terça-feira, 14 de julho de 2020

NOTAS DE PANDEMIA






MANOTAS DE FESTIM




terça-feira, 14 de julho de 2020
Maria Cristina Fernandes - Gilmar se antecipa à estratégia bolsonarista

- Valor Econômico

O mais recente episódio de confrontação entre os poderes, a ameaça do Ministério da Defesa de representar judicialmente contra Gilmar Mendes, originou-se da estratégia do ministro do Supremo Tribunal Federal de levantar barreiras à escalada com a qual o presidente Jair Bolsonaro busca responsabilizar a Corte, governadores e prefeitos pelos danos à saúde dos brasileiros e à economia do pais.

Já corria 1h30 do debate promovido no sábado à tarde pelo Instituto de Direito Privado (IDP), do qual é sócio, quando o ministro disse que não seria mais possível tolerar o que se passa no Ministério da Saúde: “É péssimo para a imagem das Forças Armadas. O Exército está se associando a este genocídio”.

Gilmar Mendes foi secundado por dois dos palestrantes, o médico Drauzio Varella, que disse que a entrada dos militares no Ministério da Saúde “não honra as Forças Armadas do Brasil”, e pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, para quem a intervenção de militares na Pasta, substituindo todo o corpo técnico, é tão ou mais sério que uma intervenção do governo na Polícia Federal. O general Eduardo Pazuello, que responde pela Pasta desde 15 de maio, com a saída do ex-ministro Nelson Teich, preencheu todo o segundo escalão com nomes egressos das Forças Armadas.

A resposta do Ministério da Defesa veio, por nota, na tarde do domingo. Nesta nota, assinada pela assessoria de comunicação, a Pasta se limita a prestar informações sobre o envolvimento das Forças Armadas no combate à pandemia, como, por exemplo, o contingente de 34 mil militares, maior, como costumam lembrar, do que aquele enviado à Segunda Guerra Mundial.

Nesta segunda, porém, veio uma nota mais dura. Assinada pelo ministro Fernando Azevedo e Silva, além dos três comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, os signatários, nesta segunda nota, se dizem “indignados” pelos comentários do ministro do Supremo: “Trata-se de uma acusação grave, além de infundada, irresponsável e, sobretudo, leviana”.

O texto cita a lei do genocídio (2.889), de 1956, para dizer que se trata de crime “gravíssimo”, no âmbito nacional, como na justiça internacional, o que, “é de pleno conhecimento de um jurista”. A nota conclui pela afirmação de que as Forças Armadas, incluindo a Marinha, o Exército e a Força Aérea, “estão completamente empenhadas justamente em preservar vidas”. E informa que o Ministério da Defesa encaminhará representação ao Procurador-Geral da República para a “adoção das medidas cabíveis”.

O presidente Jair Bolsonaro não se manifestou, mas o vice, Hamilton Mourão, que já subscreveu críticas ao Supremo Tribunal Federal, reagiu com a linguagem do polo, esporte do qual é adepto: “Gilmar Mendes não foi feliz. Ele cruzou a linha da bola. Atribuir essa culpa ao Exército é forçar uma barra”.

Apesar de dura, a resposta da Defesa se destaca por não incluir o comandante-em-chefe ao lado das Forças Armadas, no empenho em preservar vidas, e citar um recurso a um instrumento da democracia (representação judicial), em contraposição às ameaças veladas que o ex-comandante do Exército, Eduardo Villas-Boas, fazia ao Supremo.

Apesar da nota dura, a cúpula das Forças Armadas já havia concluído que uma parte da fatura da pandemia cairia em seu colo. Por isso, a permanência do general Pazuello como ministro-interino desagrada a instituição. Um general próximo ao comandante Edson Leal Pujol diz que o Exército não responde pela decisão do general de aceitar o cargo.

Pazuello está sendo pressionado a tomar o mesmo rumo do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, que gostaria de encerrar sua carreira como comandante militar do Leste, no Rio, mas irá para a reserva antes do que desejava. A transferência deverá ser efetivada até sexta-feria. Restaria ainda Flávio Rocha, almirante quatro estrelas da Marinha, que hoje exerce o cargo de secretário de Assuntos Estratégicos, subordinado diretamente à Presidência da República.

A nota marca ainda uma reaproximação do ministro da Defesa e dos comandantes militares, estremecidos desde que Azevedo e Silva referendou, em nome deles, a participação do presidente em manifestações de apoio em plena pandemia. Desta vez, foram os comandantes que fizeram questão de subscrever a nota em resposta ao ministro do Supremo.

Indagado se Pujol voltaria a receber Gilmar Mendes, como o fez há um mês, um general do gabinete do comandante disse: “O ministro está em Portugal e nós estamos aqui trabalhando pelo povo brasileiro”.

Desde ontem, Azevedo e Silva e o ministro Dias Toffoli, a quem assessorava antes de ir para o governo Bolsonaro, têm discutido uma forma de pacificar a tensão entre Supremo e Forças Armadas, a partir da percepção comum de que Gilmar Mendes exagerou nas tintas.

De Portugal, onde não fez mais declarações, o ministro tem dito a quem o procura para comentar o episódio, que já havia alertado, no plenário do Supremo, sobre a armadilha que Bolsonaro preparara para as Forças Armadas, ao usá-las para um papel, no Ministério da Saúde, que nenhum médico ou profissional que preze por sua reputação, se presta a cumprir.

A opinião foi referendada, no Valor, por Maria Elizabeth Rocha, ministra do Superior Tribunal Militar: “É cômodo para o presidente escolher militares para compor o alto escalão, preenchendo lacunas que, politicamente, talvez ele não conseguisse manejar. São pessoas que nunca vão confrontá-lo, pois ele é o chefe supremo das Forças Armadas”.

Gilmar Mendes tampouco está isolado na sua Corte. O ministro Luis Roberto Barroso já disse que o presidente Jair Bolsonaro, ao povoar o governo de militares, está levando o Brasil a uma “chavização” da política, o seja, transformando o país numa Venezuela de Hugo Chávez.

Desde que chegou a Portugal, Gilmar Mendes tem ficado impressionado com as referências negativas da imprensa europeia ao Brasil. Chegou a comentar que o presidente Jair Bolsonaro não deve pisar na Europa sob o risco de ser notificado pelo Tribunal Penal Internacional.

É na reação a este cerco que o ministro firmou convicção de que Bolsonaro jogará, cada vez mais, sobre o Supremo e os governadores, a responsabilidade pelos crimes da pandemia. Bolsonaro nunca aceitou a decisão da Corte de que a União não podia impor aos Estados as diretrizes para o combate à covid-19, como o uso da cloroquina, uma vez que a Constituição prevê a gestão compartilhada para o Sistema Único de Saúde.

No Supremo não se descarta que governadores que hoje se veem prejudicados por uma distribuição sem critérios técnicos dos recursos da Saúde, venham a interpelar a Corte com uma Ação de Preceito Fundamental, contra o Ministério. Foi sob este fogo cruzado que os militares, pela presença de um general da ativa no comando da Pasta, se colocaram.

Ao acusar os militares de terem se deixado usar pelo presidente no que chamou de “genocídio”, o ministro pagou pra ver o que será a reação fardada quando a acusação for formalizada contra o presidente. Na nota, os militares saem em defesa da corporação mas não estendem a blindagem ao presidente.
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/07/maria-cristina-fernandes-gilmar-se.html#more





Gilmar Mendes diz não ter atingido honra das Forças Armadas
Ministro do STF divulgou nota na manhã desta terça-feira
                                                                                                     

Publicado em 14/07/2020 - 10:30 Por Felipe Pontes - Repórter da Agência Brasil – Brasília

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse hoje (14) que respeita as Forças Armadas, embora tenha criticado a formulação de políticas públicas de saúde por militares, em meio à pandemia de covid-19.
“Ao tempo em que reafirmo o respeito às Forças Armadas brasileiras, conclamo que se faça uma interpretação cautelosa do momento atual”, escreveu Mendes, em nota. “Vivemos um ponto de inflexão na nossa história republicana em que, além do espírito de solidariedade, devemos nos cercar de um juízo crítico sobre o papel atribuído às instituições de Estado no enfrentamento da maior crise sanitária e social do nosso tempo”, acrescentou o ministro.
Ontem (13), o Ministério da Defesa também divulgou nota em que afirmou o empenho de Exército, Marinha e Força Aérea Brasileira (FAB) em preservar vidas durante a pandemia. O comunicado da Defesa foi motivado por um comentário feito no sábado (11) por Gilmar Mendes. Em uma videoconferência, ele disse que o “Exército se associou a um genocídio”, numa referência ao trabalho de militares no Ministério da Saúde.
No comunicado, a Defesa afirmou que a acusação é grave e que enviaria à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma representação para adoção das medidas cabíveis a respeito das declarações do ministro.
Nesta terça-feira (14), Mendes disse não ter atingido a honra de Exército, Marinha e FAB, e que nem mesmo citou estas duas últimas em seu comentário. “Apenas refutei e novamente refuto a decisão de se recrutarem militares para a formulação e execução de uma política de saúde que não tem se mostrado eficaz para evitar a morte de milhares de brasileiros”, escreveu o ministro.
Leia a íntegra da nota do ministro:
“Ao tempo em que reafirmo o respeito às Forças Armadas brasileiras, conclamo que se faça uma interpretação cautelosa do momento atual. Vivemos um ponto de inflexão na nossa história  republicana em que, além do espírito de solidariedade, devemos nos cercar de um juízo crítico sobre o papel atribuído às instituições de Estado no enfrentamento da maior crise sanitária e social do nosso tempo.
Em manifestação recente, destaquei que as Forças Armadas estão, ainda que involuntariamente, sendo chamadas a cumprir missão avessa ao seu importante papel enquanto instituição permanente de Estado.
Nenhum analista atento da situação atual do Brasil teria como deixar de se preocupar com o rumo das nossas políticas públicas de saúde. Estamos vivendo uma crise aguda no número de mortes pela covid-19, que já somam mais de 72 mil. Em um contexto como esse, a substituição de técnicos por militares nos postos-chave do Ministério da Saúde deixa de ser um apelo à excepcionalidade e extrapola a missão institucional das Forças Armadas.
Reforço, mais uma vez, que não atingi a honra do Exército, da Marinha ou da Aeronáutica. Aliás, as duas últimas nem sequer foram por mim mencionadas. Apenas refutei e novamente refuto a decisão de se recrutarem militares para a formulação e execução de uma política de saúde que não tem se mostrado eficaz para evitar a morte de milhares de brasileiros”.
Edição: Denise Griesinger

https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2020-07/gilmar-mendes-diz-nao-ter-atingido-honra-das-forcas-armadas



Nota Oficial

Publicado em 13/07/2020 13h23 Atualizado em 13/07/2020 15h16

O Ministro da Defesa e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica repudiam veementemente a acusação apresentada pelo senhor Gilmar Mendes, contra o Exército Brasileiro, durante evento realizado no dia 11 de julho, quando afirmou: “É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável”.
Comentários dessa natureza, completamente afastados dos fatos, causam indignação. Trata-se de uma acusação grave, além de infundada, irresponsável e sobretudo leviana. O ataque gratuito a instituições de Estado não fortalece a democracia.
Genocídio é definido por lei como “a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso” (Lei nº 2.889/1956). Trata-se de um crime gravíssimo, tanto no âmbito nacional, como na justiça internacional, o que, naturalmente, é de pleno conhecimento de um jurista.
Na atual pandemia, as Forças Armadas, incluindo a Marinha, o Exército e a Força Aérea, estão completamente empenhadas justamente em preservar vidas.
Informamos que o MD encaminhará representação ao Procurador-Geral da República (PGR) para a adoção das medidas cabíveis.
Fernando Azevedo e Silva
Ministro de Estado da Defesa
                                              Ilques Barbosa Junior                                      Gen Ex Edson Leal Pujol                            Ten Brig Ar Antonio Carlos Moretti Bermudez
                                             Almirante de Esquadra                                     Comandante do Exército                                       Comandante da Aeronáutica
                                           Comandante da Marinha       
https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/noticias/nota-oficial





IstoÉ Live - Drauzio Varella, Gilmar Mendes, Luiz Henrique Mandetta, Maria dos Remédios

Em uma parceria inédita com o Instituto Brasiliense de Direito Público, recebemos o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o médico Drauzio Varella, a infectologista Maria dos Remédios e o ministro do STF Gilmar Mendes para um debate sobre como será a vida na pós-pandemia.

https://www.youtube.com/watch?v=CrmpNAA4aY0




sábado, 27 de junho de 2020
Merval Pereira - O pós-Bolsonaro

- O Globo

Cientista político vislumbra retirada dos militares da arena política e o reforço da orientação para a defesa nacional

Diante da polêmica sobre o papel das Forças Armadas num regime democrático, o que deve um presidente de origem civil fazer com a questão militar? Esse é o tema sobre o qual se debruça o cientista político da Fundação Getulio Vargas do Rio Octavio Amorim Neto, num artigo para o boletim do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre). Ele leva em conta o pós-Bolsonaro, seja com a impugnação da chapa Bolsonaro-Mourão pelo TSE, ou com a derrota de Bolsonaro, ou Mourão ( em caso de impeachment) em 2022.

Como até hoje não houve força política para retirar da definição do papel das Forças Armadas a responsabilidade pelas “garantias dos poderes constitucionais”, como sugere o historiador José Murilo de Carvalho, da Academia Brasileira de Letras, Octavio Amorim Neto vislumbra outras possibilidades "de mais rápida e fácil implementação, todas tendo como norte a retirada dos militares da arena política e o reforço da orientação das Forças Armadas para atividades relacionadas à defesa nacional”.

O cientista político lembra que na Estratégia Nacional de Defesa havia a promessa de realizar “estudos sobre a criação de quadro de especialistas civis em Defesa, em complementação às carreiras existentes na administração civil e militar, de forma a constituir-se numa força de trabalho capaz de atuar na gestão de políticas públicas de defesa, em programas e projetos da área de defesa, bem como na interação com órgãos governamentais e a sociedade, integrando os pontos de vista político e técnico”.

Passados doze anos, o país dos concursos públicos ainda não conseguiu realizar o concurso para o quadro de especialistas civis em Defesa, critica Octavio Amorim Neto, que no longo prazo, “permitiriam democratizar as relações civis- militares em seu ponto nevrálgico, o Ministério da Defesa”.

Haverá certamente, admite Octavio Amorim Neto, muita resistência ao quadro de especialistas civis por parte das Forças Armadas, “uma vez que o Ministério da Defesa deixará de ser quase que completamente mobiliado por oficiais da Marinha, Exército e Força Aérea, tal qual se verifica hoje". Para aplacar essa resistência, o cientista político da FGV-Rio diz que um novo presidente de origem civil não deverá contingenciar o orçamento de investimento da Defesa, “de modo que as Forças Armadas possam ter a garantia de que conseguirão concluir seus principais projetos dentro dos prazos planejados”: aquisição de caças pela FAB – Projeto FX-2; programas de desenvolvimento de submarinos e o programa nuclear da Marinha – Pro-sub e PNM; despesas com a aquisição de cargueiros táticos de 10 a 20 toneladas e o programa de desenvolvimento de cargueiro tático de 10 a 20 toneladas – Projetos KC e KC-X; despesas com o programa de implantação do sistema de defesa estratégico – Astros 2020; despesa com a aquisição de blindados Guarani pelo Exército; e as referentes à implantação do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras – Sisfron.

“Será uma conta salgada, sobretudo para um país que estará em profunda crise econômica e social, mas pagá-la é condição necessária para que a Forças Armadas possam se concentrar em suas funções precípuas”, ressalta Amorim Neto, que recorda uma afirmação recente de Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa, segundo quem cabe ao poder político definir a Política Nacional e a Estratégia Nacional de Defesa, os objetivos, estrutura e meios das nossas Forças Armadas.

Mas, ressaltou Jungmann, “o poder político, não o faz, se aliena. A Política e Estratégia vigentes, elaboradas em 2016 quando era Ministro da Defesa, foram votadas na Câmara e no Senado sem audiências públicas, sem emendas, debates e por órgãos governamentais e a sociedade, integrando os pontos de vista político e voto simbólico”.

Octavio Amorim Neto afirma em seu trabalho que os líderes do Congresso deverão imprimir plena chancela parlamentar ao emprego das Forças Armadas em atividades intimamente relacionadas à defesa nacional. Para ele, “é absolutamente vital” que as lideranças democráticas do país comecem a pensar seriamente sobre a questão militar no pós-Bolsonaro, sob pena de termos que conviver com os fantasmas do pretorianismo por um longo tempo. “É ingenuidade ou desconhecimento da história achar que o encerramento dos mandatos de Bolsonaro e Mourão resolverá o problema”.
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/06/merval-pereira-o-pos-bolsonaro.html




O orçamento da defesa de 2020: de um desequilíbrio a outro
21/02/2020
Octavio Amorim Neto
    
As contas públicas de 2019 encerraram o ano com um déficit R$ 10,5 bilhões acima do esperado. Porém, em dezembro, foram aportados R$ 7,6 bilhões à EMGEPRON para a construção de quatro corvetas para a Marinha. Havia a expectativa, dentro do próprio governo, de que a estatal receberia aquele valor ao longo dos próximos anos, e não todo de uma vez. Além disso, o presidente Bolsonaro proibiu que o orçamento para o Ministério da Defesa (MD) seja contingenciado em 2020. Entretanto, as verbas de pesquisas da CAPES se reduzirão à metade, o mesmo devendo acontecer com os recursos orçamentários destinados às universidades federais. A proteção dada ao orçamento da Defesa implicará a contenção de despesas referentes a uma fatia considerável dos gastos sociais. O orçamento do Ibama para 2020 foi cortado em quase um terço, após já haver sido podado em 2019. Antes das decisões tomadas ao apagar das luzes de 2019, Bolsonaro já havia conferido grandes vantagens às Forças Armadas, ao cobrar-lhes apenas aproximadamente R$ 1 bilhão por ano como economia previdenciária e conceder-lhes um amplo aumento salarial. Criou-se também um dispositivo legal que permite que militares da reserva atuem no setor público com aumento de soldo de 30%. E não se deve jamais esquecer que 2.500 militares foram nomeados para ministérios e autarquias durante o ano passado[1].
A explicação para os impressionantes benefícios obtidos pelos militares é óbvia: eles são um dos pilares de sustentação política do atual governo. E apoio político sempre implica contrapartidas em termos de nomeações para cargos na administração federal e recursos orçamentários. Trata-se, ironicamente, de regra clássica do tão criticado presidencialismo de coalizão. Só que, dessa vez, a coalizão não é com partidos, mas, sim, com o braço armado do Estado.
Além disso, no contexto de um penoso ajuste fiscal, o governo tomou outra decisão típica da velha política: os custos do ajuste devem recair sobre os ombros dos setores supostamente associados à oposição. Daí, os duros cortes orçamentários que sofrerão órgãos ligados à pesquisa acadêmica, às universidades e à proteção do meio ambiente. E, como já mencionado, despesas do gasto social deverão ser contingenciadas ao longo de 2020 para garantir a estabilidade do orçamento da Defesa.
Em suma, o Brasil se encontra num dos polos do famoso efeito do tipo cobertor curto entre canhões e manteiga (o termo original é em inglês: “guns versus butter tradeoff”). Esse é um fenômeno que começou a se manifestar de forma aguda na Europa, no começo do século XX. Até o final do século XIX, a maior fatia dos orçamentos nacionais era, em geral, voltada para o gasto militar. Contudo, no rastro do processo de democratização pela qual passavam, por exemplo, França e Grã-Bretanha, e do acirramento dos conflitos geopolíticos entre as grandes potências, passou a haver uma intensa competição entre, por um lado, as demandas por aumento do gasto social (manteiga) vocalizadas por partidos liberais e de esquerda e, por outro, as demandas por aumento do gasto militar (canhões) vocalizadas por partidos conservadores. Os debates em torno do orçamento britânico entre 1906 e 1909 são exemplares nesse sentido. O governo liberal desejava elevar substancialmente o gasto social, mas a crescente e ameaçadora marinha de guerra alemã forçou o gabinete de Herbert Asquith a aceitar a pressão dos conservadores e aprovar um oneroso programa de construção de encouraçados.
Voltemos ao Brasil da terceira década do século XXI. Decisões tomadas pelo Executivo e pelo Congresso em 2019 e o orçamento de 2020 sinalizam a preferência pelo gasto em defesa em detrimento do gasto social. Só que o país não está a enfrentar nenhuma ameaça séria à segurança nacional que justifique tal opção. No entanto, a situação social é muito grave: desemprego alto, aumento da informalidade, crises urbanas as mais diversas, crescente desigualdade e indicadores educacionais deprimentes. Portanto, há um problema com o orçamento do Ministério da Defesa de 2020.
A questão é muito complexa, pois há de se reconhecer que a construção daquelas quatro corvetas é importante para o Brasil. Assim como também o é a conclusão do nosso submarino propulsionado à energia nuclear, do programa de modernização da Força Aérea por meio da aquisição de caças Gripen e do programa de blindados Guarani, do Exército, entre outros. Com amplos interesses e responsabilidades nacionais e internacionais, o Brasil – o maior país latino-americano e nona economia, sexta população e quinto território mundiais – é um anão militar. O gasto em defesa do país, aproximadamente 1,5% do PIB, está dentro da média mundial, mas a parcela desse gasto despendida com pessoal foi, na média de 1999-2016, de exorbitantes 75,5%. Na França e no Reino Unido, no mesmo período, foi de 54,2% e 38,2%, respectivamente. Somos um anão militar por conta da pequena fatia do gasto em defesa aplicada em investimentos: 8,3% em média entre 1999 e 2016 (23,5% para a França e 22,9% para o Reino Unido, no mesmo período)[2]. Portanto, há um problema estrutural com o orçamento de defesa brasileiro.
Diga-se, de passagem, que a responsabilidade pelo baixo investimento em defesa é, preponderantemente, dos civis. É uma longa história que não poderá ser contada nos estreitos limites deste artigo. Mas o que fazer? O que esperar nos próximos anos?
Enquanto estiver no poder, Bolsonaro continuará a privilegiar as Forças Armadas com medidas orçamentárias. A dúvida está em saber o que farão o Ministério da Economia e o Congresso diante disso. Por enquanto, ambos têm relutado em criticar o presidente e os militares. É provável que continuem assim até 2022.
A bola estaria, então, com a oposição. Porém, desse campo também não tem saído nenhuma reflexão sólida a respeito do que fazer com a chamada questão militar. Parece haver grande temor em tocar abertamente no assunto, como se sentissem intimidados pela presença de tantos generais no governo. Isso só reforça o diagnóstico feito logo acima, ou seja, as coisas deverão continuar como estão até o final do mandato de Bolsonaro.
Só resta, então, torcer para que a campanha presidencial de 2022 gere algum debate sobre qual deve ser o tamanho do orçamento de defesa e o papel da Forças Armadas na política doméstica. Pensando no médio prazo, convém registrar que os militares sabem que um próximo governo que não seja bolsonarista vai cancelar boa parte dos ganhos que têm obtido desde 2019. Ou seja, melhor agora do que nunca. Talvez isso explique por que os R$ 7,6 bilhões foram aportados à EMGEPRON em apenas um ano, não ao longo de três. Esse tipo de comportamento tem tudo para gerar desconfiança e ressentimento no seio das elites civis e, daqui a pouco, no da população.
Assim, o orçamento de defesa irá de um desequilíbrio a outro. Antes, os investimentos em defesa não estavam sintonizados com as dimensões, os interesses e as responsabilidades do Brasil – foram insuficientes e ineficazes. Doravante, não estarão em linha com a triste realidade social do país – são demasiados. Desse jeito, jamais teremos uma defesa nacional digna do nome.
Este artigo faz parte do Boletim Macro IBRE de outubro de 2019. Leia aqui a versão integral do BMI Fevereiro/20. 
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 



[1] Todas essas informações foram extraídas de “Governo de Bolsonaro dá a primazia aos militares”, Valor Econômico, 06/02/2020, disponível em https://valor.globo.com/opiniao/noticia/2020/02/06/governo-de-bolsonaro-da-a-primazia-aos-militares.ghtml.
[2] Esses dados se encontram em Juliano da Silva Cortinhas, “Brazil and the Construction of Its Power to Defend the South Atlantic”, em Érico Duarte e Manuel Correia de Barros (orgs.), Navies and Maritime Policies in the South Atlantic (Palgrave Macmillan, 2019, pp. 151-185).
https://blogdoibre.fgv.br/posts/o-orcamento-da-defesa-de-2020-de-um-desequilibrio-outro




General é convidado por Bolsonaro para assumir comando de Casa Civil
Braga Neto assumiria o lugar de Onyx Lorenzoni, atual comandante da pasta
Por Igor Gielow / Folhapress12/02/20 às 15H08 atualizado em 12/02/20 às 16H32





General Walter Souza Braga Netto - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil






O presidente Jair Bolsonaro convidou o general Walter Souza Braga Netto para o comando da Casa Civil da Presidência, no lugar de Onyx Lorenzoni. Braga Netto, 62, é o atual chefe do Estado-Maior do Exército, liderou o Comando Militar do Leste e, durante dez meses em 2018, foi o interventor militar na área de segurança pública do Rio de Janeiro.

A nomeação, se confirmada, marcará a volta por cima da ala militar do governo -naturalmente próxima da ativa das Forças Armadas, mas que não deve ser confundida com ela.

Um dos grupos mais poderosos no começo do mandato de Bolsonaro, com quem sofrem identificação imediata pelo fato de o presidente ser um capitão do Exército reformado, os militares foram perdendo poder ao longo de 2019.

Leia também:
Onyx busca apoio para ficar na Casa Civil em meio à crise com Bolsonaro
Enfraquecido, Onyx favorece reduto eleitoral em agenda na Casa Civil

Em seu lugar, ascendeu a influência da dita ala ideológica do bolsonarismo no governo. Ela é comandada informalmente pelos filhos de Bolsonaro e composta por discípulos do escritor Olavo de Carvalho, que destratou inúmeras vezes generais.

Isso começou a mudar com a ida ao Planalto do general Luiz Eduardo Ramos, amigo de Bolsonaro desde os tempos de cadete. Apesar de sofrer críticas do que classifica de "serpentário" palaciano, o militar afirmou-se como um dos mais influentes assessores do presidente.

Ele aparou algumas arestas em crises com o Congresso e ajudou a moderar a virulência com que os filhos do presidente, em especial o vereador Carlos, atacavam desafetos no governo.

A outra ponta do eixo renovado de poder militar no governo é o ministro da Defesa, o também general do Exército Fernando Azevedo. Articulador hábil, ele manteve pontes ativas durante 2019 com o Judiciário -foi assessor especial do presidente do Supremo, Dias Toffoli.

Internamente, ele conseguiu ver aprovada a reforma previdenciária e a reestruturação da carreira dos militares, demandas de duas décadas da corporação, sob intensa crítica na opinião pública. Azevedo foi chefe de Ramos durante toda a carreira militar, e o trata como "meu pit bull".

A condução da questão das queimadas na Amazônia, que geraram fortes críticas internacionais ao governo no segundo semestre, foi vista como decisiva para a melhoria da relação de Bolsonaro com seus generais.

Também está fortalecido o vice-presidente, Hamilton Mourão, que também é general da reserva. Ele moderou suas posições em debates internos e passou a ser visto com menos desconfiança pelo Alto-Comando do Exército, que reúne a elite da ativa, e pelos ministros de origem militar. Antes, seu comportamento intempestivo era visto como prejudicial a Bolsonaro.

A indicação de um nome do Exército para a Casa Civil gerou irritação nas outras Forças, particularmente na Marinha.

Há uma preponderância de oficiais do Exército, da reserva e da ativa, em cargos importantes do governo, a começar por Bolsonaro -um capitão reformado. Entre os 22 ministros, 5 têm origem na Força terrestre, 1 na Marinha e outro na Força Aérea.

Com a provável chegada de Braga Netto, serão seis oriundos do Exército, três ocupando postos no Planalto, onde a quarta vaga de ministro palaciano é de um policial militar, Jorge Oliveira (Secretaria-Geral).

Seja como for, a Marinha estará representada no Planalto, já que Bolsonaro quer o almirante Flávio Rocha, hoje comandante do 1º Distrito Naval, como uma espécie de "superassessor" da Casa Civil ou titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Ele recebeu sua quarta estrela, topo da carreira naval, na segunda (11). A exemplo de Ramos, permanecerá na ativa, sendo emprestado (agregado, no jargão) ao Planalto.

No balanço de poder da ala militar, perdeu espaço o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). Antes o mais influente conselheiro de Bolsonaro, em especial durante a campanha eleitoral, o militar da reserva tem sofrido críticas internas e resistência a algumas de suas colocações.

Já Onyx estava com os dias contados desde o episódio em que seu número 2 perdeu o cargo por fazer uso indevido de um avião da Força Aérea Brasileira, e vinha perdendo poder paulatinamente no governo.

Seu destino deve ser o Ministério da Cidadania, ocupado por Osmar Terra. Na avaliação do entorno palaciano de Bolsonaro, a pasta social não entregou nenhuma marca de relevo neste primeiro ano.

Na meritocracia particular do governo, Onyx também passou em branco, mas, como é um apoiador de Bolsonaro desde os tempos em que raros políticos tinham coragem de fazer isso abertamente, o presidente crê que é merecedor de mais uma chance.

Se Braga Netto for mesmo nomeado, haverá também uma contradição em termos para Bolsonaro lidar. A Casa Civil, órgão criado em 1938, tradicionalmente era ocupada por um civil, em oposição à antiga Casa Militar, hoje o GSI.
https://www.folhape.com.br/politica/general-e-convidado-por-bolsonaro-para-assumir-comando-de-casa-civil/130564/








Que ‘manota’!
'MANOTA' é empregada com o significado de 'ato falho, ação de dizer ou fazer algo inconveniente'
Por DANIELE MARZANO
21/12/18 - 02h00

Oi, gente!
Dando continuidade à série sobre palavras que são pouco usadas atualmente, falamos hoje de “MANOTA”. Embora ela não conste em alguns dicionários, a palavra é empregada com o significado de “ato falho, ação de dizer ou fazer algo inconveniente”.
Tem o mesmo sentido das palavras “fora ou “mancada”. 
Exemplo: “Dei manota ao perguntar a ele se havia sido convidado para a festa”.




Referências




https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/07/maria-cristina-fernandes-gilmar-se.html#more
https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/noticias/nota-oficial
https://youtu.be/CrmpNAA4aY0
https://www.youtube.com/watch?v=CrmpNAA4aY0
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/06/merval-pereira-o-pos-bolsonaro.html
https://blogdoibre.fgv.br/posts/o-orcamento-da-defesa-de-2020-de-um-desequilibrio-outro
https://cdn.folhape.com.br/img/pc/1100/1/dn_arquivo/2020/02/25502292.jpg
https://www.folhape.com.br/politica/general-e-convidado-por-bolsonaro-para-assumir-comando-de-casa-civil/130564/
https://www.otempo.com.br/opiniao/seu-portuga/que-manota-1.2083337

Nenhum comentário:

Postar um comentário