Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 28 de maio de 2023
CONTAR É MUITO DIFICULTOSO
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Balancê
Gal Costa
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Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
Ô balancê balancê
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
Ô balancê balancê
Quando por mim você passa
Fingindo que não me vê
Meu coração quase se despedaça
No balancê balancê
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
O balancê balancê
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
O balancê balancê
Você foi minha cartilha
Você foi meu abc
E por isso eu sou a maior maravilha
No balancê balancê
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
O balancê balancê
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
O balancê balancê
Eu levo a vida pensando
Pensando só em você
E o tempo passa e eu vou me acabando
No balancê balancê
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
O balancê balancê
Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
O balancê balancê
Ô balancê balancê
Ô balancê balancê
Ô balancê balancê
Ô balancê balancê
Composição: Alberto Ribeiro / João de Barro.
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CORAGEM - A agressão ao jogador em Valência (à dir.) e Muhammad Ali, ao lado de Luther King: é preciso ser antirracista (AP; Mateo Villalba/Quality Sport Images/Getty Images)
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Carta ao Leitor: Somos todos Vinicius Jr.
O atleta pode representar um ímã de transformação — o início do fim de atitudes racistas, por meio de condenações legais e outras punições
Por Da Redação Atualizado em 26 Maio 2023, 12h18
Poucas vezes, na história do esporte, um personagem de visibilidade internacional teve a coragem do atacante brasileiro Vinicius Jr., do Real Madrid e da seleção brasileira. No domingo 21, depois de ter sido chamado de “macaco” por torcedores do Valencia, na Espanha, ele foi às redes sociais denunciar o racismo de que fora vítima: “O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas”. Houve comoção global. O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez revelou apoio ao jogador. O presidente Lula teve reação idêntica. Um dos mais tradicionais jornais esportivos, o Marca, cutucou muitos de seus leitores, atavicamente conservadores, e alertou na manchete: “Não basta não sermos racistas. É preciso ser antirracista”.
A postura valente de Vinicius Jr. é espantosa porque, ainda hoje, no século XXI, é difícil lutar contra a chaga do inaceitável preconceito atrelado à cor de pele — e é extraordinário vê-lo assumir a ponta de lança de um movimento necessário. Dá-se a dimensão do gesto do sorridente atleta de 22 anos com um rápido passeio histórico. De Pelé sempre se cobrou ativismo contra o racismo, como se fosse obrigado a ser rei também fora dos gramados. Ele sempre gostou de lembrar que, aos gritos estúpidos de torcedores do Boca Juniors, da Argentina, em 1962, em Buenos Aires — “los macaquitos de Brasil” —, respondia com gols, e apenas com gols. Michael Jordan, lenda viva do basquete, em 1990 foi publicamente cobrado por lideranças negras para que declarasse apoio à candidatura ao Senado do democrata Harvey Gantt, negro, em oposição a um republicano branco de ideias supremacistas. Jordan doou dinheiro para a campanha de Gantt — que seria derrotado —, mas jamais se pronunciou. Em nome da neutralidade ele diria: “Republicanos também compram tênis Nike”. Pelé e Jordan são filhos de seu tempo, e não é justo condená-los. Não ergueram bandeiras, mas ajudaram a quebrar a barreira que impedia o protagonismo negro em qualquer setor da sociedade, inclusive no esporte.
Nesse aspecto, o da louvável militância, porta-voz de um grito silenciado, Vinicius Jr. dá as mãos a um personagem gigante e incontornável, exceção à regra: Muhammad Ali, o maior pugilista de todos os tempos, que desferia socos com a frequência com que soltava opiniões políticas agudas, a um só tempo ícone dos ringues e da cultura dos anos 1960 e início dos 1970. O brasileiro, guardadas as devidas proporções, tem agora relevância de dimensão semelhante, multiplicada pelas redes sociais. Ele pode representar um ímã de transformação — o início do fim de atitudes racistas, por meio de condenações legais, afastamento dos estádios e outras punições. Somos todos Vinicius Jr.
Publicado em VEJA de 31 de maio de 2023, edição nº 2843
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domingo, 28 de maio de 2023
Dorrit Harazim - Espécie animal
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O Globo
Toda sociedade alicerçada no racismo tem medo de extirpá-lo, pois ele lhe aufere privilégio
A parte mais sensível do corpo de um urso é seu focinho. A informação, inútil para a maioria da população global, nunca foi mero fait divers para as seculares etnias de ciganos da Bulgária. Naquele pedaço dos Bálcãs, o controle de ursos pelo focinho era essencial para garantir a milenar forma de ganha-pão e entretenimento do povo roma: capturar, domesticar e treinar esses mamíferos de grande porte até que se tornassem servidores dóceis e atração ambulante. Com as narinas perfuradas por argolas de metal, os animais se sujeitavam a toda sorte de comandos inglórios, como dançar sobre patas traseiras ou ingerir bebidas alcoólicas.
Essa forma de entretenimento para humanos durou até o final do século XX. Foi somente com a implosão do bloco soviético, a que a Bulgária estava atrelada, que os ursos domesticados puderam empreender, também eles, a difícil transição do cativeiro para a liberdade. Não foi fácil. Quem melhor a descreveu foi o jornalista polonês Witold Szablowski, com “Dancing bears — True stories of people nostalgic for life under tyranny”, publicado cinco anos atrás, traduzido para uma dezena de línguas e já citado neste mesmo espaço. Retoma-se aqui o ângulo central da obra, mas para virá-la do avesso. O episódio de racismo escancarado contra o jogador brasileiro Vinícius Jr. , testemunhado pelo mundo na semana passada, serve de gancho para a releitura.
O livro de Szablowski, cujo estilo é equivocadamente comparado ao de seu portentoso conterrâneo Ryszard Kapuscinski, se divide em duas partes simétricas. Cada uma tem nove capítulos de títulos iguais, e eles se espelham. A primeira narra a história dos ursos, cujo cativeiro foi afrouxado por ONGs bem-intencionadas. A segunda trata da também complexa transição de sociedades comunistas para o capitalismo. Para os animais, a primeira etapa iniciou-se por liberdade vigiada (ou cativeiro mais civilizado) — eles precisaram ser ensinados a hibernar, foram castrados e, portanto, não conseguem se reproduzir, não sabiam sequer copular. Para horror dos ativistas encarregados de devolvê-los à natureza, alguns ursos, mesmo libertos de suas argolas, continuavam a erguer o corpanzil sobre duas patas para dançar como foram ensinados.
Outros, desnorteados, procuravam insistentemente com as patas dianteiras as argolas que não lhes aprisionavam mais as narinas. Um zoólogo ouvido pelo autor relatou que as equipes passavam horas observando os ursos para aferir o grau de liberdade de agressão instintiva que os animais conquistavam aos poucos.
— Eles passaram a viver numa espécie de laboratório de liberdade, onde os humanos lhes ensinavam a ser livres — explicou o autor em entrevista à National Public Radio dos Estados Unidos — A liberdade é complicada. Ela pode, até, ser muito penosa.
Assim como os ursos cativos não sabiam hibernar, não se alimentavam o suficiente no outono, por isso viravam osso no inverno, também as sociedades fechadas estavam mal preparadas para transitar por regimes mais democráticos, sempre sujeitos às turbulências do contraditório. Szablowski, inicialmente, colocara o atual czar russo Vladimir Putin na categoria dos adestradores, “o cara que sempre teve ursos, os usava e nunca soube fazer outra coisa na vida”. Mais recentemente, começou a se indagar se Putin e outros autocratas semelhantes não seriam, também, ursos amestrados, por não conhecerem outra vida. Cresceram não confiando em ninguém, desconhecem o funcionamento de instituições democráticas, são também prisioneiros do sistema por eles mantido.
É aqui que entra uma pergunta incômoda para o racismo secular que nesta semana mostrou seu focinho no estádio na Espanha. E se os aprisionados neste mundo desigual não forem os ursos, e sim seus amestradores — a civilização branca, incapaz de se libertar de sua própria desumanidade? O supremacismo branco grita por medo de perder a razão de ser. Não suporta a realidade de pertencermos todos à mesma espécie animal. Quanto mais náufrago, maior a violência do negacionista. Toda sociedade alicerçada no racismo tem medo de extirpá-lo, pois ele lhe aufere privilégios. O Brasil é o primeiro da lista a precisar se olhar no espelho para ter vergonha do que vê. A dor de ser negro, preto ou pardo, no Brasil é de uma infâmia superlativa. Somos todos coniventes.
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domingo, 28 de maio de 2023
Paulo Fábio Dantas Neto* - Os acertos da área econômica e os dilemas de Lula e Marina
A semana começou muito bem para o governo ou, pelo menos, para a banda do governo que lidera o esforço para acertar o passo na economia. Essa banda tem sido o que o presidente e o conjunto do seu governo precisam ser. A aprovação, pela Câmara dos Deputados, na terça-feira, 23, do arcabouço fiscal, por amplíssima margem de votos, foi, sem dúvida, um êxito que se deve creditar, em primeiro lugar, à habilidade, serenidade e paciência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tendo ao lado, em cooperação aberta, a ministra do Planejamento, Simone Tebet e, mais ao fundo, mas em sintonia, o vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Esse trabalho articulado e unitário da área econômica neutralizou objeções domésticas - que sabidamente existem, em setores da esquerda e do próprio governo - e colheu, para o presidente Lula, vitória significativa, numa conjuntura adversa, repleta de percalços e revezes, parte deles derivada de voluntarismos e açodamentos a granel, complicadores do discurso e ação do presidente e seu governo. Vitória ainda mais significativa por ter ocorrido por larga margem, num ambiente legislativo que tem se tornado crescentemente refratário, às vezes mesmo hostil, a intenções e pontos da agenda do Executivo. Vitória que coloca à disposição de analistas da política a evidência cabal de que é possível, sim, haver cooperação entre atores cujos papeis podem colocá-los, mais adiante, em situação de competição. O fato de Haddad, Simone e Alckmin poderem vir a ser nomes postos no tabuleiro eleitoral de 2026 não impede que atuem juntos, assumindo, como objetivo comum, algo que, além de interessar ao futuro político de cada um deles, interessa ao país, o qual torna-se credor desse realismo bem compreendido.
Outra parte da explicação do êxito na aprovação do arcabouço pode ser encontrada no fato de ser esta uma pauta comum do Executivo e de amplos setores do Legislativo que compartilham com aquele o compromisso com a pauta social, a ele associando outro, também prioritário, com o equilíbrio fiscal. O empenho pessoal do presidente da Câmara na aprovação da matéria liga-se também – talvez principalmente – a razões de pequena política, mas esse fato não deve desviar nossa atenção de outro, igualmente verídico, que é a sintonia da maioria da Casa com o “conceito” que o arcabouço consagra. Em sentido rigoroso, o regramento proposto pelo governo é, antes de tudo, o cumprimento de uma promessa do Executivo ao Legislativo, em contrapartida à generosa PEC dos gastos aprovada em dezembro, antes mesmo da posse de Lula, permitindo ao novo governo boas condições de navegação em 2023. Sem tirar o mérito da área econômica em compreender a necessidade vital de autocontenção, é preciso frisar que a Câmara aprovou – e o Senado certamente também o fará – matéria de interesse institucional mais seu do que do outro Poder, cujas ações o arcabouço permitirá legalmente controlar.
Assistir, no dia seguinte à votação, Fernando Haddad, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira falarem em coro sobre economia foi um tranquilizante de efeitos análogos aos que se verificaram, entre a eleição e a posse do novo governo, quando Lula, Pacheco e Lira afirmaram compromisso mútuo com a normalização institucional e quando o reiteraram na prática, com a atitude tomada diante da conspiração golpista de 8 de janeiro. Também tranquilizador foi assistir, na última quarta, o presidente do Banco Central, Campos Neto, fazer um elogio forte ao texto final aprovado, reconhecendo que Haddad trabalhou duro numa solução que afasta o risco de a dívida pública sair do controle. E sinalizar que o arcabouço, complementado por uma reforma tributária (resta saber qual reforma), pavimenta o caminho para a almejada queda da taxa de juros. As boas expectativas ganharam ainda mais impulso quando o trio Haddad, Pacheco e Lira declarou estar trabalhando para votar a reforma tributária imediatamente após o arcabouço, meta com a qual está alinhado o relator da proposta de reforma.
Tanto o ministro da Fazenda quanto o presidente da República sabem que nada disso garante êxito em resultados concretos na economia, sendo esse o desafio seguinte da área econômica. E não têm como esperar complacência do Congresso após concluída a definição das regras do jogo. O Legislativo propiciou a PEC dos gastos e propiciará a reforma tributária como compassos que o Executivo poderá abrir para agir, mas dispõe do arcabouço como uma régua para medir resultados. A fala de Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso, foi, de todas, a mais esclarecedora, didática mesmo: com o arcabouço tudo bem, com a reforma tributária também, ambos destinam-se a fazer a economia crescer de modo seguro e com responsabilidade social. Aí os poderes estão em sintonia. Mas nada feito quanto a mexer no marco do saneamento, no programa de capitalização da Eletrobras, ou na autonomia do BC.
O jogo não é de compadres e talvez por isso possa ser jogo franco e legal. O sistema está funcionando não para anular conflitos, mas para discipliná-los institucionalmente. Haddad colheu frutos para o governo, para o presidente e para si, como ministro, porque aceitou – convicto e sem meias palavras – dividir o protagonismo com o Congresso. Lula escolherá seguir esse exemplo ou fabricar outro. A ver.
Mas quanto ao Legislativo? É difícil entender razões da Comissão Mista da Medida Provisória 1154/2023 (que determinou, em 01.01.23, a organização atual de órgãos da Presidência da República e Ministérios) ter quebrado o clima apenas 24 horas após o desfecho reciprocamente exitoso da votação do arcabouço fiscal e provocado uma seríssima tensão política em torno da governação do meio ambiente, uma das mais sensíveis áreas de dissonância entre o programa do governo recém-eleito e interesses tidos como relevantes, senão majoritários no Congresso. Ao aprovar, no limite entre a aposta num conflito político e a incursão numa inconstitucionalidade, o relatório do deputado Isnaldo Bulhões, a comissão aprovou, dentre outras demandas reacionárias, uma forte retração nas prerrogativas e instrumentos de governança do Ministério do Meio Ambiente, expondo o Executivo a uma derrota com sabor de reversão de turbina. Mais que isso, expôs uma fissura no governo (que pode virar fratura) entre orientações produtivistas e preservacionistas no desenvolvimento do país. Esse confronto, trazido à superfície, está longe de se ater a aspectos “doutrinários”. Envolve fortes interesses materiais e políticos e carrega nuvens sobre o desafio de mostrar resultados lançado sobre a área econômica do governo. Num momento delicado em que a reforma tributária ainda não foi votada, isso pode anular o artefato político pacientemente construído pelos ministros da área econômica. No limite, pode colocar a ministra Marina Silva em colisão com esses ministros e o conjunto do governo.
Semelhante operação de guerra legislativa no âmbito de uma MP cujo conteúdo diz respeito especificamente ao modo do Executivo se auto-organizar provoca indignação nos setores atingidos e na opinião pública progressista, especialmente na parte dela que se identifica com o tema ambiental. Daí que logo se conjectura haver uma recorrente conspiração de forças historicamente inimigas de governos de esquerda, ou interpreta-se a situação do conflito dentro da antiga chave Executivo progressista X Legislativo reacionário. Vendo nos dois poderes essas respectivas “essências”, essa chave justifica invocar toda a sorte de decisionismos presidenciais como solução dos impasses, inclusive aqueles decisionismos que mandam a democracia à breca. Ainda que essa visão fosse retrato da realidade, caberia perguntar o que fazer para mudá-lo dentro do jogo, não fora dele, ou contra ele.
Mas penso nem ser esse o caso. As razões da provocação que jogou na cara da sociedade um mix de desmontes que parece mesmo, como disse a ministra Marina, insólita nostalgia do ciclo político anterior, devem ser procuradas - como sugeriu a cientista política Graziella Testa, da EPPG/FGV, em ótima entrevista à CNN (WW, 26.05.23) - na decisão do deputado Arthur Lira de criar situações-limite que mantenham o governo sob pressão e permanentemente nas cordas. Nessa pressão ela enxerga uma pressa de Lira em obter do Executivo apoio prévio aos planos que tem para sua própria sucessão na Câmara, nos mesmos moldes do que obteve, mesmo antes da posse de Lula, à sua reeleição. Pressa que, por sua vez, se assentaria na falta que faz ao deputado o acesso livre que tinha ao palácio no período anterior. Estaria tentando obter “por mal”, o que não pode mais obter por renúncia do interlocutor.
Para argumentar em favor dessa arguta percepção, a mesma cientista política alerta para que não se confunda dois processos reais e simultâneos, porém distintos. Um é o fortalecimento do Legislativo, outro, a hipertrofia do poder pessoal de Lira. O primeiro tem raízes estáveis, o segundo é contingente. Essa percepção ampara a ideia que vem sendo veiculada nesta coluna desde o final do ano passado, de que a aceitação estratégica de um poder compartilhado com o Congresso (reconhecendo o caráter irreversível, estrutural e potencialmente benigno do primeiro processo) é a melhor opção para o governo Lula praticar táticas eficazes de consolidação do bom entendimento já alcançado com Rodrigo Pacheco no Senado e de enfrentamento do poder pessoal hipertrofiado de Arthur Lira na Câmara.
Conforme essa compreensão, é um equívoco criticar Lula e a articulação política do governo pelo fato de não poder contrariar o congresso no momento da votação de matérias como a MP acima mencionada, o código florestal e o marco temporal das terras indígenas. A pauta ambiental é minoritária na própria base do governo e quando um conflito se instala não se pode exigir de Lula missões impossíveis e suicidas, ainda mais quando essa mesma base é necessária para aprovar o arcabouço fiscal e a reforma tributária. Uma vez tensionada a corda, esticá-la seria arriscar-se a sofrer, além da queda, o coice.
O que se pode e deve criticar é, em primeiro lugar, o critério (ou a falta de) do presidente e seu governo ao escolherem temas que valha a pena sustentar, no sentido programático, mesmo que de modo polêmico, correndo risco de alguma derrota pontual. Em si, não há nada de mau num governo sustentar visões não majoritárias de médio e longo prazos, quando a causa é cognitivamente racional, eticamente saudável e tem chances realistas de sucesso.
Acontece que o presidente e vários de seus ministros, em pouco tempo de governo, já perderam muita energia em querelas ideológicas ou populistas em torno, por exemplo, do papel do BC, do marco do saneamento e outros tópicos da agenda reformista tocada no país desde 2016 e que a esquerda acha que pode reverter. Assim como se desgastou consideravelmente defendendo teses discutíveis em assuntos polarizadores como sua relação com os militares e o combate a fakenews ou com meros delírios, como Lula querer mediar a guerra da Ucrânia e lançar lições ao Ocidente, para agradar sua plateia mais intestina. Tudo isso foi dispêndio de energia inútil ou nociva, que reergueu muros, em vez de consolidar pontes criadas com o campo liberal na recente luta comum contra a extrema-direita. Como segundo efeito colateral deixa a articulação do governo no Congresso mais vulnerável aos movimentos de Arthur Lira. Desprezando possíveis aliados estratégicos de longo prazo na guerra de posição contra a personificação do poder legislativo, o governo fia-se em Lula e sinaliza aos deputados de todas as bancadas que seguir Lira é o caminho mais curto. Levando água ao moinho do continuísmo na Câmara, é cada vez mais refém de um varejo com nome e sobrenome, ali maiores que os de Lula
Por outro lado, se há um tema em torno do qual o governo pode e deve afirmar valores e trabalhar por uma agenda positiva é o tema ambiental, não só porque é uma boa causa, mas também porque o Brasil tem condições objetivas de, nessa seara, ser ouvido. Mas a verdade é que esse tema não entrou na agenda de negociações prévias com o congresso, de modo que assistimos agora à pura e simples medição de forças, provocada pelo timing curto de Lira. O governo ainda não trouxe o tema do plano simbólico para o da política concreta, problema com o qual, aliás, a própria Marina Silva também precisa se preocupar, para que sua justa persistência numa tese substantiva não assuma ares de mera pregação apostolar em tempo de jogo pesado. Enquanto isso, a Petrobras trabalha a sua agenda, estabelecendo laços com o mundo político. Tudo bem se não o fizesse na contramão da boa nova.
O segundo foco de crítica cabível ao governo é, portanto, o timing sôfrego e desatento à situação política adotado pela Petrobras, que se converteu, no caso da pesquisa e exploração de petróleo na foz do Amazonas, em aliada involuntária da pressa de Lira, a qual, como dito, liga-se a outras causas. Ciente da “alma desenvolvimentista” do presidente e da maioria do governo, a empresa desafiou publicamente o Ibama e com isso encorajou o ministério das Minas e Energia (gerido por um político que não é puro sangue, como o presidente da Petrobras) a fazer o mesmo. Piorou tudo com o aval tácito dado por Lula a uma operação voluntarista, que despertou, fora de hora, apetites retaliativos e virtualmente majoritários que se acomodam no congresso. A operação política sensata (do presidente e de sua Casa Civil) seria segurar o ímpeto pressálico dos produtivistas e não confrontar, sequer colocar em dúvida, por ora, o parecer técnico. Ao mesmo tempo, buscar, junto à ministra Marina, mediar uma solução com o Ibama que de fato sanasse, ou ao menos atenuasse, a contradição flagrante entre as premissas técnicas e de valores que separam essas duas almas que se debatem no governo. Isso exigiria um tempo incompatível com as urgências de razões desenvolvimentistas que, com déficit de visão lateral, ainda se consideram razões de estado. E talvez ainda o sejam, pela ótica de quem, afinal, governa.
Importante notar que a recalcitrância não está só numa esquerda anacrônica, onde, em tese, é mais insólita e, na prática, mais séria, dado o espaço de poder que o PT ocupa. A grande maioria do governo e da sua base não comunga com as teses de Marina. Então não é só a cabeça de Lula, mas a sintonia entre ela e a torcida do Flamengo. Na política brasileira, sustentabilidade ainda é conversa para inglês ver. Embora não para boi dormir, muito ao contrário, a julgar pelo ímpeto da boiada.
A combinação de déficit cognitivo (da parte da esquerda oficial e do governo, em geral) quanto à centralidade da questão ambiental no Brasil e no mundo, com vieses normativos próprios de voluntarismos (potencialmente presentes nos dois "lados", uma vez que a razão técnica, indiscutível nos termos atualmente postos, também é dada a excessos) tem efeitos politicamente corrosivos. Como em inumeráveis outros momentos, faltou uma prévia política da média, ou do meio. Ela só é lembrada para apagar incêndios, quando sua principal valia é não deixar que eles surjam como produtos perversos de conflitos normais de uma sociedade complexa e plural. Suspeito que não haja solução boa para essa sinuca de bico. Mas se ruim está, pior ficará, se o maximalismo tentar ocupar o espaço vazio que a omissão da política deixou. Da parte do governo, é preciso arrumar a casa. Isso tende a ser feito valorizando o prioritário. E nada indica que na cabeça do presidente o tema ambiental ocupe esse lugar.
É compreensível, nesse caso, a dificuldade de Lula. Sua imagem internacional desgastou-se em equívocos com a China, a Rússia, a Ucrânia, até com Portugal. Já chegou a fatura das aventuras de abril. Se por cima disso perder a ministra do Meio Ambiente porque que quer furar poço de petróleo na foz do Amazonas, aí pode ir à lona, mesmo que sem nocaute. A sua base tradicional e fiel pode não estar nem aí para isso, mas ele está. A imagem internacional é central para ele e tem rebatimento eleitoral. Nas circunstâncias atuais o Ibama exerce, simbolicamente, um papel limitador de sua vontade política quase equivalente, na prática, ao do Banco Central. É um ator com potencial poder de veto ao decisionismo presidencial. Se o parecer for atropelado o estrago será grande porque Marina é uma Silva, não uma Haddad. Lula precisará negociar muito para que ela possa lidar com o Ibama como voz de governo. Ela precisa dessa compensação interna para o estupro que o ministério que dirige sofreu no Congresso. Mas nada disso parece abalar a óbvia convicção que anima o novo comando da Petrobras, de que seu projeto não será vetado, nem abandonado, até porque rem todo o jeito de um projeto de governo.
Nesse ponto, é bom atentar também a dilemas da própria Marina Silva. Minoritária no governo, joga com o fator internacional. Sabe o dano que pode causar à imagem do governo, se sair. Resiste por isso e exatamente por isso tem alguma chance de ficar. Mas corre o risco de superestimar sua força, esticar a corda em demasia e terminar num relento político, por escolha ou por derrota. O pragmático senador Randolfe Rodrigues, peixe com asas, já voou para fora da Rede ao menor sinal de desinteligência da líder do partido com o governo e de falta de sintonia da causa com o contexto político regional que reproduz seus mandatos. A federação partidária da Rede é com o PSOL. Ao relento e com um partido ainda menor, Marina e seus liderados podem terminar sob as asas de Boulos. Heloisa Helena, hoje sua correligionária, teve experiência naquele ambiente. Sabe como a banda toca ali. Marcelo Freixo também.
A ministra demonstra, em suas declarações, estar consciente dessa situação e resume lucidamente sua posição na convicção de que ajuda mais dentro do que fora do governo. Mas ao carregar as cores da responsabilidade por seu desassossego na ação demolidora do Legislativo não pode esquecer que essa montanha pariu um rato se efeitos da ação forem comparados aos da derrota que pode ter na peleja contra adversários dentro do governo. Para tentar evitá-la precisará converter parte deles em aliados.
Tudo pesado, parece pouco provável que o equilíbrio instável entre Marina e Lula dure a médio prazo se não se amparar em alguma lógica institucional que transcenda o plano das relações pessoais. A declaração imediata do presidente sobre a controvérsia em torno do novo pré-sal foi pusilânime e pôs em dúvida o parecer do Ibama. Atravessou uma fronteira perigosa. Mas viver é perigoso e Lula parece jogar a vida numa reencarnação criativa do rei Midas, paramentado em ouro negro. Julga-se credor dessa fortuna política por se ver como um predestinado benfeitor do seu povo. Para surpresa de muitos, inclusive deste observador, Fernando Haddad aparece na cena como se fosse o seu Dioniso, detentor do condão de reabrir, ao velho rei, portas fechadas com o tempo, em razão de sua pouco durável virtù.
Tudo indica serem miragens, o ouro negro e as portas do poder pessoal. Assim como esse idealizado Haddad, que não se vê deus de coisa alguma. Talvez ainda haja, mais adiante, tempo político para o Midas, afinal desiludido de tantas ilusões, voltar ao leal discípulo e ministro em busca do que ele se mostra realmente capaz de oferecer: a sugestão de uma nova atitude política, que compartilhe, de fato, o poder, sem com isso aceitar o tipo de canga que foi imposta ao antecessor. Para tanto precisará de novas ideias e principalmente de novos amigos, no Congresso e fora dele. Para ter umas e outros precisa de visão lateral e ouvidos receptivos para escutar a música que seu ministro apolíneo toca. Ou talvez a miragem seja essa mudança. Aí restará torcer para o castigo político ser brando, pois afetará rei e reino.
*Cientista político e professor da UFBa.
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Saudade Fez um Samba
Carlos Lyra
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A7+
Deixa que meu samba
Bm7
Sabe tudo de você
A7+
Não acredito que meu samba
Bm7
Só dependa de você
D7+ Dm7
A dor é minha, em mim doeu
A7+ Gb7
A culpa é sua, o samba é meu
Bm7 E7
Então não vamos mais brigar
Bm7 E7 A7+ Gb7
Saudade fez um samba em seu lugar
Bm7 E7 A7+
Composição: Carlos Lyra / Ronaldo Bôscoli
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domingo, 28 de maio de 2023
Carlos Melo - Inércia e ''Lirismo'', a oligarquia de coalizão
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Ipo News
O cientista político Carlos Melo, professor Sênior Fellow do Insper, considera que o modelo do "Lirismo", numa referência criada para o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, se resume ao fisiologismo agregador: uma "Oligarquia de Coalizão" ou a oligarquia das coalizões. Seu novo artigo foi publicado esta semana, no Headline Ideias:
Em inércia, o movimento tende ao infinito. Um corpo interrompe ou altera sua rota somente se alguma força atuar sobre ele. Física básica. Em política, sem obstáculos, forças ou aparas, o movimento de indivíduos e ou grupos se volta aos próprios interesses. Se nada o detiver, seguirá retilíneo, uniforme e indiferente ao interesse geral. Farinha pouca, sem pressão, não sobrará raspa de pirão.
A política se traduz pela multiplicidade de atores e o conflito entre seus reais interesses. A filosofia elaborou o "sistema de freios e contrapesos", pensado para impedir transtornos de movimentos, mais que autônomos, deletérios. "Como o gás, o poder tem a forma daquilo que o contém". Sem limites, se espalha. Dependendo das condições atmosféricas, se dissipará jamais.
Contestação e oposição impedem a tirania. Não há democracia sem elas. Tampouco há democracia sem responsividade (Robert Dahl). A ausência de oposição é a mãe das oligarquias.
Não faz muito tempo, dava-se à opinião pública o poder de conter a inércia e o gás dos interesses particularistas. A imprensa, por exemplo, nasceu da ânsia contra-hegemônica. O debate se dava pelos jornais; a grande reflexão, nos cadernos de domingo. Formar opinião era sinal tanto de distinção quanto de poder. Daí o termo "quarto poder". Paradoxalmente, a explosão de meios de comunicação, as redes sociais e suas bolhas, fragmentou a crítica e dividiu a opinião pública.
Outros poderes, é claro - Executivo, Legislativo e Judiciário - também se impunham, em harmonia, e limitavam-se mutuamente. Partidos políticos "fora da ordem" questionavam e expunham os "da ordem". Mobiliava-se a opinião pública por meio da imprensa. Constrangimentos estabeleciam limites: o certo e o errado; o legítimo e o espúrio. Substituídos pelas bolhas das redes, os partidos, hoje, somam zero.
Embora o patrimonialismo faça parte da cultura imemorial do país e o fisiologismo seja sua constante, esses elementos sofriam constrangimentos e limites. A pressão externa inibia o atrevimento e freava o alargamento de suas possibilidades. Absurdos como os de hoje ocorriam, sim, mas tinham desdobramentos. O tamanho da repercussão negativa definia o comedimento.
Prova de que esse espírito vai distante, se não no tempo, na tolerância, são as reações à decisão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados ao aprovar ampla e irrestrita anistia a partidos que não cumpriram as determinações da lei eleitoral. Uma gritaria básica, seguida de acomodação. O corporativismo parlamentar foi normalizado.
Fosse apenas isso... A advocacia em causa própria do corporativismo não para por aí: nos jornais, nas rádios, redes e TVs, a consolidação do status quo. Cenas de favorecimento e chantagem explícita são exibidas com naturalidade de comerciais de margarina. Já não chocam nem chamam à apartes. Em inércia, correm livres. Nada parece capaz de lhes conter.
Centrão, de refúgio à redenção do baixo clero
Há uma década, o Centrão era pouco mais que um refúgio de políticos menores. Relevante, por seus membros se agruparem em busca de importância, recursos e proteção. Posicionando-se no Congresso de forma pivotal, constituíram a minoria decisiva: pendesse para o lado que preferisse, daria a vitória ao governo ou à oposição - invariavelmente, ao governo. Mas, não era o centro gravitacional do sistema.
Eram movimentos estratégicos e, ainda assim, tímidos. Guardavam certo pudor em público. Os políticos do Centrão viviam, sobretudo, nos rincões, de menor fiscalização e controle social. Para além de suas lideranças mais ousadas, não se expunham aos holofotes da mídia, nem ao peso dos julgamentos da opinião pública. Na catedral do Congresso Nacional, era chamado "baixo clero".
Figuras de expressão paroquial, movidas pelo mais tosco fisiologismo, faziam a política miúda dos favores, do clientelismo; de esquemas quase amadores. Vereadores federais, quando muito. Constrangido pela imprensa e limitado por certa moral ainda vigente, "o baixo clero" tinha arranque, mas não ganhava inércia. Autonomia de baixa quilometragem, pois seu combustível era dosado pelo Executivo e pelo conflito entre partidos. À sombra do debate nacional, fartava-se de sobras e de pequenas barganhas. Não muito mais que isso.
Distinguia-se do "alto clero", sempre na esfera das grandes questões nacionais. Era a elite formuladora e formadora de opinião, dentro e fora do Legislativo. Vinhos doutra pipa, parlamentares de outra expressão: Ulysses Guimarães, Nelson Jobim, Pedro Simon, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra, Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, José Genoíno; Petrônio Portela, Marco Maciel, Roberto Campos, Delfim Netto... Eram vários, às dezenas.
A grande barganha - termo pejorativo para o senso comum --, natural da negociação política, dava-se no campo do debate de interesses de projetos contraditórios. Evidentemente, um pouco de graxa fisiológica lubrificava engrenagens, mas a grande política, o grande conflito e a articulação de atores eram o oxigênio do "alto clero". A disputa corria pelo jogo da política. Em comparação ao atual, era outro esporte.
A oposição pouco transigia, embora houvesse, sim, casos de cooptação. Havia disposição firme em transformar o país. No embalo dos anos 1950 - em especial 1958, ano em Brasil do futuro foi potencializado -, acreditava-se no futuro. O futuro valia embates, riscos, cabos-de-guerra, escaramuças. Nada funcionava por inércia.
Muito disso se perdeu. Forças opostas se compuseram ou simplesmente perderam relevância. O maior equívoco, talvez, tenha sido a infeliz percepção - de um pragmatismo de curtíssimo prazo - de que mais compensava "comprar" parlamentares do que os persuadir. O Mensalão é símbolo, mas não seu marco fundador: esse mercado existia antes dele. Dá-lhe centralidade comprometeu o futuro. A voracidade fisiológica ganhou inércia e deu luz ao hiperfisiologismo.
Reminiscência de quem vai ficando velho? Não faz tanto tempo assim. Tudo se danou em menos de uma geração.
Eduardo Cunha: marco emancipatório
A liberdade de movimentos de Eduardo Cunha, ainda antes de assumir a presidência da Câmara dos Deputados, sinaliza o início da emancipação do espírito corporativo e a dificuldade de contê-lo. Ao relatar Projetos de Emenda Constitucional ou Medidas Provisórias, o então deputado impunham a lógica de seus interesses. Erro brutal dos governos Lula e Dilma não agirem para sua contenção.
Eduardo Cunha era profissional dos negócios políticos: trabalhador, inteligente e sagaz, capaz e sem limites. Capaz de tudo. Com um poder crescente nas mãos, primeiro como líder do PMDB, não encontrou força que contivesse sua expansão. Reuniu recursos, cooptou colegas e fragmentou (ainda mais) os partidos. No espírito franciscano do "é dando que se recebe", levou ao limite o que, à época, foi chamado de "peemedebismo".
Para além do "peemedebismo", Cunha criou uma força política sua. Num "cunhadismo" revisitado, sua tribo trabalhava para encher-lhe as naus com o pau-brasil do poder. Dividido no apoio parasitário à Dilma Rousseff, o Centrão foi agregado aos poucos. Na mesma lógica franciscana, ajudou a eleger centenas de deputados. E por centenas de deputados foi, franciscanamente elevado, depois, à presidência da Câmara.
Como se sabe, morreu abraçado com sua ousadia. Mas, a obra vive, seu espírito ganhou o éter. No "peemedebismo avançado" que desenvolveu, educou discípulos.
Rodrigo Maia, à testa da mesa diretora da Casa, após a debacle de Cunha, bem tentou recuperar os bons modos do parlamento. Resgatar compostura mínima. Reconheça-se hoje, tratava-se de uma figura em extinção: investisse na desgraça de Michel Temer, seria um presidente "designated survivor". Mas, demonstrou princípios: sua fé liberal o amarrou ao mastro da mesa da Câmara, contra os cantos de sereia. Talvez fosse a última espécie do "alto clero".
O latifúndio que abriga nossa alma
Maia resistiu, mas foi atropelado pelos discípulos de Cunha, cuja maior expressão chama-se, obviamente, Arthur Lira. No silêncio de uma observação matreira, na rudeza de um espírito agreste, Lira superou o mestre.
Sua ascensão ao poder central do Parlamento fez o Centrão "cair pra dentro", integralmente. Venceu quedas-de-braço, uma a uma: primeiro Rodrigo Maia, depois Baleia Rossi - último e frágil espasmo "peemedebismo". Mais tarde, Jair Bolsonaro.
Quase todo o parlamento acorreu a Lira - inclusive, setores do PT. A Câmara assimilou e foi assimilada por um novo modelo: o Centrão é hoje o centro gravitacional e toda a lógica do sistema. Lira é apenas um nome símbolo. O latifúndio que abriga na nossa alma, como diria Oliveira Vianna, libertou-se da prisão de ferro dos constrangimentos. Ganhou movimento retilíneo uniforme e vive a liberdade da inércia.
Que nome poderia ser atribuído a essa fase pós "peemedebização"? "Centrismo" seria inexato, pois não se trata de um "centro político clássico". Pouco adequado por ambíguo, subestimaria o papel, a sagacidade e a importância de sua principal liderança: Arthur Lira.
Mais preciso seria chamá-lo, quem sabe?, de "Lirismo". Nova modulação do poder e novo método de formação de maioria. Sem o ônus da gestão de um ministério, as emendas do orçamento são adrenalina na veia.
O "Lirismo" não se trata de "Parlamentarismo" ou de "Semipresidencialismo" à moda dos europeus. Longe disso, o modelo se resume ao fisiologismo agregador. Uma "Oligarquia de Coalizão" - ou a "coalizão de oligarquias" - cujo movimento é inercial, sem freios. Não há presidencialismo. Nem mesmo um líder de massas, como Lula, parece capaz de obstruí-la.
Chico Buarque e Ruy Guerra sabiam das coisas: "todos nós herdamos do sangue lusitano uma boa dose de lirismo, além da sífilis, é claro".
Criminalização da política?
De anos para cá, qualquer negociação de interesses, elevados ou vis, para o bem e para o mal, recebe a tarja de "política". Por proselitismo pueril, a política paga patos e pecados. Mas, nem tudo que tem má fama é política. No pôquer entre Executivo e Legislativo, pequenos interesses inicialmente periféricos deslocaram-se para o centro da cena e dão as cartas. Tornaram-se a essência do processo.
O tal arcabouço fiscal, por exemplo, não é aprovado por exigência de higidez nas contas públicas, premência do desenvolvimento, bem maior ou o que o valha. Mas, como contingência de um modelo voltado para fins próprios: interessa ao Congresso aprová-lo porque interessa-lhe que o governo libere verbas. Grandes temas findam acessórios e perfunctórios: tudo é "baixo clero".
Aliás, "baixo clero" é um termo em desuso. Ninguém é o oposto daquilo que não há ou deixou de ter nome. O "alto clero" dissipou-se sem lembrança, sem saudade, sem a compaixão de uma sociedade apática, desobstruente dos caminhos por onde a inércia faz longa a estrada. Deputados e senadores paroquianos rolam interesses de aldeia como pedras que descem montanhas, sem obstáculos, construindo avalanches.
Um sistema de vontades particularistas foi naturalizado, em detrimento de temas e questões gerais. A isso dão o nome de "política". E, diante de qualquer alerta, crítica ou reparo, seus defensores, irritados, gritam: "parem de criminalizar a política!"
Não se trata disso: não vai aqui simpatia tardia ao "lavajatismo" predatório da última década. Nem de mirada moralista sobre o sistema. É sabido que a política nem sempre é feita de princípios ou valores elevados. Sujar as mãos pode ser necessário. Assistam "Lincoln" (2012), com Daniel Day-Lewis. A história ensina que a política tem sua própria moral.
O fato é que o pragmatismo míope produziu sérias disfuncionalidades. Ao se considerar custos de transação, prejuízos públicos e o mal-estar instalado, encara-se um sistema de profunda ineficiência. Sistema que travou. E, se pode impedir que Executivos troquem pés pelas mãos e façam bobagens - seja com Bolsonaro ou Lula - também há de se admitir que, por disfuncional, não resolve problemas, repara defeitos ou traz investimentos.
No lirismo da inércia, vê-se ao longe uma carroça velha que segue rangendo suas rodas numa melodia triste. Deve doer a desolação de nunca encontrar fim a esse canto e a esse movimento. Na inércia do "lirismo" modelar de sistema tão disfuncional, não há freios, nem contrapesos. Não há força que atue. Sem obstáculos, o país desce a ladeira da montanha que acabara de escalar movido pela inércia de interesses que não são seus.
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domingo, 28 de maio de 2023
Merval Pereira - Recato à brasileira
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O Globo
Presença de ministros do STF no churrasco de Lula mostra promiscuidade de Brasília
A notícia de que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do ministro aposentado recentemente Ricardo Lewandovsky, estiveram presentes no churrasco que o presidente Lula organizou na sexta-feira no Palácio Alvorada, juntamente com ministros do Governo e lideranças partidárias, não causou espanto pela frequência com que ministros do Supremo se encontram em Brasília com políticos, advogados e empresários em reuniões informais, mesmo quando esses respondem a algum processo que está ou poderá estar em votação no STF.
O tema do churrasco, por exemplo, era como enfrentar a rebelião no Congresso que esvaziou a política ambiental do governo. O caso pode parar no Supremo, mas essa possibilidade não inibiu os ministros. O fato se repete, não apenas em governos petistas, mas também no de Bolsonaro, além de conversas reservadas com presidentes como Michael Temer. Considerado o mais influente ministro do Supremo, Gilmar Mendes encontrou um concorrente à altura em manobras de bastidores no ministro Alexandre de Moraes, assim como já tivera no ministro Luis Roberto Barroso um constitucionalista de saber tão reconhecido quanto o seu.
Essa promiscuidade brasiliense não é prerrogativa da nossa capital, embora a discrição seja maior na maioria dos países. A Suprema Corte dos Estados Unidos, tida como exemplar na ação jurídica silenciosa e isenta, nos últimos anos tem revelado uma série de comportamentos fora da curva. Recentemente, o ministro Clarence Thomas foi denunciado pela amizade com o bilionário Harlan Crow, grande doador do Partido Republicano e ativista das causas conservadoras. Thomas costumava passar férias em companhia de Crow, em passeios de iate ou viagens em jatos particulares.
A amizade é tão grande que o bilionário comprou da família Thomas a casa onde mora a mãe do juiz e outros terrenos em volta, alegando que um dia quer montar um museu em homenagem ao juiz da Suprema Corte. Outro que teve sua aparente higidez moral posta à prova foi o juiz Antonin Scalia, encontrado morto em um resort de luxo no Texas depois de participar de uma caçada, em companhia de 40 amigos.
Esta foi a última de cerca de 85 viagens de caça e pesca com políticos e empresários. Tinha fama de “fazer qualquer coisa se você o levasse a uma caçada”, dizia o advogado Mark Lanier, que o levou em um avião fretado para caçar javalis. Um ícone da direita conservadora dos Estados Unidos, Scalia era considerado uma sumidade do constitucionalismo americano, o mais brilhante de sua geração.
O ministro Alexandre de Moraes é o novo poderoso de Brasília, com o destaque que tem tido suas ações, muitas vezes contestadas, mas indubitavelmente relevantes para a defesa da democracia. O inquérito sobre as fake news, junto com a investigação sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, deram a Moraes destaque capaz de torná-lo decisivo em situações delicadas, como o julgamento do ex-presidente Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que preside.
Movimentou-se para que as duas vagas abertas no Tribunal fossem preenchidas por indicações suas, o que aconteceu em tempo recorde. Num dia, Moraes teve um almoço com o presidente Lula, no dia seguinte os dois advogados estavam nomeados. Moraes agora controla totalmente o plenário do TSE, o que o transforma em um poderoso partícipe do jogo político de Brasília.
Antes mesmo de ter conseguido nomear dois advogados ligados a ele, Alexandre de Moraes já conseguira a condenação, por unanimidade, do ex-promotor da Lava-Jato Deltan Dallagnol, que perdeu seu mandato de deputado federal no TSE. Além do voto de relator, os demais ministros levaram cerca de 1 minuto para condená-lo, votação tida como articulada por Alexandre de Moraes, que queria uma decisão sem dissidências para fortalecer o tribunal. Pelo menos um ministro garantiu a Dallagnol que votaria a seu favor, mas mudou de ideia.
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domingo, 28 de maio de 2023
Luiz Carlos Azedo - A posição sobre a Ucrânia pôs o Brasil numa encruzilhada
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Correio Braziliense
O nacional-desenvolvimentismo e a tradição anti-imperialista da esquerda brasileira influenciam a política externa. Isso provoca o realinhamento de forças que priorizam a questão democrática
Artigo de Lourdes Sola e Eduardo Viola, professores do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), publicado, ontem, no Estado de S. Paulo, sobre as mudanças na política mundial e o posicionamento do governo Lula, merece profunda reflexão. Destaca que houve uma mudança na geopolítica mundial que exige um reposicionamento cuidadoso do Brasil. Isso parece não ter sido devidamente avaliado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja diplomacia é presidencial e comandada pelo ex-chanceler Celso Amorim, embora o Itamaraty tenha massa crítica para fazê-lo com mais competência.
“A invasão russa da Ucrânia consolidou um forte componente de guerra fria entre as democracias do ‘Ocidente coletivo’ (que inclui Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Austrália e Nova Zelândia) e o bloco autocrático (com China, Rússia, Irã e Coreia do Norte). Esse confronto delineia-se desde 2015, mas o traço que define a guerra fria é mais recente: cada bloco vê o outro como ameaça existencial. Está em pleno curso o desacoplamento entre ambos no referente à alta tecnologia e, particularmente, à tecnologia de uso dual (civil e militar)”, avaliam Sola e Viola.
A lógica da guerra fria é a paridade estratégico-militar. Há um evidente desequilíbrio nesse aspecto entre países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o eixo China, Rússia, Irã e Coreia. O ponto de inflexão da construção de um mundo multipolar, que parecia ser irreversível com a emergência da China como potencia econômica, foi a invasão da Ucrânia pela Rússia. O conflito se tornou uma “guerra de procuração” entre a Otan e o governo de Putin. Além de reativar o complexo militar industrial dos Estados Unidos e outros países do Ocidente, a guerra em plena Europa provocará a expansão da capacidade militar chinesa, que já vinha ocorrendo, com a militarização definitiva dos mares asiáticos.
No livro Sobre a China, Henry Kissinger lembra-nos que a disputa pelo controle do comércio no Atlântico entre uma potência continental, a Alemanha, e uma potência marítima, a Inglaterra, no século passado, provocou duas guerras mundiais. Neste século, o eixo do comercio mundial se deslocou para o Pacífico, a potência continental é a China, e a marítima, os Estados Unidos. O temor de Kissinger era que isso provocasse uma nova guerra fria e, consequentemente, aumentasse o risco de uma catástrofe nuclear. É o que acontece agora.
Guerra e paz
A propósito, Sola e Viola destacam diferenças cruciais em relação à guerra fria do pós-Segunda Guerra Mundial: há alta interdependência econômica entre os dois blocos, embora menor entre Ocidente e Rússia desde a invasão; a China é uma superpotência econômica, ao contrário da antiga União Soviética; os desafios globais como mudança climática, pandemias e regulação da inteligência artificial exigem muita cooperação internacional. O neorrealismo diplomático assentado nos interesse geopolíticos permanentes, derivados da geografia, da história e da identidade cultural, foi posto em segundo plano: “Os interesses dos Estados variam segundo os regimes políticos e os governos, e segundo as transformações da economia política mundial”.
Sola e Viola criticam, com razão, a prioridade dada por Lula à mediação da paz entre a Rússia e a Ucrânia: “o Brasil não tem excedente de poder para mediar numa região que conhece pouco e com a qual tem vínculos limitados”. Teria muito mais protagonismo nas políticas climática e de transição energética. “Justamente aquelas que são decisivas para equacionar alguns dos desafios globais de ordem existencial mencionados. Para tanto, há que reduzir drasticamente o desmatamento, evitar as tentações do nacionalismo petroleiro e investir nas oportunidades abertas para exercer protagonismo ambiental — a presidência do G20 e a COP30.”
Embora desejemos um mundo multipolar e a paz, a guerra na Ucrânia fragiliza a opção pelo Sul Austral. Os países do Brics (Brasil, Rússia,Índia, China e África do Sul), realmente, têm interesses econômicos convergentes, porém não ficarão neutros: Rússia e China são aliados militares; a Índia integra o bloco militar do Japão e da Austrália com os Estados Unidos. A tradição da África do Sul é de alinhamento com os Estados Unidos e a Inglaterra.
O nacional-desenvolvimentismo e a tradição anti-imperialista da esquerda brasileira, subliminarmente, influenciam a política externa do governo. Isso já é perceptível e provoca o realinhamento de forças sociais e políticas que priorizam a questão democrática na relação com o governo. Opuseram-se ao governo Bolsonaro; agora, pelas mesmas razões, se distanciam de Lula, o que debilita seu governo. O Brasil é um país do Ocidente.
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Saúde pública no Brasil ainda sofre com recursos insuficientes
Gestão e financiamento são alguns dos principais problemas do SUS, segundo especialistas; proposta de iniciativa popular em tramitação na Câmara destina pelo menos 10% das receitas correntes brutas para a saúde, o que teria representado R$ 41 bilhões a mais em 2014.
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Da Reportagem
Edição – Marcos Rossi
08/01/2015 - 10:56
Fonte: Agência Câmara de Notícias
https://www.camara.leg.br/noticias/448436-saude-publica-no-brasil-ainda-sofre-com-recursos-insuficientes/
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10/05/2023 14h59
O UOL Entrevista desta terça-feira (9) recebe o médico Drauzio Varella. A entrevista é conduzida pela apresentadora do UOL Fabíola Cidral e pelos colunistas Lúcia Helena e Josias de Souza. #UOLEntrevista
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”A tela do celular é uma invenção do diabo.”
”Saúde pública não se resolve com dinheiro.” Importância da prevenção e do SUS. O mal que a mercantilização da saúde nos traz."
“Eles são tão profundos que não me atingem.”Doutor Drauzio Varela Comenta sobre a bossalidade que assolou o país no último quadriênio em entrevista ao canal UOL, na comemoração de seus 20 quadriênios de vida, prestes a passar aos 21 da antiga maioridade da cidadania. Aula da História da Medicina Brasileira! Excelente Entrevista Magna. 2 entrevistadoras e 1 entrevistador respeitáveis.
https://www.uol.com.br/play/videos/noticias/2023/05/10/governo-lula-cartao-de-vacina-de-bolsonaro-morte-de-rita-lee-drauzio-varella-no-uol-entrevista.htm
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Humorista Marcelo Madureira: "A elite brasileira é arrogante, ignorante e vaidosa."
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Marco Antonio Villa
https://www.youtube.com/watch?v=VQzcV_KyXIQ
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Apanhar nas urnas e nas ruas.
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"Este é o presidente de um partido que tem a responsabilidade."
Mário Covas
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José Dirceu no Entre Vistas | PENSAR O BRASIL DE HOJE
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Rede TVT
Transmitido ao vivo em 25 de mai. de 2023 #EntreVistas #JoséDirceu #JucaKfouri
No Entre Vistas recebe o advogado e ex-ministro José Dirceu para uma conversa sobre os rumos do Brasil, o governo Lula e a democracia.
https://www.youtube.com/watch?v=pc1hz06EUcM
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Questão Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passada...
"Às vezes, quase sempre,
um livro é maior que a gente."
- Guimarães Rosa
Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto.
A Lembranca Da Vida Da Gente Se Guarda Em Trechos - AIO
https://www.aio.com.br/questions/content/a-lembranca-da-vida-da-gente-se-guarda-em-trechos-diversos-cada-um-com-seu
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INSPER Manhã 2011/2
A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe.
(ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. 19 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)
Considere estas afirmações sobre o excerto da obra de Guimarães Rosa.
I – Assumindo um tom proverbial, o narrador personagem explicita que irá relatar feitos heroicos e grandiosos vivenciados por outra personagem.
II – Por meio do emprego do discurso indireto livre, o narrador quer transmitir suas vivências a fim de melhor compreendê-las.
III – Ao justificar o aspecto descontínuo de sua narrativa, o narrador faz uso do recurso metalinguístico.
Está(ão) correta(s)
A)
Apenas I e II.
B)
Apenas II e III.
C)
Apenas I.
D)
Apenas II.
E)
Apenas III.
Resposta correta:
E
https://www.aio.com.br/questions/content/a-lembranca-da-vida-da-gente-se-guarda-em-trechos-diversos-cada-um-com-seu
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Filosofia e Literatura - (...) Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que se já passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas – de fazer balance, de se remexerem
https://www.facebook.com/FiloeLiteratu/photos/a.1011924038856850/3985733311475893/?type=3
Questão
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - UNIFESP
2008
੦ Português
Contar-e-muito204754a7ee5
DISCURSIVA
Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com outros acho que nem se misturam (...) Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas
de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. Toda saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que
lhe dá sentido, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um contendo o sentido inteiro. Talvez esse seja o jeito de escrever sobre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem...
(Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas.)
O narrador faz uma reflexão acerca da dificuldade de contar.
a) Observe: Contar é muito dificultoso. Compare o sentido do verbo contar nesta ocorrência e nas frases da tirinha.
b) O narrador se vale de duas imagens para mostrar as possibilidades de contar a infância. Em que elas diferem?
https://vestibulares.estrategia.com/public/questoes/Contar-e-muito204754a7ee5/
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12/11/2012 16h08 - Atualizado em 12/11/2012 18h36
Trajetória de Dirceu vai de alvo da ditadura à condenação por corrupção
Ex-ministro foi condenado pelo Supremo por envolvimento com mensalão.
Após clandestinidade na ditadura, ele acumulou poder no governo Lula.
Do G1, em Brasília
José Dirceu (Foto: Arquivo nacional e Alan Marques/Folhapress)arte trajetória josé dirceu (Foto: G1)
A história política de José Dirceu de Oliveira e Silva, 66 anos, natural de Passa Quatro (MG), é pontuada por êxitos e reveses políticos.
Depois da clandestinidade e da perseguição pela ditadura militar nos anos 60 e 70, Dirceu se tornou o ministro mais poderoso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2003.
Denunciado no episódio do mensalão, perdeu o cargo de ministro da Casa Civil, teve cassado o mandato de deputado federal e acabou condenado por corrupção ativa pelo Supremo Tribunal Federal, crime que nega ter cometido (leia a reportagem: "STF define pena de José Dirceu: 10 anos e 10 meses de prisão").
Leia abaixo os principais momentos da vida política de José Dirceu.
O início
José Dirceu iniciou a trajetória política no movimento estudantil, no início da década de 60, quando cursava direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Primeiro, exerceu o cargo de vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes na universidade. Depois, foi eleito presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE).
A prisão
A militância de José Dirceu no movimento estudantil coincidiu com um dos períodos mais repressivos da ditadura militar. Na militância contra o regime, passou a integrar também grupos políticos de esquerda que operavam na clandestinidade. Em outubro de 1968, foi preso por participar, junto com dezenas de outras lideranças estudantis, do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna (SP), realizado clandestinamente, sem autorização do governo.
O sequestro e a libertação
Em 1969, grupos ativistas de esquerda sequestraram o embaixador norte-americano no Brasil, Charles Burke Elbrick. Os sequestradores exigiram a libertação de 15 presos políticos brasileiros em troca da liberação do embaixador. O governo militar cedeu. Entre os 15, estava José Dirceu.
Em Cuba
Depois de banido do Brasil, Dirceu foi para o exílio em Cuba, onde recebeu treinamento militar e fez uma operação plástica no rosto, para que pudesse voltar ao Brasil sem ser reconhecido. Voltou ao Brasil, de forma clandestina, em 1971, quando passou por São Paulo e cidades do Nordeste. Após esse período, em 1972, retornou a Cuba. O segundo regresso clandestino ao Brasil foi em 1974.
A nova identidade
Entre 1974 e 1979, viveu em Cruzeiro do Oeste, no Paraná, com identidade falsa. Adotou o nome de Carlos Henrique Gouveia de Mello. Levava uma vida comum, como empresário. Na cidade, casou-se, mas não contou a história verdadeira. Só revelou o segredo para a mulher após a anistia política, em 1979.
O PT
No início da década de 80, Dirceu participou da criação e estruturação do Partido dos Trabalhadores. Ganhou a primeira eleição para presidente do PT em 1995 (veja no vídeo ao lado). Depois, foi reeleito mais três vezes. No partido, também foi secretário de Formação Política, secretário-geral do Diretório Regional de São Paulo e secretário-geral do Diretório Nacional.
A carreira parlamentar
O primeiro mandato parlamentar de Dirceu foi o de deputado estadual em São Paulo, entre 1987 e 1990. Em 1990, elegeu-se deputado federal. Concorreu ao governo de São Paulo, em 1994, mas ficou em terceiro lugar, atrás do eleito Mário Covas (PSDB) e de Francisco Rossi (então no PDT).Voltou para a Câmara dos Deputados em 1998 e foi reeleito em 2002.
Lula presidente
Com Dirceu à frente do PT e da campanha, o partido conseguiu eleger o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva para presidente em 2002. Dirceu então é convidado por Lula para ocupar o cargo de ministro-chefe da Casa Civil (veja no vídeo ao lado). Nos primeiros anos do mandato de Lula, era visto como o homem forte do governo, quase um “primeiro-ministro”.
O mensalão
Dirceu teve de deixar o governo em junho de 2005, depois que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) denunciou o mensalão, suposto esquema de compra de votos de parlamentares para assegurar a aprovação no Congresso de projetos de interesse do governo. Jefferson atribuiu a Dirceu o comando do esquema, mas o ex-ministro sempre negou que o mensalão tivesse existido.
A cassação
Ao deixar o governo, José Dirceu retomou as atividades como deputado federal. Mas a crise causada pela denúncia do mensalão custou a ele também o mandato parlamentar. O ex-ministro teve o mandato cassado pela Câmara em dezembro de 2005 e, com isso, se tornou inelegível por oito anos (veja no vídeo ao lado).
Denunciado à Justiça
Em março de 2006, o então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) 40 pessoas por envolvimento no mensalão. Dirceu era um dos 40. Acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha, foi apontado como "chefe da quadrilha" do mensalão.
A condenação
Em outubro de 2012, em sessão de julgamento do processo do mensalão, os ministros do STF entenderam que Dirceu é culpado e o condenaram pelo crime de corrupção ativa (veja no vídeo ao lado). Dos dez ministros, só dois o absolveram – o revisor Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, que assessorou Dirceu na Casa Civil antes de ter sido indicado ministro do STF por Lula. Em 12 de novembro, o Supremo determinou a pena do ex-ministro: dez anos e dez meses de prisão (que ainda poderia ser modificada até o final do julgamento).
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tópicos:
Dias Toffoli, José Dirceu, Lula, Passa Quatro, Ricardo Lewandowski, Supremo Tribunal Federal
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CARLOS LYRA & LEILA PINHEIRO | Saudade fez um Samba-Se é tarde me perdoa
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🔴 BOSSA NOVA CLUBE │ CARLOS ANGLADA
0 de out. de 2012
Esto es Bossa Nova...!
https://www.youtube.com/watch?v=VLMBnxCpF5k
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Carlos Lyra & Miucha - "Sabe Você"
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clubbossanova
24 de ago. de 2011
Un tema de Carlos Lyra y Vinicius de Moraes. Del DVD "Carlos Lyra. 50 Anos De Música" (Biscoito Fino. 2005)
https://www.youtube.com/watch?v=aMyoT7AbRtA
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Cássia Eller - Saudade Fez Um Samba
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2.365 visualizações 28 de out. de 2015
Cássia Eller Raridades - Saudade Fez Um Samba
Letra
Deixa que meu samba
Sabe tudo sem você
Não acredito que meu samba
Só dependa de você
A dor é minha em mim doeu
A culpa é sua o samba é meu
Então não vamos mais brigar
Saudade fez um samba em seu lugar
Música
MÚSICA
Saudade Fez um Samba
ARTISTA
Cássia Eller
https://www.youtube.com/watch?v=ll871XQ5YE8
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