Nem oito, nem nove, nem onze, nem quinze;
doze (sic)
Ironia das ironias, tudo é ironia.
В края на деликатеса
V kraya na delikatesa
GG:
No dia seguinte à votação no Senado, o ministro Gilmar Mendes suspendeu uma
investigação sobre o Aécio Neves, que a senhora derrotou na última eleição. E
tem muitas pessoas que viram isso e pensaram: “Ah, agora esse tribunal está se
comportando como um ator político, e essa suspensão inicia o processo para
enterrar a investigação Lava Jato.” A senhora concorda com isso? Qual é o
significado desta suspensão?
DR:
Olha, eu acho que essa suspensão é estranha porque até agora, pelo que eu
saiba, nenhuma ação teria sido suspensa até então, nenhuma ação de pessoas
investigadas pela Lava Jato. Agora, o ministro Gilmar Mendes não é a única
pessoa no Supremo Tribunal. O Supremo Tribunal é composto por doze [sic] integrantes.
Esses
doze [sic] integrantes, nem todos
têm a mesma posição um tanto quanto efetivamente militante, visivelmente
militante, eu diria, do ministro Gilmar Mendes. Ele está tomando atitudes
que vão ser avaliadas ao longo do tempo por todos os brasileiros.
Número Atual do STF: 11 (Onze)
Ministro Ricardo Lewandowski - Presidente
Ministra Cármen Lúcia - Vice-Presidente
Ministro Celso de Mello - Decano
Ministro Marco Aurélio
Ministro Gilmar Mendes
Ministro Dias Toffoli
Ministro Luiz Fux
Ministra Rosa Weber
Ministro Teori Zavascki
Ministro Roberto Barroso
Ministro Edson Fachin
I. O Supremo Tribunal Federal
O
Supremo Tribunal Federal – com previsão no art. 101 usque 103, da
Magna Carta – é a mais alta Corte judiciária brasileira, exercendo importante
papel no sistema de controle de constitucionalidade, bem como atuando em causas
de competência originária, além de ser o foro por prerrogativa de função dos
agentes públicos que compõem o mais alto escalão do esquema central do poder.
O
Tribunal é composto por onze ministros, nomeados pelo presidente da República,
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, que
exercerão as funções inerentes ao cargo até a sua aposentadoria voluntária
(atendidos os requisitos constitucionais e legais) ou compulsória (aos setenta
anos de idade) ou, excepcionalmente, se destituídos do cargo no caso de impeachment
(art. 52, II, CR). Dentre os ministros há um presidente, eleito, nos termos do
regimento interno, diretamente pelos pares para exercer um mandato de dois
anos, sendo vedada a reeleição. Por tradição, são eleitos presidente e
vice-presidente do Tribunal os ministros mais antigos que ainda não tenham
ocupado tais cargos.
Para
ser nomeado ministro do Supremo Tribunal é preciso preencher alguns requisitos
constitucionais: ser brasileiro nato; contar com mais de trinta e cinco e menos
de sessenta e cinco anos de idade; ter notável saber jurídico e reputação
ilibada – cfr. art. 101, caput, CR.
Nos
Estados Unidos a Suprema Corte exerce os papéis de Suprema Corte Federal, que
analisa, em grau de recurso, as causas decididas pelos Tribunais de Apelação
Federais, bem como de mais alta Corte do país, julgando recursos contra
decisões das Supremas Cortes Estaduais.
A
Corte é composta por nove juízes, chamados justices. Dentre eles há um
presidente, denominado chief justice, sendo os demais chamados de associate
justices. O cargo de chief justice é vitalício, de nomeação direta
pelo Presidente da República.
Ironias, ironias, ironias tudo são
ironias...
Respostas
Do
UOL, em Brasília*
12/05/201615h12 > Atualizada 12/05/201615h46
O
presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), postou um comentário em
sua conta no Twitter horas após o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT)
do Planalto.
"Boa
tarde a todos. Apenas uma frase: Antes tarde do que nunca", disse Cunha,
sem fazer menção explícita ao impeachment.
Cunha
é desafeto do PT e rompeu com o governo Dilma em julho do ano passado.
Boa
tarde a todos.Apenas uma frase:Antes tarde do que nunca
Na
semana passada, Cunha e Dilma trocaram farpas após o afastamento do deputado do
comando da Câmara.
Dilma havia lamentado que a decisão liminar sobre o
afastamento de Cunha não tenha sido tomada antes. "A única
coisa que eu lamento, mas eu falo 'antes tarde do que nunca', é que (…) ele
tenha presidido, na cara de pau, o lamentável processo na Câmara [de votação do
impeachment, no dia 17 de abril]", afirmou a então presidente.
Mais
tarde, em entrevista após ser afastado por tempo indeterminado pelo STF
(Supremo Tribunal Federal), Cunha respondeu o comentário: "Quarta-feira
nós vamos dizer 'antes tarde do que nunca' que o Brasil vai poder se livrar do
PT".
O Senado aceitou, no início da manhã desta
quinta, o pedido de abertura do processo de impeachment da presidente Dilma.
Foram 55 votos a favor e 22 contra. Dilma deixa a Presidência um ano e quatro
meses depois de assumir seu segundo mandato.
Por
volta das 11h da manhã, Dilma foi comunicada oficialmente sobre o afastamento e
assinou a intimação no Planalto. Em seguida, Michel Temer (PMDB) foi notificado
e assumiu a Presidência interinamente.
Na
semana passada, o ministro do STF Teori Zavascki determinou
o afastamento de Cunha do mandato de deputado federal. Segundo o ministro, o
presidente da Câmara "não possui condições pessoais mínimas" para
exercer o cargo.
O
ministro argumentou que o parlamentar "não se qualifica para o encargo de
substituição da Presidência da República", pois ele responde pelos crimes
de corrupção e lavagem de dinheiro sob a acusação de integrar o esquema de
corrupção da Petrobras, tendo recebido neste caso US$ 5 milhões em propina de
contratos de navios-sonda da estatal.
Na
avaliação do ministro, a Constituição determina que "ocupantes de cargos
de linha sucessória da Presidência da República jamais poderão exercer o
encargo de substituição caso estejam respondendo a processos penais".
Com
Dilma afastada, Cunha seria a primeira opção na linha sucessória em situações
de ausência (viagens, por exemplo) do atual presidente interino, Michel Temer
(PMDB-SP).
POR
JULIA AFFONSO E ANDRÉ ÍTALO ROCHA
20/05/2016,
11h44
Ministro
do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral
ironizou críticas da petista sobre suspensão das diligências no inquérito que
investiga o senador Aécio Neves (PSDB-MG)
Gilmar Mendes. Foto: Carlos
Humberto/SCO/STF
O
ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal
Superior Eleitoral, ironizou a crítica da presidente Dilma Russeff (PT) sobre a
suspensão das diligências no inquérito que investiga o senador Aécio Neves
(PSDB-MG). O inquérito foi autorizado por Gilmar Mendes e teve as diligências
suspensas 24 horas depois.
“Posso
fazer uma ironia sobre a presidente Dilma? Vou só falar sobre a presidente
Dilma nos autos”, afirmou Gilmar Mendes nesta sexta-feira, 20, em visita ao
Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
Em entrevista ao jornalista Glenn Greenwald, publicada
nesta quinta-feira, 19, pelo site The Intercept, Dilma afirmou
julgar “estranha” a suspensão. “Pelo que eu saiba, nenhuma ação teria sido
suspensa até então, nenhum ação de pessoas investigadas pela Lava Jato”.
A
petista pontuou que Mendes é apenas um dos integrantes do STF, e que nem todos
têm a mesma posição “visivelmente militante” do juiz. “Acho que no Brasil nós
não podemos ter dois pesos e duas medidas. Quando se investigar, que se
investiguem todos. Ninguém pode ser poupado da investigação”, defendeu.
Na
semana passada, Gilmar assumiu a relatoria de um segundo pedido para investigar
Aécio. Desta vez sobre por maquiagem de dados do Banco Rural. “Este pedido
chegou ao Tribunal e está sendo avaliado”, afirmou o ministro nesta sexta.
Dilma
é alvo de um pedido de investigação do procurador-geral da República Rodrigo
Janot, no Supremo.
Gilmar Mendes é relator da prestação de contas da
presidente afastada Dilma Rousseff referente às eleições de
2014. No ano passado, o ministro pediu a investigação de suposta prática
de atos ilícitos na campanha que reelegeu Dilma mesmo após as contas da petista
terem sido aprovadas com ressalvas pelo TSE. A determinação teve como base
informações reveladas pela Operação Lava Jato de que a campanha foi financiada
com recursos da Petrobrás.
Além
da prestação de contas do partido, tramitam no TSE quatro ações questionando
supostas irregularidades nas contas da chapa eleita em 2014 e que pedem a
cassação do mandato de Dilma e do presidente em exercício, Michel Temer (PMDB),
e que estão sob a relatoria da ministra Maria Thereza de Assis Moura.
O Quinze
(Cód: 148292)
Queiroz,
Rachel de
José
Olympio
4.5 (2 Avaliações)
Sobre
o produto
"O
Quinze" provocou um enorme impacto nos anos 30 do século XX e atravessou o
tempo como uma referência obrigatória na História da nossa literatura. Trata-se
de uma espécie de marco, em que Rachel de Queiroz, então uma menina nos seus
ainda verdes vinte anos, debutava em um poderoso ciclo das letras nacionais: o
do romance nordestino.
Nise - O Coração da Loucura -
Trailer Oficial
Ela
teve uma síncope nervosa, tendo chegado ao seu limite; talvez a presença do
conterrâneo na mesma enfermaria a tenha salvo de estados mais perigosos do ser.
Nise atesta a amizade que construiu com Graciliano neste duro momento da sua
vida: “num período que eu passei na enfermaria e Graciliano esteve também,
quando veio da Ilha, aí tive amizade mais estreita com ele”. Este momento de
sofrimento psíquico em que o afeto de Graciliano a ajudou a aguentar a dor e
superar a situação adversa foi decisivo na sua capacidade de alteridade, de se
colocar no lugar do doente mental, a qual Nise cultivou durante toda sua
posterior vida profissional. Em uma das conversas durante o tempo que passaram
na enfermaria, Graciliano contou que já possuía informações sobre Nise; a
escritora Raquel de Queiroz tinha elogiado a grandeza moral de Nise. Ao saber
disso Nise surpreendeu Graciliano dizendo que não achava nenhum caráter em
Raquel de Queiroz. Não perdoava a escritora Raquel por ter dito em um programa de rádio que Nise a acusava de ser trotskista. Este fato rememorava o episódio da expulsão do partido
comunista e provocava fúria na alagoana.
versão On-line ISSN 1980-5438
Psicol.
clin. vol.25 no.2 Rio de Janeiro jun. 2013
RESENHA
The man who mistook himself for
Napoleon: for a political history of madness
Elle hombre que se creia Napoleón:
por uma historia política de la loucura
Esther Maria de M. ArantesI; Paulo
VazII
IPontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil;
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
IIProfessor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
IIProfessor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Resenha
do livro: Murat, L. (2012). O homem que se achava Napoleão: por uma
história política da loucura. São Paulo: Três Estrelas. 399p.
O
livro da historiadora Laure Murat, O homem que se achava Napoleão: por uma
história política da loucura, surgiu pela questão "Que impacto os
acontecimentos históricos têm sobre a loucura?" ou "Em que medida e
sob que formas a política é matéria de delírio?" (Murat, 2012, p. 19). Não
se trata só dos loucos, pois, como pergunta a autora: "Como não ser
afetado pelo formidável espetáculo do fim de um mundo?" (Murat, 2012, p.
66).
O
livro é o resultado de uma vasta pesquisa realizada nos registros e observações
médicas dos grandes asilos de alienados do departamento de Sena na França, no
período compreendido entre a Revolução Francesa e a Comuna de Paris (1789 a
1871): Bicêtre (36 volumes), Salpêtrière (46 volumes) e Sainte-Anne (27
volumes), além de Charenton (54 volumes). A esse fabuloso conjunto de registros
e observações médicas, examinados como fonte principal, somaram-se outros,
provenientes dos Arquivos Nacionais, dos Arquivos de Paris e dos Arquivos da
Chefatura de Polícia de Paris, com os quais se cruzaram informações.
A
escolha de Paris como epicentro, e das datas de 1789 a 1871, respondeu a
exigências históricas evidentes. Entre a Revolução e a Comuna, a França
conheceu pelo menos quatro revoluções - revoluções a cada vez confiscadas,
expressão da lenta agonia do princípio monárquico em paralelo ao nascimento
doloroso e à instauração sempre adiada da República. Ora, num Estado tão
centralizador como a França, é na capital que se tomam as principais decisões
políticas, é lá que se produzem os acontecimentos que terão as mais fortes
repercussões e onde também se erguem os três estabelecimentos especializados
para os quais a maioria dos alienados seria por muito tempo enviada: Charenton,
Bicêtre e Salpêtrière, a estes vem se acrescentar Sainte-Anne a partir de 1867
(Murat, 2012, p. 24-25).
Em
que medida esse livro inova na relação entre psiquiatria, loucura e poder? Os
conhecidos livros e artigos de Basaglia, Foucault e Goffman, dentre outros,
pensavam essa relação a partir do conceito de medicalização, estimando como e
até que ponto a psiquiatria era instrumento de controle social. A atribuição de
loucura a indivíduos com comportamentos diferentes e pertubadores vinha
substituir ou complementar as classificações do Direito e da Religião. Embora
encarcerasse os indivíduos em manicômios, a legitimidade dessa ação residia na
busca do cuidado e cura. Essa classificação não afetava apenas o destino desses
indivíduos perturbados e perturbadores; pelo vínculo entre loucura e
desregramento do desejo, mesmo os presumidos normais temiam desejar.
Tentemos
então destacar a singularidade do livro de Murat. De certa forma, com essa
pesquisa, Murat pareceu-nos ter buscado dar continuidade a um projeto de
Esquirol nunca realizado ou, pelo menos, nele se inspirado:
"A
influência de nossas desgraças políticas foi tão constante", escrevia o
dr. Étienne Esquirol em 1816, "que eu poderia traçar a história de nossa
revolução, desde a Tomada da Bastilha até a última aparição de Bonaparte, a
partir da história de alguns alienados cuja loucura se liga aos acontecimentos
que assinalaram esse longo período de nossa história". Esse belo projeto
de uma história da França deduzida, ou decalcada, a partir dos delírios, isto
é, de uma "outra cena" que recomporia à sua maneira as etapas da narrativa
nacional, Esquirol nunca efetuou. Era pelo menos realizável? (Murat, 2012, p.
20).
Mas
de quais acontecimentos se trata, nesse texto tão bem documentado, e de que
estratégia metodológica se valeu a autora para contá-los? Conforme dito acima,
nada menos do que a Revolução Francesa e os acontecimentos que a ela se
seguiram por quase todo um século, finalizando o Antigo Regime, o que de
imediato evidencia o interesse e a importância desse livro. Por outro lado,
como pesquisa que privilegia o delírio dos ditos insanos internados nos asilos
franceses no início da Psiquiatria - período considerado a "idade de ouro
do alienismo" (Castel, 1978; Birman, 1978) -, traz à cena personagens como
Pinel, Royer-Collard, Esquirol e tantos outros, ilustrando as idas e vindas desse
processo em que se confundem casa de saúde e casa de detenção, loucura e
oposição ao regime, como na internação do Marquês de Sade em Charenton, ou na
história de Théroigne de Méricourte, ativista dos direitos das mulheres que
faleceu no Salpêtrière, e o fato mesmo de ter sido a guilhotina francesa
inventada pelo médico Antoine Louis e proposta pelo também médico Joseph-Ignace
Guillotin como forma de igualdade na execução da pena capital, rompendo
"com o sistema hierarquizado das penas sob o Antigo Regime" (Murat,
2012, p. 54).
Quanto
aos arquivos, uma sua "paixão", cabe-nos repetir a declaração da
autora, que, "sem planos preestabelecidos", deixou-se guiar apenas
pelas centenas de registros encontrados nas pastas, o que constitui a
originalidade de sua pesquisa.
à
força de ouvir as palavras da loucura, de identificar suas repetições e seus
refrãos, de esquadrinhar os documentos - registros, mas também planos de
asilos, retratos de loucos e de psiquiatras, vistas gravadas das salas de
duchas... -, vem a sensação de ser penetrado, como por inoculação lenta, por um
mundo à primeira vista muito estranho. Por imersão, a familiaridade com os
arquivos cria uma intimidade com seu tema, que qualquer outra fonte será
incapaz de oferecer. É essa capacidade evocadora do arquivo que eu quis
restituir neste livro. É o prazer que senti em descobrir essas peças
adormecidas que eu gostaria de compartilhar (Murat, 2012, p. 47).
Assim,
essa não é uma história dos acontecimentos revolucionários como normalmente os
conhecemos. Também não é uma história convencional da Psiquiatria. O que
inicialmente chama a atenção da autora são os delírios dos loucos em torno dos
acontecimentos políticos desse período, particularmente a guilhotina e a
chegada dos restos mortais de Napoleão à França: pessoas que afirmavam terem
sido decapitadas ou na eminência de o serem, que afirmavam portarem outra
cabeça, que se julgavam espionadas ou que se tomavam por Napoleão, pela
imperatriz ou o delfim. Nada, talvez, de surpreendente, considerando-se que, de
março de 1793 a agosto de 1794, no período denominado Terror, cerca de
dezessete mil pessoas foram executadas na guilhotina na França. Igualmente,
nada de surpreendente em relação à figura forte de Napoleão. Basta lembrarmos a
vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, fugindo da invasão de
Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte.
Nesse
sentido, o que interessa à autora e o que ela busca nos arquivos desse período
são as possíveis relações entre os acontecimentos revolucionários e os delírios
dos alienados que, ainda que alojados nos discursos dos alienistas, tentam
conceber e se apropriar de eventos políticos excepcionais. No entanto, como nos
adverte a própria autora, não se pode afirmar uma relação simples e direta
entre fato político e conteúdo delirante, o que exigirá problematizar, por
exemplo, o significado da relação loucura e violência - esta última invocada
por alguns alienistas em defesa da ordem monárquica.
No
antigo Regime, uma menina de quinze anos enforcada pelo roubo de uma colher de
prata, ou um rapaz esquartejado por ter escrito um libelo contra o rei, é algo
que não provocará debates sobre a loucura do sistema judiciário sob a monarquia
do direito divino. Preferirão citar o frenesi espetacular e a histeria coletiva
dos massacres de setembro de 1792 para ilustrar esse tema da demência política.
[...] A revolução, uma deriva patológica? Em sua maioria, os alienistas pensam
assim e o repetem ao longo do século, estigmatizando a exaltação republicana e
seus funestos efeitos sobre a população - pavores, siderações, delírios de
perseguição etc. [...] Fala-se de monomania política, depois de morbus
democraticus (doença democrática), enfim de neurose revolucionária ou de
paranoia reformadora, em uma escalada de termos que testemunham uma psiquiatrização
crescente do político (Murat, 2012, p. 209-210).
Nem
todos os alienistas postulavam uma relação direta entre revolução e loucura,
sendo esse ponto de vista próprio de alienistas mais conservadores como Sylvain
Eymard ou Alexandre Brierre de Boismont, que afirmava serem loucos os
revolucionários e loucos bem mais perigosos que os loucos criminosos -
distinção que faz crescer a importância do alienista, por ser o especialista
capaz de identificar o louco dissimulado de revolucionário. Brierre de Boismont
chega, inclusive, a afirmar que "as mulheres grávidas, sob o impacto da
revolução dariam nascimento a futuros alienados" (Murat, 2012, p. 237).
Outros alienistas como Esquirol preferem apenas afirmar que os acontecimentos
revolucionários agem nas mentes fracas, predispostas à doença mental. Ou bem a
ação política é loucura, ou aumenta o número de loucos. De todo modo, a
classificação de loucura para a ação revolucionária não foi, no caso,
estratégia para limitar o desejo dos indivíduos, mas esforço de reduzir a
resistência ao poder. A classificação de loucura estigmatizava os movimentos
sociais.
Há
também quem afirme, como o alienista alemão Wilhelm Griesinger, que muitos
doentes dos nervos são curados pelas revoluções e que as grandes comoções políticas
não aumentaram a incidência de doenças mentais na França, com o que concorda
Murat, a partir dos levantamentos feitos por ela nos arquivos:
a
inflação dos delírios políticos em tempos de revolução dá a impressão de uma
epidemia de loucura devida aos distúrbios, mas as admissões nos asilos, em
realidade, não aumentaram de forma significativa. Haveria, de certo modo, uma
ilusão de ótica entre as letras e os números, a amplificação (real) dos
discursos e um aumento (ilusório) do número de loucos (Murat, 2012, p. 238).
Mirando
o tempo presente e a partir das questões colocadas ou insinuadas pela autora,
indaga Jurandir Freire Costa, em sua Apresentação do livro:
loucura
e política ainda guardam a mesma relação que tiveram na época do nascimento da
psiquiatria? Hoje, ainda poderíamos verificar a estranha simbiose entre fato
político e conteúdo delirante, observável nos anos de ouro do alienismo? Qual o
impacto do fator político na produção dos diagnósticos psiquiátricos atuais?
Enfim, a política ainda modela o imaginário social, a ponto de fornecer enredos
e personagens das construções delirantes? (Murat, 2012, p. 9).
Lembra
que o livro de Murat, "embora fiel aos grandes traços da concepção
foucaultiana, promove uma ligeira inflexão na abordagem do tema" (Murat,
2012, p. 9). Nesse sentido, lembrando algumas das teses apresentadas no livro
de Michel Foucault - História da loucura na idade clássica (1972/1989)
- e mencionando as polêmicas ensejadas por Jacques Derrida e também por Gladys
Swain em relação a esse livro, a autora afirma que sem pretender ignorar tais
polêmicas preferiu, no entanto, não tomar partido e mirar apenas nos arquivos.
Elizabeth Roudinesco, no livro Foucault: leituras da história da loucura (Roudinesco,
Canguilhem, Major, & Derrida, 1994), discute amplamente tais polêmicas.
Finalizando,
no Posfácio do livro, Murat lamenta que a pesquisa que fez nos
arquivos dos asilos franceses talvez hoje não fosse mais possível, na medida em
que, devido a vários fatores,
os
psiquiatras limitam seus comentários ao mínimo necessário, conformando-se às
normas elementares do onipotente DSM-IV (Diagnostic anda Statistical Manual -
Revision 4), que se impôs como a única nomenclatura de referência sobre os
distúrbios mentais (Murat, 2012, p. 317).
Lembra
que reduzir o delírio do louco "ao silêncio e apagar seus traços, muito
mais ameaça do que protege a sociedade" (Murat, 2012, p. 319). Este tempo
presente, que a autora considera "sinistro", é duramente criticado
por ela.
No
interior de uma sociedade que fala de "plano de saúde mental" e quer
descobrir desde a escola maternal os "comportamentos delinquentes e
anormais" com base em questionários de múltipla escolha, a palavra louca,
com seus ensinamentos, seus desvios e sofrimentos, tem cada vez mais
dificuldade de fazer-se ouvir num mundo globalizado sem tempo para escutar e
manter o diálogo (Murat, 2012, p. 317).
Não
em toda parte, esclarece, demonstrando algum alento. Após o discurso do então
presidente francês Nicolas Sarkozy, em 2 de dezembro de 2008, no qual anunciava
medidas consideradas liberticidas como
localização
por GPS de pacientes internados à força, criação de unidades fechadas e de
quartos de isolamento, tratamentos ambulatoriais sem consentimento, atribuição
de plenos poderes ao diretor do hospital etc, um grupo se formou para protestar
contra "A noite securitária", com uma petição reunindo cerca de 30
mil assinaturas (Murat, 2012, p. 318).
Entre
os signatários constam psiquiatras, psicanalistas, pessoal do atendimento em
saúde, dentre outros, que acreditam poder trabalhar de outro modo, mantendo
"um trabalho engajado com os pacientes, buscando elaborar uma obra fecunda
com as diversas expressões da loucura" (Murat, 2012, p. 318).
Em
suma, os perigos que a autora detecta em nossa cultura seriam: primeiro, o
reforço da punitividade a partir da classificação de periculosidade e, segundo,
o abandono da escuta por parte da psiquiatria. Cabe notar que o desejo de
escutar a loucura foi o que deu origem ao livro.
Referências
Birman,
J. (1978). A psiquiatria como discurso da moralidade. Rio de Janeiro:
Edições Graal.
Castel,
R. (1978). A ordem psiquiátrica: a idade de ouro do alienismo. Rio de
Janeiro: Edições Graal.
Foucault,
M. (1989). História da loucura na idade clássica. São Paulo: Editora
Perspectiva. (Trabalho original publicado em 1972)
Roudinesco,
E., Canguilhem, G., Major, R., & Derrida, J. (1994). Foucault:
leituras da história da loucura. Rio de Janeiro: Relume-Dumará .
Recebido
em 15 de julho de 2013
Aceito para publicação em 28 de setembro de 2013
Aceito para publicação em 28 de setembro de 2013
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