quarta-feira, 22 de julho de 2020

Corrida por vacina no mundo







23 vacinas já são testadas em humanos




Artigo aponta que vacina de Oxford, em teste no Brasil, é segura
Resultados preliminares publicados na revista científica The Lancet apontam que a vacina conseguiu induzir a criação de anticorpos contra o Covid-19 após 28 dias


JG Jéssica Gotlib
postado em 20/07/2020 11:51 / atualizado em 20/07/2020 17:13





Pesquisa foi feita com mais de mil adultos saudáveis e revelou que efeitos colaterais podem ser tratados com medicamentos como paracetamol(foto: AFP / Douglas MAGNO)

A vacina para covid-19, pesquisada pela Universidade de Oxford, não causa muitos efeitos secundários em pacientes e é eficaz para estimular a produção de anticorpos e células T contra o novo coronavírus. Pelo menos é o que apontam os resultados preliminares de um estudo divulgado nesta segunda-feira (20/7) na revista científica The Lancet.

Essa análise diz respeito às fases 1 e 2 do desenvolvimento da vacina. A terceira está sendo feita no Brasil em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Vários grupos de cientistas estão em busca da substância que pode imunizar a população contra o coronavírus. Em outra frente, uma vacina criada pelo laboratório chinês Sinovac Biotech também está em fase avançada e chegou nesta segunda ao Brasil para começar a ser testada na população.

Detalhes sobre o estudo de Oxford

No caso dos resultados divulgados no artigo da The Lancet, os anticorpos estimulados nos pacientes atingiram o número máximo a partir do 28º dia depois de receber o tratamento e continuaram no mesmo patamar até o 56º.  Análises feitas com um sub-grupo de 10 pessoas também indicaram que uma segunda dose poderia trazer resultados ainda melhores.

Os cientistas analisaram dados de 1.077 voluntários, com idades entre 18 e 55 anos, que não haviam contraído a doença, além de comparar os resultados com um grupo controle vacinado contra malária. Alguns dos participantes apontaram efeitos colaterais, como fadiga – em 70% dos casos – e dor de cabeça (68%). Mas os relatórios apontam que eles podem ser reduzidos com o uso de medicamentos comuns, como paracetamol. 

A idade média dos participantes é de 35 anos, sendo que aproximadamente a metade era do sexo feminino e a outra metade, masculino. A maior parte dos voluntários do estudo (cerca de 90%) foi formada por pessoas brancas. De acordo com o relatório, essas características, junto ao curto período de acompanhamento dos pacientes, estão entre as limitações do estudo. 

De qualquer forma, o artigo aponta que mais testes são necessários para que a eficácia seja permanentemente comprovada. Por isso, os autores do estudo seguem com a pesquisa – inclusive aplicando a vacina em idosos. Outra etapa prevê o teste da vacina em crianças, depois de provada sua segurança em adultos.
Capacidade de produção 
Segundo o acordo firmado para que o Brasil fosse parte da peqsuisa, a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca vão enviar ao país pouco mais de 30 milhões de doses que devem ser administratadas, ainda na fase de teste, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ao custo total de U$ 127 milhões. Encerrado o período de estudos, devem ser produzidas mais 70 milhões de doses no país,ao custo de U$ 2,30 por dose, totalizando 100 milhões de vacinas no Brasil.
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2020/07/20/interna_ciencia_saude,873633/artigo-aponta-que-vacina-de-oxford-em-teste-no-brasil-e-segura.shtml

                                                                                                    


“- Qual o valor de uma alma?
- Vale mais que o mundo inteiro!”





Qual o Valor de Uma ALMA? Vale Mais Que o Mundo Inteiro!

Baseado no filme: The Schindler's List" - Oscar Schindler, Empresário Alemão, na II Guerra, descobriu que havia salvado 1.100 pessoas, se tivesse se esforçado um pouco mais, poderia ter salvado outras tantas... E Você? O que tem feito pelos outros? Quanto Vale uma Alma? Deus os abençoe.

https://www.youtube.com/watch?v=ofaWoWg1w5g




corrida do ouro

Artigo
ouro é um metal considerado valioso há séculos. Em determinadas épocas ao longo da história, as pessoas descobriram lugares onde ele podia ser escavado no chão. Tais descobertas incentivaram muita gente a se mudar para esses lugares. Esses movimentos migratórios ficaram conhecidos como corridas do ouro. As pessoas esperavam encontrar o precioso metal e enriquecer.






Reconstrução turística de um povoado da época da corrida do ouro em Barkerville, no oeste do Canadá.

Thomas Drasdauskis
Uma corrida do ouro aconteceu no Brasil no final do século XVII e durante o século XVIII, quando o país era colônia de Portugal. Em 1703, a quantidade de ouro produzida no Brasil ultrapassou a que os portugueses conseguiam obter em suas colônias africanas. Muitos habitantes da região litorânea, onde ficam atualmente os estados de São PauloBahia e Pernambuco, se mudaram para a região de Minas Gerais, onde foram maiores as descobertas do metal. Isso gerou muitas riquezas, com a fundação de novas cidades e o desenvolvimento das atividades econômicas. Também contribuiu para o surgimento de ideias de independência, que se desenvolveram especialmente no movimento chamado Inconfidência Mineira.
Na América do Norte, a maior corrida do ouro aconteceu na Califórnia, nos Estados Unidos. Ela começou em 1848, quando um carpinteiro encontrou o metal em Sutter’s Mill, perto do rio Sacramento. Por volta de 1849, havia 80 mil garimpeiros na região.
Em 1851, outra corrida do ouro levou pessoas para as regiões de Ballarat e Bendigo, na região de Victoria, na Austrália. Ali, os garimpeiros encontraram pepitas, ou fragmentos, de ouro de até 75 quilos.
Outra grande descoberta de ouro aconteceu ao longo do rio Klondike, no território do Yukon, no Canadá. Apesar do frio, cerca de 30 mil pessoas migraram para a região entre 1896 e 1899. Também foi achado um pouco de ouro no Alasca.
Em 1886, um escavador em busca de diamantes descobriu ouro na região do Transvaal, na África do Sul. Hoje, esse país é o maior produtor mundial de ouro.
Quase sempre, o ouro é descoberto em áreas isoladas, onde há poucas pessoas ou cidades. Porém, como muita gente é atraída para esses locais, acabam se formando cidades grandes. Entre elas estão Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, no Brasil; San Francisco, nos Estados Unidos; Melbourne, na Austrália; e Joanesburgo, na África do Sul.
Fonte: Correio Braziliense
https://escola.britannica.com.br/artigo/corrida-do-ouro/481384










ENTREVISTA
Como a covid-19 fomenta a maior corrida por vacina da história

Camilo Rocha11 de mai de 2020(atualizado 16/05/2020 às 17h35)

Autor de livro sobre a história de remédios e tratamentos, microbiologista americano falou ao 'Nexo' sobre a busca por uma cura para o novo coronavírus e a importância dos testes clínicos









FOTO: ARND WIEGMANN/REUTERS

AMOSTRAS EM LABORATÓRIO DO HOSPITAL DA UNIVERSIDADE DE BERNA, SUÍÇA, QUE REALIZA PESQUISA POR VACINA CONTRA A COVID-19

Diariamente são divulgadas novas pesquisas e hipóteses sobre tratamentos e vacinas contra a covid-19. É um noticiário que lança pequenas doses de esperança, especialmente com a ideia de que há gente trabalhando arduamente contra a ameaça do novo coronavírus.
O esforço coletivo envolve grandes multinacionais farmacêuticas, empresas de biotecnologia, startups, institutos de pesquisa e universidades, em diversos países. Entre as mais avançadas está a pesquisa da americana Moderna, empresa fundada em 2010, que teve a fase dois (de três) de testagem aprovada pelo FDA americano (equivalente no Brasil à Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Enquanto isso, a gigante alemã Pfizer, em parceria com uma companhia menor, BioNTech, promete “milhões de doses” de vacina para o fim do ano.
Se o produto final for bem-sucedido, contribuindo para refrear a pandemia, será um marco inédito na história do desenvolvimento de remédios. É o que explica o autor americano Thomas Hager, autor de “Dez Drogas” (Editora Todavia). Mestre em jornalismo e microbiologia e imunologia pela Universidade do Oregon, Hager é autor de diversos livros que difundem temas da ciência para um público mais amplo. Em “Dez Drogas”, ele apresenta o contexto em torno da criação de dez “plantas, pós e comprimidos” fundamentais na história da medicina, do ópio e morfina aos anticorpos monoclonais, usados em tratamentos contra o câncer.
Nexo conversou com Hager por e-mail sobre a corrida por uma vacina da covid-19, paralelos históricos e os ataques à ciência, entre outros assuntos.
Existem dezenas de pesquisas para o desenvolvimento de vacinas e remédios para covid-19 em andamento. Existem equivalentes históricos para esta corrida? O que podemos aprender com eles?
THOMAS HAGER Penso na corrida entre as vacinas [Jonas] Salk versus [Albert] Sabin para a poliomielite na década de 1950 — um sinal de que não é incomum que vários grupos procurem vacinas contra a mesma doença ao mesmo tempo. O que é incomum com a covid-19 é a escala e a urgência mundiais do problema, que estimularam o que estamos vendo agora, no que provavelmente será a maior corrida de vacinas da história. Haverá vencedores e perdedores, mas no final todos serão beneficiados com esse surto de pesquisa.
Estimativas recentes afirmam que uma vacina para a covid-19 pode estar disponível nos primeiros meses de 2021. Se isso acontecer, seria apenas um ano e meio desde que a doença apareceu, no final de 2019. Se isso acontecer, o que representará na história de medicamentos ou desenvolvimento de vacinas? Quais fatores permitem isso?
THOMAS HAGER Uma vacina eficaz e segura que chegar ao mercado em menos de dois anos seria uma conquista histórica. Uma década ou mais costuma ser o padrão. Mas tantos grupos estão trabalhando duro no problema, e tantos governos e empresas farmacêuticas reconhecem sua importância, que todo o poder da medicina moderna estará focado na solução desse problema. Tudo está intensificado, desde tecnologias científicas aprimoradas, como sequenciamento de DNA e RNA e modelagem computacional aprimorada, até técnicas médicas e políticas governamentais otimizadas, que permitirão testes mais rápidos em mais sujeitos de pesquisa.
Como esses procedimentos de testes clínicos foram estabelecidos? Por que são tão importantes?
THOMAS HAGER Testes precisos de segurança e eficácia em humanos — ou seja, testes clínicos — são um processo longo, difícil e muito caro. Antes da segunda metade do século 20, um médico poderia tentar praticamente qualquer nova “cura” em pacientes sem quase nenhuma supervisão das autoridades de saúde. Muitas vezes, os pesquisadores experimentavam em si mesmos ou em seus familiares. Houve muitas tragédias e muitos produtos inúteis colocados no mercado. Hoje, a exigência é muito mais alta para se provar a eficácia e a segurança de um novo medicamento. Testes clínicos cuidadosamente controlados para aprovação geralmente envolvem centenas ou milhares de indivíduos humanos, cada um dos quais deve assinar documentos em que conscientemente dá seu consentimento, deve receber quantidades precisamente controladas de medicamento ou placebo e, em seguida, ser metodicamente monitorado, às vezes por meses ou anos, para que se avaliem os riscos e benefícios.
Os testes clínicos modernos são demorados e caros, mas valem a pena porque resultam em medicamentos que são relativamente seguros de tomar e realmente funcionam. Uma das coisas que você verá na covid-19 são as tentativas de acelerar o processo com testes clínicos mais rápidos e de menor escala. Do lado positivo, podemos encontrar novos medicamentos mais rapidamente. Do lado negativo, corremos mais risco de expor os pacientes a drogas perigosas ou ineficazes. Como sociedade, temos que equilibrar nossa necessidade de velocidade em relação aos riscos.
Seu livro questiona se não seria hora de haver uma disrupção no modelo tradicional de negócios e desenvolvimento dominado grandes multinacionais farmacêuticas. A corrida pela vacina contra a covid-19, para a qual há muitas startups de biotecnologia e laboratórios menores envolvidos, pode contribuir para essa mudança?
THOMAS HAGER Tenho um grande respeito pelas habilidades científicas das grandes farmacêuticas, em geral. Minha crítica é apenas sobre o papel do lucro no desenvolvimento de medicamentos, que faz as grandes empresas farmacêuticas se inclinarem para o desenvolvimento de medicamentos que elas pensam que serão rentáveis em detrimento de medicamentos que podem servir melhor à saúde pública. Com a covid-19, dado o número de pessoas em risco, é provável que todos os tipos de empresas privadas, de pequenos laboratórios de biotecnologia a grandes corporações internacionais, enxerguem que os lucros provavelmente estarão lá — e assim avançarão com toda velocidade.
Nos anos 1990, as grandes empresas farmacêuticas processaram países em desenvolvimento que quebraram a patente dos medicamentos para tratamento da aids, pois eram muito caros. Algo semelhante poderia acontecer novamente? Quais são os desafios de tornar um tratamento ou medicamento amplamente disponível?
THOMAS HAGER A proteção de patentes é crítica para as empresas farmacêuticas e muitas outras. Não teríamos a maioria dos medicamentos que salvam vidas sem ela. Dito isto, ter um medicamento sob patente permite que a empresa que apostou — investindo grandes quantias na descoberta, desenvolvimento, teste e comercialização do medicamento — possa cobrar o que for coerente para o mercado. Se os consumidores sentirem que estão pagando muito caro, podem pressionar por meio de campanhas de relações públicas, ou governos de países específicos poderão subsidiar as compras. Novamente, tudo se resume a uma questão de dinheiro versus saúde pública.
Estamos testemunhando uma forte oposição à ciência e à medicina, desde o menosprezo aos perigos da covid-19 até líderes que promovem tratamentos não comprovados, como a cloroquina. Por que ainda estamos lidando com forças anticientíficas tão fortes?
THOMAS HAGER Essa questão me preocupa há muitos anos. Eu sigo a frase: “Você tem direito a suas próprias opiniões, mas não a seus próprios fatos”. A ciência constitui uma ferramenta maravilhosa para que seres humanos separem fatos de ficção. Infelizmente, a maior parte das pessoas não sabe muito sobre ciência: como funciona, como é feita ou por que é tão importante. Eles não entendem sua linguagem ou compreendem suas regras. Isso facilita para que atores políticos ou econômicos distorçam, descartem ou usem indevidamente a ciência, a fim de promover suas agendas. No momento, estamos vendo muitas tentativas de “politizar” a ciência, fazendo parecer que os fatos científicos são simplesmente uma questão de opinião. Eu não acredito que sejam. Não que os cientistas não discutam ou critiquem o trabalho uns dos outros; eles fazem, e seus argumentos sobre dados formam uma parte crítica do avanço da ciência. É um problema quando as descobertas são retiradas do contexto e depois apresentadas ao público de maneiras projetadas para servir a fins políticos ou de obtenção de lucros.
Muitos governos tentam suprimir informações sobre a propagação de doenças ou a extensão de sua ameaça. Na década de 1970, o regime militar no Brasil omitiu informações sobre uma epidemia de meningite. Até que ponto as doenças ou crises de saúde podem influenciar a situação política?
THOMAS HAGER Há uma longa relação entre doença e política. Um exemplo nos EUA é o modo como a varíola dizimou as populações nativas na época dos assentamentos europeus, essencialmente abrindo caminho para os americanos brancos reivindicarem grandes áreas do país sem muita luta. Essa expansão teve tremendos efeitos políticos. Outro exemplo pode ser a criação de colônias européias na África, onde a presença de doença do sono e malária generalizada alteraram os padrões de assentamento e mudaram a história. Certamente, os grupos políticos no poder querem criar a impressão de que está tudo bem, para que possam permanecer no poder. Pode ser do seu interesse minimizar uma epidemia em curso. Por outro lado, os grupos que estão sem poder podem se beneficiar ao dar a impressão de que o fracasso em controlar um surto de uma doença é marca da inaptidão do grupo no poder. E assim por diante. Mas as doenças são apolíticas. Elas matam independentemente da crença política.

O que se sabe sobre o vírus?

O QUE É A COVID-19?
QUAIS SÃO OS SINTOMAS?
COMO É A TRANSMISSÃO?
COMO É POSSÍVEL SE PREVENIR?
EXISTE TRATAMENTO?
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FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA EM ENFERMAGEM

Maria Sumie Koizumi*

A metodologia de pesquisa em enfermagem tem sido objeto de muita atenção, principalmente depois que passamos a utilizar tanto os métodos quantitativos como os qualitativos de pesquisa. Como diz DEMO (4), a ciência propõe-se a captar e manipular a realidade tal como ela é; que a atividade básica da ciência é a pesquisa. A metodologia, por sua vez, é uma preocupação instrumental: trata das formas de se fazer ciência. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos. Assim, não se deve superestimar a metodologia no sentido de cuidar mais dela do que de fazer ciência. O mais importante é chegarmos onde nos propomos a chegar, ou seja, a fazer ciência. Como chegar lá é também essencial mas, é especificamente instrumental. Somente o metodólogo faz dela sua razão de ser, principalmente o filósofo da teoria do conhecimento; para o cientista, em geral, ela constitui disciplina auxiliar o que, também, não deve ser interpretado como secundarização (4). Outro aspecto diz respeito ao porque da metodologia de pesquisa em enfermagem. O que diferencia a pesquisa em enfermagem de outras disciplinas? Do ponto de visla metodológico não há diferenças, já que o conhecimento e as habilidades requeridas para a pesquisa não variam de uma disciplina para outra. Entretanto, se olharmos para as diferentes dimensões da pesquisa, as distinções aparecem. Em qualquer disciplina deve haver consistência na orientação filosófica e na teoria daquela disciplina (2). As orientações teóricas e o corpo de conhecimentos de uma disciplina definem as variáveis de estudo. As lacunas nesse corpo de conhecimentos determinam o que precisa ser conhecido. A congruência entre o que precisa ser conhecido, a orientação filosófica e as teorias definem o que é pesquisa em enfermagem (2). Sobretudo, deve haver correlação entre as necessidades da prática de enfermagem e a pesquisa. Com estas considerações e abordando o tema estritamente sob o ponto de vista metodológico, propomo-nos tratar alguns aspectos que consideramos fundamentais no processo de pesquisa, quais sejam: — a questão inicial de pesquisa; — a seleção do método ou dos métodos para a mesma;

* Enfermeira. Professor Associado do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP.

Re\: Esc. Enf. USP, v. 26, n? Especial, p. 33-47, out. 1992 33


— o domínio para a operacionalização das etapas do processo de sa pesqui- ; — a avaliação contínua do processo para que seja atingido o rigor meto-' dológico. Há sempre uma história na evolução da pesquisa de uma dada disciplina, a partir do momento em que ela se torna uma realidade. A pesquisa em enfermagem inicialmente só usou o método quantitativo e, durante certo período, esta continuou sendo praticamente a única abordagem utilizada. Alguns fatores influenciaram grandemente este predomínio nas pesquisas em enfermagem. Para Leininger citada por DUFFY (6) houve quatro importantes razões: — os enfermeiros pesquisadores adotaram o modelo positivista preva-lente como a base primária de suas atividades de pesquisa porque eles queriam ser aceitos e respeitados pela comunidade científica; — esses enfermeiros implementaram os primeiros programas de douto-rado em enfermagem e implantaram o paradigma quantitativo como modelo de pesquisa em tais programas; — somente as pesquisas quantitativas eram aceitas para publicação; — os fundos de auxílio às pesquisas eram concedidas somente para os projetos de pesquisa quantitativa. Ao observarmos a evolução da pesquisa em educação podemos perceber alguns fatores muito semelhantes aos nossos. Situado entre as ciências humanas e sociais, o estudo dos fenômenos educacionais não poderia deixar de sofrer as influências das evoluções ocorridas naquelas ciências. Por muito tempo, últimas quatro ou cinco décadas, somente os métodos quantitativos eram usados para a pesquisa em educação. Na última década, começaram a aparecer, entre os pesquisadores, sinais de insatisfação crescente em relação aos métodos empregados para responder às suas questões de pesquisa. Isto deu origem a nqvas propostas de abordagem, com soluções metodológicas diferentes, na tentativa de superar pelo menos algumas das limitações sentidas na pesquisa que até então vinha sendo realizada em educação. A procura de novos caminhos de investigação trazia no seu âmago uma legítima e dominante preocupação com os problemas de ensino (10). Movimento semelhante, ocasionado pela insatisfação decorrente do uso exclusivo do método quantitativo, o qual não respondia às expectativas do pesquisador enfermeiro no que tange aos problemas a pesquisar, motivou a busca de métodos que pudessem responder satisfatoriamente a essas questões. Assim, os métodos qualitativos passaram também a compor o cenário da pesquisa em enfermagem. Um aspecto que, acreditamos, merece ser ressaltado, diz respeito a quem está fazendo pesquisa em enfermagem. No Brasil, e acreditamos que também em outros países, a pesquisa em enfermagem foi altamente incrementada com o advento da pós-graduação "sensu esuito", ou seja, dos programas de Mestrado e Doutorado. Grande parte da produção de pesquisa é oriunda desses programas. Isto significa que a produção de pesquisa em enfermagem vem sendo fortemente intermediada pela pós-graduação, não só no produto como, também, no processo de ensino/aprendizagem de métodos de pesquisa. Significa, igualmente, que a responsabilidade da escola é pelo menos dupla, pois ela começou e continua tendo um papel muito importante nos caminhos da evolução da pesquisa em enfermagem. E também importante enfatizar que há consenso entre as autoras sobre a complementaridade dos métodos quantitativo e qualitativo, pois geram diferentes tipos de conhecimentos úteis para a prática da enfermagem; sobretudo, ressaltam que o problema a ser estudado é que determina qual o método a ser utilizado para aquela pesquisa. Considerando que o método científico incorpora todos os procedimentos usados pelos cientistas para a aquisição de conhecimentos, depreende-se qüe ele inclue os métodos quantitativo e qualitativo de pesquisa (2). O método quantitativo é um processo formal, objetivo e sistemático, segundo o qual os dados numéricos são utilizados para obter informações acerca do mundo. Este método de pesquisa é usado para descrever, testar relações e determinar causas. O método qualitativo é uma abordagem sistemática, subjetiva, usada, para descrever as experiências de vida e dar-lhes significado. Ele vem sendo utilizado pelas ciências sociais e comportamentais há muito tempo, sendo que, na enfermagem o interesse por esse método data da década de 70. Ele focaliza a compreensão do global a qual é consistente com a visão holística da enfermagem. Cada um dos métodos engloba diferentes tipos de pesquisa. Nos métodos quantitativos estão incluídos os seguintes tipos de pesquisa: • exploratória • descritiva • correlacionai • comparativa • quase experimental • experimental É bastante interessante a classificação utilizada por BRINK & WOOD - (1) sobre estes tipos de pesquisa, baseada no princípio do controle que, por sua vez, baseia-se no nível de conhecimento existente sobre o tópico e o grau de controle passível de ser exercido pelo pesquisador sobre as variáveis em estudo. Elas apresentam três níveis básicos de "design" e seus tipos de pesquisa. Nível III: experimental — experimental — quase-experimental Nível II: "survey" — comparativo — correlacionai Nível 1: exploratório-descritivo — descritivo — exploratório Teoricamente, quanto mais alto for o nível do "design" da pesquisa, maior é o grau de controle e o nível do conhecimento existente acerca das variáveis. O nível de conhecimento acerca das variáveis é maior ao nível do experimento e é esperado que seja muito limitado no nível exploratório. Assim, a escolha do tipo de pesquisa depende do conhecimento existente sobre o tópico a ser estudado e o conhecimento gerado refere-se à descrição dos fatos, relação entre as variáveis ou ao estabelecimento de causa e efeito do fenômeno. Há indicação do uso de pesquisas do tipo experimental ou quase-experimental quando a relação causai entre as variáveis pode ser tanto predita como eticamente testada. Se o pesquisador acreditar que as variáveis do seu estudo estão relacionadas e os resultados de sua interação estão preditos, mas há impedimento ético para a manipulação das variáveis, deve-se usar a pesquisa comparativa. Aliás, está é bastante utilizada principalmente nas pesquisas clínicas. Se o pesquisador tem um conhecimento descritivo básico acerca das variáveis mas não sabe se elas estão relacionadas, a melhor escolha será a pesquisa do tipo correlacionai. Se, por outro lado, uma variável ou conceito vem sendo explorado mas não há informação sobre sua existência em uma dada população, a pesquisa descritiva é considerada a mais apropriada. Finalmente, se há conhecimento muito limitado ou se ele inexiste naquele tópico, a pesquisa exploratória é a mais adequada. O controle das variáveis e a predição de suas ações requer um vasto conhecimento. Se o resultado da pesquisa não pode ser predito e sustentado com teoria, não é ético desenvolver o experimento com sujeitos vivos. Além disso, o nível do "design" está fundamentado no conhecimento acerca da operacionabilidade das variáveis no tópico e o grau de controle que pode ser exercido pelo pesquisador sobre estas variáveis, no próprio processo de pesquisa. Nos métodos qualitativos estão também incluídos vários tipos de pesquisa, sendo alguns mais freqüentemente adotados na enfermagem (2, 7, 12, 14). Dentre eles podemos citar: • a fenomenológica • a fundamentada nos dados (grounded theory) • a etnográfica Devido à singularidade da abordagem qualitativa elas são, em geral, consideradas separadamente, embora também guardem pontos comuns. Alguns pressupostos são comuns a esses tipos de pesquisa. — O ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento e por isso ser chamado de naturalístico; — Os dados coletados são predominantemente descritivos; — A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; — O significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial do pesquisador. Há sempre uma intenção de captar a perspectiva dos participantes, ou seja, a maneira como os informantes encaram as questões que estão sendo focalizadas; — A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. O pesquisa-dor não se preocupa em buscar evidências que comprovem hipóteses definidas antes do início do estudo. As abstrações se formam a partir da inspeção dos dados num processo de baixo para cima. Para apontar algumas diferenças entre os tipos de pesquisa mencionados, resumidamente podemos dizer que: — na pesquisa fenomenológica a abordagem é indutiva, descritiva, volvida desen- da filosofia fenomenológica cujo foco é a compreensão das respostas globais do ser humano e não somente a compreensão de partes ou comportamentos específicos. O objetivo da fenomenologia é descrever a experiência tal como ela realmente se apresenta ou é experienciada. O pesquisador deve abordar o fenômeno a ser explorado sem expectativas ou classificações pré-concebidas. A meta é descrever a estrutura sistemática total da experiência vivida, incluindo o significado que estas experiências tem para os indivíduos que dela participaram. — na teoria fundamentada nos dados (grounded theory) há uma abordagem metodológica dirigida ao desenvolvimento de teoria, sem qualquer compromisso particular com tipos específicos de dados, linhas de pesquisa ou interesses teóricos. É muito usada para desvendar quais os problemas que existem num dado meio e como as pessoas nele envolvidas interagem. Ela enfatiza a observação e o desenvolvimento intuitivo da relação entre as variáveis. Envolve formulação, teste e redesenvolvimento de proposições até evoluir para uma teoria. — na etnográfica busca-se investigar a cultura através de um estudo aprofundado dos membros desta cultura. Este tipo de pesquisa atenta para contar a história da vida diária daquela população e descrever a cultura da qual ela faz parte. O processo envolve uma coleta sistemática, análise e descrição dos dados para desenvolver uma teoria de comportamento cultural. O pesquisador vive ou torna-se parte do local daquela cultura para obter os dados. Ele descreve culturas específicas e também compara culturas para determinar as semelhanças e as diferenças existentes. É importante ressaltar que, no Brasil, o desenvolvimento de pesquisas fenomenológicas, etnográficas e fundamentada em dados é bastante importante. Há áreas de pesquisa bem definidas em diferentes estágios de desenvolvimento e de consolidação que nos têm fornecido dados valiosos, seja de ordem metodológica seja de geração de conhecimentos. Além destas, há também aquelas com uso de outras vertentes metodológicas da dialética como a fundamentada no materialismo histórico, entre outras. Escolher o método e o tipo de pesquisa mais adequado para aquela questão inicial de pesquisa ou problema já bem delimitado não é tarefa simples. Como já mencionado, é recomendável que ela seja compartilhada com pesquisadores que atuem naquela área de conhecimento e que tenham domínio sobre os métodos de pesquisa que poderiam ser indicados para aquele estudo. Minimamente, deve ser o resultado do trabalho conjunto do orientando e do orientador, se a nível acadêmico, aliás como em todo desenvolvimento do processo de pesquisa. Escolhido o método e o tipo de pesquisa, conhecer cada uma de suas etapas e, principalmente, estar apto para desenvolvê-las, são condições imprescindíveis. Basicamente há três etapas a saber: l 9 — Planejamento 2- — Execução 3- — Divulgação Na 1- etapa há vários passos a serem seguidos. Alguns podem ser desnecessários e outros precisam ser mais reforçados de acordo com o nível e tipo da pesquisa. Particularmente na etapa de planejamento é uma constante a necessidade de modificar, de re-pensar, de reformular. A 2- etapa depende grandemente da operacionalização ou da profunda reflexão feita na 1- etapa. O domínio da metodologia e sua aplicação no estudo que se pretende desenvolver é muito importante para o sucesso da etapa de execução. Se a coleta de dados, o preparo dos dados coletados para análise, a análise dos dados e a interpretação dos resultados serão feitas consecutivamente ou simultaneamente, dependerão do método selecionado. Isto aplica-se também ao como os dados serão tratados, se numericamente ou textualmente. É na 13 etapa que já projetamos como será a 33 , a de divulgação. Uma pesquisa não estará completa se seus achados não forem divulgados. A comunicação da pesquisa envolve a disseminação dos resultados para a população apropriada, que inclui os enfermeiros, os profissionais da área de saúde e o consumidor do cuidado com a saúde. Os meios mais comumente usados são em congressos ou similares, por meio de comunicações orais e "posters" e as publicações seja em livros, anais de congressos ou, principalmente, em periódicos específicos. Julgar-se apto a desenvolver cada uma das etapas do processo de pesquisa não é suficiente. O rigor metodológico deve ser medido durante todo o processo para qualificar a pesquisa. Este é um aspecto que merece reflexão profunda e que certamente seria impossível ser esgotada neste curto espaço de tempo disponível. O rigor metodológico pode ser analisado com relação à pesquisa, ou como foi pesquisado e ao pesquisador ou quem conduziu a pesquisa. Ambos são essenciais para se alcançar o rigor. Os critérios de avaliação do rigor da pesquisa propriamente dita devem estar estabelecidos e estes devem ser coerentes com o método de pesquisa adotado. Considerando a existência de características específicas que diferenciam a pesquisa quantitativa da qualitativa é preciso que elas sejam respeitadas na avaliação do rigor metodológico. Neste sentido, é interessante a análise da súmula apresentada por BURNS; GROVE (2) mostrando ponto por ponto as diferenças existentes nas pesquisas quantitativas e qualitativas. Quadro I - Características das pesquisas quantitativas e qualitativas. PESQUIS A QUANTITATIVA PESQUIS A QUALITATIVA . Ciência " hard" . Ciência" soft" . Foco; conciso e limitado . Foco: complexo e aberto . Reducionista . Holístico • Objetivo . Subjetivo . Raciocínio: lógico dedutivo .Raciocínio: dialético, indutivo . Base de conhecimento: relação . Base de conhecimento: causa e efeito significado, descoberta . Testa teorias . Desenvolve teoria . Controla . Compartilha interpretação * Instrumentos específicos . Comunicação e observação . Elemento básico de análise: . Elemento básico de análise: números palavras . Análise estatística . Interpretação individual . Generalização . Singularidade

Fonte: BURNS, N.: GROVE, S. K. The practice of nursing research: conduct, critique and utilization. Philadelphia, W. B. Saunders, 1987. p. 36.

Embora seja um quadro sumário extremamente simplista ele mostra pontos básicos dos dois métodos. Para essas autoras (2) a pesquisa quantitativa é considerada uma ciência- "hard" pois está baseada no rigor, objetividade e controle. Derivada de um ramo da filosofia chamado positivismo lógico, opera com regras estritas da lógica, da verdade, das leis, dos axiomas e das predições. A pesquisa qualitativa é considerada uma ciência "soft" ou uma abordagem filosófica ou artística, que evoluiu das ciências comportamental e social, como um método para compreensão da natureza humana singular, dinâmica e holística. Assim como há autores que discordam desta classificação em ciência " hard" e "soft" (3), nós também a julgamos inconveniente, pois perpetua a idéia de que a análise por números é superior àquela com palavras, quando na verdade não há termo de comparação entre ambas. O foco da pesquisa quantitativa é identificado como conciso, limitado e reducionista. A objetividade é um traço marcante e o não envolvimento- do pesquisador no estudo é essencial. O foco da pesquisa qualitativa, por sua vez, é complexo e aberto e é propósito da pesquisa dar significação de conjunto, ou seja, holístico. O pesquisador é parte do estudo e nesta abordagem assume-se que a subjetividade é essencial para a compreensão das experiências humanas. A pesquisa quantitativa é conduzida para a descrição de variáveis, identificação da relação entre as mesmas e exame da relação de causa e efeito. É portanto um método muito útil para testar teorias; o pesquisador utiliza o raciocínio dedutivo e lógico para examinar o particular e chegar às generalizações. A pesquisa qualitativa é conduzida para gerar conhecimentos concernentes ao significado e descoberta. O pesquisador utiliza, predominantemente, o raciocínio dialético e indutivo. Como na pesquisa qualitativa há busca do significado, os achados podem ser usados para identificar a relação entre as variáveis, e estas afirmações de relação são usadas no desenvolvimento de teorias. A pesquisa quantitativa requer controle. O pesquisador usa o controle para identificar e limitar o problema a ser pesquisado e estabelece limites sobre as variáveis em estudo com o objetivo de facilitar um exame mais preciso das mesmas; usa instrumentos ou equipamentos para gerar dados numéricos e usa a análise estatística para organizar os dados e determinar a relação significante. O controle, os instrumentos e a análise estatística buscam a precisão. A generalização dos resultados depende dapopulação em estudo e o pesquisador deve ser bem cauteloso ao fazê-la. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador usa observações estruturadas ou não e comunicação como o meio para obtenção de dados. Nos dados há interpretação compartilhada entre pesquisador e sujeitos do estudo e nenhuma tentativa é feita para controlar esta interação. Os dados qualitativos são gerados na forma de palavras e são analisados em termos de respostas individuais ou sumários descritivos ou ambos. O pesquisador identifica as categorias organizando e classificando os dados. O objetivo da análise é organizar os dados para lhes dar significação, interpretação individualizada ou estrutura que descreva o fenômeno estudado. Os achados do estudo qualitativo são únicos para aquele estudo e não é objetivo do pesquisador generalizá-lo para a população. Contudo, a compreensão do significado do fenômeno numa situação particular é útil para a compreensão dos fenômenos similares em situações similares.

Retomando a avaliação de rigor metodológico, nota-se que a validade, a fidedignidade e a objetividade são aspectos muito valorizados nos métodos quantitativos. A mensuração desses aspectos está fundamentada no "design" das pesquisas quantitativas com critérios bem definidos o que lhes conferem alta coerência e facilidade de aplicação. Há sobretudo, farta literatura de metodologia de pesquisa ou, especificamente, de metodologia de pesquisa em enfermagem abordando a avaliação do rigor metodológico neste método. Cumpre porém, mencionar que isto não significa terem estes critérios sido rigorosamente obedecidos. Numa visão mais ampla quanto à avaliação do rigor metodológico, poderse-ia categorizar alguns fatores que fossem comuns aos métodos de pesquisa e que contivessem critérios específicos, de acordo com o método utilizado. Neste enfoque, Guba; Lincoln citados por SANDELOWSKI (16), analisam quatro fatores relacionados com os testes de rigor, a saber, veracidade, aplicabilidade, consistência e neutralidade, os quais seriam medidos pela validade interna e externa, fidedignidade e objetividade quando usado o método quantitativo. Nos métodos quantitativos a veracidade é avaliada quanto ao manejo da validade interna e pela validade dos testes e instrumentos usados para mensurar o fenômeno sob investigação. A validade interna é obtida quando há confiança de que os achados do estudo devem-se às variáveis em estudo e não ao procedimento de investigação. Por outro lado, um instrumento de pesquisa é válido quando há certeza de que ele mediu o que foi pré-estabelecido para ser medido. Pela validade externa avalia-se a extensão da aplicabilidade. Os resultados e procedimentos do estudo são externamente válidos quando há segurança de que os vieses de seleção, os efeitos dos pré-testes, de estar no estudo e dos multi-testes sobre a população de estudo não produziram condições não comparáveis com a ocorrência natural. Ainda dependendo da validade interna do estudo, a validade externa refere-se à generalização dos achados e à representatividade dos elementos de estudo, dos testes e das situações testadas. Paradoxalmente, quanto mais controlado é o estudo mais difícil é aproximá-lo daquelas condições reais da vida e isto interfere na generalização. Algumas regras de amostragem são observadas para assegurar a representatividade e a generalização. Nelas incluem-se a amostra randomizada, a randomização na composição dos grupos controle e de estudo e a pré-determinação do tamanho da amostra para assegurar a inferencia estatística. A fidedignidade diz respeito à consistência, estabilidade e significancia do teste ou dos procedimentos em teste. Ela confere consistência ao estudo. A fidedignidade é pré condição para a validade. A replicação é meta inerente à fidedignidade. A repetição dos procedimentos em teste e os resultados levam à credibilidade dos achados e segurança na generalização do estudo. A objetividade é uma forma de neutralidade exercida pelo pesquisador e é alcançada quando a fidedignidade e a validade estão estabelecidas. Para alcançar a objetividade há crença de que a distância entre o pesquisador e seus elementos de estudo e dados deve ser mantida. A idéia da objetividade na pesquisa quantitativa, repousa sobre o pressuposto de que há um conhecedor e coisas a serem conhecidas e que a relação entre elas deve ser caracterizada pela separação e distanciamento. O contato entre o investigador e o que deve ser investigado é mediado e controlado por protocolos, teorias e instrumentação.
Retomando o enfoque de Guba; Lincoln, os mesmos quatro fatores são também usados nos métodos qualitativos mas, para sua aplicação, é necessário que haja adaptação nos critérios de medida. Desta forma, a veracidade seria avaliada pela credibilidade, a aplicabilidade pela adequação, a consistência pela verificabilidade e a neutralidade pela confirmação. A credibilidade é obtida quando são apresentadas interpretações ou descrições fiéis da experiência humana, de tal forma que as pessoas a elas submetidas possam reconhecê-las como suas próprias descrições ou interpretações. A adequação é encontrada quando os achados da pesquisa ajustam-se em contextos fora daquela situação de estudo, ou quando esses achados são vistos como significativos e aplicáveis em termos de suas próprias experiências. Os achados são bem fundamentados nas experiências de vida estudadas e refletem seus elementos típicos e atípicos. A verificabilidade é alcançada quando outro pesquisador pode claramente seguir a "trilha de decisão" usada pelo investigador. Além disso, um outro pesquisador poderia chegar às mesmas conclusões ou a elas comparáveis pelos dados, perspectivas e situações daquele pesquisador. A confirmação ou confirmabilidade é atingida quando os três critérios anteriores, ou seja, credibilidade, adequação e verificabilidade estão bem estabelecidos. Considerando que os aspectos específicos que asseguram a comprovação do estudo dependem: — do tipo de evidências usadas (relato oral, sujeitos, dados observados, artefatos, documentos pessoais e públicos), — das técnicas empregadas para coleta de dados (entrevista, observação, observação participante), — dos objetivos do estudo (descrição, explanação, geração ou verificação de teorias), — das técnicas de análise empregadas (indução analítica, método de comparação constante, análise literária). SANDELOWSKI (16) operacionaliza estratégias que possam ser usadas em vários tipos de pesquisas qualitativas mas, particularmente naquelas que analisam o homem como sujeito. Para ela (16), a verificabilidade é alcançada especificamente pela descrição, explanação ou justificação dos seguintes pontos: — como o pesquisador interessou-se pelo sujeito do estudo; — como o pesquisador vê o que foi estudado; — os objetivos do estudo; — como os sujeitos ou as peças de evidência foram incluídas no estudo e como eles foram abordados; — o impacto que os sujeitos ou evidências e o pesquisador tiveram um em relação ao outro; — como os dados foram coletados; — quanto durou a coleta de dados; — onde os dados foram coletados;
— como os dados foram reduzidos ou transformados para a análise, interpretação e apresentação; — como os vários elementos dos dados foram valorizados; — como foi a inclusão ou exclusão das categorias desenvolvidas para conter os dados; — quais foram as técnicas específicas usadas para a determinação da credibilidade e adequação dos dados. Ao pesquisador caberia ainda avaliar seus dados brutos, sistema de codificação e categorização dos dados e como os diferentes elementos dos dados foram ligados um ao outro. A verificabilidade é demonstrada primariamente no relatório de pesquisa. Conseqüentemente, a existência de um material avaliável contendo todas as fases do estudo qualitativo é essencial para o processo de auditagem. A credibilidade e a adequação do estudo qualitativo dependem de várias estratégias específicas. Estas estratégias seriam planejadas para controle dos três maiores riscos de credibilidade e propriedade do estudo: a falácia holística, os vieses de elite e a ocorrência natural. Elas incluem: — checar a representatividade dos dados como um todo e as categorias codificadas e os exemplos usados para reduzir e apresentar os dados; — cruzar as fontes de dados e os procedimentos de sua coleta para determinar a congruência dos resultados; — checar as descrições, as explanações e as teorias de forma a assegurar a presença dos elementos típicos e atípicos; — obter validação pelos próprios sujeitos do estudo. Para completar, acrescenta que o prolongado contato do pesquisador com os sujeitos e a análise dos dados por outro pesquisador poderiam ajudar na validação dos resultados. Como já mencionado, o pesquisador é também elemento essencial para o rigor metodológico. Suas características pessoais podem influenciar ou ser influenciadas no processo de pesquisa. Isto significa que as qualidades do pesquisador, enquanto características específicas devem ser além de auto-reconhecidas, estimuladas, desenvolvidas e valorizadas no processo de pesquisa. Nos métodos quantitativos, o pesquisador esforça-se constantemente por chegar a instrumentos precisos de medida e projetos rigorosamente controlados. As características valorizadas incluem o exame crítico do raciocínio e a atenção para a precisão. O processo de raciocínio logístico e dedutivo são considerados essenciais e visam diminuir erros em áreas como as de medida, " design ", análise estatística e generalização. Há um controle imposto pelo pesquisador relacionado com a identificação do problema, o "design" e a análise estatística. Nos métodos qualitativos, o pesquisador, no processo de pesquisa usa sua personalidade no processo de pesquisa e isto é considerado um fator chave. A empatia e a intuição são usadas deliberadamente e estas habilidades são cultivadas. Ele deve estar intensamente envolvido com as experiências do sujeito a fim de interpretá-lo; deve permanecer aberto às percepções do sujeito mais do que tentar compor o significado pelas suas próprias experiências. Ao analisar alguns aspectos metodológicos das pesquisas quantitativas e qualitativas, por meio das suas diferenças, poder-se-ia caminhar simplesmente para a acentuação da dicotomização já existente. Mas o nosso intuito foi no sentido de apontar as bases metodológicas de cada uma delas, ou seja, o que as diferencia enquanto meio para atingir a finalidade de uma disciplina. A enfermagem enquanto disciplina, fundamenta-se no cuidado do ser humano, na sua totalidade ou globalmente. Desde suas raízes, o conceito do todo sempre foi muito forte e direcionou seu desenvolvimento. Se num dado momento histórico, em que a pesquisa em enfermagem foi enfocada com mais vigor, houve predomínio quase absoluto dos métodos quantitativos, era esperado que a visáo holística da assistência fosse também resgatada para a pesquisa, até mesmo para manutenção da coerência da disciplina. Por outro lado, a problemática envolvida na prática da enfermagem não poderia ser resolvida simplesmente pela opção por um ou outro método de pesquisa. Nesse sentido, o uso combinado de métodos quantitativos e qualitativos tem sido bastante discutido. Esta combinação poderia ocorrer seqüencialmente ou simultaneamente. No uso seqüencial o projeto seria iniciado com métodos qualitativos até as hipóteses emergirem. No estágio de testes da hipóteses, passar-se-ia para o método quantitativo. No uso simultâneo os dois métodos seriam aplicados endereçados ao mesmo problema. A combinação de métodos é denominada triangulação. Tem defensores assim como autores que lhe são contrários Convencionalmente, entende-se que ela envolve variedade de dados, de pesquisadores, de teorias, assim como de metodologia (5). A triangulação de dados ocorre quando os pesquisadores usam múltiplas fontes de dados como possíveis para examinar aquele evento. Ela pode ocorrer em relação ao tempo, espaço ou pessoa. MITCHELL (11) a exemplifica num estudo acerca do desejo de comer. Os dados foram coletados de mulheres em diferentes dias da semana, durante diferentes meses, diferentes fases do ciclo menstrual e diferentes períodos do dia. Os dados de cada dia, eram registrados num diário e versavam sobre o desejo de comer e comportamento de comer, num período mínimo de 90 dias consecutivos. Dados acerca da ingestão de alimentos eram também coletados durante duas diferentes fases do ciclo menstrual, assim como em diferentes dias da semana.Auto-relatos retrospectivos bem como diários concorrentes, eram também obtidos. Aqui, os diferentes períodos de tempo compuseram a triangulação de dados. O ponto central foi que todas as fontes de dados tinham um foco similar, ou seja, elas relatavam algum aspecto da experiência do desejo de comer. Pode haver também, triangulação de pesquisadores, que consiste em múltiplas observações do objeto de pesquisa por diferentes investigadores. No estudo sobre desejo de comer, dois pesquisadores coletaram os dados sendo que, um usou a entrevista semiestruturada por telefone e o outro, dados retrospectivos, levantados na forma de respostas com alternativas fechadas. A triangulação teórica consiste no uso de múltiplas perspectivas em relação ao mesmo conjunto de objetos. Os dados podem ser abordados com múltiplas hipóteses de forma que vários pontos de vista teóricos possam tomar lugar lado a lado e seu poder relativo pode ser avaliado. Várias alternativas explanatórias do fenômeno, cada um com diferentes bases teóricas mas interrelacionadas, são consideradas conjuntamente e testadas dentro do mesmo corpo de dados. No estudo sobre o desejo de comer, vários domínios estiveram representados, a saber: o domínio psicológico, quando foram testadas as hipóteses dos estados cognitivo e afetivo; o domínio sociológico ao serem testadas as hipóteses do contexto social; e, o domínio fisiológico quando foram testadas as hipóteses dos ciclos nutricional e mestrual. No conjunto, estas diferentes hipóteses, cada qual representando diferentes explicações para o desejo de comer, exemplificam a triangulação teórica. A triangulação metodológica é a mais comumente usada. Vários métodos ou procedimento de coleta de dados são contidos num mesmo estudo. Aqui incluem-se entrevistas, questionários, observações diretas ou registros de arquivos e evidências físicas. No estudo do desejo de comer, a triangulação metodológica incluiu dados qualitativos provenientes da entrevista semi-estruturada por telefone e quantitativa dos dados levantados do arquivo de cada sujeito do estudo. Há duas diferentes formas de triangulação metodológica: dentro do método e entre os métodos. A primeira envolve várias formas de obtenção de um mesmo tipo de dado. Um exemplo é o uso de duas ou mais escalas para medida do estado psicológico. O segundo, tem um nível de complexidade maior. Os métodos quantitativos como qualitativos de coleta de dados são usados combinadamente dentro de um mesmo estudo. No estudo sobre o desejo de comer foi utilizada a entrevista semi-estruturada, por telefone, e o levantamento de dados com respostas fechadas contendo várias escalas de medida sobre atitudes acerca do comer, estado psicológico e nível no desejo de comer. Como já mencionado, há quatro tipos de triangulação. A cada um deles agregamos exemplos oriundos de uma pesquisa relacionada com o desejo de comer. Quando mais de um tibo de triangulação está presente num mesmo estudo, esta forma mais complexa é denominada triangulação múltipla. Contudo, não é necessário que todos os quatro tipos de triangulação estejam presentes num mesmo estudo. O rigor metodológico, por sua vez, é essencial na triangulação como o é em qualquer método de pesquisa. Na triangulação, há no mínimo quatro princípios básicos a serem seguidos. O primeiro diz respeito à definição do problema. Isto significa o que o problema, os tipos de dados necessários para sua solução e o método escolhido devem ser cuidadosamente estudados. O segundo requer que os pontos fracos e os fortes de cada método escolhido complementem-se mutuamente. O terceiro requer que os métodos sejam selecionados de acordo com sua relevância para a natureza do fenômeno a ser estudado. O quarto envolve avaliação contínua das abordagens metodológicas escolhidas, durante toda a evolução do estudo, a fim de ser assegurado que os três princípios estejam sendo seguidos. Os tipos de triangulação e os prinípios de sua aplicação encontram-se claramente definidos. Entretanto, há ainda várias dificuldades quanto ao seu uso e elas referem-se à unidade de análise, às restrições quanto a tempo e gastos, ao preparo dos pesquisadores e à análise de dados (11). Uma unidade de análise comum que guie o projeto, a coleta e a análise dos dados é requisito básico. O tempo e os gastos financeiros são elevados. Há neces-sideradas conjuntamente e testadas dentro do mesmo corpo de dados. No estudo sobre o desejo de comer, vários domínios estiveram representados, a saber: o domínio psicológico, quando foram testadas as hipóteses dos estados cognitivo e afetivo; o domínio sociológico ao serem testadas as hipóteses do contexto social; e, o domínio fisiológico quando foram testadas as hipóteses dos ciclos nutricional e mestrual. No conjunto, estas diferentes hipóteses, cada qual representando diferentes explicações para o desejo de comer, exemplificam a triangulação teórica. A triangulação metodológica é a mais comumente usada. Vários métodos ou procedimento de coleta de dados são contidos num mesmo estudo. Aqui incluem-se entrevistas, questionários, observações diretas ou registros de arquivos e evidências físicas. No estudo do desejo de comer, a triangulação metodológica incluiu dados qualitativos provenientes da entrevista semi-estruturada por telefone e quantitativa dos dados levantados do arquivo de cada sujeito do estudo. Há duas diferentes formas de triangulação metodológica: dentro do método e entre os métodos. A primeira envolve várias formas de obtenção de um mesmo tipo de dado. Um exemplo é o uso de duas ou mais escalas para medida do estado psicológico. O segundo, tem um nível de complexidade maior. Os métodos quantitativos como qualitativos de coleta de dados são usados combinadamente dentro de um mesmo estudo. No estudo sobre o desejo de comer foi utilizada a entrevista semi-estruturada, por telefone, e o levantamento de dados com respostas fechadas contendo várias escalas de medida sobre atitudes acerca do comer, estado psicológico e nível no desejo de comer. Como já mencionado, há quatro tipos de triangulação. A cada um deles agregamos exemplos oriundos de uma pesquisa relacionada com o desejo de comer. Quando mais de um tibo de triangulação está presente num mesmo estudo, esta forma mais complexa é denominada triangulação múltipla. Contudo, não é necessário que todos os quatro tipos de triangulação estejam presentes num mesmo estudo. O rigor metodológico, por sua vez, é essencial na triangulação como o é em qualquer método de pesquisa. Na triangulação, há no mínimo quatro princípios básicos a serem seguidos. O primeiro diz respeito à definição do problema. Isto significa o que o problema, os tipos de dados necessários para sua solução e o método escolhido devem ser cuidadosamente estudados. O segundo requer que os pontos fracos e os fortes de cada método escolhido complementem-se mutuamente. O terceiro requer que os métodos sejam selecionados de acordo com sua relevância para a natureza do fenômeno a ser estudado. O quarto envolve avaliação contínua das abordagens metodológicas escolhidas, durante toda a evolução do estudo, a fim de ser assegurado que os três princípios estejam sendo seguidos. Os tipos de triangulação e os prinípios de sua aplicação encontram-se claramente definidos. Entretanto, há ainda várias dificuldades quanto ao seu uso e elas referem-se à unidade de análise, às restrições quanto a tempo e gastos, ao preparo dos pesquisadores e à análise de dados (11). Uma unidade de análise comum que guie o projeto, a coleta e a análise dos dados é requisito básico. O tempo e os gastos financeiros são elevados. Há necessidade de pesquisadores capacitados tanto em métodos quantitativos como qualitativos. Mas, estas questões parecem ser mais facilmente contornáveis se comparadas àquelas referentes à análise de dados. A análise dos dados gerados da múltipla triangulação é um problema difícil e ainda não resolvido. Ao contrário, continua a gerar novas questões. MITCHELL (11) assinala que as dificuldades na análise de dados relacionam-se com: — combinação de dados numéricos (quantitativos) e dados lingüísticos ou textuais (qualitativos); — interpretação de resultados divergentes entre dados numéricos e dados lingüísticos; — análise de conceitos sobrepostos que emergem dos dados e não são claramente diferenciados; — necessidade de ser dado peso às fontes de dados; — avaliação de diferentes métodos quanto à sua equivalência em peso e possibilidade. Contudo, estudos sob triangulação vem sendo feitos por outros enfermeiros pesquisadores além de MITCHELL (11). A triangulação metodológica foi testada por HINDS; YOUNG (9) para estudar o enfermeiro ao prestar cuidado à saúde. Esta pesquisa visou medir os efeitos da instrução padronizada sobre auto-cuidado, ministrada por enfermeiro de saúde pública, e o seguimento dos resultados apresentados por uma população de adultos de mais de 55 anos. Os dados foram obtidos de questionários, observações, relatórios arquivados, notas de campo e entrevistas estruturadas. Segundo as autoras, pela triangulação metodológica foi possível: a) testar as hipóteses do estudo; b) validar os achados do estudo; c) explicar os achados divergentes; d) prover integração teórica; e) obter informações para excluir explicações concorrentes. A convergência entre métodos serviu para aumentar a confiança quanto à adequação dos constructos sobre o cuidado à saúde. MURPHY (13) usou a triangulação múltipla num estudo sobre desastre natural ocorrido devido erupção do Monte Santa Helena em Washington, EUA, em 1980. A população do estudo constou de grupos de pessoas que tinham sofrido perdas de parentes ou amigos, ou somente de propriedades e que não sofreram perdas. A triangulação múltipla constou de triangulação tanto de dados, como de pesquisadores, teorias e metodologias. As coletas de dados foram realizadas em duas etapas: uma em 1981 e a outra em 1983. Segundo a autora, a compreensão e a mensuração dos resultados de um desastre natural foram alcançadas graças à triangulação, razão pela qual ela recomenda sua utilização nos estudos sobre eventos traumáticos da vida. CORNER (3)utilizou a triangulação múltipla para compreender atitudes, conhecimentos, confiança e necessidades educacionais percebidas por enfermeiros recém-registrados no cuidado de pacientes com câncer e para desenvolver e avaliar um pacote educacional que fosse de encontro às necessidades deste grupo profissional. A pesquisa foi desenvolvida em três fases e constou de um estudo exploratório do grupo de enfermeiros, de desenvolvimento do pacote educacional e de avaliação deste pacote. Triangulações de dados de metodologia, de teoria e de pesquisadores foram usados. Ela observou que talvez os pontos de vista filosóficos dos diferentes métodos não sejam passíveis de combinação e que o tratamentó superficial de múltiplas fontes de dados impediram a plena e completa abordagem da coleta e análise dos dados. Todavia, observou que a utilização de diferentes métodos prove maior e mais rica compreensão do fenômeno do que se realizada com um único método. A triangulação múltipla não deve ser apropriada para todos os tipos de pesquisa. Certamente ela não é indicada para pesquisas experimentais altamente controladas com uso de técnicas específicas para aquele experimento. Também não deve ser indicada para pesquisas específicas de uma dada disciplina cujo " design " é restrito àquela disciplina. Entretanto, para muitas questões de pesquisa em enfermagem, tal como em situações nas quais mais de um ponto der vista do fenômeno é desejado, ela parece apropriada; ela ajudaria a explicar o evento, já que oferece flexibilidade e ao mesmo tempo uma abordagem verticalizada. Em resumo, todos os métodos, usados combinadamente ou não, apresentam vantagens e também , limitações. Enquanto método eles devem ser selecionados apropriadamente, de acordo com a natureza do problema e o que é conhecido acerca do fenômeno a ser estudado. Quanto à crítica ao método ela deve ser dirigida unicamente para a propriedade do mesmo naquela pesquisa (7,15). As abordagens quantitativas e qualitativas compartilham metas comuns na pesquisa, ou seja, a compreensão do mundo em que vivemos. Considerando esta meta, a adoção de cada uma das abordagens pode ser reconhecida como complementar e a priorização que fica subjacente quando se adota uma ou outra, pode se eliminada como algo não produtivo (8). A pesquisa precisa de pesquisadores para se tornar real. Os pesquisadores precisam estar treinados nos métodos de pesquisa e isto incluí toda a extensãodo processo de pesquisa. Os enfermeiros pesquisadores precisam avançar nas habilidades e na compreensão das diferentes abordagens de pesquisa, a fim de capitalizar as forças e os benefícios de cada uma, e atingir mais completa compreensão da prática da enfermagem em toda a sua complexidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9. HINDS, P. S.; YOUNG, K. J. A tnangulation of methods and paradigms to study nurse-given wellness care. Nurs. Res., v. 36, n. 3, p. 195-8,1987. 10. LÜDGE, V.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação :abordagens qualitativas. São Paulo, E. P. U., 1986. 11. MITCHELL, E. S. Multiple triangulation: a methology for nursing science. ANS, v. 8, n.3, p. 18-26, 1986. 12. MUNHALL, P. L.; OILER, C. J. Nursing research: a qualitative perspective. Norwalk, Appleton-Century-Crofts, 1986. 13. MURPHY, S. A. Multiple triangulation: applications in a program of nursing research. Nurs. Res., v. 38, n.5, p. 294-7,1989. 14. OMERY, A. Phenomenology: a method for nursing research. ANS, v. 5, n. 2, p. 49-64,1983. 15. POLIT, D. F.; HUNGLER, B. P. Nursing research: principles and methods. 3.ed. London, Lippincott, 1987. 16. SANDELOWSKI, M. The problem of rigor in qualitative research. ANS, v. 8, n. 3, p. 27-37,1986.

Fonte: Re\: Esc. Enf. USP, v. 26, n? Especial, p. 33-47, out. 1992 33
Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v26nspe/0080-6234-reeusp-26-spe-033.pdf
Acesso em: 23/07/2020



Epidemiologista Wanderson de Oliveira ministra palestra sobre os desafios do SUS e a pandemia da Covid-19





Na próxima sexta-feira, 10 de julho, às 19 horas, Wanderson Kleber de Oliveira, enfermeiro, egresso da EEUFMG, Epidemiologista e Secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde – de janeiro de 2019 a maio de 2020 vai ministrar palestra sobre "Os desafios do Sistema Único de Saúde: reflexões no enfrentamento da pandemia COVID-19". A atividade, que faz parte do marco dos 87 anos da Escola de Enfermagem da UFMG, será realizada no Zoom (acesse aqui) e será moderada pela diretora da Escola, professora Sônia Maria Soares.

Wanderson é doutor em epidemiologista com experiência em vigilância epidemiológica, investigação e gestão de emergências em saúde pública, análise de situação de saúde, sistemas de informação em saúde, gestão em saúde pública e comunicação de risco. Tem 22 anos de experiência em saúde pública. Participou da resposta nacional à Pandemia de Doença pelo Coronavírus (Covid-19), resposta ao Desastre em Brumadinho, à Reemergência do Sarampo como problema de saúde pública, com implantação da Estratégia "Movimento Vacina Brasil", regularização do fornecimento de medicamentos contra hepatites virais, realização da Expoepi 2019 e responsável pela mais ampla reestruturação da SVS/MS desde sua criação em 2003. Autor e coautor de artigos, capítulos de livros e livros nas áreas de Saúde Pública, Epidemiologia e Gestão Pública da Saúde.

“Temos orgulho de mostrar como essa Escola segue enfrentando a pandemia da Covid-19 em condições totalmente adversas. A resposta da Escola de Enfermagem foi pautada em ações de extensão, pesquisa e treinamentos, com a geração de conhecimento. E mais uma vez respondeu de forma altiva e corajosa ao enfrentamento da pandemia ressaltando seu compromisso com os problemas emergentes da área de saúde. Em meio a pandemia, o nosso grande desafio de todos que integram a nossa Escola é marcar a nossa luta e reafirmar a nossa solidariedade à todos os profissionais de saúde que estão envidando esforços para atender a população, em especial, aos profissionais de enfermagem, muitas vidas já foram perdidas nessa luta incansável no combate ao coronavírus. Não podemos deixar de expressar a nossa solidariedade e respeito as famílias, que perderam seus entes queridos”, destaca a diretora Sônia Soares.
http://www.enf.ufmg.br/index.php/noticias/1854-epidemiologista-wanderson-de-oliveira-ministra-palestra-sobre-os-desafios-do-sistema-unico-de-saude-e-a-pandemia-da-covid-19





Palestra: Os desafios do Sistema Único de Saúde: reflexões no enfrentamento da pandemia COVID-19

Wanderson Kleber de Oliveira, enfermeiro, egresso da EEUFMG, Epidemiologista e Secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde – de janeiro de 2019 a maio de 2020

Fonte: Escola de Enfermagem da UFMG





Análise da pandemia no Brasil e dos próximos desafios no combate ao coronavírus

O repórter Mateus Vargas conversa com Wanderson de Oliveira, epidemiologista e ex-secretário de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, e Sergio Cimerman, infectologista e colunista do Estadão

Fonte: Estadão

https://www.youtube.com/watch?v=K-2ipzFX2co





sexta-feira, 20 de março de 2020

Hidroxicloroquina: o dia em que a ciência parou








O mundo não experimenta apenas a epidemia de coronavírus. Progressivamente fomos tomados por outras duas epidemias: do medo e da informação. Ontem, em menos de 12 horas, instalou-se a quarta epidemia: a da irracionalidade científica. Mais abrupta que as outras, experimentamos um ponto de inflexão: o dia em que a ciência parou. 

Tudo começou de manhã cedo. Eu subia as escadas do hospital em direção a minha sala, quando recebo a cópia de um artigo francês, enviado por um amigo que é uma das maiores referências mundiais no estudo de malária. Um cientista puro. O trabalho testara o benefício da hidroxicloroquina para o tratamento da COVID-19. A conclusão indicava que “o tratamento com hidroxicloroquina é significativamente associado a desaparecimento da carga viral” na doença em questão.

“... hydroxychloroquine treatment is significantly associated with viral load reduction/disappearance in COVID-19 patients”

Naquele primeiro lance de escada, comentei que este era um assunto para cientistas como ele, mas ainda não para corredor de hospital. Ele concordou. Minha resposta foi um tanto intuitiva, de relance. 

Já no segundo lance de escada (são apenas dois andares), me surpreendi com uma mensagem de um colega intensivista, mencionando que o estudo estava tendo grande repercussão nos grupos de medicina crítica. Comentei que já sabia (há 15 segundos).

Chegando ao corredor onde fica minha sala, me deparo com o coordenador das UTIs de meu hospital, que me expressou uma visão crítica a respeito do que estava acontecendo, embora todos ainda estivéssemos sem saber em detalhe do que se tratava. 

Ao longo do dia foram incontáveis mensagens apontando o estudo francês, culminando no anúncio do presidente Trump de que o FDA houvera aprovado a hidroxicloroquina para o tratamento do COVID-19.

"We have to remove every barrier or a lot of barriers that were unnecessary and they've done that to get the rapid deployment of safe, effective treatments" 

Trump acha que o rigor científico do FDA seria uma barreira desnecessária. Nessa irracionalidade, Trump não está sozinho. Muitos argumentam que em momentos de crise devemos reduzir este rigor. Há notícias que hospitais de referência incluíram este tratamento como opção em seus protocolos. 

Neste artigo, pretendemos abordar a inusitada qualidade do trabalho francês. No entanto, esta discussão perde o sentido diante de um ecossistema clínico em que evidência de qualidade é considerada “desnecessária devido à gravidade da situação”. 

Desta forma, mais do que uma discussão metodológica, precisamos aprofundar a interface do raciocínio clínico com a dimensão epistemológica da ciência. 




Coronavírus: devemos abandonar o ônus da prova?

No dia de hoje, a ciência parou e deu lugar a observações do tipo “nesta situação crítica, não podemos colocar barreiras científicas”. No entanto, estas observação carecem da diferenciação entre duas dimensões: a sistêmica e a individual. 

Epidemia é uma situação sistêmica. Considera-se que a epidemia de coronavírus é potencialmente grave. Temos assim uma grave situação sistêmica, cuja conduta indicada são medidas populacionais  de redução da transmissão. Medidas de alto custo, que se julgam necessárias pela gravidade sistêmica. 

Por outro lado, uma vez adquirindo a doença, a análise de um paciente se torna individual e não sistêmica. Mesmo que uma doença tenha origem em uma epidemia, o tratamento do doente tem dimensão individual.

O doente tem um risco individual de morte e o tratamento oferecerá uma redução relativa do risco a este doente. Nesta dimensão individual, raciocinamos com probabilidade de desfecho indesejado em um paciente (risco individual). O risco individual é estimado pela mortalidade geral da doença. A mortalidade do coronavírus (dentre indivíduos que chegam ao diagnóstico) é de 2-3%. Observem que esta é uma mortalidade menor que sepse ou infarto do miocárdio. 

Sendo assim, a COVID-19 não representa uma condição em que se justifique a violação do ônus da prova científica. Se COVID-19 fosse o caso de dispensar evidências de tratamento individual, abandonaríamos evidências em muitas outras doenças agudas, cujos tratamentos são pautados na verdadeira demonstração de eficácia.

Portanto, aqueles que argumentam estarmos diante de uma situação em que se faz necessário a perda da integridade científica, na escolha de tratamentos individuais, estão confundindo as dimensões sistêmicas e individual. 



Quando evidências empíricas são desnecessárias?

Evidências empíricas de um tratamento são desnecessárias quando leis da natureza garantem a eficácia, independente de uma eventual comprovação empírica. Estas são situações de “plausibilidade extrema”, exemplificadas pelo paradigma do paraquedas, quando a lei da gravidade assegura a eficácia. Ventilar um paciente insuficiência respiratória extrema se encaixa nesta situação.

Uma variante da plausibilidade extrema são condições sem eficácia garantida da conduta, mas com prognostico negativo inexorável. Por exemplo, quando temos um quadro clínico de fatalidade garantida, em algumas situações, pode-se considerar a adoção de um tratamento empiricamente não comprovado. No entanto, esta conduta deve se restringir a tratamentos de efeito intermediário garantido. Por exemplo, ECMO na insuficiência respiratória ou circulatória extrema. Mesmo que não saibamos se no final das contas reduz mortalidade, sabemos que o tratamento tem um efeito garantido nas trocas gasosas ou circulatório. Este efeito intermediário é uma condição básica para que um eventual efeito benéfico final se faça presente. 

O caso do coronavírus não corresponde a condições de plausibilidade extrema. Primeiro, não temos uma doença de fatalidade inexorável, pelo contrário. Segundo, hidroxicloriquina não tem um efeito intermediário garantido.



Preciosismo científico?

Importante perceber que o rigor científico não serve à ciência. O rigor científico serve à sociedade e aos indivíduos. Ciência não é um fim, é um meio.

A tentativa de baixar o crivo da ciência carece da visão econômica sob a ótica probabilística. Economia no sentido de balancear consequências positivas e negativas. Probabilidade no sentido de reconhecer que benefícios e a consequências não intencionais têm imprevisibilidade. 

O benefício de um tratamento comprovadamente benéfico é probabilístico. O que oferecemos ao paciente é uma probabilidade. Ao reperfundir um paciente com infarto do miocárdio, temos uma probabilidade de 5% em salvar uma vida. Por isso que precisamos tratar 20 para beneficiar 1 (o paradigma do NNT). 

Se além disso, não sabemos se o tratamento é benéfico, a probabilidade vira condicional, ou seja P1 (probabilidade de benefício individual) x P2 (probabilidade do conceito científico ser verdadeiro). A multiplicação de duas probabilidades resulta em um probabilidade bem menor. 

Outro fator que não sabemos é o caráter do benefício: é prevenção de morte, de complicações, rapidez de recuperação, controle de sintomas? Estamos diante de uma pequena probabilidade de beneficiar e nem sabemos que tipo de benefício. 

Do outro lado, consequências não intencionais são múltiplas, desde algumas mais previsíveis a outras que nunca imaginaríamos. Neste caso não temos probabilidade condicional (P1 x P2). São muitas probabilidades, uma para cada tipo de consequência, e essas probabilidades de somam (P1 + P2 + P3 + P4 .....). 

Esta é a  base para o princípio da hipótese nula: partimos da premissa de não existência do benefício até que se prove o contrário. Isso não é apenas uma técnica científica, é um pensamento pragmático

Pode haver consequências clínicas negativas como efeitos adversos, interações medicamentosas. No entanto, julgo mais escalável as consequência indiretas: 

Primeiro, a dispersão dos esforços e atenção para condutas fúteis, em detrimento da valorização do básico, a qualidade assistencial. Diante de uma situação crítica, devemos nos concentrar para fazer de melhor o que devemos fazer, ao invés de nos distrairmos com condutas que não sabemos se devemos fazer. O impacto da qualidade assistencial (impossível de ser perfeita) em geral é imensurável e tente a ser maior que tratamentos específicos; 

Continuando as consequências indiretas: fadiga cognitiva da equipes médicas com um amontoado de informações inúteis; a falsa esperança; o uso político; o marketing clínico baseado em fantasia. No início desta epidemia, a comunidade médica criticava profissionais que tentavam vender suas terapias ortomoleculares ou coisas do gênero. Por que agora estamos fazendo o mesmo?

Essa discussão não corre em prol da proteção da ciência. Serve para protegermos nossa racionalidade, nosso paciente, nossa sociedade. 




O Artigo Francês

Este artigo é um aglomerado de vieses. Mas não são apenas vieses clássicos, há condutas que nem constam nos tradicionais checklists. Algo caricatural. Foram 26 pacientes que utilizaram hidroxicloroquina versus 16 pacientes controles. Um hospital de Marselha recrutou pacientes para o tratamento e outros centros de outras regiões recrutaram os controles. O desfecho foi substituto: a negativação virológica do swab nasal no sexto dia. 

At day6 post-inclusion, 70% of hydroxychloroquine-treated patients were virologicaly cured comparing with 12.5% in the control group (p= 0.001).  

Primeiro, viés de confusão. Randomização serviria para evitar o viés de confusão, o que não ocorreu. Mas este estudo vai além, ele causa viés de confusão. Não prevenir não é o mesmo que causar. 

O inusitado: pacientes de Marselha que recusavam o tratamento continuavam no estudo como grupo controle! Isso provoca grande heterogeneidade basal entre os grupos, pois pacientes que recusam são diferentes de pacientes que aceitam. Ao recusar um tratamento, os paciente não deveriam ser incluído no estudo. Na verdade, em um ensaio clínico, potenciais voluntários não recusam tratamento. O que eles recusam é entrar no estudo.

Seguindo o padrão de irracionalidade, pacientes que se encaixavam em critérios de exclusão (comorbidades, contraindicações à droga), eram incluídos no estudo como grupo controle. Pacientes mais graves, antes no grupo droga, foram transferidos para o grupo controle. 

Segundo, o estudo exclui do grupo tratamento pacientes que não completaram o tratamento, em um grosseira violação do princípio da intenção de tratar. Inadequadamente denominam isso de “loss of follow-up”. Não houve perda de seguimento, os pacientes continuavam disponíveis para ser avaliados. Na verdade, esta é uma análise por protocolo, em que 6 dos 26 pacientes saíram do estudo: 3 porque foram para a UTI, 1 porque morreu (!!), 1 porque teve náusea e outro teve alta hospitalar. Dos 6, 5 pacientes não continuaram o tratamento porque pioraram! E estes foram excluídos do grupo controle.

Terceiro, há possibilidade de viés de desempenho promovido por diferenças nas condutas gerais entre os grupos. Estudo aberto, grupo tratamento em hospital diferente do grupo controle. Devemos procurar sinais: espontaneamente 6 pacientes do grupo tratamento receberam azitromicina. Não que azitromicina vá resolver nada, mas isto é um sinal indicativo de maior atenção ou indicação de cuidados adjuntos. 

Quarto, risco de erro aleatório. Este é claramente um estudo pequeno, o que aumenta sobremaneira a probabilidade do erro aleatório. O cálculo amostral traz a ilusão de 85% de poder. No entanto, não apresenta a premissa de positividade do swab no grupo controle e estima uma inusitada eficácia de 50%. Algo bom demais para ser verdade para a maioria dos tratamentos, quanto mais para este de baixa probabilidade pré-teste. Portanto, aqui temos um estudo pequeno, com alto risco de erro aleatório. E para que um estudo pequeno consiga demonstrar “significância estatística”, esta precisa que ser tão grande que se torna “boa demais para ser verdade”. 

É uma redução relativa de 82% no positividade. Isso normalmente não acontece. No entanto, devemos reconhecer que para tratamento antibiótico esta grande magnitude de efeito pode acontecer. Por exemplo, se compararmos antibiótico com placebo em infecção bacteriana grave, o tamanho do efeito seria muito grande. Por outro lado, devemos evitar a ilusão de que estamos usando um antibiótico para o coronavírus.

Por fim, aqui estamos diante de um resultado laboratorial, o que conhecemos como desfecho substituto. Mesmo que considerássemos esse resultado confiável, ainda haveria uma grande incerteza do benefício clínico. 

Por tudo isso, este é um estudo a ser descartado, por seu alto risco de viés e acaso. Em um pensamento científico bayesiano, este estudo não aumenta a probabilidade da hipótese ser verdadeira. 


A Probabilidade Pré-teste

Há evidências de que a droga tem ação antiviral in vitro. Isso traz plausibilidade, que não deve ser confundida com probabilidade. A probabilidade é principalmente influenciada por dados clínicos geradores de hipótese (análise específica) e comportamento do ecossistema científico em casos semelhantes (análise genérica). Não temos dados empíricos prévios e é incomum que tratamento de um tipo de condição (malária, protozoário) tenha eficácia relevante em outra condição (viral). A estimativa probabilística deve ser feita assim, pensando no todo, e não na especificidade trazida por argumentos de plausibilidade. 

Desta forma, começamos por um tratamento de probabilidade pré-teste muito baixa, nos deparamos com um estudo que não tem valor em modificar esta probabilidade, e terminamos com a ilusão de um tratamento com alta probabilidade de benefício. O que aconteceu com nossa mente científica?




O Preço da Irracionalidade

Certa feita um velho encontrou um vírus na estrada e perguntou: para onde você está indo? O vírus respondeu que estaria indo matar 10.000 pessoas em uma certa cidade. Dias depois, o velho encontrou novamente o vírus e perguntou: porque você matou 100.000? O vírus respondeu: eu matei apenas 10.000, o resto morreu de medo. 

Em tempos segurança real moderadamente reduzida (consideremos o denominador), temos nossa segurança perceptível severamente afetada. A epidemia de coronavírus cedeu o protagonismo para  à epidemia do medo. A percepção da realidade é alterada por um viés de confirmação voltado para o pior cenário. Ao final do dia, o placar estatístico registra as piores notícias, os piores países, o número de doentes, o número de mortes, silenciando aqueles os que permanecem saudáveis, os que se curaram ou os países de menor impacto da doença. A interpretação do passado é enviesada. 

Já a predição do futuro tem esquecido que um intervalo de confiança que contém os extremos do pessimismo e otimismo. A ciência da predição e tomada de decisão probabilística deu lugar a decisões baseadas em medo.

Mesmo em situações não indicadas, preferimos usar máscaras que escondem nossa expressão facial, perdendo oportunidade de expressar um sorriso de esperança e otimismo. Não precisamos de hidroxicloriquina. Precisamos de um remédio para a irracionalidade, pois esta tem impacto potencial mais escalável do que o coronavírus. 

A perda da racionalidade pode ter um preço muito maior do que pensamos. Esse é valor da ciência, nos lembrar do incompreensível valor da incerteza e da racionalidade.

http://medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com/2020/03/hidroxicloroquina-o-dia-em-que-ciencia.html                                                         




CIÊNCIA

PANDEMIA DE CORONAVÍRUS
Em seis meses de busca por uma solução para o coronavírus, 23 vacinas já são testadas em humanos
A comunidade científica desenvolveu em tempo recorde mais de duas dezenas de protótipos, mas a OMS alerta que “o sucesso não está garantido”
MANUEL ANSEDE
16 JUL 2020 - 14:15 BRT





Voluntária recebe vacina ainda no primeiro estágio de um estudo clínico nos Estados Unidos, em 16 de março.TED S. WARREN / AP

Em 12 de janeiro, quando se supunha que só havia 41 pessoas infectadas por um misterioso coronavírus na cidade chinesa de Wuhan, vários grupos de cientistas iniciaram uma corrida contra o relógio para desenvolver a vacina contra uma doença que nem nome tinha àquela altura. Seis meses depois, já existem 163 vacinas experimentais contra a covid-19, e 23 delas estão sendo testadas em humanos, segundo o registro da Organização Mundial da Saúde. Nunca se viu nada igual.
A última boa noticia é a confirmação, nesta terça-feira, de que a vacina experimental dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e da empresa farmacêutica Moderna passou com sucesso por seu primeiro teste em 45 pessoas. Os participantes vacinados com duas doses geraram níveis altos de anticorpos neutralizantes ― as defesas específicas do organismo humano que bloqueiam o vírus ― e não mostraram efeitos adversos graves, apenas sintomas leves, como cansaço, dor de cabeça e calafrios. Os resultados são “incríveis”, segundo o farmacêutico espanhol Juan Andrés, diretor técnico da Moderna, uma empresa biotecnológica com sede em Cambridge (EUA). “A segurança e magnífica eficácia continuam dando grandes esperanças para uma vacina em breve”, opina Andrés, cuja companhia dispara na Bolsa a cada anúncio.

MAIS INFORMAÇÕES






Um paciente recebe as primeiras doses experimentais do projeto de vacina do laboratório Moderna, em Seattle, em março.TED S. WARREN / AP


A Moderna detalhou em entrevista coletiva nesta quarta os seus planos para iniciar, em 27 de julho, um ensaio final com 30.000 voluntários saudáveis. A empresa norte-americana, para ganhar tempo, trabalha assumindo que a vacina funcionará e será segura, algo ainda longe de ser garantido. Em 9 de julho, os Laboratórios Farmacêuticos Rovi, de Madri, anunciaram um acordo com a Moderna para colaborar nas últimas etapas da produção de “centenas de milhões de doses” para abastecer outros países além dos EUA. O objetivo da empresa de Cambridge é fabricar entre 500 milhões e um bilhão de doses por ano em suas instalações norte-americanas a partir de 2021. Se for preciso vacinar a toda a humanidade duas vezes, seria necessário mais de uma década nesse ritmo.
Tudo indica que em 2021 haverá várias vacinas diferentes, desenvolvidas em regime de urgência e com uma eficácia melhorável. A imunização da Moderna é como uma receita escrita em uma linguagem genética, o RNA, com as instruções para que as próprias células humanas saibam fabricar as proteínas da espícula do coronavírus ― responsáveis por sua forma de maça medieval ―, de modo a treinar o organismo sem risco ao sistema imunológico. Outras quatro instituições já começaram a testar em humanos suas vacinas experimentais de RNA, similares à norte-americana: o Imperial College de Londres, a empresa alemã CureVac, a biotecnológica chinesa Walvax e um consórcio formado pela alemã BioNTech, a norte-americana Pfizer e a chinesa Fosun Pharma.
A vacina experimental mais avançada, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório britânico AstraZeneca, utiliza outra estratégia: é um adenovírus do resfriado comum dos chimpanzés, modificado para transportar as instruções genéticas para a fabricação da proteína da espícula do coronavírus. A AstraZeneca chegou a um acordo com a UE para administrar 400 milhões de doses a partir do final deste ano, mesmo reconhecendo que talvez a vacina não funcione. A empresa farmacêutica e a Universidade de Oxford já iniciaram um ensaio com mais de 15.000 voluntários no Reino Unido, Brasil e África do Sul para averiguar se a vacina é realmente segura e eficaz.
A empresa chinesa Lento Biologics e a Academia de Ciências Militares do país asiático empregam uma estratégia semelhante: um vírus do resfriado comum, modificado geneticamente. O regime chinês aprovou há algumas semanas o uso militar desta vacina experimental, que ainda precisa demonstrar sua eficácia em ensaios com milhares de pessoas. O Instituto de Pesquisas Gamaleya, de Moscou (Rússia), também iniciou testes em humanos de uma vacina experimental parecida.
A OMS, a União Europeia e outras organizações internacionais lançaram em abril um consórcio internacional, denominado Acelerador ACT, para obter vacinas e tratamentos contra a covid-19 “em tempo recorde”. Seu objetivo é dispor de dois bilhões de doses até o final de 2021 para distribuir de maneira racional às pessoas sob maior risco, onde quer que estejam. Metade das doses seria reservada para países de renda baixa ou média. O consórcio pediu aos doadores internacionais 12 bilhões de euros (73,4 bilhões de reais) de maneira urgente para impulsionar a pesquisa de vacinas e tratamentos, mas apenas um terço deste valor foi alcançado até o momento, conforme alertou a OMS em 26 de junho.
Um dos principais impulsores do Acelerador ACT é a Coalizão para as Inovações em Preparação para Epidemias (CEPI), fundada pelos Governos da Noruega e Índia, a Fundação Bill & Melinda Gates, o Wellcome Trust e o Fórum Econômico Mundial. A CEPI financiou parcialmente o desenvolvimento de sete vacinas experimentais, que já estão sendo testadas em humanos, incluindo a de Oxford, a da Moderna e a da empresa alemã CureVac.
A coalizão também pôs dinheiro na vacina experimental da empresa norte-americana Inovio, apoiada em outra linguagem genética, o DNA. O médico espanhol Pablo Tebas iniciou em maio os testes em humanos dessa vacina na Universidade da Pensilvânia, em Filadélfia. Outras três entidades iniciaram ensaios de vacinas de DNA similares: a Universidade de Osaka (Japão), a empresa sul-coreana Genexine e a farmacêutica indiana Cadila Healthcare.
As outras três vacinas financiadas pela CEPI são de outro tipo, dito “de subunidades”, porque emprega fragmentos do próprio vírus. São as vacinas experimentais desenvolvidas pela empresa norte-americana Novavax, pela chinesa Clover Biopharmaceuticals e pela Universidade de Queensland (Austrália).
Nesta semana, a OMS começou a recrutar especialistas internacionais para integrar um grupo de trabalho encarregado de escolher as vacinas experimentais mais promissoras, para priorizar sua produção. O consórcio do Acelerador ACT, entretanto, é muito realista: “Embora haja uma carteira muito grande com 200 candidatos a vacina, seu desenvolvimento está ainda em uma fase prematura e muitos podem fracassar. Os desafios são consideráveis, e o sucesso não está garantido”.
O presidente norte-americano, Donald Trump, decidiu em maio dar um pontapé na OMS e travar a guerra ao coronavírus por sua conta, com uma iniciativa batizada Operação Warp Speed. O Governo dos EUA se concentra em financiar cinco vacinas experimentais, entre elas a da Universidade de Oxford, a da Moderna e a do consórcio BioNTech/Pfizer/Fosun Pharma. Trump prometeu uma vacina em tempo “recorde, recorde, recorde”. É uma de suas melhores promessas eleitorais. As eleições presidenciais dos EUA são em 3 de novembro.
As outras duas vacinas experimentais impulsionadas pela Operação Warp Speed ainda estão sendo testadas em animais. Uma é a da multinacional norte-americana Johnson & Johnson, baseada também em um adenovírus do resfriado comum e financiada com o equivalente a quase 2,5 bilhões de reais pelo Governo dos EUA. O início dos testes em humanos é iminente, segundo a companhia. A segunda é o protótipo da farmacêutica norte-americana Merck Sharp & Dohme (MSD). Sua vacina experimental é similar à que a empresa já fabrica contra o ebola, chamada Ervebo. Se desenvolver uma vacina historicamente leva em média 10 anos, o Ervebo passou apenas cinco nessa lista. Esse é o recorde a ser pulverizado pelos 163 projetos que estão mais perto de encontrar uma solução definitiva para a peste da covid-19.
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-07-16/em-seis-meses-de-busca-por-uma-solucao-para-o-coronavirus-23-vacinas-ja-sao-testadas-em-humanos.html 




Em suma,

'"Pesquisa", no sentido mais amplo, é um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento. A fim de merecer o qualificativo de científica, a pesquisa deve ser feita de modo sistematizado, utilizando para isto método próprio e técnicas específicas e procurando um conhecimento que se refira à realidade empírica. Os resultados, assim obtidos, devem ser apresentados de forma peculiar." O problema metodológico da pesquisa, Franz Victor Rudio




Referências




https://i.correiobraziliense.com.br/c91Jq-VW1tP8ok1U6Z6GDvxK6lg=/675x0/smart/imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2020/07/20/873633/20200720120257785842a.jpg
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2020/07/20/interna_ciencia_saude,873633/artigo-aponta-que-vacina-de-oxford-em-teste-no-brasil-e-segura.shtml
https://youtu.be/ofaWoWg1w5g
https://www.youtube.com/watch?v=ofaWoWg1w5g
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https://www.nexojornal.com.br/incoming/imagens/vacina3/alternates/LANDSCAPE_640/vacina
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https://www.scielo.br/pdf/reeusp/v26nspe/0080-6234-reeusp-26-spe-033.pdf
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https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF68reKZwUIbmbcBtCWNLKOnJpeLMuNuTW1-fSs6FMgTQi63kMyKRiSCwj0Uru08jJnUCNrNbPJ_Xknah63JO1CRTByrhlVfSr1PD5onrjySb9PI71A9U2FLzv6vFz5ZUrrZO0qNW3IK6x/s640/WhatsApp+Image+2020-03-19+at+11.07.03.jpeg
http://medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com/2020/03/hidroxicloroquina-o-dia-em-que-ciencia.html
https://imagens.brasil.elpais.com/resizer/V00Yyf_CccdtS4luadC9v-6MTe8=/1500x0/cloudfront-eu-central-1.images.arcpublishing.com/prisa/UTLI6OG7DVF23PX576OFZXWV7Q.jpg
https://imagens.brasil.elpais.com/resizer/BDqFXXVJR_7-35CkCC6CNkrvVtw=/1500x0/filters:focal(1246x637:1256x647)/cloudfront-eu-central-1.images.arcpublishing.com/prisa/IWFQVSYNSVDZTMGIIPHIVK7VUM.jpg
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-07-15/vacina-dos-eua-contra-covid-19-confirma-resultado-animador-e-vai-para-a-ultima-fase-de-testes.html?rel=listapoyo
https://brasil.elpais.com/ciencia/2020-07-16/em-seis-meses-de-busca-por-uma-solucao-para-o-coronavirus-23-vacinas-ja-sao-testadas-em-humanos.html

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