quinta-feira, 20 de maio de 2021

Farsa dos Almocreves:

- Êle pôs desta maneira A mão na barba e jurou De meus dinheiros pagá-los ***
*** almocreve não é “almocreve” (“das palavras que ficam para trás no tempo”) ervaluisa20 de Dezembro de 2018Sem categoriaNavegação de artigos ***
*** Nascimento 24 de junho de 1860 Laranjeiras, SE Morte 13 de abril de 1934 (73 anos) Rio de Janeiro, DF Nacionalidade brasileiro Ocupação Jornalista, crítico literário, filólogo, historiador, pintor e tradutor *** - Essa barba era inteira A mesma que te jurou, Ou bigodezinhos ralos? III, 215 À barba longa é a que dá para todos os desperdícios.12 Fonte: João Ribeiro FRASES FEITAS *** https://www.academia.org.br/publicacoes/frases-feitas *** *** https://www.academia.org.br/sites/default/files/publicacoes/arquivos/frases_feitas_-_joao_ribeiro_-para_internet.pdf *** ***
*** A EN 2 ou N2 ou Estrada Nacional 2, é uma estrada nacional que integra a rede nacional de estradas de Portugal. Atualmente, a N2 consiste de 5 troços separados entre si: Santa Marta de Penaguião–Peso da Régua (A24), Góis (N342)–Portela do Vento (N112), Sertã (IC8)–Abrantes (IP6), Ervidel (N18)–Aljustrel (N263) e Castro Verde–Faro [1], num total de 738,5 km. *** *** https://pt.wikipedia.org/wiki/EN2 *** *** Sabia que as pessoas da Mealha e dos montes em volta, em tempos idos, iam ao Ameixial fazer negócio. Esta aldeia situa-se na Estrada Nacional n.º 2 (*). Até ao século passado era uma das mais importantes vias de ligação entre Lisboa e o Algarve por terra. Aqui passava a “camioneta de Lisboa”. Um mar de gente, animais e mercadorias formigava por estes cerros. Da Mealha para o famoso mercado do Ameixial, percorriam cerca de 12 km para lá, mais um outro tanto de volta, para ir vender e comprar coisas. Levavam queijo, ovos, chouriças, gado, e traziam sabão, “roupas aos retalhos” (tecidos), louça,… aquilo que não conseguiam produzir. “E os almocreves?” – várias vezes fiz esta pergunta. As pessoas paravam a conversa (lembro-me do olhar longo e estranho de Noémia). Insistia – “assim, como os vendedores que andam de monte em monte, em certos dias” – padeiros, peixeiros, ou a senhora dos tecidos, como vi uma vez, com lençóis e panos tão cobiçados para lavores. Até que me foi explicado (depois de um “ah isso”) que um almocreve “é um moço que tomava conta das bestas e de gado”. Por estas bandas, almocreve é quase o mesmo que pastor. Um pouco por acaso fui dar com o “Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram: obra indispensável para entender sem erro os documentos mais raros e preciosos que entre nós se conservam” de Frei Joaquim de Viterbo (1744-1822): Almocreve:, s.m. Homem que conduz bestas de carga; carregador. Há palavras que ficam para trás no tempo. (*) A EN2 liga Chaves a Faro. É a estrada do país com maior extensão (cerca de 738 km). É considerada “Estrada Património”. Luísa Ricardo, 21 de dezembro de 2018. ***
*** Ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello durante CPI da Covid - Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado *** *** https://www.folhape.com.br/politica/pazuello-afirma-que-nao-e-o-unico-responsavel-pela-situacao-atual-na/184388/ *** *** *** https://pessoasfronteirasobjetos.wordpress.com/2018/12/20/almocreve-nao-e-almocreve-das-palavras-que-ficam-para-tras-no-tempo/ *** *** ***
*** AO VIVO!! CPI da Pandemia ouve ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello *** Por KAMYLLA RODRIGUES -19 de maio de 2021 | 09h29- atualizada em 19/05/2021 | 09h30 A Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia ouve nesta quarta-feira (19/5) o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello a respeito de medidas adotadas no combate ao coronavírus durante sua gestão, de 16 de maio de 2020 a 23 de março de 2021, especialmente em relação ao agravamento da crise sanitária no Amazonas com a falta de oxigênio para os pacientes internados. O ex-ministro obteve no STF o direito de ficar calado para não se autoincriminar. Mas é obrigado a falar a verdade sobre terceiros, inclusive sobre Bolsonaro. Pazuello também deve ser questionado sobre indícios de fraude em contrato para reforma da sede do Ministério da Saúde. Acompanhe ao vivo: *** *** *** https://sagresonline.com.br/ao-vivo-cpi-da-pandemia-ouve-ex-ministro-da-saude-eduardo-pazuello/ *** *** ***
*** Joaquim Maria Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas *** Ao criar um narrador que resolve contar sua vida depois de morto, Machado de Assis muda radicalmente o panorama da literatura brasileira, além de expor de forma irônica os privilégios da elite da época. *** *** https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/memorias-postumas-de-bras-cubas-resumo-da-obra-de-machado-de-assis/ *** *** ***
*** LIVRO USADO Lições de Texto: Leitura e Redação José Luiz Fiorin e Francisco Platão Savioli Livro em Português (Brasil) Editora: Editora Ática, SP Ano: 1999 *** *** https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2018/01/21/narracao/ *** *** ***
*** Imagem: da Capa do Livro de Machado de Assis *** Capítulo XXI O almocreve Vai então, empacou o jumento em que eu vinha montado; fustiguei-o, ele deu dous corcovos, depois mais três, enfim mais um, que me sacudiu fora da sela, e com tal desastre, que o pé esquerdo me ficou preso no estribo; tento agarrar-me ao ventre do animal, mas já então, espantado, disparou pela estrada afora. Digo mal: tentou disparar, e efectivamente deu dous saltos, mas um almocreve, que ali estava, acudiu a tempo de lhe pegar na rédea e detê-lo, não sem esforço nem perigo. Dominado o bruto, desvencilhei-me do estribo e pus-me de pé. -- Olhe do que vosmecê escapou, disse o almocreve. E era verdade; se o jumento corre por ali fora, contundia-me deveras, e não sei se a morte não estaria no fim do desastre; cabeça partida, uma congestão, qualquer transtorno cá dentro, lá se me ia a ciência em flor. O almocreve salvara-me talvez a vida; era positivo; eu sentia-o no sangue que me agitava o coração. Bom almocreve! enquanto eu tornava à consciência de mim mesmo, ele cuidava de consertar os arreios do jumento, com muito zelo e arte. Resolvi dar-lhe três moedas de ouro das cinco que trazia comigo; não porque tal fosse o preço da minha vida, -- essa era inestimável; mas porque era uma recompensa digna da dedicação com que ele me salvou. Está dito, dou-lhe as três moedas. -- Pronto, disse ele, apresentando-me a rédea da cavalgadura. -- Daqui a nada, respondi; deixa-me, que ainda não estou em mim... -- Ora qual! -- Pois não é certo que ia morrendo? -- Se o jumento corre por aí fora, é possível; mas, com a ajuda do Senhor, viu vosmecê que não aconteceu nada. Fui aos alforjes, tirei um colete velho, em cujo bolso trazia as cinco moedas de ouro, e durante esse tempo cogitei se não era excessiva a gratificação, se não bastavam duas moedas. Talvez uma. Com efeito, uma moeda era bastante para lhe dar estremeções de alegria. Examinei-lhe a roupa; era um pobre diabo, que nunca jamais vira uma moeda de ouro. Portanto, uma moeda. Tirei-a, via-a reluzir à luz do sol; não a viu o almocreve, porque eu tinha-lhe voltado as costas; mas suspeitou-o talvez, entrou a falar ao jumento de um modo significativo; dava-lhe conselhos, dizia-lhe que tomasse juízo, que o «senhor doutor» podia castigá-lo; um monólogo paternal. Valha-me Deus! até ouvi estalar um beijo: era o almocreve que lhe beijava a testa. -- Olé! exclamei. -- Queira vosmecê perdoar, mas o diabo do bicho está a olhar para a gente com tanta graça... Ri-me, hesitei, meti-lhe na mão um cruzado em prata, cavalguei o jumento, e segui a trote largo, um pouco vexado, melhor direi um pouco incerto do efeito da pratinha. Mas a algumas braças de distância, olhei para trás, o almocreve fazia-me grandes cortesias, com evidentes mostras de contentamento. Adverti que devia ser assim mesmo; eu pagara-lhe bem, pagara-lhe talvez demais. Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os vinténs que eu devera ter dado ao almocreve, em logar do cruzado em prata. Porque, enfim, ele não levou em mira nenhuma recompensa ou virtude, cedeu a um impulso natural, ao temperamento, aos hábitos do ofício; acresce que a circunstância de estar, não mais adeante nem mais atrás, mas justamente no ponto do desastre, parecia constituí-lo simples instrumento de Providência; e de um ou de outro modo, o mérito do ato era positivamente nenhum. Fiquei desconsolado com esta reflexão, chamei-me pródigo, lancei o cruzado à conta das minhas dissipações antigas; tive (por que não direi tudo?), tive remorsos. *** **** http://www.ibiblio.org/ml/libri/a/AssisJMM_MemoriasPostumas/node24.html#:~:text=O%20almocreve%20salvara%2Dme%20talvez,com%20muito%20zelo%20e%20arte. *** *** LIÇÃO 17 DISSERTAÇÃO Observe o texto que segue, extraído da obra Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift: São Paulo, Abril Cultural, 1979 p. 234-5 LIÇÃO 17 DISSERTAÇÃO Observe o texto que segue, extraído da obra Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift: á três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser primeiro-ministro. O primeiro é saber, com prudência, como servir-se de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, como trair ou solapar os predecessores; e o terceiro, como clamar, com zelo furioso, contra a corrupção na corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear os que se valem do último desses métodos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequiosos e subservientes à vontade e às paixões do amo. Tendo à disposição todos os cargos, conservam-se no poder esses ministros subordinando a maioria do senado, ou grande conselho, e, afinal, por via de um expediente chamado anistia (cuja natureza lhe expliquei), garantem-se contra futuras prestações de conta e retiram-se da vida pública carregados com os despojos da nação. Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. São Paulo, Abril Cultural, 1979. p. 234-5. Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem chega a ser primeiro-ministro, aconselha o príncipe discreto a escolhê-lo entre os que clamam contra a corrupção na corte e justifica seu conselho. A primeira característica desse texto é que ele é temático, pois analisa e interpreta a realidade com termos abstratos (método, prudência, corrupção, discreto, vontade, paixões etc.). Quando se vale de termos concretos (homem, primeiro-ministro), toma-os em seu valor genérico. Não fala de um homem particular e do que faz para chegar a ser primeiro-ministro, como seria em uma narração, mas do homem em geral e dos métodos que qualquer homem utiliza para chegar ao poder. A segunda característica é que existe transformação de situação no texto (por exemplo, a mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte, que, quando chegam ao poder, tornam-se corruptos). A progressão dos enunciados obedece a uma relação lógica e não cronológica. Um enunciado é anterior a outro não por causa de uma progressão temporal, mas por causa de uma concatenação lógica. Assim, o enunciado que diz que o príncipe discreto escolhe o primeiroministro entre os que clamam contra a corrupção na corte é anterior ao que diz que os que clamam contra a corrupção são mais obsequiosos e subservientes às vontades e às paixões do amo, porque o segundo é uma explicação para a afirmação contida no primeiro. Como o texto pretende falar de algo que ele apresenta como uma verdade válida para todos os homens, em todos os tempos e lugares, constrói-se com o presente em seu valor atemporal. Todos os verbos do texto estão nesse tempo. Esse texto é dissertativo. Dissertação é o tipo de texto que analisa, interpreta, explica e avalia os dados da realidade. As características do texto dissertativo são: a) ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático, ou seja, não trata de episódios ou seres concretos e particularizados, mas de análises e interpretações genéricas válidas para muitos casos concretos e particulares; opera predominantemente com termos abstratos; b) como o texto narrativo, mostra ele mudanças de situação; c) ao contrário do texto narrativo, cuja ordenação é cronológica, ele tem uma ordenação que obedece às relações lógicas: analogia, pertinência, causalidade, coexistência, correspondência, implicação etc.; d) já que a dissertação pretende expor verdades gerais válidas para muitos fatos particulares, o tempo por excelência da dissertação é o presente no seu valor atemporal; admite-se nela ainda o uso de outros tempos do sistema do presente, a saber, o presente com valor temporal, o pretérito perfeito e o futuro do presente. Cabe agora perguntar por que existem estes três tipos básicos de texto, a narração, a descrição e a dissertação. Cada um deles tem uma função distinta. Os textos narrativos e descritivos são figurativos. Eles representam o mundo, simulam-no. A narração mostra mudanças de situação de um ser particular, com os enunciados dispostos numa progressão temporal, numa relação de anterioridade e de posterioridade. A narração capta o mundo em sua mudança, no dinamismo de suas transformações. A descrição expõe propriedades e aspectos de um ser particular (por exemplo, o céu estrelado numa determinada noite, um rosto sofrido, a hora do rush, um pôr do sol, uma personagem qualquer) numa relação de simultaneidade; nela não há mudanças. Ela apresenta, então, um ser tal como é visto num dado momento, fora do dinamismo da mudança. O texto dissertativo é temático. Explica, analisa, classifica, avalia os seres concretos. Por isso, sua referência ao mundo faz-se por conceitos amplos, modelos genéricos, muitas vezes abstraídos do tempo e do espaço. Por isso, embora apareçam nele mudanças de situação, não têm maior importância as relações de posterioridade e de anterioridade entre os enunciados, mas as relações lógicas entre eles. O texto dissertativo é mais abstrato que os outros dois, ele explica os dados concretos da realidade. Por isso, numa dissertação, as referências a casos concretos e particulares, ou seja, narrações ou descrições que aparecem em seu interior, ocorrem apenas para ilustrar afirmações gerais ou para argumentar a favor delas ou contra elas. A dissertação fala também de mudanças de estado, mas aborda essas transformações de maneira diferente da narração. Enquanto a finalidade central desta é relatar mudanças, a daquela é explicar e interpretar as transformações relatadas. O discurso dissertativo típico é o da ciência, o da filosofia, o dos editoriais dos jornais etc. Geralmente se pensa que é só na dissertação que o produtor do texto expressa seu ponto de vista sobre o objeto posto em discussão. Isso não é verdade. Também na narração e na descrição estão presentes os pontos de vista de quem elabora o texto. O que é diferente em cada tipo de texto é o modo como o produtor apresenta seus pontos de vista. Como a dissertação é um texto temático, os pontos de vista, nela, são explícitos. Na descrição, o ponto de vista é manifestado, entre outros, pelos aspectos selecionados para serem descritos e pelos termos escolhidos. Nela, o produtor do texto transmite, por exemplo, uma visão positiva ou negativa do que está sendo descrito. Vimos na lição anterior, na descrição da pedreira, que, pela seleção das palavras referentes à pedreira e aos seres humanos, o descritor mostra que o homem está inferiorizado em relação à natureza. Na narração, um dos meios mais eficientes de manifestar um ponto de vista é o encadeamento de figuras, a contraposição de percursos figurativos. A Veja SP, de 19 de outubro de 1994, publicou uma reportagem sobre Celso Russomano, repórter do Aqui e agora e candidato a deputado federal mais votado nas eleições de 1994. Depois de narrar episódios que mostram sua atuação como defensor dos consumidores, conta o seguinte: ***
*** Os burgueses de Calais, escultura de Rodin, de 1895. *** Los burgueses de Calais (1885-1895) es una de las obras más importantes de Auguste Rodin. Autodidacta y experimental, Rodin convivió con el impresionismo pictórico y confirió a su obra una estética singular, precursora del expresionismo, que puso fin al esfuerzo de imitación de la realidad que aún entonces lastraba la escultura tradicional. Además de eso, se atrevió a introducir nuevos recursos plásticos como el énfasis en la anatomía para expresar la espiritualidad humana (aunque ello provoque cierta desproporción entre los miembros), el desarrollo de una nueva concepción de la escultura como monumento público, y la importancia del soporte (que hasta la época sólo se había considerado como un pedestal que alejaba la estatua respecto del espectador). La obra que comentamos aquí fue un encargo del ayuntamiento de Calais, para homenajear en la plaza principal de la ciudad una hazaña heroica, la de un grupo de seis personas que se entregaron voluntariamente a los conquistadores ingleses, para evitar la completa destrucción y saqueo de Calais al inicio de la Guerra de los Cien Años. La historia es la siguiente: tras varios intentos de asalto infructuosos por parte de los ingleses, el rey Eduardo III decidió sitiar la ciudad durante un año para dejar morir de hambre a sus habitantes. En julio de 1347 se esperaba un envío de víveres que hubiera dado un respiro a los sitiados, pero fue interceptado, así que el consejo municipal se vio obligado a expulsar de la ciudad a 500 niños y ancianos para permitir a los demás sobrevivir. Sin embargo, los ingleses les impidieron la huida, dejándolos morir de hambre delante mismo de las murallas. Después de meses de agonía y arduas negociaciones, el rey Eduardo aceptó respetar la vida de los pobladores si seis hombres notables se rendían simbólicamente ante él, y le entregaban las llaves de la ciudad, vestidos en camisón y con una soga amarrada a sus cuellos en señal de sumisión. Uno de los hombres más ricos de la ciudad, Eustache de Saint-Pierre, se ofreció voluntariamente, junto con Jacques y Pierre de Wissant, Jean de Vienne, Andrieu d'Andres y Jean d'Aire. Los seis burgueses se vistieron según los deseos del rey, se despidieron de una multitud afligida de hombres, mujeres y niños, y fueron escoltados por el alcalde hasta el campamento inglés, donde fueron abandonados a su suerte. Entonces, los soldados ingleses los condujeron frente a la tienda del rey Eduardo y les obligaron a arrodillarse para entregarle las llaves de la ciudad. El rey los miró con inquina y en silencio durante un largo tiempo, antes de dar la orden de que los ahorcaran. Sólo la mediación de los propios caballeros ingleses y de la reina Felipa lograron salvar a los burgueses de la muerte. Pero la ciudad de Calais permanecería bajo dominio inglés hasta el año 1558. ***
*** Rodin diseñó un conjunto de esculturas en bronce y las situó en un podio bajo, a ras del suelo, para que la gente pudiera contemplarlas mejor. La posibilidad de enfrentarse cara a cara con cada uno de los personajes, incluso de caminar entre ellos, permitió al artista explayarse en los detalles de los rostros y las expresiones. Las seis personas representadas son retratos individualizados por el valor singular de su vestimenta, su fisionomía, sus gestos, etc. Pero Los burgueses... también es una obra colectiva, en la que las personas se dirigen juntas hacia su destino inexorable, en una especie de movimiento rotatorio, de gran profundidad existencial. Rodin expresó con realismo el drama de estos hombres que habían sobrevivido un año de sitio, y ahora daban su primer paso hacia una muerte segura. El conjunto no muestra un instante preciso, congelado en el tiempo, sino un espectro de sentimientos, pensamientos y dilemas morales expresados de forma muy variada. Algunos personajes se inclinan, otros muestran su angustia y desesperación, otros se refugian en la apatía, otros tratan de sobrellevar el dolor con la mayor dignidad y orgullo posibles, todos dudan... A pesar de las indicaciones dadas por Rodin, las esculturas fueron valladas y colocadas sobre un pedestal, lo que alteraba completamente sus intenciones originales. El monumento no gustó al principio, sobre todo a las autoridades, porque decían que transmitía desmoralización y derrota. Pero después de la I Guerra Mundial, se le atribuyó otro significado, el de la tenacidad y abnegación de la resistencia francesa frente a los invasores, así que el monumento fue puesto a ras del suelo, y el Estado concedió a Rodin la Legión de Honor. Hoy existen varias versiones del monumento, en Londres, en Nueva York, en la Universidad de Stanford, etc., además del que todavía subsiste en Calais. *** https://www.arteiconografia.com/2010/07/los-burgueses-de-calais.html *** ***
*** Busto de Georges Clemenceau, 1911 (bronze) (Bust of Georges Clemenceau, 1911 (bronze)) Auguste Rodin 1911 · bronze · ID da imagem: 63281 Arte Plástica · Fotografias de objetos antigos Musee Rodin, Paris, France / bridgemanimages.com *** https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Auguste-Rodin/63281/Busto-de-Georges-Clemenceau,-1911-(bronze).html *** *** Retrato de Georges Clemenceau, escultura de Rodin, de 1911. ***
*** *** https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/realismo/ *** *** Três esculturas criadas pelo mesmo artista, cada uma delas caracterizada por diferentes ênfases na escolha do tema e no tratamento dado a ele. A primeira peça, no alto à esquerda, representa uma célebre cena da Guerra dos Cem Anos, no século XIV, na qual um grupo de burgueses de Calais é obrigado a entregar as chaves da cidade ao vitorioso rei inglês. O caráter dessa obra é eminentemente narrativo. A segunda peça, à esquerda, é um busto do estadista francês Georges Clemenceau. Do mesmo modo que os retratos na pintura, bustos são eminentemente descritivos. A terceira peça, reproduzida acima, intitulada O pensador, é uma das mais conhecidas obras da história da arte. Ao contrário de representar um determinado homem pensando, procura qualificar a atitude de pensar como o traço definidor do ser humano, ou seja, procura transmitir uma mensagem de caráter abstrato e generalizante, característica da dissertação. REALISMO História das Artes > No Mundo > Arte no Século 19 > Realismo Durante a primeira metade do século XIX, enquanto se travava o embate entre Neoclassicismo e Romantismo, o Realismo, força que iria dominar a arte na segunda metade do século, começa lentamente a aparecer. O homem europeu, diante da industrialização e aprendido a utilizar o conhecimento científico e a técnica para interpretar e dominar a natureza, se convenceu de que precisava ser realista, inclusive em suas criações artísticas, deixando de lado as visões subjetivas e emotivas da realidade. Em certo sentido o realismo tinha sempre feito parte da arte ocidental. Durante a Renascença, os artistas superaram as limitações técnicas e representavam a natureza com a acuidade fotográfica. O “novo” Realismo insistia na imitação precisa de percepções visuais sem alteração. Também eram diferentes em seus temas, os artistas se limitavam a fatos do mundo moderno à medida que os experimentavam pessoalmente; somente o que podiam ver ou tocar era considerado real. Deuses, deusas e heróis da antiguidade estavam “fora”. Camponeses e a classe trabalhadora urbana estavam “dentro”. Em tudo, de cor ao tema, o Realismo trazia para a arte uma sensação de sobriedade silenciosa. São características gerais: O cientificismo; A valorização do objeto; O sóbrio e o minucioso; A expressão da realidade e dos aspectos descritivos. ARQUITETURA Os arquitetos e engenheiros procuram responder adequadamente às novas necessidades urbanas, criadas pela industrialização. As cidades não exigem mais ricos palácios e templos. Elas precisam de fábricas, estações, ferroviárias, armazéns, lojas, bibliotecas, escolas, hospitais e moradias, tanto para os operários quanto para a nova burguesia. Em 1850, Joseph Paxton construiu o Palácio de Cristal que abrigou a 1ª Feira Mundial em Londres, demonstrou as possibilidades estéticas do uso do ferro fundido. Em 1889, Gustavo Eiffel levanta, em Paris, a Torre Eiffel, hoje logotipo da “Cidade Luz”. Triunfo da engenharia moderna ostenta seu esqueleto de ferro e aço, sem alusões a estilos arquitetônicos do passado. ESCULTURA René-François-Auguste Rodin (1840-1917) foi um importante escultor francês. Desde criança demonstrou grande interesse por esculturas. Aos 13 anos de idade, entrou para uma academia de arte para aprender os princípios básicos das artes plásticas. Interessou-se e estudou também, por conta própria, anatomia humana para utilizar os conhecimentos na elaboração de suas esculturas. Aos 18 anos de idade, começou a trabalhar como modelador e ornamentista. Especializou-se na elaboração de esculturas em bronze. Auguste Rodin não se preocupou com a idealização da realidade. Ao contrário, procurou recriar os seres tais como eles são. Além disso, os escultores preferiam os temas contemporâneos, assumindo muitas vezes uma intenção política em suas obras. Sua característica principal é a fixação do momento significativo de um gesto humano. PINTURA Características da pintura: Representação da realidade com a mesma objetividade com que um cientista estuda um fenômeno da natureza, ou seja, o pintor buscava representar o mundo de maneira documental; Ao artista não cabe “melhorar” artisticamente a natureza, pois a beleza está na realidade tal qual ela é; Revelação dos aspectos mais característicos e expressivos da realidade. Temas da pintura: Politização: a arte passa a ser um meio para denunciar uma ordem social que consideram injustas; a arte manifesta um protesto em favor dos oprimidos. Pintura social denunciando as injustiças e as imensas desigualdades entre a miséria dos trabalhadores e a opulência da burguesia. As pessoas das classes menos favorecidas – o povo, em resumo – tornaram-se assunto frequente da pintura realista. Os artistas incorporavam a rudeza, a fealdade, a vulgaridade dos tipos que pintavam, elevando esses tipos à categoria de heróis. Heróis que nada têm a ver com os idealizados heróis da pintura romântica. Principais pintores: Gustave Courbet (1819-1877) homem de grande pragmatismo desafiou o gosto convencional por pinturas históricas e temas poéticos, insistindo que a “pintura é essencialmente uma arte concreta e tem de ser aplicada às coisas reais existentes”. Sua crença era “tudo que não aparece na retina está fora do domínio da pintura”. Foi considerado o criador do realismo social na pintura, pois procurou retratar em suas telas temas da vida cotidiana, principalmente das classes populares. Manifesta sua simpatia particular pelos trabalhadores e pelos homens mais pobres da sociedade no século XIX. Jean-François Millet (1814-1875) pintor romântico e um dos fundadores da Escola de Barbzon na França rural. É conhecido como percursor do realismo, pelas suas representações de trabalhadores rurais.Junto com Courbet, Millet foi um dos principais representantes do realismo europeu surgido em meados do século XIX. Sua obra foi uma resposta à estética romântica, de gostos um tanto orientais e exóticos, e deu forma à realidade circundante, sobretudo a das classes trabalhadoras. Sensível observador da vida campestre, criou uma obra realista na qual o principal elemento é a ligação atávica do homem com a terra. Foi educado num meio de profunda religiosidade e respeito pela natureza. Trabalhou na lavoura desde muito cedo. Seus numerosos desenhos de paisagens influenciaram, mais tarde, Pissarro e Van Gogh. SaibaMaisCourbet dizia: “Sou democrata, republicano, socialista, realista, amigo da verdade e verdadeiro”. A palavra realismo designa uma maneira de agir, de interpretar a realidade. Esse comportamento caracteriza-se pela objetividade, por uma atitude racional das coisas pode ocorrer em qualquer tempo da história. *** https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/realismo/ *** ***
*** DOLETHES: O ALMOCREVE dolethes.blogspot.com *** Auto dos Almocreves Gil Vicente Esta seguinte farsa foi feita e representada ao muito poderoso e excelente rei dom João, o terceiro em Portugal deste nome, na sua cidade de Coimbra, na era do Senhor de 1526. Seu fundamento é que um Fidalgo de muito pouca renda usava muito estado, tinha Capelão seu e Ourives seu e outros oficiais, aos quais nunca pagava. E vendo-se o seu Capelão esfarrapado e sem nada de seu, entra dizendo: Capelão Pois que nam posso rezar por me ver tam esquipado por aqui por este arnado quero um pouco passear por espaçar meu cuidado. 5 E grosarei o romance de Yo me estaba en Coimbra pois Coimbra assi nos cimbra que nam há quem preto alcance. Grosa: Yo me estaba en Coimbra 10 cidade bem assentada polos campos de Mondego nam vi palha nem cevada. Quando aquilo vi mesquinho entendi que era cilada 15 contra os cavalos da corte e minha mula pelada. Logo tive a mau sinal tanta milhã apanhada e a peso de dinheiro 20 ó mula desemparada. Vi vir ao longo do rio uma batalha ordenada nam de gentes mas de mus com muita raia pisada 25 [ Interrompe o romance, e intercala no seu contexto: ] A carne está em Bretanha e as couves em Biscaia. [ Continua a cantarolar o romance: ] Sam capelão dum fidalgo que nam tem renda nem nada quer ter muitos aparatos 30 e a casa anda esfaimada. Toma ratinhos por pajens anda já a cousa danada quero-lhe pedir licença pague-me minha soldada. 35 Chega o Capelão a casa do Fidalgo e falando com ele diz: Capelão Senhor, já será rezão? Fidalgo Avante padre, falai... Capelão Digo, que em três anos vai, que sam vosso capelão… Fidalgo É grande verdade, avante… 40 Capelão Eu fora já do ifante e pudera ser que de el-rei. Fidalgo À bofé padre, não sei! Capelão Si senhor, que eu sou de estante... Ainda que cá me empreguei! 45 Ora, pois veja senhor, que é o que me há de dar…, porque além do altar servia de comprador. Fidalgo Não vo-lo hei de negar! 50 Fazei-me uma petição de tudo o que requereis. Capelão Senhor não me perlongueis que isso não traz concrusão, nem vejo que a quereis… 55 Porque me fiz polo vosso, clericus et negoceatores. Fidalgo Assi, vos dei eu favores, e disso, pouco que eu posso, vos fiz mais que outros senhores. 60 Ora um clérigo, que mais quer de renda, nem outro bem, que dar-lhe homem de comer que é cada dia um vintém e mais muito a seu prazer. 65 Ora a honra que se monta! É capelão de foão!... Capelão E do vestir, não fazeis conta? E esse comer, com paixão, e dormir com tanta afronta 70 que a coroa jaz no chão? Sem cabeçal e à uma hora, e missa sempre de caça…, e por vos cair em graça, servia-vos também de fora…, 75 até comprar sibas na praça. E outros carregozinhos, desonestos pera mi…, isto senhor é assi… E azemel nesses caminhos, 80 arre aqui, e arre ali... E ter carrego dos gatos, e dos negros da cozinha, [ … ] e alimpar-vo-los sapatos... [ … inha] E outras cousas que eu fazia! 85 Fidalgo Assi fiei eu de vós toda a minha esmolaria e dáveis polo amor de Deos sem vos tomar conta um dia. Capelão Dos três anos que eu alego 90 dá-la-ei logo sem pendenças mandastes dar a um cego um real por Endoenças. Fidalgo Eu isso nam vo-lo nego. Capelão E logo daí a um ano 95 pera ajuda de casar uma órfã, mandastes dar meo côvado de pano de Alcobaça por tosar. E nos dous anos primeiros 100 repartistes três pescadas por todos esses mosteiros na Pederneira compradas daquestes mesmos dinheiros. Ora eu recebi cem reais 105 em três anos contai bem tenho aqui meo vintém. Fidalgo Padre boa conta dais ponde tudo num itém! E falai ao meu doutor, 110 que ele me falará nisso. Capelão Deixe vossa mercê isso pera el rei nosso senhor e vós falai-me de siso. Que coma senhor me ficastes 115 isto dentro em Santarém de me pagardes mui bem. Fidalgo Em quantas missas me achastes das vossas digo eu porém? Capelão Que culpa vos tem Samora? 120 Por vós estão elas nos céus. Fidalgo Mas tomai-as pera vós e gardai-as muito embora entam pague-vo-las Deos. Que eu não gasto meus dinheiros 125 em missas atabalhoadas. Capelão E vós fazeis foliadas e nam pagais o gaiteiro isso são balcarriadas. Se vossas mercês nam hão 130 cordel pera tantos nós vivei vós aquém de vós e nam compreis gavião pois que nam tendes piós. Vós trazeis seis moços de pé 135 e acrecentai-los a capa coma rei e por mercê nam tendo as terras do papa nem os tratos de Guiné. Antes vossa renda encurta 140 coma pano de Alcobaça. Fidalgo Todo o fidalgo da raça em que a renda seja curta é per força que isso faça. Padre mui bem vos entendo 145 foi sempre a vontade minha dar-vos a el rei ou à rainha. Capelão Isso me vai parecendo bom trigo se der farinha. Senhor, se me isso fizer, 150 grande mercê me fará! Fidalgo Eu vos direi que será... Dizei ora um profácio a ver que voz tendes pera lá. Capelão Folgarei de o dizer 155 mas quem me responderá? Fidalgo Eu. Capelão Penonia secula seculorum. Fidalgo Amen! Capelão Dominus vobiscum. Fidalgo Avante. Capelão Sursum corda. 160 Fidalgo Tendes essa voz tam gorda que pareceis alifante depois de farto de açorda. Capelão Pior voz, tem Simão Vaz, tesoureiro e capelão..., 165 e pior o adaião que canta como alcatraz..., e outros, que per i estão. Quereis que acabe a cantiga e vereis aonde vou ter? 170 Fidalgo Padre eu hei de ter fadiga mas del rei haveis de ser escusada é mais briga. Capelão Sabeis em que está a contenda direis: é meu capelão! 175 E el-rei sabe a vossa renda, e rir-se-á se vem à mão, e remeter-me-á à fazenda. Fidalgo Se vós fôreis entoado. Capelão Que bem posso eu cantar 180 onde dão sempre pescado e de dous anos salgado o pior que há no mar. Vem um Pajem do Fidalgo e diz: Pajem Senhor o Ourives sé ali. Fidalgo Entre... Quererá dinheiro... 185 Venhais embora cavaleiro, cobri a cabeça, cobri..., tendes grande amigo em mi..., e mais, vosso pregoeiro! Gabei-vos ontem a el-rei 190 quanto se pode gabar e sei que vos há de acupar e eu vos ajudarei cada vez que me i achar. Porque às vezes estas ajudas 195 são milhores que cristéis porque só a fama que haveis e outras cousas meúdas o que valem já o sabeis. Ourives Senhor eu o servirei 200 e nam quero outro senhor. Fidalgo Sabeis que tendes milhor? Eu o dixe logo a el rei e faz em vosso louvor. Nam vos dá mais que vos paguem 205 que vos deixem de pagar nunca vi tal esperar nunca vi tal avantagem nem tal modo de agradar. Ourives Nossa conta é tam pequena 210 e há tanto que é devida que morre de prometida e peço-a já com tanta pena que depeno a minha vida. Fidalgo Ora olhai esse falar 215 como vai bem martelado folgo nam vos ter pagado por vos ouvir martelar marteladas de avisado. Ourives Senhor beijo-vo-las mãos 220 mas o meu queria eu na mão. Fidalgo Também isso é cortesão: senhor beijo-vo-las mãos o meu queria eu na mão… Que bastiães tam louçãos!... 225 Quanto pesava o saleiro? Ourives Dous marcos bem ouro e fio. Fidalgo Essa é a prata, e o feitio? Ourives Assaz de pouco dinheiro. Fidalgo Que val com feitio e prata? 230 Ourives Justos nove mil reais e nam posso esperar mais que o vosso esperar me mata. Fidalgo Rijamente me apertais. E fazeis-me mentiroso 235 que eu gabei-vos doutro jeito e se eu tornar ao desfeito nam será proveito vosso. Ourives Assi que o meu saleiro peito? Fidalgo Ele é dos mais maus saleiros 240 que eu em minha vida comprei. Ourives Ainda o eu tomarei a cabo de três Janeiros que há que vo-lo eu fiei. Fidalgo Já agora nam é rezão 245 eu nam quero que vós percais. Ourives Pois por que me nam pagais que eu mesmo comprei o carvão com que me encarvoiçais? Fidalgo Moço vai-me ver que faz el-rei 250 se parecem damas lá este dia nam se vá em pagarás nam pagarei e vós tornai outro dia cá. Se nam achardes a mi 255 falai com o meu camareiro porque ele tem o dinheiro que cada ano vem aqui da renda do meu celeiro. E dele receberês 260 o mais certo pagamento. Ourives E pagais-me aí c'o vento ou co as outras mercês? Fidalgo Tomai-lhe vós lá o tento. Indo-se, o Ourives vai dizendo: Ourives Estes hão de ir ao paraíso… 265 Nam creo eu logo nele eu lhes mudarei a pele. Daqui avante siso, siso, juro a Deos que eu me abroquele. Vem o Pajem com recado e diz: Pajem Senhor in rei sé no Paço. 270 Fidalgo Em que casa? Pajem Isto abasta. Fidalgo O recado que ele dá! Ratinho és de má casta... Pajem Abonda! Bem sei eu o que eu faço. Fidalgo Abonda... Olhai o vilão! 275 Damas parecem per i? Pajem Si senhor, damas vi..., andavam pelo balcão. [ … i] Fidalgo E quem eram? Pajem Damas mesmas. Fidalgo Como as chamam? 280 Pajem Nam as chamava ninguém. Fidalgo Ratinhos são abantesmas, e quem por pajens os tem. Eu hei de fazer por haver um pajem de boa casta. 285 Pajem Ainda eu hei de crecer castiço sam eu que basta se me Deos deixar viver... Pois o mais deprenderei..., como outros como eu, per i ... 290 Fidalgo Pois faze-o tu assi porque hás de ser del rei.... Moço da câmara ainda! Pajem Boa foi logo cá vinda... Assi que até os pastores 295 hão de ser del rei samica por isso esta terra é rica de pão: porque os lavradores fazem os filhos paçãos. Cedo nam há de haver vilãos 300 todos del rei todos del rei. Fidalgo E tu zombas? Pajem Nam mas antes sei que também alguns cristãos hão de deixar a costura. Torna o Capelão: Capelão Vossa mercê per ventura 305 falou já a el rei em mi? Fidalgo Ainda jeito nam vi. Capelão Nam seja tam longa a cura como o tempo que servi. Fidalgo Anda el rei tam acupado 310 co este turco co este papa co esta França co esta trapa que nam acho vau azado porque tudo anda solapa. Eu entro sempre ao vestir 315 porém pera arrecadar há mister grande vagar podeis-me em tanto servir até que eu veja lugar. Capelão Senhor, queria concrusão? 320 Fidalgo Concrusão quereis. Bem, bem... Concrusão há em alguém? Capelão Concrusão quer concrusão e nam há concrusão em nada! Senhor eu tenho gastada 325 uma capa e um mantão pagai-me minha soldada... Fidalgo Se vós pudésseis achar a altura de leste a oeste pois nam tendes voz que preste 330 per equi era o medrar... Capelão E vós pagais-me co ar!? Mau caminho vejo eu este! Vai-se. Pajem Deve-o el rei de tomar que luta coma danado 335 ele é do nosso lugar de moço guardava gado agora veo a bispar. Mas nam sinto capelão que lhe chante um par de quedas 340 e chama-se o labaredas. Fidalgo E cá chama-se cotão mais fidalgo que os Azedas. Satisfação me pedia que é pior de fazer 345 que queimar toda Turquia porque do satisfazer naceu a melanconia. Vem Pero Vaz, almocreve que traz um pouco de fato do Fidalgo, e vem tangendo a chocalhada e cantando: Pero Vaz Cantando: A serra é alta fria e nevosa vi venir serrana gentil graciosa. 350 Falando: Arre mulo namorado! Que custaste no mercado sete mil e novecentos e um traque pera o siseiro... Apre ruço acrecentado 355 a moradia de quinhentos paga per Nuno Ribeiro. Dix pera a paga e pera ti… Arre arre arre embora, que já as tardes são de amigo… 360 Apre besta do roim! Uxtix o atafal vai por fora e a cilha no embigo… São diabos pera os ratos estes vinhos da Candosa. 365 Canta: A serra é alta fria e nevosa vi venir serrana gentil graciosa. Fala: Apre cá ieramá…, que te vás todo torcendo como jogador de bola..., 370 uxtix uxte xulo cá, que te eu dou, irás gemendo e ressoprando sob a cola. Ah corpo de mi Tareja descobris-vos vós na cama 375 [ … ?] [ … ?] .parece dix pera vossa ama .nam criarás tu i bareja. Canta: Vi venir serrana gentil graciosa cheguei-me pera ela com grã cortesia. Fala: Mando-vos eu sospirar 380 pola padeira de Aveiro que haveis de chegar à venda e entam ali desalbardar e albardar o vendeiro senam tever que nos venda... 385 Vinho a seis, cabra a três pão de calo, filhós de manteiga moça fermosa, lençóis de veludo… Casa juncada, noite longa chuva com pedra, telhado novo 390 a candea morta e a gaita à porta. Apre zambro empeçarás olha tu nam te ponha eu o colos na rabadilha e verás por onde vás 395 demo que te eu dou por seu e andarás lá de cilha. Canta: Cheguei-me a ela de grã cortesia disse-lhe: senhora quereis companhia? Vem Vasco Afonso, outro almocreve, e topam-se ambos no caminho, e diz Pero Vaz: Pero Vaz Ou Vasco Afonso onde vás? 400 Vasco Afonso Uxtix per esse chão. Pero Vaz Nam traes chocalhos nem nada. Vasco Afonso Furtaram-mos lá detrás um fi de puta ladrão na venda da repeidada. 405 Pero Vaz I bebemos nós à vinda. Vasco Afonso Cujo é o fato Pero Vaz? Pero Vaz Dum fidalgo, dou ò diabo o fato e seu dono co ele. Vasco Afonso Valente almofreixe traz. 410 Pero Vaz Toma o mu de cabo a rabo. Vasco Afonso Pardeos carrega leva ele. Pero Vaz Uxtix agora nam pacerão eles e lá por essas charnecas vem roendo as urzeiras. 415 Vasco Afonso Leixa-òs tu Pero Vaz que eles acham aqui as ervas secas e nam comem giesteiras. E quanto te dão por besta? Pero Vaz Nam sei assi Deos me ajude. 420 Vasco Afonso Nam fizeste logo o preço mal hás tu de livrar desta. Pero Vaz Leixei-o em sua virtude no que ele vir que eu mereço. Vasco Afonso Em sua virtude o deixaste 425 e trá-la ele consigo ou há de ir buscá-la ainda? Oh que aramá te fartaste queres apostar comigo que tu renegues da vinda? 430 Pero Vaz Ele pôs desta maneira a mão na barba e me jurou de meus dinheiros pagá-los. Vasco Afonso Essa barba era inteira a mesma em que te jurou 435 ou bigodezinhos ralos? Pero Vaz Ora Deos sabe o que faz e o juiz de Samora. De fidalgo é manter fé. Vasco Afonso Bem sabes tu Pero Vaz 440 que fidalgo há já agora que nam sabe se o é. Como vai a ta molher e todo teu gasalhado? Pero Vaz O gasalhado i ficou... 445 Vasco Afonso E a molher? Pero Vaz Fogiu. Vasco Afonso Nam pode ser! Como estarás magoado, ieramá! Pero Vaz Bofá, nam estou. Uxtix sempre hás de andar debaixo dos sovereiros. 450 E a mi que me dá disso? Vasco Afonso Per força te há de pesar se rirem de ti os vendeiros. Pero Vaz Nam tenho de ver co isso. Vai Vasco Afonso ao teu mu 455 que se quer deitar no chão. Vasco Afonso Pesa-te mas dessingulas. Pero Vaz Nam pesa. Bem sabes tu que as molheres nam são todo o Verão senam pulgas. 460 Isto é quanto à saudade que eu dela posso ter e quanto ao rir das gentes ela fez sua vontade foi-se per i a perder 465 e eu nam perdi os dentes. Ainda aqui estou enteiro Vasco Afonso como dantes filho de Afonso Vaz e neto de Jam Diz pedreiro 470 e de Branca Anes de Abrantes nam me faz nem me desfaz. Do que me fica gram nó que teve rezão de se ir e em parte nam é culpada 475 porque ela dormia só e eu sempre ia dormir c'os meus mus à meijoada. Queria-a eu ir poupando pera lá pera a velhice 480 como colcha de Medina e ela mosca Fernando quando viu minha pequice foi descobrir outra mina. Vasco Afonso E agora que farás? 485 Pero Vaz Irei dormir à Cornaga e amenhã à Cucanha e tu vai, embora vás que eu vou servir esta praga e veremos que se ganha. 490 Vai cantando: Disse-lhe: senhora quereis companhia? Dixe-me: escudeiro segui vossa via. Pajem Senhor o almocreve é aquele que os chocalhos ouço eu este é o fato senhor. 495 Fidalgo Ponde todos cobro nele. Pero Vaz Uxtix mulo do judeu!... O fato u se há de pôr? Pajem Venhais embora Pero Vaz. Pero Vaz Mantenha Deos vossa mercê. 500 Pajem Viestes polas Folgosas? Pero Vaz Aí estive eu hoje faz oito dias pé por pé em casa de uas tias vossas. Pajem Ora meu pai que fazia? 505 Pero Vaz Cavava andand'ò bacelo bem cansado e bem suado. Pajem E minha mãe? Pero Vaz Levava o gado lá pera Val de Cubelo mal roupada que ela ia. 510 Uxtix que mau lambaz e vossa mercê que faz? Pajem Estou loução coma quê. Pero Vaz E a bofé creceis assaz [ …az ] saúde que vos Deos dê. 515 Pajem Eu sou pajem de meu senhor se Deos quiser pajem da lança. Pero Vaz E um fidalgo tanto alcança? Isso é de emperador [ …ança] ora prenda el rei de França. 520 Pajem Ainda eu hei de perchegar a cavaleiro fidalgo. Pero Vaz Pardeos João Crespo Penalvo que isso seria esperar de mau rafeiro ser galgo. 525 [ …alvo] Mais fermoso está ao vilão mau burel que bom frisado e romper matos maninhos e ao fidalgo de nação ter quatro homens de recado 530 e leixar lavrar ratinhos Que em Frandes e Alemanha em toda França e Veneza [ …erra] que vivem per siso e manha por nam viver em tristeza. 535 Nam é como nesta terra! Porque o filho do lavrador casa lá com lavradora e nunca sobem mais nada e o filho do broslador 540 casa com a brosladora isto per lei ordenada. E os fidalgos de casta servem os reis e altos senhores de tudo sem presunção 545 tam chãos que pouco lhes basta e os filhos dos lavradores pera todos lavram pão. Pajem Quero ir dizer de vós. Pero Vaz Ora ide dizer de mi 550 que se grave é Deos dos céus [ …ós] mais graves deoses há aqui. [ …éus ] Pajem Senhor ali vem o fato e está à porta o almocreve vede quem lhe há de pagar 555 isso tal que se lhe deve. Fidalgo Isto é com que me eu mato quem te manda procurar. Atenta tu polo meu e arrecada-o muito bem 560 e nam cures de ninguém. Pajem Ele é de a par de Viseu e homem que me pertém pois a porta lhe abri eu. Entra dentro o Almocreve e diz: Pero Vaz Senhor trouxe a frascaria 565 de vossa mercê aqui i estão os mus albardados. Fidalgo Essa é a mais nova aravia de almocreve que eu vi dou-te vinte mil cruzados. 570 Pero Vaz Mas pague-me vossa mercê o meu aluguer nô mais que me quero logo ir. Fidalgo O aluguer quanto é? Pero Vaz Mil e seiscentos reais 575 e isto por vos servir. Fidalgo Falai c'o meu azemel porque é doutor das bestas e estrólogo dos mus que assente em um papel 580 per avaliações honestas o que se monta. Ora sus. Porque esta é a ordenança e estilo de minha casa e se o azemel for fora 585 como cuido que é em França dareis outra volta à massa e ir-vos-eis por agora. Vossa paga é nas mãos. Pero Vaz Já a eu quisera nos pés 590 oh pesar de minha mãe. Fidalgo E tens tu pai e irmãos? Pero Vaz Pagai senhor nam zombeis que sam dalém da Sertãe e nam posso cá tornar. 595 Fidalgo Se cá vieres à corte pousarás aqui c'os meus. Pero Vaz Nunca mais hei de fiar em fidalgo desta sorte inda que o mande sam Mateus. 600 Fidalgo Faze por teres amigos e mais tal homem como eu porque dinheiro é um vento. Pero Vaz Dou eu já ò demo os amigos que me a mi levam o meu. 605 [ … ento] Vai-se o Almocreve e vem outro Fidalgo, e diz o Fidalgo primeiro: Fidalgo Oh que grande saber vir e gram saber-m'à vontade. Fidalgo II Pois senhor que vos parece desejo de vos servir e nam quero que venha à cidade 610 um quem nam parece esquece. Fidalgo Paguei soma de dinheiro a um ourives agora de prata que me lavrou e paguei a um recoveiro 615 que é a dar dinheiros fora a quem nam sei como os ganhou. Fidalgo II Ganham-nos tam mal ganhados que vos roubam as orelhas. Fidalgo Pola hóstia consagrada 620 e polo Deos consagrado que os lobos nas ovelhas nam dão tam crua pancada. Polos santos avangelhos e polo omnium sanctorum 625 que até o meu capelão por mezinhas de coelhos e uma secula seculorum lhe dou por missa um tostão. Nam há já homem em Portugal 630 tam sojeito em pagar nem tam forro pera molheres. Fidalgo II Guardai vós esse bem tal que a mi hão-me de matar bem me queres mal me queres. 635 Fidalgo Por quantas damas Deos tem nam daria nemigalha olhai que descubro isto. Fidalgo II Sam tam fino em querer bem que de fino tomo a palha 640 pola fé de Jesu Cristo. Quem quereis que veja olhinhos que se nam perca por eles lá per uns jeitinhos lindos que vos metem em caminhos 645 e nam há caminhos neles senam espinhos enfindos. Fidalgo Eu já nam hei de penar por amores de ninguém mas dama de bom morgado 650 aqui vai o remirar aqui vai o querer bem e tudo bem empregado. Que porque dance mui bem nem bailar com muita graça 655 seja discreta avisada fermosa quanto Deos tem senhor boa prol lhe faça se seu pai nam tiver nada. Fidalgo II Nam sejais vós tam Mancias 660 que isso passa já de amor e cousas desesperadas porém lá por vossas vias vou-vos esperar senhor a rendeiro das jugadas. 665 Porque galante caseiro é pera pôr em história. Fidalgo Mas zombai senhor zombai. Fidalgo II Senhor o homem enteiro nam lhe há de vir à memória 670 co a dama o de seu pai. Nem há mais de desejar nem querer outra alegria que So los tus cabellos niña… Nam há i mais que esperar. 675 [ …ia] onde é esta canteguinha. E Todo mal é de quem no tem e Se o disserem digam alma minha Quem vos anojou meu bem… Hei-os todos de grosar… 680 Ainda que sejam velhos! Fidalgo Vós senhor vindes tam bravo que eu hei-vos medo já polos santos avangelhos que levais tudo ao cabo 685 lá onde cabo nam há. Fidalgo II Zombais e dais a entender zombando que me entendeis pois de vós mui alto estou porque deveis de saber 690 que se de amor nam sabeis nam podeis ir onde vou. Quando fordes namorado vireis a ser mais profundo mais discreto e mais sotil 695 porque o mundo namorado é lá senhor outro mundo que está além do Brasil. Ó meu mundo verdadeiro ó minha justa batalha 700 mundo do meu doce engano. Fidalgo Ó palha do meu palheiro que tenho um mundo de palha palha ainda de ora a um ano. E tenho um mundo de trigo 705 pera vender essa gente bom cabeça tem Morale nam quero de amor amigo andar gemente e flente in hac lachrymarum vale. 710 Fidalgo II Vou-me. Vós não sois sentido sois mui duro do pescoço nam val isso nemigalha pesa-me de ver perdido um homem fidalgo ensosso 715 pois tem a vida na palha. Finis. *** http://www.gilvicente.eu/autos/textos/Auto_dos_Almocreves.html ***

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