...mirando no exemplo
Miranda canunt, sed non credenda,
poëtae. [Dionísio Catão, Disticha 3.18] Os poetas cantam
coisas maravilhosas, mas não se deve acreditar nelas.
Temer, com Pontes à mão nada a
temer...
... com os de Pires na mão.
Miranda neles!
Miranda é
um nome de origem latina mirandus, que significa “adorável” e sua raiz mirari
“admirar”, “maravilhar-se”. Foi criado pelo escritor Willian Shakespeare para
uma de suas personagens da peça “A Tempestade”, uma mulher heroína e admirável
no ano de 1611.
Ulysses
não teve alternativa:
“–
Eu não fui ‘bonzinho’ coisa nenhuma. Segui as instruções dos meus juristas. O
meu ‘Pontes de Miranda’ estava lá, fardado, e com a espada me cutucando e
dizendo que quem tinha de assumir era o Sarney.” Ex-Presidente da Câmara dos
Deputados Ulysses Guimarães
ENTREVISTA
"SEM DEMOCRACIA E LIBERDADE NÃO HÁ ESTADO DE DIREITO”
Pontes de Miranda
Pontes de Miranda
Para
o professor Pontes de Miranda - que há exatamente 62 anos publicou o seu livro
História e Prática do Habeas-corpus - o arbítrio não deve existir por muito
tempo no Brasil, pois, "a índole do povo brasileiro é profundamente
democrática".
Pontes
de Miranda, em entrevista exclusiva à Revista Jurídica Lemi, disse que o AI-5 é
"verdadeira ofensa ao Brasil" e que "esse negócio de dizer que o
povo brasileiro não sabe votar é distorção profunda da realidade".
O
jurista acha de estado de direito é aquele em que as leis são feitas através de
debate democrático entre os partidos, quando não impera nenhum arbítrio. Sua
opinião sobre os principais problemas do País você vai conhecer nas páginas que
seguem.
60
ANOS DE DEMOCRACIA
Aos
86 anos e mantendo a mesma lucidez e intransigência em defesa dos direitos
humanos com que marcou a sua vida jurídica, Francisco Cavalcanti Pontes de
Miranda acredita profundamente no Brasil e acha que estamos caminhando pouco a
pouco para a abertura democrática.
Sua
vida é marcada de fatos pitorescos e interessantes. Quando mudou-se para o Rio
de Janeiro, em 1916, começou a colaborar na imprensa. Mal seu primeiro artigo
havia saído no Jornal do Commércio, do Rio, o proprietário, José Carlos
Rodrigues mandou pagá-lo em dobro. José Carlos fez mais: mandou alugar a Pontes
de Miranda um escritório de advocacia na atual Avenida Rio Branco, no Rio, e
não cobrou nada.
Em
1923, Artur Bernardes, então Presidente da República, nomeou-o Conselheiro da
Delegação Brasileira à V Conferência Internacional Americana. Foi uma nomeação
que o surpreendeu. E ele afirma sobre isto:
-
Era um Presidente da República que não conhecia e por isto fiquei muito
surpreso. A Conferência foi no Chile e, quando voltei de lá, Artur Bernardes me
explicou porque fui escolhido: ele tinha lido o meu livro Sistema de Ciência
Positiva do Direito e havia gostado muito. Depois ele quis que eu fosse ser
embaixador na Tchecoslováquia e eu não aceitei por não saber a língua daquele
País, e além do mais, não tinha 35 anos, pré-requisito para exercer este cargo.
Mas
Pontes de Miranda foi nomeado para Juiz dos Testamentos por decreto de Artur
Bernardes. Ficou neste cargo por pouco tempo, pois foi feito Desembargador.
Em
1939, Getúlio Vargas, que havia lhe feito várias propostas, convidou-o para ser
embaixador do Brasil na Alemanha. Pontes de Miranda disse que não aceitaria
porque, embora ele gostasse muito da Alemanha, havia um abismo muito grande
entre a de que ele gostava e a Alemanha de Hitler. Desembargador do Distrito
Federal, foi transferido, por lei especial, para o Ministério das Relações
Exteriores. Como Embaixador de carreira, foi para a Colômbia e de lá para os
Estados Unidos e é interessante que lá passou dois anos e o ex-chefe do
Estado-maior da Armada Americana, que estava em Londres, nos preparativos da
invasão dos aliados, por ocasião da declaração de guerra pelo Brasil, lhe
escreve nada mais que isto:
-
"Para você, que trabalhou tão arduamente para o entendimento recíproco e
aspirações que fizeram isso possível, tem de ser grande a satisfação, seu
próprio prêmio."
Mesmo
seguindo a carreira jurídica e diplomática, Pontes de Miranda não se esqueceu
da matemática. Tendo feito várias restrições à teoria de Einstein, esse sugeriu
que ele escrevesse uma tese sobre Representação do Espaço, para o Congresso
Internacional de Filosofia, que se reunira em Nápoles em 1924 e o trabalho foi
escrito em alemão, enviado e aprovado no Congresso por unanimidade.
Sua
obra é composta de mais de 100 volumes publicados na área do Direito,
Sociologia, Psicologia, Filosofia e Matemática. Seu livro principal é História
e Prática do Habeas-Corpus, onde ele resume suas idéias em prol da liberdade,
da igualdade e da democracia. Enfim, o nome de Pontes de Miranda estará sempre
associado aos ideais de liberdade do povo brasileiro, pois, ele manteve sempre
uma coerência ideológica e política em prol deste objetivo.
LEMI -
Professor Pontes de Miranda: a reforma do judiciário que está sendo encaminhada
ao Congresso Nacional, principalmente a Lei da Magistratura, tem provocado
muita polêmica. Ela atende às necessidades do Judiciário?
Pontes
de Miranda - O Governo deveria ter mandado fazer uma pesquisa nos
Tribunais Federais e nos Tribunais Estaduais, para saber como é que se faria
uma boa reforma do Poder Judiciário. Depois desta pesquisa, poderia fazer uma
discussão entre alguns interessados principais, mas não mandar este
anteprojeto. Este anteprojeto, quando li de noite, fiquei tão abalado que não
dormi bem. Está tão cheio de erros que não vale a pena comentar agora. Acredito
que nossos parlamentares poderão verificar muito bem e consertar o máximo
possível. Prefiro falar depois que for à votação final, pois um erro que
considero agora já pode ter sido visto e modificado. Mas sei que tem erros
muito graves. São tantos que não se compreende como é que se fez um anteprojeto
daquele. Não vale nem a pena comentar agora.
LEMI -
As reformas que o governo está projetando indicam que estamos caminhando para
uma abertura democrática. É positiva ou negativa esta caminhada atual?
Pontes
de Miranda - O povo brasileiro é profundamente democrático. Esta coisa de
dizer que o povo não sabe de nada, não sabe votar e outras coisas, é distorção
profunda da realidade. Vê-se, às vezes, como já vi, quando estão votando jovem
e senhoras idosas, todos preocupados com a lista dos candidatos, analisando e
verificando bem o nome daqueles em que vão votar. O Brasil tem uma herança
democrática que devemos continuar custe o que custar, porque o que houve em
1930 e depois em 1964 é uma verdadeira ofensa à Nação. Querem só o poder e quem
quer o poder está espiritualmente cassado (e quero deixar bem claro que sou
radicalmente contra cassações).
"A
Lei da Magistratura está tão cheia de erros que, lendo-a à noite, não dormi
bem".
LEMI -
Quais seriam seus comentários sobre o debate em torno da volta do
Habeas-corpus?
Pontes
de Miranda - O meu livro História e Prática do Habeas-corpus, que
publiquei em 1916, completou 62 anos. Portanto, posso falar com sinceridade e
autoridade que este instituto tem que retornar à prática jurídica. A minha
paixão pela liberdade fez com que me dedicasse intensamente a esta obra. Sempre
esperei que o Brasil nunca furasse um instituto que tem o nome de Habeas-corpus
e que mesmo antes, e na Ordenação Afonsina, em 1446, já existia. No prefácio da
7ª edição deste meu livro escrevi: O Habeas-corpus foi um dos passos mais
seguros e uma das armas mais eficientes para a salvação da civilização
ocidental. É o não que a justiça diz, em mandamento, à violência e à
ilegalidade; é o sim a quem confia nos textos constitucionais e nas leis.
O
Habeas-corpus é o primeiro grande marco histórico das nossas liberdades, muito
embora tenha aparecido com atraso no Brasil. Mas apareceu em um Brasil que
nascia e que tem reagido, como possível, às violações dos textos
constitucionais, que são devidas, quase sempre, a planos estrangeiros para se
evitar que o País chegue à altura a que há de chegar. Quando se procura
investigar a causa da diferença do trato da liberdade entre os povos da Europa,
verdadeiramente só uma se encontra, de ordem filosófica. A Inglaterra teve
influxos de Oxford, universidade que recebeu, no nascedouro, a influência dos
frades Franciscanos Nominalistas. Paris teve a sua universidade, que recebeu
idêntica filosofia. Portugal dos séculos passados também recebeu a mesma
formação filosófica, desde a Fundação da Universidade de Lisboa. Por isto o
Brasil recebeu a herança democrática da Europa. A Constituição do Império era
de cunho liberalista e continha, implicitamente, o remédio que chamamos
Habeas-corpus. O Código de processo criminal de 1832 foi que regulou o processo
do Habeas-corpus, inspirando-se no Habeas-corpus atos ingleses de 1679 e 1816.
Passamos a mencionar o que ocorreu na Constituição de 1934, e depois. A Carta
de 1937, apenas outorgada, longe estava de aceitar a liberdade física e as
demais liberdades como direitos do Homem. A regressão psicológica, que ela
traduzia, não lhe permitia ver a dimensão da liberdade como resultado da
evolução do homem ocidental, a começar de vinte e cinco séculos atrás. Com a
Constituição de 1946, a estrutura tradicional do Brasil, ferida em 1925-26 e
despedaçada em 1930 e 1937, recompôs-se. Voltou ao trilho, pelo menos no
propósito popular, o aparelho que três vezes descarrilhara. O texto sobre
estado de sítio foi minudente e sábio. Ouviu 1801 e 1934 e pesou experiências.
Já na Constituição de 1967 a coisa sofreu algumas modificações. A sua emenda nº
01 deixou explícito que só se daria Habeas-corpus "sempre que alguém
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder". Mas nas transgressões
disciplinares dizia que "não caberá Habeas-corpus". Ao prever a
expulsão de brasileiros somente porque tomam parte de revolução, é um tremendo
absurdo. Qual a "Ratio Legis" da exceção à inexpulsabilidade dos
brasileiros ou dos estrangeiros, com filho brasileiro, que havia na
Constituição de 1946? Expulsar brasileiros porque tomam parte em revolução,
constituiria contradição para os que tomam parte em revoluções. Confiemos que o
Governo de hoje, faça voltar a sabedoria jurídica de 1891, com as correções até
1946.
"O
habeas-corpus é o primeiro marco histórico de nossas liberdades".
LEMI -
E os Atos Institucionais, principalmente o AI-5? Que modificações eles fizeram
na justiça brasileira?
Pontes
de Miranda - Tais Atos funcionam como se fossem fósforos com que se
queimaram os melhores textos da Constituição. Fizeram do povo brasileiro, exceto
os governantes, mais de cem milhões de escravos, a despeito da abolição da
escravatura dos pretos, no fim do Império. Não se voltou ao que havia, mas a
algo de semelhante, extensivo à toda população, do Rio Grande do Sul ao
Amazonas. Pelo Ato Institucional nº 5, o habeas-corpus ficou suspenso "nos
casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e
social e a economia popular". Em seu artigo 11, está escrito:
"Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de
acordo com este ato institucional e seus atos complementares como os
respectivos feitos". Pelo que se viu, 1968, ano do AI-5, foi um golpe
profundo na personalidade dos brasileiros e da tradição, de típica ditadura,
que nunca existiu no Brasil.
LEMI -
Como se sente atualmente, diante do impasse institucional que desde esta época
o País vive?
Pontes
de Miranda - Para quem, há mais de sessenta anos, se dedicou à história e
prática do habeas-corpus e há quase meio século, em 1932, lançou livros sobre
os direitos humanos, três volumes publicados (Novos Direito do Homem, Direito à
Subsistência, Direito à Educação) e dois volumes queimados por ordem de alguém
do Governo (Direito à Assistência e Direito ao Ideal) é grande sofrimento, no
fim da vida, em vez de ver respeitar-se o que tal pessoa sustentou antes da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, assistir a um decênio de retorno a
mais de cinco séculos da nossa herança jurídica, política e moral. Espero,
antes de morrer, ver deixar-se o Brasil voltar a ser o que foi e direito do
povo é. Nós temos que voltar imediatamente ao habeas-corpus. Eu sou contra
revoluções, mas não vindo o habeas-corpus é necessário uma revolução no Brasil!
LEMI -
Mas, em resumo, a sua visão é otimista ou não quanto aos rumos futuros do País?
Pontes
de Miranda - Otimista. Creio que o habeas-corpus virá. Tenho muita
esperança no atual Presidente e acredito que ele vai fazer voltar este remédio
jurídico na integra por uma razão: os responsáveis por estes erros da Revolução
de 64 não foram os Presidente. Foram os Ministros da Justiça. O Presidente
Costa e Silva, por exemplo, foi meu amigo e pessoa que vinha com sua mulher
jantar comigo. Ele não era homem ditatorial de maneira nenhuma. Por isso afirmo
que ele não assinou o AI-5.
LEMI -
Mas quem assinou, então?
Pontes
de Miranda - Costa e Silva morreu, estava gravemente enfermo naquela
época. Foi o Ministro Gama e Silva quem tramou tudo, e que era o Ministro da
Justiça na época. Uma das coisas mais graves da história da República é que não
sabem escolher Ministros. Quando escolhem, são os homens incompetentes que há
no Brasil.
LEMI -
Mas, segundo o que informa a imprensa, o AI-5 será substituído por salvaguardas
de Estado. Qual a sua opinião a respeito?
Pontes
de Miranda - Essa coisa de salvaguarda já está prevista dentro da
Constituição que tem todas as coisas que se pode aplicar, com respeito à
democracia, para defender a segurança nacional. Uma Lei de Segurança Nacional
que impõe medidas arbitrárias, leva a mocidade que está aí no Brasil de hoje a fazer
assaltos e roubos. Uma pessoa que assaltou aqui perto, interrogada porque
estava fazendo assaltos, disse que estava fazendo a mesma coisa que os
governos. A mocidade de hoje me surpreende pela sua mentalidade, principalmente
porque é uma geração participante e que se interessa pelos principais problemas
do Brasil. Por isso não pode haver lei nenhuma que impeça o jovem de falar, de
expressar seu pensamento ou que impeça o jovem de participar das decisões
nacionais.
"Costa
e Silva não assinou o AI-5."
LEMI -
Há algum tempo se faz um debate em torno de anistia. Qual a sua opinião a
respeito?
Pontes
de Miranda - Primeiro é necessário revogar todos os atos revolucionários,
salvo onde tiver alguma coisa que foi julgada. Aí sim, se foi julgado tal crime
e ele foi mostrado, apresentado, não há dúvida de que ele existiu na realidade.
Mas os outros casos não. Como é que se vai provar que uma pessoa fez isto ou
aquilo se não foi julgada ou formado processo? Há uma porção de pessoas que
estão no exterior, exiladas e não fizeram nada. Foi o Ministro da Justiça o
grande responsável pelos erros da Revolução. Reafirmo mais uma vez: não são os
presidentes os responsáveis, são os seus Ministros.
LEMI -
Como pode ser vista, então, a situação dos exilados?
Pontes
de Miranda - Alguns, econômica e cientificamente, ganharam mais com isto.
Outros, com a paixão que têm pelo Brasil, não compreendem o fim da vida sem
voltar. É lamentável isto. O exílio é uma coisa que vem dos primitivos, das
tribos, dos clãs. Não se queria um indivíduo ali, botava-se para fora. Ora, não
é para a mentalidade de hoje.
LEMI -
A escolha do Presidente da República é feita sem consulta ao povo, pois o
próprio. Presidente escolha o seu sucessor. Não seria melhor eleições direitas?
Pontes
de Miranda - Temos que voltar à democracia autêntica. O Homem, conforme
estudo que fiz durante alguns meses, cresce e se desenvolve pelas três
dimensões: a democracia, a liberdade e a igualdade. Com a democracia é que foi
possível constituir-se uma Inglaterra e um Estados Unidos. Com a liberdade e
igualdade também. É preciso prestar atenção: nós homens não somos iguais. Há
uns que não valem, outros que valem muito. Mas o nosso dever de Homem é
diminuir a desigualdade humana. Dar instrução, dar assistência médica e tudo
que for necessário para a sua existência. Um pobre que pedis esmola, por aqui,
há muito tempo, foi ajudado pelos monges que o levaram para o Seminário onde
fez seus estudos. Hoje é uma das personalidades de destaque no Brasil. Veja-se,
então, que foi de grande valia para ele a oportunidade dada. Nós é que temos o
dever de igualizar os indivíduos. Não se pode fazer a igualdade conforme se
prega por aí, mas possibilitar que o indivíduo consiga melhores oportunidades
para viver.
LEMI -
Isto seria uma concepção mais ampla de direitos humanos?
Pontes
de Miranda - Na verdade, ao que se chama comumente direito humanos, ainda
existe muito o que acrescentar. Faltam na Declaração Universal dos Direitos
Humanos muitos direitos que não foram enumerados. Os homens têm mais direitos
do que os que constam naquela relação. Escrevi uma obra onde tratei do assunto,
há mais de 40 anos - Os Novos Direitos do Homem - em quatro volumes, sendo que
dois foram queimados por ordem de alguém do Governo.
LEMI -
O sistema penitenciário brasileiro tem recebido inúmeras críticas. Com a
questão pode ser vista?
Pontes
de Miranda - O problema penitenciário está dentro dos direitos humanos. Se
um homem cometeu um crime, ele não é totalmente responsável por ele. A
sociedade é também responsável De modo que nós devemos evitar a criminalidade.
Hoje estão estudando profundamente as razões do crime. Há vários livros de
criminologia. E lá nós vemos a razão principal dos crimes. O que nós temos
contra a penitenciária é não ter uma instalação perfeita onde, examinado o
preso, saber-se-á qual é a espécie de educação que se deve dar a ele, e até
mesmo psicologicamente retirar algum complexo que ele tenha. Isto é um dever do
Homem.
"O
exílio é coisa de primitivos, das tribos, dos clãs; não é para o mundo
moderno."
LEMI -
Qual a relação que o sr. Faria entre estado de direito e criminalidade?
Pontes
de Miranda - Quando o Estado não é de direito a criminalidade cresce. Esta
é uma estatística mundial. Quando há uma ditadura em qualquer país do mundo o
número de crimes é grande. Quando vem um regime democrático, liberal, a
criminalidade é diminuída. Por exemplo, a criminalidade que vejo hoje no Rio de
Janeiro não é absolutamente a que vi quando vim para cá. E também não é, em
número, a criminalidade do tempo de Getúlio Vargas, não. Agora é a maior
criminalidade possível. Mas o que se vê na televisão, o anúncio, a publicidade
que se faz, é uma ameaça a nossa segurança pessoal. O anúncio do cigarro, por
exemplo, que é proibido nos Estados Unidos, é feito às revelias. Gasta-se uma
quantidade enorme de dinheiro com estes anúncios e o cigarro não faz nenhum bem
à saúde. A maior quantidade de câncer, atualmente, segundo estatísticas
médicas, são de moças que fumam muito. E, também, no Brasil, que tem atores e
atrizes com talento, por que permitem que se passem filmes estrangeiros que
ensinam a violência, apresentando mortes, roubos, assaltados, exatamente no
horário que atinge a população jovem.
LEMI -
algumas pessoas têm afirmado que a Revolução de 64 já cumpriu sua missão e que,
portanto, podemos passar para uma ordem política mais liberal e democrática. É
esse também o seu pensamento?
Pontes
de Miranda - Acho que está se aproximando o fim dela e confio que o atual
Presidente tenha compreendido que alguns erros que foram cometidos não foram
por ele. Foram por seus Ministros. Nunca um militar gaúcho podia não se
preocupar com a agricultura do País. O próprio Ministro da Agricultura tem se
preocupado, mais é necessário verificar quem é o responsável pela importação de
gêneros alimentícios como cebola, feijão, café etc. Em compensação alguns
Estados do Norte têm excesso de açúcar e aqui este produto é mais caro do que
era. É um absurdo muito grande e uma ofensa ao povo brasileiro. Um amigo meu,
alemão, perguntou-me se eu tinha dicionário para ele saber o que era ou o que
significava a Economia do Brasil. Ninguém entende o que está acontecendo
atualmente.
"O
nosso dever de homem é diminuir a desigualdade social."
LEMI - Uma das mais duras leis legadas pela Revolução foi a de Segurança Nacional. Deve ela ser revogada ou atenuada?
Pontes
de Miranda - Essa Lei de Segurança não garantiu e nem garante nada de
segurança e só tem uma finalidade: deixar o arbítrio para julgamentos que não
são julgamentos. O Presidente Geisel, antes de deixar o Governo, deve acabar
com essas coisas. Mas sei que para ele acabar com isto irá aborrecer muito
ministro.
LEMI -
Então, podemos prever que o General Figueiredo fará um bom Governo, porque
encontra encontrará o País em um clima jurídico e político favorável?
Pontes
de Miranda - Depende dos Ministro que o General Figueiredo escolher. Aí é
que está a questão. Qualquer Presidente da República acerta quando escolhe bons
ministros. Atualmente, por exemplo, o Ministro da Agricultura, que é mineiro,
tem encontrado grandes dificuldades porque o que ele quer é acabar com a
importação de produtos que podem ser plantados e produzidos aqui mesmo sem
necessidade de importação.
LEMI -
O partido da oposição tem feito uma campanha em prol da Constituinte como única
forma de resolver o problema do País. O sr. está de acordo?
Pontes
de Miranda - Acho que o Presidente da República deveria retirar todos
aqueles atos institucionais e todas aquelas coisas e deixar intacta a
Constituição de 1967 somente com a Emenda Constitucional nº 1. Deixava intacta
aquela Constituição e depois o Congresso iria estudar se alguma coisa precisava
ser alterada. O que o Governo deve é limpar tudo agora, tudo que juridicamente
tem sido vergonha para o povo brasileiro desde 1964. Se ele fizer isto o Brasil,
o povo brasileiro, vai ficar profundamente agradecido.
LEMI -
Como é que fica o caso de pessoas que foram presas, sem julgamento, por dois,
três anos, por exemplo e depois de julgadas são consideradas inocentes, mas, já
cumpriram penas?
Pontes
de Miranda - Quem foi preso não tendo sido feito julgamento em tempo e
depois absolvido, a primeira coisa que se deve fazer é procurar saber quem
foram os responsáveis por isto e prendê-los. Hoje a gente vê cada coisa, mas
espero que isto não aconteça. Outro dia estava numa esquina e ia atravessar a
rua, pois o sinal estava aberto para mim, mas não pude porque três carros
oficiais ultrapassaram o sinal fechado. Esta corrupção tem que acabar.
LEMI -
Qual o verdadeiro significado de Estado de Direito?
Pontes
de Miranda - Estado de Direito é um estado em que não há nada de arbítrio
e onde tudo se rege por regras jurídicas feitas de acordo com a Constituição e
a Democracia. Sem democracia e liberdade não há Estado de Direito.
"Essa
Lei de Segurança Nacional não garantiu e nem garante nada de segurança."
LEMI - Na sua opinião as eleições devem ser diretas ou indiretas?
Pontes
de Miranda - Diretas, não tenha dúvida. Atualmente se se fizesse eleições
diretas para Presidente da República ninguém saberia qual seria o eleito. Isto
porque o povo estudaria os candidatos. Ou ia votar no General Figueiredo ou ia
votar no senador e banqueiro Magalhães Pinto ou, ainda no General Euler ou em
outros. Mas ia votar, exercitar a democracia e isto é importante.
LEMI -
Como se definiria a candidatura Magalhães Pinto?
Pontes
de Miranda - Ele é senador da Arena, e como tal deveria esperar que seu
partido o indicasse, mas viu logo que isto era impossível. A Arena não escolhe
nada, já vem tudo esquematizado lá de cima, é só executar. Só em São Paulo é
que as coisas parecem que serão diferentes, pois lá a insatisfação é muito
grande.
LEMI -
Então, os políticos não têm podes de decisão?
Pontes
de Miranda - Grande parte está afastada dos centros de decisão. Quem manda
no Brasil de hoje são os Ministros e as multinacionais, que estão numa situação
de compra do Brasil. Os Ministros, então, são representantes de estrangeiros.
Há coisas no Brasil que são horríveis e às vezes sou convidado a dar parecer
sobre este ou aquele assunto e sempre há o dedo de empresas estrangeiras. Temos
que valorizar o Brasil, as coisas da nossa terra e não nos deixar governar por
coisas de fora. Está muito bem demonstrado pelo livro que saiu recentemente do
industrial Kurt Mirow - A Ditadura dos Cartéis - onde são mostrados alguns
males que as empresas estrangeiras estão nos fazendo. Mas há muitas coisas
ainda que não foram publicadas no livro. Há o caso dos que compram do
estrangeiro e para isso recebem 25% por fora e não são punidos ou exilados.
LEMI -
E se existissem mais partidos a situação não se modificaria?
Pontes
de Miranda - Dependendo da ideologia deles, poderiam ser só dois, como
atualmente. Mas dentro da Arena, por exemplo, há divergências muito graves e
dentro do MDB também há diferenças. O que se deveria é fazer uma permissão de
abrir os partidos conforme as suas intenções. Por exemplo: conheço políticos da
Arena de Minas e de Alagoas que não conhecem absolutamente as coisas da Arena.
E divergem fundamentalmente. Então, não pode.
LEMI -
A pena de morte existe para determinados crimes de ordem política. Sua opinião
é favorável à sua existência?
Pontes
de Miranda - Não sou, nunca fui e nem serei pela existência da pena de
morte. Só em caso excepcionalíssimo, quando um homem que já assassinou dezenas
de pessoas e que nos presídios possa continuar assassinando. Aí não tem
alternativa. Mas não sou pela pena de morte, não sou por nada de violência. Sou
pela igualização do Homem e creio que assim estas coisas diminuirão. Para isto
é preciso ter escolas para toda a população, assistência médica, habitação.
Talvez gastasse menos que estes Ministros que viajam para o exterior.
LEMI -
Pode existir um regime de arbítrio juridicamente institucionalizado?
Pontes
de Miranda - Livre arbítrio de maneira nenhuma, mesmo que seja com os
melhores juristas do mundo. Eles têm que verificar as leis e aquilo que chamo
suportes factus, que permitam que a regra jurídica incida. Da maneira nenhuma.
Se houvesse um conselho jurídico para aplicar o livre arbítrio do Presidente da
República e se eu fosse convidado para fazer parte desta assessoria, não
aceitaria de maneira nenhuma. De maneira nenhuma! Nunca tive arbítrio para
coisa nenhuma da minha vida. Talvez seja esta razão por que estou com 86 anos.
LEMI -
O número de faculdade de direito tem aumentado muito nos últimos anos. Isto é
positivo ou negativo?
Pontes
de Miranda - O que está havendo é uma comercialização do ensino do
Direito. Estão comercializando. Pessoas que não podem ser advogados sugerem que
se criem Faculdades para eles serem professores. Há muitos professores e
juristas bons nas faculdades do Brasil, inclusive em Minas Gerais, mas é
necessário não deixar que se criem tantas faculdades. Um dia deste veio um
estudante para me mostrar as perguntas que seu professor fez para eles responderem
em sala. Uma calamidade, pois nenhuma pergunta estava em bom português e o
professor não sabia nada de Direito.
"O
governo do General Figueiredo vai depender dos ministros que ele
escolher."
LEMI -
E a situação da Universidade brasileira, em geral?
Pontes
de Miranda - O problema é o seguinte: os políticos e os homens ligados ao
poder estão mudando a Universidade, principalmente as universidades federais,
cujo nível de ensino tem caído muito. E agora estão dizendo que basta de
bacharel no Brasil. É um absurdo. O que eu detesto são estes economistas, pois
não sabem nada de matemática e só têm na cabeça uma palavra que é toque de
mágica para qualquer ocasião: inflação. Tudo é culpa da inflação. Minha
secretária tem tomado nota dos pronunciamentos do Ministro da Fazenda para
fazermos comparação. Quando diz que a inflação vai diminuir tanto, minha
secretária anota sua afirmação, o dia e etc., e quando vem o cálculo, na
realidade ele disse que não disse aquilo. É uma calamidade!
Revista
Jurídica Lemi / Caderno Jornalístico - Abril de 1978.
Doação do Caderno ao Memorial Pontes de Miranda, pelo Promotor de Justiça de MG - Dr. Alexandre Rezende Grillo.
Doação do Caderno ao Memorial Pontes de Miranda, pelo Promotor de Justiça de MG - Dr. Alexandre Rezende Grillo.
ROLDÃO ARRUDA
14
Janeiro 2015 | 19:37
Com
a internação de Tancredo Neves, na véspera da posse na Presidência da
República, os políticos se dividiram em relação ao nome de quem deveria
assumir. O general Leônidas Pires, nomeado para o Ministério do Exército, pôs
fim ao impasse
No
aniversário dos 30 anos da eleição de Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral,
nesta quinta-feira, 15, o Brasil relembra um dos períodos mais dramáticos de
sua história recente: a transição do poder para os civis, após um período de 21
anos nas mãos dos militares. Tancredo foi o primeiro presidente civil após o
golpe de 1964.
A
eleição ocorreu na manhã do dia 15 de janeiro de 1985. A cerimônia da posse foi
marcada para dali a dois meses, no dia 15 de março.
Mesmo
eleito de forma indireta, contrariando a vontade popular, expressa na histórica
campanha das Diretas Já, em 1984, Tancredo contava com um amplo apoio político
e popular. Poucas vezes na história do Brasil um político havia conseguido
tanta unidade.
Na
noite do dia 14 de março, porém, véspera da posse, o projeto começou a
desmoronar. Tancredo foi internado às pressas para uma cirurgia no Hospital de
Base de Brasília. Quando se constatou que ele ficaria internado e não poderia tomar
posse no dia seguinte, surgiu uma polêmica sobre quem assumiria em seu lugar.
Parte
dos políticos que se reuniram nas salas de espera do hospital naquela noite
defendiam que o vice, José Sarney, não poderia assumir, porque o titular não
havia assumido. Segundo essa tese jurídica, ele não tinha o direito de suceder
quem no cargo não estava. Já se falava até em nomes para o lugar de Sarney.
Anos
mais tarde soube-se que o impasse foi resolvido pelo novo ministro do Exército,
indicado dias antes por Tancredo, o general Leônidas Pires. Ao chegar ao
hospital, ele disse que os militares queriam o respeito à Constituição.
Isso
significava que Sarney, que havia se desligado do PDS, o partido de sustentação
do regime militar, para apoiar Tancredo, é quem deveria assumir. O general
citou no hospital o parágrafo único do Artigo 76 da Constituição, que dizia:
“Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o presidente ou o
vice-presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este
será declarado vago pelo Congresso Nacional”.
O
episódio já foi lembrado em diversas entrevistas do general. Uma das mais
detalhadas foi para os jornalistas Hélio Teixeira e Rose Arruda, autores de uma
biografia sobre o governador paranaense José Richa (1934-2003).
A
seguir, a passagem do livro Richa, O Político, na qual o general relembra
o episódio:
…………………………………………………………..
“Depoimentos
em livros e em centros de documentação dão versões contraditórias sobre os
momentos vividos naquela noite. Esta é a do general Leônidas Pires Gonçalves,
que adianta:
–
Não admita outra versão, porque é mentirosa.
Ele
conta:
–
Eu estava num jantar oferecido a mim na Academia de Tênis com vários amigos.
Quase 9 horas e tocou o telefone, era o general Ivan de Souza
Mendes (chefe da Casa Militar da Presidência), que pediu para falar
comigo. Não gostei da voz dele. Me disse: ‘O presidente eleito está chegando ao
Hospital de Base, vá pra lá’.
–
Pedi desculpas, um coronel me emprestou uma gravata, porque eu estava só de
blazer, e fui. Cheguei, fui subindo, subindo, não tinha ninguém para informar
onde estava Tancredo. Aí alcancei uma sala onde estavam umas vinte pessoas, os
grandes líderes da época, o Sarney (José), o Fragelli (José,
presidente do Senado), o Marco Maciel, o Dornelles (Francisco, sobrinho de
Tancredo), ACM (Antonio Carlos Magalhães), essa gente toda. A discussão era a
seguinte: quem toma posse amanhã? Aí eu disse: senhores, eu não sei qual é a
dúvida, mas de acordo com a Constituição, artigos 76 e 77, quem toma posse é o
vice-presidente, o Sarney.
Como
é que numa situação daquelas um general, de supetão, faz isso no meio de tantos
políticos experientes? A explicação, segundo Leônidas, estaria na tese Um
Modelo Político para o Brasil, que ele defendeu na Escola Superior de Guerra e
que o obrigou à leitura de textos de constitucionalistas e das constituições do
Brasil (de 1891 a 1969) e de outros países.
–
Naquele momento, eu apareci com conhecimento e poder, porque os políticos
estavam divididos e eu sabia que o Exército queria uma decisão dentro da legalidade.
Decidi baseado na Constituição.
E
com o peso da farda coberta de quatro estrelas.
Embora
não disfarce o orgulho de sua trajetória como militar e sua participação na
política brasileira, o general Leônidas garante que a vaidade ‘nunca morou em minha
alma’. De vez em quando, porém, passa perto do “constitucionalista de
Realengo”, como o ex-presidente Figueiredo o classificou.
O
episódio que resultou na posse de José Sarney foi descrito pelo ex-presidente
da Câmara dos Deputados Ulysses Guimarães, ao explicar porque não disputou com
José Sarney o direito de substituir o presidente Tancredo Neves:
–
Eu não fui ‘bonzinho’ coisa nenhuma. Segui as instruções dos meus juristas. O
meu ‘Pontes de Miranda’ estava lá, fardado, e com a espada me cutucando e dizendo
que quem tinha de assumir era o Sarney.
O
‘Pontes de Miranda’ chamava-se general Leônidas Pires Gonçalves, então ministro
do Exército.”
………………
(O
trecho foi transcrito com a permissão dos autores).
Carlos
Gomes - Quem Sabe? - Adriana De Almeida
Compositor
Brasileiro: Carlos Gomes (1836 - 1896)
Obra: Quem Sabe?
Intérprete: Adriana De Almeida
Piano: Olinda Allessandrini
Letra: Francisco Leite de Bittencourt Sampaio.
Musica Brasilis: http://www.musicabrasilis.org.br/
A Música do Brasil no Facebook: https://www.facebook.com/AMusicaDoBra...
'' Tão longe de mim, distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Tão longe de mim, distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Quisera saber agora
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste
Se esqueceste o juramento
Quem sabe? Se és constante
Se ainda é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade agro tormento ''
* Do CD Canções Brasileiras
** Campinas, 11/7/1836 - Belém, 16/9/1896
Carlos Gomes nasceu em Campinas, São Paulo, em 1836. No Rio de Janeiro, compôs sua primeira ópera, A Noite no castelo, com libreto em português, estreada com grande êxito no Teatro Lírico em 1861.
Com sua segunda ópera, Joana de Flandres, obteve do Imperador D. Pedro II uma pensão para estudar na Europa. Em Milão, discípulo de Lauro Ross, começaria sua fulgurante carreira cujo grande marco seria a ópera O Guarani, com libreto italiano baseado no romance de José de Alencar, estreada no Teatro alla Scala, em 1870, com repercussão imediata em toda a Europa.
Obra: Quem Sabe?
Intérprete: Adriana De Almeida
Piano: Olinda Allessandrini
Letra: Francisco Leite de Bittencourt Sampaio.
Musica Brasilis: http://www.musicabrasilis.org.br/
A Música do Brasil no Facebook: https://www.facebook.com/AMusicaDoBra...
'' Tão longe de mim, distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Tão longe de mim, distante
Onde irá, onde irá teu pensamento
Quisera saber agora
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste
Se esqueceste o juramento
Quem sabe? Se és constante
Se ainda é meu teu pensamento
Minh'alma toda devora
Da saudade agro tormento ''
* Do CD Canções Brasileiras
** Campinas, 11/7/1836 - Belém, 16/9/1896
Carlos Gomes nasceu em Campinas, São Paulo, em 1836. No Rio de Janeiro, compôs sua primeira ópera, A Noite no castelo, com libreto em português, estreada com grande êxito no Teatro Lírico em 1861.
Com sua segunda ópera, Joana de Flandres, obteve do Imperador D. Pedro II uma pensão para estudar na Europa. Em Milão, discípulo de Lauro Ross, começaria sua fulgurante carreira cujo grande marco seria a ópera O Guarani, com libreto italiano baseado no romance de José de Alencar, estreada no Teatro alla Scala, em 1870, com repercussão imediata em toda a Europa.
Licença
padrão do YouTube
julio
16, 2007 por Milagil
Miror,
miratus sum, mirari es el verbo a partir del cual se ha formado la palabra y el
concepto de milagro. Significa admirar, maravillarse, mirar con admiración.
Es
un verbo deponente (forma pasiva y significado activo, que se traduce bien como
pronominal); de él hemos derivado nuestro verbo mirar, cuya forma inicial fue
probablemente mirarse, no como reflexivo, sino como verbo en que se implica el
sujeto, con el significado de ser mirado, tener miramiento, tener cuidado. Sólo
con que partamos de la diferencia entre ver y mirar, observamos que hemos
elegido este verbo para cargar sobre él toda la intencionalidad y la
subjetividad de ver. Si esto ha podido ser así es porque esa carga iba ya en el
verbo latino. De mirari deriva el adjetivo mirábilis, que ya se usó en latín
vulgar con el significado de “milagroso”, y que añadiéndole el prefijo ad- ha
pasado al español con el mismo significado que en latín: admirable, digno de
ser admirado. En el mismo grupo léxico tenemos miratio y mirator, que
traducimos como admiración y admirador. Como curiosidad léxica tenemos que del
plural neutro mirabilia, que sirve para denominar el conjunto de cosas
admirables, hemos formado el sustantivo maravilla, algo más cerca del milagro.
De hecho en latín se usa el adverbio mirabiliter de manera que se traduce muy
bien por “milagrosamente”. Llegados al término miráculum, hay que observar dos
cosas: primero, que la desinencia –ulus induce a pensar que se trata de un
diminutivo, es decir que se usa en cualquier caso para referirse a cosas de
menor entidad, por debajo de las “maravillas” (mirabilia); y en segundo lugar
que formaba parte no sólo del lenguaje culto, sino también del vulgar, y como
tal se usaba en el teatro: mirácula es para Plauto y Varrón una mujer feísima,
un prodigio de fealdad. El plural neutro mirácula miraculorum se usó para
designar habilidades y rasgos de astucia. Y en el lenguaje serio miráculum era
todo aquello que provocaba admiración, sorpresa o extrañeza.
Si
comparamos esto con lo que ocurrió en griego, el proceso es muy parecido: de
qaumazw (zaumátzo), que significa admirar, maravillarse de algo, se formó la
palabra taumaturgo qaumatourgoV (zaumaturgós) = obrador de prodigios, que
tienen ya en esta palabra toda la connotación religiosa del milagro. ¿Cómo se
produjo el salto de lo admirable a lo milagroso? Pues de la misma manera que se
han producido todas las especializaciones de palabras, desde la filosofía a la
religión, pasando por todas las ciencias: palabras de sentido general pasan a
usarse en exclusiva en léxicos cerrados. Hasta que no se pensó en serio en la
historia, las istoriai (historíai) eran las historietas que iba recogiendo
Herodoto o quien fuese, de uno y de otro, sin el menor esfuerzo por comprobar
si eran fiables o no. Historia era sinónimo de cuento. Del mismo modo, cuando
tanto los clérigos como los fieles quisieron acentuar el carácter sobrenatural
de las curaciones que obtenían encomendándose a un santo, no necesitaron
cambiar de palabra, sino dotar de nuevo sentido a la que ya venían utilizando.
Miraclo, miraglo y finalmente milagro no sólo fueron cambiando su forma, sino
también su contenido. Tal como se fue alejando el milagro del primitivo miráculum,
se alejó también el significado. Y de la misma manera que los santos milagreros
fueron redondeando sus biografías, así también sus milagros se hicieron cada
vez más milagrosos.
Mulheres de Atenas
- Chico Buarque
Nenhum comentário:
Postar um comentário