“Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não”
Paulo César Batista de Faria
“...vim para a escola para aprender a viver.
Isso aqui é uma escola. Meu Deus, eu preciso conseguir nesta escola os
instrumentos que me preservarão e que me desviarão do encontro marcado que é
preciso adiar.” (Torquato 59)
“As evidências mostram que o crime foi
cometido da seguinte maneira:
Schmar, o assassino tomou seu lugar
perto das nove horas de uma noite de luar na esquina onde Wise, sua vítima, ia
virar da rua onde ficava seu escritório para a rua onde ele vivia.”
UM FRATRICÍDIO
FRANZ KAFKA
“... volto a receber uma velha lição da história:
impossível é desfritar um ovo.”
Texto do Riserio
VIVENDO E CONTINUANDO A APRENDER
Aprendendo a Viver
“Thoreau era um filósofo americano
que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura
de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um
modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado.
(...) ele quase gritava
com quem complicava as coisas: simplifique! simplifique!”
Clarice Lispector
Clarice Lispector
Vem Andar Comigo
“E tudo que nós temos pra viver
É muito mais do que sonhamos”
Paulinho Fonseca / Paulo Diniz
Texto do Riserio
VIVENDO E CONTINUANDO A APRENDER
Juntamente com alguns amigos conhecedores
do assunto (alguns africanos, inclusive) sempre considerei praticamente
impossível um mulato ser presidente de países como a Angola ou a Nigéria, por
exemplo, em função do fortíssimo preconceito contra mulatos nesses lugares.
Falo disso, inclusive, em meu livro mais recente. Mas eis que um mulato,
Adalberto Costa Júnior, ganha a eleição em Angola. É a chegada ao poder da
antiga UNITA de Savimbi, lembram? Pois é. E o que pergunto agora a meus amigos
angolanos e moradores de Angola, do fotógrafo-publicitário-consultor político
Sérgio Guerra ao romancista Agualusa (que, aliás, vai começar a escrever agora
romance contando a vida de um grande amigo comum, também angolano, Pedrito do
Bié), é: como explicar esta vitória de um mulato da UNITA? Será que os muitos
anos de desfaçatez, opressão e miséria, que caracterizaram o presença de Zedu
no poder, foram suficientes para levar os angolanos a esta reação tão
surpreendente quanto poderosa? É impressionante. E Guerra, quando me deu a
notícia, tocou numa questão fundamental. Com esta vitória, a UNITA destrona o
MPLA - e deve provocar uma reviravolta nas relações étnico-raciais em Angola,
já que o MPLA nunca enfrentou de fato a questão e sua política, na prática,
sempre foi de dominação étnica. Vamos ver. Quanto a mim, que considerava
impossível a vitória de um mulato, volto a receber uma velha lição da história:
impossível é desfritar um ovo.
A Coisa Mais Linda Que Existe
Torquato Neto
Coisa mais linda nesse mundo
É sair por um segundo
E te encontrar por aí
E ficar sem compromisso
Pra fazer festa ou comício
Com você perto de mim
Na cidade em que me perco
Na praça em que me resolvo
Na noite da noite escura
É lindo ter junto ao corpo
Ternura de um corpo manso
Na noite da noite escura
A coisa mais linda que existe
É ter você perto de mim
O apartamento, o jornal
O pensamento, a navalha
A sorte que o vento espalha
Essa alegria, o perigo
Eu quero tudo contigo
Com você perto de mim
Aprendendo a Viver
Thoreau era um filósofo americano que,
entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de
jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo
mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado.
Thoreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas «melhore o momento presente», exclamava. E acrescentava: «Estamos vivos agora.» E comentava com desgosto: «Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar.»
A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.
Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.
Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer agora o que é mais importante para cada um de nós.
Por exemplo: para os jovens que queriam tornar-se escritores mas que contemporizavam — ou esperando uma inspiração ou se dizendo que não tinham tempo por causa de estudos ou trabalhos — ele mandava ir agora para o quarto e começar a escrever.
Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. «É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber.»
E dizia esta coisa forte que nos enche de coragem: «Por que não deixamos penetrar a torrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem?» Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo neste próprio instante.
Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: «A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos.» É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois «o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino».
E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia: tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covardia desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. «Creio», escreveu, «que podemos confiar em nós mesmos muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força.» E repetia mil vezes aos que complicavam inutilmente as coisas — e quem de nós não faz isso? —, como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas: simplifique! simplifique!
Thoreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas «melhore o momento presente», exclamava. E acrescentava: «Estamos vivos agora.» E comentava com desgosto: «Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar.»
A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.
Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.
Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer agora o que é mais importante para cada um de nós.
Por exemplo: para os jovens que queriam tornar-se escritores mas que contemporizavam — ou esperando uma inspiração ou se dizendo que não tinham tempo por causa de estudos ou trabalhos — ele mandava ir agora para o quarto e começar a escrever.
Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. «É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber.»
E dizia esta coisa forte que nos enche de coragem: «Por que não deixamos penetrar a torrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem?» Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo neste próprio instante.
Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: «A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos.» É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois «o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino».
E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia: tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covardia desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. «Creio», escreveu, «que podemos confiar em nós mesmos muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força.» E repetia mil vezes aos que complicavam inutilmente as coisas — e quem de nós não faz isso? —, como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas: simplifique! simplifique!
Clarice Lispector, in Crónicas no 'Jornal do
Brasil (1968)'
Pecado Capital
Paulinho da Viola
Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...
Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...
Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
Composição: Paulinho da Viola
Vem Andar Comigo - Jota Quest {com legenda}
Referências
https://www.letras.mus.br/torquato-neto/387437/
http://www.citador.pt/textos/aprendendo-a-viver-clarice-lispector
https://youtu.be/2QrDejJwTMo
https://www.letras.mus.br/paulinho-da-viola/496804/
https://youtu.be/glZqRQe2Njk
https://www.youtube.com/watch?v=glZqRQe2Njk
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