domingo, 21 de agosto de 2022

BOA GENTE BRASILEIRA

*** Incêndio de grandes proporções destrói o Museu Nacional, no Rio de Janeiro 86.262 visualizações 3 de set. de 2018 Na noite deste domingo (2), um incêndio de grandes proporções destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O fogo começou por volta das 19h30. Ele é considerado um dos museus mais antigos do Brasil, criado por Dom João VI e tem 200 anos de história. https://www.youtube.com/watch?v=YUWpG3fADNA **********************************************
******************************************* "O intenso interesse comum pela física foi capaz de nos fazer superar com facilidade nossas diferenças de interesse em outros campos." CONTRAPONTO A PARTE E O TODO HEISENBERG ***
*** “Sociedade Civil”, Presente 🎁 ************************************************
*** domingo, 21 de agosto de 2022 Luiz Sérgio Henriques* - Tempo de virtudes cívicas O Estado de S. Paulo O embate mais árduo virá depois da eleição, quando se tratar de reconstruir as instituições e resgatar as promessas da civilização brasileira. Quando a História acelera e a política toma rumos imprevisíveis, é comum que se sucedam os instantes que, segundo o espanhol Javier Cercas, merecem os cuidados de uma aula clássica de anatomia. No seu país, com as feridas ainda mal curadas décadas depois do flagelo da guerra civil, a irrupção de um vulgar militar golpista no Parlamento, no inverno de 1981, pôs em questão a transição pós-franquista, intimidando os deputados e colocando a Espanha mais uma vez na encruzilhada. De pé, inscrevendo corajosamente seus nomes na “religião civil” que nem a mais secular das democracias dispensa, só o primeiro-ministro Adolfo Suárez, o vice, general Gutiérrez Mellado, e o eurocomunista Santiago Carrillo. A democracia seguiria adiante, como sabemos. Poucos anos antes, do lado de cá do Atlântico, outra transição também inspirava gestos de alto valor cívico, como a cerimônia ecumênica por Vladimir Herzog ou, dois anos mais tarde, a carta lida por Goffredo Telles nas arcadas da Faculdade de Direito da USP. Ao mesmo tempo, assimilávamos um vocabulário inédito, no qual se destacava um conceito-chave da teoria moderna, o de “sociedade civil”. Tal conceito podia ser declinado de variadas formas, mas o certo é que ele afastava a ideia da política seja como expressão passiva da economia, seja como mero disfarce da força bruta. Estávamos literalmente obrigados a ir além dos modos e costumes do autoritarismo. O aprendizado coletivo consistia no fato de que, na democracia que se entrevia, seria preciso vencer e convencer – e também perder, como é próprio da rotina de qualquer comunidade civilizada. E todo este movimento desaguaria mais adiante na Constituinte, em cujo ponto mais solene o herói-fundador diria, de modo lapidar, que “traidor da Constituição é traidor da Pátria”. Os contornos da nossa religião cívica estavam assim delineados por muitas décadas afora. Pondo entre parênteses a diversidade de contextos, vivemos agora uma inesperada repetição. Há pouco, Dom Pedro Stringhini, em comovente ato inter-religioso na Sé paulista, evocou o grande cardeal de 1975, ali sepultado, ao celebrar Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira, assassinados numa Amazônia dolosamente convertida em terra sem lei. E a “sociedade civil” se reergueu nas mesmas arcadas do Largo de São Francisco, com documentos – um dos próprios juristas, outro das “classes produtoras” reunidas na Fiesp – que recolheram centenas de milhares de assinaturas e, por esta e outras razões, têm como alma a ampla frente democrática que possibilitou a saída pacífica do regime militar. Nos últimos anos, antes do pacto entre Executivo e Centrão tramado nos desvãos do “orçamento secreto”, tivemos muitos chamados ao fechamento do Congresso e, ainda, continuados lances de agressão ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ensaios de golpe ao velho estilo, ora provavelmente arquivados, eles foram substituídos por tentativas reiteradas de sabotar as “instituições invisíveis” da República (Pierre Rosanvallon), como a confiança nas eleições e na sua legitimidade. Isso, que é do conhecimento geral, prefigura os perigos de um eventual segundo mandato do governante autocrata, de resto abundantemente escrutinados na literatura internacional sobre as recorrentes e diversificadas manifestações da extrema-direita populista. O espírito da frente democrática vai muito além das fronteiras de qualquer partido, mesmo daquele mais organicamente estruturado e que, por isso, apresenta a candidatura mais forte entre as que se opõem à reeleição do autocrata. Em tese, parece não haver tempo para uma alternativa viável no campo oposicionista, ainda que tal circunstância não vá cancelar a pluralidade de programas e visões de futuro. A observância dessa pluralidade é que avalizará a indispensável “ida ao centro” pela esquerda, e não, naturalmente, a escolha de um “vice decorativo” ou a cooptação de políticos avulsos, acima e além do diálogo entre partidos e suas direções regularmente constituídas. E isso para não falar da aguda compreensão, mais do que nunca necessária, das múltiplas faces da “sociedade civil”, irredutível a pretensões de mando ou controle faccioso, sejam quais forem. Sem menosprezar o desafio eleitoral, que anuncia sobressaltos de montanha-russa, o embate mais árduo virá depois, quando se tratar de reconstruir pouco a pouco as instituições e promover o resgate das promessas da civilização brasileira. Num cenário de terra arrasada, virtudes cívicas diferentes, como a paciência e a vontade permanente de diálogo, deverão, então, ser continuamente mobilizadas. Caso se confirme nas urnas – o que não está dado de antemão! –, um novo governo capitaneado pela esquerda terá de recorrer às artes de um heroísmo cotidiano, nada retórico, ultrapassando o círculo do interesse próprio e pondo-se decididamente a serviço da República. Há quem diga que, até hoje, nos governos anteriores esta travessia corajosa rumo ao interesse comum nem sempre se realizou com a maestria esperada. Outra razão forte para começar a empreendê-la desde agora. *Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das Obras de Gramsci no Brasil *********************************************************************************** *** newton antonio fonseca amaral há 5 anos A grandeza da arte desta mulher supera o humano, é digna de uma deusa. Só quem teve o grande privilégio de vê-la encenar esta peça pode mensurar sua extraordinária magnitude. Tinhamos uma tríade de atrizes - Bibi, Marilia Pera e Fernanda Montenegro , ( Marilia se foi, e desfalcou o trio ), de atrizes incomparáveis. E não surge ninguém que possa igualar-se a elas. As promessas, ( Ana Paula Arósio foi uma ), perderam-se nas novelinhas da Globo. Temo pela arte cênica, em perigo de seguir a trilha da música, MPB substituida por sertanejos idiotas, peças substituidas por musicais adaptados. O que será da arte ? Pintura, escultura, literatura ... tudo em decadência. Tristeza. https://www.youtube.com/watch?v=VYLHFLxX6Ak ************************************************ “…Atenção para a desatenção Pode ser a gota d’água Cilada…” ***
*** domingo, 21 de agosto de 2022 Paulo Fábio Dantas Neto* - Virtude e risco da ambiguidade em política O tema da ambiguidade política – ou o da ambiguidade em política - é nosso antigo conhecido. No dizer de Werneck Vianna [“Caminhos e descaminhos da revolução passiva à brasileira” - ensaio encontrado em: Revista Dados vol. 39 no. 3 Rio, 1996 e na coletânea L.W. Vianna: “A Revolução passiva, iberismo e americanismo no Brasil” - Rio: Revan,1997), o Brasil é “o lugar por excelência da revolução passiva”. É intuitivo supor que ambiguidades políticas de variadas dimensões respondem pela atribuição ao nosso país da condição que a frase de Werneck comunica. Para lembrar algumas em que esbarramos, ao visitarmos nossa história política, eis a ambiguidade entre liberalismo e escravidão, entre monarquia e república, ordem e progresso, autoritarismo e modernização, populismo e democracia. Essa última ambiguidade, inaugurada no final da Era Vargas e difundida durante a democracia de 46 a 64, encontra reedição dramática, nos dias atuais, na campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva e negação enfática na de Jair Bolsonaro. Populismo e democracia formam, nesse segundo caso, uma contradição em termos, como ocorreu nos tempos do general Médici (1969-1973), o tempo, por excelência, da disseminação, sem peias, de censura e tortura, durante o regime autoritário. Com o tempo da danação superado por volta de 1977 (salve as arcadas que emolduraram o largo caminho!) e o regime derrotado, em 1985, pelo êxito da transição democrática, fundou-se, então, o regime e a sociedade da Carta de 88, hoje sitiada e abalada por fricções e fantasmas. Por mais incômoda que seja a viagem de regresso por um túnel do tempo que a campanha eleitoral nos está impondo, a ambiguidade não deixa de exibir um lado virtuoso, que é ser o menor dos males, o que permite a continuidade de uma vida em comum, com suas alegrias entre dores, conquistas entre azares. Mais uma vez a ideia da conciliação é nossa valência, senão como abertura de horizontes, ao menos como contenção de dores. O país não dá as costas à sua boa tradição de preferir analgesia, fitoterapia e fisioterapia às consequências de uma cirurgia invasiva no seu corpo original. É isso que Lula quer comunicar quando surge, como sábio e sereno tio da pátria, em vídeos feitos para desarmar e prometer. Nessa terapêutica política de resgate de uma alma nacional apaziguada, a ambiguidade comparece também nos próprios termos que a constituem. Se ambiguidade não houvesse, desarmar e prometer poderiam fluir do ato inaugural de perdoar. Mas se a alma de quem propõe conciliar o país admite relevar agravos que sofreu em passado recente e declara recusar a trilha da vingança, tal aceno deriva de concessão, não de gesto de perdão, a si mesmo e aos demais, por agravos recíprocos. Privado desse ato inaugural, o unguento conciliador atua, mas tem reduzido seu poder de promissão. Ouve-se Lula ambiguamente, como consolo, com alívio, mas sem a esperança ambicionada pelo slogan da campanha. O ato de criar, de propiciar o nascimento – condição que completa, no pensamento de Hannah Arendt, a dignidade da política – depende de se cumprir todo o circuito que começaria pelo perdão. Esse bem público não está disponível no momento. Mas convém não desdenhar a ambiguidade que felizmente há. Aceitar o que se tem, para o desjejum, o almoço e o jantar, não deve desviar nossa consciência de riscos, nada pequenos, implicados numa aceitação acrítica e num cultivo imoderado da ambiguidade benigna. Vou me ater a um exemplo e, ao fazê-lo, pretendo, talvez presunçosamente, alertar quem usa saltos altos e lentes cor-de-rosa a cada pesquisa divulgada. Vejo como erro saudar a estabilidade das intenções de voto em Lula como se fosse avanço, assim como exibir, como troféu antecipado, a mera ausência de uma reversão drástica de números que tornasse a reeleição de Bolsonaro não só algo possível (como já voltou a ser), mas até provável. A subestimação do conta-gotas pode ser fatal. Ela nasce da desatenção para com a necessidade de garantir, ao campo da democracia, o comando moral do processo eleitoral. Esse é um terreno que, se pisado sem delicadeza, faz a virtude da ambiguidade dissipar-se em risco. Há pouco mais de uma semana, no dia 11 de agosto, o ato de leitura, sob as arcadas do Largo de São Francisco, da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros, já ostentando quase um milhão de assinaturas (marca superada logo após o ato, indicando não haver motivos para que a coleta se encerrasse ali), mostrava que a sociedade civil achara o eixo em torno do qual a ampla unidade democrática se forja. Com isso não se resolvia o embate eleitoral, mas se dava cobertura e um sentido político a esse embate. Uma aura de (quase) unanimidade formou-se nas interpretações positivas sobre o significado daquele ato. Plural e histórico, foram essas as qualificações mais frequentes. Estimulada por elas, a coluna que não chegou a ser escrita na semana passada teria explorado várias possibilidades de desdobramento daquele impulso agregador. Este articulista, embora não tenha escrito a coluna, faz aqui uma tardia e desnecessária confissão, que poderia ocultar para escapar a um flagrante de irrealismo, o que sempre é provável quando há tanta gente desencantada ao redor, além dos implacáveis distópicos de plantão. A imaginação teria pousado em inúmeros professores signatários daquela carta sugerindo a seus alunos que a assinassem também; em advogados e juristas fazendo o mesmo com seus clientes, assessores, funcionários e interlocutores; em artistas que tão enfaticamente acolheram e assinaram a carta instalando, na entrada de seus espetáculos, postos de coleta de assinaturas saídas do anonimato; em ativistas organizados das várias cores e credos democráticos levando a carta a terminais de transporte coletivo, a entradas de shoppings e ao comercio de rua, a feiras, praias, parques e aonde mais a iniciativa cívica chegasse. Por fim, a imaginação veria horários de propaganda eleitoral de candidaturas democráticas nos quais a mobilização para a assinatura ainda mais popular da carta poderia aparecer como breve vinheta comum, sem prejuízo de que, em cada programa, as candidaturas comunicassem a seguir suas diferentes mensagens, cuja diversidade sustenta o embate numa eleição politicamente saudável. Houvesse esse circuito após o ato, o milhão de assinaturas do dia 11 poderia ser o primeiro de muitos. O salto seria um documento político servir de liame entre a sociedade civil e o cidadão comum. É desconcertante verificar, apenas uma semana depois, o silêncio obsequioso que se instalou em torno daquele processo promissor de mobilização cívica, tratado, na prática, como mero evento, ainda que marcante. Esse choque abrupto de silêncio começou com a iniciativa dos próprios organizadores de paralisarem o mecanismo eletrônico da coleta mediante a vaga justificativa de que a campanha eleitoral oficial começou. E daí? E além da justificativa, a promessa, ainda mais vaga, de que se voltará ao movimento de defesa da democracia “se necessário”. Qual a indicação de que, por ora, deixou se ser? Equívoco é o que parece ser essa autocontenção da sociedade civil, assim como a distância que o conjunto das forças políticas tomou de possíveis desdobramentos daquele ato. Incluindo partidos e candidaturas que têm feito pregação contínua sobre a necessidade de busca de convergências ao centro. A descontinuidade desconcerta no sentido de surpreender (negativamente) e no de desmobilizar o que deu trabalho para juntar. Porém, mais sério que o da descontinuidade é o efeito de desconstrução desse eixo agregador, provocado pela ambiguidade presente em passos dados pela campanha mais relevante e em movimentações feitas no seu entorno. Na contramão (ou não?) dos esforços empreendidos na construção da imagem positiva de tio da pátria, o pluralismo da Carta e do ato vai sendo tratado, ainda que implicitamente, em chave populista, como pecado elitista original e o sentido do adjetivo histórico, dirigido a ambos, é remetê-los, desde já, ao passado. Listo, a seguir, algumas evidências do que digo: Na semana seguinte à Carta às brasileiras e aos brasileiros, iniciativa ampla nascida no próprio meio universitário, a esquerda universitária produziu uma “Carta de Ex-Reitores e Ex-Reitoras de Universidades Federais pela Democracia e em Apoio à eleição do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva”. É um movimento que estreita o original. O recado político não deixa dúvidas: ir ao centro não significa abrir mão de uma hegemonia em prol do pluralismo. Desde já demarcado está o lugar de quem, por suposto, representa o espaço universitário. Ali os liberais (os da casa e os dos partidos) são visitas. Para evitar ambiguidade eleitoral, incide-se em perigosa ambiguidade quanto à unidade democrática. No mesmo contexto, Lula, em campanha, foi à USP, instituição líder do movimento da sociedade civil. Ladeado por Fernando Haddad e figuras tradicionais do lulopetismo acadêmico, adotou uma dada noção de debate eleitoral: não há tempo a perder com concorrentes inexpressivos, seja em debates pela TV ou no ambiente universitário. Seu alvo é o rival que ameaça a democracia. Daí, em tom de blague, desafia-o a debater téte a téte na USP. Bem poderia receber de volta, como virtual resposta do capitão, que pode ficar com a “sua” USP, que ele, Bolsonaro, está bem no seu cercado, com o “seu” Exército. É ainda sob a mesma chave populista que se pode compreender um novo texto que circula há dois dias, tentando ocupar o lugar daquele que Bolsonaro chamou de cartinha, abreviando-lhe, para regozijo daquele, a vida política útil para arquivá-la em lugar de honra na História. O título “Carta do povo”, assaz enganoso, já expressa, de fato, um contraste com a “Carta às brasileiras e aos brasileiros”, lida e saudada, sob as arcadas, por personalidades e representantes do amplo arco-íris da sociedade civil brasileira. Ali o povo, conjunto de cidadãos e cidadãs não previamente organizados, é destinatário, ainda que nada impedisse que parte desses milhões de indivíduos também se tornasse signatária, pelo exercício de cidadania mais ativa do que aquela, já em si efetiva, que se exerce ao votar em liberdade. No título do texto alternativo - que se difunde nos nichos da frente de esquerda em aliança com o ativismo digital de André Janones - o povo é um coletivo magicamente convertido em remetente pelas artes da retórica populista. Argumentarão, decerto, que não são iniciativas excludentes e, de fato, não são. Até porque, graças às instituições democráticas e pluralistas que temos, a ninguém é dado o poder de promover a excludência. Portanto, não dirijo à carta alternativa um juízo de ilegitimidade e sim o de estreiteza política. E sua leitura mostra que essa estreiteza não está no que contém, mas no que omite. Dos seus dezoito curtos parágrafos - escritos com boa técnica comunicacional de quem trafega tanto nas redes contemporâneas quanto na tradição dos panfletos; e cujo conteúdo é certo conceito de democracia traduzido por escribas presuntivamente autorizados pelo soberano coletivo - só um se refere, genericamente, a instituições políticas capazes de distinguir uma democracia de uma ditadura. Cito o texto: “Democracia é termos o direito do voto, do livre pensar, de professar nossa fé e nosso credo. É vivermos livres de ameaças autoritárias e do medo da fome e do desemprego” (“Carta do Povo”). Cumprido esse protocolo (sem faltar, mesmo aí, o arremate da substância social, sem a qual a política seria, na visão dos escribas, um nada), os demais parágrafos desdobram em pormenores o social que se acha com menos, mas não menores letras, na “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros”, que também cito: “Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude”. (Carta às brasileiras e aos brasileiros”) Voltando à “Carta do povo”, o mais a notar é a ausência ruidosa de qualquer menção ao estado democrático de direito, emanação da nossa Constituição, que foi o eixo em torno do qual se forjou a unidade de 11 de agosto, levando Bolsonaro a se isolar em desacordos, muxoxos e impropérios. Em decorrência dessa omissão básica, seguem outras especificas, de importância crucial, como a defesa do papel do Judiciário, do sistema eleitoral, das urnas eletrônicas, da liberdade de imprensa e por aí vai. Sobre nada disso se diz palavra e como o autor suposto é o povo, deixa-se implícito que, para ele, nada dessas formalidades (pauta das “elites”?) importa e sim a verdadeira “substância” que garante o caráter “popular” da carta. Desconectando forma e substância abre-se flanco aos arautos da democracia iliberal Além do mais, a idealização do povo como incapaz de ir além de impulsos primários denuncia um elitismo de fundo que não ousa dizer seu nome. Ele aproxima o esquerdismo do populismo para formar uma coalizão pela limitação dos cidadãos à condição de massa, ou de clientes. Termina, no limite, naturalizando, ou dando espaço, para que a campanha eleitoral prometa pão a partir de um circo. Aí está o cerne da ambiguidade entre populismo e democracia que, há 60 ou 70 anos, foi, de algum modo, positiva. Como no dizer de Nelson Sampaio, “o jardim de infância da cidadania”. A reincidência nessa ambiguidade, hoje, oferece ao país um script de Benjamin Button e se torna ainda mais ilusória e perigosa porque, no itinerário desse regresso, o outro páthos iliberal que sai à luz, pela direita, tentando vestir o passado autoritário com vestes milicianas, pode ser uma parada obrigatória nesse descaminho. Do ponto de vista da visão de democracia como um gerúndio progressivo, a ambígua veiculação de Lula como um sereno e agregador tio da pátria com olhos postos num passado que considera idílico pode ser aceita como uma forma de evitar o pior. Mas a condição mínima é esse movimento regressivo parar num porto democrático antes da estação autoritária que pode devorar os viajantes. A sugestão do Largo de São Francisco é que esse porto seja o de 1988, que foi construído com o cimento fabricado a partir de 1977. O contraponto populista ao texto do Largo é uma contraproposta? A resposta à pergunta acima indicará o que a principal candidatura do campo democrático pensa a respeito de qual deve ser o comando moral da campanha eleitoral que se intensifica. Até onde posso enxergar, se o comando moral sair das mãos do campo do estado democrático de direito para seguir no rumo de um populismo do bem, ele tende a passar, na verdade, às mãos do adversário comum. Ideologia, guerra santa, violência política, demagogia de pão e circo são facetas de uma mesma cilada. A ambiguidade é método político virtuoso, um saber prático para refratar esses perigos com prudência e habilidade, sem voluntarismo ou doutrina. Mas se torna o próprio perigo se for, ela mesma, um disfarce que congela convicções. Crenças como, por exemplo, “conciliação é inimiga de mudanças”, “meu adversário é o demônio”, “vale tudo contra o fascismo”, “instituições são coisa de elite”, “política não enche barriga” são ambiguidades perigosas em campanhas democráticas. Espalham perversidade e autoengano, alimentando a tese de que é possível vencer o adversário antidemocrático adotando suas premissas. Não é. O que se logra, no máximo, é trocar de posição com ele em incessante batalha frontal. Esses dilemas de ordem moral estão no coração da luta democrática atual. Vale pensar neles para achar um eixo político prático. Por isso será muito bem vindo cada fiapo de debate que puder ocorrer nessa campanha eleitoral. Eles são farol e fermento dos entendimentos entre democratas que ainda precisarão ser feitos no sentido ultra dilemático dos perdões recíprocos que cortam na própria carne. E o serão no tempo da política real, que não pode ser o tempo largo de especulações metafisicas nem o tempo sumário de arrastões. Quem não tiver tempo para pensar nisso, está antecipadamente derrotado. * Cientista político e professor da UFBa ******************************************************
*** Nas entrelinhas: O coração de D. Pedro I simboliza a necropolítica no Bicentenário Publicado em 21/08/2022 - 08:11 Luiz Carlos Azedo Cidades, Comunicação, Eleições, Ética, Governo, Guerra, Itamaraty, Memória, Militares, Partidos, Política, Política, Rio de Janeiro Amanhã, chega ao Brasil o coração de D. Pedro I, que será exposto no Palácio do Itamaraty, em Brasília, como ponto alto das comemorações oficiais do Bicentenário da Independência Ganha um pastel de Belém quem souber onde fica a Rua D. Pedro I no Rio de Janeiro, a cidade que acolheu o jovem príncipe no exílio, em 1808, e o transformou no primeiro imperador do Brasil, às vésperas de completar 24 anos, em 7 de setembro de 1822. Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon era herdeiro da casa real portuguesa, filho de D. João VI, regente de Portugal, e da princesa espanhola Carlota Joaquina, que viriam a se tornar rei e rainha de Portugal em 1816, com a morte da rainha Maria I. O seu protagonismo político na formação do Brasil como nação não pode ser ignorado nas comemorações do Bicentenário da Independência. Com esse objetivo, amanhã, chega ao Brasil o coração de D. Pedro I, que será exposto no Palácio do Itamaraty, em Brasília, como ponto alto das comemorações oficiais do Bicentenário da Independência. A data magna também servirá para a realização de grandes manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e seu projeto de reeleição; a unidade nacional e a coesão social de nosso país estão fora de questão. Essa forma de comemoração merece uma reflexão crítica, porque simboliza o sequestro da identidade nacional e do nosso futuro pelo presidente Jair Bolsonaro com propósitos eleitorais e regressistas. Quase como uma piada pronta, a morbidez da programação reforça a ideia de que vivemos tempos de “necropolítica”. As negociações para o empréstimo do coração levaram cerca de quatro meses e envolveram o governo português, a Câmara do Porto e representantes da Irmandade da Lapa, entidade religiosa que guarda a relíquia. Mantido em um pote de vidro, imerso numa substância dourada, o coração do D. Pedro será recebido no Palácio do Planalto com honras de chefe de Estado, com salvas de canhão e escoltado pelos Dragões da Independência; depois, ficará em exposição pública no Palácio do Itamaraty. Até o começo de 1821, D. João VI manteve D. Pedro afastado da política. Com a Revolução Liberal do Porto, foi obrigado a voltar a Lisboa e deixou-o como príncipe regente do Brasil. Essa ação fez com que assumisse protagonismo político, convertendo-se em líder da Independência, em contraposição às Cortes portuguesas, que exigiam sua volta ao país. Em 9 de janeiro de 1822, D. Pedro anunciou sua permanência no Brasil, evento que ficou conhecido como Dia do Fico. Daí em diante, o processo de ruptura se acelerou, e a hostilidade nas relações entre Brasil e Portugal aumentou. Em 7 setembro de 1822, Dom Pedro estava em viagem a São Paulo e, no trajeto Santos-São Paulo, próximo ao riacho do Ipiranga, recebeu uma carta assinada por sua esposa e por José Bonifácio, seu conselheiro pessoal, com as novas ordens enviadas por Portugal. D. Pedro aproveitou a situação para declarar a independência. Em 1º de dezembro de 1822, D. Pedro foi coroado imperador. Escravidão Ao contrário de todos os demais países das Américas, que se tornaram republicanos a partir da independência — com exceção do México, que teve três impérios brevíssimos —, o Brasil optou por uma monarquia, que nos legou um Estado historicamente constituído e nossa integridade territorial, embora a nação fosse ainda um projeto em construção. A razão de ser da nossa monarquia estava mais associada à manutenção da escravidão e ao projeto de reunificação do Império colonial português, cuja personificação seria o próprio D. Pedro I. Seu autoritarismo e intransigência resultaram na sucessão de crises que marcaram o Primeiro Reinado. D. Pedro fechou a Constituinte de 1823, rasgou a chamada Constituição da Mandioca e nos outorgou a Constituição liberal de 1824, na qual o direito à propriedade privada foi introduzido com o claro objetivo de blindar a escravidão. A insatisfação foi enorme. No Nordeste, deu origem a uma revolta de caráter separatista, a Confederação do Equador. D. Pedro I decidiu declarar guerra contra as Províncias Unidas em virtude de uma revolta em curso na Cisplatina. A guerra afetou a economia brasileira e resultou na independência do Uruguai. A derrota moeu a popularidade de D. Pedro, que perdeu apoio dos militares e da população pobre. O assassinato do jornalista italiano Líbero Badaró, que lhe fazia dura oposição, em novembro de 1830, em São Paulo, tornou a situação insustentável. D. Pedro I foi acusado de proteger os assassinos do jornalista, e o confronto entre seus defensores e críticos nas ruas do Rio de Janeiro explodiu em março de 1831. A Noite das Garrafadas fez com que renunciasse ao trono, em 7 de abril de 1831, para que seu filho, Pedro de Alcântara, pudesse assumir quando completasse 18 anos. Em 1831, D. Pedro I mudou-se para Portugal com o objetivo de participar da Guerra Civil Portuguesa e defender o direito de sua filha, D. Maria II, de assumir o trono do país. Lutou contra o seu irmão D. Miguel pelo trono e venceu esse conflito. Maria foi restaurada no trono de Portugal em 1834, e D. Miguel fugiu em exílio. Durante a guerra, D. Pedro I contraiu tuberculose, doença que se agravou e o levou à morte em 24 de setembro de 1834. No Brasil, o conturbado Período Regencial que se seguiu à abdicação de D. Pedro I, até o Golpe da Maioridade de D. Pedro II, em 1840, foi fundamental, porém, para consolidar a União e plantar, no parlamento brasileiro, as sementes do nosso federalismo e, nele, em contrapartida, a cultura de conciliação de nossas elites. D. Pedro jamais recuperou sua popularidade. Compartilhe: ************************ *** 1. A grande aposta | Podcast Projeto Querino | Por Tiago Rogero 985 visualizações 6 de ago. de 2022 Os esqueletos no armário da Independência do Brasil. Podcast do projeto Querino. Em oito episódios, a série mostra como a História explica o Brasil de hoje. Uma história que talvez você ainda não tenha ouvido, lido ou visto. Idealizado e apresentado pelo jornalista Tiago Rogero, o podcast é uma produção da Rádio Novelo. O projeto Querino é apoiado pelo Instituto Ibirapitanga. Para conteúdos adicionais, acesse: http://projetoquerino.com.br/ https://open.spotify.com/episode/3eqBSnbWDaRsn2yDYW6kWe?si=AWrwPmN4Tx2PgAqJqqVbHw https://www.youtube.com/watch?v=t0FoqShWVJM **********************************************************************************
*** Bandeira Império Do Brasil *** *** História em chamas: o trágico Incêndio do Museu Nacional 31.702 visualizações 10 de set. de 2018 No palacete de três andares em estilo neoclássico sobraram as paredes ocas e as imponentes portas de ferro da entrada. Quase todo o resto foi consumido pelas labaredas do incêndio que assolou o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, durante sete horas, a partir do começo da noite de domingo 2. E que resto: mais de 20 milhões de peças de um dos maiores acervos de história natural e antropologia das Américas. Como pôde acontecer um desastre desses? Quem falhou? Respostas vieram, aos borbotões, enquanto o fogo engolia o prédio de mais de 200 anos na Quinta da Boa Vista, Zona Norte da cidade, antiga sede do Brasil imperial, residência de dom Pedro II e, até a última semana, um pulsante centro de produção de conhecimento. Ministros puseram a culpa na administradora, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A reitoria e a diretoria do próprio museu devolveram a bola aos ministérios, que cortam recursos. “Governos anteriores” foram muito mencionados. No jogo de empurra, sobrou até para os bombeiros. A semana foi passando e ninguém pediu desculpas, ninguém se demitiu, ninguém foi demitido. E provavelmente nem será: o Brasil é o país das tragédias sem culpados e sem punição, uma realidade que torna ainda mais pungente a visão dos escombros destelhados. https://www.youtube.com/watch?v=UlKEeszXQYw ************************************************* *** AO VIVO: O desequilíbrio dos Poderes no Brasil - Parte 2 | WW - 21/08/2022 4.105 assistindo agora Transmissão iniciada há 34 minutos Assista AO VIVO ao programa WW deste domingo, 21 de agosto de 2022, apresentado por William Waack. #CNNBrasil https://www.youtube.com/watch?v=FhkIBw3kORk ********************************************* *** O Supremo Tribunal Federal desequilibra os Poderes no Brasil? | WW - 29/05/2022 26.563 visualizações 30 de mai. de 2022 Assista ao programa WW deste domingo, 29 de maio de 2022, apresentado por William Waack. #CNNBrasil O tema deste programa é: "O Supremo Tribunal Federal desequilibra os Poderes no Brasil?" https://www.youtube.com/watch?v=eGFLRIH2A7Y *********************************************** “…Lulopetismo e Bossalnarismo soam como pré Iluminismo na práxis…” Que expontaneamente surja pelo menos um déspota esclarecido. E que São Rosseau nos proteja e guarde! ***
*** Resumo - O Iluminismo - Pensadores e características O Iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu durante o século XVIII na Europa, que defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas) e pregava maior liberdade econômica e política. Este movimento promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais, baseadas nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. O Iluminismo tinha o apoio da burguesia, pois os pensadores e os burgueses tinham interesses comuns. Iluminismo: Exercícios e características. As críticas do movimento ao Antigo Regime eram em vários aspectos como: - Mercantilismo. - Absolutismo monárquico. - Poder da igreja e as verdades reveladas pela fé. Com base nos três pontos acima, podemos afirmar que o Iluminismo defendia: - A liberdade econômica, ou seja, sem a intervenção do estado na economia. - O Antropocentrismo, ou seja, o avanço da ciência e da razão. - O predomínio da burguesia e seus ideais. As ideias liberais do Iluminismo se disseminaram rapidamente pela população. Alguns reis absolutistas, com medo de perder o governo - ou mesmo a cabeça -, passaram a aceitar algumas ideias iluministas. Estes reis eram denominados Déspotas Esclarecidos, pois tentavam conciliar o jeito de governar absolutista com as ideias de progresso iluministas. Alguns representantes do despotismo esclarecido foram: Frederico II, da Prússia; Catarina II, da Rússia; e Marquês de Pombal, de Portugal. Alguns pensadores ficaram famosos e tiveram destaque por suas obras e ideias neste período. São eles: John Locke John Locke é Considerado o “pai do Iluminismo”. Sua principal obra foi “Ensaio sobre o entendimento humano”, aonde Locke defende a razão afirmando que a nossa mente é como uma tábula rasa sem nenhuma ideia. Defendeu a liberdade dos cidadãos e Condenou o absolutismo. Voltaire François Marie Arouet Voltaire destacou-se pelas críticas feitas ao clero católico, à inflexibilidade religiosa e à prepotência dos poderosos. Montesquieu Charles de Secondat Montesquieu em sua obra “O espírito das leis” defendeu a tripartição de poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. No entanto, Montesquieu não era a favor de um governo burguês. Sua simpatia política inclinava-se para uma monarquia moderada. Rousseau Jean-Jacques Rousseau é autor da obra “O contrato social”, na qual afirma que o soberano deveria dirigir o Estado conforme a vontade do povo. Apenas um Estado com bases democráticas teria condições de oferecer igualdade jurídica a todos os cidadãos. Rousseau destacou-se também como defensor da pequena burguesia. Quesnay François Quesnay foi o representante oficial da fisiocracia. Os fisiocratas pregavam um capitalismo agrário sem a interferência do Estado. Adam Smith Adam Smith foi o principal representante de um conjunto de ideias denominado liberalismo econômico, o qual é composto pelo seguinte: - o Estado é legitimamente poderoso se for rico; - para enriquecer, o Estado necessita expandir as atividades econômicas capitalistas; - para expandir as atividades capitalistas, o Estado deve dar liberdade econômica e política para os grupos particulares. A principal obra de Smith foi “A riqueza das nações”, na qual ele defende que a economia deveria ser conduzida pelo livre jogo da oferta e da procura. FONTE: SÓ HISTÓRIA https://www.sohistoria.com.br/resumos/iluminismo.php

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