Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos.
As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
Biografias e Memórias
“O morto esquecido é o único que descansa em
paz.” N.R.
Dedicatória
Minha filha ganhou um gatinho. Contei
a Tim que ela ia dar o seu nome ao bicho. Ele adorou.
- Já sei. Porque é preto, gordo e cafajeste.
O gato era cinzento, magrinho e
carinhoso. E só nos deu amor e alegria.
À sua memória.
N. M.
O que eu quero dizer é que estas são
memórias do passado, do presente, do futuro e de várias alucinações.
[...]
O que foi dito acima tem a intenção de
valorizar e dramatizar a tal experiência de ontem. Vamos ao fato: todos os
dias, almoço com minha mãe, nas Laranjeiras. Somos muitos e, por isso, a nossa
mesa é numerosa e cálida como a da Ceia. É curioso! Depois de velho, dei para
chamar minha mãe de “madre”, “madre mia”. E aqui confesso: — vou lá buscar a
sua compaixão. Ela tem pena de mim, sempre teve. Fosse eu um Walther Moreira
Salles e minha mãe teria pena de me ver, boiando num lago de milhões como uma
vitória-régia.
[...]
Pois, enquanto os outros passavam
exalando uma ira misteriosa, o camelô só faltava virar cambalhotas de alegria
total. Não tem um dente, ou, melhor dizendo, tem uma antologia de focos
dentários. O pior vem agora.
O sujeito está berrando:
— A nova Prostituição do Brasil! A
nova Prostituição do Brasil!
E erguia um folheto, só faltava
esfregar o folheto na cara da pátria. Todavia, não me espanto, ninguém se
espanta. As pessoas passam e nem olham. Há qualquer coisa de vacum no lerdo
escoamento da multidão. O camelô continua empunhando o folheto como um
estandarte dionisíaco:
— A nova Prostituição do Brasil! A
nova Prostituição do Brasil!
A MENINA SEM ESTRELA
MEMÓRIAS
N.R.
These are the songs - Tim Maia
These are the songs
I wanna sing
These are the songs
I wanna play
I will sing it every (little) time
And I will sing it every day (Now listen here)
These are the songs
That I wanna sing and play
Esta é a canção que eu vou ouvir
Esta é a canção que eu vou cantar
Fala de você, meu bem
E do nosso amor também
Sei que você vai gostar
“Tabelinha entre Pelé e Garrincha: um tentando
driblar o outro.”
Nélson Mota
Vale Tudo
These Are The Songs (com Elis Regina)
Tim Maia
These are the songs
I wanna sing
These are the songs
I wanna play
I will sing it every (little) time
And I will sing it every day (Now
listen here)
These are the songs
That I wanna sing and play
Esta é a canção que eu vou ouvir
Esta é a canção que eu vou cantar
Fala de você, meu bem
E do nosso amor também
Sei que você vai gostar
Composição: Tim Maia
QUEM FOI MELHOR PELÉ OU GARRINCHA Olha só o
que o canhotinha de ouro Gerson
Tabelinhas com o Coutinho, o gênio da área
Foram mais de 10 anos atuando ao lado
do melhor jogador de todos os tempos e ajudando a formar o time que foi eleito
pela FIFA o melhor do Século XX nas Américas. Pelé e Coutinho marcaram 1461
gols (370 de Coutinho) pelo Santos Futebol Clube, conquistaram todos os títulos
possíveis e fizeram tabelas inesquecíveis. Uma parceria que entrou para a história.
O que teria sido de Pelé sem Coutinho? Existe algum jogador hoje que coloca
Coutinho na frente da TV? Com a palavra, o gênio da área. For more than 10
years Coutinho played alongside the best player of all time and took part of
the team that got elected by FIFA the best one in the Americas during the
Twentieth Century. Pelé and Coutinho scored 1461 goals (370 by Coutinho) for
Santos FC, won all possible championships and formed an unforgettable duo. A
partnership that made history. What would have been of Pelé without Coutinho?
Is there any player today that puts Coutinho in front of the TV? With the word,
one of the greatest forwards in football history
"Vale tudo": Nelson Motta conta a
história de Tim Maia | Livro | Alta Fidelidade
“Olavo divulga fake news: Coronavírus é
patenteado por Bill Gates; objetivo é redução populacional”.
Trinta segundos
Bem, acho que basta né? Nem precisava
falar. E saber que esse senhor é guru do presidente. [...] Vamos continuar a
ser um grande país. Mas essa gentalha tem que ir embora.
Professor Marco Antônio Villas
Rápido Comentário Josias
Uma frase é ... A cabeça do presidente
da República do Brasil é um espaço baldio onde esse personagem, Olavo de
Carvalho, de vez em quando, joga lixo. É muito triste constatar isso. Mas é o
que acontece.
Jornalista Josias de Souza
“Geralmente as doenças virais acometem mais as
pessoas idosas e com uma doença já associada, pois elas têm o trato
respiratório mais sensível” – Celso Granato, infectologista da Unifesp
“Importante destacar que a saúde dos
idosos é um direito fundamental de acordo com os arts. 6º e 96 da Constituição
da República, e o texto constitucional traz, ainda, o direito à vida, em seu
art. 5º, caput, e o princípio da dignidade humana, art. 1º, III da CRFB/88,
como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.” – Flavia
Bahia, Professora de Direito Constitucional
A medida judicial cabível para o enfrentamento
do problema, inclusive com providências imediatas, de modo que seja oferecido
atendimento adequado a todos os idosos que venham a utilizar os serviços do
Posto de Saúde. A demanda exigirá dilação probatória.
Homens idosos e com problemas de saúde são
mais da metade dos mortos por coronavírus
Idade média das vítimas é de 75 anos,
segundo o Comitê Nacional de Saúde da República Popular da China; primeira
morte ocorreu em 9 de janeiro.
Por Laís Modelli, G1
24/01/2020
05h25 Atualizado há 5 dias
O mercado de frutos do mar de Wuhan Huanan,
onde se suspeita que a nova cepa de coronavírus teria começado a se espalhar. O
estabelecimento está fechado desde 21 de janeiro de 2020 — Foto: Dake Kang/AP
Homens com mais de 50 anos e com
algum problema de saúde são mais da metade das vítimas de coronavírus.
Segundo informações do Comitê Nacional de Saúde da República Popular da China,
a idade média das vítimas é de 75 anos (veja abaixo o perfil de cada uma).
Novo coronavírus pode ter vindo de cobras
vendidas no mercado de Wuhan
O que se sabe e o que ainda é dúvida sobre o
coronavírus
Até quinta-feira (23), o governo
chinês havia divulgado o perfil de 18 pessoas entre as 25 mortes confirmadas até então – 14 homens e quatro mulheres.
Enquanto a vítima mais jovem foi uma mulher de 48 anos, as mais idosas foram
dois homens de 89 anos. Além disso, a maioria das vítimas tinha problemas de
saúde anteriores, como cirrose hepática, hipertensão, diabetes e doença de
Parkinson.
Quem são as vítimas
Zeng, homem, 61 anos, tinha histórico
de cirrose. Foi internado em 20 de dezembro com febre, tosse e fraqueza.
Morreu no dia 9.
Xiong, homem, 69 anos. Foi
internado em 3 de janeiro com tosse, febre e dispneia. Morreu no dia 15.
Wang, homem, 89 anos, tinha histórico
de hipertensão. Foi internado em 5 de janeiro por causa de uma
incontinência urinária. No dia 8, foi diagnosticado com pneumonia. Morreu no
dia 18.
Chen, homem, 89 anos, tinha histórico
de hipertensão, diabetes e era paciente cardíaco. Foi internado em 5 de
janeiro por causa de uma incontinência urinária. No dia 8, foi diagnosticado
com pneumonia. Morreu no dia 19.
Li, homem, 66 anos, tinha hipertensão,
diabetes tipo 2, insuficiência renal crônica e problemas cardíacos. Foi
internado em 16 de janeiro com tosse intermitente, dor de cabeça, fadiga e
febre. Morreu no dia 20.
Wang, homem, 75 anos, tinha
hipertensão. Foi internado em 11 de janeiro devido a febre com tosse,
congestão nasal e vômito por 2 dias seguidos. Morreu no dia 20.
Yin, mulher, 48 anos, tinha
diabetes. Foi internada em 27 de dezembro com corpo dolorido, febre e
fadiga. Morreu no dia 20.
Liu, homem, 82 anos. Foi
internado em 14 de janeiro devido a calafrios e dores no corpo. Morreu no dia
21.
Luo, homem, 66 anos. Foi
internado em 22 de dezembro com dores no peito, falta de ar e tosse seca.
Morreu no dia 21.
Nome não informado, homem, 65
anos. Foi internado em 11 de janeiro devido pneumonia grave, insuficiência
respiratória aguda e lesão hepática. Morreu no dia 21.
Lei, homem, 53 anos. Foi
internado em 13 de janeiro com pneumonia e insuficiência respiratória. Morreu
no dia 21.
Wang, homem, 86 anos. Tinha
hipertensão e diabetes. Foi internado em 9 de janeiro com fadiga. Morreu no dia
21.
Zhang, homem, 81 anos. Foi
internado em 14 de janeiro depois de três dias de febre. Morreu no dia 22.
Zhang, mulher, 82 anos, paciente de
doença de Parkinson. Foi internada em 3 de janeiro com pneumonia viral e
insuficiência respiratória. Morreu no dia 22.
Hu, mulher, 80 anos, tinha
hipertensão. Foi internada em 18 de janeiro com febre, tosse, chiado no
peito e dispneia. Morreu no dia 22.
Yuan, mulher, 70 anos. Foi
internada em 13 de janeiro com febre alta e infecção pulmonar. Morreu no dia
21.
Zhan, homem, 84 anos. Foi
internado em 13 de janeiro com pneumonia e insuficiência respiratória. Morreu
no dia 22.
Ciclo do novo coronavírus - transmissão e
sintomas — Foto: Aparecido Gonçalves/Arte G1
Grupo vulnerável
Para o infectologista da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp),
Celso Granato, o fato de quase todas as vítimas serem homens pode ser explicado
por fator cultural. “Como o início da infecção está relacionado ao mercado de
frutos do mar de Wuhan, pode ser que homens frequentem mais esses locais na
China.”
Quanto à idade avançada das vítimas, o
infectologista afirma que tal condição já é esperada em quadros de infecções
virais.
“Geralmente as doenças virais acometem
mais as pessoas idosas e com uma doença já associada, pois elas têm o trato
respiratório mais sensível” – Celso Granato, infectologista da Unifesp
“Se o mesmo vírus infectar um jovem
saudável de 30 anos, provavelmente não resultará em morte. É parecido com o que
ocorre com o vírus da gripe: pessoas idosas costumam ser as vítimas fatais.”
--:--/--:--
Coronavírus: infectologista explica o que é o
vírus, sintomas e prevenção
Incubação prolongada
Ainda de acordo com o órgão chinês, a
maioria das vítimas passou mais de uma semana internada até morrer. Pelo menos
duas vítimas ficaram no hospital por um mês ou mais e somente dois morreram
apenas quatro dias depois de serem diagnosticados.
O tempo de tratamento desde o
surgimento dos sintomas até a morte é algo que chama a atenção para o infectologista.
"Um mês de tratamento é muito tempo para uma doença respiratória viral. O
tempo de incubação do vírus da gripe, por exemplo, é de 24 a 48 horas."
Porém, o tempo de incubação prolongada
"não quer dizer que o coronavírus é um vírus mais fraco que os que têm
tempo de incubação menor", explica Granato.
Raio X do novo coronavírus — Foto: Amanda Paes
e Cido Gonçalves/Arte G1
'Não é epidemia'
Para o infectologista, ainda é cedo
para se falar em epidemia do novo coronavírus. "Não pode ser considerado epidemia
quando temos cerca de 800 infectados em uma cidade de 11 milhões de habitantes
como Wuhan, pouco menos de um mês desde o relato dos primeiros casos. Isso é
surto, não é epidemia."
--:--/--:--
'Não há motivo de preocupação no Brasil no
momento', diz infectologista sobre coronavírus
CASOS DE CORONAVÍRUS NO MUNDO
Veja o que se sabe sobre o coronavírus
Vírus pode ter vindo de cobras vendidas no
mercado de Wuhan
No Brasil, 9 casos em 6 estados são
investigados
O Assunto #107: Coronavírus, o novo vírus que
colocou o mundo em alerta
O Assunto #111: As respostas da China ao novo
coronavírus e os impactos na economia global
OMS diz que é alto o risco internacional de
transmissão do coronavírus
Paciente infectado pode passar a doença para
até 3 pessoas
Vacina será testada em até três meses
Vírus pode se espalhar antes do aparecimento
de sintomas
VÍDEOS: todas as reportagens da cobertura
Veja o que é #FATO ou #FAKE sobre o
coronavírus
XXI EXAME DE ORDEM UNIFICADO
PROVA PRÁTICO-PROFISSIONAL Aplicada em
22/01/2017
ÁREA: DIREITO CONSTITUCIONAL
PADRÃO DE RESPOSTA - PEÇA PROFISSIONAL
ENUNCIADO
A Associação Alfa, constituída há 3
(três) anos, cujo objetivo é a defesa do patrimônio social e, particularmente,
do direito à saúde de todos, mostrou-se inconformada com a negativa do Posto de
Saúde Gama, gerido pelo Município Beta, de oferecer atendimento laboratorial
adequado aos idosos que procuram esse serviço. O argumento das autoridades era
o de que não havia profissionais capacitados e medicamentos disponíveis em
quantitativo suficiente. Em razão desse estado de coisas e do elevado número de
idosos correndo risco de morte, a Associação resolveu peticionar ao Secretário
municipal de Saúde, requerendo providências imediatas para a regularização do
serviço público de Saúde.
O Secretário respondeu que a situação
da Saúde é realmente precária e que a comunidade precisa ter paciência e
esperar a disponibilização de repasse dos recursos públicos federais, já que a
receita prevista no orçamento municipal não fora integralmente realizada.
Reiterou, ao final e pelas razões já aventadas, a negativa de atendimento
laboratorial aos idosos. Apesar disso, as obras públicas da área de lazer do
bairro em que estava situado o Posto de Saúde Gama, nos quais eram utilizados
exclusivamente recursos públicos municipais, continuaram a ser realizadas.
Considerando os dados acima, na
condição de advogado(a) contratado(a) pela Associação Alfa, elabore a medida
judicial cabível para o enfrentamento do problema, inclusive com providências
imediatas, de modo que seja oferecido atendimento adequado a todos os idosos
que venham a utilizar os serviços do Posto de Saúde. A demanda exigirá dilação
probatória. (Valor: 5,00)
Obs.: a peça deve abranger todos os
fundamentos de Direito que possam ser utilizados para dar respaldo à pretensão.
A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação.
GABARITO COMENTADO
A peça adequada nesta situação é a
petição inicial de uma Ação Civil Pública.
A petição deve ser endereçada ao Juízo
Cível da Comarca X ou ao Juízo de Fazenda Pública da Comarca X, já que os dados
constantes do enunciado não permitem identificar a organização judiciária do
local.
O(A) examinando(a) deve indicar, na
qualificação das partes, a Associação Alfa como demandante, e o Município Beta,
como demandado.
A legitimidade ativa da Associação
Alfa decorre do fato de ter sido constituída há mais de 1 (um) ano e
destinar-se à defesa do patrimônio social e do direito à saúde de todos,
atendendo ao disposto no Art. 5º, inciso V, alíneas a e b, da Lei nº 7.347/85.
A legitimidade passiva do Município Beta é justificada por ser o responsável
pela gestão do Posto de Saúde Gama.
O cabimento da ação civil pública
decorre do fato de o objetivo da demanda judicial ser a defesa de todos os
idosos que procuram o atendimento do Posto de Saúde Gama, nos termos das
finalidades estatutárias da Associação – defesa do patrimônio social e,
particularmente, do direito à saúde de todos – , e não eventual defesa de
direito ou interesse individual. Como se discute a qualidade do serviço público
oferecido à população e esses idosos não podem ser individualizados, trata-se
de típico interesse difuso, enquadrando-se no Art. 1º, incisos IV e VIII, da
Lei nº 7.347/85.
O que se verifica, na hipótese, é a
necessidade de defesa do direito à vida e à saúde dos idosos que procuram os
serviços do Posto de Saúde Gama, bem como de sua dignidade, amparados pelo Art.
1º, inciso III, pelo Art. 5º, caput, pelo Art. 6º e pelo Art. 196, todos da
CRFB/88. Na fundamentação, deve ser indicado que esses direitos estão sendo preteridos
para a realização de obras públicas na área de lazer, o que é
constitucionalmente inadequado em razão da maior importância dos referidos
direitos. Afinal, sem vida e saúde, não há possibilidade de lazer. O Município
tem o dever de assegurar o direito à saúde dos idosos e de cumprir a
competência constitucional conferida para fins de prestação do serviço público
de saúde (Art. 30, inciso VII, Art. 196 e Art. 230, todos da CRFB/88).
É importante que o(a) examinando(a)
formule pedido de concessão de medida liminar, a fim de compelir o Município a
regularizar o sistema de saúde e prestar o atendimento laboratorial adequado
aos idosos na localidade abrangida pelo Posto de Saúde. O examinando deve
indicar a proteção constitucional dos direitos à vida e à saúde, bem como da
dignidade humana, e o risco de ineficácia da medida final, se a liminar não for
deferida, tendo em vista a urgência da situação, uma vez que os idosos estão
sujeitos a complicações de saúde e a risco de morte, caso não recebam o tratamento
de saúde adequado. Deve ser demonstrada, portanto, a presença do fumus boni
iuris e do periculum in mora.
Ao final, deve ser formulado pedido
para que a medida pleiteada em caráter liminar seja tornada definitiva.
Deve ser requerida a produção das provas
necessárias à demonstração da narrativa inaugural.
Por fim, deve-se apontar o valor da
causa.
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS
ITEM PONTUAÇÃO
Endereçamento da petição (Juízo Cível da Comarca X ou Juízo de Fazenda
Pública da Comarca X (0,10). 0,00/0,10
Qualificação das partes:
A demandante é a Associação Alfa
(0,10), figurando como demandado o Município Beta (0,10) 0,00/0,10/0,20
Legitimidade
A legitimidade ativa da Associação
Alfa decorre do fato de ter sido constituída há mais de 1 (um) ano (0,10) e destinar-se
à defesa do patrimônio social e do direito à saúde de todos (0,10), atendendo
ao disposto no Art. 5º, inciso V, alíneas ´a´ e ´b´, da Lei nº 7.347/85 (0,10).
A legitimidade passiva do Município Beta é justificada por ser o responsável
pela gestão do Posto de Saúde Gama (0,10). 0,00/0,10/0,20/ 0,30/0,40
Cabimento da ação civil pública
O cabimento exclusivo da ação civil
pública decorre do fato de o objetivo da demanda judicial ser a defesa de todos
os idosos que procuram o atendimento do Posto de Saúde Gama, nos termos das
finalidades estatutárias da Associação defesa do patrimônio social e,
particularmente, do direito à saúde de todos – , e não eventual defesa de
direito ou interesse individual. (0,20). Como se discute a qualidade do serviço
público oferecido à população e esses idosos não podem ser individualizados,
trata-se de típico interesse difuso (0,10), enquadrando-se no Art. 1º, incisos
IV OU VIII, da Lei nº 7.347/85
(0,10).0,00/0,10/0,20/ 0,30/0,40
Fundamentação do mérito:
1.
proteção da dignidade humana (0,30), consagrada no Art. 1º, inciso III, da
CRFB/1988 (0,10); 0,00/0,30/0,40
2.
efetivação do direito fundamental à saúde (0,30), prevista no Art. 6º OU Art.
196 e ss. da CRFB/88 (0,10); 0,00/0,30/0,40
3.
proteção do direito fundamental à vida (0,30), prevista no Art. 5º, caput, da
CRFB/1988 (0,10); 0,00/0,30/0,40
4.
competência do Município para a prestação do serviço público de saúde (0,30),
prevista no Art. 23, II OU Art. 30,
inciso VII, da CRFB/88 (0,10); 0,00/0,30/0,40
5.
proteção constitucional OU legal ao
idoso (0,30), prevista no Art. 230 da CRFB/88 OU no Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) (0,10). 0,00/0,30/0,40
Fundamentação do pedido liminar:
- demonstrar a presença do fumus boni iuris (0,30); 0,00/0,30
- demonstrar a presença do periculum in mora (0,30). 0,00/0,30
Pedidos:
- opção pela realização ou não de
audiência de conciliação ou de mediação (0,20), nos termos do Art. 319, inciso
VII, do CPC/15) (0,10) OU indicação
do não cabimento de conciliação (0,20), nos termos do Art. 334, parágrafo 4º,
II, do CPC/15 (0,10) 0,00/0,20/0,30
- pedido de produção de provas (0,20);
0,00/0,20
- liminar para impor ao Município a
prestação adequada do serviço público de saúde pelo Posto Gama (0,30);
0,00/0,30
- pedido final de que o pleito liminar
seja tornado definitivo OU pedido de procedência da ação civil pública para
impor definitivamente ao Município a prestação adequada do serviço público de
saúde pelo Post Gama (0,30). 0,00/0,30
Valor da causa:
De acordo com o Art. 291 do CPC/15
(0,10) 0,00/0,10
Fechamento da peça:
Local ou Município ..., Data...,
Advogado(a)... e OAB... (0,10) 0,00/0,10
Olavo divulga fake news: Coronavírus é
patenteado por Bill Gates; objetivo é redução populacional
Vídeo compartilhado pelo guru do
bolsonarismo foi feito pelo "Mistérios do Mundo", canal do YouTube
que prega a "saída da Matrix" e que traça relações entre o
coronavírus e a franquia de cinema e jogos de videogame Resident Evil
Foto: Reprodução/YouTube
Por Redação
O pânico que a disseminação do coronavírus, que já matou mais de cem pessoas,
principalmente na China, tem causado nas pessoas, naturalmente criou uma onda
de teorias conspiratórias e fake news. E se tem um setor da sociedade
brasileira que mantém forte proximidade com notícias falsas este setor é o
bolsonarismo.
Nesta quarta-feira (29), o guru que
influencia diretamente a família Bolsonaro e seus apoiadores, Olavo de
Carvalho, compartilhou em suas redes sociais um vídeo que diz que o coronavírus
foi patenteado por Bill Gates e que o objetivo da disseminação da doença pelo
mundo é a redução populacional.
“Coronavírus chega ao Brasil
patenteado por Bill Gates”, diz o título alarmista do vídeo, que faz parte do
canal Mistérios do Mundo – por uma punição do YouTube, o canal passou a levar o
nome de seu dono, Bruno Alves.
Além do fato de nenhum caso ter sido
confirmado até agora no país – o que há são suspeitas sob investigação -, o vídeo compartilhado por Olavo
difunde uma notícia falsa a respeito da suposta patente do co-fundador da
Microsoft, Bill Gates.
Circulando com força nas redes
sociais, a fake news dá conta de que a organização The Pirbright Institute,
financiada pela Fundação Bill Gates, teria adquirido a patente do coronavírus
em 2018. A própria organização, no entanto, veio à público para esclarecer a
“confusão”: a patente que a Pirbright possui, na verdade, é do vírus da
bronquite infecciosa (IBV), e o título da patente – número 10130701 – se
dá pelo fato de que o vírus é um objeto de pesquisa da organização para a
produção de vacinas para prevenir doenças respiratórias em aves e outros
animais – não humanos.
Leia também Coronavírus: Médico de auto-ajuda vira hit
dizendo que “a China faliu”
“Obviamente isso [o coronavírus] é
patenteado por Bill Gates. Objetivo simples: redução populacional”, diz Bruno
Alves no vídeo compartilhado pelo guru bolsonarista. O dono do canal ainda vai
além: diz que “eles” – sem explicar quem são “eles” – “soltaram” o vírus na
China porque trata-se do país com a maior população do mundo.
A conspiração não para por aí: no
vídeo, sem dar maiores detalhes, Bruno Alves estabelece ainda uma relação entre
o coronavírus e a franquia de filmes e jogos de videogame Resident Evil.
O canal do vídeo compartilhado por
Olavo de Carvalho, tido como um respeitado intelectual entre os bolsonaristas,
prega ainda, de acordo com sua própria descrição, uma “saída da Matrix”, em
referência a outra franquia de cinema.
Jornal da Manhã - 30/01/2020
Jovem Pan News
Minuto final
Trinta segundos
Bem, acho que basta né? Nem precisava falar. E
saber que esse senhor é guru do presidente. Não é perseguição contra ninguém.
Não é!? São os fatos. E com os fatos não se brinca. Quer dizer, o Coronavírus
foi criado pelo Bill Gates que patenteou porque quer diminuir a população
mundial. E esse homem nomeia Ministro da Educação! Abraham Weintraub foi
designado por esse homem. O Ricardo Vélez foi designado por esse homem. O
Ernesto Araújo foi designado por esse homem. Quer dizer, nós estamos vivendo
numa ópera bufa. É uma coisa assim inacreditável. A gente ri... a gente teria
que chorar... mas vamos deixar o choro. Nós somos um país alegre. Quando é que
essa gentalha usando a Doutora Florinda, a grande Filósofa mexicana, mãe do Sociólogo
Kiko; quando é que essa gentalha vai embora? Não é? É a pergunta que eu faço.
Alguém vai ficar contra o que eu estou dizendo? É impossível. Se tiver
neurônios e se comunicarem entre si não fica. É isso. É fato. Quer dizer, o
homem diz que o Coronavírus foi criado pelo Bill Gates que patenteou com o
objetivo de diminuir a população mundial!? É inacreditável. É inacreditável,
não é? Agora, a gente fala fala fala e eles falam: “- mas você está com uma
mania de perseguição.” Não, é fato. E o duro é que esse homem foi homenageado
na nossa Embaixada em Washington, por sinal nós estamos sem embaixador há quase
1 ano. Desde que o Sérgio Amaral, excelente embaixador, saiu. Quase um ano.
Esse homem foi chamado de herói nacional na nossa embaixada. É uma humilhação.
O Brasil nunca foi assim. Nunca. Quer dizer, um sujeito desse, que diz que o
Coronavírus foi inventado pelo Gates que patenteou para diminuir a população
mundial é chamado de heróí nacional, de gênio. Não é possível, não é? Não é
possível. O Brasil não foi assim. Você é jovem. Não acredite. Nós fomos um
grande país. Vamos continuar a ser um grande país. Mas essa gentalha tem que ir
embora.
Professor Marco Antônio Villas
Rápido Comentário Josias
Uma frase é ... A cabeça do presidente da
República do Brasil é um espaço baldio onde esse personagem, Olavo de Carvalho,
de vez em quando, joga lixo. É muito triste constatar isso. Mas é o que
acontece.
“Um General na Biblioteca. Foi assim que Ítalo Calvino nomeou seu conto
acerca da aventura de Fedina, militar de alta patente escalado para uma árdua
missão em meio a um enorme acervo de objetos considerados perigosos: os livros.”A INVENÇÃO DA IMAGEM AUTORAL DE CHICO XAVIER: ANDRÉ VICTOR
CAVALCANTI SEAL DA CUNHA
CHARLES
DICKENS (1812-1870 | Inglaterra)
"Cada época sepulta uns tantos autores. E a nossa enterrou
Dickens." Foi o que escreveu Nelson Rodrigues numa crônica de 1968,
lamentando o esquecimento do romancista de Oliver Twist, David
Copperfield, o escritor inglês mais lido no mundo, com a exceção talvez de Sir
Walter Scott - aliás, outro esquecido. O Sinaleiro pertence a uma zona
nebulosa, ou intermediária, entre o conto de terror, ou sobrenatural, e o conto
policial, que mal se iniciava na sua época. Aliás, é possível que Dickens tenha
começado a se interessar pelo romance policial pela influência de seu amigo
Wilkie Collins (vide conto seu nesta antologia). Tanto que, ao morrer, deixou
sua primeira tentativa no gênero inacabada, O Mistério de Edwin Drood. (E a
própria vida, talvez confirmando o autor, se encarregou de dar um ar
sobrenatural ao futuro deste romance, que teve várias tentativas de finalização
via psicografia (!): inclusive por parte de um operário inculto e espírita que
teria recebido o "espírito "do próprio Dickens.)
PARTE I
- Olá! Você aí embaixo!
Quando ouviu a voz que o chamava, estava de pé junto à porta da guarita
com sua bandeirola enrolada na mão. Parecia impossível, dada a natureza do
terreno, que houvesse alguma dúvida quanto à origem da voz que o chamava, mas
ao invés de olhar para cima, onde eu estava no alto do corte íngreme do
barranco quase sobre sua cabeça, o homem olhou estrada abaixo pelos trilhos.
Havia naquilo algo de inusitado que me chamou a atenção, embora não
conseguisse, mesmo querendo, determinar o que era. Mas sei que alguma coisa
havia, pois me chamou a atenção, apesar de sua figura pouco visível e
sombreada, lá embaixo no fundo do escavado, e da minha posição sobre ele, tão a
pique no brilho forte do sol poente, que fui obrigado a fazer uma sombra sobre
os olhos com a mão para conseguir vê-lo.
- Olá! Você aí embaixo!
Afinal, deixou de olhar para os trilhos, virou-se e, levantando os olhos, viu minha figura no
alto sobre ele.
- Existe um caminho que eu possa descer para falar com você?
Olhou-me sem responder, e eu o olhei de volta, sem pressioná-lo com uma
imediata repetição da pergunta. Naquele momento, senti uma vaga vibração no ar
e na terra, que logo se transformou numa pulsação violenta, e senti um
deslocamento de ar sob meus pés, que me fez dar um passo atrás, quase com medo
que tivesse força de me sugar. Quando a fumaça, que subira do trem expresso, se
dissipava sobre minha cabeça e desaparecia no horizonte, olhei para baixo outra
vez e vi o homem enrolando de novo a bandei-rinha que acenara à passagem do
trem.
Repeti minha pergunta. Depois de uma pausa, durante a qual parecia me
examinar com atenção, fez um gesto com a bandeira enrolada mostrando um ponto
no alto do barranco a uns duzentos ou trezentos metros de mim. Gritei para ele:
"Tudo bem!"; e fui para o ponto indicado, onde, olhando de perto,
encontrei a picada que descia em ziguezague.
A descida do barranco era muito íngreme, quase em precipício. Era um
corte lamacento na pedra que se tornava cada vez mais molhado à medida que
descia. Isto fez o percurso longo o bastante para que eu tivesse tempo de
pensar no ar de relutância que o homem tivera ao apontar o caminho.
Quando já descera o bastante para tornar a vê-lo, notei que estava
parado entre os trilhos, ali por onde o trem passara minutos atrás, numa
posição de espera para me ver aparecer. Estava com a mão esquerda no queixo e o
cotovelo apoiado no braço direito cruzado no peito. Sua atitude era de tal
atenção e expectativa que me fez parar por um momento, pensativo com a cena.
Retomei minha descida até o nível dos trilhos e, me aproximando dele,
percebi que era um homem magro e moreno com uma barba escura e sobrancelhas
cerradas. Seu posto era no lugar mais deprimente e solitário que eu já vira. De
cada lado, uma parede de pedra úmida e limosa eliminava a possibilidade de
qualquer vista a não ser uma faixa estreita de céu acima; numa direção se via
apenas a prolongação tortuosa deste grande calabouço, a perspectiva mais curta
no outro sentido terminava numa mortiça luz vermelha e no escuro arco de
entrada de um túnel negro, em cuja massiva arquitetura havia um ar bárbaro, de
tristeza inóspita. Era tão pouco o sol que entrava ali, que o lugar cheirava a
terra úmida e a coisa morta; e o vento frio, canalizado entre as paredes,
provocou em mim um arrepio gélido e a sensação de haver abandonado o mundo
real.
Não se moveu até que eu chegasse tão próximo que poderia tocá-lo com a
mão. Sem tirar, nem mesmo então, seus olhos dos meus, deu um passo atrás e
levantou o braço.
Aquele era um posto solitário para ocupar (eu disse), chamara minha
atenção quando olhara lá de cima. Calculara que seria raro que o visitassem. E
minha visita seria uma raridade não de todo mal vinda, eu esperava. Em mim, que
ele visse apenas um homem que passara toda a vida limitado em seus movimentos e
que, livre afinal, tinha seu interesse despertado para a novidade destes
grandes trabalhos. Foi este o teor do que disse, mas não estou seguro dos
termos que usei, porque além de minha dificuldade em iniciar uma conversação,
havia alguma coisa no homem que me intimidava.
Lançou um estranho olhar na direção da luz vermelha diante da entrada do
túnel e a examinou como se faltasse alguma coisa ali, depois olhou para mim.
Aquela luz era uma de suas responsabilidades? Não era assim?
- O senhor já não sabia que era? - respondeu em voz baixa.
Um pensamento monstruoso me veio à mente, enquanto examinava os olhos
fixos naquele rosto saturnal, aquele era um espírito e não um homem. Desde
então, várias vezes especulei se não seria um doente mental.
Foi minha vez de dar um passo atrás, mas enquanto o fazia, detectei em
seus olhos um medo latente de mim. Isto fez com que desaparecessem meus
receios.
- O senhor me olha - eu disse, forçando um sorriso - como se tivesse
medo de mim.
- Estava na dúvida - respondeu-me - se já o vi antes.
- Onde?
Apontou para a luz vermelha que olhara antes.
- Ali? - perguntei.
Intensamente atento a meus movimentos (sem um som), ele respondeu:
- Sim.
- Meu bom homem, o que eu estaria fazendo ali? Seja como for, posso
assegurar-lhe que nunca estive ali. Pode estar certo disto.
- Acho que não - respondeu. - Estou certo que não.
Seus modos se aliviaram, assim como os meus. Respondia às minhas
perguntas com mais facilidade e com palavras bem escolhidas. Tinha muito trabalho
ali? Sim, quer dizer, tinha muita responsabilidade; mas precisão e atenção eram
tudo que isto exigia. Em matéria de trabalho mesmo, trabalho com as mãos, não
havia quase nenhum. A respeito daquelas horas, longas e solitárias, que
pareciam me impressionar tanto, tudo que podia dizer era que a rotina de sua
vida se amoldara a elas, e acabara se acostumando. Aproveitara o tempo para
aprender uma outra língua, se é que podia dizer que a aprendera, já que apenas
a lia, tendo formado suas próprias idéias de como se pronunciavam as palavras.
Estudara frações e decimais, tentara também um pouco de álgebra, mas, desde
garoto, nunca fora bom com números. Era sempre necessário que ficasse ali,
naquela corrente de ar úmido. Não podia nas horas livres sair um pouco de entre
aquelas paredes e subir lá em cima para pegar um pouco de sol? Bem, isto
dependia da época e das circunstâncias. Em certas ocasiões, havia menos tráfego
na linha do que em outras, assim como em certas horas do dia ou da noite.
Quando o tempo estava bom, às vezes, escolhia a ocasião para subir um
pouco acima das sombras, mas como tinha de estar sempre atento à chamada da
campainha elétrica, e nestas horas com redobrada atenção, o alívio não chegava
a ser aquele que eu imaginava.
Levou-me até a sua guarita, onde havia um fogo, uma mesa para um livro
oficial onde devia fazer certas entradas, um aparelho telegráfico, com seu
mostrador e agulhas, e a pequena campainha elétrica de que falara. Quando pedi
que me perdoasse notar que ele era um homem instruído e talvez (sem nenhuma
ofensa implícita) mais instruído do que seria de se esperar de alguém com seu
cargo, observou que casos assim de aparente incongruência não eram raros em
grandes corporações, que ouvira dizer que era assim nas fábricas, na polícia,
mesmo, naquilo que era para muitos um último e desesperado recurso, no
exército; e que sabia ser assim também entre o pessoal de qualquer grande
ferrovia. Fora quando jovem (Será que eu acreditaria? Era difícil para ele
mesmo acreditar nisto, sentado naquela cabana.) estudante de filosofia e
assistira às aulas, mas fora disperso, desperdiçara sua oportunidade, e caíra
para não mais se levantar. Não tinha queixas, fizera sua própria cama, e agora
se deitava nela. Era muito tarde para fazer outra.
Tudo isto que resumi aqui, ele me disse com seu jeito quieto, com os
olhos escuros e graves divididos entre mim e o fogo. Vez ou outra usava a
palavra "Senhor", especialmente enquanto falava de sua juventude, como
para fazer-me entender que não pretendia ser mais do que aquilo que era. Várias
vezes foi interrompido pela pequena campainha elétrica, e teve de ler mensagens
e enviar respostas. Por uma vez teve que sair da guarita para acenar com a
bandeira para um trem que passava e dizer alguma coisa ao maquinista. No
cumprimento de seus deveres, observei que era muito atento e preciso,
interrompendo seu discurso no meio de uma palavra e só voltando a falar depois
de terminar o que tinha a fazer.
Em uma palavra, diria que este era o mais responsável e seguro dos
homens para a função que exercia, não fosse pela circunstância de que duas
vezes, enquanto falava comigo, empalideceu de repente olhando para a campainha
que não tocara, abrindo a porta da cabana (fechada por causa da umidade) para
olhar na direção da luz vermelha junto à entrada do túnel. Nas duas ocasiões,
voltou para o fogo com aquele ar inexplicável que eu notara sem ser capaz de
definir quando o vira de longe.
Quando me levantei para sair, disse a ele:
- O senhor quase me deixa com a impressão de haver encontrado um homem
satisfeito da vida - confesso que disse isto para fazê-lo falar mais.
- Acredito que já fui - respondeu, naquela mesma voz baixa que usara no
início -, mas estou confuso, senhor, estou confuso.
Engoliria as palavras se pudesse. Já as dissera, porém, e eu fui rápido
em pegá-las.
- Com quê? Qual é seu problema?
- Não é fácil explicar. É muito difícil mesmo falar no assunto. Se o
senhor me fizer outra visita, num outro dia, tentarei contar.
- Mas é claro que pretendo fazer outra visita. Quando poderei vir?
- Largo cedo, de manhã, e estarei de volta ao trabalho às dez da noite,
amanhã.
- Virei às onze.
Ele me agradeceu e me acompanhou na saída.
- Vou iluminar-lhe o caminho com minha lâmpada - disse na sua voz baixa
- até a ladeira no barranco. Quando encontrar o caminho não precisa gritar
avisando. Quando chegar lá em cima não precisa gritar se despedindo.
Seus modos faziam que eu sentisse o lugar ainda mais frio, mas disse
apenas:
- Tudo bem.
- E quando vier amanhã à noite, não precisa me chamar gritando. Deixe
que lhe faça uma última pergunta. Por que gritou para mim: "Olá! Você aí
embaixo!" esta noite?
- Sabe Deus por quê! - disse. - Gritei alguma coisa para chamar sua
atenção.
- Não foi alguma coisa, senhor. Foram estas exatas palavras. Eu as
conheço bem.
- Admitindo que foram estas as palavras que usei, eu as disse
provavelmente porque o vi aqui embaixo.
- Por nenhuma outra razão?
- Que outra razão poderia haver?
- O senhor não tem a impressão que lhe foram ditadas de alguma forma
sobrenatural?
- Não.
Desejou-me boa noite e iluminou o caminho com sua lâmpada.
Caminhei pelos trilhos com a sensação desagradável de um trem vindo por trás de
mim, até encontrar a ladeira. Foi mais fácil subir do que descer, e voltei ao
meu hotel sem qualquer aventura.
PARTE II
Pontual ao meu encontro, na noite seguinte, comecei a descer a ladeira
enquanto nos relógios ao longe soavam as onze horas. Ele me esperava no fim da
íngreme descida com sua lanterna.
- Não chamei por você, como pediu - disse, quando nos aproximamos. -
Posso falar agora?
- Claro, senhor. Boa noite - disse, estendendo a mão.
- Boa noite, senhor - disse eu, e apertei-lhe a mão.
Caminhamos lado a lado até a sua guarita, entramos, fechamos a porta e
nos sentamos junto ao fogo.
- Tomei uma decisão - começou quase num sussurro, quando nos sentamos -
e o senhor não terá de perguntar outra vez o que é que me perturba. Ontem à
noite eu o confundi com outra pessoa e isto me incomoda.
- Este engano?
- Não, o que me perturba é esta outra pessoa com quem o confundi.
- Quem é ela?
- Não sei.
- Parece comigo?
- Não sei, nunca vi seu rosto. Tem o braço esquerdo cobrindo o rosto
enquanto acena com o direito. Acena com força. Assim.
Meus olhos viram o movimento de seu braço e era o movimento de alguém
gesticulando com veemência: "Pelo amor de Deus, saia do caminho."
- Numa noite de lua - disse o homem - estava sentado aqui quando ouvi
uma voz gritar: "Olá! Você aí embaixo!" Levantei-me, olhei pela porta
e vi esta pessoa de pé junto à luz vermelha, perto do túnel, gesticulando como
lhe mostrei. Sua voz parecia rouca de gritar e dizia: "Cuidado! Cuidado!"
E de novo: "Olá! Você aí embaixo! Cuidado! Cuidado!" Peguei minha
lanterna, coloquei-a em vermelho e corri para a figura, gritando: "Qual é
o problema? Que foi que aconteceu? Onde?" Continuou parado ali, junto à
escuridão do túnel. Cheguei tão perto dele que estranhei que continuasse com o
braço cobrindo os olhos. Corri direto para ele, e tinha a mão estendida para
puxar sua manga, quando ele desapareceu.
- Para dentro do túnel - disse eu.
- Não. Corri para dentro do túnel, quinhentos metros. Parei e levantei a
lâmpada acima de minha cabeça, e vi os números que marcavam a distância, e vi a
umidade descendo pelas paredes e pingando do arco. Corri de volta ainda mais
rápido do que quando entrara (porque sentia um pavor mortal naquele
lugar), e procurei por toda parte, com minha própria lanterna vermelha,
junto à outra luz vermelha. Subi depois pela escada de ferro até a galeria
acima da luz, e corri até aqui para telegrafar para ambas as direções:
"Foi dado um alarme. Qual é o problema?" A resposta veio dos dois
lados: "Tudo bem."
Resistindo ao toque de um dedo gelado que lentamente me corria a
espinha, mostrei a ele como esta figura deveria ser apenas uma ilusão de ótica,
pois se sabia que muitos casos semelhantes eram originados por enfermidades dos
delicados nervos que comandam as funções dos olhos, havendo mesmo pessoas que
chegaram a ter consciência do mal que as afetava, comprovado por experiências a
que elas próprias se submetiam.
- Quanto ao grito imaginário - disse eu -, enquanto falamos baixo, ouça
o vento tocando harpa nos fios do telégrafo, dentro deste vale artificial.
Estava tudo muito bem, respondeu, depois de ouvirmos o vento em silêncio
por algum tempo, embora eu achasse que sabia alguma coisa sobre o ruido do
vento nos fios depois de passar, com freqüência, longas noites de inverno ali,
sozinho e acordado. Mas gostaria de lembrar que não terminara ainda.
Pedi que me perdoasse. Lentamente continuou sua narrativa, tocando meu
braço.
- Seis horas depois da "aparição", aconteceu o famoso acidente
nesta linha, e dez horas depois, os mortos e feridos estavam sendo trazidos
para o lugar exato onde a figura estivera.
Senti um desagradável arrepio passar por minha pele, mas esforcei-me o
melhor que pude para lutar contra ele. Não se podia negar - eu respondi - que
se tratava de uma extraordinária coincidência, quase feita de encomenda para
impressioná-lo. Mas era um fato inegável que coincidências extraordinárias
aconteciam continuamente, e isto devia ser levado em consideração, quando
lidamos com casos assim. Embora deva admitir (porque percebi que ele se
preparava para levantar este argumento contra minha linha de raciocinio) que
pessoas de bom senso não costumam acreditar muito em coincidências.
Outra vez pediu licença para dizer que não havia terminado.
Outra vez me desculpei por interrompê-lo.
- Isto - disse ele, outra vez colocando a mão sobre meu braço, e olhando
por sobre o ombro com seus olhos fundos - foi no ano passado. Passados seis ou
sete meses, já me havia recuperado da surpresa e do choque, quando uma manhã,
ao nascer do sol, olhando da porta na direção daquela luz vermelha, vi outra
vez o espectro - disse isto com os olhos fixos em mim.
- Ele gritou?
- Não. Estava em silêncio.
- Acenava com o braço?
- Não, encostava-se no mastro da lâmpada, com as duas mãos sobre o
rosto.
Assim.
Outra vez acompanhei a imitação que fazia. Era a postura de alguém
chorando a morte de um ente querido. Já vi postura assim em imagens de pedra
sobre sepulturas.
- Você foi até onde ele estava.
- Eu entrei e me sentei, em parte para organizar meus pensamentos, em
parte porque a visão me deixara tonto. Quando voltei à porta, a luz do dia
estava alta sobre mim e o fantasma desaparecera.
- E não aconteceu mais nada?
Tocou-me no braço com o indicador, duas ou três vezes, enquanto com a
cabeça acenava que sim.
- Naquele mesmo dia, quando um trem saía do túnel, reparei, através da
janela de um dos vagões, uma confusão de cabeças e de mãos, e alguma coisa
acenava. Vi isto ainda em tempo de sinalizar para o maquinista:
"Pare!" Ele desligou o vapor e freou violentamente, mas o trem
arrastou-se por uns cento e cinqüenta metros ou mais. Corri atrás dele, e, enquanto
corria, ouvi gritos e choros horríveis. Uma linda jovem morrera em um dos
compartimentos. Trouxeram-na para cá e a colocaram deitada neste chão entre
nós.
Num gesto involuntário, afastei a cadeira enquanto olhava as tábuas do
chão que ele apontava, como para si mesmo.
- É verdade, senhor. É verdade. Aconteceu exatamente como estou lhe
contando. Não consegui pensar no que dizer, em qualquer sentido, e senti minha
boca muito seca. A música do vento nos fios do telégrafo acompanhava a
história, como um longo gemido de lamento.
- Agora - ele continuou - preste atenção nisto e julgue o senhor mesmo
se tenho ou não razões para sentir-me assim perturbado. Há uma semana, o
espectro voltou; e desde então, volta e meia aparece ali.
- Na luz?
- Na luz de perigo.
- Que é que ele faz?
- Parece repetir ainda com mais veemência (se isto fosse possível) a
gesticulação com o braço de "Pelo amor de Deus, saia do caminho".
- Não tenho mais paz de espírito - continuou. - Ele me chama por minutos
a fio: "Você aí embaixo! Cuidado! Cuidado!" Fica ali acenando para
mim. Faz soar minha campainha elétrica.
- Ele tocou a campainha, ontem à noite, quando eu estava aqui, e você
foi até à porta?
- Duas vezes.
- Bem, veja - disse eu - como sua imaginação pode enganá-lo. Eu tinha os
olhos na campainha, e meus ouvidos estavam atentos a ela, e, tão certo quanto o
fato de estar vivo, sei que a campainha não tocou naquelas vezes. Nem em
nenhuma outra hora, exceto quando a estação chamou numa comunicação normal e
sem nada de sobrenatural.
- Nunca cometi um engano assim - disse, sacudindo a cabeça. - Nunca
confundi o toque do espectro na campainha com o toque humano. O toque do
fantasma produz uma estranha vibração na campainha que não é provocada por
nenhuma outra coisa, e nem eu disse que podia ser visto por olhos humanos. Não
me espanta que o senhor não o tenha ouvido. Mas eu ouvi.
- E o espectro estava lá quando você olhou?
- Sim, estava lá.
- Nas duas vezes?
- Nas duas vezes - repetiu com firmeza.
- Você viria comigo até a porta, para ver se está lá?
Mordeu seu lábio inferior, como se não quisesse ir, mas levantou-se e
veio. Abri a porta e fiquei ali no degrau com ele a meu lado. Viam-se as duas
paredes de pedra úmida. Viam-se as estrelas por sobre elas.
- Você o vê? - perguntei, observando com atenção seu rosto. Seus olhos
estavam arregalados e assustados, mas não muito mais, talvez, que meus próprios
olhos deviam estar quando olharam naquela direção.
- Não - respondeu. - Não está ali.
- Também não vejo nada - concordei.
Entramos de novo e retomamos nossos assentos. Foi enquanto pensava na
melhor maneira de ampliar esta vantagem (se podemos chamar assim), considerando
que não poderia haver dúvidas entre nós quanto aos
fatos, que me senti na mais fraca das posições.
- Agora - disse ele - o senhor pode entender bem que a questão que me
perturba mais profundamente é a de entender o que o espectro quer dizer.
Disse-lhe que não estava seguro de entender o que queria dizer com isto.
- O que ele estará querendo avisar? - disse, ruminando, com os olhos
perdidos no fogo, e apenas às vezes os voltando para mim. - Qual é o perigo?
Qual é o perigo? Algum perigo paira sobre a linha, e em algum lugar alguma
terrível calamidade vai acontecer. Não há como duvidar depois do que já
aconteceu. É a terceira vez. Mas é cruel a dúvida que me assombra e persegue.
Que é que eu posso fazer?
Tirou o lenço e limpou o suor da testa quente.
- Se telegrafar um aviso de perigo, para qualquer lado, não poderia
justificá-lo -continuou, enxugando as palmas de suas mãos no lenço. - Só
criaria problemas, e não seria de ajuda a ninguém. Pensariam que enlouqueci.
Imagine como seria: Mensagem: "Perigo! Cuidado!" Resposta: "Que
Perigo? Onde?" Mensagem: "Não sei. Mas, pelo amor de Deus, tomem
cuidado!" Eu seria despedido. Que mais poderiam fazer?
Seu sofrimento mental fazia pena. Era uma tortura para alguém de
consciência como aquele homem, oprimido pelo peso insuportável de uma
responsabilidade absurda que envolvia a vida e a morte.
- Quando estive pela primeira sob a luz de perigo - continuou, tirando
seu cabelo negro da testa e passando a mão na têmpora num desespero febril -
por que não me avisou onde aconteceria o acidente? Por que não me disse como
evitá-lo, se podia ser evitado? Quando, na segunda vez, escondeu seu rosto, por
que não me contou: "Ela vai morrer, faça com que fique em casa?" Se
veio, nas duas ocasiões, apenas para me provar que seus avisos eram verdadeiros
e me preparar para o terceiro, por que não me explica agora o que vai
acontecer? E depois, Deus do céu, sou apenas um pobre sinaleiro perdido neste
posto solitário! Por que não ir até alguém em posição de ser acreditado, e com
poder para agir?
Vendo-o neste estado, entendi que tanto para o bem do pobre homem,
quanto para a segurança pública, o que tinha a fazer naquele momento era
acalmar sua mente. Assim, deixando de lado qualquer questão entre nós, quanto à
realidade ou não de tudo aquilo, tentei mostrar-lhe que quem quer que seja
atento às suas responsabilidades não pode ter culpa; que ele era consciente das
suas, ainda que fosse impossível entender as atormentadoras aparições. Neste
sentido, tive melhores resultados do que antes na tentativa de convencê-lo a
abandonar suas convicções. Acalmou-se, as tarefas ocasionais de seu trabalho
começaram a exigir mais de sua atenção, e eu o deixei às duas da manhã.
Ofereci-me para ficar com ele por toda a noite, mas ele não quis aceitar.
Que por mais de uma vez voltei-me para olhar aquela luz vermelha enquanto
subia a ladeira, que aquela luz não me agradava, e que na certa eu dormiria mal
se tivesse que viver junto dela, são coisas que não vejo motivos para negar. Da
mesma forma, não posso negar que a coincidência dos dois acidentes e da jovem
morta não me agradava.
Mas o que mais ocupava meus pensamentos era a indagação de como deveria
agir, depois daquela revelação. Confirmara com meus olhos que aquele homem era
inteligente, vigilante, esforçado e preciso; mas por quanto tempo continuaria
assim, com os nervos naquele estado? Embora numa posição subalterna, seu cargo
era de extrema responsabilidade; será que eu mesmo seria capaz de apostar minha
vida na probabilidade de que ele continuaria a exercê-lo com a precisão
necessária?
Ao mesmo tempo não conseguia me livrar da idéia de que havia algo de
traiçoeiro e desleal em levar a seus superiores na companhia o que ele me confidenciara,
sem antes falar com ele mesmo e propor-lhe uma solução de meio-termo. Resolvi,
assim, sugerir (mantendo enquanto isto em segredo o que me contara) que
fôssemos juntos consultar o melhor médico que houvesse na região, para ouvir
sua opinião. Uma mudança no seu horário de trabalho aconteceria na noite
seguinte, e ele deixaria o serviço uma hora ou duas depois do amanhecer, para
voltar só depois de o sol se pôr. Tinha marcado com ele de voltar a visitá-lo
em função deste novo horário.
O anoitecer do dia seguinte foi lindo, e comecei minha caminhada cedo
para aproveitá-lo ao máximo. O sol não caíra ainda totalmente, quando
atravessei o prado perto do corte da linha. Alongaria meu passeio em uma hora,
disse a mim mesmo, meia hora para ir e meia hora para voltar, e estaria ali
pontual ao encontro na guarita do sinaleiro.
Antes de prosseguir a caminhada, cheguei junto à borda e mecanicamente
olhei para baixo do ponto onde o vira pela primeira vez. Não posso descrever o
terror de que fui tomado, quando vi, próxima à entrada do túnel, a aparição de
um homem, com a manga do braço esquerdo cobrindo os olhos e acenando com
energia o direito.
O inominável horror que me oprimia passou em um momento, porque, num
instante, notei que esta aparição era na verdade um homem, e que havia um
pequeno grupo de outros homens, não muito distante, para quem ele parecia estar
ensaiando aquela gesticulação. A luz de perigo ainda não fora acesa. Contra seu
poste havia uma pequena cabana baixa, completamente nova para mim, feita de
suportes de madeira e lona. Não parecia maior que uma cama.
Com uma forte sensação de que algo estava errado, com um misto de medo e
recriminação, imaginando que algum acidente fatal resultara de haver deixado
aquele homem ali, sem ninguém para supervisionar e corrigir o que fizesse,
desci a ladeira o mais rápido que pude.
- Que foi que aconteceu? - perguntei aos homens.
- Um sinaleiro foi morto esta manhã, senhor.
- Não o homem daquela guarita?
- Sim, senhor.
- Não o homem que conheci?
- O senhor o reconhecerá, se o conheceu - disse o homem que falava pelos
outros, solene, descobrindo a cabeça e levantando uma ponta da lona. - Seu
rosto está bastante decomposto.
- Como aconteceu? Oh! Como aconteceu? - perguntei, virando-me para um e
para outro, enquanto a lona se fechava outra vez.
- Foi atropelado por uma locomotiva, senhor. Ninguém na Inglaterra
conhecia seu trabalho melhor do que ele. Mas de algum jeito ele estava junto
aos trilhos. Era dia claro. Atingira a lanterna e tinha a lâmpada na mão.
Quando a locomotiva saiu do túnel, ele estava de costas para ela. Aquele homem
era o maquinista e estava mostrando como aconteceu. Mostre a este senhor, Tom.
O homem, vestido com uma roupa escura e grosseira, voltou para o lugar
onde estava antes, na entrada do túnel.
- No fim da curva, dentro do túnel, eu o vi de longe como por uma
luneta. Não havia tempo para diminuir a velocidade, e sabia que ele era um
homem cuidadoso. Como ele parecia não ouvir o apito, quando já estávamos quase
sobre ele, eu o deixei de tocar e gritei o mais alto que pude.
- Gritou o quê?
- Disse: "Você aí embaixo! Cuidado! Cuidado! Pelo amor de Deus,
saia do caminho!" Eu estava mudo.
- Ah! Foi uma coisa horrível, senhor! Não parei de gritar com ele.
Coloquei um braço diante dos olhos para não ver e com o outro acenei para ele
até o final.
Sem prolongar a narrativa para lidar com uma de suas curiosas
circunstâncias mais do que com qualquer outra, me permito apenas, ao
terminá-Ia, notar que as coincidências no aviso do maquinista incluíam não
apenas as palavras que assombravam o desafortunado sinaleiro como ele as
repetiu para mim, mas também a expressão que apenas em minha mente eu associara
àquele gesto de braço acenando que ele imitara.
Tradução de Octávio Marcondes
Os 100 Melhores Contos de Crime e Mistério da
Literatura Universal
The
Signalman (Charles Dickens)
Publicado em25 de abril de 2011por Clarisse
Halloa! Below
there!. Estas são as primeiras palavras deste conto de
Dickens, e elas permeiam toda a narrativa a seguir. The Signalman é a história de um sinaleiro, um
funcionário de uma ferrovia, encarregado de avisar os trens de perigos e passar
outros recados através de um sistema telegráfico. A primeira frase é gritada do
alto de um promontório pelo narrador do conto. Este, libertado de uma vida
entre muros, garante possuir uma curiosidade nova sobre os “grandes trabalhos”.
A primeira reação do sinaleiro não é das melhores.
Ele avista o narrador como uma assombração, e leva algum tempo esboçar uma
reação amistosa. Os dois personagens passam então a conversar. Sobre o trabalho
de sinaleiro, suas responsabilidades, sua educação. O sinaleiro então lhe conta
sua história e confessa estar se sentindo atordoado. No dia seguinte este
confessa ao narrador seus medos. Fala-lhe sobre a aparição que lhe dá sinais de
perigo os quais não consegue decifrar corretamente, e que parecem vir sempre
antes de grandes tragédias. É uma história arrepiante e para lá de ambígua.
Dickens é especialista em ambientar suas
narrativas, e consegue instigar no leitor, em pouquíssimas palavras, o
sentimento de solidão e morte que emana da estação do sinaleiro. Desde o
primeiro momento o leitor é levado a duvidar de cada palavra da narrativa. Dada
a reação do sinaleiro, seus medos, o espectro que o assombra (fisicamente
parecido com o narrador), cada detalhe pode ser interpretado de várias
maneiras.
Sem saber em que confiar, o leitor é levado ao
assombro pela história do funcionário, inquirido pelo narrador, que procura
sempre racionalizar quaisquer indícios sobrenaturais, usando os argumentos
bastante conhecidos dos céticos: É uma alucinação passageira, foi o vento, é
pelo fato de ficar sozinho à noite. Mas o sinaleiro parece um homem razoável,
cioso de suas responsabilidades, são. Sua angústia vem menos do fantasma e mais
pelo fato de não poder evitar o mal causado. Sem querer, o narrador acaba por
se sentir também receoso da aparição, a ponto de perder o sono.
É difícil descrever minha reação ao ler o conto, o
sentimento de frio na espinha, a sensação de solidão passada pela história do
sinaleiro, a aparente falta de motivo do narrador estar lá e passar tanto tempo
com ele. Mil teorias passaram pela minha cabeça, e cada uma foi revista e
negada para ser substituída por outra. O final é um gigante ponto de
interrogação, algo sempre interessante quando tratamos de histórias
fantásticas. Dickens delegou ao leitor a explicação dos acontecimentos, ou se
eles de fato ocorreram, ou quem estava vivo ou morto no final desta história.
É daqueles contos que nos acompanham muito tempo
depois de lidos, nos faz buscar um motivo, uma explicação razoável – científica
ou sobrenatural – para o acontecimento. Uma bela história de fantasmas
The Signalman - Charles Dickens BBC GHOST
STORY FOR CHRISTMAS 1976
Classic BBC adaptation of The
Signalman by Charles Dickens. Starring Denholm Elliott. 1976.