Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 26 de dezembro de 2020
O delirio
Que me conste, ainda ninguem relatou o seu proprio delirio; faço-o eu, e a sciencia m’o agradecerá. Se o leitor não é dado á contemplação destes phenomenos mentaes, póde saltar o capitulo; vá direito á narração. Mas, por menos curioso que seja, sempre lhe digo que é interessante saber o que se passou na minha cabeça durante uns vinte a trinta minutos.
Primeiramente, tomei a figura de um barbeiro chinez, bojudo, destro, escanhoando um mandarim, que me pagava o trabalho com beliscões e confeitos: caprichos de mandarim.
Logo depois, senti-me transformado na Summa Theologica de S. Thomaz, impressa n’um volume, e encadernada em marroquim, com fechos de prata e estampas; idéa esta que me deu ao corpo a mais completa immobilidade; e ainda agora me lembra que, sendo as minhas mãos os fechos do livro, e cruzando-as eu sobre o ventre, alguem as descruzava (Virgilia de certo), porque a atitude lhe dava a imagem de um defunto.
Ultimamente, restituido á fórma humana, vi chegar um hippopotamo, que me arrebatou. Deixei-me ir, calado, não sei si por medo ou confiança; mas, dentro em pouco, a carreira de tal modo se tornou vertiginosa, que me atrevi a interrogal-o, e com alguma arte lhe disse que a viagem me parecia sem destino.
— Engana-se, replicou o animal, nós vamos á origem dos seculos.
Insinuei que deveria ser muitissimo longe; mas o hippopotamo não me entendeu ou não me ouviu, se é que não fingiu uma dessas cousas; e, perguntando-lhe, visto que elle fallava, se era descendente do cavallo de Achilles ou da asna de Balaão, retorquiu-me com um gesto peculiar a estes dous quadrupedes: abanou as orelhas. Pela minha parte fechei os olhos e deixei-me ir á ventura. Já agora não se me dá de confessar que sentia umas taes ou quaes cocegas de curiosidade, por saber onde ficava a origem dos seculos, se era tão mysteriosa como a origem do Nilo, e sobretudo se valia alguma coisa mais ou menos do que a consummação dos mesmos seculos; reflexões de cerebro enfermo. Como ia de olhos fechados, não via o caminho; lembra-me só que a sensação de frio augmentava com a jornada, e que chegou uma occasião em que me pareceu entrar na região dos gelos eternos. Com effeito, abri os olhos e vi que o meu animal galopava n’uma planicie branca de neve, com uma ou outra montanha de neve, vegatação de neve, e varios animaes grandes e de neve. Tudo neve; chegava a gelar-nos um sol de neve. Tentei fallar, mas apenas pude grunhir esta pergunta anciosa:
— Onde estamos?
— Já passamos o Eden.
— Bem; paremos na tenda de Abrahão.
— Mas se nós caminhamos para trás! redarguiu motejando a minha cavalgadura.
Fiquei vexado e aturdido. A jornada entrou e parecer-me enfadonha e extravagante, o frio incommodo, a conducção violenta, e o resultado impalpavel. E depois — cogitações do enfermo — dado que chegassemos ao fim indicado, não era impossivel que os seculos, irritados com lhes devassarem a origem, me esmagassem entre as unhas, que deviam ser tão seculares como elles. Em quanto assim pensava, iamos devorando caminho, e a planicie voava debaixo dos nossos pés, até que o animal estacou, e pude olhar mais tranquillamente em torno de mim. Olhar sómente; nada vi, além da immensa brancura da neve, que desta vez invadira o proprio ceu, até alli azul. Talvez, a espaços, me apparecia uma ou outra planta, enorme, brutesca, meneando ao vento as suas largas folhas. O silencio daquella região era egual ao do sepulchro: dissera-se que a vida das cousas ficára estupida deante do homem.
Cahiu do ar? destacou-se da terra? não sei; sei que um vulto immenso, uma figura de mulher me appareceu então, fitando-me uns olhos rutilantes como o sol. Tudo nessa figura tinha a vastidão das fórmas selvaticas, e tudo escapava á comprehensão do olhar humano, porque os contornos perdiam-se no ambiente, e o que parecia espesso era muita vez diaphano. Estupefacto, não disse nada, não cheguei sequer a soltar um grito; mas, ao cabo de algum tempo, que foi breve, perguntei quem era e como se chamava: curiosidade de delirio.
— Chama-me Natureza ou Pandora; sou tua mãe e tua inimiga.
Ao ouvir esta ultima palavra, recuei um pouco, tomado de susto. A figura soltou uma gargalhada, que produziu em torno de nós o effeito de um tufão; as plantas torceram-se e um longo gemido quebrou a mudez das cousas externas.
— Não te assustes, disse ella, minha inimizade não mata; é sobretudo pela vida que se affirma. Vives; não quero outro flagello.
— Vivo? perguntei eu, enterrando as unhas nas mãos, como para certificar-me da existencia.
— Sim, verme, tu vives. Não receies perder esse andrajo que é teu orgulho; provarás ainda, por algumas horas, o pão da dôr e o vinho da miseria. Vives: agora mesmo que ensandeceste, vives; e se a tua consciencia rehouver um instante de sagacidade, tu dirás que queres viver.
Dizendo isto, a visão estendeu o braço, segurou-me pelos cabellos e levantou-me ao ar, como se fôra uma pluma. Só então pude ver-lhe de perto o rosto, que era enorme. Nada mais quieto; nenhuma contorsão violenta, nenhuma expressão de odio ou ferocidade; a feição unica, geral, completa, era a da impassibilidade egoista, a da eterna surdez, a da vontade immovel. Raivas, se as tinha, ficavam encerradas no coração. Ao mesmo tempo, nesse rosto de expressão glacial, havia um ar de juventude, mescla de força e viço, deante do qual me sentia eu o mais debil e descrepito dos seres.
— Entendeste-me? disse ella, no fim de algum tempo de mutua contemplação.
— Não, respondi; nem quero entender-te; tu és absurda, tu és uma fabula. Estou sonhando, decerto, ou, se é verdade, que enlouqueci, tu não passas de uma concepção de alienado, isto é, uma cousa vã, que a razão ausente não póde reger nem palpar. Natureza, tu? a Natureza que eu conheço é só mãe e não inimiga; não faz da vida um flagello, nem, como tu, traz esse rosto indifferente, como o sepulchro. E por que Pandora?
— Porque levo na minha bolsa os bens e os males, e o maior de todos, a esperança, consolação dos homens. Tremes?
— Sim; o teu olhar fascina-me.
— Creio; eu não sou somente a vida; sou tambem a morte, e tu estás prestes a devolver-me o que te emprestei. Grande lascivo, espera-te a voluptuosidade do nada.
Quando esta palavra echoou, como um trovão, naquelle imenso valle, afigurou-se-me que era o ultimo som que chegava a meus ouvidos; pareceu-me sentir a decomposição subita de mim mesmo. Então, encarei-a com olhos supplices, e pedi mais alguns annos.
— Pobre minuto! exclamou. Para que queres tu mais alguns instantes de vida? Para devorar e seres devorado depois? Não estás farto do expectaculo e da luta? Conheces de sobejo tudo o que eu te deparei menos torpe ou menos afflictivo: o alvor do dia, a melancolia da tarde, a quietação da noite, os aspectos da terra, o somno, emfim, o maior beneficio das minhas mãos. Que mais queres tu, sublime idiota?
— Viver somente, não te peço mais nada. Quem me poz no coração este amor da vida, senão tu? e, se eu amo a vida, por que te has de golpear a ti mesma, matando-me?
— Porque já não preciso de ti. Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem. O minuto que vem é forte, jucundo, suppõe trazer em si a eternidade, e traz a morte, e perece como o outro, mas o tempo subsiste. Egoismo, dizes tu? Sim, egoismo, não tenho outra lei. Egoismo, conservação. A onça mata o novilho porque o raciocinio da onça é que ella deve viver, e se o novilho é tenro tanto melhor: eis o estatuto universal. Sobe e olha.
Isto dizendo, arrebatou-me ao alto de uma montanha. Inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, atravez de um nevoeiro, uma cousa unica. Imagina tu, leitor, uma reducção dos seculos, e um desfilar de todos elles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos imperios, a guerra dos appetites e dos odios, a destruição reciproca dos seres e das cousas. Tal era o expectaculo, acerbo e curioso expectaculo. A historia do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imaginação nem a sciencia, porque a sciencia é mais lenta e a imaginação mais vaga, emquanto que o que eu alli via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevel-a seria preciso fixar o relampago. Os seculos desfilavam n’um turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delirio são outros, eu via tudo o que passava deante de mim, — flagellos e delicias, — desde essa cousa que se chama gloria até essa outra que se chama miseria, e via o amor multiplicando a miseria, e via a miseria aggravando a debilidade. Ahi vinham a cobiça que devora, a colera que inflamma, a inveja que baba, e a enxada e a penna, humidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancholia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruil-o, como um farrapo. Eram as fórmas varias de um mal, que ora mordia a viscera, ora mordia o pensamento, e passeiava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da especie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia á indifferença, que era um somno sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagellado e rebelde, corria diante da fatalidade das cousas, atraz de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpavel, outro de improvavel, outro de invisivel, cosidos todos a ponto precario, com a agulha da imaginação; e essa figura, — nada menos que a chimera da felicidade, — ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ella ria, como um escarneo, e sumia-se, como uma illusão.
Ao contemplar tanta calamidade, não pude reter um grito de angustia, que Natureza ou Pandora escutou sem protestar nem rir; e não sei por que lei de transtorno cerebral, fui eu que me puz a rir, — de um riso descompassado e idiota.
— Tens razão, disse eu, a cousa é divertida e vale a pena, — talvez monotona — mas vale a pena. Quando Job amaldiçoava o dia em que fôra concebido, é porque lhe davam ganas de ver cá de cima o expectaculo. Vamos lá, Pandora, abre o ventre, e digere-me; a cousa é divertida, mas digere-me.
A resposta foi compellir-me fortemente a olhar para baixo, e a ver os seculos que continuavam a passar, velozes e turbulentos, as gerações que se superpunham ás gerações, umas tristes, como os hebreus do captiveiro, outras alegres, como os devassos de Commodo, e todas ellas pontuaes na sepultura. Quiz fugir, mas uma força mysteriosa me retinha os pés; então disse commigo: — «Bem, os seculos vão passando, chegará o meu, e passará tambem, até o ultimo, que me dará a decifração da eternidade.» E fixei os olhos, e continuei a ver as edades, que vinham chegando e passando, já então tranquillo e resoluto, não sei até se alegre. Talvez alegre. Cada seculo trazia a sua porção de sombra e de luz, de apathia e de combate, de verdade e de erro, e o seu cortejo de systemas, de idéas novas, de novas illusões; em cada um delles rebentavam as verduras de uma primavera, e amarelleciam depois, para remoçar mais tarde. Ao passo que a vida tinha assim uma regularidade de calendario, fazia-se a historia e a civilisação, e o homem, nu e desarmado, armava-se e vestia-se, construia o tugurio e o palacio, a rude aldêa e Thebas de cem portas, creava a sciencia, que prescruta, e a arte que enleva, fazia-se orador, mecanico, philosopho, corria a face do globo, descia ao ventre da Terra, subia á esphera das nuvens, collaborando assim na obra mysteriosa, com que entretinha a necessidade da vida e a melancholia do desamparo. Meu olhar, enfarado e distrahido, viu emfim chegar o seculo presente, e atraz delle os futuros. Aquelle vinha agil, destro, vibrante, cheio de si, um pouco diffuso, audaz, sabedor, mas ao cabo tão miseravel como os primeiros, e assim passou e assim passaram os outros, com a mesma rapidez e egual monotonia. Redobrei de attenção; fitei a vista; ia emfim ver o ultimo, — o último!; mas então já a rapidez da marcha era tal, que escapava a toda a comprehensão; ao pé della o relampago seria um seculo. Talvez por isso entraram os objectos a trocarem-se; uns cresceram, outros minguaram, outros perderam-se no ambiente; um nevoeiro cobriu tudo, — menos o hippopotamo que alli me trouxera, e que aliás começou a diminuir, a diminuir, a diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era effetivamente um gato. Encarei-o bem; era o meu gato Sultão, que brincava á porta da alcova, com uma bola de papel...
Memórias Póstumas de Brás Cubas Por Machado de Assis
Capítulo VII: O delírio
https://pt.wikisource.org/wiki/Mem%C3%B3rias_P%C3%B3stumas_de_Br%C3%A1s_Cubas/VII
Delirium
A
s
far as I
know,
no one has
ever spoken about
his own
delirium.
I'm
doing
just that
and
science will thank
me for it. If the
reader
isn't
given
to the
contemplation
of
these mental phenomena,
he may
skip this chapter
and go
straight
to the
narrative.
But if he has the
slightest
bit of
curiosity,
I can
tell
him now that
it's interesting
to
knowwhat went on in ray head for some twenty or thirty minutes.
At the
very
first I
took
on the figure of a
Chinese barber, potbellied,dexterous,
who was
giving
a
close shave
to a
mandarin,
who
paid
me for
my
work
with
pinches and sweets: the whims of a mandarin.Right
after
that
I
felt
myself
transformed
into Aquinas'
Summa The-
ologua,
printed in one volume and morocco-bound, with silver claspsand illustrations.
This
was an idea that gave my body a most completeimmobility
and
even
now I can
remember that
with
my
hands
as the
book's clasps crossed over my stomach, someone was uncrossing them(Virgilia most certainly) because that position gave
her the
image
of a
dead person.Finally, restored
to
human
form,
I saw a
hippopotamus come
and
carry
me
off.
1 let
myself
go,
silent,
I
don't know whether
out of
fear
or
trust,
but
after
a
short while
the
running became
so
dizzying
that
I
dared question
him and in
some
way
told
him
that
the
trip didn't seem
to be
going
anywhere.
"You're
wrong,"
the
animal replied, "we're going
to the
origin
of the
centuries."
I
suggested that
it
must
be
very
far
away,
but the
hippopotamus
ei-
ther didn't understand
me or
didn't hear
me,
unless
he was
pretending
one of
those things,
and
when
I
asked him, since
he
could talk,
if he
were a descendant of Achilles' horse or Balaam's ass, he answered mewith
a
gesture peculiar
to
those
two
quadrupeds,
he flapped his
ears.
For
my part,
I
closed
my
eyes
and let
myself
go
where chance would take
me. I
must
confess
now, however, that
I
felt
some sort
of
prick
of cu-
riosity
to find out
where
the
origin
of the
centuries was,
if it was as
mys-terious
as the
origin
of the
Nile, and, most
of
all, whether
the
consummation
of
those same centuries
was
really worth anything:
the
reflections
of a
sick mind. Since
I was
going along with
my
eyes closed
I
couldn't
see the
road.
I can
only remember that
a
feeling
of
cold grewstronger as the journey went on and
that
a time came when it seemed to
me
that
we
were entering
the
region
of
perpetual ice.
In
fact,
I
opened
my
eyes
and saw
that
my
animal
was
galloping across
a
white plain
ofsnow,
here and there a mountain of snow, vegetation of snow, and sev-
eral
large animals of snow. Everything' snow. A sun of snow was coming
out to
freeze
us. I
tried
to
speak
but all I
could manage
was to
grunt this
anxious
question:
"Where
are
we?"
"We
just passed Eden.""Fine. Let's stop
at
Abraham's tent.""But we're traveling backward " my mount retorted mockingly.
I was
vexed
and
confused.
The
trip
was
beginning
to
seem tiresomeand reckless, the cold was uncomfortable, the ride
furious,
and the re-sult impalpable.
And
afterward—the cogitations
of a
sick man—if
wedid
reach
the
indicated goal,
it
wasn't impossible that
the
centuries,
an-
noyed
at
having their origin infringed upon, would squash
me
betweentheir
fingers,
which must have been
as
age-old
as
they.
While
I was
thinking along those lines
we
were gobbling
up the
road
and the
plainflew under our feet until the animal became fatigued and I was able tolook more calmly
at my
surroundings. Only look:
I saw
nothing exceptthe vast whiteness of the snow, which by now had invaded the sky itself,
blue
up
till
then.
Here
and
there
a
plant
or two
might appear, huge
and
brutish,
the
broad leaves waving
in the
wind.
The
silence
of
that region
was
like
a
tomb.
It
could
be
said that
the
life
of
things
had
become stu-pidity
for
man.
Had it
fallen
out of the
air?
Detached itself
from
the
earth?
I
don't
know.
I do know that a huge shape, the
figure
of a woman, appeared to
me
then, staring
at me
with eyes that blazed like
the
sun. Everythingabout
that
figure
had the
vastness
of
wild forms
and
everything
was be-
yond
the
comprehension
of
human gaze because
the
outlines were lost
in the
surroundings
and
what looked thick
was
often diaphanous. Stu-
pefied,
I
didn't
say a
word,
I
couldn't even
let out a
cry,
but
after
a
time,which
was
brief,
I
asked
who she was and
what
her
name was:
the cu-
riosity
of
delirium."Call
me
Nature
or
Pandora.
I am
your mother
and
your enemy."
When
I
heard that last word
I
drew back
a
little, overcome
by
fear.
The figure let out a
guffaw,
which produced the
effect
of a typhoonaround us; plants twisted and a long moan broke the silence of externalthings.
"Don't
be
frightened,"
she
said,
"my
enmity doesn't kill, it's con-
firmed
most
of all by
life.
You're alive: that's
the
only torment
I
want.""I'm alive?"
I
asked, digging
my
nails into
my
hands
as if to
certify
my existence.
"Yes,
worm, you're alive.
Don't
worry about losing those rags that
are
your pride, you're still
going
to
taste
the
bread
of
pain
and the
wine
of
misery
for a few
hours. You're alive.
Right
now
while you're going crazy,you're alive, and if your consciousness gets an instant of wisdom, you'll
say
you want to live."Saying that,
the
vision reached
out her
arm, grabbed
me by the
hair,
and
lifted
me up as if I
were
a
feather.
Only
then
did I
manage
to get a
close
look
at her
face,
which
was
enormous. Nothing more serene;
no
violent
contortion, no expression of hatred or ferocity. The only expres-
sion,
general, complete,
was
that
of
selfish
impassivity,
that
of
eternal
deafness,
that
of an
immovable will. Wrath,
if she had
any,
was
buried
in
her
heart.
At the
same time,
in
that
face
of
glacial
expression there
was
a look of youth and a blend of strength and vitality before which I
felt
the
weakest
and
most decrepit
of
creatures."Did
you
understand me?"
she
asked
me
after
some time
of
mutual
contemplation.
''No,
I
answered, "nor
do 1
want
to
understand you.
You're
an
absur-
dity,
you're a
fable.
I'm dreaming most certainly or if it's true
that
1 wentmad, you're nothing but the conception of a
lunatic.
I mean a hollowthing that: absent reason can't control or touch. You Nature? The Nature
1
know
is
only mother
and not
enemy.
She
doesn't make
life
a
torment,
nor
does she
s
like you, carry
a
face
that's
as
indifferent
as the
tomb.
And
why
Pandora?"
"Because
I
cany
good
and
evil
in my bag and the
greatest thing
of
all, hope, the consolation of mankind. Are you trembling?"
"Yes,
your gaze bewitches me."
"1
should think so, I'm not only
life,
I'm also death, and you're aboutto give
me
back what
I
loaned you.
You
great lascivious man,
the
volup-tuosity of nothingness awaits you."
When
that word, "nothingness," echoed like
a
thunderclap
in
that
huge valley,
it was
like
the
last sound
that
would reach
my
ears.
I
seemed
to
feel
my own
sudden decomposition.
Then
I
faced
her
with
pleading
eyes
and
asked
for a few
more years.
"You
miserable little minute "
she
exclaimed.
"What
do you
want
a
few
more instants of life
for?
To devour and be devoured afterward?Haven't
you had
enough spectacle
and
struggle? You've
had
more thanenough
of
what
I
presented
you
with
that's
the
least base
or the
least
painful:
the
dawn
of
day,
the
melancholy
of
afternoon,
the
stillness
of
night,
the
aspects
of the
land, sleep, which when all's said
and
done
isthe
greatest benefit
my
hands
can
give.
What
more
do you
want,
you
sublime
idiot?"
"Just
to
live, that's
all I ask of
you.
Who put
this
love
of
life
in my
heart
if not
you?
And
since
I
love
life
why
must
you
hurt yourself
by
killing me?"''Because
I no
longer need you.
The
minute
that
passes doesn't mat-
ter to
time, only
the
minute
that's
coming.
The
minute
that's
coming
is
strong, merry,
it
thinks
it
carries eternity
in
itself
and it
carries death,and it perishes just like the other one, but time carries on. Selfishness,
you
say?
Yes,
selfishness,
I
have
no
other law.
Selfishness,
preservation.The jaguar kills the calf because the jaguar's reasoning is
that
it mustlive, and if the calf is tender, so much the better:
that's
the universal law.Come up and have a
look."
Saying
that,
she carried me up to the top of a mountain. I cast my
eyes
down one of the slopes and for a long time, in the distance,
through
the
mist
I
contemplated
a
strange
and
singular thing. Justimagine, reader, a reduction of the centuries and a parade of all ofthem, all races, all passions, the tumult of empires, the war of ap-petites
and
hates,
the
reciprocal destruction
of
creatures
and
things.Such
was
that
spectacle,
a
harsh
and
curious spectacle.
The
history
of
man
and the earth had an intensity in that way that neither science
nor
imagination could give
it,
because
science
is
slower
and
imagina-tion is vaguer, while what I was seeing there was the living condensa-tion of all ages. In order to describe it one would have to make alightning
bolt
stand
still.
The centuries were filing by in a maelstromand yet, because the eyes of delirium are
different,
I saw everythingthat was passing
before
me—torments and delights—from
that
thingcalled glory to the other one called misery, and I saw love multiplying
misery
and I saw misery intensifying weakness. Along came greedthat devours, wrath that
inflames,
envy
that
drools, and the hoe andthe pen, damp with sweat and ambition, hunger, vanity, melancholy,wealth, love, and all of them shaking man like a rattle until they de-
stroyed
him like a rag.
They
were
different
forms
of an illness
that
sometimes
gnaws at the entrails, sometimes at thoughts, and in itsHarlequin costume eternally stalks the human
species.
Pain relents
sometimes,
but it
gives
way to
indifference,
which
is a
dreamless
sleep,
or to
pleasure, which
is a
bastard pain.
Then
man, whipped
andrebellious,
ran ahead of the fatality of
things
after
a nebulous and
dodging
figure
made
of
remnants,
one
remnant
of the
impalpable,another of the improbable, another of the invisible, all sewn togetherwith
a
precarious
stitch
by the
needle
of
imagination.
And
that
figure—nothing
less than
the
chimera
of
happiness
—
either runs
away
from
him perpetually or lets itself be caught by the hem, and
man
would clutch
it to his
breast,
and
then
she
would laugh, mock-ingly,
and
disappear like
an
illusion.As I contemplated such calamity I was unable to hold back a cry ofanguish
that
Nature
or
Pandora heard without protest
or
laughter. And,I don't know by what law of cerebral upset, I was the one who started tolaugh—an arrhythmic and
idiotic
laugh
"You're
right,"
I
said, "this
is
amusing
and
worth something—mo-notonous maybe,
but
worth something.
When
Job
cursed
the day he
was
conceived
it was
because
he
wanted
to see the
spectacle
from
up
here
on
top. Come
on,
Pandora, open
up
your womb
and
digest
me.
It'samusing,
but
digest me."
Her
answer
was to
force
me to
look down below
and
watch
the
cen-turies
that
were still passing,
swift
and
turbulent,
the
generations
that
were superimposed
on
generations, some
sad
like
the
Hebrews
of the
Captivity, others merry like Commodus' profligates,
and all of
thempunctual
for the
tomb.
I
tried
to flee but a
mysterious
force
held back
my
feet.
Then
I
said
to
myself: "Fine,
the
centuries keep passing, minewill arrive
and it
will pass, too, right down
to the
last one, which willdecipher eternity
for
me."
And I fixed my
gaze
on
them
and
continuedwatching the ages, which kept coming and passing, calm and resolutenow.
I
don't
know,
but I may
even have been happy. Happy perhaps.Each century brought
its
portion
of
light
and
shadow, apathy
and
combat,
truth
and error, and its cortege of systems, new ideas, new illu-sions. In each of them the greenery of a springtime was bursting forth,
and
then they would yellow,
to be
rejuvenated later
on. So in
that
way
life
had the regularity of a calendar, history and civilization were beingmade, and man, naked and unarmed, armed himself and dressed; builthovel and palace, a crude village and Thebes of a Thousand Gates; cre-ated science that scrutinizes and art that elevates; made himself orator,mechanic, philosopher, covered
the
face
of the
globe; descended into
the
bowels
of the
Earth; climbed
up to the
sphere
of the
clouds, collab-orating
in
that
way in the
mysterious work with which
he
mitigated
the
necessities
of
life
and the
melancholy
of
abandonment.
My
gaze,bored
and
distracted,
finally saw the
present century arrive,
and
behindit
the
future
ones.
It
came along agile, dexterous, vibrant, self-con-
fident,
a
little
diffuse,
bold, knowledgeable,
but in the end as
miserable
as
the
ones before,
and so it
passed,
and
that
was how the
otherspassed, with
the
same rapidity
and the
same monotony.
I
redoubled
my
attention, sharpened
my
sight.
I was finally
going
to see the
last—thelast
But by
then
the
speed
of the
march
was
such
that
it
went beyondall comprehension. At its base a lightning flash would have been a cen-
tury.
Maybe that was why objects began to change. Some grew, othersshrank, others were lost
in
their background.
A
mist covered every-thing—except
the
hippopotamus
who had
brought
me
there
and
who,likewise, began
to
grow smaller,
and
smaller,
and
smaller,
until
he
reached the size of a cat. In
fact
he was a cat. I took a good look at him.
It was my cat, Sultao, who was playing by the door of the room with aball of paper.
The Posthumous Memoirs of Brás Cubas - Machado de Assis
V
I I
Delirium
https://www.academia.edu/40311498/The_Posthumous_Memoirs_of_Br%C3%A1s_Cubas_Machado_de_Assis
Deixa a Vida Me Levar
Seginho Meriti
Eu já passei por quase tudo nessa vida
Em matéria de guarida, espero ainda a minha vez
Confesso que sou de origem pobre
Mas meu coração é nobre, foi assim que Deus me fez
E deixo a vida me levar
Vida, leva eu
Deixa a vida me levar
Vida, leva eu
Deixa a vida me levar
Vida, leva eu
Sou feliz e agradeço por tudo o que Deus me deu
Só posso levantar as mãos pro céu
Agradecer e ser fiel ao destino que Deus me deu
Se não tenho tudo que preciso
Com o pouco que tenho vivo
De mansinho lá vou eu
Se a coisa não sai do jeito que quero
Eu também não me desespero
O negócio é deixar rolar
E aos trancos e barrancos lá vou eu
E sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu
E deixo a vida me levar
Vida, leva eu
Deixa a vida me levar
Vida, leva eu
Deixa a vida me levar
Vida, leva eu
Sou feliz e agradeço por tudo o que Deus me deu
E assim vou seguindo a minha vida
Sempre encontro uma saída
Na hora do vamos ver
Há sempre aquela mão amiga
Onde quer que eu vá e sinta
Ela tá pra me socorrer
Agradecendo sempre às crianças
Onde eu vejo a esperança
Desse meu Brasil melhorar
E aos trancos e barrancos lá vou eu
Sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu.
Composição: Eri Do Cais / Serginho Meriti.
https://www.letras.mus.br/serginho-meriti/838873/
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