Traços
O
Diretório Nacional, ao apresentar para discussão o roteiro a seguir, convoca um
Encontro Extraordinário do Partido dos Trabalhadores, sob o tema Os desafios
partidários para o próximo período, a ser realizado em novembro, antecedido por
uma reunião ampliada do Diretório Nacional, em julho, cujas normas serão
definidas pela Comissão Executiva Nacional até o final de maio.
O
país vive, desde o dia 12 de maio, uma nova situação política, com a
recuperação da direção do Estado pelas velhas oligarquias da política, da mídia
monopolizada e do grande capital. Através de um golpe parlamentar, que rompeu a
ordem democrática e rasgou a Constituição, as classes dominantes impuseram o
afastamento provisório da presidenta Dilma Rousseff, em processo de impeachment
sem base legal, marcado pela fraude e a manipulação.
O
impedimento da presidenta, longe de ser manobra circunstancial, mesmo cercado
por improvisos e tropeços, representa o desfecho de uma ofensiva planificada,
que culminou com a unificação de distintos centros de comando ao redor da
conspiração golpista.
A
maioria conservadora do Congresso Nacional fabricou pretexto casuístico para
depor um governo legitimamente eleito pelo voto popular e estabelecer novo
bloco de poder, destinado a conduzir um amplo programa de reorganização do
desenvolvimento capitalista nacional.
A
opção pelo golpismo, além do caráter historicamente antidemocrático das classes
dominantes brasileiras, expressa o ritmo pretendido e a agenda que unifica o
núcleo hegemônico das forças usurpadoras. Afinal, seria risco imenso submeter a
eleições 2 livres e diretas um projeto calcado sobre arrocho de salários e
aposentadorias; eliminação de direitos trabalhistas; corte de gastos com
programas sociais; anulação das vinculações constitucionais em saúde e
educação; privatização de empresas estatais e abdicação da soberania sobre o
pré-sal; submissão do país aos interesses das grandes corporações financeiras
internacionais.
O
modelo econômico perseguido pelo grande capital implica substituir a expansão
do mercado interno, como motor do crescimento, pela atração dos fluxos privados
de investimento, locais e internacionais, conforme reza a antiga cartilha
neoliberal e tal como explicita o programa dos golpistas “Uma Ponte para o
Futuro”. Salários baixos, alta rentabilidade financeira com plenas garantias de
solvência, desregulamentação do mercado de trabalho, privatizações e política
externa subordinada aos centros imperialistas são os principais pilares dessa
opção de classe.
Apesar
dos equívocos e dificuldades em dar continuidade ao processo de mudanças
iniciado em 2003, a administração da presidenta Dilma Rousseff era obstáculo a
ser removido de forma imediata e a qualquer custo, de tal sorte que um governo
de transição pudesse dispor de tempo suficiente para aplicar o programa
neoliberal antes que as urnas voltassem a se pronunciar.
Este
período também seria indispensável para avançar na escalada de criminalização
do PT e demais forças de esquerda, combinada com a desarticulação repressiva
dos movimentos sociais e a interdição do ex-presidente Lula como alternativa
viável nas eleições de 2018.
A
Operação Lava Jato desempenha papel crucial na escalada golpista. Alicerçada
sobre justo sentimento anticorrupção do povo brasileiro, configurou-se
paulatinamente em instrumento político para a guerra de desgaste contra
dirigentes e governantes petistas, atuando de forma cada vez mais seletiva
quanto a seus alvos, além de marcada por violações ao Estado Democrático de
Direito. Tem funcionado como mecanismo de contrapropaganda para mobilização das
camadas médias, em associação com os monopólios da comunicação. Revela, por
fim, o alinhamento de diversos grupos do aparato repressivo estatal –
delegados, 3 procuradores e juízes – com o campo reacionário, associados direta
ou indiretamente às manobras do impeachment.
Ainda
que persistam importantes contradições no interior da coalizão conservadora, a
intenção predominante entre suas frações dirigentes é concluir o regime de
exceção com a aprovação de um sistema eleitoral, mais restritivo que o atual,
cujas regras logrem institucionalizar o bloqueio à reconquista do governo
federal pelo campo popular.
Esta
ofensiva restauradora é parte fundamental da estratégia para desestabilizar as
demais experiências progressistas na América Latina, buscando reconstruir a
hegemonia imperialista sobre a região, fortemente abalada pelas vitórias
eleitorais populares nos primeiros quinze anos do século XXI. A longa crise do
capitalismo reconduz o Sul do continente à lista de prioridades da geopolítica
norte-americana, sob a lógica de retomar controle sobre fontes essenciais de
matérias-primas e energia, amplos mercados domésticos e espaços para novos
investimentos a baixos custos.
A
queda do governo petista também é fundamental para fragilizar alianças
contrahegemônicas regionais, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a
Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o Mercosul além
de facilitar políticas de cerco e desestabilização em processos progressistas
de outros países – como Venezuela, Equador e Bolívia. Caso consolidado, este
retrocesso político influirá sobre a evolução do bloco BRICS, cujo potencial
econômico e financeiro coloca em xeque a velha engenharia mundial das potências
capitalistas.
O
avanço do movimento golpista, no entanto, somente poderá ser corretamente
entendido se avaliarmos, de forma autocrítica, os erros cometidos por nosso
partido e nossos governos. O fato é que não nos preparamos para o enfrentamento
atual, ao priorizarmos o pacto pluriclassista que permitiu a vitória do
ex-presidente Lula em 2002 e a consolidação de seu governo nos anos seguintes.
4
Esquecemos
uma das lições mais relevantes da história brasileira, consolidada pelo PT em
seus documentos dos anos oitenta. O capitalismo brasileiro, assentado sobre
múltiplos mecanismos de super-exploração do trabalho e preservação de
estruturas arcaicas, gera forte antagonismo das oligarquias contra reformas capazes
de alterar, mesmo timidamente, essas condições sócio-econômicas. As classes
dominantes -- em determinadas correlações de força e em períodos de expansão
econômica -- podem tolerar certas mudanças, desde que avanços das camadas
populares não resultam em diminuição de seus ganhos absolutos ou relativos. Mas
oferecem brutal resistência quando esse equilíbrio distributivo está sob
ameaça, particularmente nas fases de contração econômica como agora.
Tal
pressuposto deveria ter norteado nossos treze anos de governo, levando-nos a
compreender que a hegemonia dos trabalhadores no Estado e na sociedade não
depende exclusiva ou principalmente de administrações bem-sucedidas, mas da
concentração de todos os fatores na construção de uma força política, social e
cultural capaz de dirigir e transformar o país.
A
despeito dos extraordinários avanços verificados na redução das desigualdades,
na abertura de novas oportunidades, na criação de direitos, na erradicação da
fome, na ampla inclusão promovida pelo governo, incorremos em um equívoco
político. Logo ao assumirmos, relegamos tarefas fundamentais como a reforma
política, a reforma tributária progressiva e a democratização dos meios de
comunicação. Embora sem maioria parlamentar de esquerda, o imenso prestígio do
presidente Lula e a desorganização estratégica das elites abriam espaço para
poderosa mobilização nacional que debatesse, claramente, a urgência da
democratização do Estado e a remoção dos entulhos autoritários herdados da
transição conservadora pós-ditadura.
Fomos
igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria
impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e
do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares;
promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala
mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de 5
verbas publicitárias para os monopólios da informação.
Confiamos
na governabilidade institucional, a partir de alianças ao centro, como coluna
vertebral para a sustentação de nosso projeto. Ao contrário do que havia se
passado em países vizinhos, o sistema eleitoral do país, tal como existe, não
possibilitou que o triunfo na eleição presidencial fosse acompanhado por
maioria no Congresso Nacional. Obviamente, estávamos obrigados a composições
fora do campo popular, sob o risco de inviabilizarmos nossos sucessivos
governos. Mas fomos acanhados ao impulsionar a luta social como vetor
fundamental de pressão sobre as instituições. Em consequência, rebaixamos a
disputa pública de nosso programa e o debate com as forças conservadoras,
incluindo os segmentos que eventualmente integravam a base de apoio.
Tampouco
nos dedicamos, com a devida atenção e perseverança, à costurar uma aliança
estratégica entre os partidos populares e os movimentos sociais, que pudesse
ampliar o peso institucional da esquerda. Acabamos reféns de acordos táticos,
imperiosos para o manejo do Estado, mas que resultaram num baixo e pouco
enraizamento das forças progressistas, ao mesmo tempo em que ampliaram, no arco
de alianças, o poder de fogo de setores mais à direita.
A
manutenção do sistema político e a preponderância excessiva da ação
institucional acabaram por afetar fortemente o funcionamento do PT, confinado à
função quase exclusiva de braço parlamentar dos governos petistas e reordenado
como agremiação fundamentalmente eleitoral. A vida interna se estiolou, sob
crescente influência de mandatos parlamentares e cargos executivos, cada vez mais
autônomos em relação às instâncias partidárias. O partido perdeu capacidade de
elaboração, formação e protagonismo na batalha das ideias. Milhares de novos
filiados foram incorporados sem quaisquer vínculos com o pensamento de esquerda
ou nosso programa.
Também
fomos contaminados pelo financiamento empresarial de campanhas, estrutura
celular de como as classes dominantes se articulam com o Estado, formando suas
próprias bancadas corporativas e controlando governos. Preservada 6 essa
condição mesmo após nossa vitória eleitoral de 2002, terminamos envolvidos em
práticas dos partidos políticos tradicionais, o que claramente afetou
negativamente nossa imagem e abriu flancos para ataques de aparatos judiciais
controlados pela direita.
Apesar
dos esforços constantes, nos últimos anos, para corrigir estes desvios, temos
claro que suas sequelas debilitaram o PT e fragilizaram o conjunto da esquerda
frente à escalada golpista.
A
política econômica desenvolvimentista e distributivista dos nossos governos,
responsável pela maior elevação do salário mínimo e da inclusão social, passou
a exigir, especialmente frente ao recrudescimento da crise internacional, que o
Banco Central estimulasse o investimento e não que o bloqueasse – como fez com
a elevação da taxa de juros. Exigia ainda novas reformas distributivas, que
gravassem progressivamente os ricos, e uma nova capacidade de planejamento e
investimento do Estado - o que não ocorreu.
Ao
lado das falhas propriamente políticas, demoramos a perceber o progressivo
esgotamento da política econômica vigente entre 2003 e 2010, que havia levado a
formidáveis conquistas sociais para o povo brasileiro. Baseada na ampliação do
mercado interno a partir da incorporação dos pobres ao orçamento do Estado, com
adoção de inúmeros programas voltados à inclusão social, à criação de empregos
e à elevação da renda, esse modelo perdeu força com a crise internacional, a
convivência com altas taxas de juros que sangravam o Tesouro e a excessiva
valorização cambial.
A
manutenção do ritmo de expansão do mercado interno, alicerçada nos gastos e
investimentos públicos, passou a depender de reformas que diminuíssem
transferências financeiras para os grupos privados, ajudassem a recompor o
equilíbrio fiscal com a tributação dos mais ricos e desmontassem o oligopólio
dos bancos, entre outras medidas que possibilitassem recursos para o Estado
aprofundar políticas de desenvolvimento com distribuição de renda. Não se
tratava simplesmente de reordenamentos orçamentários, mas de um novo ciclo
programático que 7 radicalizaria a disputa de projetos na sociedade.
O
governo da presidenta Dilma Rousseff, em seu primeiro ano, optou por realizar
um forte contingenciamento de despesas e investimentos, ao mesmo tempo em que
elevava a taxa de juros. O crescimento do PIB, que havia sido de 7,8% em 2010,
cai para 4,0% em 2011 e 2,0% em 2012. Diante destes resultados negativos, o BC
derruba a taxa de juros e a União franqueia subsídios às empresas, através de
desonerações fiscais, em uma política que atingiria seu ápice em 2014. Apesar
de novo ciclo de elevação da taxa de juros, o PIB cresce 3,5% em 2013, mas
despenca para 0,2% em 2014. A tentativa de contornar reformas estruturais,
através de fortes incentivos ao investimento privado, tinha conseguido
preservar o emprego, mas não relançou a economia.
Diante
da crise, o país foi colocado em uma encruzilhada: acelerar o programa
distributivista, como havia sido defendido na campanha da reeleição
presidencial, ou aceitar a agenda do grande capital, adotando medidas de austeridade
sobre o setor público, os direitos sociais e a demanda, mais uma vez na
perspectiva de retomada dos investimentos privados. O governo enveredou pela
segunda via.
O
ajuste fiscal, além de intensificar a tendência recessiva, foi destrutivo sobre
a base social petista, gerando confusão e desânimo nos trabalhadores, na
juventude e na intelectualidade progressista, entre os quais se disseminou a
sensação, estimulada pelos monopólios da comunicação, de estelionato eleitoral.
A popularidade da presidenta rapidamente despencou. As forças conservadoras
sentiram-se animadas para buscar a hegemonia nas ruas, pela primeira vez desde
as semanas que antecederam o golpe militar de 1964.
O
enfraquecimento da esquerda, nos meses seguintes à vitória apertada no segundo
turno de 2014, rapidamente alterou a correlação de forças no país, dentro e
fora das instituições. A direita retomou a ofensiva. As frações de centro,
assistindo à rejeição do governo na opinião pública, começaram a se afastar da
coalizão presidencial, deslocando-se para uma aliança conservadora que impôs
seguidas derrotas parlamentares à administração federal. 8
Em
que pese o alerta emitido pelo 5º. Congresso do PT, realizado em junho de 2015,
- e o debate interno que se seguiu - de que era indispensável mudar a política
econômica para recuperar apoio político e social, o governo prosseguiu no rumo
que havia escolhido, levando ao agravamento das dificuldades. No documento “O
futuro está na retomada das mudanças”, em fevereiro desse ano, a direção nacional
do PT deixou claro que não seria possível conter a escalada reacionária sem
expressivas alterações programáticas. O fato é que o golpismo, velozmente,
criava condições para avançar, aglutinando apoio parlamentar e suporte social.
A
aceitação do pedido de impeachment, no início de dezembro, depois que o PT
rechaçou as chantagens do deputado Eduardo Cunha, serviu de alento à
resistência democrática, que vinha acumulando forças desde março. Nos cinco
meses que antecederam a abertura de processo contra a presidenta da República,
centenas de milhares se colocaram em movimento por todo o país. Foram
realizadas enormes concentrações populares, além de outras iniciativas que
contagiaram amplos setores antigolpistas, incluindo homens e mulheres críticos
ao governo.
Esta
mobilização, capitaneada pela Frente Brasil Popular, na maioria das vezes em
aliança com a Frente Povo Sem Medo, que contou com a forte participação do PT
em todo o pais, em consonância com a resolução do nosso 5º. Congresso,
estimulou a reunificação do campo de esquerda e arregimentou vozes democráticas
de diversos matizes. Ainda que tenha sido insuficiente, por ora, para reverter
a correlação de forças, permitiu que o bloco progressista recuperasse
protagonismo e o mantivesse mesmo após a deflagração do julgamento
presidencial.
O
centro tático para este novo período -- sob a palavra de ordem “Não ao golpe,
fora Temer” --, deve ser a derrocada do governo ilegítimo que usurpou o poder e
rompeu o pacto democrático da Constituição de 1988. Devemos combinar todos os
tipos de ação massiva e combate parlamentar para inviabilizar suas medidas
antipopulares, denunciar seu caráter ilegal e impedir sua consolidação no
comando do Estado. Assume grande relevância ainda a continuidade da ação de
articulações internacionais, que no último período já foram fundamentais para a
denúncia do golpe em curso. 9
Deter
o Golpe é possível, urgente e necessário. São partes essenciais deste objetivo
negar legitimidade ao governo ilegítimo de Temer; fazer a defesa política da
presidenta Dilma e do legado dos nossos governos; defender o presidente Lula
dos ataques midiáticos e judiciais que contra ele se levantam; manter a
mobilização popular em alto nível; ampliar para setores da sociedade críticos
aos nossos governos o diálogo em torno de uma agenda democrática e popular para
o país; lutar pela absolvição da presidenta Dilma dos crimes que lhe são
injustamente imputados no Congresso Nacional, no Judiciário e junto aos
organismos da comunidade internacional.
O
desfecho mais próximo deste processo, que implica luta continuada e
mobilizações, está na absolvição da presidenta Dilma Rousseff e seu retorno às
funções para as quais o povo a elegeu. Esse é o único resultado do julgamento
capaz de reconduzir o país ao domínio constitucional e à ordem democrática.
Derrotado
o golpe, a presidenta Dilma Rousseff deverá apresentar seu compromisso público
com uma ampla reforma política e medidas capazes de retomar o desenvolvimento,
a distribuição de renda e a geração de empregos.
O
Partido dos Trabalhadores propõe que a presidenta Dilma Rousseff apresente
rapidamente um compromisso público sobre o rumo de seu governo depois de
derrotado o golpismo, defendendo uma ampla reforma política e medidas capazes
de retomar o desenvolvimento, a distribuição de renda e a geração de empregos.
Não
reconhecemos o governo ilegítimo de Temer. Contra ele faremos total oposição e
lutaremos até o fim nas ruas e nas instituições para derrotá-lo. Não há
oposição moderada ou conciliação possível com um governo resultado de um golpe.
As bancadas parlamentares do PT seguirão em combativa oposição a Temer no
Congresso Nacional e ao seu programa neoliberal. Com os trabalhadores do campo
e da cidade, a CUT, a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo lutaremos contra
o governo golpista e sua agenda de retrocesso de direitos e liberdades 10
democráticas, redução dos salários, privatizações e criminalização das lutas
sociais.
Sem
abdicar de nossa identidade partidária e de nossas bandeiras, é fundamental, na
luta de resistência, atuarmos em conjunto com a Frente Brasil Popular, com a
Frente Povo Sem Medo e outras organizações dispostas a formar uma articulação
unitária em defesa da democracia.
Mais
que instrumento de mobilização, a FBP pode se desenvolver como espaço
estratégico para todas as forças progressistas, a partir de um programa comum e
regras plurais de participação, que abram caminho para sua consolidação.
Orientamos toda a militância petista a se incorporar aos coletivos da Frente,
impulsionando a criação de comitês e núcleos nos locais de moradia, estudo e
trabalho, sempre com o cuidado de incentivar a unidade e a cooperação com
ativistas das mais distintas correntes e movimentos.
Brasília, 17 de maio de 2016
Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores
Em
entrevista pelo lançamento do segundo volume de “Diários da Presidência”, o
ex-presidente FH disse que o Legislativo não pode “montar no cangote” de Temer
e que o novo líder do governo, imposto por Eduardo Cunha, é “insustentável”
‘Não
pode deixar o Legislativo montar no cangote do Executivo’
•
Ex-presidente classifica de ‘insustentável’ escolha do novo líder do governo; e
diz que PSDB não pode ser confundido com o partido do poder
Silvia Amorim
- O Globo
SÃO PAULO- Na semana em que o presidente
interino Michel Temer cedeu à pressão de pequenos partidos da Câmara para
nomear um deputado réu em ações penais como líder do governo, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso disse em entrevista para falar de seu novo livro
“Diários da Presidência - 1997 a 1998" que um presidente “não pode deixar
o Legislativo montar no cangote do Executivo”.
• No livro, o sr. fala da aprovação da
reeleição, denúncias de compra de voto, crises internacionais e a eleição. Foi
o período mais difícil da sua gestão?
1998 foi o mais difícil e 1999 também. Tinha
a crise da Rússia, a situação econômica piorava gradativamente e tínhamos
eleição. Havia muita gritaria sobre desemprego e muita pressão política.
• O sr. disse ao GLOBO que ministro que se
tornar réu tem que ser afastado. Nesta semana, Temer nomeou para líder do
governo na Câmara o deputado André Moura (PSC-SE), que é réu em três ações
penais, e o PSDB não se opôs.
(A nomeação) é insustentável. Eu não
acompanhei, mas reclamaria.
• Na negociação com o PMDB para nomear Eliseu
Padilha (atual titular da Casa Civil) como seu ministro, o sr. diz no livro que
a pressão estava “cheirando mal”. O que quis dizer?
Eu não tinha nada contra o Padilha. O
problema era a forma. Era um “tem que ser, tem que ser’’. Não gostei. Você não
pode deixar o Legislativo montar no cangote do Executivo, porque este corcoveia
e tem que se equilibrar senão cai.
• É a situação do Temer?
Não. Ele está tentando manter os partidos
agrupados porque tem votação de impeachment. Ele não tem outra alternativa
porque precisa do Congresso mais do que eu e o Lula precisamos. Mudou a pessoa
lá de cima mas o sistema político não foi quebrado.
• Temer tem força e disposição para uma reforma
política?
Espero que sim. Mas não podemos esquecer que
é um governo de transição. Para levar adiante muitas das transformações
necessárias é preciso alguém com voto, força e agenda.
• Após 13 anos o PSDB deixa de ser oposição,
mas sem ser governo. O sr. já disse “esse governo não é nosso”. Essa crise de
identidade não pode levar a uma perda de protagonismo dos tucanos na eleição?
Esse é um ponto delicado porque até hoje o
jogo partidário no Brasil se deu entre PT e PSDB. Agora o PMDB começa a querer
entrar. Ou o PSDB volta a afirmar alguns propósitos programáticos ou ele vai
ser confundido com o partido do poder. É uma operação delicada porque o PSDB
não pode deixar de ajudar a transição e tem que olhar a sucessão de 2018. Nesse
momento estamos com muitas dúvidas sobre quais vão ser os polos aglutinadores
do futuro.
• Não tende a ser PT e PMDB?
Isso vai depender da capacidade do PSDB de
ter um projeto. O que não pode deixar é se dissolver no marasmo da política do
toma la dá cá. Não importa o que digam, é melhor estar em cima do muro do que
cair na lama.
• Quais mudanças defende para a Previdência?
Defendo que para algumas categorias de
trabalhadores haja uma idade mínima menor para a aposentadoria. Agora, é
irracional mulher se aposentar mais cedo se vive mais do que o homem. Não
acredito que uma reforma completa que atenda às finanças vai ser aprovada.
‘Se o governo for para o lado
errado, PSDB sai’, diz FHC
• Ex-presidente, que lança segundo
volume de ‘Diários’, diz que Serra se fortalece para uma nova candidatura ao
Planalto
Pedro Venceslau e Tonia Machado
- O Estado de S. Paulo
O
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso avalia que o tucano José Serra, atual
ministro das Relações Exteriores, se fortaleceu rumo a uma candidatura à
Presidência em 2018. “Serra foi lá, tomou posição e se projetou. Ele ganhou
mais força. Mas 2018 ainda está longe.”
No
segundo volume de seu Diários da Presidência, que será lançado na próxima
semana, FHC comenta a relação com o PMDB em seu governo. Em entrevista ao
Estado, ele chama de “mito” o caso da compra de votos pela PEC da reeleição,
que também é abordado no livro. Com o PSDB na base da gestão peemedebista de
Michel Temer, FHC vê o sinais se inverterem e diz que o tucanos podem deixar o
governo se ele “for para o lado errado”.
•
O PMDB sempre pressionou os governos por cargos. Temer será pressionado pelos
tucanos?
O
PSDB tem três ministérios, mas muitos partidos da base atual já estavam antes
no governo e estão aumentando sua participação. O PSDB vai ficar um pouco
nervoso com isso. Relativamente, o partido vai ficar com muito menos que os
outros. Mas não acho que o PSDB vai recuperar poder simplesmente tendo cargos
no governo. Poder se recupera com mensagem. Se o governo for para um caminho
que achamos errado, então o PSDB sai. O governo é destino inevitável para quem
participa do atraso. Se o PSDB se confundir inteiramente com a política, ele
vai ter problemas. Isso vale para o governo. O presidente Temer tem que
negociar com o Congresso, mas ter cuidado e explicar isso para a sociedade.
•
O sr. diz no livro que a pressão do PMDB por cargos cheirava mal. Por quê?
Havia
muita pressão, sobretudo sobre o Sérgio Motta (ex-ministro das Comunicações).
Brigavam muito com ele. Falei nesse sentido. Queriam me impor e eu não queria
isso. O que eu crítico é o estilo do ‘tem que dar’.
•
O sr. aborda no livro a suspeita de compra de votos para a emenda da reeleição,
em 1997. A posse do Eliseu Padilha e do Iris Rezende, ambos do PMDB, no seu
governo aconteceu logo depois da aprovação da PEC...
Mas
não há nenhuma relação, pois eles eram todos favoráveis. A PEC da reeleição no
Senado foi uma barbada: 80% a favor. Criaram um mito, que é a compra de votos.
Houve acusações. Dois denunciaram. Mas quando a informação chegou a mim, eu
disse para cassar logo o mandato. Não tínhamos nada a ver com aquele negócio.
Não precisava. Todos os editoriais de jornais eram a favor. E as pesquisas
idem. Os que eram contra eram candidatos à Presidência: o Maluf e o Lula. Eu
custei a aceitar a ideia de reeleição para mim. Tinha muitas dúvidas se valia a
pena. É muito duro governar.
•
No primeiro volume, o sr. diz que Temer era um político “dos mais discretos”,
mas também tinha seus interesses...
Sim,
como todos os políticos. Isso é uma coisa que as pessoas precisam entender. Ele
(Temer) até me telefonou dizendo que não se lembrava do episódio que o Luís
Carlos Santos me pediu (uma nomeação). Mas isso é uma coisa normal. É do jogo
partidário. Todos fazem negociação.
•
Por que o sr. resistiu a nomear o Padilha?
Era
um bom rapaz, mas eu não gostava da maneira que eles estavam pressionando.
•
O José Serra estava em uma posição periférica no PSDB em relação ao Geraldo
Alckmin e ao Aécio Neves que, como ele, pretendem disputar a Presidência em
2018. Agora que está no Itamaraty, ele ganhou mais força para ser o candidato
tucano?
A
medir pelas semanas iniciais, sim. Ele tomou posição. Eu sempre digo que o
problema dos nossos partidos é não tomar partido. Serra foi lá, tomou posição e
se projetou. Ele ganhou mais força. Mas 2018 ainda está longe.
•
Na posse no ministério, Serra disse que a política externa do governo anterior
seguia a ideologia de um partido. Concorda?
A
política externa anterior não era tão diferente do que foi a minha. Alguns
analistas mostram que a diferença era mais de tom. Mas eles (Lula e Dilma)
criaram uma rede partidária (nas relações internacionais). Por isso houve perda
de espaço para o Brasil na América Latina e a predominância do chavismo.
•
A OEA criticou o processo do impeachment. O que achou?
O
secretário-geral da OEA diz que houve golpe. A Unasul também. Isso é um dano
para o Brasil e deve ser recuperado.
•
O que achou da repercussão internacional negativa sobre o impeachment em
veículos de imprensa como o New York Times?
O
PT criou uma narrativa do golpe que pega mais lá fora do que aqui dentro. Para
os objetivos deles, esse discurso foi bom, mas não se sustenta com o tempo.
Essa é uma narrativa que confunde, pois ela é fácil e não precisa explicar
muito. Você viu o que houve no Festival de Cannes? Aquilo repercutiu
momentaneamente, mas a presidente está na casa dela (no Palácio da Alvorada).
Dilma ainda será Presidente da República até que o Senado vote a decisão final.
São precisos 3/5 dos votos para sair em definitivo. É muito difícil. Por que o NYT
fez isso? Porque a Constituição dos EUA é diferente da brasileira. Nos EUA o
perjúrio dá impeachment e ela não cometeu perjúrio, mas cometeu crime de
responsabilidade
•
Parte do PSDB acha que Dilma não poderia continuar morando no Alvorada nesse
período de 180 dias. Qual a sua opinião?
Ela
deve ficar lá. Dilma é presidente até que o Senado decida o contrário. Essa
visão é mesquinha. Ela merece pessoalmente o meu respeito.
•
Esse centrão que está se formando no Congresso pode levar o PSDB a ser coadjuvante?
Ou
o contrário. O PSDB pode ser opor a isso. O PT e o PSDB tiveram uma polarização
desnecessária. Por razões eleitorais o PT achou que o inimigo era o PSDB e
nenhum dos dois foi majoritário no Congresso. Ambos tivemos que conviver com o
atraso. Com Temer é a mesma coisa.
•
O sr. fala no livro de um encontro com o Lula em 1998 no qual ele foi
apresentar uma agenda. No final o sr. parecia animado...
Foi
meio escondido. O Lula pessoalmente sempre foi mais aberto que o PT. Mas
estranhamente o Lula, que foi oito anos presidente, me telefonou apenas uma vez
(no governo dele) e foi para me convidar para o enterro do Papa (João Paulo
II). Não tomei nem um café com ele. Minha atitude foi muito diferente. Ofereci
uma casa para ele na transição, a Granja do Torto. Comi um churrasco com ele
lá.
•
Foi um erro do Temer montar um ministério só de homens brancos e sem mulheres?
Era
melhor ter (mulheres). Os problemas identitários são cada vez mais presentes na
agenda política contemporânea. É importante ter mulheres, negros e jovens. Mas
não se pode pedir para um governo feito às pressas que tudo seja atendido. O
sistema político, partidário e sindical é machista.
•
A bancada do PSDB se colocou contra a recriação da CPMF e os tucanos não
aprovam a criação de novos impostos. Será o primeiro confronto com Temer?
A
CPMF ajuda a controlar o sistema financeiro. Algum imposto o governo terá que
aumentar, pois o déficit é enorme. A arrecadação caiu e continuará caindo
porque a economia não retoma.
•
Há um debate no governo sobre se a reforma da Previdência valeria para quem já
está no mercado de Trabalho ou só para quem vai entrar. O que o acha?
É
lastimável que não tenham aprovado no meu tempo. Perdemos por um voto a idade
mínima. Quando você olha a pirâmide etária e a questão da Previdência, é lógico
que precisa trabalhar mais tempo. Quando perdemos a idade mínima, criamos o
fator previdenciário. Derrubaram duas vezes e refizeram. Não tem como não
fazer. O PSDB errou ao apoiar.
•
Em São Paulo, Alckmin apoiou João Doria nas prévias da capital e isso causou um
racha. O sr vai subir no palanque dele?
Nunca
subi em palanque nenhum, nem quando era presidente. Fui favorável à (pré)
candidatura do Andrea (Matarazzo) e pedi ao governador que mantivesse a
neutralidade Ele insiste que não tomou partido, mas parece que tomou. Se tomou,
criou um problema para ele mesmo. Eu disse para o Andrea não sair (do PSDB) e
esperar a convenção. Se ele saiu, não posso apoiar quem está fora, A lei não
permite. A situação é delicada.
Ricardo Balthazar
– Folha de S. Paulo
SÃO
PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acha que o desempenho do
presidente interino, Michel Temer, nos próximos meses será crucial para
determinar se o PMDB terá condições de liderar o país à frente de um novo bloco
de poder, como petistas e tucanos fizeram antes dele.
Para
o líder do PSDB, a recessão na economia e a fragmentação política do Congresso
limitam as possibilidades do novo governo, e o futuro do PMDB dependerá da
maneira como Temer lidar com essas dificuldades.
"Ele
pode dar sinais para a economia, mas vai demorar para colher o fruto", diz
FHC, que lança na próxima semana o segundo volume do seu "Diários da
Presidência" (ed. Companhia das Letras), com memórias do biênio 1997-98.
Na
opinião do ex-presidente, o PMDB "tem capacidade para fazer o Estado
funcionar", mas ainda não demonstrou "capacidade de apontar o
rumo" para o país, como ele explica na entrevista a seguir.
Fernando
Henrique comentou ainda as denúncias de compra de votos para aprovar a emenda
constitucional que permitiu sua reeleição em 1998.
•
Folha - Ao descrever pressões que recebia do PMDB por cargos em seu governo, o
sr. diz a certa altura dos seus diários que elas estavam "cheirando
mal". Qual era o problema?
Fernando
Henrique Cardoso - Eu fiquei irritado com a pressão, que achei muito
grande, desproporcional. Queria manter a autonomia de escolha do presidente
frente aos candidatos, aos partidos. Consegui no primeiro mandato,
relativamente.
•
É mais difícil para Temer lidar com esse tipo de pressão?
Eu
tinha mais força pessoal, e legitimidade, porque fui eleito. Segundo, eu tinha
uma agenda, um objetivo que justificasse a aliança política. A grande diferença
é que não havia um sistema partidário tão fragmentado como o atual. E você podia
fazer uma maioria um pouco mais consistente no Congresso. Essa fragmentação vai
continuar.
•
Como isso afetará o governo?
A
nomeação do novo líder na Câmara [André Moura (PSC-SE), réu no Supremo Tribunal
Federal] é fruto disso. PSDB e PT foram os dois partidos que até aqui
conseguiram liderar o processo político sem ter maioria, com apoio do PMDB. A
maioria sempre foi formada por uma massa useira e vezeira em utilizar o
aparelho do Estado, como esse novo centrão de que estão falando agora.
•
O PMDB é diferente?
O
PMDB não é isso. É um partido que tem capacidade para fazer o Estado funcionar.
Agora está tentando ter uma certa capacidade de apontar o rumo. Fizeram um
programa [o documento "Uma Ponte para o Futuro"]. É uma novidade,
porque implicaria na transformação do PMDB em um partido com aspiração para
liderar o país.
•
Acha o projeto viável, diante da composição do novo governo e de seus primeiros
passos?
Este
governo nasceu por decisão do Congresso, de acordo com a Constituição. Temer
foi eleito como vice, tem legalidade. Mas não tem apoio [popular]. Não pode
descuidar desse ponto de partida, porque o processo de impeachment ainda não
acabou. Tem que ser cuidadoso, inclusive nas nomeações. Ele é mais amarrado a
essas circunstâncias do que eu era, ou do que [o ex-presidente] Lula.
•
Significa que o novo governo também ficará paralisado?
Vai
depender do que ele fizer com a crise econômica e a crise moral. Ele precisa
emitir sinais de que levará o país a um caminho melhor na economia e que dará
prestígio à Operação Lava Jato. Ele não terá tempo de resolver os problemas da
segurança, da educação, da saúde, do transporte. Pode dar sinais para a
economia e a infraestrutura, mas vai demorar para colher o fruto. Você não pode
cobrar deste governo o que ele não pode dar. É um governo de transição. Se ele
chegar a 2018 começando a botar em ordem esses pontos, é o que historicamente
precisa fazer.
•
As pessoas que apoiaram o impeachment pensando que as coisas iam mudar no dia
seguinte não ficarão frustradas?
A
população é suficientemente realista para não pedir o impossível. Ela não saiu
na rua gritando: "Viva Temer". Saiu gritando: "Fora,
Dilma". As pessoas não têm uma expectativa tão elevada assim para se
sentirem frustradas.
•
O que achou do ministério?
Eles
são bons operadores políticos. Na economia, montaram uma equipe consistente.
Não sei dizer como é a capacidade gerencial dos vários ministérios, porque não
conheço. Mas não acho que se possa dizer que está tudo perdido logo na partida.
A situação é que é muito difícil.
•
Temer terá condições de fazer a reforma da Previdência?
Vão
chorar por não terem ajudado a aprovar lá atrás no meu governo, quando a idade
mínima para as aposentadorias caiu por um voto. Talvez já exista maturidade
para obter algum avanço. O motor da reforma tem que ser a busca de um sistema
mais equânime, que pode trazer uma situação fiscal melhor como consequência.
Não podem dizer que estão fazendo isso só porque o Tesouro está mal.
•
O novo governo representa uma guinada conservadora?
Ele
nasceu no Congresso, e o Congresso hoje é mais conservador, porque a sociedade
ficou mais conservadora. É importante para o PSDB não entrar nessa. Temos que
ser sociais-democratas nas relações entre sociedade, mercado e Estado, e
liberais no comportamento, aceitando a diversidade. Mas a sociedade não pensa
assim, e tem que dar a batalha nesse sentido.
•
Com três ministros e ex-integrantes do seu governo no comando do Banco Central,
da Petrobras e do BNDES, os tucanos têm como se dissociar do governo se algo
der errado?
O
partido está comprometido, mas não é o núcleo do poder. O poder é do PMDB, que
legitimamente vai buscar protagonismo. Vai querer ser o motor do próximo passo.
Por enquanto, tínhamos PT e PSDB. Agora, talvez o PMDB queira. Vai depender de
quem tiverem na eleição [presidencial de 2018]. Tudo passa pelo personagem,
quem é o candidato, como é que fala, se vai captar o sentimento do futuro...
Sabe Deus.
É
uma história bem triste: lá estavam eles, os épicos petistas, empenhados em
salvar o povo brasileiro da opressão quando, não mais que de repente, “eles”
chegaram e “contaminaram” o PT com o “financiamento empresarial de campanhas”
por meio do qual “as classes dominantes se articulam com o Estado”. Embora
tenham, supõe-se, resistido bravamente, os petistas acabaram “envolvidos em
práticas de partidos tradicionais”.
Parece
piada, mas é exatamente esse o estapafúrdio argumento central da “autocrítica”
feita pelos dirigentes nacionais do PT, na qual admitiram erros na condução da
economia, todos eles atribuídos a Dilma Rousseff.
O
presidente do partido, Rui Falcão, fez questão de explicar que o PT não está
“pedindo desculpas nem fulanizando avaliações”, mas admite: “Pontuamos como
autocrítica, por exemplo, o fato de tardarmos a reconhecer que havia um
esgotamento da política de desenvolvimento que imprimimos”. Mas a direção
nacional petista, fingindo acreditar que Dilma Rousseff voltará a exercer a
Presidência da República, deixou claro, no documento que serviu de base para
discussão no encontro, que a responsabilidade pelo “erro” é toda dela: “O
Partido dos Trabalhadores propõe que a presidenta Dilma Rousseff apresente
rapidamente um compromisso público sobre o rumo de seu governo, depois de
derrotado o golpismo, defendendo uma ampla reforma política e medidas capazes
de retomar o desenvolvimento, a distribuição de renda e a geração de empregos”.
Quanto
à “ampla reforma política”, Falcão não se deu ao trabalho de explicar por que o
PT não moveu uma palha para promovê-la nos 13 anos em que ocupou o poder,
embora a explicação pareça implícita na admissão do fato de que o partido foi
“contaminado” e preferiu dedicar-se a usufruir os benefícios da corrupção que
instituiu como método de cooptação política e de fundamento da
“governabilidade”.
Quanto
à economia, o documento petista persevera no voluntarismo – ou caradurismo –
que é a principal característica de seu populismo irresponsável.
Propõe
para o triunfante regresso de Dilma a demagógica obviedade de “medidas capazes
de retomar o desenvolvimento, a distribuição de renda e a geração de empregos”,
como se essas medidas pudessem se concretizar pela simples vontade dos
governantes. Ora, o desenvolvimento econômico é desejado por todo mundo, não
apenas pelos petistas. Mas foi a incompetência e teimosia do governo do PT que
resultaram não no desejado desenvolvimento, mas em retração econômica, com suas
graves consequências sociais. Essa tragédia é produto da absoluta inépcia
administrativa do lulopetismo, aliada à espoliação sistemática do Tesouro e dos
recursos da Nação.
A
distribuição de renda de que falam os lulopetistas é outra empulhação
paternalista, porque, por razões eleitorais, querem fazer o povo acreditar que
se trata da ação unilateral de um governo generosamente disposto a “distribuir”
dinheiro do próprio bolso – como se esse dinheiro não fosse de todos –,
escamoteando o fato de que a verdadeira distribuição de renda é o justo
compartilhamento, por toda a sociedade, da riqueza que ela própria cria. Bolsa
Família, por exemplo, não é distribuição de renda. É medida governamental de
emergência destinada a atender carências básicas.
Finalmente,
“geração de emprego”, condição indispensável ao crescimento econômico e ao
desenvolvimento social, é uma expressão que hoje o PT deveria ter vergonha de
mencionar, já que os cerca de 14 milhões de brasileiros evidenciam o retumbante
fracasso de sua “nova matriz econômica”.
Afastado
do poder como consequência dos crimes de responsabilidade de que Dilma Rousseff
é acusada, e também porque se demonstrou incapaz de abrir para os brasileiros
as portas do prometido Paraíso, o PT preocupa-se agora exclusivamente com sua
sobrevivência política. Dividido, não consegue definir a melhor estratégia para
recuperar o prestígio perdido. Muitos petistas, como Lula, pensam em “voltar às
raízes” e reencetar a luta por um “governo popular”. Não será tarefa fácil,
porque perdeu a identidade, a credibilidade e o poder de garantir o apoio de
movimentos “de esquerda” mantidos com verbas públicas. Foi no que deu ter-se
deixado “contaminar”, não pelas “classes dominantes”, mas pelo embuste e pela
corrupção.
• Documento do diretório nacional
do partido lamenta não ter controlado as cúpulas da PF, do Ministério Público e
mudado os currículos das academias militares
O
documento “Resolução sobre conjuntura”, aprovado pelo diretório do PT no início
da semana, é prova cabal da validade do provérbio “o papel aceita tudo”.
Escrito numa linguagem de militância revolucionária das décadas de 60 e 70, o
texto trata de um país imaginário chamado Brasil, em que houve um “golpe”,
desfechado pelo imperialismo internacional com apoio da burguesia doméstica,
“as classes dominantes”, e pelos “monopólios da informação”, diante do qual é
preciso resistir.
Assim
como a literatura de cordel tem uma linguagem própria — guardadas as
diferenças, a favor do cordel —, com este tipo de texto de panfleto de doutrina
acontece o mesmo. Mas chama a atenção que, no documento, o PT assuma de forma
escancarada o aparelhamento do Estado, para colocá-lo a serviço de um projeto
de poder nada democrático e republicano.
Ao
fazer autocrítica, o PT se penitencia por haver priorizado o “pacto
pluriclassista” na eleição de Lula — ele deseja um governo uniclassista, só dos
trabalhadores; impossível, se for pelo voto. E lamenta, por outras palavras,
ter sido ineficiente na infiltração nos organismos de Estado.
Considera-se
descuidado com as estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério
Público Federal, assim como por não ter modificado “os currículos das academias
militares”, nem promovido “oficiais com compromisso democrático e
nacionalista”. Tampouco fortalecido “a ala mais avançada do Itamaraty”, e por
não ter redimensionado ‘‘sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias
para os monopólios da comunicação”. (Desconhecem que é ínfima a parcela desta
publicidade na receita que financia o jornalismo profissional.)
Não
que tenha caído a máscara do partido; afinal a verdadeira face do projeto
lulopetista nunca esteve completamente oculta. Mas chega a ser um registro
histórico um documento em que o diretório nacional do partido assume sua faceta
— esta sim — golpista. Várias iniciativas, desde o primeiro governo Lula,
expuseram o real sentido do projeto lulopetista. Um exemplo é a Agência
Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), esculpida no MinC de Gilberto
Gil e Juca Ferreira com a intenção de controlar o conteúdo do setor.
Diante
da previsível grita, houve recuo. O mesmo aconteceu no projeto do Conselho
Federal dos Jornalistas, também com intenções intervencionistas: patrulhar
profissionais nas redações e puni-los com base em algum “código de ética”.
Houve
mais casos. Importa é entender, de uma vez por todas, que este é um projeto que
pretende instalar no Brasil um regime bolivariano. Não conseguiu, nem
conseguirá, diante da demonstração de solidez das instituições republicanas.
O
PT deveria aproveitar que escancarou o projeto em documento, para passar a
defende-lo abertamente e colocá-lo sob o teste das urnas. Só assim terá alguma
chance de se defender da acusação de ser o verdadeiro golpista.
Laços
Em
decisão ousada, tucano expõe publicamente suas perplexidades, assombros e
indecisões no exercício da presidência. Leia trechos do primeiro volume dos
"Diários da Presidência", que cobre os anos de 1995 e 1996
20/10/2015
às 21:13 - Atualizado em 20/10/2015 às 23:12
Fernando Henrique Cardoso, no
primeiro aniversário do Real, em julho de 1995: tucano descobre o isolamento
que todo primeiro mandatário diz ter vivido, mas que só quem chega ao topo
experimenta na própria pele(Lula Marques/Folhapress)
Convencido
por Luiz Schwarz, seu editor, e por João Moreira Salles, cineasta, roteirista e
jornalista, Fernando Henrique Cardoso decidiu publicar ainda em vida o que
planejou ser suas memórias póstumas, registradas em gravações ao fim de cada
dia de trabalho nos oito anos em que presidiu o Brasil (1995 a 2002). Divididas
em quatro volumes, as gravações estão sendo editadas pela Companhia das Letras
sob o título de Diários da Presidência. O primeiro dos quatro volumes, que
cobre o período de 1995 a 1996, chegará às livrarias brasileiras a partir de 29
de outubro.
As
revelações contidas nas 929 páginas do primeiro volume atestam, antes de
qualquer coisa, uma grande ousadia. São poucos os líderes políticos que, como
decidiu fazer FHC, tiveram arrojo suficiente para expor publicamente suas
perplexidades, assombros e indecisões no exercício do cargo - emoções que ele,
originalmente, imaginou serem conhecidas só depois de sua morte.
Nos Diários da Presidência, FHC julga os homens e mulheres de seu tempo.
Mas, principalmente, dá todos os subsídios que faltavam para que ele e seu
governo sejam julgados.
Os
dois primeiros anos de FHC no Palácio do Planalto são marcados, principalmente,
pelo esforço para consolidar o Plano Real, com que debelara a hiperinflação
como ministro da Fazenda de Itamar Franco, que o precedeu na presidência. A
inflação brasileira parecia ser invencível, tendo derrotado impiedosamente
quase uma dezena de planos heterodoxos e ortodoxos anteriores. O feito de FHC
na Fazenda fora extraordinário. Tão extraordinário que se dizia, com o
aulicismo que FHC, com razão, despertava entre tantos, que ele foi um presidente
"que fez seu antecessor".
Foram
dois anos de descobertas. FHC descobriu que a presidência podia ser frustrante
a ponto do dia a dia ser "desesperador" e a luta política interna de
tal forma desprovida de princípios que ele se sentia cercado de "chantagens
por todos os lados". Descobriu também o "isolamento" que todo
primeiro mandatário diz ter vivido, mas que só quem chega ao topo experimenta
na própria pele. Descobriu que, muitas vezes, é mais complexo e difícil lidar
com os amigos do que com os inimigos. Teoricamente seu grande aliado, Antônio
Carlos Magalhães, governador da Bahia, agia como um vice-rei atrabiliário que,
inconformado com a proeminência de FHC no campo de atuação dele, a política,
vivia tentando roubar a cena, alimentando jornalistas amigos com
"dossiês" ou dando entrevistas em termos grosseiros que,
curiosamente, nunca utilizava contra adversários. Em uma dessas entrevistas,
FHC registrou nas gravações, Antônio Carlos chamou "de marginais os
diretores do Banco Central".
FHC
descobriu logo que "imprensa é imprensa" -- ou seja, os jornalistas
decidem o que acham ser mais importante publicar e nem sempre isso coincide com
a opinião do presidente ou do governo, por melhor avaliados ou populares que
sejam. FHC não se conforma com reportagens que considera injustas com ele e seu
governo. Reclama com os jornalistas, diz que eles "exageram,
distorcem", agem assim por competição com os concorrentes. Reclama com os
donos de jornais, televisões e revista, diz-se "indignado", mas
"aguenta firme". Nesse particular, é notável que, por mais abalado ou
ofendido que tenha se sentido por alguma reportagem jornalística, em nenhum
momento, passa-lhe pela mente qualquer pensamento de controle ou de limitação
da liberdade de expressão. "Imprensa é imprensa".
Em
maio de 2016, sai o segundo volume dos "Diários da Presidência" com
as revelações de FHC sobre os eventos de 1997 e 1998 - período mais turbulento,
em que enfrentou crises políticas e econômicas ainda mais graves, com a mudança
da Constituição para que ele pudesse disputar a reeleição - o que fez, vencendo
Lula no primeiro turno. Foi o biênio em que, paradoxalmente, a população
brasileira sentia com mais força os efeitos positivos da vitória contra a
hiperinflação, enquanto o Plano Real perdia as condições de manter o câmbio
fixo, um de seus sustentáculos até então, e o governo rumava para quatro anos
de travessia, mantendo a economia equilibrada e a inflação sob controle sem a
ajuda da "âncora cambial".
Leia
abaixo trechos do Volume 1 dos Diários da Presidência de Fernando Henrique
Cardoso -- 1995-1996:
"...saiu
na VEJA uma matéria do Marcelo (Rubens) Paiva sobre o desaparecimento de Rubens
Paiva, citando frases minhas sobre seu pai, pessoa por quem sempre tive enorme
amizade e admiração. O rapaz tem razão, o pai for morto, ninguém assumiu , eles
estão me cobrando...O fato de os argentinos terem reconhecido a culpa talvez
nos leve a ter alguma margem de manobra na área militar para discutir essa
delicadíssima questão, mas não posso deixar de dar uma atenção ao reclamo das
famílias dos desaparecidos, até porque esses desaparecimentos foram uma coisa
abominável". (Maio de 1995)
"Zé
Serra ( senador José Serra, do PSDB de São Paulo) concordou comigo na tese de
que o nosso erro é assumirmos o papel que a imprensa prescreve para nós. Em vez
de observar o que os atores estão fazendo, a imprensa fica tentando escrever o
script" (junho de 1995)
"À
noite fui ao teatro ver um grupo de franceses que são mímicos extraordinários
(grupo de Jerôme Deschamps, no Teatro Anchieta do Sesc Consolação, em São
Paulo) e lá encontrei o Roberto Civita (presidente do Grupo Abril, que edita
VEJA). Achei-o meio sem graça, et pour cause que a VEJA tem sido
infame". (A anotação é de setembro de 1996. FHC não diz por que VEJA
estaria sendo "infame", mas a revista acabara de publicar uma
reportagem sobre a vitória do candidato malufista Celso Pitta à prefeitura de
São Paulo, em que opinava ter sido em parte culpa do Palácio do Planalto o fato
de o candidato tucano José Serra ter ficado com apenas 15% dos votos. A opinião
da revista foi apenas equivocada, mas pareceu infame aos olhos de FHC)
"O
(Ricardo) Kotscho (assessor de Lula) veio me visitar, dar as boas-vindas e tal,
porque está assumindo a direção da CNT na parte de jornalismo. Ele é muito
amigo do Lula, gosta do Lula, diz que Lula gosta muito de mim, que só fala bem
de mim - claro, em privado." ( Abril de 1996)
"Vamos
ter que liberar mais recursos para a administração, porque não dá para
administrar na miséria e fazendo de conta que o desmando do Brasil é o gasto
corrente. Não é. É pessoal e juros, como todo mundo sabe." (Abril de
1996)
Patrícia Magazoni Gonçalves
Orientadora:
Maria Célia de Moraes Leonel
Faculdade
de Ciências e Letras de Araraquara – FCLar.
Universidade
Estadual Paulista – UNESP, São Paulo. 1.
Objetivos
A
observação meticulosa do modo de agir dos indivíduos é um aspecto recorrente na
obra de Machado de Assis. Enfatizando as relações sociais, as questões
psico-filosóficas e o modo de vida da burguesia emergente na época, o escritor
desenha uma sociedade na qual o contraste entre essência e aparência encontra-se
acentuado e a necessidade da máscara para maior inclusão social é fundamental
para a garantia da sobrevivência e, conseqüentemente, dos interesses pessoais.
Nesse caso, o indivíduo que não se adapta aos padrões convencionais torna-se
inanimado, excluído do prestigiado sistema de organização social.
Nesta
pesquisa, intenta-se ressaltar a necessidade do uso constante da máscara, a
complexa construção da personagem, os conflitos pelos quais ela passa e como
Machado de Assis aborda a temática social em “O espelho”.
2.
Materiais e métodos
Para
esta pesquisa, utilizaremos como embasamento teórico as propostas de estudo da
narrativa contidas no Dicionário de teoria da narrativa, de Reis e Lopes.
Ademais, nos apoiaremos em ensaios críticos sobre o volume Papéis avulsos, em
um importante ensaio de Alfredo Bosi, “A máscara e a fenda”, contido no livro O
enigma do olhar (2000), e no texto de Antonio Candido, “Esquema de Machado de
Assis”, presente no livro Vários escritos (1970). Escolhemos como corpus o
volume Papéis avulsos, publicado em 1882, composto por doze contos que
investigam as relações interpessoais e as contradições entre essência e
aparência. Dentre os textos, selecionamos o conto “O espelho”, no qual o papel
social é de fundamental importância na construção da personagem principal.
Quanto
ao procedimento utilizado, selecionamos e fichamos textos teóricos sobre teoria
da narrativa e sobre o corpus escolhido.
3.
Resultados e discussão O conto “O espelho” evidencia-se bem elaborado, tanto do
ponto de vista formal, por apresentar dois narradores, quanto pelo tema
abordado. Além disso, nossa análise resulta na constatação da seguinte teoria:
a fundamental importância do papel social na formação do verdadeiro ser. A alma
externa, ou seja, o status concedido com a nomeação de alferes (condição de
prestígio na hierarquia social) entra em conflito com a alma interna e elimina
totalmente o lado humano, a verdadeira essência da personagem (Joãozinho).
Dessa forma, sua integridade pessoal depende da opinião e do reconhecimento
alheios. O personagem principal do conto “O espelho”, Jacobina, veste
definitivamente a máscara social e, quando se encontra sozinho no sítio, é a
imagem de si vista pelo outro que ele procura ao vestir sua farda e olhar-se no
espelho.
4.
Conclusões Dotado de uma postura cética e pseudoconformista, o escritor mostra
que é impossível viver fora das determinações impostas, do convencional. No
conto, percebemos que o papel social absorveu completamente a essência humana,
obrigando a personagem a sustentar sua aparência através da adoção definitiva
da máscara.
5.
Referências
ASSIS,
M. de. O espelho. In: ___. Papéis avulsos. São Paulo: Gráfica Editora
Brasileira, 1957. p.257 - 271.
BOSI,
A. A máscara e a fenda. In: ___ Machado de Assis: o enigma do olhar. São Paulo:
Ática, 2000. p. 76-126.
CANDIDO,
A. Esquema de Machado de Assis. In: ____. Vários escritos. São Paulo: Duas
Cidades, 1970. p. 13-32.
REIS,
C.; LOPES, A. C. Dicionário de teoria da narrativa. São Paulo: Ática, 1985.
Certo viés maniqueísta
Significado
de Maniqueísmo
Maniqueísmo
é a ideia baseada numa doutrina religiosa que afirma existir
o dualismo entre dois princípios opostos, normalmente o bem e o mal.
O
maniqueísmo é considerado uma filosofia religiosa, fundada na Pérsia por Maniu
Maquineu, no século III, sendo bastante disseminada por todo o Império Romano.
Para
o maniqueísmo, o mundo é dividido entre o bem, representado pelo “Reino da
Luz”, e o mal, simbolizado pelo “Reino das Sombras”, ou seja, um eterno combate
entre Deus e Diabo.
Para
os maniqueístas, toda a natureza material é essencialmente perversa e má,
enquanto que a bondade se encontra intrinsecamente presente no espírito e no
mundo espiritual.
O
maniqueísmo, como religião, também era formado a partir do sincretismo, pois
Maquineu teria misturado características próprias de várias doutrinas, como o
hinduísmo, budismo, judaísmo, cristianismo e zoroastrismo (antiga religião
persa) para desenvolver o conceito do maniqueísmo.
Devido
a definição dualista que caracteriza o maniqueísmo, por extensão este termo
também é utilizado para adjetivar qualquer perspectiva de mundo em que
haja uma divisão entre aspectos opostos e incompatíveis.
Muitas
pessoas consideram o modelo maniqueísta muito simplista, pois se limita em
dividir todas as coisas em apenas dois opostos: “o bem e o mal”, “o certo e o
errado”, “a causa e o efeito”, “isso ou aquilo” e etc.
Por
exemplo, acreditar que uma pessoa boa sempre será boa, enquanto que uma pessoa
má sempre será má é uma demonstração de pensamento do maniqueísmo.
Maniqueísmo político
O
maniqueísmo político está muito presente nas “competições” entre partidos e
políticos durante as eleições, por exemplo.
Consiste
na oposição entre os pensamentos de rivais políticos, que buscam “demonizar” a
imagem do oponente e “santificar” os seus próprios argumentos, mesmo que caiam
em contradições, ocasionalmente.
Maniqueísmo e cristianismo
As
ideias disseminadas pelo maniqueísmo eram consideradas uma heresia cristã para
o cristianismo.
Um
dos principais defensores e opositores do maniqueísmo foi o Santo Agostinho de
Hipona, que se dedicou quase dez anos em pesquisas e produção de obras voltadas
para a doutrina maniqueísta.
No
entanto, após se converter definitivamente ao cristianismo, tornou-se um dos
principais opositores desta filosofia religiosa.
Porém,
alguns pesquisadores e teólogos acreditam que algumas das premissas do
maniqueísmo tenham sido levadas para o pensamento Cristão Ocidental por
Agostinho de Hipona.
Jargões
Significado
de Jargão
Jargão significa
uma linguagem pouco compreensível, em muitos casos por ser específica
de determinado grupo profissional ou sociocultural. O termo tem sua origem na
palavra francesa "jargon".
O
uso do jargão provoca uma linguagem viciada e corrompida, demonstrando pouco
conhecimento de uma língua ou a intencionalidade de que a conversa não seja
compreendida por quem não pertença ao círculo.
O
jargão profissional representa um discurso de difícil compreensão para quem não
faz parte do meio onde é falado. É o caso das áreas ligadas ao Direito (jargão
jurídico), Economia, Medicina, TI (Tecnologias de Informação), entre muitas
outras. A introdução de palavras desconhecidas ou que pertencem a outros
idiomas dificultam o entendimento. O jargão militar, por exemplo, são palavras
usadas no contexto das Forças Armadas.
Os
jargões cheios de palavras difíceis, podem afugentar o interlocutor e, por
isso, deve ser evitado. Enquadram nesses casos o politiquês, oeconomês,
o juridiquês, entre outros com sufixo "ês".
Em
alguns casos, o jargão pode ser sinônimo de calão, indicando algumas palavras
que são usados na linguagem informal. O jargão também pode estar relacionado a
um esporte, sendo que o jargão de futebol, por exemplo, é composto por palavras
que estão diretamente ligadas com o mundo do futebol.
Exemplos
de jargão
Medicina
"Apresenta
uma massa cística indeterminada e septos espessos irregulares mas com realce
mensurável."
Informática
"O tweak pode
ser feito no BIOS da motherboard".
"
A mochila vem com um mouse ótico USB com scrolling de
quatro direções e conexão Plug&Play".
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