23 vacinas já são testadas em humanos
Artigo
aponta que vacina de Oxford, em teste no Brasil, é segura
Resultados preliminares
publicados na revista científica The Lancet apontam que a vacina conseguiu
induzir a criação de anticorpos contra o Covid-19 após 28 dias
JG Jéssica
Gotlib
postado
em 20/07/2020 11:51 / atualizado em 20/07/2020 17:13
Pesquisa foi feita com mais de mil adultos
saudáveis e revelou que efeitos colaterais podem ser tratados com medicamentos
como paracetamol(foto: AFP / Douglas MAGNO)
A vacina
para covid-19, pesquisada pela Universidade de Oxford, não causa muitos efeitos
secundários em pacientes e é eficaz para estimular a produção de anticorpos e
células T contra o novo coronavírus. Pelo menos é o que apontam os resultados
preliminares de um estudo divulgado nesta segunda-feira (20/7) na revista
científica The Lancet.
Essa
análise diz respeito às fases 1 e 2 do desenvolvimento da vacina. A terceira está
sendo feita no Brasil em parceria com a Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp). Vários grupos de cientistas estão em busca da substância que pode
imunizar a população contra o coronavírus. Em outra frente, uma vacina criada
pelo laboratório chinês Sinovac Biotech também está em fase avançada
e chegou nesta
segunda ao Brasil para começar a ser testada na população.
Detalhes sobre o estudo de Oxford
No caso
dos resultados divulgados no artigo da The Lancet,
os anticorpos estimulados nos pacientes atingiram o número máximo a partir
do 28º dia depois de receber o tratamento e continuaram no mesmo patamar até o
56º. Análises feitas com um sub-grupo de 10 pessoas também indicaram que
uma segunda dose poderia trazer resultados ainda melhores.
Os
cientistas analisaram dados de 1.077 voluntários, com idades entre 18 e 55
anos, que não haviam contraído a doença, além de comparar os resultados com um
grupo controle vacinado contra malária. Alguns dos participantes apontaram
efeitos colaterais, como fadiga – em 70% dos casos – e dor de cabeça (68%). Mas
os relatórios apontam que eles podem ser reduzidos com o uso de medicamentos
comuns, como paracetamol.
A idade
média dos participantes é de 35 anos, sendo que aproximadamente a metade era do
sexo feminino e a outra metade, masculino. A maior parte dos voluntários do
estudo (cerca de 90%) foi formada por pessoas brancas. De acordo com o
relatório, essas características, junto ao curto período de acompanhamento dos
pacientes, estão entre as limitações do estudo.
De
qualquer forma, o artigo aponta que mais testes são necessários para que a
eficácia seja permanentemente comprovada. Por isso, os autores do estudo seguem
com a pesquisa – inclusive aplicando a vacina em idosos. Outra etapa prevê o
teste da vacina em crianças, depois de provada sua segurança em adultos.
Capacidade de produção
Segundo o acordo firmado para que o Brasil fosse
parte da peqsuisa, a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca
vão enviar ao país pouco mais de 30 milhões de doses que devem ser
administratadas, ainda na fase de teste, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
ao custo total de U$ 127 milhões. Encerrado o período de estudos, devem ser
produzidas mais 70 milhões de doses no país,ao custo de U$ 2,30 por dose,
totalizando 100 milhões de vacinas no Brasil.
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2020/07/20/interna_ciencia_saude,873633/artigo-aponta-que-vacina-de-oxford-em-teste-no-brasil-e-segura.shtml
“- Qual o valor de uma alma?
- Vale mais que o mundo inteiro!”
Qual o Valor de Uma ALMA? Vale Mais Que o Mundo
Inteiro!
Baseado no filme: The Schindler's List" -
Oscar Schindler, Empresário Alemão, na II Guerra, descobriu que havia salvado
1.100 pessoas, se tivesse se esforçado um pouco mais, poderia ter salvado
outras tantas... E Você? O que tem feito pelos outros? Quanto Vale uma Alma?
Deus os abençoe.
https://www.youtube.com/watch?v=ofaWoWg1w5g
corrida do ouro
Artigo
O ouro é um metal considerado valioso há séculos. Em
determinadas épocas ao longo da história, as pessoas descobriram lugares onde
ele podia ser escavado no chão. Tais descobertas incentivaram muita gente a se
mudar para esses lugares. Esses movimentos migratórios ficaram conhecidos como
corridas do ouro. As pessoas esperavam encontrar o precioso metal e enriquecer.
Reconstrução turística de um povoado da época
da corrida do ouro em Barkerville, no oeste do Canadá.
Thomas Drasdauskis
Uma corrida do ouro aconteceu no Brasil no final do século XVII e durante o
século XVIII, quando o país era colônia de Portugal. Em 1703, a quantidade de ouro produzida
no Brasil ultrapassou a que os portugueses conseguiam obter em suas colônias
africanas. Muitos habitantes da região litorânea, onde ficam atualmente os
estados de São Paulo, Bahia e Pernambuco, se mudaram para a região
de Minas Gerais, onde foram maiores as
descobertas do metal. Isso gerou muitas riquezas, com a fundação de novas
cidades e o desenvolvimento das atividades econômicas. Também contribuiu para o
surgimento de ideias de independência, que se desenvolveram especialmente no
movimento chamado Inconfidência Mineira.
Na América do Norte, a maior corrida do ouro aconteceu na
Califórnia, nos Estados Unidos. Ela começou em 1848, quando
um carpinteiro encontrou o metal em Sutter’s Mill, perto do rio Sacramento. Por
volta de 1849, havia 80 mil garimpeiros na região.
Em 1851, outra corrida do ouro levou pessoas para as
regiões de Ballarat e Bendigo, na região de Victoria, na Austrália. Ali, os garimpeiros encontraram pepitas,
ou fragmentos, de ouro de até 75 quilos.
Outra grande descoberta de ouro aconteceu ao longo do rio
Klondike, no território do Yukon, no Canadá. Apesar do frio, cerca de 30 mil pessoas
migraram para a região entre 1896 e 1899. Também foi achado um pouco de ouro no
Alasca.
Em 1886, um escavador em busca de diamantes descobriu ouro na região do
Transvaal, na África do Sul. Hoje, esse país é o maior
produtor mundial de ouro.
Quase sempre, o ouro é descoberto em áreas isoladas, onde
há poucas pessoas ou cidades. Porém, como muita gente é atraída para esses
locais, acabam se formando cidades grandes. Entre elas estão Ouro Preto, no estado de Minas Gerais,
no Brasil; San Francisco, nos Estados Unidos;
Melbourne, na Austrália; e Joanesburgo, na África do Sul.
Fonte: Correio Braziliense
https://escola.britannica.com.br/artigo/corrida-do-ouro/481384
ENTREVISTA
Como a
covid-19 fomenta a maior corrida por vacina da história
Camilo
Rocha11 de mai
de 2020(atualizado 16/05/2020 às 17h35)
Autor de
livro sobre a história de remédios e tratamentos, microbiologista americano
falou ao 'Nexo' sobre a busca por uma cura para o novo coronavírus e a
importância dos testes clínicos
FOTO: ARND WIEGMANN/REUTERS
AMOSTRAS EM LABORATÓRIO DO HOSPITAL DA UNIVERSIDADE DE BERNA, SUÍÇA, QUE
REALIZA PESQUISA POR VACINA CONTRA A COVID-19
Diariamente são
divulgadas novas pesquisas e hipóteses sobre tratamentos e vacinas contra a
covid-19. É um noticiário que lança pequenas doses de esperança, especialmente
com a ideia de que há gente trabalhando arduamente contra a ameaça do novo
coronavírus.
O esforço coletivo
envolve grandes multinacionais farmacêuticas, empresas de biotecnologia,
startups, institutos de pesquisa e universidades, em diversos países. Entre as
mais avançadas está a pesquisa da americana Moderna, empresa fundada em 2010,
que teve a fase dois (de três) de testagem aprovada
pelo FDA americano (equivalente no Brasil à Anvisa, Agência Nacional de Vigilância
Sanitária). Enquanto isso, a gigante alemã Pfizer, em parceria com uma
companhia menor, BioNTech, promete
“milhões de doses” de vacina para o fim do ano.
Se o produto final
for bem-sucedido, contribuindo para refrear a pandemia, será um marco inédito
na história do desenvolvimento de remédios. É o que explica o autor americano
Thomas Hager, autor de “Dez Drogas” (Editora Todavia). Mestre em jornalismo e
microbiologia e imunologia pela Universidade do Oregon, Hager é autor de
diversos livros que difundem temas da ciência para um público mais amplo. Em
“Dez Drogas”, ele apresenta o contexto em torno da criação de dez “plantas, pós
e comprimidos” fundamentais na história da medicina, do ópio e morfina aos
anticorpos monoclonais, usados em tratamentos contra o câncer.
O Nexo conversou
com Hager por e-mail sobre a corrida por uma vacina da covid-19, paralelos
históricos e os ataques à ciência, entre outros assuntos.
Existem dezenas de pesquisas para o desenvolvimento de vacinas e
remédios para covid-19 em andamento. Existem equivalentes históricos para esta
corrida? O que podemos aprender com eles?
THOMAS HAGER Penso na corrida entre as vacinas [Jonas] Salk versus [Albert]
Sabin para a poliomielite na década de 1950 — um sinal de que não é incomum que
vários grupos procurem vacinas contra a mesma doença ao mesmo tempo. O que é
incomum com a covid-19 é a escala e a urgência mundiais do problema, que
estimularam o que estamos vendo agora, no que provavelmente será a maior
corrida de vacinas da história. Haverá vencedores e perdedores, mas no final
todos serão beneficiados com esse surto de pesquisa.
Estimativas recentes afirmam que uma vacina para a covid-19 pode estar
disponível nos primeiros meses de 2021. Se isso acontecer, seria apenas um ano
e meio desde que a doença apareceu, no final de 2019. Se isso acontecer, o que
representará na história de medicamentos ou desenvolvimento de vacinas? Quais
fatores permitem isso?
THOMAS HAGER Uma vacina eficaz e segura que chegar ao mercado em menos de dois
anos seria uma conquista histórica. Uma década ou mais costuma ser o padrão.
Mas tantos grupos estão trabalhando duro no problema, e tantos governos e
empresas farmacêuticas reconhecem sua importância, que todo o poder da medicina
moderna estará focado na solução desse problema. Tudo está intensificado, desde
tecnologias científicas aprimoradas, como sequenciamento de DNA e RNA e
modelagem computacional aprimorada, até técnicas médicas e políticas
governamentais otimizadas, que permitirão testes mais rápidos em mais sujeitos
de pesquisa.
Como esses procedimentos de testes clínicos foram estabelecidos? Por que
são tão importantes?
THOMAS HAGER Testes precisos de segurança e eficácia em humanos — ou seja,
testes clínicos — são um processo longo, difícil e muito caro. Antes
da segunda metade do século 20, um médico poderia tentar praticamente qualquer
nova “cura” em pacientes sem quase nenhuma supervisão das autoridades de saúde.
Muitas vezes, os pesquisadores experimentavam em si mesmos ou em seus
familiares. Houve muitas tragédias e muitos produtos inúteis colocados no
mercado. Hoje, a exigência é muito mais alta para se provar a eficácia e a
segurança de um novo medicamento. Testes clínicos cuidadosamente controlados
para aprovação geralmente envolvem centenas ou milhares de indivíduos humanos,
cada um dos quais deve assinar documentos em que conscientemente dá seu
consentimento, deve receber quantidades precisamente controladas de medicamento
ou placebo e, em seguida, ser metodicamente monitorado, às vezes por meses ou
anos, para que se avaliem os riscos e benefícios.
Os testes clínicos
modernos são demorados e caros, mas valem a pena porque resultam em
medicamentos que são relativamente seguros de tomar e realmente funcionam. Uma
das coisas que você verá na covid-19 são as tentativas de acelerar o processo
com testes clínicos mais rápidos e de menor escala. Do lado positivo, podemos
encontrar novos medicamentos mais rapidamente. Do lado negativo, corremos mais
risco de expor os pacientes a drogas perigosas ou ineficazes. Como sociedade,
temos que equilibrar nossa necessidade de velocidade em relação aos riscos.
Seu livro questiona se não seria hora de haver uma disrupção no modelo
tradicional de negócios e desenvolvimento dominado grandes multinacionais
farmacêuticas. A corrida pela vacina contra a covid-19, para a qual há muitas
startups de biotecnologia e laboratórios menores envolvidos, pode contribuir
para essa mudança?
THOMAS HAGER Tenho um grande respeito pelas habilidades científicas das grandes
farmacêuticas, em geral. Minha crítica é apenas sobre o papel do lucro no
desenvolvimento de medicamentos, que faz as grandes empresas farmacêuticas se
inclinarem para o desenvolvimento de medicamentos que elas pensam que serão
rentáveis em detrimento de medicamentos que podem servir melhor à saúde
pública. Com a covid-19, dado o número de pessoas em risco, é provável que
todos os tipos de empresas privadas, de pequenos laboratórios de biotecnologia
a grandes corporações internacionais, enxerguem que os lucros provavelmente
estarão lá — e assim avançarão com toda velocidade.
Nos anos 1990, as grandes empresas farmacêuticas processaram países em
desenvolvimento que quebraram a patente dos medicamentos para tratamento da
aids, pois eram muito caros. Algo semelhante poderia acontecer novamente? Quais
são os desafios de tornar um tratamento ou medicamento amplamente disponível?
THOMAS HAGER A proteção de patentes é crítica para as empresas farmacêuticas e
muitas outras. Não teríamos a maioria dos medicamentos que salvam vidas sem
ela. Dito isto, ter um medicamento sob patente permite que a empresa que
apostou — investindo grandes quantias na descoberta, desenvolvimento,
teste e comercialização do medicamento — possa cobrar o que for
coerente para o mercado. Se os consumidores sentirem que estão pagando muito
caro, podem pressionar por meio de campanhas de relações públicas, ou governos
de países específicos poderão subsidiar as compras. Novamente, tudo se resume a
uma questão de dinheiro versus saúde pública.
Estamos testemunhando uma forte oposição à ciência e à medicina, desde o
menosprezo aos perigos da covid-19 até líderes que promovem tratamentos não
comprovados, como a cloroquina. Por que ainda estamos lidando com forças
anticientíficas tão fortes?
THOMAS HAGER Essa questão me preocupa há muitos anos. Eu sigo a frase: “Você
tem direito a suas próprias opiniões, mas não a seus próprios fatos”. A ciência
constitui uma ferramenta maravilhosa para que seres humanos separem fatos de
ficção. Infelizmente, a maior parte das pessoas não sabe muito sobre ciência:
como funciona, como é feita ou por que é tão importante. Eles não entendem sua
linguagem ou compreendem suas regras. Isso facilita para que atores políticos
ou econômicos distorçam, descartem ou usem indevidamente a ciência, a fim de
promover suas agendas. No momento, estamos vendo muitas tentativas de
“politizar” a ciência, fazendo parecer que os fatos científicos são
simplesmente uma questão de opinião. Eu não acredito que sejam. Não que os
cientistas não discutam ou critiquem o trabalho uns dos outros; eles fazem, e
seus argumentos sobre dados formam uma parte crítica do avanço da ciência. É um
problema quando as descobertas são retiradas do contexto e depois apresentadas
ao público de maneiras projetadas para servir a fins políticos ou de obtenção de
lucros.
Muitos governos tentam suprimir informações sobre a propagação de
doenças ou a extensão de sua ameaça. Na década de 1970, o regime militar no
Brasil omitiu informações sobre uma epidemia de meningite. Até que ponto as
doenças ou crises de saúde podem influenciar a situação política?
THOMAS HAGER Há uma longa relação entre doença e política. Um exemplo nos EUA é
o modo como a varíola dizimou as populações nativas na época dos assentamentos
europeus, essencialmente abrindo caminho para os americanos brancos
reivindicarem grandes áreas do país sem muita luta. Essa expansão teve
tremendos efeitos políticos. Outro exemplo pode ser a criação de colônias
européias na África, onde a presença de doença do sono e malária generalizada
alteraram os padrões de assentamento e mudaram a história. Certamente, os
grupos políticos no poder querem criar a impressão de que está tudo bem, para
que possam permanecer no poder. Pode ser do seu interesse minimizar uma
epidemia em curso. Por outro lado, os grupos que estão sem poder podem se
beneficiar ao dar a impressão de que o fracasso em controlar um surto de uma
doença é marca da inaptidão do grupo no poder. E assim por diante. Mas as
doenças são apolíticas. Elas matam independentemente da crença política.
O que se sabe sobre o vírus?
O QUE É A COVID-19?
QUAIS SÃO OS
SINTOMAS?
COMO É A
TRANSMISSÃO?
COMO É POSSÍVEL SE
PREVENIR?
EXISTE TRATAMENTO?
QUAL A LETALIDADE
DO VÍRUS?
O Nexo também
tem um Índex com todos os
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FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA EM
ENFERMAGEM
Maria Sumie Koizumi*
A metodologia de pesquisa em enfermagem tem sido objeto de
muita atenção, principalmente depois que passamos a utilizar tanto os métodos
quantitativos como os qualitativos de pesquisa. Como diz DEMO (4), a ciência
propõe-se a captar e manipular a realidade tal como ela é; que a atividade
básica da ciência é a pesquisa. A metodologia, por sua vez, é uma preocupação
instrumental: trata das formas de se fazer ciência. Cuida dos procedimentos,
das ferramentas, dos caminhos. Assim, não se deve superestimar a metodologia no
sentido de cuidar mais dela do que de fazer ciência. O mais importante é
chegarmos onde nos propomos a chegar, ou seja, a fazer ciência. Como chegar lá
é também essencial mas, é especificamente instrumental. Somente o metodólogo
faz dela sua razão de ser, principalmente o filósofo da teoria do conhecimento;
para o cientista, em geral, ela constitui disciplina auxiliar o que, também,
não deve ser interpretado como secundarização (4). Outro aspecto diz respeito
ao porque da metodologia de pesquisa em enfermagem. O que diferencia a pesquisa
em enfermagem de outras disciplinas? Do ponto de visla metodológico não há
diferenças, já que o conhecimento e as habilidades requeridas para a pesquisa
não variam de uma disciplina para outra. Entretanto, se olharmos para as
diferentes dimensões da pesquisa, as distinções aparecem. Em qualquer
disciplina deve haver consistência na orientação filosófica e na teoria daquela
disciplina (2). As orientações teóricas e o corpo de conhecimentos de uma
disciplina definem as variáveis de estudo. As lacunas nesse corpo de
conhecimentos determinam o que precisa ser conhecido. A congruência entre o que
precisa ser conhecido, a orientação filosófica e as teorias definem o que é
pesquisa em enfermagem (2). Sobretudo, deve haver correlação entre as
necessidades da prática de enfermagem e a pesquisa. Com estas considerações e
abordando o tema estritamente sob o ponto de vista metodológico, propomo-nos
tratar alguns aspectos que consideramos fundamentais no processo de pesquisa,
quais sejam: — a questão inicial de pesquisa; — a seleção do método ou dos
métodos para a mesma;
* Enfermeira. Professor Associado do
Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP.
Re\: Esc. Enf. USP, v. 26, n? Especial, p.
33-47, out. 1992 33
— o domínio para a operacionalização das etapas do processo
de sa pesqui- ; — a avaliação contínua do processo para que seja atingido o
rigor meto-' dológico. Há sempre uma história na evolução da pesquisa de uma
dada disciplina, a partir do momento em que ela se torna uma realidade. A
pesquisa em enfermagem inicialmente só usou o método quantitativo e, durante
certo período, esta continuou sendo praticamente a única abordagem utilizada.
Alguns fatores influenciaram grandemente este predomínio nas pesquisas em
enfermagem. Para Leininger citada por DUFFY (6) houve quatro importantes
razões: — os enfermeiros pesquisadores adotaram o modelo positivista
preva-lente como a base primária de suas atividades de pesquisa porque eles
queriam ser aceitos e respeitados pela comunidade científica; — esses
enfermeiros implementaram os primeiros programas de douto-rado em enfermagem e
implantaram o paradigma quantitativo como modelo de pesquisa em tais programas;
— somente as pesquisas quantitativas eram aceitas para publicação; — os fundos
de auxílio às pesquisas eram concedidas somente para os projetos de pesquisa
quantitativa. Ao observarmos a evolução da pesquisa em educação podemos
perceber alguns fatores muito semelhantes aos nossos. Situado entre as ciências
humanas e sociais, o estudo dos fenômenos educacionais não poderia deixar de
sofrer as influências das evoluções ocorridas naquelas ciências. Por muito
tempo, últimas quatro ou cinco décadas, somente os métodos quantitativos eram
usados para a pesquisa em educação. Na última década, começaram a aparecer,
entre os pesquisadores, sinais de insatisfação crescente em relação aos métodos
empregados para responder às suas questões de pesquisa. Isto deu origem a nqvas
propostas de abordagem, com soluções metodológicas diferentes, na tentativa de
superar pelo menos algumas das limitações sentidas na pesquisa que até então
vinha sendo realizada em educação. A procura de novos caminhos de investigação
trazia no seu âmago uma legítima e dominante preocupação com os problemas de
ensino (10). Movimento semelhante, ocasionado pela insatisfação decorrente do
uso exclusivo do método quantitativo, o qual não respondia às expectativas do
pesquisador enfermeiro no que tange aos problemas a pesquisar, motivou a busca
de métodos que pudessem responder satisfatoriamente a essas questões. Assim, os
métodos qualitativos passaram também a compor o cenário da pesquisa em
enfermagem. Um aspecto que, acreditamos, merece ser ressaltado, diz respeito a
quem está fazendo pesquisa em enfermagem. No Brasil, e acreditamos que também
em outros países, a pesquisa em enfermagem foi altamente incrementada com o
advento da pós-graduação "sensu esuito", ou seja, dos programas de
Mestrado e Doutorado. Grande parte da produção de pesquisa é oriunda desses
programas. Isto significa que a produção de pesquisa em enfermagem vem sendo
fortemente intermediada pela pós-graduação, não só no produto como, também, no
processo de ensino/aprendizagem de métodos de pesquisa. Significa, igualmente,
que a responsabilidade da escola é pelo menos dupla, pois ela começou e
continua tendo um papel muito importante nos caminhos da evolução da pesquisa
em enfermagem. E também importante enfatizar que há consenso entre as autoras
sobre a complementaridade dos métodos quantitativo e qualitativo, pois geram
diferentes tipos de conhecimentos úteis para a prática da enfermagem;
sobretudo, ressaltam que o problema a ser estudado é que determina qual o
método a ser utilizado para aquela pesquisa. Considerando que o método
científico incorpora todos os procedimentos usados pelos cientistas para a
aquisição de conhecimentos, depreende-se qüe ele inclue os métodos quantitativo
e qualitativo de pesquisa (2). O método quantitativo é um processo formal,
objetivo e sistemático, segundo o qual os dados numéricos são utilizados para
obter informações acerca do mundo. Este método de pesquisa é usado para
descrever, testar relações e determinar causas. O método qualitativo é uma
abordagem sistemática, subjetiva, usada, para descrever as experiências de vida
e dar-lhes significado. Ele vem sendo utilizado pelas ciências sociais e
comportamentais há muito tempo, sendo que, na enfermagem o interesse por esse
método data da década de 70. Ele focaliza a compreensão do global a qual é
consistente com a visão holística da enfermagem. Cada um dos métodos engloba
diferentes tipos de pesquisa. Nos métodos quantitativos estão incluídos os
seguintes tipos de pesquisa: • exploratória • descritiva • correlacionai •
comparativa • quase experimental • experimental É bastante interessante a
classificação utilizada por BRINK & WOOD - (1) sobre estes tipos de
pesquisa, baseada no princípio do controle que, por sua vez, baseia-se no nível
de conhecimento existente sobre o tópico e o grau de controle passível de ser
exercido pelo pesquisador sobre as variáveis em estudo. Elas apresentam três
níveis básicos de "design" e seus tipos de pesquisa. Nível III:
experimental — experimental — quase-experimental Nível II: "survey" —
comparativo — correlacionai Nível 1: exploratório-descritivo — descritivo —
exploratório Teoricamente, quanto mais alto for o nível do "design"
da pesquisa, maior é o grau de controle e o nível do conhecimento existente
acerca das variáveis. O nível de conhecimento acerca das variáveis é maior ao nível
do experimento e é esperado que seja muito limitado no nível exploratório.
Assim, a escolha do tipo de pesquisa depende do conhecimento existente sobre o
tópico a ser estudado e o conhecimento gerado refere-se à descrição dos fatos,
relação entre as variáveis ou ao estabelecimento de causa e efeito do fenômeno.
Há indicação do uso de pesquisas do tipo experimental ou quase-experimental
quando a relação causai entre as variáveis pode ser tanto predita como
eticamente testada. Se o pesquisador acreditar que as variáveis do seu estudo
estão relacionadas e os resultados de sua interação estão preditos, mas há
impedimento ético para a manipulação das variáveis, deve-se usar a pesquisa
comparativa. Aliás, está é bastante utilizada principalmente nas pesquisas
clínicas. Se o pesquisador tem um conhecimento descritivo básico acerca das
variáveis mas não sabe se elas estão relacionadas, a melhor escolha será a
pesquisa do tipo correlacionai. Se, por outro lado, uma variável ou conceito
vem sendo explorado mas não há informação sobre sua existência em uma dada
população, a pesquisa descritiva é considerada a mais apropriada. Finalmente,
se há conhecimento muito limitado ou se ele inexiste naquele tópico, a pesquisa
exploratória é a mais adequada. O controle das variáveis e a predição de suas
ações requer um vasto conhecimento. Se o resultado da pesquisa não pode ser
predito e sustentado com teoria, não é ético desenvolver o experimento com
sujeitos vivos. Além disso, o nível do "design" está fundamentado no
conhecimento acerca da operacionabilidade das variáveis no tópico e o grau de
controle que pode ser exercido pelo pesquisador sobre estas variáveis, no
próprio processo de pesquisa. Nos métodos qualitativos estão também incluídos
vários tipos de pesquisa, sendo alguns mais freqüentemente adotados na
enfermagem (2, 7, 12, 14). Dentre eles podemos citar: • a fenomenológica • a
fundamentada nos dados (grounded theory) • a etnográfica Devido à singularidade
da abordagem qualitativa elas são, em geral, consideradas separadamente, embora
também guardem pontos comuns. Alguns pressupostos são comuns a esses tipos de
pesquisa. — O ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador
como seu principal instrumento e por isso ser chamado de naturalístico; — Os
dados coletados são predominantemente descritivos; — A preocupação com o
processo é muito maior do que com o produto; — O significado que as pessoas dão
às coisas e à sua vida são focos de atenção especial do pesquisador. Há sempre
uma intenção de captar a perspectiva dos participantes, ou seja, a maneira como
os informantes encaram as questões que estão sendo focalizadas; — A análise dos
dados tende a seguir um processo indutivo. O pesquisa-dor não se preocupa em
buscar evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início do estudo.
As abstrações se formam a partir da inspeção dos dados num processo de baixo
para cima. Para apontar algumas diferenças entre os tipos de pesquisa
mencionados, resumidamente podemos dizer que: — na pesquisa fenomenológica a
abordagem é indutiva, descritiva, volvida desen- da filosofia fenomenológica
cujo foco é a compreensão das respostas globais do ser humano e não somente a
compreensão de partes ou comportamentos específicos. O objetivo da
fenomenologia é descrever a experiência tal como ela realmente se apresenta ou
é experienciada. O pesquisador deve abordar o fenômeno a ser explorado sem
expectativas ou classificações pré-concebidas. A meta é descrever a estrutura
sistemática total da experiência vivida, incluindo o significado que estas
experiências tem para os indivíduos que dela participaram. — na teoria
fundamentada nos dados (grounded theory) há uma abordagem metodológica dirigida
ao desenvolvimento de teoria, sem qualquer compromisso particular com tipos
específicos de dados, linhas de pesquisa ou interesses teóricos. É muito usada
para desvendar quais os problemas que existem num dado meio e como as pessoas
nele envolvidas interagem. Ela enfatiza a observação e o desenvolvimento
intuitivo da relação entre as variáveis. Envolve formulação, teste e
redesenvolvimento de proposições até evoluir para uma teoria. — na etnográfica
busca-se investigar a cultura através de um estudo aprofundado dos membros
desta cultura. Este tipo de pesquisa atenta para contar a história da vida
diária daquela população e descrever a cultura da qual ela faz parte. O
processo envolve uma coleta sistemática, análise e descrição dos dados para
desenvolver uma teoria de comportamento cultural. O pesquisador vive ou
torna-se parte do local daquela cultura para obter os dados. Ele descreve
culturas específicas e também compara culturas para determinar as semelhanças e
as diferenças existentes. É importante ressaltar que, no Brasil, o
desenvolvimento de pesquisas fenomenológicas, etnográficas e fundamentada em dados
é bastante importante. Há áreas de pesquisa bem definidas em diferentes
estágios de desenvolvimento e de consolidação que nos têm fornecido dados
valiosos, seja de ordem metodológica seja de geração de conhecimentos. Além
destas, há também aquelas com uso de outras vertentes metodológicas da
dialética como a fundamentada no materialismo histórico, entre outras. Escolher
o método e o tipo de pesquisa mais adequado para aquela questão inicial de
pesquisa ou problema já bem delimitado não é tarefa simples. Como já
mencionado, é recomendável que ela seja compartilhada com pesquisadores que
atuem naquela área de conhecimento e que tenham domínio sobre os métodos de
pesquisa que poderiam ser indicados para aquele estudo. Minimamente, deve ser o
resultado do trabalho conjunto do orientando e do orientador, se a nível
acadêmico, aliás como em todo desenvolvimento do processo de pesquisa.
Escolhido o método e o tipo de pesquisa, conhecer cada uma de suas etapas e,
principalmente, estar apto para desenvolvê-las, são condições imprescindíveis.
Basicamente há três etapas a saber: l 9 — Planejamento 2- — Execução 3- —
Divulgação Na 1- etapa há vários passos a serem seguidos. Alguns podem ser
desnecessários e outros precisam ser mais reforçados de acordo com o nível e tipo
da pesquisa. Particularmente na etapa de planejamento é uma constante a
necessidade de modificar, de re-pensar, de reformular. A 2- etapa depende
grandemente da operacionalização ou da profunda reflexão feita na 1- etapa. O
domínio da metodologia e sua aplicação no estudo que se pretende desenvolver é
muito importante para o sucesso da etapa de execução. Se a coleta de dados, o
preparo dos dados coletados para análise, a análise dos dados e a interpretação
dos resultados serão feitas consecutivamente ou simultaneamente, dependerão do
método selecionado. Isto aplica-se também ao como os dados serão tratados, se
numericamente ou textualmente. É na 13 etapa que já projetamos como será a 33 ,
a de divulgação. Uma pesquisa não estará completa se seus achados não forem
divulgados. A comunicação da pesquisa envolve a disseminação dos resultados
para a população apropriada, que inclui os enfermeiros, os profissionais da
área de saúde e o consumidor do cuidado com a saúde. Os meios mais comumente
usados são em congressos ou similares, por meio de comunicações orais e
"posters" e as publicações seja em livros, anais de congressos ou,
principalmente, em periódicos específicos. Julgar-se apto a desenvolver cada
uma das etapas do processo de pesquisa não é suficiente. O rigor metodológico
deve ser medido durante todo o processo para qualificar a pesquisa. Este é um
aspecto que merece reflexão profunda e que certamente seria impossível ser
esgotada neste curto espaço de tempo disponível. O rigor metodológico pode ser
analisado com relação à pesquisa, ou como foi pesquisado e ao pesquisador ou
quem conduziu a pesquisa. Ambos são essenciais para se alcançar o rigor. Os
critérios de avaliação do rigor da pesquisa propriamente dita devem estar
estabelecidos e estes devem ser coerentes com o método de pesquisa adotado.
Considerando a existência de características específicas que diferenciam a
pesquisa quantitativa da qualitativa é preciso que elas sejam respeitadas na
avaliação do rigor metodológico. Neste sentido, é interessante a análise da
súmula apresentada por BURNS; GROVE (2) mostrando ponto por ponto as diferenças
existentes nas pesquisas quantitativas e qualitativas. Quadro I -
Características das pesquisas quantitativas e qualitativas. PESQUIS A
QUANTITATIVA PESQUIS A QUALITATIVA . Ciência " hard" . Ciência"
soft" . Foco; conciso e limitado . Foco: complexo e aberto . Reducionista
. Holístico • Objetivo . Subjetivo . Raciocínio: lógico dedutivo .Raciocínio:
dialético, indutivo . Base de conhecimento: relação . Base de conhecimento:
causa e efeito significado, descoberta . Testa teorias . Desenvolve teoria .
Controla . Compartilha interpretação * Instrumentos específicos . Comunicação e
observação . Elemento básico de análise: . Elemento básico de análise: números
palavras . Análise estatística . Interpretação individual . Generalização .
Singularidade
Fonte: BURNS, N.: GROVE, S. K. The practice of nursing
research: conduct, critique and utilization. Philadelphia, W. B. Saunders,
1987. p. 36.
Embora seja um quadro sumário extremamente simplista ele
mostra pontos básicos dos dois métodos. Para essas autoras (2) a pesquisa
quantitativa é considerada uma ciência- "hard" pois está baseada no
rigor, objetividade e controle. Derivada de um ramo da filosofia chamado positivismo
lógico, opera com regras estritas da lógica, da verdade, das leis, dos axiomas
e das predições. A pesquisa qualitativa é considerada uma ciência
"soft" ou uma abordagem filosófica ou artística, que evoluiu das
ciências comportamental e social, como um método para compreensão da natureza
humana singular, dinâmica e holística. Assim como há autores que discordam
desta classificação em ciência " hard" e "soft" (3), nós
também a julgamos inconveniente, pois perpetua a idéia de que a análise por
números é superior àquela com palavras, quando na verdade não há termo de
comparação entre ambas. O foco da pesquisa quantitativa é identificado como
conciso, limitado e reducionista. A objetividade é um traço marcante e o não
envolvimento- do pesquisador no estudo é essencial. O foco da pesquisa
qualitativa, por sua vez, é complexo e aberto e é propósito da pesquisa dar
significação de conjunto, ou seja, holístico. O pesquisador é parte do estudo e
nesta abordagem assume-se que a subjetividade é essencial para a compreensão
das experiências humanas. A pesquisa quantitativa é conduzida para a descrição
de variáveis, identificação da relação entre as mesmas e exame da relação de
causa e efeito. É portanto um método muito útil para testar teorias; o
pesquisador utiliza o raciocínio dedutivo e lógico para examinar o particular e
chegar às generalizações. A pesquisa qualitativa é conduzida para gerar
conhecimentos concernentes ao significado e descoberta. O pesquisador utiliza,
predominantemente, o raciocínio dialético e indutivo. Como na pesquisa
qualitativa há busca do significado, os achados podem ser usados para
identificar a relação entre as variáveis, e estas afirmações de relação são
usadas no desenvolvimento de teorias. A pesquisa quantitativa requer controle.
O pesquisador usa o controle para identificar e limitar o problema a ser
pesquisado e estabelece limites sobre as variáveis em estudo com o objetivo de
facilitar um exame mais preciso das mesmas; usa instrumentos ou equipamentos
para gerar dados numéricos e usa a análise estatística para organizar os dados
e determinar a relação significante. O controle, os instrumentos e a análise
estatística buscam a precisão. A generalização dos resultados depende
dapopulação em estudo e o pesquisador deve ser bem cauteloso ao fazê-la. Na
pesquisa qualitativa, o pesquisador usa observações estruturadas ou não e
comunicação como o meio para obtenção de dados. Nos dados há interpretação
compartilhada entre pesquisador e sujeitos do estudo e nenhuma tentativa é
feita para controlar esta interação. Os dados qualitativos são gerados na forma
de palavras e são analisados em termos de respostas individuais ou sumários
descritivos ou ambos. O pesquisador identifica as categorias organizando e
classificando os dados. O objetivo da análise é organizar os dados para lhes
dar significação, interpretação individualizada ou estrutura que descreva o
fenômeno estudado. Os achados do estudo qualitativo são únicos para aquele
estudo e não é objetivo do pesquisador generalizá-lo para a população. Contudo,
a compreensão do significado do fenômeno numa situação particular é útil para a
compreensão dos fenômenos similares em situações similares.
Retomando a avaliação de rigor metodológico, nota-se que a
validade, a fidedignidade e a objetividade são aspectos muito valorizados nos
métodos quantitativos. A mensuração desses aspectos está fundamentada no
"design" das pesquisas quantitativas com critérios bem definidos o
que lhes conferem alta coerência e facilidade de aplicação. Há sobretudo, farta
literatura de metodologia de pesquisa ou, especificamente, de metodologia de
pesquisa em enfermagem abordando a avaliação do rigor metodológico neste
método. Cumpre porém, mencionar que isto não significa terem estes critérios
sido rigorosamente obedecidos. Numa visão mais ampla quanto à avaliação do
rigor metodológico, poderse-ia categorizar alguns fatores que fossem comuns aos
métodos de pesquisa e que contivessem critérios específicos, de acordo com o
método utilizado. Neste enfoque, Guba; Lincoln citados por SANDELOWSKI (16),
analisam quatro fatores relacionados com os testes de rigor, a saber,
veracidade, aplicabilidade, consistência e neutralidade, os quais seriam
medidos pela validade interna e externa, fidedignidade e objetividade quando
usado o método quantitativo. Nos métodos quantitativos a veracidade é avaliada
quanto ao manejo da validade interna e pela validade dos testes e instrumentos
usados para mensurar o fenômeno sob investigação. A validade interna é obtida
quando há confiança de que os achados do estudo devem-se às variáveis em estudo
e não ao procedimento de investigação. Por outro lado, um instrumento de
pesquisa é válido quando há certeza de que ele mediu o que foi pré-estabelecido
para ser medido. Pela validade externa avalia-se a extensão da aplicabilidade.
Os resultados e procedimentos do estudo são externamente válidos quando há
segurança de que os vieses de seleção, os efeitos dos pré-testes, de estar no
estudo e dos multi-testes sobre a população de estudo não produziram condições
não comparáveis com a ocorrência natural. Ainda dependendo da validade interna
do estudo, a validade externa refere-se à generalização dos achados e à
representatividade dos elementos de estudo, dos testes e das situações
testadas. Paradoxalmente, quanto mais controlado é o estudo mais difícil é
aproximá-lo daquelas condições reais da vida e isto interfere na generalização.
Algumas regras de amostragem são observadas para assegurar a representatividade
e a generalização. Nelas incluem-se a amostra randomizada, a randomização na
composição dos grupos controle e de estudo e a pré-determinação do tamanho da
amostra para assegurar a inferencia estatística. A fidedignidade diz respeito à
consistência, estabilidade e significancia do teste ou dos procedimentos em
teste. Ela confere consistência ao estudo. A fidedignidade é pré condição para
a validade. A replicação é meta inerente à fidedignidade. A repetição dos
procedimentos em teste e os resultados levam à credibilidade dos achados e
segurança na generalização do estudo. A objetividade é uma forma de
neutralidade exercida pelo pesquisador e é alcançada quando a fidedignidade e a
validade estão estabelecidas. Para alcançar a objetividade há crença de que a
distância entre o pesquisador e seus elementos de estudo e dados deve ser
mantida. A idéia da objetividade na pesquisa quantitativa, repousa sobre o
pressuposto de que há um conhecedor e coisas a serem conhecidas e que a relação
entre elas deve ser caracterizada pela separação e distanciamento. O contato
entre o investigador e o que deve ser investigado é mediado e controlado por
protocolos, teorias e instrumentação.
Retomando o enfoque de Guba; Lincoln, os mesmos quatro
fatores são também usados nos métodos qualitativos mas, para sua aplicação, é
necessário que haja adaptação nos critérios de medida. Desta forma, a
veracidade seria avaliada pela credibilidade, a aplicabilidade pela adequação,
a consistência pela verificabilidade e a neutralidade pela confirmação. A
credibilidade é obtida quando são apresentadas interpretações ou descrições
fiéis da experiência humana, de tal forma que as pessoas a elas submetidas
possam reconhecê-las como suas próprias descrições ou interpretações. A
adequação é encontrada quando os achados da pesquisa ajustam-se em contextos
fora daquela situação de estudo, ou quando esses achados são vistos como
significativos e aplicáveis em termos de suas próprias experiências. Os achados
são bem fundamentados nas experiências de vida estudadas e refletem seus
elementos típicos e atípicos. A verificabilidade é alcançada quando outro
pesquisador pode claramente seguir a "trilha de decisão" usada pelo
investigador. Além disso, um outro pesquisador poderia chegar às mesmas
conclusões ou a elas comparáveis pelos dados, perspectivas e situações daquele
pesquisador. A confirmação ou confirmabilidade é atingida quando os três
critérios anteriores, ou seja, credibilidade, adequação e verificabilidade
estão bem estabelecidos. Considerando que os aspectos específicos que asseguram
a comprovação do estudo dependem: — do tipo de evidências usadas (relato oral,
sujeitos, dados observados, artefatos, documentos pessoais e públicos), — das
técnicas empregadas para coleta de dados (entrevista, observação, observação
participante), — dos objetivos do estudo (descrição, explanação, geração ou
verificação de teorias), — das técnicas de análise empregadas (indução
analítica, método de comparação constante, análise literária). SANDELOWSKI (16)
operacionaliza estratégias que possam ser usadas em vários tipos de pesquisas
qualitativas mas, particularmente naquelas que analisam o homem como sujeito.
Para ela (16), a verificabilidade é alcançada especificamente pela descrição,
explanação ou justificação dos seguintes pontos: — como o pesquisador
interessou-se pelo sujeito do estudo; — como o pesquisador vê o que foi
estudado; — os objetivos do estudo; — como os sujeitos ou as peças de evidência
foram incluídas no estudo e como eles foram abordados; — o impacto que os
sujeitos ou evidências e o pesquisador tiveram um em relação ao outro; — como
os dados foram coletados; — quanto durou a coleta de dados; — onde os dados
foram coletados;
— como os dados foram reduzidos ou transformados para a
análise, interpretação e apresentação; — como os vários elementos dos dados
foram valorizados; — como foi a inclusão ou exclusão das categorias
desenvolvidas para conter os dados; — quais foram as técnicas específicas
usadas para a determinação da credibilidade e adequação dos dados. Ao
pesquisador caberia ainda avaliar seus dados brutos, sistema de codificação e
categorização dos dados e como os diferentes elementos dos dados foram ligados
um ao outro. A verificabilidade é demonstrada primariamente no relatório de
pesquisa. Conseqüentemente, a existência de um material avaliável contendo
todas as fases do estudo qualitativo é essencial para o processo de auditagem.
A credibilidade e a adequação do estudo qualitativo dependem de várias
estratégias específicas. Estas estratégias seriam planejadas para controle dos
três maiores riscos de credibilidade e propriedade do estudo: a falácia
holística, os vieses de elite e a ocorrência natural. Elas incluem: — checar a
representatividade dos dados como um todo e as categorias codificadas e os
exemplos usados para reduzir e apresentar os dados; — cruzar as fontes de dados
e os procedimentos de sua coleta para determinar a congruência dos resultados;
— checar as descrições, as explanações e as teorias de forma a assegurar a
presença dos elementos típicos e atípicos; — obter validação pelos próprios
sujeitos do estudo. Para completar, acrescenta que o prolongado contato do
pesquisador com os sujeitos e a análise dos dados por outro pesquisador
poderiam ajudar na validação dos resultados. Como já mencionado, o pesquisador
é também elemento essencial para o rigor metodológico. Suas características
pessoais podem influenciar ou ser influenciadas no processo de pesquisa. Isto
significa que as qualidades do pesquisador, enquanto características
específicas devem ser além de auto-reconhecidas, estimuladas, desenvolvidas e
valorizadas no processo de pesquisa. Nos métodos quantitativos, o pesquisador
esforça-se constantemente por chegar a instrumentos precisos de medida e
projetos rigorosamente controlados. As características valorizadas incluem o
exame crítico do raciocínio e a atenção para a precisão. O processo de
raciocínio logístico e dedutivo são considerados essenciais e visam diminuir
erros em áreas como as de medida, " design ", análise estatística e
generalização. Há um controle imposto pelo pesquisador relacionado com a
identificação do problema, o "design" e a análise estatística. Nos
métodos qualitativos, o pesquisador, no processo de pesquisa usa sua
personalidade no processo de pesquisa e isto é considerado um fator chave. A
empatia e a intuição são usadas deliberadamente e estas habilidades são
cultivadas. Ele deve estar intensamente envolvido com as experiências do
sujeito a fim de interpretá-lo; deve permanecer aberto às percepções do sujeito
mais do que tentar compor o significado pelas suas próprias experiências. Ao
analisar alguns aspectos metodológicos das pesquisas quantitativas e
qualitativas, por meio das suas diferenças, poder-se-ia caminhar simplesmente
para a acentuação da dicotomização já existente. Mas o nosso intuito foi no
sentido de apontar as bases metodológicas de cada uma delas, ou seja, o que as
diferencia enquanto meio para atingir a finalidade de uma disciplina. A
enfermagem enquanto disciplina, fundamenta-se no cuidado do ser humano, na sua
totalidade ou globalmente. Desde suas raízes, o conceito do todo sempre foi
muito forte e direcionou seu desenvolvimento. Se num dado momento histórico, em
que a pesquisa em enfermagem foi enfocada com mais vigor, houve predomínio
quase absoluto dos métodos quantitativos, era esperado que a visáo holística da
assistência fosse também resgatada para a pesquisa, até mesmo para manutenção
da coerência da disciplina. Por outro lado, a problemática envolvida na prática
da enfermagem não poderia ser resolvida simplesmente pela opção por um ou outro
método de pesquisa. Nesse sentido, o uso combinado de métodos quantitativos e
qualitativos tem sido bastante discutido. Esta combinação poderia ocorrer
seqüencialmente ou simultaneamente. No uso seqüencial o projeto seria iniciado
com métodos qualitativos até as hipóteses emergirem. No estágio de testes da
hipóteses, passar-se-ia para o método quantitativo. No uso simultâneo os dois
métodos seriam aplicados endereçados ao mesmo problema. A combinação de métodos
é denominada triangulação. Tem defensores assim como autores que lhe são
contrários Convencionalmente, entende-se que ela envolve variedade de dados, de
pesquisadores, de teorias, assim como de metodologia (5). A triangulação de
dados ocorre quando os pesquisadores usam múltiplas fontes de dados como
possíveis para examinar aquele evento. Ela pode ocorrer em relação ao tempo,
espaço ou pessoa. MITCHELL (11) a exemplifica num estudo acerca do desejo de
comer. Os dados foram coletados de mulheres em diferentes dias da semana,
durante diferentes meses, diferentes fases do ciclo menstrual e diferentes
períodos do dia. Os dados de cada dia, eram registrados num diário e versavam
sobre o desejo de comer e comportamento de comer, num período mínimo de 90 dias
consecutivos. Dados acerca da ingestão de alimentos eram também coletados
durante duas diferentes fases do ciclo menstrual, assim como em diferentes dias
da semana.Auto-relatos retrospectivos bem como diários concorrentes, eram
também obtidos. Aqui, os diferentes períodos de tempo compuseram a triangulação
de dados. O ponto central foi que todas as fontes de dados tinham um foco
similar, ou seja, elas relatavam algum aspecto da experiência do desejo de
comer. Pode haver também, triangulação de pesquisadores, que consiste em
múltiplas observações do objeto de pesquisa por diferentes investigadores. No
estudo sobre desejo de comer, dois pesquisadores coletaram os dados sendo que,
um usou a entrevista semiestruturada por telefone e o outro, dados
retrospectivos, levantados na forma de respostas com alternativas fechadas. A
triangulação teórica consiste no uso de múltiplas perspectivas em relação ao
mesmo conjunto de objetos. Os dados podem ser abordados com múltiplas hipóteses
de forma que vários pontos de vista teóricos possam tomar lugar lado a lado e
seu poder relativo pode ser avaliado. Várias alternativas explanatórias do
fenômeno, cada um com diferentes bases teóricas mas interrelacionadas, são
consideradas conjuntamente e testadas dentro do mesmo corpo de dados. No estudo
sobre o desejo de comer, vários domínios estiveram representados, a saber: o
domínio psicológico, quando foram testadas as hipóteses dos estados cognitivo e
afetivo; o domínio sociológico ao serem testadas as hipóteses do contexto
social; e, o domínio fisiológico quando foram testadas as hipóteses dos ciclos
nutricional e mestrual. No conjunto, estas diferentes hipóteses, cada qual
representando diferentes explicações para o desejo de comer, exemplificam a
triangulação teórica. A triangulação metodológica é a mais comumente usada.
Vários métodos ou procedimento de coleta de dados são contidos num mesmo
estudo. Aqui incluem-se entrevistas, questionários, observações diretas ou
registros de arquivos e evidências físicas. No estudo do desejo de comer, a
triangulação metodológica incluiu dados qualitativos provenientes da entrevista
semi-estruturada por telefone e quantitativa dos dados levantados do arquivo de
cada sujeito do estudo. Há duas diferentes formas de triangulação metodológica:
dentro do método e entre os métodos. A primeira envolve várias formas de obtenção
de um mesmo tipo de dado. Um exemplo é o uso de duas ou mais escalas para
medida do estado psicológico. O segundo, tem um nível de complexidade maior. Os
métodos quantitativos como qualitativos de coleta de dados são usados
combinadamente dentro de um mesmo estudo. No estudo sobre o desejo de comer foi
utilizada a entrevista semi-estruturada, por telefone, e o levantamento de
dados com respostas fechadas contendo várias escalas de medida sobre atitudes
acerca do comer, estado psicológico e nível no desejo de comer. Como já
mencionado, há quatro tipos de triangulação. A cada um deles agregamos exemplos
oriundos de uma pesquisa relacionada com o desejo de comer. Quando mais de um
tibo de triangulação está presente num mesmo estudo, esta forma mais complexa é
denominada triangulação múltipla. Contudo, não é necessário que todos os quatro
tipos de triangulação estejam presentes num mesmo estudo. O rigor metodológico,
por sua vez, é essencial na triangulação como o é em qualquer método de
pesquisa. Na triangulação, há no mínimo quatro princípios básicos a serem
seguidos. O primeiro diz respeito à definição do problema. Isto significa o que
o problema, os tipos de dados necessários para sua solução e o método escolhido
devem ser cuidadosamente estudados. O segundo requer que os pontos fracos e os
fortes de cada método escolhido complementem-se mutuamente. O terceiro requer
que os métodos sejam selecionados de acordo com sua relevância para a natureza
do fenômeno a ser estudado. O quarto envolve avaliação contínua das abordagens
metodológicas escolhidas, durante toda a evolução do estudo, a fim de ser
assegurado que os três princípios estejam sendo seguidos. Os tipos de
triangulação e os prinípios de sua aplicação encontram-se claramente definidos.
Entretanto, há ainda várias dificuldades quanto ao seu uso e elas referem-se à
unidade de análise, às restrições quanto a tempo e gastos, ao preparo dos
pesquisadores e à análise de dados (11). Uma unidade de análise comum que guie
o projeto, a coleta e a análise dos dados é requisito básico. O tempo e os
gastos financeiros são elevados. Há neces-sideradas conjuntamente e testadas
dentro do mesmo corpo de dados. No estudo sobre o desejo de comer, vários
domínios estiveram representados, a saber: o domínio psicológico, quando foram
testadas as hipóteses dos estados cognitivo e afetivo; o domínio sociológico ao
serem testadas as hipóteses do contexto social; e, o domínio fisiológico quando
foram testadas as hipóteses dos ciclos nutricional e mestrual. No conjunto,
estas diferentes hipóteses, cada qual representando diferentes explicações para
o desejo de comer, exemplificam a triangulação teórica. A triangulação
metodológica é a mais comumente usada. Vários métodos ou procedimento de coleta
de dados são contidos num mesmo estudo. Aqui incluem-se entrevistas,
questionários, observações diretas ou registros de arquivos e evidências
físicas. No estudo do desejo de comer, a triangulação metodológica incluiu
dados qualitativos provenientes da entrevista semi-estruturada por telefone e
quantitativa dos dados levantados do arquivo de cada sujeito do estudo. Há duas
diferentes formas de triangulação metodológica: dentro do método e entre os
métodos. A primeira envolve várias formas de obtenção de um mesmo tipo de dado.
Um exemplo é o uso de duas ou mais escalas para medida do estado psicológico. O
segundo, tem um nível de complexidade maior. Os métodos quantitativos como
qualitativos de coleta de dados são usados combinadamente dentro de um mesmo
estudo. No estudo sobre o desejo de comer foi utilizada a entrevista
semi-estruturada, por telefone, e o levantamento de dados com respostas
fechadas contendo várias escalas de medida sobre atitudes acerca do comer,
estado psicológico e nível no desejo de comer. Como já mencionado, há quatro tipos
de triangulação. A cada um deles agregamos exemplos oriundos de uma pesquisa
relacionada com o desejo de comer. Quando mais de um tibo de triangulação está
presente num mesmo estudo, esta forma mais complexa é denominada triangulação
múltipla. Contudo, não é necessário que todos os quatro tipos de triangulação
estejam presentes num mesmo estudo. O rigor metodológico, por sua vez, é
essencial na triangulação como o é em qualquer método de pesquisa. Na
triangulação, há no mínimo quatro princípios básicos a serem seguidos. O
primeiro diz respeito à definição do problema. Isto significa o que o problema,
os tipos de dados necessários para sua solução e o método escolhido devem ser
cuidadosamente estudados. O segundo requer que os pontos fracos e os fortes de
cada método escolhido complementem-se mutuamente. O terceiro requer que os
métodos sejam selecionados de acordo com sua relevância para a natureza do
fenômeno a ser estudado. O quarto envolve avaliação contínua das abordagens
metodológicas escolhidas, durante toda a evolução do estudo, a fim de ser
assegurado que os três princípios estejam sendo seguidos. Os tipos de
triangulação e os prinípios de sua aplicação encontram-se claramente definidos.
Entretanto, há ainda várias dificuldades quanto ao seu uso e elas referem-se à
unidade de análise, às restrições quanto a tempo e gastos, ao preparo dos
pesquisadores e à análise de dados (11). Uma unidade de análise comum que guie
o projeto, a coleta e a análise dos dados é requisito básico. O tempo e os
gastos financeiros são elevados. Há necessidade de pesquisadores capacitados
tanto em métodos quantitativos como qualitativos. Mas, estas questões parecem
ser mais facilmente contornáveis se comparadas àquelas referentes à análise de
dados. A análise dos dados gerados da múltipla triangulação é um problema
difícil e ainda não resolvido. Ao contrário, continua a gerar novas questões.
MITCHELL (11) assinala que as dificuldades na análise de dados relacionam-se
com: — combinação de dados numéricos (quantitativos) e dados lingüísticos ou
textuais (qualitativos); — interpretação de resultados divergentes entre dados
numéricos e dados lingüísticos; — análise de conceitos sobrepostos que emergem
dos dados e não são claramente diferenciados; — necessidade de ser dado peso às
fontes de dados; — avaliação de diferentes métodos quanto à sua equivalência em
peso e possibilidade. Contudo, estudos sob triangulação vem sendo feitos por
outros enfermeiros pesquisadores além de MITCHELL (11). A triangulação
metodológica foi testada por HINDS; YOUNG (9) para estudar o enfermeiro ao
prestar cuidado à saúde. Esta pesquisa visou medir os efeitos da instrução
padronizada sobre auto-cuidado, ministrada por enfermeiro de saúde pública, e o
seguimento dos resultados apresentados por uma população de adultos de mais de
55 anos. Os dados foram obtidos de questionários, observações, relatórios
arquivados, notas de campo e entrevistas estruturadas. Segundo as autoras, pela
triangulação metodológica foi possível: a) testar as hipóteses do estudo; b)
validar os achados do estudo; c) explicar os achados divergentes; d) prover
integração teórica; e) obter informações para excluir explicações concorrentes.
A convergência entre métodos serviu para aumentar a confiança quanto à
adequação dos constructos sobre o cuidado à saúde. MURPHY (13) usou a
triangulação múltipla num estudo sobre desastre natural ocorrido devido erupção
do Monte Santa Helena em Washington, EUA, em 1980. A população do estudo
constou de grupos de pessoas que tinham sofrido perdas de parentes ou amigos,
ou somente de propriedades e que não sofreram perdas. A triangulação múltipla
constou de triangulação tanto de dados, como de pesquisadores, teorias e
metodologias. As coletas de dados foram realizadas em duas etapas: uma em 1981
e a outra em 1983. Segundo a autora, a compreensão e a mensuração dos
resultados de um desastre natural foram alcançadas graças à triangulação, razão
pela qual ela recomenda sua utilização nos estudos sobre eventos traumáticos da
vida. CORNER (3)utilizou a triangulação múltipla para compreender atitudes,
conhecimentos, confiança e necessidades educacionais percebidas por enfermeiros
recém-registrados no cuidado de pacientes com câncer e para desenvolver e
avaliar um pacote educacional que fosse de encontro às necessidades deste grupo
profissional. A pesquisa foi desenvolvida em três fases e constou de um estudo
exploratório do grupo de enfermeiros, de desenvolvimento do pacote educacional
e de avaliação deste pacote. Triangulações de dados de metodologia, de teoria e
de pesquisadores foram usados. Ela observou que talvez os pontos de vista
filosóficos dos diferentes métodos não sejam passíveis de combinação e que o
tratamentó superficial de múltiplas fontes de dados impediram a plena e
completa abordagem da coleta e análise dos dados. Todavia, observou que a
utilização de diferentes métodos prove maior e mais rica compreensão do
fenômeno do que se realizada com um único método. A triangulação múltipla não
deve ser apropriada para todos os tipos de pesquisa. Certamente ela não é
indicada para pesquisas experimentais altamente controladas com uso de técnicas
específicas para aquele experimento. Também não deve ser indicada para
pesquisas específicas de uma dada disciplina cujo " design " é
restrito àquela disciplina. Entretanto, para muitas questões de pesquisa em
enfermagem, tal como em situações nas quais mais de um ponto der vista do
fenômeno é desejado, ela parece apropriada; ela ajudaria a explicar o evento,
já que oferece flexibilidade e ao mesmo tempo uma abordagem verticalizada. Em
resumo, todos os métodos, usados combinadamente ou não, apresentam vantagens e
também , limitações. Enquanto método eles devem ser selecionados
apropriadamente, de acordo com a natureza do problema e o que é conhecido
acerca do fenômeno a ser estudado. Quanto à crítica ao método ela deve ser
dirigida unicamente para a propriedade do mesmo naquela pesquisa (7,15). As
abordagens quantitativas e qualitativas compartilham metas comuns na pesquisa,
ou seja, a compreensão do mundo em que vivemos. Considerando esta meta, a
adoção de cada uma das abordagens pode ser reconhecida como complementar e a
priorização que fica subjacente quando se adota uma ou outra, pode se eliminada
como algo não produtivo (8). A pesquisa precisa de pesquisadores para se tornar
real. Os pesquisadores precisam estar treinados nos métodos de pesquisa e isto
incluí toda a extensãodo processo de pesquisa. Os enfermeiros pesquisadores
precisam avançar nas habilidades e na compreensão das diferentes abordagens de
pesquisa, a fim de capitalizar as forças e os benefícios de cada uma, e atingir
mais completa compreensão da prática da enfermagem em toda a sua complexidade.
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Fonte: Re\: Esc. Enf. USP, v. 26, n? Especial,
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Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v26nspe/0080-6234-reeusp-26-spe-033.pdf
Acesso em: 23/07/2020
Epidemiologista Wanderson de Oliveira ministra
palestra sobre os desafios do SUS e a pandemia da Covid-19
Na
próxima sexta-feira, 10 de julho, às 19 horas, Wanderson Kleber de Oliveira,
enfermeiro, egresso da EEUFMG, Epidemiologista e Secretário Nacional de
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde – de janeiro de 2019 a maio de 2020
vai ministrar palestra sobre "Os desafios do Sistema Único de Saúde:
reflexões no enfrentamento da pandemia COVID-19". A atividade, que faz
parte do marco dos 87 anos da Escola de Enfermagem da UFMG, será realizada no
Zoom (acesse aqui) e será moderada pela
diretora da Escola, professora Sônia Maria Soares.
Wanderson é doutor em epidemiologista com experiência em vigilância epidemiológica, investigação e gestão de emergências em saúde pública, análise de situação de saúde, sistemas de informação em saúde, gestão em saúde pública e comunicação de risco. Tem 22 anos de experiência em saúde pública. Participou da resposta nacional à Pandemia de Doença pelo Coronavírus (Covid-19), resposta ao Desastre em Brumadinho, à Reemergência do Sarampo como problema de saúde pública, com implantação da Estratégia "Movimento Vacina Brasil", regularização do fornecimento de medicamentos contra hepatites virais, realização da Expoepi 2019 e responsável pela mais ampla reestruturação da SVS/MS desde sua criação em 2003. Autor e coautor de artigos, capítulos de livros e livros nas áreas de Saúde Pública, Epidemiologia e Gestão Pública da Saúde.
“Temos orgulho de mostrar como essa Escola segue enfrentando a pandemia da Covid-19 em condições totalmente adversas. A resposta da Escola de Enfermagem foi pautada em ações de extensão, pesquisa e treinamentos, com a geração de conhecimento. E mais uma vez respondeu de forma altiva e corajosa ao enfrentamento da pandemia ressaltando seu compromisso com os problemas emergentes da área de saúde. Em meio a pandemia, o nosso grande desafio de todos que integram a nossa Escola é marcar a nossa luta e reafirmar a nossa solidariedade à todos os profissionais de saúde que estão envidando esforços para atender a população, em especial, aos profissionais de enfermagem, muitas vidas já foram perdidas nessa luta incansável no combate ao coronavírus. Não podemos deixar de expressar a nossa solidariedade e respeito as famílias, que perderam seus entes queridos”, destaca a diretora Sônia Soares.
http://www.enf.ufmg.br/index.php/noticias/1854-epidemiologista-wanderson-de-oliveira-ministra-palestra-sobre-os-desafios-do-sistema-unico-de-saude-e-a-pandemia-da-covid-19
Palestra: Os desafios do Sistema Único de
Saúde: reflexões no enfrentamento da pandemia COVID-19
Wanderson Kleber de Oliveira, enfermeiro,
egresso da EEUFMG, Epidemiologista e Secretário Nacional de Vigilância em Saúde
do Ministério da Saúde – de janeiro de 2019 a maio de 2020
Fonte: Escola de Enfermagem da
UFMG
Análise da pandemia no Brasil e dos próximos
desafios no combate ao coronavírus
O repórter Mateus Vargas conversa com Wanderson
de Oliveira, epidemiologista e ex-secretário de Vigilância Sanitária do
Ministério da Saúde, e Sergio Cimerman, infectologista e colunista do Estadão
Fonte: Estadão
https://www.youtube.com/watch?v=K-2ipzFX2co
sexta-feira, 20 de março de 2020
O mundo
não experimenta apenas a epidemia de coronavírus. Progressivamente fomos tomados
por outras duas epidemias: do medo e da informação. Ontem, em menos de 12
horas, instalou-se a quarta epidemia: a da irracionalidade científica. Mais
abrupta que as outras, experimentamos um ponto de inflexão: o dia em
que a ciência parou.
Tudo
começou de manhã cedo. Eu subia as escadas do hospital em direção a minha sala,
quando recebo a cópia de um artigo francês, enviado por um amigo que é uma
das maiores referências mundiais no estudo de malária. Um cientista puro. O
trabalho testara o benefício da hidroxicloroquina para o tratamento da
COVID-19. A conclusão indicava que “o tratamento com hidroxicloroquina é
significativamente associado a desaparecimento da carga viral” na doença em
questão.
“...
hydroxychloroquine treatment is significantly associated with viral load
reduction/disappearance in COVID-19 patients”
Naquele
primeiro lance de escada, comentei que este era um assunto para cientistas como
ele, mas ainda não para corredor de hospital. Ele concordou. Minha resposta foi
um tanto intuitiva, de relance.
Já no
segundo lance de escada (são apenas dois andares), me surpreendi com uma
mensagem de um colega intensivista, mencionando que o estudo estava tendo
grande repercussão nos grupos de medicina crítica. Comentei que já sabia (há 15
segundos).
Chegando
ao corredor onde fica minha sala, me deparo com o coordenador das UTIs de meu
hospital, que me expressou uma visão crítica a respeito do que estava
acontecendo, embora todos ainda estivéssemos sem saber em detalhe do que se
tratava.
Ao longo
do dia foram incontáveis mensagens apontando o estudo francês, culminando no
anúncio do presidente Trump de que o FDA houvera aprovado a hidroxicloroquina
para o tratamento do COVID-19.
"We have
to remove every barrier or a lot of barriers that were unnecessary and they've
done that to get the rapid deployment of safe, effective treatments"
Trump acha que
o rigor científico do FDA seria uma barreira desnecessária. Nessa
irracionalidade, Trump não está sozinho. Muitos argumentam que em momentos de
crise devemos reduzir este rigor. Há notícias que hospitais de referência
incluíram este tratamento como opção em seus protocolos.
Neste artigo,
pretendemos abordar a inusitada qualidade do trabalho francês. No entanto, esta
discussão perde o sentido diante de um ecossistema clínico em que evidência de
qualidade é considerada “desnecessária devido à gravidade da situação”.
Desta forma,
mais do que uma discussão metodológica, precisamos aprofundar a
interface do raciocínio clínico com a dimensão epistemológica da ciência.
Coronavírus:
devemos abandonar o ônus da prova?
No dia de
hoje, a ciência parou e deu lugar a observações do tipo “nesta situação
crítica, não podemos colocar barreiras científicas”. No entanto, estas
observação carecem da diferenciação entre duas dimensões: a sistêmica
e a individual.
Epidemia é uma
situação sistêmica. Considera-se que a epidemia de coronavírus é potencialmente
grave. Temos assim uma grave situação sistêmica, cuja conduta indicada são
medidas populacionais de redução da transmissão. Medidas de alto custo,
que se julgam necessárias pela gravidade sistêmica.
Por outro
lado, uma vez adquirindo a doença, a análise de um paciente se torna individual
e não sistêmica. Mesmo que uma doença tenha origem em uma epidemia, o
tratamento do doente tem dimensão individual.
O doente tem
um risco individual de morte e o tratamento oferecerá uma redução relativa do
risco a este doente. Nesta dimensão individual, raciocinamos com probabilidade
de desfecho indesejado em um paciente (risco individual). O risco individual é
estimado pela mortalidade geral da doença. A mortalidade do coronavírus (dentre
indivíduos que chegam ao diagnóstico) é de 2-3%. Observem que esta é uma
mortalidade menor que sepse ou infarto do miocárdio.
Sendo assim, a
COVID-19 não representa uma condição em que se justifique a violação do ônus da
prova científica. Se COVID-19 fosse o caso de dispensar evidências de
tratamento individual, abandonaríamos evidências em muitas outras doenças agudas,
cujos tratamentos são pautados na verdadeira demonstração de eficácia.
Portanto,
aqueles que argumentam estarmos diante de uma situação em que se faz necessário
a perda da integridade científica, na escolha de tratamentos individuais, estão
confundindo as dimensões sistêmicas e individual.
Quando
evidências empíricas são desnecessárias?
Evidências
empíricas de um tratamento são desnecessárias quando leis da natureza garantem
a eficácia, independente de uma eventual comprovação empírica. Estas são
situações de “plausibilidade extrema”, exemplificadas pelo paradigma do
paraquedas, quando a lei da gravidade assegura a eficácia. Ventilar um paciente
insuficiência respiratória extrema se encaixa nesta situação.
Uma variante
da plausibilidade extrema são condições sem eficácia garantida da conduta, mas
com prognostico negativo inexorável. Por exemplo, quando temos um quadro
clínico de fatalidade garantida, em algumas situações, pode-se considerar a
adoção de um tratamento empiricamente não comprovado. No entanto, esta conduta
deve se restringir a tratamentos de efeito intermediário garantido.
Por exemplo, ECMO na insuficiência respiratória ou circulatória extrema. Mesmo
que não saibamos se no final das contas reduz mortalidade, sabemos que o
tratamento tem um efeito garantido nas trocas gasosas ou circulatório. Este
efeito intermediário é uma condição básica para que um eventual efeito benéfico
final se faça presente.
O caso do
coronavírus não corresponde a condições de plausibilidade
extrema. Primeiro, não temos uma doença de fatalidade inexorável, pelo
contrário. Segundo, hidroxicloriquina não tem um efeito intermediário
garantido.
Preciosismo
científico?
Importante
perceber que o rigor científico não serve à ciência. O rigor
científico serve à sociedade e aos indivíduos. Ciência não é um fim, é
um meio.
A tentativa de
baixar o crivo da ciência carece da visão econômica sob a ótica probabilística.
Economia no sentido de balancear consequências positivas e negativas.
Probabilidade no sentido de reconhecer que benefícios e a consequências não
intencionais têm imprevisibilidade.
O benefício de
um tratamento comprovadamente benéfico é probabilístico. O que oferecemos ao
paciente é uma probabilidade. Ao reperfundir um paciente com infarto do
miocárdio, temos uma probabilidade de 5% em salvar uma vida. Por isso que
precisamos tratar 20 para beneficiar 1 (o paradigma do NNT).
Se além disso,
não sabemos se o tratamento é benéfico, a probabilidade vira condicional, ou
seja P1 (probabilidade de benefício individual) x P2 (probabilidade do conceito
científico ser verdadeiro). A multiplicação de duas probabilidades resulta em
um probabilidade bem menor.
Outro fator
que não sabemos é o caráter do benefício: é prevenção de morte, de
complicações, rapidez de recuperação, controle de sintomas? Estamos diante de
uma pequena probabilidade de beneficiar e nem sabemos que tipo de
benefício.
Do outro lado,
consequências não intencionais são múltiplas, desde algumas mais previsíveis a
outras que nunca imaginaríamos. Neste caso não temos probabilidade condicional
(P1 x P2). São muitas probabilidades, uma para cada tipo de consequência, e
essas probabilidades de somam (P1 + P2 + P3 + P4 .....).
Esta é a
base para o princípio da hipótese nula: partimos da premissa de não existência
do benefício até que se prove o contrário. Isso não é apenas uma técnica
científica, é um pensamento pragmático.
Pode haver
consequências clínicas negativas como efeitos adversos, interações
medicamentosas. No entanto, julgo mais escalável as consequência
indiretas:
Primeiro, a
dispersão dos esforços e atenção para condutas fúteis, em detrimento da
valorização do básico, a qualidade assistencial. Diante de uma situação
crítica, devemos nos concentrar para fazer de melhor o que devemos fazer, ao
invés de nos distrairmos com condutas que não sabemos se devemos fazer. O
impacto da qualidade assistencial (impossível de ser perfeita) em geral é
imensurável e tente a ser maior que tratamentos específicos;
Continuando as
consequências indiretas: fadiga cognitiva da equipes médicas com um amontoado
de informações inúteis; a falsa esperança; o uso político; o marketing
clínico baseado em fantasia. No início desta epidemia, a comunidade médica
criticava profissionais que tentavam vender suas terapias ortomoleculares ou
coisas do gênero. Por que agora estamos fazendo o mesmo?
Essa discussão
não corre em prol da proteção da ciência. Serve para protegermos nossa
racionalidade, nosso paciente, nossa sociedade.
O Artigo
Francês
Este artigo é
um aglomerado de vieses. Mas não são apenas vieses clássicos, há condutas que
nem constam nos tradicionais checklists. Algo caricatural. Foram 26
pacientes que utilizaram hidroxicloroquina versus 16 pacientes
controles. Um hospital de Marselha recrutou pacientes para o tratamento e
outros centros de outras regiões recrutaram os controles. O desfecho foi
substituto: a negativação virológica do swab nasal no sexto
dia.
At day6
post-inclusion, 70% of hydroxychloroquine-treated patients were virologicaly
cured comparing with 12.5% in the control group (p= 0.001).
Primeiro, viés
de confusão. Randomização serviria para evitar o viés de confusão,
o que não ocorreu. Mas este estudo vai além, ele causa viés de
confusão. Não prevenir não é o mesmo que causar.
O inusitado:
pacientes de Marselha que recusavam o tratamento continuavam no estudo como
grupo controle! Isso provoca grande heterogeneidade basal entre os grupos, pois
pacientes que recusam são diferentes de pacientes que aceitam. Ao recusar um
tratamento, os paciente não deveriam ser incluído no estudo. Na verdade, em um
ensaio clínico, potenciais voluntários não recusam tratamento. O que eles
recusam é entrar no estudo.
Seguindo o
padrão de irracionalidade, pacientes que se encaixavam em critérios de exclusão (comorbidades,
contraindicações à droga), eram incluídos no estudo como grupo
controle. Pacientes mais graves, antes no grupo droga, foram transferidos para
o grupo controle.
Segundo, o
estudo exclui do grupo tratamento pacientes que não completaram o tratamento,
em um grosseira violação do princípio da intenção de tratar. Inadequadamente
denominam isso de “loss of follow-up”. Não houve perda de seguimento, os
pacientes continuavam disponíveis para ser avaliados. Na verdade, esta é
uma análise por protocolo, em que 6 dos 26 pacientes saíram do
estudo: 3 porque foram para a UTI, 1 porque morreu (!!), 1 porque teve náusea e
outro teve alta hospitalar. Dos 6, 5 pacientes não continuaram o tratamento
porque pioraram! E estes foram excluídos do grupo controle.
Terceiro, há
possibilidade de viés de desempenho promovido por diferenças nas condutas
gerais entre os grupos. Estudo aberto, grupo tratamento em hospital diferente
do grupo controle. Devemos procurar sinais: espontaneamente 6 pacientes do
grupo tratamento receberam azitromicina. Não que azitromicina vá resolver nada,
mas isto é um sinal indicativo de maior atenção ou indicação de cuidados
adjuntos.
Quarto, risco
de erro aleatório. Este é claramente um estudo pequeno, o que aumenta
sobremaneira a probabilidade do erro aleatório. O cálculo amostral traz a
ilusão de 85% de poder. No entanto, não apresenta a premissa de positividade
do swab no grupo controle e estima uma inusitada eficácia de
50%. Algo bom demais para ser verdade para a maioria dos tratamentos, quanto
mais para este de baixa probabilidade pré-teste. Portanto, aqui temos um estudo
pequeno, com alto risco de erro aleatório. E para que um estudo pequeno consiga
demonstrar “significância estatística”, esta precisa que ser tão grande que se
torna “boa demais para ser verdade”.
É uma redução
relativa de 82% no positividade. Isso normalmente não acontece. No entanto,
devemos reconhecer que para tratamento antibiótico esta grande magnitude de
efeito pode acontecer. Por exemplo, se compararmos antibiótico com placebo em
infecção bacteriana grave, o tamanho do efeito seria muito grande. Por outro
lado, devemos evitar a ilusão de que estamos usando um antibiótico para o
coronavírus.
Por fim, aqui
estamos diante de um resultado laboratorial, o que conhecemos como desfecho
substituto. Mesmo que considerássemos esse resultado confiável, ainda haveria
uma grande incerteza do benefício clínico.
Por tudo isso,
este é um estudo a ser descartado, por seu alto risco de viés e acaso. Em um
pensamento científico bayesiano, este estudo não aumenta a probabilidade da
hipótese ser verdadeira.
A Probabilidade Pré-teste
Há evidências
de que a droga tem ação antiviral in vitro. Isso traz
plausibilidade, que não deve ser confundida com probabilidade. A probabilidade
é principalmente influenciada por dados clínicos geradores de hipótese (análise
específica) e comportamento do ecossistema científico em casos semelhantes
(análise genérica). Não temos dados empíricos prévios e é incomum que
tratamento de um tipo de condição (malária, protozoário) tenha eficácia
relevante em outra condição (viral). A estimativa probabilística deve ser feita
assim, pensando no todo, e não na especificidade trazida por argumentos de
plausibilidade.
Desta forma,
começamos por um tratamento de probabilidade pré-teste muito baixa, nos
deparamos com um estudo que não tem valor em modificar esta probabilidade, e
terminamos com a ilusão de um tratamento com alta probabilidade de benefício. O
que aconteceu com nossa mente científica?
O Preço da
Irracionalidade
Certa feita um
velho encontrou um vírus na estrada e perguntou: para onde você está indo? O vírus
respondeu que estaria indo matar 10.000 pessoas em uma certa cidade. Dias
depois, o velho encontrou novamente o vírus e perguntou: porque você matou
100.000? O vírus respondeu: eu matei apenas 10.000, o resto morreu de
medo.
Em tempos
segurança real moderadamente reduzida (consideremos o
denominador), temos nossa segurança perceptível severamente afetada.
A epidemia de coronavírus cedeu o protagonismo para
à epidemia do medo. A percepção da realidade é alterada por um
viés de confirmação voltado para o pior cenário. Ao final do dia, o placar
estatístico registra as piores notícias, os piores países, o número de doentes,
o número de mortes, silenciando aqueles os que permanecem saudáveis, os que se
curaram ou os países de menor impacto da doença. A interpretação do passado é
enviesada.
Já a
predição do futuro tem esquecido que um intervalo de confiança que contém os
extremos do pessimismo e otimismo. A ciência da predição e tomada de decisão
probabilística deu lugar a decisões baseadas em medo.
Mesmo em
situações não indicadas, preferimos usar máscaras que escondem nossa expressão
facial, perdendo oportunidade de expressar um sorriso de esperança e otimismo.
Não precisamos de hidroxicloriquina. Precisamos de um remédio para a
irracionalidade, pois esta tem impacto potencial mais escalável do que o
coronavírus.
A perda
da racionalidade pode ter um preço muito maior do que pensamos. Esse é valor da
ciência, nos lembrar do incompreensível valor da incerteza e da racionalidade.
http://medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com/2020/03/hidroxicloroquina-o-dia-em-que-ciencia.html
CIÊNCIA
PANDEMIA DE CORONAVÍRUS
Em seis meses de busca por
uma solução para o coronavírus, 23 vacinas já são testadas em humanos
A
comunidade científica desenvolveu em tempo recorde mais de duas dezenas de
protótipos, mas a OMS alerta que “o sucesso não está garantido”
MANUEL ANSEDE
16 JUL 2020 - 14:15 BRT
Voluntária recebe vacina ainda no primeiro estágio
de um estudo clínico nos Estados Unidos, em 16 de março.TED S. WARREN / AP
Em 12 de
janeiro, quando se supunha que só havia 41 pessoas infectadas por um misterioso
coronavírus na cidade chinesa de Wuhan, vários grupos de cientistas
iniciaram uma corrida contra o relógio para desenvolver a vacina contra uma doença que nem nome
tinha àquela altura. Seis meses depois, já existem 163 vacinas experimentais
contra a covid-19, e 23 delas estão sendo testadas em humanos, segundo o
registro da Organização Mundial da Saúde. Nunca se viu nada igual.
A última
boa noticia é a confirmação, nesta terça-feira, de que a vacina experimental
dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e da empresa farmacêutica
Moderna passou com sucesso por seu primeiro teste em 45 pessoas. Os participantes vacinados com
duas doses geraram níveis altos de anticorpos neutralizantes ― as defesas
específicas do organismo humano que bloqueiam o vírus ― e não mostraram efeitos
adversos graves, apenas sintomas leves, como cansaço, dor de cabeça e
calafrios. Os resultados são “incríveis”, segundo o farmacêutico espanhol Juan
Andrés, diretor técnico da Moderna, uma empresa biotecnológica com sede em
Cambridge (EUA). “A segurança e magnífica eficácia continuam dando grandes
esperanças para uma vacina em breve”, opina Andrés, cuja companhia dispara na
Bolsa a cada anúncio.
Um paciente recebe as primeiras doses
experimentais do projeto de vacina do laboratório Moderna, em Seattle, em
março.TED S. WARREN / AP
A Moderna
detalhou em entrevista coletiva nesta quarta os seus planos para iniciar, em 27
de julho, um ensaio final com 30.000 voluntários saudáveis. A empresa
norte-americana, para ganhar tempo, trabalha assumindo que a vacina funcionará e será segura, algo ainda
longe de ser garantido. Em 9 de julho, os Laboratórios Farmacêuticos Rovi, de Madri,
anunciaram um acordo com a Moderna para colaborar nas últimas etapas da
produção de “centenas de milhões de doses” para abastecer outros países além
dos EUA. O objetivo da empresa de Cambridge é fabricar entre 500 milhões e um
bilhão de doses por ano em suas instalações norte-americanas a partir de 2021.
Se for preciso vacinar a toda a humanidade duas vezes, seria necessário mais de
uma década nesse ritmo.
Tudo
indica que em 2021 haverá várias vacinas diferentes, desenvolvidas em regime de
urgência e com uma eficácia melhorável. A imunização da Moderna é como uma
receita escrita em uma linguagem genética, o RNA, com as instruções para que as
próprias células humanas saibam fabricar as proteínas da espícula do coronavírus ― responsáveis por sua forma de maça medieval
―, de modo a treinar o organismo sem risco ao sistema
imunológico. Outras quatro instituições já começaram a testar em humanos suas
vacinas experimentais de RNA, similares à norte-americana: o Imperial College
de Londres, a empresa alemã CureVac, a biotecnológica chinesa Walvax e um consórcio
formado pela alemã BioNTech, a norte-americana Pfizer e a chinesa Fosun Pharma.
A vacina
experimental mais avançada, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo
laboratório britânico AstraZeneca, utiliza outra estratégia: é um adenovírus do
resfriado comum dos chimpanzés, modificado para transportar as instruções
genéticas para a fabricação da proteína da espícula do coronavírus. A
AstraZeneca chegou a um acordo com a UE para administrar 400 milhões de doses a
partir do final deste ano, mesmo reconhecendo que talvez a vacina não funcione.
A empresa farmacêutica e a Universidade de Oxford já iniciaram um ensaio com mais de 15.000 voluntários no Reino Unido,
Brasil e África do Sul para averiguar se a vacina é realmente segura e eficaz.
A empresa
chinesa Lento Biologics e a Academia de Ciências Militares do país asiático
empregam uma estratégia semelhante: um vírus do resfriado comum, modificado
geneticamente. O regime chinês aprovou há algumas semanas o uso militar desta vacina
experimental, que
ainda precisa demonstrar sua eficácia em ensaios com milhares de pessoas. O
Instituto de Pesquisas Gamaleya, de Moscou (Rússia), também iniciou testes em
humanos de uma vacina experimental parecida.
A OMS, a
União Europeia e outras organizações internacionais lançaram em abril um
consórcio internacional, denominado Acelerador ACT, para
obter vacinas e tratamentos contra a covid-19 “em tempo recorde”. Seu objetivo
é dispor de dois bilhões de doses até o final de 2021 para distribuir de
maneira racional às pessoas sob maior risco, onde quer que estejam. Metade das
doses seria reservada para países de renda baixa ou média. O consórcio pediu
aos doadores internacionais 12 bilhões de euros (73,4 bilhões de reais) de
maneira urgente para impulsionar a pesquisa de vacinas e tratamentos, mas
apenas um terço deste valor foi alcançado até o momento, conforme alertou a OMS
em 26 de junho.
Um dos
principais impulsores do Acelerador ACT é a Coalizão para as Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), fundada pelos Governos da
Noruega e Índia, a Fundação Bill & Melinda Gates, o Wellcome Trust e o
Fórum Econômico Mundial. A CEPI financiou parcialmente o desenvolvimento de
sete vacinas experimentais, que já estão sendo testadas em humanos, incluindo a
de Oxford, a da Moderna e a da empresa alemã CureVac.
A
coalizão também pôs dinheiro na vacina experimental da empresa norte-americana
Inovio, apoiada em outra linguagem genética, o DNA. O médico espanhol Pablo
Tebas iniciou em maio os testes em humanos dessa vacina na Universidade da
Pensilvânia, em Filadélfia. Outras três entidades iniciaram ensaios de vacinas
de DNA similares: a Universidade de Osaka (Japão), a empresa sul-coreana
Genexine e a farmacêutica indiana Cadila Healthcare.
As outras
três vacinas financiadas pela CEPI são de outro tipo, dito “de subunidades”,
porque emprega fragmentos do próprio vírus. São as vacinas experimentais desenvolvidas pela empresa norte-americana
Novavax, pela
chinesa Clover Biopharmaceuticals e pela Universidade de Queensland
(Austrália).
Nesta
semana, a OMS começou a recrutar especialistas internacionais para integrar um
grupo de trabalho encarregado de escolher as vacinas experimentais mais
promissoras, para priorizar sua produção. O consórcio do Acelerador ACT,
entretanto, é muito realista: “Embora haja uma carteira muito grande com 200
candidatos a vacina, seu desenvolvimento está ainda em uma fase prematura e
muitos podem fracassar. Os desafios são consideráveis, e o sucesso não está garantido”.
O
presidente norte-americano, Donald Trump, decidiu em maio dar um pontapé
na OMS e travar a guerra ao coronavírus por sua conta, com uma iniciativa batizada Operação Warp Speed. O Governo dos EUA se concentra em financiar cinco vacinas
experimentais, entre elas a da Universidade de Oxford, a da Moderna e a do
consórcio BioNTech/Pfizer/Fosun Pharma. Trump prometeu uma vacina em tempo
“recorde, recorde, recorde”. É uma de suas melhores promessas eleitorais. As eleições
presidenciais dos EUA são em 3 de novembro.
As outras
duas vacinas experimentais impulsionadas pela Operação Warp Speed ainda estão
sendo testadas em animais. Uma é a da multinacional norte-americana Johnson &
Johnson, baseada
também em um adenovírus do resfriado comum e financiada com o equivalente a
quase 2,5 bilhões de reais pelo Governo dos EUA. O início dos testes em humanos
é iminente, segundo a companhia. A segunda é o protótipo da farmacêutica
norte-americana Merck Sharp & Dohme (MSD). Sua vacina experimental é
similar à que a empresa já fabrica contra o ebola, chamada Ervebo. Se
desenvolver uma vacina historicamente leva em média 10 anos, o Ervebo passou
apenas cinco nessa lista. Esse é o recorde a ser pulverizado pelos 163 projetos
que estão mais perto de encontrar uma solução definitiva para a peste da
covid-19.
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-07-16/em-seis-meses-de-busca-por-uma-solucao-para-o-coronavirus-23-vacinas-ja-sao-testadas-em-humanos.html
Em suma,
'"Pesquisa", no sentido mais amplo, é um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento. A fim de merecer o qualificativo de científica, a pesquisa deve ser feita de modo sistematizado, utilizando para isto método próprio e técnicas específicas e procurando um conhecimento que se refira à realidade empírica. Os resultados, assim obtidos, devem ser apresentados de forma peculiar." O problema metodológico da pesquisa, Franz Victor Rudio
Referências
Em suma,
'"Pesquisa", no sentido mais amplo, é um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento. A fim de merecer o qualificativo de científica, a pesquisa deve ser feita de modo sistematizado, utilizando para isto método próprio e técnicas específicas e procurando um conhecimento que se refira à realidade empírica. Os resultados, assim obtidos, devem ser apresentados de forma peculiar." O problema metodológico da pesquisa, Franz Victor Rudio
Referências
https://i.correiobraziliense.com.br/c91Jq-VW1tP8ok1U6Z6GDvxK6lg=/675x0/smart/imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2020/07/20/873633/20200720120257785842a.jpg
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2020/07/20/interna_ciencia_saude,873633/artigo-aponta-que-vacina-de-oxford-em-teste-no-brasil-e-segura.shtml
https://youtu.be/ofaWoWg1w5g
https://www.youtube.com/watch?v=ofaWoWg1w5g
https://cdn.britannica.com/s:575x450/45/132145-004-2EB0CE2E.jpg
https://escola.britannica.com.br/artigo/corrida-do-ouro/481384
https://www.nexojornal.com.br/incoming/imagens/vacina3/alternates/LANDSCAPE_640/vacina
https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2020/05/11/Como-a-covid-19-fomenta-a-maior-corrida-por-vacina-da-hist%C3%B3ria
https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v26nspe/0080-6234-reeusp-26-spe-033.pdf
http://www.enf.ufmg.br/images/Wanderson_de_Oliveira_-Foto-_Ag%C3%AAncia_Brasil.png
https://youtu.be/qqwdobvBpkQ
https://youtu.be/K-2ipzFX2co
https://www.youtube.com/watch?v=K-2ipzFX2co
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF68reKZwUIbmbcBtCWNLKOnJpeLMuNuTW1-fSs6FMgTQi63kMyKRiSCwj0Uru08jJnUCNrNbPJ_Xknah63JO1CRTByrhlVfSr1PD5onrjySb9PI71A9U2FLzv6vFz5ZUrrZO0qNW3IK6x/s640/WhatsApp+Image+2020-03-19+at+11.07.03.jpeg
http://medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com/2020/03/hidroxicloroquina-o-dia-em-que-ciencia.html
https://imagens.brasil.elpais.com/resizer/V00Yyf_CccdtS4luadC9v-6MTe8=/1500x0/cloudfront-eu-central-1.images.arcpublishing.com/prisa/UTLI6OG7DVF23PX576OFZXWV7Q.jpg
https://imagens.brasil.elpais.com/resizer/BDqFXXVJR_7-35CkCC6CNkrvVtw=/1500x0/filters:focal(1246x637:1256x647)/cloudfront-eu-central-1.images.arcpublishing.com/prisa/IWFQVSYNSVDZTMGIIPHIVK7VUM.jpg
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-07-15/vacina-dos-eua-contra-covid-19-confirma-resultado-animador-e-vai-para-a-ultima-fase-de-testes.html?rel=listapoyo
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-07-16/em-seis-meses-de-busca-por-uma-solucao-para-o-coronavirus-23-vacinas-ja-sao-testadas-em-humanos.html
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