A aula da Professora Dorinha
Bruno Carazza*
- Valor Econômico
segunda-feira, 27 de julho de 2020
Agenda progressista depende de conservadores
Aos 31 anos de idade, recém-chegado à Câmara, o primeiro
ato do jovem deputado mato-grossense Dante de Oliveira (PMDB) foi apresentar
uma proposta de emenda à Constituição visando restaurar as eleições diretas
para presidente da República. Sem exercer o poder do voto para escolher o
mandatário máximo do país desde 1960, a população logo abraçou a ideia.
Comícios se espalharam pelo Brasil, congregando políticos de diferentes
partidos, artistas e celebridades - e um número cada vez maior de pessoas.
No fim de janeiro de 1984, o instituto Gallup apurou que
81% dos brasileiros eram favoráveis às eleições diretas para presidente da
República. E dez dias antes da data marcada para a votação da emenda na Câmara
dos Deputados, quase 2 milhões de pessoas lotaram o Vale do Anhangabaú, em São
Paulo, pressionando pelas Diretas-Já.
No dia 25 de abril de 1984, 298 deputados votaram a favor
da emenda Dante de Oliveira. O sonho do retorno imediato das eleições diretas
para presidente, contudo, ruiu por apenas 22 votos. Apesar do amplo apoio
popular, a proposta foi derrubada graças à resistência do PDS, partido
governista herdeiro da velha Arena que apoiava o regime militar: 65 de seus
membros votaram “não” e outros 113 se abstiveram ou simplesmente faltaram à
sessão de votação.
Com a derrota da emenda Dante de Oliveira, o ciclo
autoritário teve que ser encerrado por vias indiretas. No dia 15 de janeiro de
1985, reunidos no Colégio Eleitoral, senadores, deputados federais e delegados
estaduais deram a presidência ao mineiro Tancredo Neves (PMDB), que superou
Paulo Maluf (PDS) por 480 a 180 votos.
A eleição de Tancredo diz muito sobre o modo de se fazer
política no Brasil. Enquanto setores progressistas da sociedade pediam
Diretas-Já, o então governador de Minas costurava nos bastidores uma transição
mais gradual com as elites partidárias, econômicas e militares de então.
Autointitulado um reformista, colocou-se como uma garantia contra os
“revolucionários” liderados por Ulysses Guimarães. Fazendo acenos a quem lutava
há décadas contra a ditadura, mas principalmente para aqueles que estavam
cansados de apoiá-la, Tancredo comandou a transição para a democracia.
Lula demorou um pouco mais para entender essa mensagem.
Depois de ver seu discurso radical ser derrotado por três vezes seguidas, só
chegou à Presidência quando garantiu em papel passado sua versão mais moderada.
Uma vez no Palácio do Planalto, não apenas seguiu à risca as promessas da Carta
ao Povo Brasileiro, como tratou de alargar - por meios lícitos e ilícitos - seu
apoio no Congresso. No fim do primeiro ano de mandato, apenas quatro partidos
estavam oficialmente fora da sua base de governo: PSDB, PFL (hoje DEM), PDT e
Prona.
A associação do PT e do PCdoB com partidos conservadores
permitiu a Lula - e depois a Dilma, pelo menos em sua fase I - aprovar uma pauta
progressista em diversos campos. Tome-se o caso da criação do Fundeb. A sua
primeira versão, aprovada no final de 2006, foi elaborada (quem diria?) por
Valdemar Costa Neto, e além da relatoria exercida pela petista Iara Bernardi,
contou com a colaboração decisiva de ninguém mais, ninguém menos que Eduardo
Cunha.
Quase 14 anos depois, a Câmara dos Deputados acaba de
aprovar a transformação do Fundeb em instrumento permanente de financiamento da
educação pública. A demanda por garantir mais recursos para o ensino básico
mobilizou sindicatos de professores, secretários estaduais e municipais de
educação, entidades estudantis, organizações da sociedade civil e partidos de
esquerda durante toda a tramitação legislativa, mas é preciso reconhecer que a
aprovação da PEC nº 15/2015 só foi possível com a entrada em campo de políticos
de centro e de direita - sob a liderança do presidente da Câmara, Rodrigo Maia,
e da relatora, Professora Dorinha (ambos do DEM).
A sociedade brasileira é conservadora e o Congresso ainda
mais - há um emaranhado de regras partidárias e eleitorais que acabam
favorecendo a eleição de candidatos avessos a mudanças, principalmente sociais.
O sucesso da votação quase unânime do Fundeb - apenas uma meia dúzia de gatos
pingados bolsonaristas votaram contra - ensina que, no Brasil, construir
alianças com a representação dos setores mais conservadores no Congresso
Nacional é condição fundamental para a aprovação de qualquer item da agenda
progressista.
Infelizmente ainda são maioria, principalmente na esquerda,
os puristas e radicais que rejeitam qualquer estratégia de composição com
políticos “do outro lado”. Demonizando alianças eventuais com “inimigos”,
preferem o conforto de pregar para convertidos, pescando votos nos seus
próprios aquários enquanto sonham com uma vitória nas próximas eleições.
Mesmo com o ativismo das bancadas BBB - bala, boi e bíblia
-, há um grande espaço para a aprovação de reformas sociais e econômicas no
Congresso atual. Entre ambientalistas e ruralistas existe um amplo espectro de
parlamentares que podem ser convencidos de medidas a favor da sustentabilidade.
Mas para convencê-los, é preciso deixar o radicalismo de lado e negociar de
forma desarmada, abrindo espaço para contrapropostas.
Passado o choque inicial da pandemia, que exigiu medidas
emergenciais e um esforço fiscal gigantesco, uma ampla agenda de reformas
econômicas e sociais se faz necessária para lidar com o efeito devastador do
mundo pós-covid. O Congresso se prepara para discutir as reformas tributária e
administrativa, ao mesmo tempo que setores relevantes da sociedade se articulam
para discutir propostas de uma renda básica universal e uma nova economia de
“carbono zero”.
Apesar de todo o conservadorismo do governo Bolsonaro, é
possível construir pontes e estabelecer diálogos em direção a um sistema
tributário menos regressivo, um meio ambiente sustentável e gastos públicos
focados nos mais pobres mesmo antes das eleições de 2022.
*Bruno Carazza é mestre em economia, doutor em direito e
autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político
brasileiro”
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/07/bruno-carazza-aula-da-professora-dorinha.html
Câmara aprova PEC do novo Fundeb em 2º turno e
amplia verba federal na educação básica
Proposta seguirá para o Senado
21/07/2020 - 22:09 • Atualizado em 22/07/2020 - 10:28
A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (21), em dois turnos, a
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 15/15, que torna permanente o Fundo de
Desenvolvimento e Valorização dos Profissionais de Educação (Fundeb) e eleva a
participação da União no financiamento da educação infantil e dos ensinos
fundamental e médio.
https://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2020/07/camara-aprova-pec-do-novo-fundeb-em-2.html
A CÂMARA DE POLÍTICA SOCIAL
Art. 84. Compete privativamente ao
Presidente da República:
VI - dispor, mediante decreto,
sobre:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
a) organização e funcionamento
da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou
extinção de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de
2001)
DECRETO Nº 4.714, DE 30 DE MAIO DE 2003
EMENTA: Cria a
Câmara de Política Social, do Conselho de Governo.
TEXTO - PUBLICAÇÃO ORIGINAL
- Diário Oficial da União - Seção 1 - Edição
Extra - 31/5/2003, Página 3 (Publicação Original)
Origem: Poder Executivo
Situação: Revogada
Vide Norma(s):
- Decreto nº 9784 de 7 de Maio de 2019 (Poder
Executivo) - (Revogação).
- Decreto nº 5234 de 7 de Outubro de 2004 (Poder
Executivo) - (Alteração). Art. 2º, incisos XX, XXI, XXII, XXIII; Art. 3º.
Em resumo, impunha-se como um grande desafio para a política social
brasileira a profunda reestruturação desse sistema, visando:
- descentralizar a execução;
- elevar a participação e o controle públicos;
- racionalizar gastos;
- aumentar a eficiência alocativa;
- eliminar desperdícios;
- melhorar a qualidade dos serviços prestados;
- ampliar a cobertura universalizando os serviços e,
sobretudo, aumentar o seu impacto redistributivo.’
A organização
da política social do governo Fernando Henrique
Sergio Tiezzi
Assessor da Secretaria de
Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo. Foi assessor da
área social na Casa Civil da Presidência da República e do ministro da Educação
nos governos de Fernando Henrique Cardoso
RESUMO
O artigo trata da forma
como o governo Fernando Henrique Cardoso organizou a área social, diante dos
desafios impostos pelos indicadores e pela organização institucional do governo
federal até 1994.
Palavras-chave: governo; políticas sociais; reforma do Estado.
ABSTRACT
This article deals with
the way the government Fernando Henrique Cardoso organized the social area
while facing challenges imposed by the indicators and by the institutional
organization of the federal government until 1994.
Key words: government; social politics; state reforms.
O governo Fernando
Henrique Cardoso assumiu o país num momento particularmente grave no que diz
respeito à situação social da população: não só era grande o contingente de
brasileiros vivendo em situação de pobreza e indigência, como também as
desigualdades de riqueza e de renda atingiram patamares imoralmente elevados.
Pobreza e desigualdade, cujas raízes remontam ao passado histórico, mas cujas
causas mais imediatas se encontravam nas limitações do processo de
desenvolvimento com base na substituição de importações conduzido pelo Estado,
na crise desse padrão de desenvolvimento, nas incertezas dos processos
anteriores de ajuste econômico e nas conseqüências do processo de
reestruturação econômica imposto pela globalização.
Avaliações feitas, na
época, tanto por pesquisadores brasileiros como por analistas estrangeiros, que
levam em conta definições e padrões comparativos internacionais, eram unânimes
em considerar que o sistema brasileiro de proteção social era grande e
complexo, se comparado com o de países com o mesmo nível de renda per
capita e taxas semelhantes de urbanização.
Tendo-se estruturado com
base na incorporação progressiva e desigual de diferentes corporações
profissionais e segmentos sociais, bem como crescido, sobretudo, durante
períodos de recrudescimento autoritário, o sistema de proteção social
consolidado ao longo do tempo acabou se caracterizando por um esforço de gasto
relativamente elevado (cerca de 18% do PIB), grande centralização
administrativa, escasso controle democrático, grandes ineficiências
operacionais e por uma estrutura de benefícios com baixo conteúdo
redistributivo. Além disso, uma rede complexa de interesses e de direitos
adquiridos envolvendo políticos, funcionários, fornecedores e beneficiários
privilegiados dificulta a reestruturação do sistema.
Dotar o país de um sistema
eficiente e democrático de proteção social é tarefa complexa e difícil. Não se
esgota nas responsabilidades – fundamentais – do governo federal e não se
realiza de uma hora para outra. Sobretudo, desmontar desigualdades
historicamente construídas não é tarefa de um governo, mas de gerações.
A FORMULAÇÃO
DA ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Nas condições de então
(bastante adversas do ponto de vista tanto ideológico quanto econômico e
fiscal) e para enfrentar os múltiplos desafios colocados, o governo Fernando
Henrique entendeu ser necessário, por um lado, promover uma maior integração
entre as várias políticas de governo, emprestando a todas elas marcada
preocupação social, e, por outro, desenvolver com determinação quatro
subconjuntos de ações ou políticas, indispensáveis para alcançar os objetivos
desejados.
Em primeiro lugar, era
preciso realizar um conjunto de ações que, não só por seus efeitos diretos,
mas, sobretudo, por seus efeitos indiretos, constituem condições necessárias,
embora não suficientes, para promover a melhoria do padrão de vida dos
brasileiros. Neste sentido, era absolutamente indispensável assegurar as
condições de estabilidade macroeconômica, realizar a reforma do Estado – aí
compreendidas as reformas administrativa, fiscal e da previdência e outras
medidas exigidas para a implantação de uma estratégia de desenvolvimento social
– e retomar o crescimento econômico sob as novas condições de abertura da
economia e elevada competição.
Em segundo lugar, era
preciso concentrar todo esforço e atenção nos serviços sociais básicos de
vocação universal: educação, saúde e previdência social. Os serviços prestados
por estes setores, de oferta rotineira e continuada, constituem o núcleo de
qualquer política social e compreendem mais de 90% do gasto público na área
social. A reestruturação e a reforma profunda desses setores requeriam a
eliminação de desperdícios, o aumento da eficiência desses setores, a promoção
da descentralização, a universalização, sempre que necessário e legítima, de
sua cobertura, a melhoria da qualidade e, sobretudo, a reestruturação dos
benefícios e serviços para aumentar o seu impacto redistributivo.
A urgência e a gravidade
da situação social brasileira exigiam programas e medidas cujo impacto
ocorresse no curto prazo. Por isso, o governo Fernando Henrique se propôs, em
terceiro lugar, a selecionar um conjunto de ações e programas considerados
particularmente relevantes, para enfrentar pontos de estrangulamento mais
dramáticos (como a reforma agrária), para acelerar o processo de reforma e
reestruturação de serviços sociais (como a melhoria do ensino fundamental) e
para proporcionar atenção a grupos sociais que requeriam ação imediata e
inadiável (a redução da mortalidade na infância, a renda mínima para idosos e
deficientes de baixa renda e a erradicação do trabalho infantil, por exemplo).
Essas ações e programas mereceram atenção prioritária e esforço concentrado de
articulação, financiamento, gerenciamento e avaliação.
Entretanto, era necessário
experimentar um novo mecanismo para coordenar as políticas voltadas para o
enfrentamento de situações agudas de fome e de miséria, de situações sociais de
emergência e de calamidade pública. Isso foi feito por meio do Programa Comunidade
Solidária, cuja função básica deveria ser aprimorar os programas federais
direcionados para regiões mais vulnerabilizadas, bem como coordenar e focalizar
suas ações com base em critérios técnicos de necessidade e eficácia, diminuindo
os riscos de pulverização e clientelismo e promovendo uma adequada articulação
entre os diferentes níveis de governo. Essa tarefa se desdobrou posteriormente
na adoção do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH da ONU como critério de
alocação de recursos e na criação de programas de transferência direta de renda
para as famílias mais pobres, como a Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação,
eliminando burocracias para a chegada de recursos financeiros aos
beneficiários.
Em quarto lugar, mas da
maior importância para o modelo de política social que o governo Fernando
Henrique adotou, foi a criação do Conselho da Comunidade Solidária, constituído
pelos ministros das áreas econômica e social do governo e por pessoas
representativas da sociedade civil, cuja função essencial – além de acompanhar
a ação social da administração federal, propondo medidas e sugerindo
modificações de rumo – consistia em articular formas de parceria entre o
governo e a sociedade civil e suas diversas organizações no enfrentamento da
questão social, inovando e experimentando. A partir deste Conselho, foram
desenvolvidas parcerias entre programas governamentais e setores da sociedade
civil (empresas, universidades, sindicatos, ONGs, igrejas, etc.) para
atividades de política social junto a segmentos e regiões indicados por suas
necessidades e carências. Foram criados e desenvolvidos, a partir de então, os
programas Alfabetização Solidária, Universidade Solidária, Artesanato Solidário
e Capacitação Solidária.
Um novo papel era
atribuído ao Estado. Não deveria mais ser o grande produtor de bens e de
serviços, mas sim usar seu poder de sinalização e de regulamentação e sua
capacidade de investir para tornar viáveis empreendimentos de outras
instituições que se considerem desejáveis: esferas subnacionais de governo
(Estados e municípios), empresas privadas e entidades da sociedade civil e das
comunidades.
DESCENTRALIZAÇÃO
NA ÁREA SOCIAL
Ao mesmo tempo, a profunda
descentralização de ações da área social permitiu o fortalecimento do nível
local para a tomada de decisões – e não apenas da aplicação dos recursos – e
formulações de acordo com as necessidades de cada localidade. A
descentralização foi uma forma eficiente de gerir o gasto público. A
proximidade com o usuário permite, com maior segurança, que as diversas esferas
de governo participem da oferta dos serviços, evitando possíveis desequilíbrios
entre oferta e procura, causados por desconhecimento das demandas dos usuários.
Uma ordenação desse
processo de descentralização exigiu, entre outras medidas:
- evitar a duplicidade de
ações das esferas de governo, extinguindo órgãos federais e procurando eliminar
programações orçamentárias, em áreas nas quais a presença da União tornou-se
supérflua ou inadequada. Um exemplo foi a extinção da FAE – Fundação de Amparo
à Escola e a descentralização dos recursos para compra da merenda escolar;
- regularizar e dar
transparência às transferências voluntárias, notadamente no que diz respeito
aos setores de educação e saúde, condicionando-as à melhoria do esforço próprio
de Estados e municípios e à efetiva assunção dos encargos e responsabilidades
que, antes da redistribuição de receitas, competiam à União. A criação de um
Fundo específico de garantia do financiamento do ensino fundamental (Fundef) e
uma Emenda Constitucional de garantia de aplicação de recursos na saúde por
todos os níveis de governo são exemplos.
Além da reforma funcional
do Estado, por meio da qual se redefiniram as funções do setor público,
redistribuíram-se as funções entre os diferentes níveis de governo e aumentou-se
a participação social nos processos decisórios, foi levado a cabo, como
condição necessária, o gerenciamento mais adequado dos programas sociais, para
a execução de um conjunto eficiente de políticas de proteção social.
Os serviços sociais, no país,
tinham um elevado grau de ineficiência e ineficácia e um baixo impacto
redistributivo, bem como exclusões na universalidade do acesso. A instabilidade
dos recursos, presente nas três esferas de governo, alimentava a ineficiência
do sistema, comprometia a continuidade dos programas, prejudicava a prestação
de serviços e chegava a inibir uma maior agilidade no processo de
descentralização. A frágil articulação entre os órgãos encarregados dos
programas e a excessiva fragmentação e superposição de ações dificultavam
elevar o grau de eficácia e eficiência dos recursos alocados.
Mudar as formas de
organização e gerenciamento na área social, incentivando a descentralização, a
parceria com a sociedade civil e a transparência, constitui linhas de ação com
um certo consenso e estratégia no país há alguns anos. Agregou-se a isso a
necessidade de focalização de determinados programas com potencial de impacto
importante sobre a pobreza, com vistas a um efetivo atendimento das camadas
mais pobres da população.
Trata-se de um processo
que exigiu o comprometimento de todos os atores que atuam na área (governo
federal, Estados, municípios e sociedade civil), pois era uma tarefa impossível
de ser executada por um só dos participantes. Além disso, dada a
heterogeneidade que caracteriza o Brasil e a multiplicidade de atores
envolvidos, esperava-se que o processo se desenvolvesse de forma desigual entre
as diferentes regiões e áreas.
ESFERAS DE
ARTICULAÇÃO E COORDENAÇÃO: UMA NOVA FORMA DE ORGANIZAÇÃO DO GOVERNO
À chegada ao governo,
antecedeu um longo trabalho de planejamento estratégico que redundou em uma
agenda criada a partir do programa de governo (Mãos à Obra, Brasil) apresentado
à sociedade brasileira nas eleições de 1994.
No caso da política
social, foi elaborado um documento, coordenado pelo assessor especial do
presidente da República, Vilmar Faria, com colaboração de todos os ministros da
área social, para nortear a ação do conjunto do governo. O documento "Uma
Estratégia de Desenvolvimento Social" teve por objetivo sistematizar as
diretrizes básicas do governo Fernando Henrique Cardoso para a área social e
apresentar, de forma sucinta, suas principais políticas e programas.
Não é necessário insistir
na importância de mecanismos de articulação e de coordenação de políticas em
qualquer área. Essa importância aumenta diante de alguns fatores, entre os
quais: tamanho e heterogeneidade do país; complexidade e diferenciação
institucional do aparelho estatal ou público responsável pelas políticas;
volume e complexidade dos recursos financeiros envolvidos; forma de organização
estatal; modalidade prevalescente de oferta de serviços públicos (estatal
centralizada, estatal descentralizada, pública descentralizada, parceria com
organizações não-governamentais, etc.). Esses fatores incidem sobre a definição
dos principais problemas de articulação e coordenação de políticas e, portanto,
sobre as possíveis soluções.
Por sua vez, a articulação
e a coordenação da área social têm suas especificidades e uma forma de
gerenciamento muito particular. A metodologia de gerenciar uma obra ou projeto
de execução física, que tem variáveis bem conhecidas, quantificáveis e locáveis
no tempo, é muito diferente daquela utilizada para gerenciar um empreendimento
de natureza mais mobilizadora de posturas e ações de pessoas, como são os
projetos sociais.
A responsabilidade de
execução dos diferentes componentes da política social brasileira se distribui
pela União, Estados e Municípios. No plano federal, fica a cargo de cerca de
dez ministérios, sendo que cinco – Previdência Social, Saúde, Educação,
Desenvolvimento Agrário e Trabalho e Emprego, que são grandes estruturas
burocráticas, com tradição e influência – movimentam volumosos recursos e são
responsáveis pelo financiamento e controle normativo de políticas e programas
que, em seu conjunto, atendem a mais de 150 milhões de pessoas.
A implementação dos mais
de cinqüenta programas que formam o conjunto de medidas de proteção social
envolve complexas relações intergovernamentais no plano federal e outras, não
menos complexas, com os demais entes da federação. Além disso, boa parte dos
programas possui ainda conselhos de participação social nas deliberações
públicas, com representação paritária de governo e sociedade civil organizada.
Com freqüência, esses conselhos se desdobram em conselhos federais, estaduais e
municipais.
No caso brasileiro, as
estruturas encarregadas de desempenhar essas funções estiveram na Presidência
da República, com mandato explícito, apoio e participação direta do presidente.
Cabia ao ministro-chefe da Casa Civil articular e coordenar todas as ações
administrativas do governo federal. As funções da Casa Civil passavam por
viabilizar a construção de consensos, construir a integração e o entendimento,
articular programas e ações, contribuir para identificação dos temas
fundamentais para cada Câmara, trabalhar junto às equipes dos ministérios para
"fazer acontecer", acompanhar as ações de maior relevância do governo
e contribuir para identificação de problemas e proposição de soluções.
Nesse sentido, iniciativa
importante para melhorar o desempenho da administração federal foi a criação de
Câmaras Setoriais, reunindo ministros por área temática ou macroproblemas, sob
o comando operacional da Casa Civil, com a presença permanente dos Ministérios
do Planejamento e Orçamento e da Fazenda, em todas as Câmaras, de forma a
facilitar – quando não garantir – os recursos financeiros e orçamentários às
decisões tomadas.
A estas Câmaras
atribuiu-se a função de construir consensos para as políticas de governo,
"facilitando" as decisões do governo como tal. Além disso,
possibilitou a todos os ministros e Ministérios clareza maior da agenda
prioritária de governo.
As organizações de governo
têm uma atuação muito fragmentada (feudos), muitas vezes com prioridades
distintas e mesmo contraditórias, e não havia nenhum instrumento de gestão que
coordenasse as prioridades da agenda de governo. As Câmaras foram uma tentativa
de resolver as contradições e conflitos existentes dentro do governo, que
permitissem sair de lá com posições assumidas por todos os ministros de Estado.
Uma de suas funções era
qualificar as ações segundo o andamento, possibilitando acender as "luzes
de alerta" no caso de um programa não ir bem e premiar aqueles com
resultados expressivos.
Muitas Câmaras tinham um
secretário executivo, responsável por dar curso às decisões tomadas. Todas
contavam ainda com um Comitê Executivo, formado pelos secretários executivos
dos Ministérios envolvidos – os segundos da hierarquia dos Ministérios –, cuja
função básica era a orientação para resolver problemas e implementação
operacional das políticas, programas e projetos. Os problemas de integração,
articulação e coordenação operacional que não tinham solução nessa etapa,
voltavam à instância ministerial da Câmara.
A princípio, essas
reuniões eram organizadas com uma composição fixa, mas, com a experiência,
concluiu-se que deveriam ser variáveis, organizadas em função dos problemas de
articulação e coordenação a serem tratados.
A organização do governo
em Câmaras Setoriais implicou a definição de programas prioritários – aqueles
que efetivamente deixariam uma marca de transformação para o país e para o
governo – e o início do desenvolvimento de um sistema de monitoramento e avaliação
permanentes dos programas sociais prioritários. Esse monitoramento, feito pela
equipe da Casa Civil, significava se colocar na posição de co-responsável pelo
sucesso ou fracasso de programas prioritários, uma vez que a Casa Civil é uma
instância com muito mais facilidade de resolver gargalos dos programas que
envolvem outros setores do governo.
O primeiro instrumento
utilizado para esta finalidade foi o Sistema de Acompanhamento das Ações
Relevantes, desdobrado e aperfeiçoado posteriormente para sistemas mais
elaborados, sofisticados e extensivos, como o Brasil em Ação, coordenado pelo
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Essa metodologia, no segundo
mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, serviu de base para a
elaboração do Plano Plurianual de Investimentos (PPA) 1999-2002.
Os objetivos do Sistema de
Acompanhamento das Ações Relevantes eram dotar o governo, e especialmente o
presidente da República, de informações objetivas e fundamentadas sobre o
conjunto das principais ações em execução, propiciar mecanismos de
acompanhamento do que era particularmente relevante pelos ministérios
executores e pela Presidência da República e ampliar os instrumentos para
gerenciamento e pleno desempenho dos programas prioritários.
QUADRO 1
Importância de Identificação de Ações Relevantes
Facilidade em iluminar o conjunto de ações do governo
Possibilidade de prestação de contas transparente e eficaz
Reconhecimento, por parte da Presidência e dos ministros, do que é
prioritário para o governo
Identificação dos recursos e da atenção necessária à plena execução das
prioridades
O resultados da ação das
Câmaras Setoriais de Governo foram desiguais. Entre as bem-sucedidas, estão a
Câmara de Política Econômica – que se reuniu semanalmente até o fim do governo,
quase sempre com a presença do presidente da República, a Câmara de
Infra-Estrutura e a Câmara de Política Social. Em 2001, com a crise energética
pela qual passou o país, foi criada uma Câmara de Gestão da Crise de Energia
para administrar o racionamento de energia necessário para evitar apagões e
tomar as medidas para evitar a ocorrência de novos problemas dessa natureza no
futuro.
O sucesso dessas
iniciativas variou de programa para programa e deveu-se, igualmente, mais a
fatores de natureza político-administrativa do que àqueles de centralização
burocrática. Entre eles, cabe mencionar: capacidade técnica e de gestão dos
secretários-executivos setoriais; continuidade administrativa; convergência de
perspectiva no que se refere às orientações da estratégia de desenvolvimento
social; sustentação política recebida pelos ministérios; e legitimidade
conseguida junto às máquinas administrativas. Há um fator subjetivo com enorme
influência na resultante final das políticas: a construção de uma relação de
confiança entre a Casa Civil e os Ministérios. Quando o Ministério entendia a
Casa Civil efetivamente como parceira, ou seja, pessoas com quem se podia
contar, tendia a ter uma sinergia maior nas ações. Quando os Ministérios encaravam
o papel da Casa Civil como de supervisão indesejada ao andamento das ações,
havia maior dificuldade de os programas saírem do lugar.1
A CÂMARA DE
POLÍTICA SOCIAL
Como visto, o governo
selecionou um conjunto de programas e ações que mereciam atenção especial e
prioritária, como parte de sua estratégia de desenvolvimento social, por sua
importância e impacto imediato nas condições de vida de amplos setores da
população, especialmente das camadas mais pobres.
A Câmara de Política
Social da Casa Civil da Presidência da República, criada como instância
superior de coordenação da política social do governo, por meio do Decreto nº
1.918, de 13 de agosto de 1996,2 teria a
responsabilidade de assegurar as condições necessárias para a execução desses
programas, em relação tanto à garantia do fluxo de financiamento e à qualidade
do gerenciamento, quanto ao acompanhamento, avaliação e revisão das ações
propostas, quando o resultado for considerado insatisfatório.
A ação social dos diversos
Ministérios foi agrupada com base em quatro critérios principais:
- programas voltados a
alterar, imediatamente, o modo rotineiro de funcionamento de serviços sociais
básicos, como é o caso da valorização do ensino fundamental;
- programas que enfrentem
situações graves e emergenciais de segmentos sociais em situação de extrema
dificuldade, como a população empobrecida do campo e os idosos e deficientes
físicos;
- ações específicas
destinadas a reduzir ou eliminar a fome, como os programas de alimentação e
nutrição;
- programas que envolvam
tarefas urgentes ditadas pelo novo padrão de crescimento econômico e sua
exigência de se aumentar a empregabilidade de importantes segmentos da força de
trabalho.
Em resumo, impunha-se como
um grande desafio para a política social brasileira a profunda reestruturação
desse sistema, visando:
- descentralizar a
execução;
- elevar a participação e
o controle públicos;
- racionalizar gastos;
- aumentar a eficiência
alocativa;
- eliminar desperdícios;
- melhorar a qualidade dos
serviços prestados;
- ampliar a cobertura
universalizando os serviços e, sobretudo, aumentar o seu impacto
redistributivo.
Em artigo recentemente
publicado, o então chefe da assessoria especial do presidente da República,
Vilmar Faria (2003), coloca sua visão da configuração de governo na área
social: "A experiência brasileira recente não consagra como uma
alternativa necessária, ou mesmo desejável, a criação de uma 'autoridade
social', entendida como uma superestrutura burocrática, sob o controle de um
ministro, que reúne poderes operacionais em algumas ou em todas as áreas
setoriais da política social. Uma iniciativa desse tipo seria politicamente
inviável e operacionalmente ineficaz. Diferentemente do que ocorre na área
econômica, onde os mecanismos de operação são relativamente poucos e altamente
eficientes – o orçamento, a taxa de juros, o câmbio, o controle de receitas,
entre outros – na área social estes instrumentos são muito mais numerosos e de
eficiência mais restrita. Além do mais, boa parte do corpo técnico operacional
se encontra em ministérios setoriais". Centralizar a ação social não
seria, portanto, eficaz. "Ao contrário, a experiência brasileira aponta
noutra direção: reformar e fortalecer as estruturas setoriais do ponto de vista
funcional e técnico, dotá-las de força, prestígio e poder político e desenvolver
mecanismos e não estruturas burocráticas de articulação e coordenação"
(Faria, 2003).
Essa forma de
funcionamento permitiu o desenvolvimento de iniciativas muito bem-sucedidas
para dar conta da estratégia de desenvolvimento social do governo brasileiro.
A primeira, denominado
Projeto Alvorada, consistiu num conjunto de doze programas elaborados no âmbito
de diversos Ministérios, com o objetivo de dotar os municípios brasileiros que
possuem índice de desenvolvimento humano baixo (inferior a 0,500) de infra-estrutura
básica, necessária para as atividades de desenvolvimento social e humano. Os
programas são executados setorialmente e o papel dessa iniciativa é fazer com
que estes programas setoriais cheguem, prioritariamente, a essas regiões e que
ali sejam implementados coordenadamente pelas autoridades e sociedade local.
Outro aprendizado desse processo foi a percepção de que é nos municípios onde
ocorre uma verdadeira integração de políticas sociais setoriais.
A segunda iniciativa,
denominada Comunidade Ativa, teve cobertura e alcance mais reduzidos e estava
voltada para apoiar iniciativas comunitárias de desenvolvimento local integrado
(sob o lema: não dar o peixe, ensinar a pescar). Foram escolhidos municípios
cujas comunidades tenham revelado alguma capacidade de mobilização, organização
e ação, com o objetivo de encontrar novas formas para dinamizar e desenvolver
suas potencialidades. Com base na organização e na capacitação microempresarial
(empreendedorismo) dessas comunidades, são identificadas carências e demandas,
e o governo federal procura mobilizar seus programas para apoiar iniciativas de
desenvolvimento local.
Uma terceira iniciativa
foi a criação de um Programa de Apoio à Gestão Social, no âmbito da própria
Presidência da República, para trazer à agenda dos programas instrumentos de
gestão social novos: a importância de sistemas de informações gerenciais
atualizados e amigáveis; avaliação de resultados para correção de rumos;
capacitação em gestão social e suas especificidades. A transformação da gestão
no governo era vista como essencial para que as mudanças estabelecidas no campo
formal – reformas constitucionais, nova legislação, novas estruturas e novo
aparelho regulatório – pudessem se tornar mais permanentes. Se não houver
avanços na mudança das posturas gerenciais – o que significa reestruturar a
forma de administrar, redefinindo, em trabalho conjunto, qual o objetivo, a
missão, para que existe, quem são e o que demandam os clientes de fato de cada
posto de serviço, estabelecendo metas e revendo os processos e estruturas de
cada órgão –, o que fica é precário e referencialmente formal para que se
transforme de verdade no novo Estado que a sociedade deseja. Não há,
entretanto, ajuste ou equilíbrio fiscal que se sustente sem uma profunda revisão
gerencial. Os gastos continuarão a ser desproporcionais àquilo que a sociedade
precisa e está disposta a financiar, exatamente porque não se sabe precisamente
as características dessa demanda. Esse tipo de mudança é um processo lento, de
difícil administração e que, por isso mesmo, deveria ser iniciado logo,
prosseguir com paciência e persistência e ser emanado a partir do núcleo
central de governo, até mesmo para ter influência sobre esferas subnacionais de
governo.
Uma quarta iniciativa foi
a extinção por decreto da Legião Brasileira de Assistência – LBA, instituição
historicamente constituída, foco de clientelismo, ineficiência e corrupção,
símbolo da maneira "velha" de fazer política social.
Outra iniciativa foi a
articulação para a implantação do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
– Peti, hoje reconhecido internacionalmente, que implicou colocar na mesma
mesa, compartilhando os mesmos objetivos, o Ministério da Previdência e
Assistência Social, o Ministério do Trabalho e o Ministério da Justiça, todos
responsáveis por algum tipo de ação para possibilitar o bom funcionamento do
programa. O Peti terminou por ser um dos casos de sucesso do governo Fernando
Henrique Cardoso.
Outro aspecto da
coordenação das políticas sociais referiu-se à continuidade e à eficácia
administrativa dos programas sociais. Segundo Vilmar Faria (2003), "Do
ponto de vista orçamentário, tratou-se de criar mecanismos que protejam os
principais programas sociais das variações cíclicas e dos cortes de gastos que
as exigências do equilíbrio fiscal podem, periodicamente, impor". Aqui,
duas iniciativas foram tomadas.
A primeira, conhecida como
Programa Avança Brasil, consiste na escolha de um subconjunto de programas que
têm prioridade orçamentária e para os quais foram desenvolvidos mecanismos
especiais de gerenciamento, acompanhamento e avaliação.
A segunda, conhecida como
Rede de Proteção Social, ocorre no contexto das negociações levadas a cabo pelo
Brasil em 1998, junto ao FMI, ao Banco Mundial e ao BID, com o objetivo de obter
apoio desses organismos para proteger a economia brasileira dos ataques
especulativos e das crises financeiras que periodicamente ameaçam os países
emergentes. Como parte dos compromissos assumidos pelo país, junto com as metas
de controle da inflação e redução do déficit público, foram assumidos
compromissos e metas físicas e financeiras para 22 programas considerados
essenciais para proteger diversos segmentos da população mais carente (como
manutenção dos recursos para pagamento do seguro-desemprego, da renda mensal
para idosos, financiamento do ensino fundamental).
Aqui, novamente,
prevaleceu a criação de mecanismos dotados de operacionalidade, legitimidade,
capacidade técnica e respaldo político mais do que a criação de estruturas
burocráticas centralizadas.
Por último, foi
extremamente importante assinalar a importância da formação de uma equipe
social politicamente coesa, identificada com a estratégia de desenvolvimento
social proposta pelo chefe do Executivo e tecnicamente competente, para o êxito
dos mecanismos de coordenação e articulação.
ALGUNS
RESULTADOS
À par de existirem grandes
desafios a serem enfrentados pelo Brasil nas próximas décadas, houve uma
evolução constante e sustentável dos indicadores sociais no campo dos serviços
sociais de responsabilidade pública, especialmente em saúde e educação.
O analfabetismo caiu para
12,8% em 2001 e a taxa de escolaridade atingiu 97% das crianças na faixa de 7 a
14 anos. Das crianças mais pobres, 92% estão hoje na escola contra 75% em 1992.
A mortalidade infantil caiu para 28,4 por mil nascidos vivos contra 39,6 em
1994. Na área da reforma agrária, 465 mil famílias foram assentadas em oito
anos, o que representa mais do que o dobro do total de famílias assentadas
entre 1964 e 1994. Os esforços para erradicar o trabalho infantil tiraram 400
mil crianças e adolescentes de atividades penosas ou degradantes. A proporção
de pobres no Brasil se reduziu de 43,9% para 31,9% e os indigentes, de 19,5%
para 14,5%. A parcela de renda resultante das transferências de serviços
governamentais – entre eles aposentadorias e programas de transferência direta
de renda – subiu de 10,34% para 14,66%, em claro sinal da importância do papel
do Estado no oferecimento das garantias sociais para a população. É o
funcionamento da chamada rede de proteção social. Mesmo a desigualdade social,
estagnada por mais de trinta anos, embora permaneça elevada, sofreu uma pequena
redução e o Brasil melhora a cada ano sua posição no ranking de
Desenvolvimento Humano, elaborado pelas Nações Unidas.
De 1991 a 2000, a
qualidade de vida medida pelo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal –
IDH-M melhorou em 99,9% dos municípios do país. As cidades com menos de 50 mil
habitantes foram as que mais elevaram a qualidade de vida da população. A
pequena melhora no rendimento e a dificuldade de desconcentrar renda impediram
que o avanço – impulsionado principalmente pela educação, com o aumento do
número de matrículas no ensino básico – fosse ainda maior. Das três dimensões
que compõem o índice de qualidade de vida, a renda foi a que menos subiu no
Brasil: apenas 6,1%, enquanto a educação cresceu 13,9% e a longevidade aumentou
9,8%.
Esses avanços foram
obtidos mesmo num quadro de baixo crescimento econômico. Se ao longo do século
XX, o aumento da riqueza não se traduziu em desenvolvimento social e igualdade,
nos anos 90 houve melhorias sociais mesmo com redução do ritmo de crescimento
econômico.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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NOTAS
1. Na Casa Civil
tomou-se a decisão de que a sua equipe deveria ir aos Ministérios para reuniões
e debates em vez de convocar as equipes dos Ministérios para o Palácio do
Planalto, onde funciona a Casa Civil. Parece trivial, mas não é. Teve efeitos
diretos na criação de uma relação de confiança entre as equipes e na formação
de uma equipe de governo.
2. O atual governo manteve a Câmara de Política Social, mas a reformulou por meio do Decreto nº 4.714, de 30 de maio de 2003.
2. O atual governo manteve a Câmara de Política Social, mas a reformulou por meio do Decreto nº 4.714, de 30 de maio de 2003.
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000200006
Alínea "a" do Inciso VI do Artigo 84 da Constituição Federal
de 1988
Art. 84. Compete privativamente ao
Presidente da República:
VI - dispor, mediante decreto,
sobre:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)
a) organização e funcionamento
da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou
extinção de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de
2001)
DECRETO Nº 4.714, DE 30 DE MAIO DE 2003
EMENTA: Cria a
Câmara de Política Social, do Conselho de Governo.
- Diário Oficial da União - Seção 1 - Edição
Extra - 31/5/2003, Página 3 (Publicação Original)
Origem: Poder Executivo
Situação: Revogada
Vide Norma(s):
- Decreto nº 9784 de 7 de Maio de 2019 (Poder
Executivo) - (Revogação).
- Decreto nº 5234 de 7 de Outubro de 2004 (Poder
Executivo) - (Alteração). Art. 2º, incisos XX, XXI, XXII, XXIII; Art. 3º.
Referências
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/07/bruno-carazza-aula-da-professora-dorinha.html
https://youtu.be/6i7JrjyAdMg
https://youtu.be/6i7JrjyAdMg
https://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2020/07/camara-aprova-pec-do-novo-fundeb-em-2.html
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000200006
https://www.camara.leg.br/noticias/678250-camara-aprova-pec-do-novo-fundeb-em-2o-turno-e-amplia-verba-federal-na-educacao-basica/
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2003/decreto-4714-30-maio-2003-496778-publicacaooriginal-1-pe.html
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