brasil. Por Lourival Sant’Anna
O Estado de S. Paulo
A hostilidade de Trump em relação ao Brasil de Lula atingiu um ponto de esgotamento
A disposição de Donald Trump de se reunir com Lula segue um padrão de comportamento adotado pelo presidente americano desde o seu primeiro mandato, calcado por seu desejo de manter a iniciativa. Além disso, pesa o interesse de resolver a questão das tarifas de forma favorável aos EUA.
A hostilidade de Trump em relação ao Brasil de Lula atingiu um ponto de esgotamento. O governo brasileiro deixou claro que não pode reverter decisões da Justiça em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às redes sociais. Não pode e nem quer, já que a resistência à pressão impulsionou a popularidade de Lula.
As tarifas e sanções dos EUA se tornaram um incentivo interno e uma justificativa externa para o governo Lula fazer o que o seu instinto ideológico já o impulsiona naturalmente a fazer: estreitar a parceria com a China. Diante disso, as pressões americanas se tornaram inócuas e contraproducentes. Ao se oferecer a negociar, Trump retomou a iniciativa, voltando a ocupar o lugar de oferecer a solução.
A que custo, no entanto? Trump certamente não abandonou a estratégia de usar o Brasil para provar que ele é o líder do mundo livre, enquanto a esquerda é autoritária e repressiva, e usa a Justiça para fins políticos contra a direita. Em um eventual encontro na Casa Branca, diante das câmeras, o risco de o presidente americano impor a Lula um constrangimento é considerável. Daí a preferência de setores do governo de realizar a reunião em um terceiro país.
Esse aspecto político continua sendo o mais incontornável. Mas as tarifas têm uma dimensão comercial. A revelação do Estadão de que o vicepresidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, conversou no dia 11 por videoconferência com Jamieson Greer, representante comercial dos EUA, e o chanceler Mauro Vieira recebeu no Brasil, no dia 15, Richard Grenell, enviado de Trump para missões especiais, reforça a noção de que Washington tem interesse em negociar um acordo.
Importadores e varejistas americanos pressionam a Casa Branca para baixar as tarifas, cujo propósito é arrecadar impostos, equilibrar a balança comercial, atrair indústrias de volta e impor a vontade dos EUA sobre outros países – não escassez e elevação de preços.
O andamento das negociações dá ao Brasil a chance de reduzir suas tarifas, que prejudicam os consumidores, o acesso dos setores produtivos a tecnologias que impulsionam a inovação e a inserção de segmentos da indústria nas cadeias de valor.
Lourival Sant'Anna analisa futuro das relações comerciais entre Brasil e EUA | WW
domingo, 28 de setembro de 2025
Jovem dirigente do PCB, Magrão foi executado com injeção de matar cavalo. Por Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Familiares e amigos não tiveram o direito de realizar um funeral digno para Montenegro, cuja história acabou tão clandestina quanto fora a sua atuação política após o golpe militar
Cinquenta anos após o assassinato, aos 32 anos, a memória de José Montenegro de Lima, o Magrão, jovem dirigente do PCB sequestrado e torturado pelos órgãos de segurança do regime militar, será resgatada por seus velhos amigos, militantes políticos, pesquisadores e representantes de entidades de defesa dos direitos humanos na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na próxima segunda-feira (29/09), às 18h30, num ato político cuja síntese é a pergunta sem resposta até hoje: "Cadê o Magrão?".
Familiares e amigos de Montenegro não tiveram o direito de realizar um funeral digno para ele, cuja história acabou tão clandestina quanto a sua atuação política após o golpe militar de 1964. Responsável pelo trabalho do PCB com a juventude, sua importante atuação na criação da juventude do antigo MDB e na reorganização do movimento estudantil e do movimento cultural, sobretudo cineclubista, foi um contraponto à atuação de outros jovens que optaram pela luta armada.
Sua história sofreu um apagamento nessas cinco décadas. Segundo o diretor-geral da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), ligada ao Cidadania, Marcelo Aguiar, "o evento será suprapartidário e um tributo à memória de um herói da resistência democrática". A FAP também está lançando um dossiê digital com farta documentação sobre Montenegro e produzindo sua biografia, de autoria dos jornalistas Vicente Dianezzi Filho (in memoriam) e Marcelo Godoy, que já escreveu dois livros sobre desaparecidos: A casa da vovó e Cachorros (Alameda Editorial).
Montenegro nasceu em Itapipoca, Ceará, em 1943, filho de Chico Vermelho e Maria dos Santos. Adolescente, destacou-se na Escola Técnica Federal de Fortaleza e mergulhou no movimento estudantil. O golpe de 1964 o empurrou para a clandestinidade. Indiciado no IPM (inquérito policial militar) da União Nacional dos Estudantes (UNE), mudou-se para o Rio de Janeiro, destacou-se como organizador e orientador da Juventude Comunista e chegou à Seção Juvenil do Comitê Central do PCB. Representou o Brasil em congressos da juventude em Moscou, Budapeste e Berlim. Manteve intensa atuação no Rio, em São Paulo e na Bahia, onde fez uma legião de amigos.
Era alegre e persuasivo. Havia recusado os conselhos de ir para o exílio, mesmo sabendo dos riscos que corria, porque estava empenhado em montar uma nova gráfica para a edição da Voz Operária, o órgão central do PCB, após a queda da gráfica clandestina de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em janeiro de 1975. Montenegro conseguiu imprimir precariamente o jornal clandestino até maio de 1975. Em 29 de setembro daquele ano, Montenegro foi sequestrado em sua casa no bairro da Bela Vista, em São Paulo. Vizinhos viram-no levado por quatro agentes. Passou pelo DOI-CODI e foi assassinado com injeção para matar cavalos. Seu corpo foi jogado na represa de Avaré. O documento nº 1152/S-102-A12-CIE, de 1978, registra cinicamente: "Seu destino atual é ignorado".
Cerco e aniquilamento
O diretor do jornal, Orlando Bomfim Junior, membro da Executiva Nacional do PCB, também viria a ser sequestrado e assassinado, depois de preso no Rio de Janeiro, em 8 de outubro de 1975. Ex-vereador em Belo Horizonte e jornalista, Bomfim foi sequestrado em Vila Isabel e levado ao DOI-CODI paulista, torturado e morto também com injeção letal. Seu corpo também teria sido lançado na represa de Avaré. A família tentou habeas corpus, acionou entidades, escreveu a parlamentares, mas nunca obteve resposta oficial.
Menos de um mês depois, em 25 de outubro de 1975, seria a vez do jornalista Vladimir Herzog, que não era um dirigente clandestino. Nascido em Osijek, na antiga Iugoslávia, aos 38 anos, dirigia o jornalismo da TV Cultura e dava aulas na ECA-USP. Convidado a depor no DOI-CODI, foi morto sob tortura. O regime forjou um suicídio grotesco, divulgado em fotografia encenada. O rabino Henry Sobel recusou-se a enterrá-lo como suicida. Dom Paulo Evaristo Arns, o pastor Jaime Wright e o próprio Sobel organizaram o histórico culto ecumênico na Catedral da Sé, em 31 de outubro de 1975. A farsa não resistiu.
Mas a escalada da violência ainda seguiu. Em janeiro de 1976, foi a vez do operário metalúrgico Manoel Fiel Filho, preso na metalúrgica Metal Arte, na Mooca. Ligado ao PCB e ao jornal Voz Operária, foi levado ao DOI-CODI. No dia 17, a versão oficial repetiu a farsa: "Suicidou-se com as próprias meias". O corpo, no entanto, trazia claros sinais de tortura. A indignação foi tão grande que o presidente Ernesto Geisel afastou o comandante do II Exército, Ednardo D'Ávila Mello, e o chefe do CIE, Confúcio Avelino.
Documentos da CIA, porém, comprovam que Geisel autorizou execuções seletivas de opositores. Célio Augusto Guedes, José Romão, David Capistrano, Luiz Maranhão, João Massena de Melo, Elson Costa, Itair José Veloso, Hiran Lima Pereira, José Raimundo da Costa, Nestor Veras e Jayme Miranda, integrantes do Comitê Central do PCB, também foram sequestrados e assassinados na operação de "cerco e aniquilamento" organizada para neutralizar a influência comunista na organização de uma ampla frente democrática contra o regime, sobretudo no MDB, que havia obtido uma vitória eleitoral espetacular em 1974.
A Operação Radar prendeu milhares de militantes do PCB em todo o país. Para isso, a repressão contava com um agente absolutamente insuspeito: o veterano dirigente Severino de Mello, o "camarada Pacato". Após ser preso, ele havia se tornado o "agente Vinícius", cooptado pelo CISA, órgão de inteligência da Aeronáutica, e delatava companheiros.
domingo, 28 de setembro de 2025
Unidade floresce na dor da maioria. Por Dora Kramer
Folha de S. Paulo
A indignidade da blindagem foi compreendida como barreira a qual o país não pode ultrapassar
A reação mostrou que há pautas convergentes passíveis de serem construídas no ambiente de atritos
A reação avassaladora à ideia dos 353 deputados que pretenderam incluir na Constituição um dispositivo protetor de malfeitorias, remete à antiga constatação de Luiz Inácio da Silva (PT) sobre a existência de "300 picaretas" no Congresso, mas não só.
As manifestações de domingo passado (21) e a surra moral que os senadores aplicaram à Câmara no enterro da PEC da Blindagem na Comissão de Constituição e Justiça, mostraram que a construção de pautas convergentes é possível no ambiente radicalizado da política.
Requer que se perceba onde aperta o calo da maioria. Nas ruas, os protestos levaram o carimbo da esquerda, mas na sociedade e no Senado onde o voto é majoritário e não conta com a proteção da proporcionalidade que elege deputados, a indignidade foi amplamente compreendida.
A repulsa ultrapassou barreiras da estima ideológica ou, como se diz, furou as bolhas. Parlamentares de direita, e até bolsonaristas, se engajaram no rechaço à quebra de limites. Donde é lícito supor que exista energia onde parecia vicejar a apatia.
Involuntariamente, os artífices da malandragem provocaram um curto-circuito daqueles capazes de despertar a coletividade para a necessidade dar um basta quando se chega à fronteira do inadmissível.
Na história recente vivemos alguns momentos de tomada de consciência que impulsionaram a unidade nacional. Resultaram, por exemplo, no fim da ditadura e no êxito do combate à inflação. Houve desperdícios, como ocorreu com os atos de 2013 contra a ineficiência do Estado que afundaram nos equívocos de condução e na indiferença do poder público.
Será que não temos causas em comum a defender sem prejuízo da preservação das opiniões divergentes no campo do pensamento político? Uma delas diz respeito à impunidade. De parlamentares, de golpistas e do avanço do crime organizado frente ao Estado desorganizado para enfrentá-lo.
Segurança é questão de soberania nacional. Aperta o calo da maioria e tende a apertar ainda mais.
Charge do JCaesar: 26 de setembro
Humor
Por JCaesar
26 set 2025, 08h55
Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/charge-do-jcaesar-26-de-setembro/
✅ Conclusão
Embora esteja protegido pelo direito à livre crítica, fazer uma afirmação taxativa e numérica, sem apresentar provas ou critérios verificáveis, não é uma conduta responsável para quem exerce ou pretende exercer funções públicas de alta relevância.
A frase “300 picaretas” teve valor retórico e mobilizador, mas, sob a ótica da responsabilidade institucional, foi imprudente, pois generalizou acusações graves, dificultando a verificação e comprometendo o debate político qualificado.
✅ Conclusão
Assim como no caso de qualquer liderança política, afirmar publicamente “fui condenado sem provas” sem apresentar demonstração objetiva é uma atitude de baixa responsabilidade institucional.
É legítimo recorrer ou criticar decisões, mas a crítica deve ser feita com base em argumentos jurídicos e provas, não apenas em declarações categóricas.
Ao lançar dúvida genérica sobre o sistema de Justiça, Bolsonaro exerce seu direito de expressão, mas o faz de maneira que pode fragilizar a credibilidade das instituições, o que não se alinha a uma conduta responsável para quem tem ou teve alta representação pública.
No travesseiro
José CasadoPor
José Casado
As culpas e os conflitos de Lula no ‘fracasso democrata’ que abriu espaço à extrema direita
Charge do JCaesar: 25 de setembro
Humor
Por JCaesar
25 set 2025, 08h49
Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/jose-casado/charge-do-jcaesar-25-de-setembro/
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