sexta-feira, 6 de maio de 2016

METÁSTASE E RUÍNA DE ORGANISMO CRIMINOSO

sexta-feira, 6 de maio de 2016




• Os 11 ministros referendaram decisão de Teori Zavascki de afastar deputado da presidência da Câmara e também suspender seu mandato

Gustavo Aguiar e Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou nesta quinta-feira, 5, por unanimidade, a decisão do ministro Teori Zavascki de afastar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara e também suspender seu mandato eletivo. Todos os 11 ministros participaram do julgamento.

A decisão da Corte partiu de um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, feito em dezembro de 2015. Para Janot, o peemedebista usava o cargo para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e a análise do processo de cassação de seu mandato no Conselho de Ética da Câmara.

Os ministros destacaram em seus votos que essa decisão se tratava de uma situação excepcional, não uma interferência do Supremo no funcionamento do Poder Legislativo.

"Afastar Cunha é uma decisão drástica, para lá de incomum. Esta decisão trata-se de uma excepcionalidade, não é um instrumento de valoração de um Poder sobre outro”, defendeu Dias Toffoli.

A ministra Cármen Lúcia também destacou que a situação era "excepcionalíssima" e que essa decisão não poderia se popularizar. “Não havia outra solução”, disse.
Gilmar Mendes disse que decisões como essa não poderiam se tornar “matéria do cotidiano”, mas aproveitou o seu voto para criticar Cunha. "O que marca o Estado de Direito é que justamente não existem soberanos", afirmou.

Em um voto breve, Luís Roberto Barroso elogiou a decisão de Teori sobre o caso e afirmou: "Eu não quero viver em outro País, eu quero viver em outro Brasil".

Após a maioria dos ministros votarem pelo afastamento de Cunha, uma queima de fogos na área da Praça dos Três Poderes pode ser ouvida pelo plenário do Supremo.

Demora. Diante das críticas de que o Supremo demorou para analisar o caso, Teori justificou a demora para tomar uma decisão ao fato de a Procuradoria-Geral da República ter enviado o pedido de afastamento às vésperas do recesso do Judiciário, quando os ministros saíram de férias. O ministro também argumentou que muitos fatos contra Cunha só foram revelados depois do pedido feito por Janot.

A pressão sobre os ministros do Supremo aumentou diante da possibilidade de Cunha passar a ser o primeiro na linha sucessória da Presidência da República com a confirmação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado.

Diante da inércia da Corte, a Rede Sustentabilidade entrou com uma ação no Supremo para pedir o afastamento de Cunha, alegando que alguém que já é réu numa ação penal na Corte não poderia assumir o mais alto cargo do País.

A ação, relatada pelo ministro Marco Aurélio Mello, foi pautada para esta quinta.

Mas Teori se antecipou e resolveu deferir a liminar afastando Cunha. Segundo assessores, o ministro tinha receio de o plenário optar por uma solução mais branda, que só proibisse o peemedebista de integrar a linha sucessória.

O presidente do STF, Ricardo Lewandowski, defendeu o tempo que a Corte levou para analisar o caso. “O tempo do Tribunal não é o tempo da política, nem é o tempo da mídia. Nós temos ritos e prazos que temos que observar”, disse.

Teori. Em sua decisão, Teori defendeu que a permanência Cunha na presidência da Câmara e exercendo a função de deputado representaria risco às investigações em curso contra ele no STF. "Está claro, pelos elementos trazidos, que há indícios de que o requerido, na sua condição de parlamentar e, mais ainda, de Presidente da Câmara dos Deputados, tem meios e é capaz de efetivamente obstruir a investigação, a colheita de provas, intimidar testemunhas e impedir, ainda que indiretamente, o regular trâmite da ação penal em curso no Supremo Tribunal Federal, assim como das diversas investigações existentes nos inquéritos regularmente instaurados", afirmou Teori.

O ministro também argumentou que alguém que já é réu no STF não pode permanecer na linha sucessória da Presidência da República. "Não há a menor dúvida de que o investigado não possui condições pessoais mínimas para exercer, neste momento, na sua plenitude, as responsabilidades do cargo de Presidente da Câmara dos Deputados, pois ele não se qualifica para o encargo de substituição da Presidência da República, já que figura na condição de réu.”

Em março, o STF aceitou uma denúncia e transformou o peemedebista em réu uma ação da Lava Jato. Cunha também responde a outra denúncia além de três inquéritos. Há ainda três outros pedidos de investigação contra o peemedebista que esperam a autorização do Supremo para serem iniciados. Em um deles, Cunha é apontado como um dos líderes de uma célula criminosa que atuava em Furnas, num esquema semelhante ao que está sendo investigado na Petrobrás.

A decisão do STF suspende as atividades parlamentares de Cunha, mas não retira as prerrogativas que o peemedebista tem como deputado. Deste modo, Cunha continua com foro privilegiado, ou seja, com a prerrogativa de ser investigado e processado criminalmente pelo Supremo e não pela justiça de primeiro grau. Ao final do julgamento, Lewandowski afirmou que a cassação do mandato de Cunha é uma decisão que caberá à Câmara dos Deputados.

Apesar de já ter decidido afastar Cunha, os ministros ainda terão de discutir uma ação proposta pela Rede Sustentabilidade. A medida fala em uma tese geral de proibir tanto o presidente da Câmara quanto do Senado a permanecer na linha sucessória caso se torne réu no STF. Os ministros, no entanto, decidiram adiar o julgamento sobre essa questão.



sexta-feira, 6 de maio de 2016
• Em breve entrevista após julgamento do STF que determinou, por unanimidade, sua suspensão, o presidente da Câmara afastado afirmou ainda que estranha e vai contestar decisão

Julia Lindner e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sugeriu que a decisão de suspensão de seu mandato, aprovada de forma unânime na noite desta quinta-feira, 5, entre os ministros do Supremo Tribunal Federal, foi uma retaliação a sua condução no processo que considerou a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. "É óbvio que é uma perseguição política do PT que gosta de buscar companhia no banco dos réus", disse ele em entrevista concedida na residência oficial da presidência da Câmara, logo após a definição no Supremo. Segundo o peemedebista, essa reação já era mais que esperada.

Para Cunha, a decisão é uma intervenção "clara e nítida" do Judiciário no Legislativo. "Isso faz parte de uma intervenção clara e nítida que foi feita no Poder Legislativo, a tal ponto que no próprio voto do ministro Teori diz que não tem previsão na Constituição para o afastamento do presidente da Câmara e para a suspensão de mandato. Ele realça isso ao final do seu voto, ele mesmo diz que foi feita uma construção. Repare que há pouco tempo o senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) teve a sua prisão decretada e não foi suspenso o mandato. Ficou preso por obstrução da Justiça e no exercício do mandato", disse.

Cunha disse que respeita e vai cumprir a decisão, mas também não vai deixar de "estranhar" e contestá-la. O peemedebista afirmou considerar "estranho" que a ação cautelar tenha caráter de urgência, mas só foi julgada seis meses depois de ajuizada, após a votação do impeachment na Câmara. "Tratou-se de uma ação cautelar ingressada em dezembro. Estranhamente só seis meses depois a ação cautelar é apreciada numa madrugada e tem julgamento no mesmo dia".

O parlamentar disse ainda que a ação só foi proposta pelo Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, com quem ele disse ter "uma desavença pública", após o acolhimento do pedido de impeachment, assim como foi a ordem de busca e apreensão na Câmara.

Para Cunha, não houve tempo nem se quer para os ministros analisarem o voto de Teori. "Não havia mais a urgência. Se houvesse urgência porque levou seis meses para apreciar a liminar?", questionou. 

"Estranhamente ela foi protocolada pelo procurador-geral da República, o qual é sabido que há uma desavença grande de contendas públicas entre nós e eles, por diversos atos anormais." Segundo Cunha, logo depois da aceitação da abertura do processo de impeachment, o procurador fez uma ação de busca e apreensão na Câmara e ajuizou a ação cautelar. "E estranhamente essa ação cautelar está sendo analisada depois que o impeachment foi votado."

O deputado disse ainda que os fatos elencados na ação, que foram assimilados pelo ministro-relator, são "absolutamente contestáveis e o mérito de contestação não foi devidamente debatido com todo o respeito ao contraditório".

Dilma. Ele também rebateu as críticas da presidente Dilma Rousseff, que disse que a suspensão do mandato ocorreu "antes tarde do que nunca". "Isso vai acabar na quarta-feira que vem, se for da vontade de Deus, com o afastamento da presidente da República e consequentemente depois o seu julgamento definitivo, para que o Brasil possa se livrar dessa era do PT, que tanto fez mal ao nosso País, e que os crimes de responsabilidade cometidos pela presidente possam ser punidos. É isso que nesse momento eu espero", declarou Cunha.

Mais cedo, a presidente Dilma Rousseff lamentou que Cunha tenha liderado o processo de impedimento. "Eu soube, quando ainda estava em Brasília, que o Supremo Tribunal Federal havia afastado o Eduardo Cunha. Deixa eu dizer que antes tarde do nunca", disse. "A única coisa que lamento é que ele infelizmente conseguiu votar o impedimento e vocês assistiram a ele presidindo, com a maior cara de pau, o processo na Câmara."





Cunha virou entulho na porta da gestão Temer
Josias de Souza
06/05/2016 04:00



Um auxiliar do vice-presidente Michel Temer comparou Eduardo Cunha a um eletrodoméstico velho. Foi muito útil para passar Dilma Rousseff no triturador do impeachment. Mas agora incomoda pela pouca serventia e pelo excesso de barulho. Depois que o STF o afastou do exercício do mandato, o ideal para Temer seria desligar Cunha da tomada. Mas ainda não foi encontrada uma maneira de fazer isso sem transformá-lo num curto-circuito.
Longe dos refletores, um aliado de Cunha, o deputado ‘petroleiro’ Arthur Lira (PP-AL), sugeriu ao amigo que renunciasse à presidência da Câmara em troca de um acordo suprapartidário que preservasse o seu mandato. A oferta foi refugada, relatou Lira a outros integrantes da infantaria parlamentar de Cunha. As legendas de oposição decidiram esticar a corda. PSDB, DEM, PPS e PSB propuseram que a Câmara simplesmente declare vago o cargo de presidente, marcando a eleição do substituto de Cunha para dali a cinco sessões legislativas.
Na noite desta quinta-feira, os líderes oposicionistas expuseram a proposta da vacância numa reunião com lideranças de legendas vinculadas a Cunha. Entre elas PMDB, PP, PR, PTB e Solidariedade. A fórmula não foi bem recebida. Um dos que se manifestaram contra foi Leonardo Picciani, líder do PMDB, partido de Cunha. Ele defendeu que seja mantido no comando da Câmara o número 2 de Cunha, o vice-presidente Waldir Maranhão, do PP maranhense.
O deputado Rubens Bueno, líder do PPS, interveio para recordar a Picciani que o governo que se instalará nas pegadas do afastamento de Dilma Rousserff é do PMDB. Disse que Temer terá de lidar com as crises econômica e política. Certamente submeterá à apreciação do Congresso propostas que exigirão aprovação rápida. Convém desintoxicar a Câmara. Bueno foi ecoado por Antonio Imbassahy (PSDB) e Paudernei Avelino (DEM). O grupo ficou de se reunir novamente na noite de segunda-feira.
Num primeiro momento, a notícia sobre o afastamento do presidente da Câmara instilou uma sensação de alívio no ambiente do Palácio do Jaburu, trincheira de Temer. Com o passar das horas, o desafogo foi cedendo lugar à apreensão. Percebeu-se que o Supremo acomodara um entulho na porta de entrada da virtual gestão Temer. E a remoção exigirá uma costura política que, se for mal executada, pode infeccionar ainda mais a Câmara.
Cunha recebeu a notificação sobre a liminar que interrompeu o seu mandato no alvorecer da quinta-feira. Estava na residência oficial da Câmara. Hesitou em rubricar o documento. Na noite anterior, ele fazia barulho no Jaburu. Esforçava-se para enfiar apaniguados dentro do futuro governo. Parecia à vontade no papel de credor político do substituto constitucional de Dilma. Súbito, tornou-se, ele próprio, personagem de uma espécie de impeachment judicial.
A posição de Cunha é análoga à da presidente petista. Com uma diferença: se Dilma for afastada pelo Senado, na próxima quarta-feira (11), seu purgatório terá a duração máxima de seis. É o tempo que a Constiuição oferece aos senadores para julgar a presidente da acusação de ter cometido crime de responsabilidade fiscal. No caso de Cunha o afastamento tem duração indefinida. No limite, pode durar até o julgamento final da ação penal que corre conta ele no STF.
Assim, continua interditada a sucessão interna na Câmara. Os deputados só poderão eleger um substituto para Cunha em três hipóteses: mediante renúncia do presidente afastado, cassação do seu mandato ou morte. Do contrário, a Câmara terá de conviver com o constrangimento de ser presidida pelo interino Waldir Maranhão, um personagem precário, acusado de receber mesada do petrolão.
Demorou algumas horas, mas a ficha dos deputados caiu. Perceberam que o STF não lhes fez um favor gratuito. Afastou Eduardo Cunha, mas manteve nas mãos dos seus pares a prerrogativa de cassar-lhe o mandato. A liminar do ministro Teori Zavascki, referendada por unanimidade no plenário da Corte Suprema, anotou:
“Além de representar risco para as investigações penais sediadas neste STF, é um pejorativo que conspira contra a própria dignidade da instituição por ele liderada. Em situações de excepcionalidade, em que existam indícios concretos a demonstrar riscos de quebra da respeitabilidade das instituições, é papel do STF atuar para cessá-los, garantindo que tenhamos uma República para os comuns, e não uma comuna de intocáveis…”
O julgamento do Supremo vale por um empurrão. Mas não desobriga os deputados de providenciarem, agora numa articulação que envolva o Jaburu, a remoção definitiva do eletrodoméstico obsoleto. Quanto mais demorar, maior será o constrangimento. O vexame se agigantará na proporção direta do aumento da exposição do vice Waldir Maranhão na vitrine do plenário. Vêm aí espetáculos deprimentes.



DIÁRIO do PODER


ROBERTO FREIRE

O termo pode ser considerado forte à primeira vista, mas é precisamente disso que se trata: segundo o Ministério Público, uma “organização criminosa” atuou no centro do governo federal com o intuito de delinquir e obter vantagens políticas em nome de um projeto de poder. A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), contra a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva por suspeita de obstrução da Justiça é o mais evidente indicativo de que o cerco se fechou e, ao que tudo indica, a Operação Lava Jato está perto de alcançar a cadeia de comando do petrolão.

No pedido encaminhado à Suprema Corte, a Procuradoria-Geral solicita abertura de inquérito para investigação de Dilma, Lula e de José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça e que hoje transformou a Advocacia-Geral da União em um mero órgão de defesa da presidente da República no processo de impeachment em tramitação no Congresso Nacional. De acordo com Janot, a indicação de Lula para ocupar a chefia da Casa Civil teve o claro objetivo de lhe garantir o foro privilegiado e afastá-lo da alçada do juiz Sérgio Moro, da Vara Federal de Curitiba, responsável pelas investigações da Lava Jato.

Os indícios de envolvimento direto de Lula no esquema são tão significativos que, além desta primeira solicitação, a PGR pediu ao Supremo que o nome do ex-presidente seja incluído no chamado inquérito-mãe do petrolão, batizado de “quadrilhão”, ao lado de figuras carimbadas do lulopetismo como Jaques Wagner, Ricardo Berzoini e Edinho Silva, atuais ministros de Dilma, além de José Sérgio Gabrielli, que comandou a Petrobras.

E não é só: Janot ofereceu denúncia contra Lula também no inquérito que apura a compra do silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, com base no depoimento do senador Delcídio do Amaral, que afirmou ter atuado sob a delegação do chefe do PT. Ao fim e ao cabo, o que se tem, em suma, são uma denúncia e dois inquéritos contra o ex-presidente, ao menos um inquérito contra Dilma e a possível inclusão dos nomes de Wagner, Berzoini e Edinho na investigação-chave do petrolão.

Um dos trechos mais emblemáticos da petição apresentada pelo procurador-geral da República, que tem a contundência própria de um diligente promotor, aponta que “essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse”. Janot vai além: “Os diálogos interceptados com autorização judicial não deixam dúvidas de que, embora afastado formalmente do governo, o ex-presidente Lula mantém o controle das decisões mais relevantes, inclusive no que concerne às articulações espúrias para influenciar o andamento da Operação Lava Jato”.

A gravidade das denúncias apresentadas pela PGR escancara o grau de degradação a que chegou o Poder Executivo sob o comando do aparelho lulopetista. É necessário aguardar o desfecho das investigações, mas Dilma e Lula já estão indelevelmente marcados como participantes ou beneficiários do maior esquema de corrupção da história da República brasileira.

Mais do que nunca, o Brasil exige um novo rumo, um novo tempo, um novo governo que não se enxovalhe com a corrupção desenfreada e a sucessão de escândalos que o país acompanhou nos últimos 13 anos. É fundamental que, na próxima semana, o Senado vote pela admissibilidade do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, o que resultará no afastamento imediato da presidente da República e no encerramento de um triste período de nossa história.

O desmantelamento da organização criminosa incrustada no Palácio do Planalto é o primeiro passo para que o país supere a crise econômica e social gerada pela irresponsabilidade do PT, retome o crescimento, dê alento aos seus mais de 11 milhões de desempregados e comece a construir um futuro mais próspero. O ocaso da quadrilha que se apoderou do Estado representa o renascimento da nossa esperança em uma nação mais digna. 

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS





O QUE É O CÂNCER?




Ao desobedecer aos comandos de supressão e de entrar em apoptose, as células malignas começam a dividir-se excessivamente como se tivessem voltado ao estado embrionário, mas sem o controle harmonioso que existia naquela fase. O resultado é a formação de um agrupamento microscópico de células-filhas, clones da mãe desordenada que lhes deu origem.
Na medida em que as divisões prosseguem e as novas células se empilham desordenadamente umas sobre as outras, o acesso à nutrição e ao oxigênio se transforma em questão de vida ou morte.
Então, por instinto de sobrevivência, as células malignas começam a fabricar proteínas capazes de estimular a formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese) e de atraí-los em sua direção. Em pouco tempo estará formada uma rede de capilares que irrigarão o tumor ainda microscópico.
Essa estratégia tem um preço: a irrigação traz para o local anticorpos e os glóbulos brancos responsáveis pela organização das defesas imunológicas. Lá eles reconhecem como estranho aquele agrupamento rebelde às leis que regem a divisão celular e disparam contra ele uma resposta enérgica com a finalidade de destruí-lo.
Para resistir ao ataque, as células malignas lançam mão de todos os disfarces possíveis. Entre outras estratégias, produzem proteínas que bloqueiam a maquinaria de guerra dos glóbulos brancos, liberam fatores de crescimento para acelerar sua velocidade de multiplicação ou para bloquear a apoptose, escondem-se em locais inacessíveis às defesas imunológicas ou permanecem imóveis sem se multiplicar, para despistar o inimigo.
Apesar dessas medidas, é possível que acabem destruídas ou incapazes de sobreviver. No entanto, se não forem eliminadas nessa fase, lançam mão de sua arma mais letal: a capacidade de desgarrar-se da pequena massa tumoral, esgueirar-se para dentro dos vasos sanguíneos, cair na circulação e aninhar-se em outros tecidos, processo conhecido como metástase.





As células malignas proliferam no início (A), depois invadem estruturas locais e levam à formação de vasos sanguíneos, onde por fim penetram (B) com capacidade de se espalhar e atingir órgãos distantes.
É por isso que a detecção precoce do câncer é tão enfatizada pelos médicos. Quando o câncer é removido no início, o risco de que ele possa liberar na circulação células-filhas com capacidade de se espalhar para outros órgãos é muito menor.
Elas permanecem nesses tecidos, em silêncio, à espreita do momento propício para cumprir seu destino: multiplicar-se. Ao contrário das células normais, que não sobrevivem fora do órgão de origem, as malignas não apenas conseguem permanecer vivas durante anos, como são capazes de proliferar em qualquer tecido do organismo. Uma célula pulmonar normal implantada no fígado é eliminada rapidamente; a maligna sobrevive e forma células-filhas.
Numa metástase óssea, por exemplo, as células que crescem dentro do osso são células malignas mamárias, prostáticas ou pulmonares, de acordo com o tumor que lhes deu origem. Na metástase, a célula maligna preserva as características básicas do tumor primário, ou seja, uma metástase de câncer de mama que se espalhou para o osso, ao olhar do patologista, não é um tumor do osso, e sim, um tumor de mama sitiado no osso.
A capacidade de multiplicação das células malignas não tem limite. Elas se dividem predatoriamente, a ponto de provocar a morte do próprio organismo que lhes deu origem. Células normais cultivadas em laboratório nascem, crescem e morrem obrigatoriamente, como nós. As malignas não; se não lhes faltar nutrientes no meio de cultura, multiplicam-se sem parar, por décadas e décadas, até o final dos tempos, pois são imortais.
O que é o grau de diferenciação do câncer?
Todas as células do corpo humano se originam de uma única célula, o ovo, a junção entre o óvulo materno e o espermatozoide paterno. O ovo tem a capacidade de dar origem aos diversos tipos de células que irão formar o corpo humano, sendo essa capacidade denominada diferenciação. Assim, as células diferenciadas são aquelas que se transformaram em células de tecidos e órgãos especializados, como o cérebro, os músculos, o fígado etc.
As células do câncer costumam percorrer um caminho inverso, o da indiferenciação, que consiste na perda das características originais das células dos tecidos ou órgãos que deram origem ao tumor. Por isso, fala-se que as células do câncer são mais diferenciadas quando elas são mais parecidas com as do tecido ou órgão que lhes deu origem, e menos diferenciadas ou indiferenciadas quando existe menor semelhança entre as células do tumor e as do tecido ou órgão que lhes deu origem. Tumores mais diferenciados têm um comportamento mais favorável, ao passo que os tumores mais indiferenciados são mais agressivos.
Enfim, o que é o câncer?
O câncer pode ser definido como uma proliferação anormal e descontrolada de células oriundas de uma célula previamente normal, que sofreu uma ou mais mutações, e que tem a capacidade de se espalhar pelo organismo.
Como mostra a figura a seguir, em geral ou a mutação é reparada ou a célula morre por apoptose. Entretanto, a célula que se torna maligna não morre. Na maioria das vezes, acumula várias mutações que resultam em proliferação descontrolada e capacidade de se espalhar pelo corpo.





Note as células normais em comparação com as células cancerosas que acumulam mutações e proliferam sem controle.
Publicado em 30/08/2013



Equipe Oncoguia
- Data de cadastro: 16/05/2013 - Data de atualização: 16/05/2013

O que é câncer metastático?
Tumor metastático é aquele que se espalhou a partir do lugar onde se iniciou para outro local do corpo. Um tumor formado por células cancerígenas metastáticas é denominado tumor metastático ou metástase. O processo pelo qual as células cancerígenas se espalham para outras partes do corpo é também chamado de metástase.
O tumor metastático tem o mesmo nome e o mesmo tipo de células cancerígenas do tumor primário onde se originou. Por exemplo, o câncer de mama que se dissemina para o pulmão formando um tumor metastático é o câncer de mama metastático e não um câncer de pulmão.
Sob um microscópio, as células cancerígenas metastáticas geralmente têm a mesma aparência das células do câncer de origem. Além disso, as células metastáticas e as células do tumor primário geralmente têm algumas características moleculares em comum, como a expressão de determinadas proteínas ou a presença de alterações cromossómicas específicas.
Embora alguns tipos de câncer metastático possam ser curados com os tratamentos atuais, a maioria não tem cura. No entanto, os tratamentos estão disponíveis para todos os pacientes com câncer metastático. Em geral, o principal objetivo destes tratamentos é controlar o desenvolvimento da doença ou aliviar os sintomas causados pela metástase. Em alguns casos, os tratamentos do câncer metastático podem ajudar a prolongar a sobrevida. No entanto, a maioria das pessoas que morrem de câncer é devido à doença metastática.



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