De café no bule to a cup of tea
Entrevista com ministro da fazenda
Henrique Meirelles
EXCLUSIVO Henrique Meirelles
anuncia primeiras medidas (13/05/2016)
Presidente Temer Faz seu Primeiro
Pronunciamento - Disse o que Todos querem ouvir. Você Acredita?
BATE-BOCA: Cássio Cunha Lima e
Gleisi Hoffmann se desentendem em Comissão do Impeachment
Procurador destroça Gleisi Hoffmann
no plenário da comissão de impeachment
Gleisi Hoffmann causa polêmica ao
confessar, com naturalidade, crimes e roubos do PT
Lindberg Não Aprende.. Cutuca
Fogaça com Vara Curta e Quase Foi Mordido
Vídeo constrangedor mostra a
empolgação de petistas com o golpe de Maranhão… que durou pouco.
A
Cup of Tea
A Cup of Tea was written on 11 January 1922 in
the space of just ‘4-5 hours’ and was published in a popular magazine
the Story-teller in May of the same year. It
then appeared in the collection The Dove’s Nest and Other Storiescompiled
by Katherine Mansfield’s husband John Middleton Murry and published in 1923.
The
ostensible point of the story is that a rich and self-regarding woman has her
complacency disturbed. On a whim, she makes what she thinks of as a charitable
gesture to a destitute lower-class girl, only to discover (via her husband)
that the girl has qualities that she herself does not possess.
However, there is another reading of the story buried
subtly in the narrative and its dialogue. Rosemary is a rich and spoiled woman
with a self-indulgent lifestyle who feels that her sudden encounter with a girl
off the streets could be ‘an adventure … like something out of a novel by
Dostoevsky’ – which in a sense that Rosemary would not understand, it does turn
out to be.
She takes the girl back home, ushers her into her
private bedroom, and undresses her (in the sense of taking off her hat and
coat). She has the intention of leading her into another room for tea but does
not do so. When the girl begins to cry, she puts her arm around the girl’s
‘thin, bird-like shoulders’ and promises to look after her.
When Rosemary’s husband Philip interrupts, the young
girl gives what is clearly a false name (‘Smith’) and is strangely unfazed by
the situation in which she finds herself: she is ‘strangely still and
unafraid’. Rosemary describes their encounter in terms of
procurement: ‘I picked her up in Curzon Street. She’s a real pick-up’.
Philip, the husband, is shocked by two things – first,
by how attractive the girl is, and second by the inappropriate relationship
that exists between the two women. He asks satirically if ‘Miss Smith’ will be
dining with them, in which case he might be forced to look up The
Milliner’s Gazette.
The surface implication of this remark is that the
girl might be an unemployed shop girl who is sponging off his wealthy wife, but
at a deeper level there is a suggestion that she might be a prostitute of some
kind. At that time in the early twentieth century, the employment of single
females in occupations such as milliner (hat maker) shop assistant, and other
forms of casual jobs was regarded as loosely equivalent to prostitution. This
suggestion in the story is reinforced by what happens next. Rosemary pays off
the girl with three pound notes and sends her on her way.
The sting in the tale for Rosemary is that she wonders
if she, for all the wealth and luxury in her life, lacks the animal magnetism
possessed by the lower-class young girl which has left her husband Philip
‘bowled over’ after a single glance.
Narrative voice
The literary quality in the story comes largely from
the skillful manner in which Mansfield creates a fluid narrative voice which
combines an engagement with her subject, her readers, and even (to some extent)
with herself as an identifiable narrator.
Technically, the story starts in third person
narrative mode: ‘Rosemary Fell was not exactly beautiful’ – but that ‘not
exactly’ establishes a conversational style and an attitude to the character.
She raises questions, cancels thoughts (‘No, not Peter—Michael’) employs slang
(‘a duck of a boy’) and speaks to an imaginary interlocutor (‘she would go to
Paris as you and I would go to Bond Street’).
It is also interesting to note that her use of
fashionable exaggeration is remarkably similar to that being used today –
almost a hundred years later: (‘her husband absolutely adored her … the man who
kept it was ridiculously fond of serving her’). This captures perfectly the
speech mannerisms and the attitudes of the nouveau riche milieu in which the
story is set.
A Cup Of Tea by Katherine Mansfield
CAFÉ NO BULE
Um
encontro histórico, em parcerias trianguladas, reúne o pernambucano Naná
Vasconcelos, que deu dimensão sinfônica e internacional à percussão nativa, o
maranhense Zeca Baleiro, reformador POP da MPB e o paulistano Paulo Lepetit,
artífice instrumental de ases como Itamar Assumpção e Cássia Eller e titular de
vôos solos e autorais.Está servido o “Café no Bule”, título do aromático CD e
do próprio trio de compositores / produtores / músicos, que prospecta raízes
esteticamrnte miscigenadas em sonoridades de alto impacto. “Foi simples e não
teve seleção de repertório. Fomos fazendo”, decreta Naná. “Não pensamos em
seguir fórmula alguna. As composições foram apontando caminhos. Procuramos
colocar o mínimo de elementos, tudo muito natural e espontâneo”, adiciona
Lepetit.
“A
sintaxe do disco é mais próxima da cultura popular, de uma dicção de origem. Há
porém uma elaboração, melódica e harmônica, mais intuitiva que de pesquisa, o
que a distancia do naif”, define Zeca. Da encantatória “Ciranda da meia-noite”
ao desiludido / divertido “Yellow Taxi” e a confidente e compassada “A Maré tá
boa”. Do satírico “Xote do tarzan” ao inclemente afoxé “A Dama do chama-maré” e
o voluptoso “Batuque na panela”, o roteiro bota para ferver um caldo de cultura
regional lapidado pela urbanidade.
Revezam-se
nos vocais e solos eventualmente emoldurados por coro, Naná (percussão, efeitos),
Lepetit (baixo, u-bass, violão, guitarra, teclados) e Zeca (violão, guitarra,
cavaco ukelele e teclados). Aliam-se a eles músicos convidados “Para dar um
colorido diferente a cada canção”. Como informa Lepetit. “A ciranda tá
misturada ao afoxé, o latino ao jazz, o afropop ao baião”, decupa Zeca. Há
ainda três vinhetas entre as 12 faixas, definidas por Naná como “um copo d’água
entre uma garfada e outra”. Fumega o café no bule: “minha voz quando ecoa /
celebra a vida”, alicia o maracatu “Loa”.
Tarik de Souza
CAFÉ NO BULE – BATUQUE NA PANELA
(TEASER)
TEM CAFÉ NO BULE
[vinheta]
Já
que tem café no bule
Tem
café e chá
Já
que tem café no bule
No
bule café e chá
ZECA BALEIRO - CAFÉ NO BULE - São
Paulo - 07.09.2015
“Mundo verde” – Naná Vasconcelos no
Estúdio Showlivre
Escola Econômica da Unicamp
18/08/2014
revista
Ensino Superior nº 14 (julho-setembro)
A
Escola de Campinas nasceu para pensar qual é a especificidade da economia
brasileira dentro da América Latina e do mundo. As teorias que foram criadas em
países desenvolvidos tinham que ser requalificadas, adequadas e questionadas
antes de serem aplicadas à realidade brasileira.
Por
Fernando Nogueira da Costa
Graduado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), mestrado e doutorado em Ciência Econômica pela Unicamp (1975-76 e 1986), livre docente pelo Instituto de Economia da Unicamp (1994). Desde 1985, é professor adjunto nesta Universidade. Experiência profissional com ênfase em Teoria Monetária e Financeira, pesquisando principalmente os seguintes temas: sistema financeiro, bancos, teoria e política monetária, macroeconomia e inflação e finanças comportamentais. Foi vice-presidente de Finanças e Mercado de Capitais da Caixa Econômica Federal entre fevereiro de 2003 e junho de 2007. Coordenou a Área de Economia da Fapesp entre 1996 e 2002. Publicou os livros Ensaios de Economia Monetária (1992), Economia Monetária e Financeira: Uma Abordagem Pluralista, (1999), Economia em 10 Lições (2000) e Brasil dos Bancos (Edusp, 2012).
Graduado em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), mestrado e doutorado em Ciência Econômica pela Unicamp (1975-76 e 1986), livre docente pelo Instituto de Economia da Unicamp (1994). Desde 1985, é professor adjunto nesta Universidade. Experiência profissional com ênfase em Teoria Monetária e Financeira, pesquisando principalmente os seguintes temas: sistema financeiro, bancos, teoria e política monetária, macroeconomia e inflação e finanças comportamentais. Foi vice-presidente de Finanças e Mercado de Capitais da Caixa Econômica Federal entre fevereiro de 2003 e junho de 2007. Coordenou a Área de Economia da Fapesp entre 1996 e 2002. Publicou os livros Ensaios de Economia Monetária (1992), Economia Monetária e Financeira: Uma Abordagem Pluralista, (1999), Economia em 10 Lições (2000) e Brasil dos Bancos (Edusp, 2012).
Escola Econômica da PUC – Rio
23.04.07
Economia na PUC-Rio: notas de uma testemunha Gustavo H. B. Franco1 Já se
passaram mais de 30 anos desde que a minha experiência com a PUC teve início.
Fui aluno de graduação (1975-79), e do mestrado (1980-82), professor assistente
(1986-90) e associado (1990-93), sempre em tempo integral, e depois de uma
experiência no serviço público, principalmente no Banco Central do Brasil
(1993-99), retornei ao Departamento como professor de tempo parcial, posição em
que me encontro hoje. Ocupei cargos de administração, coordenação e
planejamento acadêmico, orientei dezenas de monografias e teses, ofereci cursos
de natureza diversa e contribui de forma relevante para a produção acadêmica no
Departamento em várias áreas. Assim sendo, assisti, mas também fui protagonista
do desenvolvimento do projeto acadêmico que se iniciou ao final dos anos 1970 e
que levou o Departamento de Economia da PUC-Rio a se tornar um dos mais
destacados centros de excelência na disciplina no país. É cedo para escrever
uma História e celebrar a consolidação definitiva deste projeto, a despeito das
marcas que seus participantes já deixaram na formação de quadros, na produção
acadêmica, nas práticas empresariais e na própria condução da política
econômica do país. Seus fundadores ainda se sentem muito jovens para permitir
que historiadores se debrucem sobre suas trajetórias. Por isso, o relato que se
segue ficou limitado a um olhar pessoal sobre o desenvolvimento da instituição
e apenas ligeiramente sobre o lugar deste projeto no pensamento econômico
nacional. O que segue, portanto, são impressões de uma testemunha, não
totalmente inocente, um de muitos depoimentos que poderão contribuir, no
futuro, para compor uma narrativa mais articulada da formação e desenvolvimento
desta instituição.
CEPAL
Transcorrido
meio século desde a sua fundação, a Comissão Econômica para a América Latina e
o Caribe deu contribuições relevantes para o desenvolvimento regional e suas
teorias e visões foram escutadas em muitos lugares do mundo. Hoje a CEPAL é
referência obrigatória para quem estuda a história econômica da região nos
últimos tempos.
A
Comissão desenvolveu-se como uma escola de pensamento especializada no exame
das tendências econômicas e sociais de médio e longo prazo dos países
latino-americanos e caribenhos.
O
pensamento da CEPAL é dinâmico, seguindo as imensas transformações da realidade
econômica, social e política, regional e mundial. Desde os primeiros anos
desenvolveu um método analítico próprio e uma ênfase temática que, com algumas
variantes, se manteve até nossos dias.
O
método, chamado "histórico-estrutural", analisa a forma como as
instituições e a estrutura produtiva herdadas condicionam a dinâmica econômica
dos países em desenvolvimento e geram comportamentos que são diferentes do
comportamento das nações mais desenvolvidas.
Neste
método não há "estágios de desenvolvimento" uniformes. O
"desenvolvimento tardio" de nossos países tem uma dinâmica diferente
das nações que experimentaram um desenvolvimento mais precoce. O termo
"heterogeneidade estrutural", cunhado nos anos 70, capta bem as
características de nossas economias.
FMI
GEOGRAFIA
O FMI e o Banco Mundial são
instituições financeiras, ambas com sedes nos Estados Unidos.
O
FMI (Fundo Monetário Internacional) é um organismo com sede na cidade
norte-americana de Washington; criado em 1945, seu objetivo é estabelecer a
cooperação econômica em escala global. Sua atuação visa garantir estabilidade
financeira, favorecer as relações comerciais internacionais, implantar medidas
para geração de emprego e desenvolvimento sustentável e buscar formas de
reduzir a pobreza.
Cada país possui uma cota de participação no fundo, estabelecida preliminarmente, o destaque é para os países desenvolvidos, que são os maiores cotistas; por essa razão, são eles que gerenciam o organismo.
Os empréstimos do FMI são concedidos aos países com problemas financeiros, para isso é preciso cumprir as metas estipuladas pelo organismo, nelas estão previstas a implantação, por parte do devedor, de: ajuste orçamentário, cortes nos gastos públicos, monitoramento da taxa cambial, barrar o consumo excessivo com a diminuição salarial, dentre outros.
Quando o FMI é acionado por um país em crise, agentes são enviados para analisar a situação financeira do mesmo e, a partir daí, direcionar as medidas que poderão contribuir para a resolução dos problemas. O principal objetivo desses agentes é evitar que tais problemas se alastrem e tomem proporções maiores, que possam repercutir internacionalmente na economia.
O Banco Mundial (World Bank) ou BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) é uma agência das Nações Unidas criada em 1° de julho de 1944, a sede está localizada na capital dos Estados Unidos, Washington. Originalmente, foi criado com a finalidade de ajudar os países que foram destruídos na Segunda Guerra Mundial.
Cada país possui uma cota de participação no fundo, estabelecida preliminarmente, o destaque é para os países desenvolvidos, que são os maiores cotistas; por essa razão, são eles que gerenciam o organismo.
Os empréstimos do FMI são concedidos aos países com problemas financeiros, para isso é preciso cumprir as metas estipuladas pelo organismo, nelas estão previstas a implantação, por parte do devedor, de: ajuste orçamentário, cortes nos gastos públicos, monitoramento da taxa cambial, barrar o consumo excessivo com a diminuição salarial, dentre outros.
Quando o FMI é acionado por um país em crise, agentes são enviados para analisar a situação financeira do mesmo e, a partir daí, direcionar as medidas que poderão contribuir para a resolução dos problemas. O principal objetivo desses agentes é evitar que tais problemas se alastrem e tomem proporções maiores, que possam repercutir internacionalmente na economia.
O Banco Mundial (World Bank) ou BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) é uma agência das Nações Unidas criada em 1° de julho de 1944, a sede está localizada na capital dos Estados Unidos, Washington. Originalmente, foi criado com a finalidade de ajudar os países que foram destruídos na Segunda Guerra Mundial.
Sede do Banco Mundial.
Hoje,
aproximadamente 150 países membros participam na composição do capital do
banco. O valor de cota e o direito de voto são determinados a partir do nível
de participação no mercado mundial. O principal acionista é os Estados Unidos,
fato que lhe concede o poder de veto em todas as decisões.
O Banco Mundial fornece financiamentos para governos, que devem ser destinados, essencialmente, para infraestura de transporte, geração de energia, saneamento, além de contribuir em medidas de desenvolvimento econômico e social.
Além de governos, empresas de grande porte podem adquirir empréstimos, porém, é necessário apresentar a viabilidade da implantação de projetos, além disso, o país de origem da empresa deve garantir o pagamento dos recursos.
O Banco Mundial fornece financiamentos para governos, que devem ser destinados, essencialmente, para infraestura de transporte, geração de energia, saneamento, além de contribuir em medidas de desenvolvimento econômico e social.
Além de governos, empresas de grande porte podem adquirir empréstimos, porém, é necessário apresentar a viabilidade da implantação de projetos, além disso, o país de origem da empresa deve garantir o pagamento dos recursos.
Por
Eduardo de Freitas
Graduado em Geografia
Graduado em Geografia
Capital Karl Marx
KARL MARX- O CAPITAL em 2 minutos
por
Poderoso
em 19/07/12
em 19/07/12
A
principal obra sobre a ideologia proposta por Karl Marx é admirada não só por
marxistas e indivíduos de cunho socialista, mas também por estudantes de
diversas ciências, filósofos, doutores em diversas áreas e leitores em geral.
Por se tratar de uma obra clássica esta deveria ser uma leitura obrigatória
para todos os estudantes.
Marx
explica em sua obra como funciona a sociedade capitalista, descrevendo suas
características implícitas dentro das civilizações que a representam e como ela
é organizada e fundamentada. A definição do capitalismo proposta por Marx
utiliza a tese de que o trabalhador não obtém vantagens e subsídios necessários
com o capitalismo, gerador do acúmulo de riquezas que o faz trabalhar e ganhar
menos do que deveria, além da concepção sobre o pilar fundamental do acúmulo de
riquezas nesse sistema econômico que é o valor de riqueza juntamente com o
valor de troca.
A
obra originalmente escrita na época foi dividida em quatro volumes, cada uma
abordando sobre um determinado aspecto do capitalismo: O Processo de Produção
do Capital (publicado em 1865); O Processo de Circulação do Capital (publicado
em 1885); O Processo Global da Produção Capitalista (publicado em 1894) e
Teoria do mais Valia (publicado em 1905). Os três últimos volumes foram
publicados após a morte de Marx, ficando a responsabilidade da edição das obras
para Engels, seu seguidor na teoria marxista.
A
ideologia marxista prega a concepção de que o capitalismo deve ser extinto por
meio da revolução social e da ação contínua do proletariado contra este sistema
que explora o trabalhador, não se importando com o mesmo e suas condições e
oportunidades de crescimento, mas sim com o que ele está produzindo. Ela
defende ainda a utilização do Comunismo como uma forma de governo igualitária
no contexto social-econômico não só por meio da divisão de associações, mas
também por uma economia que permita o benefício aos interesses da sociedade em
geral.
Uma
leitura recomendável para estudo e melhor entendimento de como funciona nossa
sociedade contemporânea que gira em torno do capitalismo, e que permite
reflexões que levam o indivíduo a pensar como construir uma sociedade mais
justa no aspecto econômico, algo que reflete em todos os setores básicos da
mesma.
Boa
leitura!
FRÓES,
Marli Silva (UFJF/UNIMONTES) 2
mas
era tarde de maio e o ar fresco era uma flor aberta com o seu perfume.
(LISPECTOR, 1999)
RESUMO:
O conto A Bela e a fera ou A ferida grande demais, de Clarice Lispector pode
ser considerado um texto literário que funciona como arquivo, pois além de se
configurar como um lugar privilegiado para o escritor manifestar a sua leitura
de mundo, mobiliza saberes sujeitados e traz problematizações importantes de um
dado momento sócio-cultural do cenário brasileiro e do acervo cultural
perdurativo, no que se refere á relação eu e o outro.
Esselivro é composto por oito contos. Seis deles escritos na adolescência e dois
escritos durante a sua doença. Ele foi publicado após a sua morte. Vou falar um
pouco sobre aqueles que mais gostei.
“Gertrudes pede um conselho” conta a estória de uma garota de dezessete anos que sente demais. Ela tenta resolver esse problema mandando uma carta para uma doutora, consultora de um jornal.
“A menina era mais perspicaz do que pensara. Não, não era a verdade. A doutora sabia que se pode passar a vida inteira buscando qualquer coisa atrás da neblina, sabia também da perplexidade que traz o conhecimento de si própria e dos outros. Sabia que a beleza de descobrir a vida é pequena para quem procura principalmente a beleza nas coisas. Oh, sabia muito. Mas estava cansada do duelo. O escritório novamente vazio, afundar no divã, fechar as janelas – a repousante escuridão. Pois se aquele era o seu refúgio, apenas dela, onde até ele, com sua enervante e calma aceitação da felicidade, era um intruso!”
“Obsessão” é a estória de uma mulher que após contrair febre tifoide, o marido decide enviá-la para Belo Horizonte, para que se recupere. E, é aí que ela conhece o Daniel, um homem enigmático, que a faz enxergar o mundo de outra forma.
“Como se necessitasse de tal programa... Tudo nele atingia naturalmente o máximo, não na objetivação, mas num estado de capacidade, de exaltação de forças, de que ninguém se beneficiava e que era por todos, além dele, ignorado. E esse estado era o seu auge. Assemelhava-se ao que precederia uma realização e ele ardia por alcançá-lo, sentindo-se, quanto mais sofria, mais vivo, mais castigado, quase satisfeito. Era a dor da criação, sem a criação embora.”
“A bela e a fera” conta a estória de uma mulher rica que sai do salão de beleza antes do horário e, por isso é obrigada a esperar na rua. Nisso, aparece um mendigo lhe pedindo dinheiro.
“Nunca mais seria a mesma pessoa. Não que jamais tivesse visto um mendigo. Mas – mesmo este era em hora errada, como levada de um empurrão e derramar por isso vinho tinto em branco vestido de renda. De repente sabia: esse mendigo era feito da mesma matéria que ela.
Simplesmente isso. O “porquê” é que era diferente. No plano físico eles eram iguais. Quanto a ela, tinha uma cultura mediana, e ele não parecia saber de nada, nem quem era o Presidente do Brasil. Ela, porém, tinha uma capacidade aguda de compreender. Será que estivera até agora com a inteligência embutida? Mas se ela já há pouco, que estivera em contato com uma ferida que pedia dinheiro para comer – passou a só pensar em dinheiro? Dinheiro esse que sempre fora óbvio para ela. E a ferida, ela nunca a vira tão de perto...”
Gostei muito desse livro. Afinal, é impossível para mim não gostar de Clarice.
site: http://detudoumpouquino.blogspot.com
“Gertrudes pede um conselho” conta a estória de uma garota de dezessete anos que sente demais. Ela tenta resolver esse problema mandando uma carta para uma doutora, consultora de um jornal.
“A menina era mais perspicaz do que pensara. Não, não era a verdade. A doutora sabia que se pode passar a vida inteira buscando qualquer coisa atrás da neblina, sabia também da perplexidade que traz o conhecimento de si própria e dos outros. Sabia que a beleza de descobrir a vida é pequena para quem procura principalmente a beleza nas coisas. Oh, sabia muito. Mas estava cansada do duelo. O escritório novamente vazio, afundar no divã, fechar as janelas – a repousante escuridão. Pois se aquele era o seu refúgio, apenas dela, onde até ele, com sua enervante e calma aceitação da felicidade, era um intruso!”
“Obsessão” é a estória de uma mulher que após contrair febre tifoide, o marido decide enviá-la para Belo Horizonte, para que se recupere. E, é aí que ela conhece o Daniel, um homem enigmático, que a faz enxergar o mundo de outra forma.
“Como se necessitasse de tal programa... Tudo nele atingia naturalmente o máximo, não na objetivação, mas num estado de capacidade, de exaltação de forças, de que ninguém se beneficiava e que era por todos, além dele, ignorado. E esse estado era o seu auge. Assemelhava-se ao que precederia uma realização e ele ardia por alcançá-lo, sentindo-se, quanto mais sofria, mais vivo, mais castigado, quase satisfeito. Era a dor da criação, sem a criação embora.”
“A bela e a fera” conta a estória de uma mulher rica que sai do salão de beleza antes do horário e, por isso é obrigada a esperar na rua. Nisso, aparece um mendigo lhe pedindo dinheiro.
“Nunca mais seria a mesma pessoa. Não que jamais tivesse visto um mendigo. Mas – mesmo este era em hora errada, como levada de um empurrão e derramar por isso vinho tinto em branco vestido de renda. De repente sabia: esse mendigo era feito da mesma matéria que ela.
Simplesmente isso. O “porquê” é que era diferente. No plano físico eles eram iguais. Quanto a ela, tinha uma cultura mediana, e ele não parecia saber de nada, nem quem era o Presidente do Brasil. Ela, porém, tinha uma capacidade aguda de compreender. Será que estivera até agora com a inteligência embutida? Mas se ela já há pouco, que estivera em contato com uma ferida que pedia dinheiro para comer – passou a só pensar em dinheiro? Dinheiro esse que sempre fora óbvio para ela. E a ferida, ela nunca a vira tão de perto...”
Gostei muito desse livro. Afinal, é impossível para mim não gostar de Clarice.
site: http://detudoumpouquino.blogspot.com
Clarisse Fukelman
Livro
de contos lançado postumamente, reúne seis escritos do período 1940-41 e dois
de 1977, pouco antes da morte da autora, ambos falando de escolhas, sentido da
vida, solidão e condição feminina. Os textos do primeiro conjunto, ao se
debruçarem sobre conturbadas relações amorosas entre homem e mulher, não
escondem a atmosfera romântica e certa ingenuidade. Mas ao mesmo tempo trazem
discussões que atravessam a ficção clariciana. Lá estão a percepção aguda de
dramas familiares e o senso de ironia. A obra convida à leitura retrospectiva.
Lado a lado, a escritora madura, em momento de profunda crise devido à doença
que a tomava, e a jovem autora, na descoberta do mundo e da ficção.
Curioso
é que o olhar adulto sobre experiências remotas é simulado em textos juvenis,
como “História interrompida”. A narradora recorda a paixão juvenil: um rapaz
“moreno e triste”, roupa escura, analítico; ela, jovem perspicaz, inteligente e
romântica, de roupa florida, diminuída com a altivez dele, mas já intuindo
haver sob aquela soberba um pensamento estéril. A rememoração, forma de
compreensão, ou tentativa de, registra a força da acomodação a valores
dominantes: “Estou casada e tenho um filho”. A história é retomada com
variações em “Obsessão”, também rememória de personagem com origem similar:
“Nasci de criaturas simples, instruídas naquela sabedoria que se adquire pela
experiência e se adivinha pelo senso comum”. Ela é preparada para “casar, ter
filhos e, finalmente, ser feliz”.
No
outro grupo de textos, que assume a perspectiva de dentro do casamento ou de
quem já viveumuito, há uma dimensão dilacerada quanto aos rumos e equívocos
cometidos ao longo da vida, em nome da estabilidade e do bem-estar. Sim, porque
se o livro como um todo encena a indagação clariciana sobre a felicidade, os
contos escritos no final da vida dão ao tema uma acidez e uma revolta
inexistentes nos anteriores, aniquilando de vez os parâmetros afetivos
pequeno-burgueses. Chega a atingir o patético, na reflexão da socialite(“–
Como é que eu nunca descobri que sou também uma mendiga?”), ou na figura de
Margarida, de “Um dia a menos” (que reverbera personagens nos textos com viés
autobiográfico de Avia crucis do corpo e também de A paixão
segundo gh), mulher que habita o depois, e enfrenta o diálogo surdo com o
tempo-morto que nela habita.
quinta-feira,
18 de setembro de 2008
Bem,
então saiu do salão de beleza pelo elevador do Copacabana Palace Hotel. O
chofer não estava lá. Olhou o relógio: eram quatro horas da tarde. E de repente
lembrou-se: tinha dito a "seu" José para vir buscá-la às cinco, não
calculando que não faria as unhas dos pés e das mãos, só a massagem. Que devia
fazer? Tomar um táxi? Mas tinha consigo uma nota de quinhentos cruzeiros e o
homem do táxi não teria troco. Trouxera dinheiro porque o marido lhe dissera
que nunca se deve andar sem nenhum dinheiro. Ocorreu-lhe voltar ao salão de
beleza e pedir dinheiro. Mas - mas era uma tarde de maio e o ar fresco era uma
flor aberta com o seu perfume. Assim achou que era maravilhoso e inusitado
ficar de pé na rua - ao vento que mexia com os seus cabelos. Não se lembrava
quando fora a última vez que estava sozinha consigo mesma. Talvez nunca. Sempre
era ela - com outros, e nesses outros ela se refletia e os outros refletiam-se
nela. Nada era – era puro, pensou sem se entender. Quando se viu no espelho – a
pele trigueira pelos banhos de sol faziam ressaltar as flores douradas perto do
rosto nos cabelos negros – conteve-se para não exclamar um “ah!” – pois ela era
cinqüenta milhões de unidades de gente linda. Nunca houve – em todo o passado
do mundo – alguém que fosse como ela. E, depois, em três trilhões de trilhões
de ano – não haveria uma moça exatamente como ela.
“Eu
sou uma chama acesa! E rebrilho e rebrilho toda essa escuridão!”
Este
momento era único – e ela teria durante a vida milhares de momentos únicos. Até
suou frio na testa, por tanto lhe ser dado e por ela avidamente tomado.
“A
beleza pode levar à espécie de loucura que é a paixão.” Pensou: “estou casada,
tenho três filhos, estou segura.”
Ela
tinha um nome a preservar: era Carla de Sousa e Santos. Eram importantes o “de”
e o “e”: marcavam classe e quatrocentos anos de carioca. Vivia nas manadas de
mulheres e homens que, sim, que simplesmente “podiam”. Podiam o quê? Ora,
simplesmente podiam. E ainda por cima, viscosos pois que o “podia” deles era
bem oleado nas máquinas que corriam sem barulho de metal ferrugento. Ela, que
era uma potência. Uma geração de energia elétrica. Ela, que para descansar
usava os vinhedos do seu sítio. Possuía tradições podres mas de pé. E como não
havia nenhum novo critério para sustentar as vagas e grandes esperanças, a
pesada tradição ainda vigorava. Tradição de quê? De nada, se se quisesse
apurar. Tinha a seu favor apenas o fato de que os habitantes tinham uma longa
linhagem atrás de si, o que, apesar de linhagem plebéia, bastava para lhes dar
uma certa pose de dignidade.
Pensou
assim, toda enovelada: “Ela que, sendo mulher, o que lhe parecia engraçado ser
ou não ser, sabia que se fosse homem, naturalmente seria banqueiro, coisa
normal que acontece entre os “dela”, isto é, de sua classe social, à qual o
marido, porém, alcançara com muito trabalho e que o classificava de “self made
man” enquanto ela não era uma “self made woman”. No fim do longo pensamento,
pareceu-lhe que – que não pensara em nada.
Um
homem sem uma perna, agarrando-se numa muleta, parou diante dela e disse:
-
Moça, me dá um dinheiro para eu comer?
“Socorro!!!”
gritou-se para si mesma ao ver a enorme ferida na perna do homem. “Socorre-me,
Deus”, disse baixinho.
Estava
exposta àquele homem. Estava completamente exposta. Se tivesse marcado com
“seu” José na saída da Avenida Atlântica, o hotel que ficava o cabeleireiro não
permitiria que “essa gente” se aproximasse. Mas na Avenida Copacabana tudo era
possível: pessoas de toda a espécie. Pelo menos de espécie diferente da dela.
“Da dela?” “Que espécie de ela era para ser ‘da dela’?” Ela – os outros. Mas,
mas a morte não nos separa, pensou de repente e seu rosto tomou ar de uma
máscara de beleza e não beleza de gente: sua cara por um momento se endureceu.
Pensamento
do mendigo: “essa dona de cara pintada com estrelinhas douradas na testa, ou
não me dá ou me dá muito pouco”. O correu-lhe então, um pouco cansado: “ou dá
quase nada”.
Ela
espantada: como praticamente não andava na rua – era de carro de porta à porta
– chegou a pensar: ele vai me matar? Estava atarantada e perguntou:
-
Quanto é que se costuma dar?
-
O que a pessoa pode dar e quer dar - respondeu o mendigo espantadíssimo.
Ela,
que não pagava o salão de beleza, o gerente deste mandava cada mês sua conta
para a secretária do marido. “Marido”. Ela pensou: o marido o que faria com o
mendigo? Sabia que: nada. Eles não fazem nada. E ela – ela era “eles” também.
Tudo o que pode dar? Podia dar o banco do marido, poderia lhe dar seu
apartamento, sua casa de campo, suas jóias...
Mas
alguma coisa que era uma avareza de todo o mundo, perguntou:
-
Quinhentos cruzeiros basta? É só o que eu tenho.
O
mendigo olhou-a espantado.
-
Está rindo de mim, moça?
-
Eu?? Não estou não, eu tenho mesmo os quinhentos na bolsa...
Abriu-a,
tirou-lhe a nota e estendeu-a humildemente ao homem, quase lhe pedindo
desculpas.
O
homem perplexo.
E
depois rindo, mostrando as gengivas quase vazias:
-
Olhe – disse ele -, ou a senhora é muito boa ou não está bem da cabeça... Mas,
aceito, não vá dizer depois que roubei, ninguém vai me acreditar. Era melhor me
dar trocado.
-
Eu não tenho trocado, só tenho essa nota de quinhentos.
O
homem pareceu assustar-se, disse qualquer coisa quase incompreensível por causa
da má dicção de poucos dentes.
Enquanto
isso a cabeça dele pensava: comida, comida, comida boa, dinheiro, dinheiro.
A
cabeça dela era cheia de festas, festas, festas. Festejando o quê? Festejando a
ferida alheia? Uma coisa os unia: ambos tinham uma vocação por dinheiro. O
mendigo gastava tudo o que tinha, enquanto o marido de Carla, banqueiro,
colecionava dinheiro. O ganha-pão era a Bolsa de Valores, e inflação, e lucro.
O ganha-pão do mendigo era a redonda ferida aberta. E ainda por cima, devia ter
medo de ficar curado, adivinhou ela, porque, se ficasse bom, não teria o que
comer, isso Carla sabia: “quem não tem bom emprego depois de certa idade...” Se
fosse moço, poderia ser pintor de paredes. Como não era, investia na ferida
grande em carne viva e purulenta. Não, a vida não era bonita.
Ela
se encostou na parede e resolveu deliberadamente pensar. Era diferente porque
não tinha o hábito e ela não sabia que pensamento era visão e compreensão e que
ninguém podia se intimar assim: pense!
Bem.
Mas acontece que resolver era um obstáculo. Pôs-se então a olhar para dentro de
si e realmente começaram a acontecer. Só que tinha os pensamentos mais tolos.
Assim: esse mendigo sabe inglês? Esse mendigo já comeu caviar, bebendo
champanhe? Eram pensamentos tolos porque claramente sabia que o mendigo não
sabia inglês, nem experimentara caviar e champanhe. Mas não pôde se impedir de
ver nascer em si mais um pensamento absurdo: ele já fez esportes de inverno na
Suíça?
Desesperou-se
então. Desesperou-se tanto que lhe veio o pensamento feito de duas palavras
apenas “Justiça Social”.
Que
morram todos os ricos! Seria a solução, pensou alegre. Mas – quem daria
dinheiro aos pobres?
De
repente – de repente tudo parou. Os ônibus pararam, os carros pararam, os
relógios pararam, as pessoas na rua imobilizaram-se – só seu coração batia, e
para quê?
Viu
que não sabia gerir o mundo. Era uma incapaz, com cabelos negros e unhas
compridas e vermelhas. Ela era isso: como uma fotografia colorida fora de foco.
Fazia todos os dias a lista do que precisava ou queria fazer no dia seguinte –
era desse modo que se ligara ao tempo vazio. Simplesmente ela não tinha o que
fazer. Faziam tudo por ela. Até mesmo os dois filhos – pois bem, fora o marido
que determinara que teriam dois...
“Tem-se
que fazer força para vencer na vida”, dissera-lhe o avô morto. Seria ela, por
acaso, “vencedora”? Se vencer fosse estar em plena tarde clara na rua, a cara
lambuzada de maquilagem e lantejoulas douradas... Isso era vencer? Que
paciência tinha que ter consigo mesma. Que paciência tinha que ter para salvar
a sua própria vida. Salvar de quê? Do julgamento? Mas quem julgava? Sentiu a
boca inteiramente seca e a garganta em fogo – exatamente como quando tinha que
se submeter a exames escolares. E não havia água! Sabe o que é isso – não haver
água?
Quis
pensar em outra coisa e esquecer o difícil momento presente. Então lembrou-se
de frases de um livro póstumo de Eça de Queirós que havia estudado no ginásio:
“O lago de Tiberíade resplandeceu transparente, coberto de silêncio, mais azul
que o céu, todo orlado de prados floridos, de densos vergeis, de rochas de
pórfiro, e alvos terrenos por entre os palmares, sob o vôo das rolas.”
Sabia
de cor porque, quando adolescente, era muito sensível a palavras e porque
desejava para si mesma o destino de resplendor do lago de Tiberíade.
Teve
uma vontade inesperadamente assassina: a de matar todos os mendigos do mundo!
Somente para que ela, depois da matança, pudesse usufruir em paz seu
extraordinário bem-estar.
Não.
O mundo não sussurrava.
O
mundo gri-ta-va!!! Pela boca desdentada desse homem.
A
jovem senhora do banqueiro pensou que não ia suportar a falta de maciez que se
lhe jogavam no rosto tão maquilado.
E
A festa? Como diria na festa, quando dançasse, como diria ao parceiro que a
teria entre os braços... O seguinte: olhe, o mendigo também tem sexo, disse que
tinha onze filhos. Ele não vai a reuniões sociais, ele não sai nas colunas do
Ibrahim, ou do Zózimo, ele tem fome de pão e não de bolos, ele na verdade só
quer comer mingau pois não tem dentes para mastigar carne... “Carne?” Lembrou-se
vagamente que a cozinheira dissera que o “filet mignon” subira de preço. Sim.
Como poderia ela dançar? Só se fosse uma dança doida e macabra de mendigos.
Não,
ela não era mulher de ter chiliques e fricotes e ir desmaiar ou se sentir mal.
Como algumas de suas “coleguinhas” de sociedade. Sorriu um pouco ao pensar em
termos de “coleguinhas”. Colegas em quê? Em se vestir bem? Em dar jantares para
trinta, quarenta pessoas?
Ela
mesma aproveitando o jardim no verão que se extinguia dera uma recepção para
quantos convidados? Não, não queria pensar nisso, lembrou-se (por que sem o
mesmo prazer?) das mesas espalhadas sobre a relva, a luz de vela... “luz de
vela”? pensou, mas eu estou doida? Eu caí num esquema? Num esquema de gente
rica?
“Antes
de casar era de classe média, secretária do banqueiro com quem se casara agora
e agora – agora luz de velas. Estou é brincando de viver, pensou, a vida não é
isso.”
“A
beleza pode ser de uma grande ameaça.” A extrema graça se confundiu com uma
perplexidade e uma funda melancolia. “A beleza assusta”. “Se eu não fosse tão
bonita teria tido outro destino”, pensou ajeitando as flores douradas sobre os
negríssimos cabelos.
Ela
uma vez vira uma amiga inteiramente de coração torcido e doído e doido de forte
paixão. Então não quisera nunca experimentar. Sempre tivera medo das coisas
belas demais ou horríveis demais: é que não sabia em si como responder-lhes e
se responderia se fosse igualmente bela ou igualmente horrível.
Estava
assustada quando vira o sorriso de Mona Lisa, ali, à sua mão no Louvre. Como se
assustara com o homem da ferida ou com a ferida do homem.
Teve
vontade de gritar para o mundo: “Eu não sou ruim! Sou um produto nem sei de
quê, como saber dessa miséria de alma.”
Para
mudar de sentimento – pois que ela não os agüentava e já tinha vontade de, por
desespero, dar um pontapé violento na ferida do mendigo -, para mudar de
sentimentos pensou: este é o meu segundo casamento, isto é, o marido anterior
estava vivo.
Agora
entendia por que se casara da primeira vez e estava em leilão: quem dá mais?
Quem dá mais? Então está vendida. Sim, casara-se pela primeira vez com o homem
que “dava mais”, ela o aceitara porque ele era rico e era um pouco acima dela
em nível social. Vendera-se. E o segundo marido? Seu casamento estava findando,
ele com duas amantes... e ela tudo suportando porque um rompimento seria
escandaloso: seu nome era por demais citado nas colunas sociais. E voltaria ela
a seu nome de solteira? Até habituar-se ao seu nome de solteira, ia demorar
muito. Aliás, pensou rindo de si mesma, aliás, ela aceitava este segundo porque
ele lhe dava grande prestígio. Vendera-se às colunas sociais? Sim. Descobria
isso agora. Se houvesse para ela um terceiro casamento – pois era bonita e rica
-, se houvesse, com quem se casaria? Começou a rir um pouco histericamente
porque pensara: o terceiro marido era o mendigo.
De
repente perguntou ao mendigo:
-
O senhor fala inglês?
O
homem nem sequer sabia o que ela lhe perguntara. Mas, obrigado a responder pois
a mulher já o comprara-o com tanto dinheiro, saiu pela evasiva.
-
Falo sim. Pois não estou falando agora mesmo com a senhora? Por quê? A senhora
é surda? Então vou gritar: FALO.
Espantada
pelos enormes gritos do homem, começou a suar frio. Tomava plena consciência de
que até agora fingira que não havia os que passam fome, não falam nenhuma
língua e que havia multidões anônimas mendigando para sobreviver. Ela soubera
sim, mas desviara a cabeça e tampara os olhos. Todos, mas todos – sabem e
fingem que não sabem. E mesmo que não fingissem iam ter um mal-estar. Como não
teriam? Não, nem isso teriam.
Ela
era... Afinal de contas quem era ela?
Sem
comentários, sobretudo porque a pergunta não durou um átimo de segundo:
pergunta e resposta não tinham sido pensamentos de cabeça, eram de corpo.
Eu
sou o Diabo, pensou lembrando-se do que aprendera na infância. E o mendigo é
Jesus. Mas – o que ele quer não é dinheiro, é amor, esse homem se perdeu na
humanidade como eu também me perdi.
Quis
forçar-se a entender o mundo e só conseguiu lembrar-se de fragmentos de frases
ditas pelos amigos do marido: “essas usinas não serão suficientes”. Que usinas,
santo Deus? as do Ministro Galhardo? teria ele usinas? A “energia elétrica...
hidrelétrica”?
E
a magia essencial de viver – onde estava agora? Em que canto do mundo? No homem
sentado na esquina?
A
mola do mundo é dinheiro? fez-se ela a pergunta. Mas quis fingir que não era.
Sentiu-se tão, tão rica que teve um mal-estar.
Pensamento
do mendigo: “Essa mulher é doida ou roubou o dinheiro porque milionária ela não
pode ser”, milionária era para ele apenas uma palavra e mesmo se nessa mulher
ele quisesse encarnar uma milionária não poderia porque: onde se viu milionária
ficar parada de pé na rua, gente? Então pensou: ela é daquelas vagabundas que
cobram caro de cada freguês e com certeza está cumprindo alguma promessa?
Depois.
Depois.
Silêncio.
Mas
de repente aquele pensamento gritado:
-
Como é que eu nunca descobri que sou também uma mendiga? Nunca pedi esmola mas
mendigo o amor de meu marido que tem duas amantes, mendigo pelo amor de Deus
que me achem bonita, alegre, aceitável, e minha roupa de alma está
maltrapilha...
“Há
coisas que nos igualam”, pensou procurando desesperadamente outro ponto de
igualdade. Veio de repente a resposta: eram iguais porque haviam nascido e ambos
morreriam. Eram, pois, irmãos.
Teve
vontade de dizer: olhe, homem, eu também sou uma pobre coitada, a única
diferença é que sou rica. Eu... pensou com ferocidade, eu estou perto de
desmoralizar o dinheiro ameaçando o crédito do meu marido na praça. Estou
prestes a, de um momento para o outro, me sentar no fio da calçada. Nascer foi
a minha pior desgraça. Tendo já pagado esse maldito acontecimento, sinto-me com
direito a tudo.
Tinha
medo. Mas de repente deu o grande pulo de sua vida: corajosamente sentou-se no
chão. “Vai ver que ela é comunista!” pensou meio a meio o mendigo. “E como
comunista teria direito às suas jóias, seus apartamentos, sua riqueza e até os
seus perfumes.”
Nunca
mais seria a mesma pessoa. Não que jamais tivesse visto um mendigo. Mas – mesmo
este era em hora errada, como levada de um empurrão e derramar por isso vinho
tinto em branco vestido de renda. De repente sabia: esse mendigo era feito da
mesma matéria que ela. Simplesmente isso. O “porquê” é que era diferente. No
plano físico eles eram iguais. Quanto a ela, tinha uma cultura mediana, e ele
não parecia saber de nada, nem quem era o Presidente do Brasil. Ela, porém,
tinha uma capacidade aguda de compreender. Será que estivera até agora com a
Inteligência embutida? Mas se ela já há pouco, que estivera em contato com uma
ferida que pedia dinheiro para comer – passou a só pensar em dinheiro? Dinheiro
esse que sempre fora óbvio para ela. E a ferida, ela nunca a vira tão de
perto...
-
A senhora está se sentindo mal?
-
Não estou mal... mas não estou bem, não sei...
Pensou:
o corpo é uma coisa que estando doente a gente carrega. O mendigo se carrega a
si mesmo.
-
Hoje no baile a senhora se recupera e tudo volta ao normal – disse José.
Realmente
no baile ela reverdeceria seus elementos de atração e tudo voltaria ao normal.
Sentou-se
no banco do carro refrigerado lançando antes de partir o último olhar àquele
companheiro de hora e meia. Parecia-lhe difícil despedir-se dele, ele era agora
o “eu” alterego, ele fazia parte para sempre de sua vida. Adeus. Estava
sonhadora, distraída, de lábios entreabertos com se houvesse à beira deles uma
palavra. Por um motivo que ela não saberia explicar – ele era verdadeiramente
ela mesma. E assim, quando o motorista ligou o rádio, ouviu que o bacalhau
produzia nove mil óvulos por ano. Não soube deduzir nada com essa frase, ela
que estava precisando de um destino. Lembrou-se de que em adolescente procurara
um destino e escolhera cantar. Como parte de sua educação, facilmente lhe
arranjaram um bom professor. Mas cantava mal, ela mesma sabia e seu pai, amante
das óperas, fingira não notar que ela cantava mal. Mas houve um momento em que
ela começou a chorar. O professor perplexo perguntara-lhe o que tinha.
-
É que eu tenho medo de, de, de, de, cantar bem...
Mas
você canta muito mal, dissera-lhe o professor.
-
Também tenho medo, tenho medo também de cantar muito, muito mais mal ainda.
Maaaaal mal demais! Chorava ela e nunca teve mais nenhuma aula de canto. Essa
história de procurar a arte para entender só lhe acontecera uma vez – depois
mergulhara num esquecimento que só agora, aos trinta e cinco anos de idade,
através da ferida, precisava ou cantar muito mal ou cantar muito bem – estava
desnorteada. Há quanto tempo não ouvia a chamada música clássica porque esta
poderia tirá-la do sono automático em que vivia. Eu – estou brincando de viver.
No mês que vem ia a New York e descobriu que essa ida era como uma nova
mentira, como uma perplexidade. Ter uma ferida na perna – é uma realidade. E
tudo na sua vida, desde quando havia nascido, tudo na sua vida fora macio como
pulo do gato.
(No
carro andando)
De
repente pensou: nem lembrei de perguntar o nome dele.
1977
In:
Lispector, Clarice. A Bela e a Fera, Nova Fronteira, 1979, 131-46.
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