Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 3 de junho de 2023
IMAGENS
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Nas entrelinhas: Governo Lula pode avançar na questão ambiental
Publicado em 02/06/2023 - 09:01 Luiz Carlos AzedoAmazônia, Brasília, Chile, Ciência, Comunicação, Congresso, Economia, Governo, Itamaraty, Literatura, Memória, MInas, Partidos, Política, Rio de Janeiro, São Paulo, Tecnologia, Uruguai, Venezuela
Lula não apresentou ainda um programa de transição para a economia verde, potencial existente no país; pelo contrário, ressaltou a subordinação da questão ambiental ao imediatismo econômico
Um dos pais da democracia norte-americana, Alexander Hamilton dizia: “A maior parte dos homens que subverteram a liberdade das repúblicas começaram sua carreira cortejando servilmente o povo; começaram como demagogos e terminaram como tiranos”. A frase emblemática frequenta a nossa crônica política desde os primórdios da República e serve de advertência toda vez que um governante coloca a questão democrática em segundo plano e flerta com um apelo às massas para alcançar seus objetivos. No caso brasileiro, desde a Proclamação da República, todos que enveredaram por esse caminho fracassam. O mais bem-sucedido, Getúlio Vargas, tirou a própria vida, no Palácio do Catete, em 1954, para não ser deposto.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, é o exemplo pronto e acabado do demagogo que virou ditador na América do Sul. A recepção que lhe foi dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao relativizar as violações de direitos humanos e a falta de democracia no país vizinho, transformou-o em espelho do que poderia vir a ser o rumo político de Lula, não fosse o Brasil um país com instituições republicanas bem mais sólidas do que as da Venezuela. Lula não pode fazer o que quer, quando quer e como quer, as contingências o impedem.
No encontro dos presidentes da América do Sul, Lula deu um tiro no próprio pé ao relativizar o autoritarismo de Maduro e foi flanqueado à direita, pelo presidente do Uruguai, Lacalle Pou, e à esquerda, por seu colega do Chile, o jovem Gabriel Boric, um socialista, que denunciaram as violações de direitos humanos e as fraudes eleitorais no país vizinho. O efeito foi corrosivo para a imagem de Lula e sua política externa, que não conta com consenso político e social amplo. Além disso, deu às oposições de extrema direita e de direita uma narrativa convergente à dos setores de centro que apoiaram Lula no segundo turno e estão cada vez mais críticos e decepcionados com o seu governo.
Entretanto, não é correto deduzir que Lula faz um mau governo, no sentido de que não cuida do bem comum, como diria o mestre Norberto Bobbio. O aumento do salário mínimo, das aposentadorias e do Bolsa Família, promessas de campanha, são mais relevantes do que os ataques verbais à taxa de juros, que está realmente alta para gregos e romanos, que precisam pagar suas contas ou investir. A aprovação do novo arcabouço fiscal, que estabelece regras claras para os gastos públicos, mesmo com as ressalvas de seus críticos, oferece um novo paradigma para a economia, que não saiu do controle. A inflação está em queda e a atividade econômica em franca recuperação.
Nesse quesito, o problema não é o curto prazo, mas o projeto estratégico para a economia brasileira. Lula não apresentou ainda um programa de transição da economia de carbono para a economia verde, que corresponda ao potencial existente no país; pelo contrário, a polêmica em torno da exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, que é uma região da costa brasileira e não a boca do rio em si, ressaltou a subordinação da questão ambiental ao imediatismo econômico, num projeto que exige altos investimentos e pode se tornar um grande mico daqui a 20 anos.
Carbono zero
Essa é, sim, uma questão que pode desaguar num mau governo, porque parece priorizar a escala de investimentos no consumo em detrimento dos resultados econômicos de longo prazo. Em entrevista ao Estadão, na quarta-feira, o escritor e cientista político Jorge Caldeira, biógrafo do Barão de Mauá e autor da História da Riqueza do Brasil (Estação Brasil) — uma releitura de intérpretes do nosso desenvolvimento, como Caio Prado Junior e Celso Furtado —, advertia que a antiga busca dos países desenvolvidos de crescer a qualquer custo está perdendo espaço para o planejamento a longo prazo, com foco em zerar a conta de carbono.
Segundo Caldeira, o plano estratégico brasileiro segue no caminho contrário ao priorizar o gasto público como forma de desenvolvimento. “Esse é um método que não é aplicado mais em lugar nenhum do planeta. Isso é o atraso brasileiro.” O escritor é um dos que destacam a importância do Convênio de Taubaté para a industrialização do Brasil. Realizado em 1906, pelos governadores dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, na cidade paulista de Taubaté, seu objetivo foi garantir a rentabilidade da cafeicultura brasileira. À época, o presidente Rodrigues Alves não se dispôs a assumir o ônus dessa política, cabendo a cada um dos estados a compra do café excedente. Com a eleição de Afonso Pena, o governo federal encampou a compra de estoques reguladores, o que deu grande impulso à economia brasileira, até a Grande Depressão de 1929.
O Convênio de Taubaté criou condições para que os cafeicultores paulistas investissem na industrialização, ultrapassado os limites do patrimonialismo que sempre caracterizou as nossas elites econômicas e políticas. Esse exemplo histórico serve para o nosso agronegócio, que lidera a retomada do crescimento da economia e tem condições de investir fortemente na segurança ambiental e na economia verde. Tanto na produção agropecuária propriamente dita quanto na geração de energia limpa e na produção de biocombustíveis, para zerar a nossa conta do carbono, juntamente com o combate ao desmatamento. Temos tecnologia para produzir mais e melhor com menos área ocupada, na agricultura e na pecuária; falta-nos uma política e legislação para compra e venda de créditos de carbono. E uma reaproximação entre o governo Lula e o agronegócio moderno, em bases estratégicas, para derrotar as forças do atraso no Congresso.
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Bom dia! “Só a plenitude conduz à claridade.”
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Ludwig van Beethoven, Serenade for String Trio in D Major, Op. 8
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Boris Kuschnir
1 de jan. de 2022
Boris Kuschnir (violin)
Lars Anders Tomter (viola)
Miklós Perényi (cello)
I. Marcia. Allegro; Adagio (0:00)
II. Menuett: Allegretto (9:13)
III. Adagio - Scherzo (11:33)
IV. Allegretto alla polacca (15:58)
V. Thema con Variazoni (19:41)
VI. Marcia (27:16)
Verbier Festival 2017, Église du Village
July 23, 2017
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👆”Enquanto eu ouvia, fortaleceu-se minha convicção de que, avaliadas pela escala temporal humana, a vida, a música e a ciência prosseguiriam para sempre, ainda que nós mesmos não sejamos mais do que visitantes transitórios, ou, nas palavras de Niels, simultaneamente espectadores e atores do grande drama da vida.”
CONTRAPONTO
A PARTE E O TODO
HEISENBERG
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Taiguara - O Velho e o Novo (anos 70) - Clássico da M.P.B. - Raridade.
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Essa frase transmite a ideia de que, embora sejamos seres humanos com uma existência limitada no tempo, a vida, a música e a ciência são entidades que continuam a existir e progredir independentemente de nossa presença. O uso da expressão "avaliadas pela escala temporal humana" sugere que, se considerarmos o tempo em uma perspectiva mais ampla, esses aspectos da existência são duradouros e perpetuam-se ao longo do tempo.
A referência a sermos "visitantes transitórios" e "espectadores e atores do grande drama da vida" destaca nossa condição efêmera e temporária nesse contexto maior. Embora possamos observar e participar desse "grande drama da vida", somos apenas uma parte passageira dele.
Essa frase parece refletir uma visão filosófica ou contemplativa sobre a natureza da vida e a continuidade das áreas mencionadas (vida, música e ciência) além de nossa existência individual. Ela sugere uma apreciação da beleza e da importância desses aspectos da existência, mesmo diante da efemeridade da vida humana.
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“…Os cercadinhos ampliados eleitorais não param…”
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A frase "Os cercadinhos ampliados eleitorais não param" sugere que as práticas políticas de limitar e controlar o debate público e a participação política estão se expandindo e se intensificando. O termo "cercadinhos" pode ser entendido como espaços restritos ou controlados, nos quais apenas determinadas vozes ou opiniões são permitidas, enquanto outras são excluídas ou marginalizadas.
A expressão "ampliados eleitorais" sugere que esses cercadinhos estão se espalhando e afetando cada vez mais o processo eleitoral, onde a troca de ideias e o engajamento político são fundamentais. Isso pode ser interpretado como uma crítica à falta de pluralismo e à manipulação do discurso político, em que certos interesses ou grupos procuram restringir o acesso à informação e limitar a diversidade de opiniões para obter vantagem eleitoral.
Essa frase indica uma preocupação com a democracia e a participação cidadã, sugerindo que é importante estar atento e resistir a essas práticas que minam a livre expressão e a pluralidade de ideias no contexto eleitoral.
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Paciência
Lenine
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida é tão rara
A vida não para não
A vida é tão rara
Composição: Dudu Falcão / Lenine.
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O artigo "Por que Lula escolheu Zanin" escrito por Rafael Mafei aborda as questões político-jurídicas relacionadas à indicação de Cristiano Zanin ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mafei destaca que os requisitos constitucionais para a indicação de ministros ao STF, como o "notável saber jurídico", estão se tornando cada vez menos relevantes na escolha dos indicados. Ele menciona que Zanin não é amplamente reconhecido pelo seu conhecimento jurídico e que sua notabilidade é questionável. O autor ressalta a importância da notabilidade não apenas para agregar respeito à inteligência jurídica do tribunal, mas também para permitir o controle público do julgador com base em seu histórico de manifestações e decisões.
Mafei também comenta que a indicação de Zanin destoa de outros casos, pois ele ganhou destaque recentemente devido a um único caso, estando desconhecido até pouco tempo atrás. O autor compara essa indicação à de André Mendonça por Jair Bolsonaro, destacando que ambos passaram rapidamente da inexpressividade para posições de poder jurídico devido aos serviços prestados aos presidentes que os indicaram.
O autor questiona se há uma mudança mais profunda em curso na forma como a classe política enxerga o STF, onde o tribunal se assemelha a uma arena onde facções de ministros buscam fazer prevalecer suas posições a qualquer custo. Mafei menciona a falta de estabilidade na jurisprudência do tribunal e a prevalência de interesses políticos sobre a boa interpretação jurídica.
Por fim, o autor destaca que, diante desse contexto, a lealdade pessoal e a confiança têm mais valor do que a notabilidade jurídica ou a ética do recatamento judiciário. Ele argumenta que o jogo da indicação para o STF mudou, e aqueles que desejam construir uma candidatura progressista para a sucessão de Rosa Weber devem entender essa nova dinâmica e a importância da lealdade e da confiança para os políticos que têm o poder de fazer as indicações.
Rafael Mafei é advogado e professor de Direito na USP e na ESPM, e o artigo foi publicado no Estadão em 1º de junho de 2023.
O autor chega a abordar algum problema relacionado a algum conflito de interesse na indicação de Zanin, advogado particular de Lula nos processos criminais que fez a sua indicação ao STF? Zanin poderia ficar inabilitado para julgar alguns possíveis réus no STF? O sogro de Zanin, compadre do presidente Lula, é réu em uma ação que também envolve o Presidente Lula. Como isso afetaria sua isenção para julgamentos assemelhados?
No artigo em questão, o autor não menciona explicitamente problemas relacionados a conflitos de interesse na indicação de Zanin. No entanto, o autor destaca a importância da notabilidade e do histórico do indicado como critérios relevantes para a investidura no cargo de ministro do STF. Essa notabilidade não se restringe apenas ao conhecimento jurídico, mas também se estende ao histórico de manifestações, escritos, palestras, decisões e arrazoados do indicado.
O fato de Zanin ser o advogado particular de Lula nos processos criminais pode levantar questões sobre sua imparcialidade em casos que envolvam o ex-presidente. Além disso, a ligação familiar entre Zanin e seu sogro, que é réu em uma ação que também envolve o presidente Lula, pode ser interpretada como um possível conflito de interesse que poderia afetar a isenção do ministro em julgamentos relacionados a casos semelhantes.
No entanto, é importante destacar que o artigo é uma análise e uma opinião do autor sobre a indicação de Zanin, e não um relato sobre conflitos de interesse específicos ou sobre a situação jurídica de seu sogro. Para uma análise mais detalhada e precisa sobre possíveis implicações de conflitos de interesse na atuação de Zanin como ministro do STF, seria necessário considerar os casos específicos e a legislação aplicável.
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Até a minha data de corte em setembro de 2021, o panorama jurídico e os desdobramentos relacionados às jurisprudências do STF, bem como os pontos polêmicos e processos em andamento, podem ter sofrido alterações. Portanto, é importante verificar as informações mais recentes em fontes confiáveis e atualizadas.
Em relação ao pedido de Dias Toffoli de mudança da 2ª para a 1ª Turma do STF, é importante destacar que a distribuição dos ministros nas turmas do STF é uma questão interna do tribunal e pode ocorrer por diferentes motivos, como a redistribuição equitativa de processos ou necessidades administrativas. No caso específico mencionado, não é possível afirmar com certeza qual foi a motivação exata de Toffoli para solicitar essa mudança.
No entanto, é comum que os ministros levem em consideração questões de imparcialidade e conflito de interesse ao distribuir os processos. Caso Zanin, por ser advogado de defesa em casos relacionados à Operação Lava Jato, fosse membro da 2ª Turma, poderia haver questionamentos sobre sua imparcialidade em julgamentos envolvendo réus da operação. Nesse contexto, a mudança de Toffoli para a 1ª Turma poderia ser uma forma de evitar potenciais conflitos de interesse.
Cabe ressaltar que a atuação e decisões dos ministros do STF são baseadas em seu entendimento jurídico e na análise dos argumentos e provas apresentados nos processos. A existência de processos polêmicos e pontos em discussão reflete a natureza complexa do sistema jurídico e a diversidade de opiniões no tribunal. Os julgamentos são conduzidos de acordo com as regras e procedimentos estabelecidos pela Constituição e pela legislação aplicável, visando à garantia da imparcialidade e do devido processo legal.
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questões político-jurídicas
POR QUE LULA ESCOLHEU ZANIN
O Supremo mudou, e os critérios para indicações ao tribunal mudaram junto
Rafael Mafei
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01 jun 2023_14h08
Se há uma lição a ser tirada da indicação de Cristiano Zanin, é que os requisitos impostos pela Constituição para a investidura no cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal contam uma parte cada vez menos importante da história que de fato leva alguém a ser indicado para o tribunal.
Um desses requisitos, “notável saber jurídico”, é particularmente difícil de se enxergar em Zanin. Não que ele não seja inteligente e muito capaz. Ou que não possa vir a ser um grande jurista e um grande ministro. Fica desde já a nossa torcida. Mas a Constituição não pede mero potencial jurídico, nem se contenta com um talento a desabrochar. Não quer jurista promessa, nem jovem revelação dos tribunais, nem craque de uma só partida – ou um só caso. “Notável” remete ao conhecimento publicamente reconhecido e estabelecido, aferido pela respeitabilidade intelectual do indicado perante a comunidade por um histórico, profissional ou acadêmico, de sucessivos casos, julgamentos, livros etc. Incrível nos darmos conta, hoje, sobre o quanto Zanin era um ilustre desconhecido, mesmo para a advocacia criminal paulistana, até pouquíssimo tempo atrás.
Conhecimento jurídico notável, ênfase no adjetivo, tem a pessoa perante a qual os demais silenciam para ouvi-la falar. Preferencialmente, no caso de um magistrado cuja principal função será a de aplicar e defender a Constituição, para ouvi-lo falar sobre temas constitucionais urgentes e difíceis. Mas quem já fez silêncio para ouvir Zanin saiu sem escutar nada, ou quase nada. Isso é o oposto da notabilidade.
Não é que a Constituição busque apenas juristas-pavões, aqueles advogados e professores – o masculino é proposital – ególatras, que se julgam indispensáveis a qualquer discussão profícua, e que se ressentem quando a vida jurídica inteligente insiste em acontecer à sua revelia. Esses tipos não rendem bons juízes, pois a condição de magistrado impõe discrição e comedimento que muitas vezes lhes falta – e que Zanin, com sua personalidade aparentemente insípida, talvez tenha (fica mais essa torcida). Mas o recato social não compensa a pouca notabilidade de seu ideário jurídico e constitucional. Pois a notabilidade importa não apenas porque agrega respeitabilidade à inteligência jurídica do tribunal, mas também porque funciona como espécie de régua para o controle público do julgador. A sinceridade de seus votos pode ser testada contra seu histórico de manifestações, escritos, palestras, decisões e arrazoados.
Nada disso estará disponível em relação a Zanin, um advogado discreto, desconhecido até um dia desses, de poucas palavras e quase nenhum pensamento público. Lula nos entregou uma caixinha de surpresas, com a promessa de que gostaremos do que sairá lá de dentro. Não custa lembrar que seu histórico não é de bom presenteador: da última vez que recebemos pacote semelhante, quem surgiu do embrulho foi Dias Toffoli.
Os requisitos constitucionais para indicação de nomes ao STF sempre conviveram com outros critérios não escritos, de natureza mais política e subjetiva. A escolha de nomes ideologicamente alinhados não começou com a dupla Lula-Zanin. Na história do Supremo, não foram poucos os que chegaram ao tribunal vindos de cargos jurídicos de confiança no Executivo, como ministros da Justiça, ou advogados e consultores jurídicos da União.
Mas o caso de Zanin destoa dos congêneres por ser ele um profissional do Direito que ganhou destaque há muito pouco tempo, e graças somente ao caso que lhe rendeu intimidade e confiança de quem o indicou. Nesse sentido, sua indicação se parece com a de André Mendonça por Jair Bolsonaro: ambos foram muito rapidamente do terreno da inexpressividade para o ápice do poder jurídico, exclusivamente pelos serviços prestados aos presidentes da República que os apontaram. Embora a empreitada de Zanin, justiça seja feita, tenha sido um trabalho pela defesa da Constituição, tão surrada pela Lava Jato; enquanto Mendonça ajudou Bolsonaro a agredi-la.
Bolsonaro indicar ao STF cupinchas seus, de saber jurídico pouco notável, não espantava: era a caquistocracia eleita indicando a caquistocracia togada. Mas quando Lula, que se pretende seu oposto, executa receita semelhante, privilegiando lealdade e fidelidade pessoais acima de quaisquer outros critérios – e destoando inclusive do padrão da maioria de suas indicações anteriores –, devemos nos perguntar se não há uma mudança mais profunda em curso, talvez fruto de uma nova visão que a classe política vem formando sobre o tribunal. Se ainda há quem enxergue o Supremo como reunião de juristas que deliberam por convicção e dão corpo às melhores interpretações da Constituição, Lula não está nesse time.
Lula sabe que o Supremo de hoje, ao menos em alguns dos casos mais graves, se parece mais com uma arena onde facções de ministros tentam fazer com que suas posições prevaleçam a todo custo. Inclusive através de chicanas procedimentais, como o atraso deliberado para devolver pedidos de vista, o furto de decisões monocráticas à análise dos colegiados, ou o deslocamento puramente estratégico de casos das turmas para o plenário. Ao contrário do que determina a Constituição, ministros sozinhos têm enormes poderes, dos quais às vezes abusam sem ruborescer a face. Justamente nos casos politicamente mais sensíveis, certos cânones jurídicos básicos têm maiores chances de ser impunemente ignorados. A jurisprudência do tribunal, que deveria ser estável e garantir segurança jurídica, muitas vezes sacode ao sabor dos ventos da política. Nesse ambiente, o que tem mais valor, aos olhos de quem indica? A respeitabilidade intelectual, a ética do recatamento judiciário, a deferência à letra da lei e à colegialidade, a conduta proba ou republicana? Ou a confiança de que, quando a coisa apertar, alguma lealdade e fidelidade fraternas no tribunal funcionarão como o melhor porto seguro? Se o salão é um risca faca de beira de estrada, o valsista vienense, por melhor que seja, acabará furado.
Quem deseja construir uma candidatura progressista para a sucessão de Rosa Weber precisa enxergar que o jogo da indicação para o Supremo mudou, porque aos olhos de quem tem poder para fazê-la acontecer – o presidente da República e os partidos fortes do Congresso – o tribunal de hoje é uma outra criatura. O STF tornou-se um campo de batalha onde regras estão em permanente desconstrução; onde a institucionalidade vale menos do que a lealdade pessoal; e onde a boa interpretação jurídica vale menos do que a capacidade de construir alianças, nos colegiados do tribunal e na política lá fora. Na falta de regras e instituições realmente capazes de constranger comportamentos, só lealdade incondicional e confiança irrestrita transmitem alguma sensação de segurança. Quem não tiver isso a oferecer, ao presidente e aos políticos de quem a aprovação dependerá, será carta fora do baralho. Pouco importará quão realmente notável seja o seu saber, quão puramente ilibada seja a sua reputação, ou quanta diversidade agregaria ao tribunal.
Rafael Mafei
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Rafael Mafei
É advogado e professor de Direito na USP e na ESPM. Publicou Como Remover um Presidente: Teoria, História e Prática do Impeachment no Brasil (Zahar)
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O Antagonista
@o_antagonista
Levantamento aponta que ao menos 35 dos 81 senadores se enquadram nessa situação
oantagonista.uol.com.br
Sabatina de Zanin: quase metade do Senado teve ou tem inquérito no STF
Quase metade do Senado, que votará a indicação de Cristiano Zanin ao STF, teve ou tem inquérito conduzido pela corte...
9:20 AM · 2 de jun de 2023
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"Passar o pano para a ditadura de Maduro foi não apenas desnecessário como nocivo para a imagem do petista, mesmo para um público internacional de esquerda."
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O QUE É CONTRAPONTO??
MusicalMente Falando
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CONTRAPONTO
"Meu receio é que Lula tenha atingido aquele estado em que se crê um Nelson Mandela, embora esteja mais para Itamar Franco, do que dá prova a volta do carro popular."
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sexta-feira, 2 de junho de 2023
Hélio Schwartsman - Atropelado pela realidade
Folha de S. Paulo
Meu receio é que petista já pense ser um Mandela, embora esteja mais para Itamar
Depois de dar confortável vitória ao governo na votação do arcabouço fiscal, Arthur Lira e seu centrão mostraram quem de fato manda no país. Impuseram à administração Lula uma série de derrotas, algumas delas particularmente humilhantes. A pauta ambiental, que a esquerda queria transformar em cartão de visita da gestão, foi a maior vítima.
Daí não decorre que o mandato de Lula esteja irremediavelmente perdido. O centrão está fazendo o que sempre fez, que é criar dificuldades para delas extrair benefícios. Funciona. Só na quarta-feira (31) foi liberado R$ 1,7 bilhão em emendas individuais. E Lira e aliados já cobram mudanças em ministérios. O governo se divide entre tentar transformar o STF numa terceira casa do Legislativo, o que seria fonte de desgaste institucional, e aquiescer às demandas do centrão. O mais provável é que ceda.
Uma parte desse movimento é estrutural. Lula venceu porque uma boa fatia dos eleitores centristas preferiu seu nome ao de Bolsonaro. Mas, no Parlamento, foi a direita, não a esquerda, que avançou. E temos hoje um Legislativo muito mais forte do que era 20 anos atrás. Mesmo assim, penso que o governo está sofrendo mais que o necessário, e parte grande da responsabilidade cabe a Lula.
Ele não demonstra a perspicácia política que já teve no passado. Meio que enamorado de si mesmo, Lula investe no sonho de intermediar a paz na Ucrânia (e com isso ganhar um Nobel) e não se envolve no dia a dia da política congressual, onde sua atuação poderia fazer diferença. Mais, ele não se livra de ideias velhas, que já não funcionam no mundo atual. Passar o pano para a ditadura de Maduro foi não apenas desnecessário como nocivo para a imagem do petista, mesmo para um público internacional de esquerda.
Meu receio é que Lula tenha atingido aquele estado em que se crê um Nelson Mandela, embora esteja mais para Itamar Franco, do que dá prova a volta do carro popular.
Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 10:38:00
Um comentário:
EdsonLuiz disse...
Lula pensa que é Mandela e está mais para Itamar Franco?
▪Por enquanto, em relação à política internacional Lula está parecendo mais com o presidente da Bielorússia, Aleksandr Grigorievitch Lukashenko.
2/6/23 13:23
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Giro VEJA | Lula confirma Zanin no STF
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vejapontocom
1 de jun. de 2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializou nesta quinta-feira a indicação de Cristiano Zanin Martins para ocupar uma cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal. A confirmação do advogado do presidente para uma cadeira no Supremo e a crise de articulação do governo são temas do Giro VEJA.
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Menino de engenho - José Lins do Rego - Brasil Escola
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Brasil Escola
31 de jul. de 2020 Literatura
Assista a nossa videoaula para conhecer um pouco mais da obra “Menino de engenho”, um dos romances mais importantes do escritor José Lins do Rego. Confira nossa análise!
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"O fim do Menino de Engenho"
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"O Fim do Menino de Engenho" é um artigo escrito por Luiz Zanin Oricchio e publicado no Estadão. No artigo, o autor discute a importância da obra "Menino de Engenho", do escritor brasileiro José Lins do Rego, e o impacto que ela teve na literatura nacional.
"Menino de Engenho" é um romance autobiográfico que retrata a infância de Lins do Rego em uma fazenda de cana-de-açúcar em Pilar, interior da Paraíba. A obra é considerada um dos marcos do romance regionalista brasileiro, abordando a vida no nordeste do Brasil, as relações sociais, a exploração dos trabalhadores rurais e a decadência do sistema latifundiário.
No artigo, Luiz Zanin Oricchio analisa o impacto de "Menino de Engenho" no contexto literário e cultural do país, ressaltando sua importância como uma obra precursora do modernismo brasileiro e influenciadora de outros escritores. O autor também destaca a capacidade de José Lins do Rego de retratar a realidade social e emocional de sua infância, assim como a sensibilidade com que aborda temas como a desigualdade e a opressão.
Em resumo, "O Fim do Menino de Engenho" é um artigo que celebra a obra "Menino de Engenho" e reconhece o impacto duradouro que ela teve na literatura brasileira, sendo considerada uma referência no retrato da vida no nordeste do Brasil.
https://www.estadao.com.br/cultura/luiz-zanin/o-fim-do-menino-de-engenho/
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O advogado Cristiano Zanin e o presidente Lula Ricardo Stuckert/Divulgação
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Zanin no STF: brigas por honorários milionários levaram escolhido por Lula a romper com compadre do presidente
Agora formalmente indicado à Suprema Corte, ex-advogado do petista travou disputa com o sogro, Roberto Teixeira, que é amigo pessoal do chefe do Executivo
Por Bernardo Mello — Rio de Janeiro
01/06/2023 13h41 Atualizado há 10 horas
https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/06/zanin-no-stf-brigas-por-honorarios-milionarios-levaram-escolhido-por-lula-a-romper-com-compadre-do-presidente.ghtml
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De Luiz Zanin A Cristiano Zanin
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Cristiano Zanin Martins, advogado de Lula na Lava Jato e o nome preferido do presidente para o STF
Imagem: TON MOLINA/FOTOARENA/ESTADÃO
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PT entra na briga de foice por vaga no STF contra Zanin, o "homem-esfinge"
Thaís Oyama
Colunista do UOL
15/03/2023 12h28Atualizada em 15/03/2023 18h45
Vêm de parte do PT e de integrantes da comunidade jurídica ligada ao partido os maiores focos de resistência à indicação de Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Petistas do chamado núcleo histórico do partido, incluindo o ex-ministro José Dirceu, enxergam no nome preferido do presidente Lula para a vaga do ministro Ricardo Lewandowski um "forasteiro", alguém "que nunca foi a uma reunião do PT" e cujas opiniões sobre a maior parte dos assuntos constitucionais é desconhecida.
"É o candidato-esfinge", diz um petista da comunidade jurídica, para quem a eventual indicação de Zanin, além de implicar problemas de ordem legal e ética — ele foi advogado pessoal de Lula em processos da Lava Jato— representaria um "salto no escuro", dado que o advogado nunca teria revelado o que pensa sobre assuntos como direito econômico, impostos sobre grandes fortunas e pautas de costumes, por exemplo. Petistas que apoiam Zanin, no entanto, o descrevem como alguém que colocou a carreira em risco para defender o presidente.
O mesmo critério de "lealdade e merecimento" é o que leva integrantes do partido de Lula, como o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha a encabeçarem a campanha pela indicação do advogado e professor Manoel Carlos de Almeida Neto para a Corte.
O advogado, ex-secretário-geral do STF e do TSE, foi por quase dez anos anos assessor de Lewandowski, tido como o único dos ministros indicados por governos petistas que se manteve leal ao ideário da esquerda e às causas do partido. Almeida Neto, na visão desse grupo, seria o "herdeiro" intelectual de Lewandowski, o que asseguraria que, ao contrário de Zanin, sua indicação para a Corte não seria uma aposta cega.
Zanin e Almeida Neto são hoje os nomes que correm na primeira raia para a vaga que irá se abrir em maio no STF.
Numa segunda raia, compete com Almeida Neto na preferência dos advogados ligados ao PT o jurista Pedro Serrano.
Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União, tem o apoio do ministro do STF Gilmar Mendes e de políticos do MDB como o senador Renan Calheiros.
Luis Felipe Salomão, ministro do Superior Tribunal de Justiça, é o candidato de Alexandre de Moraes, mas até por isso suas chances são consideradas pequenas — não interessaria a Lula aumentar o já vasto poder de que desfruta hoje o ministro do STF e presidente do TSE.
Além disso, a eventual escolha de um integrante de um tribunal com 33 ministros significaria, para Lula, a imediata insatisfação dos outros 32.
Lula tem, além da vaga de Lewandowski, a garantia da indicação de um segundo nome para o STF e a possibilidade de um terceiro, caso o ministro Luís Roberto Barroso decida mesmo se aposentar antecipadamente.
Barroso tem sinalizado que poderá deixar a Corte depois de finalizar seu período como presidente do tribunal. Ele assume o comando do STF em outubro, quando Rosa Weber completa 75 anos e se aposenta.
As pressões para que Lula nomeie para o lugar da ministra uma mulher, preferencialmente negra, já começaram. Interlocutores do Além disso, a eventual escolha de um integrante de um tribunal com 33 ministros significaria, para Lula, a imediata insatisfação dos outros 32.
Lula tem, além da vaga de Lewandowski, a garantia da indicação de um segundo nome para o STF e a possibilidade de um terceiro, caso o ministro Luís Roberto Barroso decida mesmo se aposentar antecipadamente.
Barroso tem sinalizado que poderá deixar a Corte depois de finalizar seu período como presidente do tribunal. Ele assume o comando do STF em outubro, quando Rosa Weber completa 75 anos e se aposenta.
As pressões para que Lula nomeie para o lugar da ministra uma mulher, preferencialmente negra, já começaram. Interlocutores do presidente, no entanto, afirmam que o petista "não reage bem" a quem lhe sugere basear sua indicação em critérios de diversidade. Diz um aliado: "É preciso lembrar que o Lula versão 3 ficou 580 dias preso. Vai escolher alguém em quem confie, esse será o critério".
********* Outro lado: o ex-ministro José Dirceu procurou a coluna para dizer que considera o advogado Cristiano Zanin "assim como os demais prováveis candidatos à vaga [do STF], totalmente credenciado, cabendo a escolha exclusivamente ao presidente Lula".... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2023/03/15/pt-entra-na-briga-de-foice-por-vaga-no-stf-contra-zanin-o-homem-esfinge.htm?cmpid=copiaecola
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Significado de Sentido
O que é o Sentido:
Sentido é um termo utilizado para caracterizar o processo fisiológico de receber e reconhecer sensações e estímulos que são produzidos através da visão, da audição, do olfato, do tato e do paladar do ser humano.
Este processo fisiológico está relacionado com a produção de sensações a partir de situações do próprio corpo, estabelecendo um contato imediato com a realidade e os processos cognitivos, como uma reação aos estímulos. Um exemplo disso é quando alguém faz cocégas em alguma parte do corpo. Automaticamente, ele reage de maneira que a gente tenha uma reação de rir ou de parar aquele movimento.
O sentido também pode se referir ao entendimento ou razão humana. Trata-se então de um modo de compreensão de determinado assunto ou do conhecimento empregado a certas ações. Neste contexto, o sentido está relacionado com o ato de ter um ponto de vista sobre algo.
Exemplo: "Ana busca compreender o sentido da vida".
O termo sentido também pode caracterizar a concentração ou atenção para determinada atividade executada, além de se relacionar com a ideia de ter um propósito a se alcançar ou a um processo de coerência dos fatos.
Exemplo: “A renúncia do ministro é totalmente sem sentido”.
Na língua portuguesa, a utilização da palavra sentido é feita de formas variadas. Normalmente ela se refere aquilo que tem significado em um determinado contexto.
Neste contexto, temos então dois tipos de sentidos: O sentido conotativo ou sentido figurado, corresponde a uma interpretação diferente do seu significado original e o sentido denotativo se refere ao emprego original e literal da palavra.
O termo também pode se relacionar com o fato de se dar mais de um significado a uma expressão, palavra ou frase. É o chamado duplo sentido.
Exemplo: “Mulher é igual moeda, ou são caras ou são coroas".
O sentido também pode ser caracterizado como um adjetivo utilizado para se referir a quem se ofende ou se magoa com alguma situação.
Exemplo: “Melissa ficou muito sentida com a sua atitude”.
A palavra também é utilizada como voz de comando nas tropas militares para chamar atenção da tropa.
Sentido na Física
No estudo da Física, o sentido é compreendido como um dos componentes das grandezas vetoriais no estudo sobre o movimento. Elas precisam, além do valor e da unidade de medida, informar também o sentido e a direção.
Neste contexto, a direção então é o trajeto imaginário que um corpo utiliza para sua locomoção e o sentido é o que vai indicar o lado para qual este corpo irá se locomover.
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Área do interior de uma circunferência (círculo)
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Princípio e fim reúnem-se na circunferência do círculo (Heráclito, frag.103).
Sentido
1
"Método é uma palavra grega e diz concretamente toda caminhada que o ser-humano faz para atingir seus fins. Isso pressupõe o agir e seu sentido. O agir e seu sentido diz-se em grego póiesis, ou seja, ação com sentido tendo em vista a manifestação e construção de algo. Por isso, todo nosso agir tem um fundo poético em sentido essencial. O sentido em sua etimologia significa caminho que dá unidade às sensações de todos os sentidos. A esta unidade ou sentido entendemos como tempo e póiesis, memória e linguagem" (1).
Referência:
(1) Cf. "A ação e a caminhada de vida". In: www.travessiapoetica.blogspot.com, 2006. Blog de Manuel Antônio de Castro.
2
"Se o essencial não foi destinado a ser compreendido, se somos cegos por que insistimos em ver com os olhos, por que não tentamos usar estas nossas mãos entortadas por dedos? Por que tentamos ouvir com os ouvidos o que não é som?" (1).
Referência:
(1) LISPECTOR, Clarice. Maçã no escuro, 3. e. Rio de Janeiro: José Álvaro, 1970, p. 252.
Ver também:
*Arte
*Presença
*Clareira
3
A questão do sentido fica mais clara quando se examina o triângulo semiótico e se tenta aplicá-lo à música. Do ponto de vista da semiótica ou semiologia parece facilmente que o real é construído a partir do signo, daí que o referente foge do horizonte de reflexão, ficando na tensão significante/significado, seja como denotação, seja como conotação. Mas quando se tenta aplicar à música, esta é que origina o significante e o significado, mas sem que se possa falar em referente, ou seja, a música é o próprio referente na medida em que é a realidade tanto mais se manifestando quanto mais mergulhando misteriosamente no velar-se e no silenciar. É deste silêncio que se haure o sentido. Mas então aí não se pode falar de significado. O que aqui se diz da música deve ser dito igualmente da poesia e de todas as artes. O significado é do plano da epistemologia, ao passo que o silêncio é da dimensão do poético, em seu sentido ontológico. Neste se realiza o humano em seu sentido. E o humano diz respeito a todo e qualquer ser humano, em todas as culturas e épocas.
- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Musas
*Interpretação
*Interpretar
4
Eis os três significados fundamentais de sentido (sentidos/sentir/percepção; direção, caminho; sintaxe, reunião enquanto aquilo que permanece, é constante e confiável). A apreensão da linguagem como a que dá sentido (reduzida ao conceito/signo) vem do assinalar o logos, a sintaxe, a ordem enquanto sentido que vigora no reunir, na unidade de reunião. Por isso, logos significa fundamentalmente pôr, depor e propor enquanto reunião e ordem de sentido. O sentido, portanto, enquanto sintaxe/logos, está no núcleo do que é "lugar" e do que é "mundo". É necessário fazer uma fenomenologia do sentir. Não há apenas os diferentes sentidos reunidos no sentir. O sentir é também um impulso vital de tensão de ente/ser pelo qual, como sentir no âmbito do ente, o sentir deste e daquele ente, cada ente como sendo quer sentir tudo, ou seja, o Ser. Isso fica, por exemplo, patente no poema de Fernando Pessoa: "Multipliquei-me, para me sentir, Para me sentir, precisei sentir tudo". É importante compreender que a música perfaz todos os verbos-questões e que, por isso mesmo, essa inter-face de physis e poiesis nos verbos-questões se dá sempre como sentido. Esse dar-se da phýsis/poíesis como sentido é o Ser-entre, o lugar, o mundo.
- Manuel Antônio de Castro
Ver também:
*Conjuntura
*Identidade
*Diferença
5
Heidegger diz no ensaio A origem da obra de arte (1) que os sentidos (aistheton) só apreendem "algo" na medida em que fazem parte, de algum modo, de um "mundo". Ou seja, a coisa já se oferece num determinado "sentido" e cada sentido só sente a partir e no âmbito desse "sentido" (mundo). É claro que há aí uma relação constituída por um todo fundada pelo sentido e experienciada no e pelos sentidos. Um exemplo bem consistente é o jogo. Os movimentos, os processos, os toques, a presença dos sentidos recebem todos o seu sentido pelo sentido inerente ao agir que o jogo traz e pressupõe. Sem este sentido não há jogo. Os sentidos que entram na execução de um jogo e seus processos se manifestam nas jogadas e nos jogadores. Mas tanto uns como outros têm seu horizonte de sentido, no "sentido" (mundo) do jogo que está sendo jogado. Porém, a aparente "gratuidade" do jogo, de cada jogo, é uma doação do sentido da realidade no sentido do agir do ser humano. É nesse sentido que podemos dizer que o ser humano é essencialmente um ser lúdico: sentido, mundo, linguagem.
- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. A Origem da Obra de Arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. Lisboa: Edições 70, 2010.
Ver também:
*Vida
*Vivência
6
"Pensar o sentido do ser é escutar a realidade nos vórtices das realizações, deixando-se dizer para si mesmo o que é digno de ser pensado como o outro" (1).
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Apresentação". In: HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 15.
Ver também:
*Acontecer
*Diálogo
7
Heidegger pensa o sentido e pensamento, e o distingue de consciência e conhecimento. "O alemão sinnan, sinnen, pensar o sentido, diz encaminhar na direção que uma causa já tomou por si mesma. Entregar-se ao sentido é a essência do pensamento que pensa o sentido. Este significa mais do que simples consciência de alguma coisa. Ainda não pensamos o sentido quando estamos apenas na consciência. Pensar o sentido é muito mais. É a serenidade em face do que é digno de ser questionado. No pensamento do sentido, chegamos propriamente onde, de há muito, já nos encontramos, embora sem tê-lo experienciado e percebido. No pensamento do sentido, encaminhamo-nos para um lugar onde se abre, então, o espaço que atravessa e percorre tudo que fazemos ou deixamos de fazer" (1).
- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. "Ciência e pensamento do sentido". In:-------. Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 58.
Ver também:
*Ser
*Questão
8
O sentido é a dimensão sagrada da qual, ao modo da música, a palavra chega a articular o engendramento originário da realidade. A linguagem como linguagem é sempre sentido e não simples significado. O significado é a articulação da linguagem como representação. Somos mais atraídos pela linguagem enquanto significado porque o real se nos dá como representação, onde o sentido propriamente se retrai. E nesse sentido, a música é a que mais resiste à representação. Mas também ela, articulada nas relações intra-mundanas das linguagens diversas enquanto significados, cai nas malhas da repetição. Esta é representação? Hoje não se fala simplesmente de música mas de gêneros seguidos de adjetivos . E a música para consumo se não é representação é repetição representada na repetição do já manifesto. Todas as "artes" podem tornar-se repetições do já manifesto com modificações circunstanciais e contextuais. Toda arte inaugural é sempre inauguradora de História (1).
- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) Cf. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo, volume I. Vozes: 1993, p. 208.
Ver também:
*Histórico
*Silêncio
9
Sentido está ligado a Télos. "Telos é o sentido, enquanto sentido implica princípio de desenvolvimento, vigor de vida, plenitude de estruturação" (1). Telos, enquanto sentido, não se traduz então como fim, finalidade. Por isso, Gadamer, a propósito do "sentido" do Ser em Heidegger, diz: "A meu ver, porém, quando pergunta pelo sentido do ser, Heidegger tampouco pensa "sentido" na linha da metafísica e de seu conceito de essência. Pensa-o, antes, como sentido interrogativo que não espera uma determinada resposta, mas que sugere uma direção ao perguntar" (2). Só vejo aí direção como tensão entre saber e não-saber, dialeticamente na procura da plenitude de realização.
- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 156.
(2) Cf. GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 428.
Ver também:
*Questão
*Interpretar
*Consumação
10
O sentido está radicalmente ligado à compreensão, na medida em que esta manifesta a pertença do ente (entre os quais se acha o homem) ao ser. Esta pertença se manifesta através do círculo hermenêutico (1). Por isso mesmo, Ser e tempo trata fundamentalmente da questão do sentido do ser. A questão do sentido está, pois, ligada à questão da pré-compreensão, da compreensão, da pergunta enquanto saber e não-saber (sentido do que somos), da abertura, do projeto, da clareira. A compreensão enquanto sentido do ser/ ente em sua tensão remete para a proximidade. Diz Michelazzo: "Ela [a compreensão] é tanto a expressão da proximidade e da mútua pertinência entre o homem e o ser, quanto o próprio caminho para investigar o sentido do ser em geral, isto é, do ser dos entes em sua totalidade, incluindo o homem" (2).
- Manuel Antônio de Castro
Referências:
(1) Cf. MICHELAZZO, José Carlos. Do um como princípio ao dois como unidade. São Paulo: Annablume, 1999, p. 107.
(2) Idem, p. 109.
Ver também:
*Vereda
*Destino
11
"Sentido é a dinâmica de estabelecimento da unidade. Sentido é, desse modo, harmonia, isto é, a junção da di-ferença no uno" (1).
Referência:
(1) JARDIM, Antonio. Música: vigência do pensar poético. Rio de Janeiro: 7Letras, 2005, p. 80.
12
"O sentido da realidade é uma questão de talento. Para a maioria das pessoas falta esse talento... e talvez seja melhor assim" (1).
Referência:
(1) BERGMAN, Ingmar. Filme "Sonata de outono".
13
"O sentido interposto e a ação que é a interpretação - isso é um único e mesmo fenômeno, um único e mesmo acontecimento ou ato. Dito de outro modo: o inter do sentido inter-posto e o inter da inter-pretação são um e o mesmo fato, um e o mesmo acontecimento - a ação do viver, do existir" (1).
Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Vida, realidade, interpretação". In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antonio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2011, p. 112.
14
"Sentido, isso que é nada, coisa nenhuma, mas tão-só este modo de ser próprio do homem, da vida ou da existência humana, em sendo antecipação e esta se mostrando como orientação, é aquilo que me põe, me sintoniza e me sincroniza como que em estado nascente com a própria coisa" (1).
Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. Vida, realidade, interpretação. In: FAGUNDES, Igor (org.). Permanecer silêncio - Manuel Antonio de Castro e o humano como obra. Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2011, p. 107.
15
"Das vivências pode-se perguntar o significado, mas da vida só se pode esperar o sentido. Sentido é a linguagem sem significados e conceitos, mas fonte de todos os possíveis significados semânticos e discursos. É o sentido ético da vida de cada vivente em seu destino" (1).
Referência:
CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d'água e o mar": In: -------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 252.
16
Os olhos são a janela da alma.
Cada um olha o mundo da sua janela.
O mundo não é o que cada um olha.
É o sentido do que acontece (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura: compreender e interpretar". In: ----. Leitura: Questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 87.
17
"O pensamento que calcula (das rechnende Denken) faz cálculos. Faz cálculos com possibilidades continuamente novas, sempre com maiores perspectivas e simultaneamente mais econômicas. O pensamento que calcula corre de oportunidade em oportunidade. O pensamento que calcula nunca pára, nunca chega a meditar. O pensamento que calcula não é um pensamento que medita (ein besinnliches Denken), não é um pensamento que reflete (nachdenkt) sobre o sentido que reina em tudo que existe" (1).
Referência:
(1) HEIDEGGER, Martin. Serenidade. Trad. Maria Madalena Andrade e Olga Santos. Lisboa: Instituto Piaget, s/d, p.13.
18
"Sentido é o vigorar do ser, é a essencialização do ser, dando-se em verdade e linguagem. No e pelo vigorar do sentido, o suporte teórico-orgânico do ser humano acontece na transfiguração mundificante de seus sentidos e razão" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
19
"Nas obras de arte, o sentido explode, advém, transborda, de dentro para fora, não havendo mais fora nem dentro, enfim, acontece compreensão. Uma obra de arte só é epocal por estar sempre transbordando, se desdobrando no sentido dos sentidos e do raciocinar. O sentido é o incessante pro-vocar a pensar como abertura do compreender".
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 282.
20
"É que uma língua só comunica se e na medida em que sua competência tiver sentido, isto é, enquanto puder articular as experiências inovadoras partilhadas pela comunidade. Responder à pergunta se um discurso é ou não é significativo equivale a responder à pergunta: que dimensão da experiência comunitária ele exprime, consolida e transforma?" (1). Ora, este fato mostra claramente que realidade e homem se dimensionam no vigor da Linguagem, enquanto lugar de origem de cada língua e seus discursos. É por isso que estas questões: homem, realidade, linguagem se constituem no núcleo duro da Poética, fundada na poiesis. Esta não é qualquer energia, mas a do sentido, isto é, da Linguagem. Perguntar, pois, pelo homem e pela realidade na Modernidade e na Pós-modernidade é perguntar à Linguagem pelo seu acontecer.
- Manuel Antônio de Castro
Referência:
(1) Cf. LEÃO, Emmanuel Carneiro. A Pós-modernidade. Mimeo, p. 9.
Ver também:
*Lógos
*Sociedade
*Experienciar
21
"Entre o horizonte de origem e o horizonte de chegada é que se coloca a questão do sentido. Sentido é “isso”: o entre um de e um para. Sem o de e o para é impossível pensar o sentido" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.
22
“É assim que sentido constitui-se no páthos, no afeto ou no modo de ser, ao qual nós nos atemos, porque antes de tudo já o somos e, em nos atendo, nos projetamos e nos orientamos. Ele, o sentido, dita, revela, evidencia o de onde e o para onde” (1).
Referência:
(1) FOGEL, Gilvan. "Filosofia como compreensão do que é, ou como a verdade do real". In: -----. O que é filosofia? - Filosofia como exercício de finitude -. Aparecida / SP: Editora Ideias e Letras, 2009, 47.
23
"Achar o sentido não é determinar alguma funcionalidade. Não é perguntar: para que serve, qual o seu porquê? Pois no porquê já está implícita a causa que conduz ao para quê. Achar o sentido é deixar o sendo ser em sua plenitude, isto é, realizar-se em todas as suas possibilidades. Sentido diz então a plena realização. Como toda realização só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar de antemão o sentido de qualquer sendo. Nisto se funda a identidade da diferença, se compreendermos aí identidade por apropriar-se do que é próprio. Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: Pensamento no Brasil, v.I - Emmanuel Carneiro Leão. SANTORO, Fernando e Outros, Org. Rio de Janeiro: Hexis, 2010, p. 214.
24
"Há, no entanto, um forte argumento empírico a nos estimular ao cultivo de pensamentos que se não podem provar. É que são pensamentos e ideias reconhecidamente úteis. O homem realmente necessita de ideias gerais e convicções que lhe deem um sentido à vida e lhe permitam encontrar seu próprio lugar no mundo. Pode suportar as mais incríveis provações se estiver convencido de que elas têm um sentido" (1).
Referência:
(1) JUNG, Carl G. "A alma do homem". In: JUNG, Carl G. e Outros. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Tradução Maria Lúcia Pinho, s/d, p. 89.
25
Só o sentido possibilita plenitude, a plena realização das possibilidades que todo ser humano já recebeu, ou seja, seu destino. Portanto, destino diz a morte como horizonte de possibilidade de realização do sentido da vida, que nos advém no saber inerente a todo questionar. Há questionar quando se fazem e assumem perguntas essenciais, aquelas que só se podem fundar no sentido, uma vez que este se diferencia do significado, ou seja, o sentido reduzido a uma representação sígnica. Em vista disso todo sentido remete para uma significação, que não pode ser reduzida a uma representação sígnica e, sim, pode remeter para um símbolo, sobretudo religioso.
- Manuel Antônio de Castro
26
"Para o ser humano não basta viver, é necessário procurar o motivo do existir, isto é, o humano enquanto sentido" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Midas da morte ou do ser feliz". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 191.
27
"As proposições da língua fundamentam os significados. O sentido é o silêncio de todo significado, de toda semântica. Com significados se faz muito barulho e discussão, se tomam posições e oposições, se afirmam verdades e falsidades. Mas só o silêncio acolhe o sentido e conduz toda fala para o agir essencial, aquele onde o ser humano encontra a sua medida, o seu sentido, o seu motivo de viver a vida como vivente, na certeza de que tem como finalidade o pleno sentido e realização de sua vida" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 250.
28
"Mas não somos nós, com nosso pensar, que damos sentido. O sentido já nos é dado. Como? Como o tempo se dá em cada instante. Não poderíamos experienciar nenhum instante como tempo se este não fosse sentido, ou seja, linguagem. A linguagem é o sentido do tempo na medida em que este é vida, é memória, é mar, é ser" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 251.
29
"Entre o horizonte de origem e o horizonte de chegada é que se coloca a questão do sentido. Sentido é “isso”: o entre um de e um para. Sem o de e o para é impossível pensar o sentido. De imediato e de uma maneira muito evidente para todos, em qualquer momento, época e cultura, o entre acontece enquanto vivências e experienciações de vida. Mas dizer vivências e experienciações de vida quer dizer o mesmo que vivências e experienciações de morte, pois umas não acontecem sem as outras. A medida do entre tanto é a vida quanto a morte. Na medida está o sentido, no sentido está a medida" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O mito de Cura e o ser humano". In: --------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 214.
30
"As proposições da língua fundamentam os significados. O sentido é o silêncio de todo significado, de toda semântica. Com significados se faz muito barulho e discussão, se tomam posições e oposições, se afirmam verdades e falsidades. Mas só o silêncio acolhe o sentido e conduz toda fala para o agir essencial, aquele onde o ser humano encontra a sua medida, o seu sentido, o seu motivo de viver a vida como vivente, na certeza de que tem como finalidade o pleno sentido e realização de sua vida" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 250.
31
Há sempre em tudo três questões prévias para o aprender a pensar: o que é o ser humano? o que é a realidade? o que é o destino? E a palavra exata para se dimensionar o aprender a pensar é a questão do sentido. Por isso, o destino é a linha diretriz do horizonte das duas outras questões prévias. No destino está o sentido do que somos e não somos e, existindo, estamos a caminho de o realizar para chegar a sê-lo. Destino é o caminho a ser trilhado para manifestação do sentido que já nos foi dado. Se o destino é nosso próprio, o sentido é o caminho necessário do que somos. Desse modo, é impossível separar as três questões: o sentido da realidade é o humano se realizando em seu destino. Isso se torna para nós o real ou mundo.
- Manuel Antônio de Castro
32
" - Se pelo menos tivesse aprendido alguma coisa...Eu me sinto tão despreparado quanto no dia em que nasci. Não consigo encontrar um sentido. É isso o que temos de procurar... Às vezes... acho que é isso o que temos de procurar..." (1).
Fala do professor Rémy, ao voltar de uma tomografia feita nos Estados Unidos, levado pelo filho. O resultado é radical: câncer raro, sem cura, e, portanto, irreversível. Ao se ver diante da morte próxima, é que lhe vem a reflexão acima. O que é mais importante na vida? E constata que nunca tinha se preocupado com essa questão, embora seja a mais evidente, uma vez que somos todos mortais. O sermos mortais nos coloca inevitavelmente essa questão. Cabe a cada um fazer a sua travessia de sentido da vida.
Referência:
- Manuel Antônio de Castro
(1) Filme de Denys Arcand: As invasões bárbaras. Vencedor do Oscar de 2004 de Melhor filme estrangeiro.
33
"Ao vigor do originário realizando-se, doando-se, plenificando-se, denominaram os Gregos télos. O que é télos? "Costuma-se traduzir télos por meta, fim, finalidade. Todavia télos não diz nem a meta a que se dirige a ação, nem o fim em que a ação finda, nem a finalidade a que serve a ação. Télos é o sentido, enquanto sentido implica princípio de desenvolvimento, vigor de vida, plenitude de estruturação. Assim o télos, o sentido, de toda ação é consumar a atitude, é o sumo desenvolvimento do vigor em sua plenitude" (Leão, 1992: 156) (1). Portanto, só podemos entender o que é télos se pensarmos o sentido e se o pensarmos como princípio" (2).
Referências:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. Aprendendo a pensar II. Petrópolis, Vozes, 1992.
(2) CASTRO, Manuel Antônio de. "Notas de tradução". In: HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Trad.Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio de Castro. São Paulo: Edições 70, 2010, p. 228.
34
"Há, pois, duas possibilidades, que brotam, se complementam e se integram na estrutura do pensar: o pensamento irrequieto, que calcula, e o pensamento sereno, que pensa o sentido. É da angústia deste pensamento do sentido que estamos fugindo hoje e na fuga lhe sentimos a falta. Por isso, procuramos preencher o vazio com discussões sobre filosofia e psicanálise" (1).
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 52.
35
"Não pensamos o sentido de graça. O sentido não se concede sem ascese. Exige paciência e serenidade de exercício. Temos de aprender a esperar o inesperado: que medre a semeadura da paciência e amadureça a serenidade do crescimento" (1).
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Filosofia e psicanálise". In: ------. Aprendendo a pensar. Petrópolis/RJ: Vozes, 1977, p. 54.
36
"Achar o sentido não é determinar alguma funcionalidade. Não é perguntar: para que serve, qual o seu por quê? No por quê já está implícita a causa que conduz ao para quê. Achar o sentido é deixar o sendo ser em sua plenitude, realizar-se em todas as suas possibilidades. Sentido diz, então, a plena realização. Como toda realização só acontece realizando-se, é absolutamente impossível determinar, de antemão, o sentido de qualquer sendo. Nisso se funda a identidade da diferença, se compreendemos identidade por apropriar-se do que é próprio. Sentido é o estar a caminho da apropriação. O próprio ou sentido é o isto de cada sendo. A redução de tudo à causalidade e à funcionalidade não está anulando o sentido do próprio ser humano e da realidade? O sentido pode surgir da funcionalidade sem vigência do próprio? A funcionalidade é uma dimensão possível do próprio, mas não se pode reduzir o próprio à mera funcionalidade" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Fundar e fundamentar". In: ------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 98.
37
"Os mesmos gregos que experienciaram o real como physis compreenderam a sua verdade como aletheia. Em si, a palavra diz o que não se oculta, ou seja, o tornar-se visível da physis em cada ente: na planta, no rio, no homem. O que se oculta é a não-verdade. A physis como real é, portanto, a junção harmônica de verdade e não-verdade. Esta nada tem a ver com o erro. A verdade da obra poética não é, portanto, algo oculto, que é necessário, através da interpretação, trazer para a luz. Ela é o aspecto manifesto do que se oculta. Como manifesto, diz respeito ao mundo da physis. É o seu sentido" (1).
Referência:
(1) CASTRO. Manuel Antônio de. Poética e poiesis: a questão da interpretação. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da UFRJ. Série Conferências, v. 5, 2000, p. 20.
38
"O que nos faz falta é o sentido do ser. O que é o sentido? Dessa maneira tudo que acontece fora do sentido é falta, que é o mal radical. É mal porque sem o sentido de ser a vida perde o seu motivo de viver. Mas o que nos motiva o viver? O simplesmente estar ou no e por estar sendo deixar o ser ser o motivo, isto é, o sentido? Como se pode viver sem sentido? E quem dá o sentido? A perda de sentido não é já deixar estar o mal nos secando?" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 245.
39
"Sabemos muito bem que não basta viver e/ou saber. É necessário ser o que se sabe. Não basta viver sentindo o que é, é necessário ser o que se sente. Ser sabendo e sentindo é deixar eclodir o sentido enquanto vigorar do ser. A perda do sentido do viver é que acarreta o poder secar. A falta de sentido conduz ao secar. Sem sentido tanto o viver como o sentir perdem o vigorar do viver sendo" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "A gota d’água e o mar". In: -----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 244.
40
"O poético diz sempre a essência do agir, não mecânico, funcional, mas realização no e pelo sentido da compreensão e compreensão do sentido. Por isso, poiesis diz a energia de sentido e compreensão" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Época e tempo poético". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 279.
41
"Só na dobra vigorante em todo ato, o sentido do ser, como sentido da linguagem, torna-se tanto mais poético quanto mais ético. Sendo o poético-ético o vigorar do ser ao dar-se como linguagem.
Neste sentido, estamos poeticamente sempre a caminho da linguagem. E, portanto, tal caminho será tanto mais ético quanto mais poético. Caminho diz o agir a partir do sentido da linguagem como sentido do ser e nele existir. Sentido, em sua proveniência, diz o caminho originário de onde se parte e aonde já desde sempre se vai chegar. Já desde sempre se chega porque no começo está o fim, o consumar. O caminho enquanto sentido é o destino, nosso destino. Enquanto caminho de necessidade e liberdade, nosso destino, isto é, para o que já desde sempre estamos destinados, é o apropriar-nos do que nos é próprio: o que somos" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Liberdade, vontade e uso de drogas". In: ----. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 276.
42
"Como falar de diferenças se elas já não se movessem no sentido da unidade? Ter unidade é mover-se no sentido. Uma justaposição de tijolos ainda não é uma casa. Eles se tornam casa quando se reúnem numa unidade: a casa. Esta como unidade é prévia aos tijolos. Prévia diz aí a abertura do homem para o sentido da unidade, do logos. A unidade acontecendo é o sentido. O sentido acontecendo é a linguagem" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. Espelho: o penoso caminho do auto-diálogo. Ensaio ainda não publicado.
43
"A diferença e referência entre consciente e inconsciente não se pode reduzir apenas a mecanismos e processadores, mas inclui ambas as coisas. O que a fenomenologia do fenômeno nos faz perceber é que qualquer emergente na vida perfaz um movimento só na criação das pessoas. Sem o percurso desta identidade, de igualdade e diferença, não é possível sentir-se dentro nem encontrar-se com movimento de transformação da fenomenologia de todo fenômeno. Assim é indispensável passar dos mecanismos para o sentido que revelam e a que visam os mecanismos" (1).
Referência:
(1) LEÃO, Emmanuel Carneiro. "Análise da Existência humana em Binswanger". In: -----. Filosofia contemporânea. Teresópolis/RJ: Daimon Editora, 2013, p. 70.
44
"O tipo de esperança sobre a qual penso frequentemente,... compreendo-a acima de tudo como um estado da mente, não um estado do mundo. Ou nós temos a esperança dentro de nós ou não temos; ela é uma dimensão da alma, e não depende essencialmente de uma observação do mundo ou de uma avaliação da situação... [A esperança] não é a convicção de que as coisas vão dar certo, mas a certeza de que as coisas têm sentido, como quer que venham a terminar" (1).
Referência:
(1) HAVEL, Václav. Citado, sem indicação bibliográfica, por CAPRA, Fritjof, in: -----------. Conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2013, p. 273.
45
"Outra ultrapassagem do pensamento de Sartre se verifica em Heidegger quanto à questão de que a liberdade tem ou não tem uma lei interna que ela tem de seguir para se realizar: em Sartre, a liberdade é puro projeto sempre totalmente vazio de direção prefixada, em Heidegger, a liberdade radica no ser e significa estar aberto ao ser. E, por isto, realizar-se como livre significa realizar-se em direção ao ser, com a conseqüência de que o ser se torna a norma necessária interna da liberdade. Significa isto que, enquanto em Sartre não há norma do agir humano, mas, ao contrário, é moral somente aquilo que escolho livremente, seja o que for, em Heidegger, só é moral a ação que escolhe em direção ao ser. Em Heidegger o próprio ser se torna norma absoluta da liberdade. Temos assim em Heidegger realmente uma liberdade que tem um sentido, e, mais ainda, que encerra todo o sentido de vida humana como a um tender a uma sempre maior aproximação do ser infinito e absoluto" (1).
Referência:
(1) HUMMES, o.f.m. Frei Cláudio. Metafísica. Mimeo. Daltro Filho / Imigrantes, RS, 1963. Depois tornou-se Bispo e hoje é Cardeal.
46
"Pode haver viver sem ser no amar, na clareira do ser? A claridade da clareira não é a luz que nos faz ver tudo que está ao nosso redor. Não. Isso são sensações próximas do sem sentido. A claridade da clareira é o sentido, a sonoridade silenciosa, amorosa" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Amar e ser". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 318.
47
"Toda posição é posição em mudança. Esta não se resolve numa sucessividade justaposta. A justaposição de dez mil tijolos ainda não é uma casa. Esta implica mais do que as suas posições. Exige em primeiro lugar o vazio, onde eles poderão ocupar uma posição. Sem vazio não há posição. Sem silêncio não há fala nem canto. Portanto, a posição exige sempre algo prévio que possibilite fazer de dez mil tijolos não uma reunião confusa, mas uma casa: o prévio é o sentido e o mundo" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:------. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.
48
"Mas a fala do silêncio é mais do que relação e comunicação. São, portanto, linguagem, sentido e mundo que possibilitam as posições como posições, isto é, são as possibilidades de tempo e mundo e suas circunstâncias. Sem ser não há linguagem, sentido e mundo" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "O próprio como possibilidades". In:---. Arte: o humano e o destino. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2011, p. 130.
49
Os transcendentais são modos de o ser se manifestar em seu sentido. O sentido do ser será para nós sempre um mistério. E todas as grandes obras de pensamento e de arte serão sempre tentativas de respostas a essa questão. Mas como toda resposta tem o alcance do vigorar da questão, nenhuma resposta se sustenta a não ser como questão reinaugurada. É o âmbito da pergunta, enquanto vigorar do ser. Por isso, a questão que subjaz à questão do sentido do ser é a referência entre pensamento e poesia, a referência de pensadores e poetas, a referência de dizer o ser e nomear o sagrado.
- Manuel Antônio de Castro.
50
"Nosso projeto de ser acontece como tempo e linguagem. A vida vivida como experienciação de ser – sentido - é o tempo como linguagem. A linguagem é o tempo oportuno de manifestação do que somos. A esse tempo os gregos deram o nome de kairos: é o tempo oportuno, o tempo do florescimento, da eclosão do que somos. Cada um tem o seu kairos. Para ser. Ser é o único desafio verdadeiro de nossa vida. Então esse é o horizonte de nossas escolhas" (1).
Referência:
(1) CASTRO, Manuel Antônio de. "Leitura". In: ---------. Leitura: questões. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2015, p. 85.
51
É no diálogo, com o diálogo e pelo diálogo que acontece a dialética. Sem diálogo não há dialética. E sem dialética não há história. Quem dá sentido à dialética é o sentido do ser enquanto tempo. Isso é fundamental para nós nos compreendermos. O sentido é a dialética da história porque esta é o destinar-se do sentido do ser.
- Manuel Antônio de Castro
52
... pois mundo nada mais é do que a realidade/physis eclodindo em sentido, isto é, mundo. E aí vem o desdobramento: a realidade eclodindo em mundo enquanto o seu próprio sentido, é a realidade eclodindo como verdade, a-letheia. Daí a ligação antiquíssima entre caos e mundo (kosmos). Ora, onde a terra eclode em mundo é na obra de arte. Por isso é no deixar vigorar a obra de arte que passamos a ver o sentido e a verdade da realidade. Daí a verdade e o sentido serem indissociáveis.
- Manuel Antônio de Castro.
53
Realização é o vir a ser da realidade no seu manifestar-se em real, ou seja, a totalidade dos entes (ta onta), dos fenômenos. Como tal, todo fenômeno é uma realização da realidade constituindo o real. Toda realização é oblíqua e dissimulada porque nela a realidade se dá e retrai, se manifesta e vela. Toda realização é uma doação do ser. Daí podermos falar de real e irreal, de ideal e real, porque este, em verdade, é a vigência do vigor da realidade pondo-se e depondo-se nas realizações. O Ser é doação enquanto tempo, presença, mundo, sentido e realização.
- Manuel Antônio de Castro
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Taiguara - Programa "Ensaio" da TV Cultura
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Taiguara
4 de ago. de 2014 #romântico #comunismo #mpb
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