Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quarta-feira, 2 de junho de 2021
ARGUMENTAÇÃO
Sei que este argumento é muito pobre
Mas sabendo o quanto és nobre
Sei que podes perdoar
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Exercícios sobre variação linguística
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Plínio Marcos era o palhaço Frajola
*** *** http://carapinhe.blogspot.com/2011/10/plinio-marcos-era-o-palhaco-frajola.html *** ***
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Documentário De Plínio Marcos Sobre AIDS
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AIDS/Plínio Marcos - Realização TV CULTURA
22/11/88
*** *** https://www.youtube.com/watch?v=cxIPEq3no7o *** ***
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LEIA TAMBÉM:
Textos com variedades linguísticas - exercícios com gabarito
**Gabarito no final**
1. (Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM) As manchetes a seguir foram publicadas em jornais diferentes, mas referem-se a um mesmo fato: a falsificação de remédios. Observe:
I. "Câmara torna fraude de remédio crime hediondo"
II. "Falsificação de remédios será crime hediondo"
III. "Agora é pena pesada"
Percebe-se que há uma diferença entre a qualidade da linguagem utilizada pelos dois primeiros jornais e pelo último. Essa situação é provocada pelo seguinte fato:
a) Os jornais I e II têm redatores de alto gabarito profissional, que não se preocupam se seu público entende a linguagem formal.
b) O jornal III dirige-se a um público mais formal e erudito.
c) O jornal III tem redatores menos experientes no uso da linguagem formal e erudita.
d) Os jornais II e III dirigem-se a um público menos exigente e, por isso, utilizam a linguagem informal e não erudita.
e) O jornal III usa uma linguagem menos formal para atingir um público mais informal e menos erudito.
2. (Fundação Universitária para o Vestibular - São Paulo - FUVEST - SP)
Texto 1
Você pode dar um rolê de bike, lapidar o estilo a bordo de um skate, curtir o sol tropical, levar sua gata pra surfar.
Considerando-se a variedade linguística que se pretendeu reproduzir nessa frase, é correto afirmar que a expressão proveniente de variedade diversa é:
a) "dar um rolê de bike";
b) "lapidar o estilo";
c) "a bordo de um skate";
d) "curtir o sol tropical";
e) "levar sua gata pra surfar".
3. (Universidade Estadual de Campinas - São Paulo- UNICAMP - SP)
O texto "O FMI (Fundo Monetário Internacional) vem aí. Viva o FMI, do articulista Luiz Nassif, publicado na revista Ícaro, está redigido no português culto característico do jornalismo, e contém, inclusive, um bom número de expressões típicas da linguagem dos economistas, como "desequilíbrio conjuntural"," royalties", "produtos primários", "política cambial". No entanto, contém também termos ou expressões informais, como na seguinte frase: "Há um ou outro caso de mudanças estruturais no mundo que deixa os países com a broxa na mão".
Leia o trecho abaixo, que é parte do mesmo artigo, e responda às questões:
Países já chegam ao FMI com todos esses impasses, denotando a incapacidade de suas elites de chegarem a fórmulas consensuais para enfrentar a crise - mesmo porque essas fórmulas implicam prejuízos aos interesses de alguns poderosos. Aí a burocracia do FMI deita e rola.
Há, em geral, economistas especializados em determinadas regiões do globo. Mas, na maioria das vezes, as fórmulas aplicadas aos países são homogêneas, burocráticas, de quem está por cima da carne-seca e não quer saber de limitações de ordem social ou política (...). Sem os recursos adicionais do Fundo, a travessia de 1999 seria um inferno, com as reservas cambiais se esvaindo e o país sendo obrigado ou a fechar sua economia ou a entrar em parafuso. O desafio maior será produzir um acordo que obrigue, sim, o governo e o Congresso a acelerarem as reformas essenciais.
Revista ícaro, 170, out. 1998.
a) Transcreva outras duas expressões do trecho que tenham a mesma característica de informalidade.
b) Substitua as referidas expressões por outras típicas da linguagem formal.
Questões 4 a 8 (VUNESP - SP)
INSTRUÇÃO: As questões têm como base o texto a seguir. Escrito e interpretado pelo ator e dramaturgo Plínio Marcos (1935-2000), trata-se de transcrição de um vídeo exibido na Casa de Detenção (antiga penitenciária) em São Paulo.
Aqui é bandido: Plínio Marcos! Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te dá um alô! Te liga aí: Aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o corpo sem defesa contra a doença. Quem pegá essa praga está ralado de verde e amarelo, do primeiro ao quinto, e sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem vela, nem ai, Jesus. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua: Aids passa pelo esperma e pelo sangue, entendeu? Pelo esperma e pelo sangue! (pausa)
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu tá na tranca que virô anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids! Então, já viu: transá, só de acordo com o parceiro, e de camisinha! (pausa) Agora, tu aí que é metido a esculachá os outros, metido a ganhá o companheiro na força bruta, na congesta! Para com isso, tu vai acabá empesteado! Aids num toma conhecimento de macheza, pega pra lá e pega pra cá, pega em home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa peste num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabê. Daí, o mais malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra casa o Aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida! Sexo, só com camisinha. (pausa)
Quem descobre que pegô a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra, passando pros outros. (pausa) Sexo, só com camisinha. Num tem escolha, transá, só com camisinha.
Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da chefia.
Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pro Aids. No desespero, tu não se toca, num vê, num qué nem sabê que, às vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direto em ti. Às vezes, ela parece que vem limpona, e vem com a praga! E tu, na afobação, mete ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas que diz que num pode aguentá a tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (pausa) E a farinha que tu cheira, e a erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids! Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. Então, malandro, se cobre! Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente só dá valor pra ela quando ela já era!
(Video exibido na Casa de Detenção, São Paulo. Créditos: Agência Adag (1988). Realização: TV Cultura, São Paulo. Duração: 2 min48s)
4. O texto que lhe apresentamos não se realiza de acordo com a chamada norma culta da língua portuguesa. Cite três ocorrências gramaticais que caracterizam esse desvio da norma culta. Exemplifique-as.
5. Que efeito argumentativo decorre do emprego dessa variedade de linguagem?
6. Uma das virtudes do texto de Plínio Marcos é tratar a questão da Aids de maneira realista. Didaticamente, e de modo a se fazer rapidamente compreendido, utiliza-se da comparação e, em geral, quando substitui um termo por outro, o faz por uma aliança lógica entre as partes, designando o elemento por um termo que contém a qualidade de uma de suas partes. Com base neste comentário, releia atentamente o último parágrafo do texto e, a seguir:
a) aponte os termos que substituem, respectivamente, cocaína e maconha;
b) interprete a comparação "A saúde é como a liberdade". Para isso, leve em conta a situação dos destinatários e os objetivos que o emissor deseja alcançar.
7. Logo no início de sua fala, Plínio Marcos se define como "bandido". Qual sua intenção argumentativa com tal apresentação? Que tipo de argumento o ator está empregando?
8. Como se sabe, são comuns, nos presídios, violências sexuais entre os detentos. No terceiro parágrafo, Plínio Marcos se refere explicitamente aos agentes dessa violência. Que argumentos ele utiliza para tentar convencê-los a parar com esse tipo de prática?
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Vinho Português Gabarito Branco 750ml
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GABARITO
1. Letra E
2. Letra B
3.
a) "Aí a burocracia do FMI deita e rola"; " ... de quem está por cima da carne-seca";
b) "Aí a burocracia do FMI exerce seu domínio"; " ... de quem está controlando a situação".
4. A chamada "mistura de pronomes" (exemplo: "Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca!"), a ocorrência do pronome tu com a terceira pessoa do verbo (exemplo: "Para com isso, tu vai acabá empesteado!"), o uso do pronome reto na posição de objeto (exemplo: "e tu mete ela direto em ti").
5. O autor se apresenta aos interlocutores como um deles. Este fator de identificação pode ampliar sua credibilidade frente a seus interlocutores.
6.
a) Cocaína (farinha); maconha (erva).
b) Referir-se à liberdade como termo de comparação com a saúde é argumentativamente forte no contexto porque os detentos vivenciam justamente a perda da liberdade e sabem o que isso significa.
7. De novo, o autor da fala usa uma estratégia de se apresentar como igual a seus interlocutores e, portanto, não se apresenta como alguém de fora, mas como alguém de dentro, o que, neste caso, lhe dá mais credibilidade.
8. Ele deixa claro que a aids não respeita ninguém. Qualquer um que não se cuide acaba contaminado e contaminando, depois, até mesmo membros de sua família.
*** *** https://atividadesdeportugueseliteratura.blogspot.com/2016/08/exercicios-sobre-variacao-linguistica.html *** ***
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LIÇÃO 19
ARGUMENTAÇÃO
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O ator Plínio em cena do vídeo. Marcos
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Leia o texto abaixo, fragmento extraído de um vídeo exibido na Casa de Detenção de São
Paulo, para ensinar aos detentos formas de prevenção contra a aids:
Aqui é bandido: Plínio Marcos. Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te dá um alô!
Te liga aí: aids é uma praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o corpo sem
defesa contra a doença. Quem pegá essa praga está ralado de verde e amarelo, de primeiro
ao quinto, e sem vaselina. Num tem dotô que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem vela,
nem ai, Jesus. Pegou aids, foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua: aids pega pelo
esperma e pelo sangue, entendeu?, pelo esperma e pelo sangue! (Pausa)
Eu num tô te dando esse alô pra te assombrá, então se toca! Não é porque tu tá na tranca que
virou anjo. Muito pelo contrário, cana dura deixa o cara ruim! Mas é preciso que cada um se cuide, ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de aids. Então, já viu: transá, só de acordo
com o parceiro, e de camisinha! (Pausa)
Agora, tu aí que é metido a esculachá os outros, metido a ganhá o companheiro na força bruta,
na congesta! Para com isso, tu vai acabá empesteado! Aids num toma conhecimento de
macheza, pega pra lá, pega pra cá, pega em home, pega em bicha, pega em mulhé, pega em
roçadeira! Pra essa peste num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem
sabê. Daí, o mais malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra
casa o aids! E num é isto que tu qué, né, vago mestre? Então te cuida. Sexo, só com camisinha.
(Pausa)
Quem descobre que pegô a doença se sente no prejuízo e quer ir à forra, passando pros outros.
(Pausa) Sexo, só com camisinha! Num tem escolha, transá, só com camisinha.
Quanto a tu, mais chegado ao pico, eu tô sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da
chefia. Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pra aids. No desespero, tu não se toca,
num vê, num qué nem sabê que, às vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete
ela direto em ti. Às vezes, ela parece que vem limpona, e vem com a praga. E tu, na afobação,
mete ela direto na veia. Aí tu dança. Tu, que se diz mais tu, mas que diz que num pode aguentá a
tranca sem pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (Pausa) E a farinha que tu cheira, e a
erva que tu barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu fica
moleza pro aids! Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. Então, malandro, se
cobre. Quem gosta de tu é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente dá valor pra ela
quando já era!
Vídeo exibido na Casa de Detenção de São Paulo. Agência: Adag; Realização: TV Cultura,
1988.
Esse texto, falado por Plínio Marcos, trata o problema da aids de maneira realista, sem
qualquer idealização. Pretende ele levar os presos a usar camisinha em todas as relações sexuais,
a não ter relações sem consentimento do parceiro e a não usar droga injetável. Para isso,
compara a saúde à liberdade. Faz isso porque a liberdade é o bem mais prezado por aqueles que
dela estão privados. Equiparando a saúde à liberdade, quer alertar para a necessidade de
preservar aquela que, ao contrário desta, ainda não está perdida. O texto dá uma informação
básica: que a transmissão do vírus da aids se faz por meio do esperma e do sangue. No entanto, o
que importa no texto é persuadir os presidiários a adotar meios de prevenção. Quais são os
recursos de que se vale o enunciador para realizar a persuasão? Procura identificar-se com seus
destinatários, para que sua mensagem se torne confiável para eles. Como faz isso? Em primeiro
lugar, apresentando-se como um deles, como um bandido. Em seguida, tratando-os com os
vocativos que os marginais empregam entre si: malandrage, malandro, vago mestre. Em terceiro,
usando a linguagem com que estão habituados: variante não culta, em sua modalidade oral
(observe, por exemplo, a omissão do r nas formas verbais: ganhá, valê, qué, transá etc.);
substituição da expressão não é por né; uso de formas populares de pronúncia (num, em vez de
não, dotô, mulhé, vô, tá); inadequação no uso das formas pronominais (ora o interlocutor é tratado
por tu, ora por você) e da concordância verbal (sujeito de segunda pessoa e verbo na terceira: tu não se toca, tu cheira etc.); utilização das formas pronominais retas em função de complemento
(gosta de tu); uso do termo aids como masculino (o aids); e gíria da marginalidade (congesta,
pico, tranca, ganhá na força bruta, barrufa etc.).
A partir desse texto, podemos pensar o que é realmente argumentação. Normalmente, pensase que comunicar é simplesmente transmitir informações. A teoria da comunicação diz que, para
haver um ato comunicativo, é preciso que seis fatores intervenham: o emissor (aquele que produz
a mensagem), o receptor (aquele a quem a mensagem é transmitida), a mensagem (elemento
material, por exemplo, um conjunto de sons, que veicula um conjunto de informações), o código
(sistema linguístico, por exemplo, uma língua, ou seja, conjunto de regras que permite produzir
uma mensagem), o canal (conjunto de meios sensoriais ou materiais pelos quais a mensagem é
transmitida, por exemplo, o canal auditivo, o telefone) e o referente (situação a que a mensagem
remete). No entanto, simplifica ela excessivamente o ato de comunicação, pois concebe o
emissor e o receptor pura e simplesmente como polos neutros que devem produzir, receber e
compreender a mensagem.
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As coisas são mais complicadas no ato comunicativo. Há uma diferença bem marcada entre
comunicação recebida e comunicação assumida. Como comunicar é agir sobre o outro, quando
se comunica não se visa somente a que o receptor receba e compreenda a mensagem, mas
também a que a aceite, ou seja, a que creia nela e a que faça o que nela se propõe. Comunicar
não é, pois, somente um fazer saber, mas também um fazer crer e um fazer fazer. A aceitação
depende de uma série de fatores: emoções, sentimentos, valores, ideologia, visão de mundo,
convicções políticas etc. A persuasão é então o ato de levar o outro a aceitar o que está sendo dito, pois só quando ele o fizer a comunicação será eficaz.
Em geral, pensa-se que argumentar é extrair conclusões lógicas de premissas colocadas
anteriormente, como no silogismo, forma de raciocínio em que de duas proposições iniciais se
extrai uma conclusão necessária:
Todo homem é mortal.
Pedro é homem.
Logo, Pedro é mortal.
No entanto, podemos convencer uma pessoa de alguma coisa com raciocínios que não são
logicamente demonstráveis, mas que são plausíveis. Quando a publicidade do Banco do Brasil diz
que ele serve o cliente há mais de cem anos, o raciocínio implícito é que, se ele é tão antigo, deve
prestar bons serviços. Essa conclusão a que a publicidade encaminha não é necessariamente
verdadeira, mas possivelmente correta. Por isso, argumenta-se não só com aquilo que é
necessariamente certo, mas também com o que é possível, provável, plausível.
Argumento aqui será então usado em sentido lato. Observemos a origem do termo: vem do
latim argumentum, que tem tema argu, cujo sentido primeiro é “fazer brilhar”, “iluminar”. É o
mesmo tema que aparece nas palavras argênteo, argúcia, arguto etc. Pela sua origem, podemos
dizer que argumento é tudo aquilo que faz brilhar, cintilar uma ideia. Assim, chamamos
argumento a todo procedimento linguístico que visa a persuadir, a fazer o receptor aceitar o que
lhe foi comunicado, a levá-lo a crer no que foi dito e a fazer o que foi proposto.
Nesse sentido, todo texto é argumentativo, porque todos são, de certa maneira, persuasivos.
Alguns se apresentam explicitamente como discursos persuasivos, como a publicidade, outros se
colocam como discursos de busca e comunicação do conhecimento, como o científico. Aqueles
usam mais a argumentação em sentido lato; estes estão mais comprometidos com raciocínios
lógicos em sentido estrito. Seja a argumentação considerada em sentido mais amplo ou mais
restrito, o que é certo é que, quando bem feita, dá consistência ao texto, produzindo sensação de
realidade ou impressão de verdade. Achamos que o texto está falando de coisas reais ou
verdadeiras. Acreditamos nele.
São inúmeros os recursos linguísticos usados com a finalidade de convencer. Trataremos de
alguns tipos de argumento.
1. ARGUMENTO DE AUTORIDADE
É a citação de autores renomados, autoridades num certo domínio do saber, numa área da
atividade humana, para corroborar uma tese, um ponto de vista. O uso de citações, de um lado,
cria a imagem de que o falante conhece bem o assunto que está discutindo, porque já leu o que
sobre ele pensaram outros autores; de outro, torna os autores citados fiadores da veracidade de
um dado ponto de vista. Observe a introdução de um texto de Ulisses Guimarães, em que invoca
a autoridade da Bíblia, do padre Antônio Vieira, de provérbios e de Camões, para reprovar a falta
de palavra do presidente Collor, que lhe prometera manter-se neutro na votação de emenda
constitucional que estabelecia o sistema parlamentarista e, na surdina, trabalhou pela sua
rejeição:
O FIO DO BIGODE
Para nossos avós, o fio do bigode garantia a palavra empenhada. Não precisava de tabelião,
firma reconhecida e testemunhas.
Depilou, negócio fechado.
Os bigodes rarearam, a palavra não.
A Terra é filha da palavra, reza o Gênesis. O Evangelho segundo São João recorda: “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”.
Padre Vieira tem na agulha bala certeira: “Palavras sem obras são tiro sem bala: atroam mas
não ferem. A funda de Davi derrubou o gigante, mas não o derrubou com o estalo, senão com a
pedra”.
Para os súditos confiantes “palavra de rei não volta atrás”. O adágio prevalece para os
presidentes da República, que são os reis de plantão durante os respectivos mandatos. O fraco rei
faz fraca a forte gente. Secularmente adverte Camões. [...]
Presidente Collor: esse negócio de palavra é fogo. Com fogo não se brinca, principalmente
chefe de governo.
Folha de S. Paulo, 18 nov. 1991, p. 1-3.
Se é verdade que o argumento de autoridade tem força, é preciso levar em conta que tem
efeito contrário a utilização de citações descosturadas, sem relação com o tema, erradas, feitas
pela metade, mal compreendidas.
2. ARGUMENTO BASEADO NO CONSENSO
As matemáticas trabalham com axiomas, que são proposições evidentes por si mesmas e,
portanto, indemonstráveis: o todo é maior do que a parte; duas quantidades iguais a uma terceira
são iguais entre si, etc. Outras ciências trabalham também com máximas e proposições aceitas
como verdadeiras, numa certa época, e que, portanto, prescindem de demonstração, a menos
que o objetivo de um texto seja demonstrá-las. Podem-se usar, pois, essas proposições evidentes
por si ou universalmente aceitas, para efeitos de argumentação. Por exemplo:
A educação é a base do desenvolvimento.
Os investimentos em pesquisa são indispensáveis, para que um país supere sua condição de
dependência.
Não se deve, no entanto, confundir argumento baseado no consenso com lugares-comuns
carentes de base científica, de validade discutível. É preciso muito cuidado para distinguir o que é
uma ideia que não mais necessita de demonstração e a enunciação de preconceitos do tipo: o
brasileiro é indolente, a aids é um castigo de Deus, só o amor constrói.
3. ARGUMENTOS BASEADOS EM PROVAS CONCRETAS
As opiniões pessoais expressam apreciações, pontos de vista, julgamentos, que exprimem
aprovação ou desaprovação. No entanto, elas terão pouco valor se não vierem apoiadas em fatos.
É muito frequente em campanhas políticas fazerem-se acusações genéricas contra candidatos:
incompetente, corrupto, ladrão etc. O argumento terá muito mais peso se a opinião estiver
embasada em fatos comprobatórios. Se dissermos A administração Fleury foi ruinosa para o
Estado de São Paulo, um partidário do ex-governador poderá responder simplesmente que não
foi. No entanto, se dissermos A administração Fleury foi ruinosa para o Estado de São Paulo,
porque deixou dívidas, junto ao Banespa, de 8,5 bilhões de dólares, porque deixou de pagar os
fornecedores, porque acumulou dívidas de bilhões de dólares, porque inchou a folha de pagamento
do Estado com nomeações de afilhados políticos, porque desestruturou a administração pública
etc., o partidário do ex-governador, para argumentar, terá que responder a todos esses fatos.
Os dados apresentados devem ser pertinentes, suficientes, adequados, fidedignos. Por exemplo,
se alguém disser que um determinado candidato não é competente administrativamente porque
não sabe português, estará fazendo um raciocínio falacioso, porque o fato de saber português não
é pertinente para a conclusão de que alguém seja competente para administrar, uma vez que não
há implicação necessária entre o conhecimento linguístico de alguém e a qualidade de bom
administrador. Por outro lado, se alguém diz que todo político é ladrão, porque a imprensa
divulgou que dezenas de deputados fizeram emendas ao orçamento para tirar proveito pessoal, os
dados são insuficientes para fazer a generalização, pois do fato de alguns (ou muitos) terem sido
apontados como desonestos não decorre necessariamente que todos o sejam. Aliás, é preciso
tomar muito cuidado com esses argumentos que fazem apelo a uma totalidade indeterminada,
pois basta um único caso em contrário, para derrubá-los. Se alguém diz Nenhum europeu toma
banho todos os dias, basta que se cite um que o faça, para que o argumento deixe de ter validade.
No geral, essas generalizações feitas com base em dados insuficientes revelam apenas nossos
tabus e preconceitos. Se um determinado candidato diz que seu adversário é racista, porque,
quando era diretor de uma certa companhia, não permitia que se contratassem funcionários
negros, essa afirmação, a menos que venha acompanhada de provas, será considerada não
fidedigna, pois quem a veicula tem interesse em desmoralizar a pessoa que está sendo acusada.
Se o prefeito de São Paulo diz que é preciso investir em pontes, viadutos, túneis e alargamento de
ruas e avenidas, para melhorar o transporte coletivo, uma vez que, se o fluxo do tráfego
aumentar, crescerá também a velocidade dos ônibus, seu argumento é fraco. Veja que se pode
rebatê-lo, dizendo que nele não se relacionam dados adequados, visto que a melhoria da
velocidade do transporte coletivo se faria, na verdade, com um custo mais baixo, implantando-se
corredores exclusivos de ônibus e restringindo-se a circulação do transporte individual.
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Foto de Gervásio Batista (Manchete), de 1985.
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Por constituir um recurso quase irrespondível numa argumentação, a fotografia pode ser
usada também para forjar supostas provas concretas. Um dos episódios mais marcantes da
doença de Tancredo Neves foi a tentativa de, por meio de uma foto, convencer a população da
melhora de seu estado de saúde. Q uem olha a imagem não percebe que, atrás do sofá,
esconde-se uma enfermeira responsável por segurar um frasco de soro, medicamento que não
podia deixar de ser ministrado, dada a gravidade do estado de saúde do presidente eleito. A
farsa não pôde ser sustentada, e Tancredo faleceu um mês depois.
Não se podem fazer generalizações sem apoio em dados consistentes, fidedignos, suficientes,
adequados, pertinentes. As provas concretas podem ser cifras e estatísticas, dados históricos, fatos
da experiência cotidiana etc. Esse tipo de argumento, quando bem feito, cria a sensação de que o
texto trata de coisas verdadeiras e não apresenta opiniões gratuitas. Veja este texto, em que se
acusa a Central Brasileira de Medicamentos de realizar compras com preços superfaturados e se
comprova o superfaturamento com publicações do Diário Oficial e com notas de empenho
assinadas pelo presidente do órgão:
É o que acaba de fazer, com dinheiro da Central de Medicamentos, Antônio Carlos dos Santos,
presidente dessa estatal apanhado em flagrante de compras irregulares com custo bilionário.
O leitor que me desculpe, mas se trata, ainda, da compra de 1.600 litros de inseticida por Cr$2.169.115.200,00, ao preço, portanto, de Cr$ 1.355.697,00 por litro. Notícia cuja veracidade está
comprovada no Diário Oficial de 19 de abril e na “nota de empenho” com que o presidente da
Ceme liberou a verba.
Jânio de Freitas. Folha de S. Paulo, 14 maio 1991. p. 1-5.
Afirmações generalizantes exigem dados ou fatos que lhes sirvam de suporte. Por outro lado,
não se podem fazer generalizações indevidas. Um tipo de generalização indevida é tomar o que é
acidental, ou seja, acessório, ocasional, como se fosse essencial, isto é, inerente, necessário.
Mostrar um erro médico (ou vários) e concluir que todos os médicos são charlatães é generalizar
indevidamente, porque o erro por descuido, negligência ou imperícia não é inerente à profissão
médica. Também não o é a corrupção à atividade política etc. A maioria das sentenças
judiciosas do senso comum são generalizações indevidas. Usar argumentos desse tipo (por
exemplo, político não presta, brasileiro não sabe votar, pobre não gosta de trabalhar, engenheiro é
bitolado, artista vive num outro mundo, jornal só conta mentira, funcionário público não trabalha,
roqueiros são todos drogados) revela um autor acrítico, preso a lugares-comuns, imerso num
universo conceitual muito pobre.
No caso de argumentos por provas concretas, podem-se muitas vezes usar casos singulares
para comprovar verdades gerais. Tem-se a argumentação por ilustração, quando se enuncia um
fato geral e, em seguida, narra-se um caso concreto para comprová-la; na argumentação pelo
exemplo, parte-se de um exemplo concreto e daí se extrai uma conclusão geral. Temos o
primeiro caso, quando se diz que, no Brasil, há políticos que se valem de fraude para eleger-se e,
em seguida, conta-se o caso de um esquema montado por um candidato a deputado para alterar
os mapas eleitorais durante as apurações. Nesse caso, o que não se pode é dar à afirmação geral
um alcance que a ilustração não permite. Por exemplo, se tivéssemos dito que todos os deputados
se valem de fraude para eleger-se, a ilustração com um único caso não serviria para comprovar
o alcance da proposição geral.
Temos argumentação pelo exemplo, quando partimos de casos de fraude contra a previdência
social, para chegar à afirmação de que o sistema previdenciário brasileiro está sujeito a esse tipo
de ilícito e, por isso, precisa passar por profundas reformulações saneadoras. Nesse tipo de
argumentação, é preciso cuidado para não chegar a generalizações indevidas, a conclusões que
nada têm a ver com os fatos relatados, a conclusões que são contrárias aos fatos relatados.
Vamos dar apenas um exemplo. Um narrador conta que foi a uma festa, onde não conseguiu
conversar com ninguém, não se divertiu, ficou sozinho e, em seguida, diz que é muito bom ir a
festas, pois novos relacionamentos sempre nos enriquecem.
4. ARGUMENTOS COM BASE NO RACIOCÍNIO LÓGICO
Embora no item anterior já tenhamos tratado disso, ao dizer que não se podem tirar conclusões
incompatíveis com os dados apresentados, ilustrar afirmações gerais com dados inadequados etc., o que chamamos aqui argumentos com base em raciocínio lógico diz respeito às próprias
relações entre proposições e não à adequação entre proposições e provas. Vejamos um exemplo.
Num artigo intitulado “Todo poder aos professores”, Otávio Frias Filho discute a filosofia
pedagógica de estímulo à criatividade, que se implantou em nossas escolas a partir da década de
60. Depois de analisar o lado positivo dessa proposta, desvela o seu lado perverso. Num certo
ponto do artigo, mostra a comodidade de organizar um curso com base em seminários, a
dificuldade de reverter esse processo, a necessidade de rever grande parte das mudanças do
ensino nestes trinta anos. Dá depois de cada uma dessas proposições as razões que motivam sua
afirmação. A argumentação baseia-se nas relações de causa e consequência.
Além de ser mais chique, do ponto de vista ideológico, o seminário é mais cômodo para ambos
os lados: nem o professor prepara a aula, nem o aluno estuda, e ambos entram com sua cota de
“participação crítica”.
O mais grave é que onde esse processo se instalou não há como revertê-lo, pois as facilidades
se transformam em direito adquirido. (...)
Já que o mundo passa por uma histeria de volta ao passado, ao menos em relação ao que
parecia “futuro” nos anos 60, talvez fizéssemos bem em rever grande parte das mudanças do
ensino nestes 30 anos.
Porque os resultados, mesmo nas boas escolas, não parecem encorajadores. A ideologia do
ensino crítico está produzindo gerações de tontos. A lassidão, o vale-tudo, a falta de autoridade
professoral desestimula a própria rebeldia do estudante.
Folha de S. Paulo, 17 nov. 1994, p. 1-2.
Um dos defeitos na argumentação com base no raciocínio lógico é fugir do tema. Esse
expediente é muito usado por políticos, para evitar questões embaraçosas, ou advogados, quando
não têm como refutar as acusações imputadas a seu cliente. Um prefeito da capital paulista a
quem perguntaram por que, em seu governo, uma determinada obra pública estava custando tão
caro, respondeu que ela seria muito importante para a cidade, porque eliminaria as enchentes
numa dada região. Um homem matou sua mulher por ciúmes, como ficara comprovado. Seu
advogado, para comover os jurados, começa a dizer que o acusado era um homem trabalhador,
um cidadão exemplar, um pai dedicado, uma pessoa sempre disposta a ajudar os amigos. Cabe
lembrar enfaticamente que esse procedimento é um defeito de argumentação apenas do ponto
de vista lógico. Da perspectiva da persuasão em sentido amplo, pode ser eficaz, pois pode
convencer os ouvintes, levando-os a relacionar aquilo que não tem relação necessária.
Outro problema é a tautologia (erro lógico que consiste em aparentemente demonstrar uma
tese, repetindo-a com palavras diferentes), que ocorre quando se dá, como causa de um fato, o
próprio fato exposto em outras palavras. Apresenta-se, nesse caso, a própria afirmação como
causa dela mesma, toma-se como demonstrado o que é preciso demonstrar. Por exemplo: o
fumo faz mal à saúde porque prejudica o organismo (prejudicar o organismo é exatamente fazer
mal à saúde); essa criança é mal-educada porque os pais não lhe deram educação.
Outro problema é tomar como causa, explicação, razão de ser de um fato o que, na verdade,
não é causa dele. Uma causa é alguma coisa que ocasiona outra. Por isso, é preciso que haja
uma relação necessária entre ela e seu efeito. Frequentemente, usa-se como causa de um fato
algo que veio antes. Ora, o que vem depois não é necessariamente efeito do que aconteceu antes.
Quando se passa debaixo de uma escada e, depois, se cai e se quebra uma perna, não se pode
concluir que passar debaixo da escada é causa do acidente. As superstições baseiam-se nessa
falsa causalidade.
Nada é pior para convencer do que um texto sem coerência lógica, que diz e desdiz-se, que
apresenta afirmações que não se implicam umas às outras, que está eivado de contradições.
5. ARGUMENTO DA COMPETÊNCIA LINGUÍSTICA
Em muitas situações de comunicação (discurso político, religioso, pedagógico etc.) deve-se
usar a variante culta da língua. O modo de dizer dá confiabilidade ao que se diz. Utilizar também
um vocabulário adequado à situação de interlocução dá credibilidade às informações veiculadas.
Se um médico não se vale de termos científicos ao fazer uma exposição sobre suas experiências,
desconfiamos da validade delas. Se um professor não é capaz de usar a norma culta, achamos
que ele não conhece sua disciplina. Além disso, contribui para persuadir a utilização de diferentes
mecanismos linguísticos (alguns deles serão estudados nas próximas duas lições).
Hélio Schwartsman, num artigo intitulado “FHC, o filme”, publicado na Folha de S. Paulo de
10/1/1995, p. 1-2, quer convencer o leitor de que foi um equívoco do presidente Fernando
Henrique Cardoso ter sancionado a lei de biossegurança, porque ela “consegue, a um só tempo,
proibir no Brasil a principal aplicação da terapia genética (...), dificultar a vida dos casais que
desejam um bebê de proveta (...) e não criar nenhum mecanismo efetivo contra abusos no
campo da engenharia genética”. Observe, no trecho que vem a seguir, o valor argumentativo do
uso, em latim, de uma expressão vulgar em português:
Não sou biólogo e tenho que puxar pela memória dos tempos de colegial para recordar a
diferença entre uma mitocôndria e uma espermatogônia. Ainda lembro bastante para qualificar
a canetada de FHC de “defecatio maxima” (este espaço é nobre demais para que nele se
escrevam palavras de baixo calão, como em latim tudo é elevado...).
ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS
Como vimos no início desta lição, seis fatores intervêm no processo de comunicação (emissor,
receptor, mensagem, código, canal e referente). Temos diferentes estratégias persuasivas, que se
assentam sobre um ou mais de um desses fatores.
***
***
Anúncio criado pela agência DM9, em 1993.
Exemplo de estratégia argumentativa baseada na mensagem visual. O anúncio mostra uma
imagem sedutora de paisagem, reproduzida em cores, e um rosto sem a faixa onde ficam os
olhos, reproduzido em preto e branco. Procura com isso convencer as pessoas da gravidade da
privação representada pela deficiência visual. O fato de a faixa de paisagem encaixar-se
perfeitamente na faixa branca sobre o rosto cria o sentido de que, com a doação de olhos,
objetivo da campanha, essa deficiência seria sanada.
Uma estratégia persuasiva baseada no emissor é aquela que o credencia para um dado tipo de
comunicação. No texto com que começamos esta lição, vimos que o emissor se qualificava junto
aos receptores dizendo que era um bandido. No discurso eleitoral, os emissores apresentam-se
como dotados de experiência administrativa ou parlamentar. Nessa estratégia discursiva, citamse realizações, cria-se uma imagem favorável. Dizer, por exemplo, num debate, esse é um
assunto que conheço bem, que já estudei profundamente é identificar-se como voz autorizada a
falar. No discurso suplicatório, quando se pede uma esmola, por exemplo, alguém se apresenta
como digno da ajuda, contando fatos da vida pessoal, desgraças, dificuldades. Com isso, não está
exibindo defeitos, mas colocando-se como vítima do destino.
A estratégia baseada no receptor é aquela que cria imagens favoráveis daquele a quem se
deseja persuadir. O Banespa criou há alguns anos uma publicidade do cheque especial, em que
mostrava pessoas cometendo toda sorte de grosserias e, depois, o apresentador comentava que
elas não tinham cheque especial Banespa. Com isso, o que se queria era criar uma imagem favorável do usuário do cheque especial: você é bem-educado, fino etc. O discurso publicitário
faz largo uso dessa estratégia.
A estratégia baseada no referente é aquela que cita provas concretas, dados da situação,
estatísticas, experimentos, dados da realidade, conhecimento do mundo. É a estratégia básica, por
exemplo, dos editoriais de jornais. No entanto, mesmo alguns discursos publicitários se valem
dela. A Vila Romana publicou em 1992 um anúncio que dizia: 25 de Dezembro com Preço da 25
de Março. Para entender essa publicidade, é preciso conhecer um dado do comércio de São
Paulo: a 25 de Março é uma rua onde está um comércio popular, de baixos preços.
A estratégia baseada na mensagem é aquela que procura convencer com base na construção
rigorosamente concatenada do texto ou na articulação textual bem feita. Um enunciado bem
construído fala por si mesmo. Por exemplo: Motoqueiro, o capacete é sua segurança. Ponha isso
na sua cabeça (outdoor da campanha de segurança no trânsito).
A estratégia baseada no código é aquela que busca explorar as oposições linguísticas, os
significados antigos das palavras, as virtualidades da língua. Veja este anúncio publicitário:
Finalmente uma revista semanal que trata a mulher como dona da casa, não de casa. Dia 26 nas
bancas (Folha de S. Paulo, 17 abr. 1992). Toda força argumentativa desse anúncio está na
oposição entre dona de casa e dona da casa, que se baseia, por sua vez, na ausência e presença
do artigo definido. Dona de casa significa “mulher que dirige o lar”, dona da casa é “proprietária
da casa”. A presença/ausência de artigo definido para distinguir significados é um mecanismo do
português. Aparece, por exemplo, em Rua de ouro e Rua do Ouro.
A estratégia baseada no canal é aquela que valoriza o veículo transmissor. É frequente no
discurso do senso comum dar como prova da veracidade de um fato o seguinte argumento: Deu
na televisão... Observe como no texto abaixo a estratégia argumentativa se baseia na autoridade
de meios de comunicação e personalidades de prestígio:
Mas Tom Jobim era também uma unanimidade universal, digno da reverência de músicos
norte-americanos, ingleses, franceses, italianos, de jornais como o N. Y. Times, o Corriere della
Sera, da Itália, ou de especialistas em jazz nos EUA e Europa.
Jornal da Tarde, 9 dez. 1994, p. 8-A.
Certas estratégias argumentativas baseiam-se em mais de um fator. Um deles, no entanto, é
dominante.
Para tornar o texto convincente, pouco adiantam manifestações de sinceridade do autor ou
declarações de certeza expressas por construções como tenho certeza, estou seguro, creio
sinceramente, afirmo com toda convicção, é claro, é óbvio, é evidente. Num texto, não se
prometem sinceridade e convicção. Constrói-se o texto de forma que ele pareça sincero e
verdadeiro. A argumentação é exatamente a exploração de recursos com vistas a fazer o texto
parecer verdadeiro, para levar o leitor a crer.
TEXTO COMENTADO
O texto que vem a seguir faz parte do célebre Sermão da Sexagésima, em que Vieira, a partir
da parábola do semeador (Mateus, XIII, 4-23), em que Cristo compara a pregação à semeadura, elabora uma teoria do ato de pregar:
O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria. Por isso Cristo disse que o lavrador do
Evangelho não semeara muitos gêneros de sementes, senão uma só: Exiit, qui seminat, seminare
semen
1. Semeou uma só semente, e não muitas, porque o sermão há de ter uma só matéria, e
não muitas matérias. Se o lavrador semeara primeiro trigo, e sobre o trigo semeara centeio, e
sobre o centeio semeara milho grosso e miúdo, e sobre o milho semeara cevada, que havia de
nascer? Uma mata brava, uma confusão verde. Eis aqui o que acontece aos sermões deste
gênero. Como semeiam tanta variedade, não podem colher cousa certa. Quem semeia misturas,
mal pode colher trigo. Se uma nau fizesse um bordo para o norte, outro para o sul, outro para
leste, outro para oeste, como poderia ser a viagem? Por isso nos púlpitos se trabalha tanto, e se
navega tão pouco. Um assunto vai para um vento, outro assunto vai para outro vento, que se há de
colher senão vento? O Batista convertia muitos em Judeia, mas quantas matérias tomava? Uma
só matéria: Parate viam Domini
2; a preparação para o reino de Cristo. Jonas converteu os
Ninivitas, mas quantos assuntos tomou? Um só assunto: Adhuc quadraginta dies, ei Ninive
subvertetur
3: a subversão da cidade. De maneira que Jonas em quarenta dias pregou um só
assunto, e nós queremos pregar quarenta assuntos em uma hora? Por isso não pregamos nenhum.
O sermão há de ser de uma só cor, há de ter um só objeto, um só assunto, uma só matéria.
Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la
para que se distinga, há de prová-la com a Escritura, há de declará-la com a razão, há de
confirmá-la com o exemplo, há de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as
circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem
evitar, há de responder às dúvidas, há de satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com
toda a força da eloquência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar,
há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto, é
falar de mais alto. Não nego nem quero dizer que o sermão não haja de ter variedade de
discursos, mas esses hão de nascer todos da mesma matéria, e continuar e acabar nela. Quereis
ver tudo isto com os olhos?
Ora vede. Uma árvore tem raízes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores,
tem frutos. Assim, há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ser fundado
no Evangelho; há de ter um tronco, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria. Deste
tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma
matéria, e continuados nela. Estes ramos não hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque
os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras. Há de ter esta árvore varas, que são a
repreensão dos vícios, há de ter flores, que são as sentenças, e por remate de tudo há de ter
frutos, que é o fruto e o fim a que se há de or-denar o sermão. De maneira que há de haver
frutos, há de haver flores, há de haver varas, há de haver folhas, há de haver ramos, mas tudo
nascido e fundado em um só tronco, que é uma só matéria. Se tudo são troncos, não é sermão, é
madeira. Se tudo são ramos, não é sermão, são maravalhas. Se tudo são folhas, não é sermão,
são verças. Se tudo são varas, não é sermão, é feixe. Se tudo são flores, não é sermão, é
ramalhete. Serem tudo frutos não pode ser; porque não há frutos sem árvores. Assim que nesta
árvore, a que podemos chamar árvore da vida, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos, mas tudo isto nascido e
formado de um só tronco, e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do Evangelho:
Seminare semen.
Antônio Vieira. Sermões. Porto, Lello, 1959. v. 1, p. 20-3.
Nesse sermão, Vieira pretende ensinar como fazer que uma prédica seja eficiente, ou seja,
que atinja o objetivo pretendido, que é persuadir os homens, levá-los a crer na palavra de Deus e
a fazer uma mudança em suas vidas. Nele está, pois, desenvolvida uma teoria da persuasão a
serviço da eloquência sagrada. Vieira analisa as causas de ineficiência dos sermões e mostra
como se deve fazer uma boa pregação. Segundo ele, as razões do sucesso ou do insucesso de
uma prédica podem estar ligadas a cinco circunstâncias: a pessoa do pregador, sua ciência, a
matéria de que trata, o estilo que segue, a voz com que fala. O trecho que escolhemos é o que
trata da matéria.
A proposição de Vieira é que, para que um sermão obtenha êxito, é preciso que trate de um só
assunto, caso contrário, os ouvintes não poderão entendê-lo dada a confusão que se cria.
Vejamos como procura Vieira persuadir o leitor a acreditar em sua tese.
Depois de declará-la, apresenta um primeiro argumento, que é de autoridade. No discurso
religioso, nada é mais forte como argumento de autoridade que a palavra de Deus, expressa no
livro sagrado. Toma um trecho do Evangelho, Exiit, qui seminat, seminare semen, e mostra que o
próprio Cristo disse que o semeador semeou um só tipo de semente, o que significa que deve ter o
sermão uma só matéria. Em seguida, amplia o raciocínio por contraste, mostrando que, se
alguém semeasse trigo, centeio, milho e cevada no mesmo campo, não teria uma cultura, mas
uma mata confusa, e que a mesma coisa acontece nas pregações que tratam de tudo. A seguir,
estabelece uma outra analogia, entre a prédica que trata de todas as matérias e o navio que vai
para todas as direções, para mostrar que esse tipo de sermão é como uma nau sem rumo e,
portanto, não pode fazer nenhuma viagem. Em seguida, aduz duas ilustrações de pregação
eficiente, para comprovar a afirmação feita: tanto João Batista quanto Jonas pregaram um só
assunto. O primeiro falava sobre a preparação para a vinda de Cristo (Parate viam Domini ); o
segundo, sobre a destruição de Nínive por causa de seus pecados (Adhuc quadraginta dies, ei
Ninive subvertetur). Observe que essas duas ilustrações são também argumentos de autoridade,
porque são casos particulares retirados das Escrituras. Depois dessa série de recursos
argumentativos, Vieira conclui como começara, dizendo que a prédica há de ter um só assunto,
um só objeto, uma só matéria.
No segundo parágrafo, Vieira explica como montar um sermão. Na introdução, o pregador
enuncia o assunto, define-o e expõe as partes que o compõem. No desenvolvimento, deve usar os
seguintes recursos argumentativos: o argumento de autoridade (há de prová-la com a Escritura),
o raciocínio baseado em relações lógicas (há de declará-la com a razão; há de amplificá-la com
as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com
os inconvenientes que se devem evitar), o exemplo e a ilustração (há de confirmá-la com o
exemplo). Além disso, em sua argumentação, deve o pregador antecipar as dúvidas e respondêlas, apontar e discutir as dificuldades para comprovar uma tese e não escamoteá-las, imaginar os
argumentos contrários e refutá-los. Na conclusão, há de retomar o que foi dito (há de colher), resumir (há de apertar) e, enfim, concluir. Discute em seguida a questão da variedade,
mostrando que o que é variado, num sermão, são as diversas abordagens do mesmo assunto
(variedade de discursos) e não os assuntos.
No terceiro parágrafo, para comprovar essa ideia, argumenta por analogia, comparando a
prédica a uma árvore. Só existe árvore se houver raiz, tronco, ramos, folhas, varas, flores e
frutos. Também só existe sermão se partir de um texto dos Evangelhos (raiz), se tratar de uma só
matéria (tronco), se abordar as diferentes maneiras como essa matéria pode ser analisada
(ramos), se esses modos de abordagem forem veiculados por palavras (folhas), se servir para
vergastar os vícios (varas), se for ornado de uma boa organização discursiva (flores), se
conseguir atingir uma finalidade (fruto). Se não tiver tudo isso, não é sermão, assim como se uma
árvore não tiver todos os componentes enunciados não é árvore. O que comanda todos os
elementos da prédica é a unidade do assunto, fundado nos Evangelhos, assim como o que sustenta
os componentes da árvore é o tronco, assentado nas raízes. Em seguida, Vieira vai enfatizar essa
analogia entre o sermão e a árvore, com um paralelismo sintático, que associa uma à outra:
oração condicional referente a um conjunto de partes da árvore + oração negativa que afirma
que esse conjunto não é sermão + oração positiva que diz o que é esse conjunto:
Se tudo são não é é (são)
troncos
ramos
madeira
maravalhas (= lascas, gravetos)
folhas sermão verças (= amontoado de folhas preparadas para a mesa)
varas feixe
flores ramalhete
Mostra ainda que frutos não podem existir sem árvores. Conclui essa analogia mostrando as
qualidades que deve ter a prédica: o proveito do fruto, a beleza das flores, o rigor das varas, o
revestimento das folhas, a extensão dos ramos, mas tudo nascido de um só tronco e este fundado
nas raízes do Evangelho. Termina com uma citação da parábola do semeador, que serve, no
Sermão da Sexagésima, para usar a metáfora de Vieira, de raiz para o tronco (como se faz uma
boa pregação): Seminare semen (= semear a semente).
*** *** http://www.faberj.edu.br/cfb-2015/downloads/biblioteca/portugues_instrumental/Li%C3%A7%C3%B5es%20de%20Texto%20Leitura%20e%20Reda%C3%A7%C3%A3o%20-%20Fiorin%20e%20Plat%C3%A3o.pdf *** ***
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Ao vivo: CPI da Pandemia ouve a médica Luana Araújo - 02/6/2021
02/06/2021, 09h39
Fonte: Agência Senado
*** *** https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2021/06/ao-vivo-cpi-da-pandemia-ouve-a-medica-luana-araujo-02-6-2021 *** ***
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*** *** https://www12.senado.leg.br/noticias/videos/2021/06/ao-vivo-cpi-da-pandemia-ouve-a-medica-luana-araujo-02-6-2021 *** ***
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Argumento
Nelson Gonçalves
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Ouvir Argumento
Sei que este argumento é muito pobre
Mas sabendo o quanto és nobre
Sei que podes perdoar
Sei que este farrapo de desculpa
Não redime a minha culpa
Mas enfim eu vou tentar
Sei que fui ousado no meu gesto
Não ouvindo teu protesto
Para ouvir meu coração
Sei que uma desculpa não redime
Meu pecado quase crime
De um beijo sem permissão
Mas se fui pecador condeno a lua
Que abandonou a rua
E fugiu com o luar
Pois ela adivinhando meu desejo
Provocou aquele beijo
E assim me fez pecar
Se impetuoso fui tem compaixão
E em nome do amor
Suplico teu perdão
Perdoa meu amor
Este pecado
Sublime impulso de te haver beijado
Composição: Adelino Moreira.
*** *** https://www.letras.mus.br/nelson-goncalves/84704/ *** ***
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