CHAMADAS DA PRIMEIRA PÁGINA
Cidadania
e prosperidade
Militares
asseguram opção por democracia
Cardoso vai aos parlamentares e expõe
seu plano
JORNAL DO BRASIL
RIO DE JANEIRO SEXTA-FEIRA 10 DE DEZEMBRO DE
1993 Preço para o Rio: CR$ 180,00
Corporativismo abre crise na CPI
ESPORTES
Júnior ainda não sabe se continua
Foto de Airton Senna
Senna é punido mas pode correr
STJ fica sem dinheiro para a nova sede
Foto de PC Farias
Na 10ª Vara Federal de Brasília, onde
é réu por sonegação fiscal, PC Farias disse que é perseguido pelo leão. (Pág.
7)
STF decide que juiz pode dar liminares
Cardoso vai aos parlamentares e expõe
seu plano
O Ministro da Fazenda, Fernando
Henrique Cardoso, saiu otimista de seu encontro de ontem com os parlamentares
no Congresso, onde foi expor o plano econômico. Os políticos apoiam o corte de
gastos, mas querem negociar as outras medidas. IGP de novembro alcançou 36,96%.
Os aluguéis quadrimestrais vão subir, no mínimo, 227,53%.
(Negócios e Finanças, páginas 1 a 5)
Informe Econômico
Arida revela rota da privatização
(Negócios e Finanças, pág. 3)
CIDADE
Louras diante do juiz
Rio ganha em janeiro 30 mil novos
celulares
(Negócios e Finanças, pág. 5)
Danuza
Sarney e o estilo Jacqueline Kennedy
Caderno B pág. 3
Militares asseguram opção por
democracia
FOTO
O general Leonel pediu “cuidado com a
cólera das legiões”
B
Intriga em família
FOTO
A atitude da irmã La Toya (Foto)
Cedae volta a normalizar o
abastecimento.
As Voltas Que o Mundo Dá
Lenine
Ele paga qualquer preço
Pra ser o número um
Vive a vida pelo avesso
Veio de lugar nenhum
Trovoada deu no céu
Nos olhos da cascavel
A vingança é mais comum
Ele sabe dos atalhos
Nas estradas da razão
Ele só conhece o mundo
De rodeio e caminhão
Ele sela o seu destino
E quer chegar
Onde o vento lhe levar
Ele não conhece o medo
Quando chega o desafio
Ele guarda o seu segredo
Dentro de um olhar vazio
Ele sela o seu destino
E quer chegar
Onde o vento lhe levar
Peão
As voltas que o mundo dá
Irão
Aonde você vai chegar (2x)
Peão
As voltas que o mundo dá
Irão
Aonde você vai chegar (2x)
“(...) como um dos redatores do
impeachment de Collor, fui procurado por chefes militares em vista também de
minhas relações com Ulysses e com os líderes do PSDB. Esses militares desejavam
saber se essas lideranças apoiariam o governo Itamar Franco, pois a única preocupação
do setor fardado era com a governabilidade. A resposta, como não podia deixar
de ser, foi positiva. E esses líderes conduziram o País em conjunto com Itamar,
tornando-se viável o Plano Real. (...)”
Miguel Reale Júnior – O desafio de 2020
Um dos redatores do impeachment de
Collor e um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff
domingo, 5 de janeiro de 2020
- O Globo / O Estado de S.Paulo
A rotina pesa mais que a vontade de
mudar, de construir um futuro melhor. Voltemos a sonhar
Todo começo de ano, a mesma ladainha:
feliz ano novo! É difícil escapar do lugar-comum e não pretendo dele me afastar
(pelo menos neste início de janeiro). Tenho boas razões para manter certo
otimismo, pois chego aos quase 90 anos – que cumprirei no próximo ano se os
fados assim dispuserem – mantendo o bem-estar, o que supõe certa autonomia
pessoal. E posso dizer, sem arrogância, que me sinto mais livre, mais à
vontade, para dizer o que penso e o que me emociona. Já não serão amarras
ideológicas ou partidárias que irão frear meus impulsos. Por certo, a família
sempre há que tomar em consideração, assim como também os amigos. Quanto aos
demais, importam, mas não tanto como a família ou os amigos.
Dito isso, justifico meu otimismo
relativo. Nasci, em 1931, num Brasil mais pobre (nasci no Rio e lá vivi até os
9 anos). Era comum ver nas cidades pessoas usando tamancos, nos campos havia
medo dos bichos-de-pé, o analfabetismo no País era avassalador, as classes
médias altas compravam manteigas e queijos, bem como uvas e muitas outras
gulodices mais, importados.
Automóveis usava quem os tinha: os
ricos – e olhe lá – ou, então, os altos burocratas. O comum dos mortais usava o
bonde. No Rio havia um reboque em cada bonde, chamado “taioba”, com passagem
mais barata. Em São Paulo havia os “camarões”, mais fechados, e também havia o
bonde duplo comum. Para ir a São Paulo (cidade para onde vim em 1940), ou ir de
lá ao Rio, usavam-se mais frequentemente os trens, também com categorias de
primeira e segunda classe. A grande renovação foi a chegada das “litorinas”
(comboios menores e mais ágeis), cujo percurso – diurno – durava cerca de oito
horas, enquanto os trens requeriam 12. Avião era para os valentes e milionários...
De carro, quem podia, dividia a longa viagem de 12 a 14 horas ou mais e se
alojava no meio do caminho num hotel ou em alguma fazenda de parente ou amigo.
No verão chovia sem parar, tornando um lamaçal os trechos de terra do que veio
a se chamar Via Dutra. E era via de pista única, com mão para ir, outra para
voltar.
De lá para hoje as mudanças foram
enormes. Tornamo-nos uma das dez maiores economias do mundo (embora na rabeira
delas). A economia se industrializou e a de serviços cresceu. A agricultura e a
mineração brilharam. O País se urbanizou: mais de dois terços da população
vivem em cidades (ou em suas muitas periferias pobres). O analfabetismo não
chega a abranger 7% da população maior de 15 anos e vem caindo há alguns anos.
Universidades (pelo menos no nome) o País as tem às dezenas, e olha que as
primeiras foram criadas nos anos 1930, embora houvesse antes escolas isoladas,
mais antigas. E o Serviço Único de Saúde (SUS), por mais que seja criticado nas
cenas em que as tevês mostram filas enormes, é uma realidade de dar inveja a
muitos povos: o atendimento é universal e gratuito. Antes só eram acolhidos nos
hospitais os membros de alguma categoria profissional ou os que batiam às
portas das Santas Casas de Misericórdia. Naturalmente, os mais ricos pagavam e
tinham atendimento melhor, mesmo no passado.
E temos democracia. Só se avalia o bem
que representa respirar o ar da liberdade quando se perde tal possibilidade.
Quem, como em meu caso, viu o País viver com ditaduras ou autoritarismos durante
cerca de 25 anos, intermitentes, sabe que respirar a liberdade é algo
essencial. O estudo e a prática profissional no exterior, bem como o exílio, me
ensinaram a respeitar as instituições que provêm e garantem as liberdades
individuais e os direitos, das pessoas e coletivos. Desejo, portanto, que
continuemos a desfrutar a liberdade e a democracia.
Há mais, contudo. Escrevi que no
passado a maioria das pessoas tinha piores condições de existência. Muitos
ainda as têm. O modo de melhorar esta situação é conhecido: crescimento da
economia e políticas públicas que levem a maior igualdade. Crescimento razoável
e contínuo. Ficaram no passado as taxas de 7% e 8% ao ano de crescimento do
PIB. Quanto mais amadurece uma economia, menores são as taxas médias de crescimento.
Mas almejar crescer 4% ao ano durante uma década (e daí por diante) é possível
e necessário. Mas não suficiente: também é preciso redistribuir a renda,
oferecendo mais educação, saúde, emprego e o que seja necessário para a
sobrevivência dos despossuídos (mesmo bolsas, para evitar tragédias). E também
mudar as regras de tributação, não só para simplificá-las, mas para que elas
pesem mais sobre quem mais pode e menos nos que mal conseguem consumir o
necessário para sobreviver.
É neste ponto que o carro pega. O
futuro de um país se joga com sonho e ação. Se olharmos para trás, veremos que
o sonho se esvaeceu. Persiste, mas é menos nítido na imaginação das pessoas. A
rotina pesa mais que a vontade de mudar, de construir um futuro melhor para todos.
É o que desejo para 2020 e para daí em adiante: que voltemos a sonhar. Tenhamos
mais grandeza, não no sentido da arrogância, mas da fé em nosso destino
nacional. Precisamos de maior coesão e menos diferenças entre “nós” e “eles”,
sejam quais forem os “nós” e os “eles”. Para tanto precisamos diminuir as
desigualdades: elas começam no berço, mas se consolidam na pré-escola e no
ensino fundamental. Daí por diante, nem falar...
E não devemos perder de vista que
vivemos numa civilização científica-tecnológica. A batalha do futuro se dará no
campo da educação e da cidadania. É preciso que estejamos “conectados”, sem
perder os valores básicos: precisamos utilizar a razão e saber que ela, sem
sentimento, se torna mecânica, autocrata. Desejo que 2020 aumente a consciência
de que podemos melhorar. Para isso deveremos estar juntos. A melhoria de um,
quando prejudica o outro, desfaz a base que precisamos prezar: nossa coesão
como pessoas que vivem na mesma comunidade nacional.
Bom ano novo, com emprego, prosperidade,
mais igualdade e cidadania.
* Sociólogo, foi presidente da
República.
http://gilvanmelo.blogspot.com/2020/01/fernando-henrique-cardoso-cidadania-e.html#more
sábado, 4 de janeiro de 2020
- O Estado de S.Paulo
Tolerância deve ser a virtude
consolidadora da República nestes tempos de confronto
Em 14 de maio de 1989 publiquei artigo
na Folha de S.Paulo em que ponderava ser o momento propício a seduções
inconsistentes, como se via no sucesso de Fernando Collor nas pesquisas
eleitorais, sobressaindo a postura impetuosa do candidato como caçador de
marajás. Lembrava então que conteúdo, passado político e compromisso com a
liberdade eram desprezados, valendo mais buscar um salvador sem maiores avaliações
ou perquirições. E indagava se seria Collor moralizador da administração, pois
quando prefeito biônico de Maceió nomeara mais de 4.500 funcionários, a maioria
apaniguados.
Seria consolidador da democracia o
jovem deputado federal Collor, que votara contra a emenda da eleição direta
para presidente? Seria instrumento de justiça social o deputado que apoiou os
decretos de arrocho salarial? Seria Collor o construtor do futuro, pois
preferira votar em Paulo Maluf, e não Tancredo Neves, para presidente? E
concluía que o momento requeria muito mais que impensadas saídas milagrosas.
Mas pouco valiam tais considerações!
Já em maio de 2018, igualmente ano de
eleições, disse em artigo publicado nesta página: “Assusta que o pré-candidato
Bolsonaro arregimente adeptos quando suas ideias são manifestamente elogiosas à
violência na política”. Trazia para aumentar esse espanto exemplos de suas
manifestações, pois aplaudia a tortura como meio de obtenção de prova; a seu
ver, “o erro da ditadura foi torturar e não matar”; “Pinochet devia ter matado
mais gente”; “não poderia amar um filho homossexual”. Terminava o artigo
considerando que aceitar essa candidatura presidencial, alimentada por tais
ideias, seria a volta piorada da ditadura pela via do voto. Mas pouco valiam
tais considerações!
Ambos, Collor e Bolsonaro, terminaram
o primeiro ano de mandato, conforme indica o “monitor-popularidade” do Estadão,
com reduzidas taxas de satisfação, abaixo de 30%, tendo os dois iniciado o
governo com mais de 50%. Vê-se, portanto, que a impensada busca de um salvador,
tratado como mito, se decompõe facilmente, mesmo porque a decepção não decorre
apenas das exageradas expectativas positivas, mas da realidade negativa não
visualizada pela emoção dominante durante o processo eleitoral, que disfarça a
face verdadeira do preferido nas urnas.
As circunstâncias de ambos em seguida
ao primeiro ano do mandato têm aspectos parecidos e diversos. Após o fracasso do
Plano Collor, a inflação reincidia e se instalara um processo recessivo. Collor
envolveu-se nas tramas corruptas de seu auxiliar predileto, PC Farias, e a cada
dia perdia força no Congresso Nacional, estando sem partido. Decrescia o
respeito da sociedade civil.
Com Bolsonaro, a inflação está contida
e há melhora da economia, mas não tanto quanto desejam alguns agentes
econômicos. Mas há uma grande pedra no sapato, relativa à possível corrupção
familiar no que tange ao emprego dos membros da família da ex-mulher do
presidente no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, com participação nos
salários auferidos, além das investigações sobre as relações do clã com
milícias fluminenses. Bolsonaro não tem articulação política no Congresso, está
sem partido e não terá tão cedo. A sociedade civil o deplora.
Mas há um fator fundamental existente
à época da debacle de Collor e inexistente hoje: a presença de líderes capazes
de construir uma conciliação, um ponderado centro político garantidor de
harmonia social, representado por homens como Ulysses Guimarães, Fernando
Henrique Cardoso, Mário Covas, Franco Montoro, Antônio Carlos Magalhães, Marco
Maciel.
Exemplo da importância dessa
circunstância está no seguinte episódio: como um dos redatores do impeachment de
Collor, fui procurado por chefes militares em vista também de minhas relações
com Ulysses e com os líderes do PSDB. Esses militares desejavam saber se essas
lideranças apoiariam o governo Itamar Franco, pois a única preocupação do setor
fardado era com a governabilidade. A resposta, como não podia deixar de ser,
foi positiva. E esses líderes conduziram o País em conjunto com Itamar,
tornando-se viável o Plano Real.
Fácil é pretender exercer o poder com
radicalismos e demagogia. Difícil é ter autoridade na conciliação, buscando
impor harmonia e acatamento por via de compromisso que reúna os diversos
atores, com a escolha consentida e refletida de prioridades e pela negociação
tolerante, que ameniza o conflito sem eliminá-lo, supera os impasses e se prepara
para os próximos, evitando desbordar na violência.
Os conflitos são perenes, mas com
ponderação e persuasão se formulam caminhos temporariamente redutores de
embates. Numa época de tanta paixão, de comunicação impensada e rápida pelas
redes sociais, é ainda mais necessária uma autoridade que se afirme por gerar
confiança sopesada e consistente.
Para tanto há de se ter lideranças que
tenham por alicerce a coragem de reconhecer no antagonismo não o desastre
fatal, a fraqueza, mas a própria força da democracia. Tolerância deve ser a
virtude consolidadora da República nestes tempos escuros de confrontos à flor
da pele.
Esse o grande desafio para 2020. Pouco
se pode esperar de Bolsonaro como mediador de controvérsias. Ao contrário. De
outra parte, o governo não tem no Congresso líderes que possam falar por ele,
estabelecer prioridades e conseguir compor propostas negociadas para superar
divergências nas reformas tributária, administrativa e política e no combate à
desigualdade social.
Assim, com presidente tosco e na falta
de chefias partidárias capazes de assumir a condução da grande política, a
sensação é de um país em busca sôfrega de recuperação econômica que supra as
deficiências da ausência de comando, antes que o descontentamento e a descrença
nos Poderes constituídos venham a materializar-se nas ruas. Nosso futuro é
opaco, sem perspectivas claras.
* Advogado, professor titular sênior
da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi
ministro da Justiça
Referências
http://memoria.bn.br/pdf/030015/per030015_1993_00246.pdf
https://youtu.be/BtXUGoEMEMk
https://www.letras.mus.br/lenine/1165331/
http://gilvanmelo.blogspot.com/2020/01/fernando-henrique-cardoso-cidadania-e.html#more
http://gilvanmelo.blogspot.com/2020/01/miguel-reale-junior-o-desafio-de-2020.html
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