sábado, 14 de maio de 2016

LUA-LUAR

Escuto leve batida.
Levanto descalça, abro a janela
devagarinho.
Alguém bateu?
É a lua-luar que quer entrar.


Entra lua poesia
antes dos astronautas:
Gagarin da terra azul,
Apolo XI que primeiro passeou solo lunar.

Lua que comanda os mares,
a fúria dos vagalhões
que vem morrer na praia.
O banzeiro das pororocas.

Lua dos namorados,
das intrigas de amor,
dos encontros clandestinos.
Lua-luar que entra e sai.

Lua nova, incompleta no seu meio arco.
Lua crescente, velha enorme, fecunda.
Lua de todos os povos
de todos os quadrantes.

Lua que enfurece o mar e em chumbo,
acovarda barcos pesqueiros.
O barqueiro se recolhe.

O pescado volta às redes.
O jangadeiro trava amarras.
Gaivotas fogem dos rochedos.

Lua cúmplice.
Lésbica lua nascente,
andrógina — lua-luar.
Lua dos becos tristes
das esquinas buliçosas.
Luar dos velhos.
Das velhas plantas sentenciadas.
Do sopro morto
dos bordões, rimas, violinos.

Lua que manda
na semeadura dos campos,
na germinação das sementes,
na abundância das colheitas.

Lua boa.
Lua ruim.
Lua de chuva.
Lua de sol.

Lua das gestações do amor.
Do acaso, do passatempo
Irresistível,
responsável, irresponsável.

Lua grande. Lua genésica
que marca a fertilidade da fêmea
e traz o macho para a semeadura.
O fruto aceito —
mal aceito: repudiado, abandonado,
A semente morta
lançada no esgoto.
A semente viva palpitante
deixada em porta alheia.

© CORA CORALINA
In Meu livro de cordel, 1976





Lua... Luar


Lua Luar
Banda Calypso

A lua sai de madrugada
No romper do sol
Ela sai acompanhando
O namorado que é o sol
Oh, lua lua luar
Me leva contigo pra passear
Oh, lua lua luar
Me leva contigo pra passear
Ho, lua lua luar
Me leva contigo pra passear
Oh, lua lua luar

Me leva contigo pra passear




Melodia Sentimental (Heitor Vila-Lobos & Dora Vasconcelos) - Zizi Possi

Zelda Silveira              


Melodia Sentimental

Heitor Villa-Lobos (melodia)
Dora Vasconcelos(letra/poesia)

Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que fulge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar

As asas da noite que surgem
E correm no espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar

Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor

Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir teu amor e sonhar





Lunik 9 Gilberto Gil

Gilberto Gil
Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar

Momento histórico
Simples resultado
Do desenvolvimento da ciência viva
Afirmação do homem
Normal, gradativa
Sobre o universo natural
Sei lá que mais

Ah, sim!
Os místicos também
Profetizando em tudo o fim do mundo
E em tudo o início dos tempos do além
Em cada consciência
Em todos os confins
Da nova guerra ouvem-se os clarins

Guerra diferente das tradicionais
Guerra de astronautas nos espaços siderais
E tudo isso em meio às discussões
Muitos palpites, mil opiniões
Um fato só já existe
Que ninguém pode negar
7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, já!

Lá se foi o homem
Conquistar os mundos
Lá se foi
Lá se foi buscando
A esperança que aqui já se foi
Nos jornais, manchetes, sensação
Reportagens, fotos, conclusão:
A lua foi alcançada afinal
Muito bem
Confesso que estou contente também

A mim me resta disso tudo uma tristeza só
Talvez não tenha mais luar
Pra clarear minha canção
O que será do verso sem luar?
O que será do mar
Da flor, do violão?
Tenho pensado tanto, mas nem sei

Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar


© Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo)

ficha técnica da faixa:
voz e violão: Gilberto Gil

"Recebi o impacto da notícia do pouso (suave, segundo as avaliações) do Lunik 9 na lua com orgulho e ponderação: estávamos conquistando o espaço, mas aonde isso ia dar? Não era só o cidadão que especulava, mas também o artista, com o senso da responsabilidade de ser locutor da sociedade junto à história. Eu tinha que falar no assunto por isso - e também pelo sentido de competição. Havia uma disputa olímpica entre nós. 'Provavelmente alguém vai fazer música sobre isso; deixa eu fazer logo a minha', pensei.

"Lunik 9 - uma suíte com vários andamentos e atmosferas, entremeada de narração, reflexões e advertências - é uma canção pretensiosa para o grau de informação que eu tinha a respeito, mas bacana também por isso: por vulgarizar, no sentido de divulgar, traduzir, em linguagem simples, um tema em princípio complexo. Nesse aspecto, é também apócrifa, em relação aos cânones da época - embora a bossa nova já tivesse dado a abertura para temas e termos (a Rolleiflex e outras coisas); e iniciática, em relação ao meu trabalho, do qual a questão do mistério do cosmos acabou se tornando uma linha mestra.

"Mas frente ao significado do que a motivou, Lunik 9 apresentava um contraponto conservador, uma atitude ecológico-reativa, um temor exagerado da tecnologia e de que se inaugurava a possibilidade de extinção do próprio luar - da luz interior da lua. À época eu gostei de tê-la feito, mas no período tropicalista eu já achava a música boba, ingênua. Hoje em dia acho relevante aquilo ter-me ocorrido: a inspiração nasceu de uma profunda assunção de um sentido trágico de meu tempo.

"Engraçado. No momento em que escrevi 'a mim me resta disso tudo uma tristeza só', era em Orlando Silva que eu pensava. Era a defesa parcial de um mundo - romântico - que eu identificava como o do Orlando Silva, símbolo e canto de um outro tempo ainda, anterior ao meu, à própria bossa nova." 




O noturno de Chopin e o amor do poeta Pedro Nava
Posted on maio 24, 2016 by Tribuna da Internet





Nava, grande poeta e memorialista
O médico, escritor e poeta mineiro Pedro da Silva Nava (1903-1984), no poema “Noturno de Chopin”, desenvolve uma belíssima mensagem de amor.
NOTURNO DE CHOPIN
Pedro Nava
Eu fico todo bestificado olhando a lua
enquanto as mãos brasileiras de você
fazem fandango no Chopin
Tem uma voz gritando lá na rua:
Amendoim torrado
tá cabano tá no fim…
Coitado do Chopin! Tá acabando tá no fim…
Amor: a lua tá doce lá fora
o vento tá doce bulindo nas bananeiras
tá doce esse aroma das noites mineiras:
cheiro de gigilim manga-rosa jasmim.
Os olhos de você, amor…
O Chopin derretido tá maxixe
meloso
gostoso
(os olhos de você, amor…)
correndo que nem caldo
na calma da noite belo horizonte.

Pedro Nava é natural de Juiz de Fora. Nasceu em 5 de Junho de 1903. Fez os estudos secundários no Internato do Colégio Pedro II, e em seguida cursou a Faculdade de Medicina, colando grau em 1927. Como Joaquim Cardoso, sempre manifestou gosto e talento para a pintura e para a poesia, mas só em raras ocasiões publicou, em revistas literárias, algumas de suas produções. Fez parte do grupo mineiro que, em 1924, lançou, em Belo Horizonte A Revista, primeiro órgão do movimento modernista no Estado de Minas Gerais. Faleceu no Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1984.

                  (Colaboração enviada por Paulo Peres – site Poemas & Canções)




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