Prestes,
Brizola e Jefferson dissecam Lula e PT
Entrevistas
na TV:
Veja os melhores momentos do 'massacre' sofrido
por ministro do STF no Roda Viva
Luis Carlos Prestes (1898-1992), o Cavaleiro da Esperança, recusou convite de
Getúlio Vargas (1882-1954) para comandar militarmente a Revolução de 1930. Morreu,
em 1992, ostentando o título de presidente de honra do PDT, de Leonel Brizola
(1922-2004), o que dizia vir de longe. Todos gaúchos.
Programa Ferreira Netto -
Entrevista com Luiz Carlos Prestes , TV Record 1989
O
PDT foi fundado com essa denominação quando, na reorganização partidária pós-ditadura
de 1964, a sobrinha de Getúlio Vargas, Deputada por São Paulo, a gaúcha Ivete
Vargas (1927-1984), gaúcha de São Borja, foi mais ágil em registrar a legenda
PTB, da qual Brizola se julgava herdeiro histórico. Getúlio também era gaúcho.
O
QUE O BRIZOLA PENSAVA DO LULA E O PT
Especula-se
que Ivete articulou-se com o chefe da casa civil do General Ernesto Geisel
(1907-1996), General Golbery do Couto e Silva (1911-1986), também gaúchos, para
dar uma rasteira em Brizola.
Brizola
vai para a televisão, que julgavam dominar como poucos. Dramaticamente, rasga
um pequeno papel onde estava escrito PTB, desliza o T para o lugar do B e enfia
um D de cambulhada entre o P e o T. Nasce o PDT que elege Brizola governador no
Rio de Janeiro. Nessa esteira, Jaime Lerner é eleito prefeito em Curitiba e
Alceu Colares em Porto Alegre. Um cantor popular histriônico, um cacique
indígena folclórico e um líder do movimento negro são também eleitos deputados
federais por esta sigla.
Rio
de Janeiro foi a base do PDT. Como São Paulo foi a do PT e PSDB. O Redentor
sempre acolheu de braços abertos os trabalhistas de Vargas nas águas da
Guanabara.
São
Paulo da garoa recusa-lhe mais uma vez guarida acolhendo para confrontar-lhe
irmãos imberbes com fachadas social-democratas.
Brizola
teve que seguir a sina de Getúlio em terras paulistanas e delegar ao filho do
ex-governador Ademar de Barros, o Filho (1929-2014), a organização de seu
projeto de poder no centro mais dinâmico trabalhista e industrial da América
Latina.
O
caminho estava pavimentado para a futura pupila de Lula da Silva e primeira
mulher eleita presidente da República pelo PT sem D no meio.
Ironicamente
era o D de democrata que dava um verniz democrático àquela sigla historicamente
comprometida com um ranço autoritário e taxado de caudilhismo.
Brizola
foi candidato a vice-presidente de Lula em dobradinha PDT/PT. Já haviam sido
derrotados na corrida presidencial anterior para Collor/Itamar.
Foram
novamente derrotados por Fernando Henrique Cardoso e Marco Maciel, que
prometiam acabar com a herança trabalhista Getulista na política brasileira.
Marco
Maciel foi líder do General Geisel pela ARENA durante o regime militar. FHC
governou dois mandatos com a vice-liderança deste quadro geisista que atuava
com discrição e operosidade.
O
gaúcho Ernesto Geisel iniciou militância política na década de 1930, como major
do exército, por indicação do Presidente Getúlio Vargas, em intervenção do
Estado de Pernambuco, de Marco Maciel.
Fernando
Collor de Melo é neto do gaúcho Lindolfo Collor (1890-1942), primeiro ministro
do trabalho de Getúlio nos anos 1930. Itamar Franco (1930-2011) iniciou sua vida política
em Juiz de Fora, MG, no final da década de 1950, como candidato derrotado a
vereador pelo PTB de seu mentor, o ideólogo gaúcho Alberto Pasqualini
(1901-1960).
No
impeachment de Collor de Melo, Roberto Jeferson, presidente então do PTB, foi
uma das aves raras a permanecer até o fim da estação no apoio do presidente
apeado pelo impeachment.
Na
crise do denominado Mensalão, em 2005, Jeferson ainda presidente do PTB
defendeu vigorosamente o presidente Lula então considerado o chefe daquele
esquema criminoso. Enquadrou o Chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, do PT
do presidente, para que o mesmo se afastasse do governo, a fim de salvar um
“inocente”.
Cristiane
Brasil, presidente nacional do PTB, filha de Jeferson, hoje se alinha na frente
de oposição ao governo dilmalulopetista pelo impeachment em tramitação no Congresso
Nacional.
Ombreia-se
nesta missão ao lado do piauiense Wellington Moreira Franco, ex-genro de Alzira
Vargas (1914-1992) e Amaral Peixoto (1905-1989), filha e genro de Getúlio
Vargas.
Pai
Roberto reassume.
JEFFERSON
VOLTA À POLÍTICA E PREVÊ QUE
LULA
E CUNHA SERÃO PRESOS
Posted on abril
1, 2016 by Tribuna da Internet 29 comments
Luciana Nunes Leal
Estadão
Condenado
a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão, o ex-deputado Roberto
Jefferson obteve perdão da pena e se prepara para reassumir em 14 de abril, a
presidência do PTB. Quer voltar ao comando partidário ainda durante o processo
do impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao qual é favorável.
Pelos
cálculos do petebista, 17 dos 19 deputados do partido deverão votar contra
Dilma. O indulto acabou com proibições impostas pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), como falar de política e só viajar com autorização judicial. Em
entrevista ao Estado, Jefferson, de 62 anos, diz que, na época do mensalão, não
sabia, mas agora tem certeza de que o ex-presidente Lula tinha conhecimento da
corrupção que envolvia o PT e parlamentares da base.
Sobre
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Jefferson diz não ter dúvida de que o
peemedebista será preso. “Eduardo é o bandido pelo qual eu mais torço”, diz.
“Ele foi o adversário mais à altura do Lula. Lula nunca esperou encontrar um
bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele”, ironiza, prevendo que
Lula também cumprirá pena.
A ainda presidente do país, Dilma
Rousseff, hoje mais do que nunca isolada e hostilizada por seu partido político
PT, é egressa do mesmo PDT gaúcho de Brizola, Prestes e seu atual presidente
Carlos Lupi.
quinta-feira,
31 de março de 2016
1964: A luta política pela democracia - Raimundo Santos:
O
golpe de 1964 depôs João Goulart e interditou as liberdades democráticas. O seu
governo refletia as lutas em favor das "reformas de base" e pela
ampliação de direitos. Crescia o movimento de opinião pública em defesa da
economia e das riquezas nacionais, inclusive com repercussão nas Forças
Armadas. Fortaleciam-se o sindicalismo urbano, os sindicatos rurais, as ligas
camponesas e o associativismo de diversas categorias. Intelectuais, áreas do
mundo da cultura e estudantes dinamizavam o campo progressista dessa época.
Goulart
enfrentou dura oposição da União Democrática Nacional (UDN) e de setores
reacionários. Áreas da sua base de apoio, nucleada pelo Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) e pelo Partido Social Democrático (PSD), oscilavam diante das
dificuldades, sobretudo econômicas. As esquerdas se dividiram, parte dela se
radicalizou, passando a combater o que chamava de “conciliação” do governo com
os conservadores. Goulart chegou ao final de março de 1964 politicamente
isolado.
Diferentemente
dessa experiência da frente nacional e democrática (expressão daqueles anos), o
campo da resistência ao regime de 1964 iria ter como norte as liberdades
democráticas (cf. Resolução política do PCB, maio de 1965) e iria se firmar a
valorização da democracia política como caminho para alargar direitos e
realizar reformas estruturais.
A
ditadura logo se deparou com oposição. Em 1965, foi derrotada nos estados da
Guanabara e Minas Gerais nas eleições para governador. Entre 1966 e 1968 se
formou um campo oposicionista ativado pelo Movimento Democrático Brasileiro
(MDB), pelas ações de intelectuais e de áreas da vida cultural e artística e
pelos estudantes. Os sindicatos recuperavam suas entidades sob intervenção.
Essa animação teve o seu ponto alto na passeata dos 100 mil no Rio de Janeiro.
A
ditadura impôs o Ato Institucional n. 5 (AI-5) em 13/12/68, fechou o Congresso,
cassou mandatos e direitos políticos e extremou a repressão. Nos anos de chumbo
(1969-1975), a tortura teve uso sistemático, numerosos opositores desapareceram
e os exílios aumentaram.
Ao
contrário das correntes que não viam saída que não fosse o confronto direto, na
frente democrática se acreditava, principalmente no Partido Comunista
Brasileiro (PCB), que o endurecimento do AI-5 poderia ser barrado por meio da
política. O MDB amplia sua atividade nas eleições controladas e até na eleição
indireta para Presidente da República de 1973, quando Ulisses Guimarães e
Barbosa Lima Sobrinho se lançaram anticandatos. A oposição se fortalece com
outras mobilizações (trabalhistas, sobretudo do ABC paulista e do
associativismo variado (professores, servidores públicos, comunitário etc.), e
com as Diretas Já, até derrotar a ditadura ao eleger em 1985, no Colégio
Eleitoral, Tancredo Neves e José Sarney. Em 1988, a nova constituição
consolidou a forma democrática de vida dos brasileiros e definiu marcos para as
mudanças.
Ir
a esse passado ajuda a defender a cultura democrática neste tempo de
desvalorização da política e da democracia representativa e suas instituições.
E traz até nossos dias um padrão de agir das esquerdas referido ao conjunto da
sociedade brasileira, cujos marcos se desenvolveram no contexto da frente
democrática de resistência ao regime de 1964.
Raimundo Santos,
professor do UFRRJ
Entrevista. Roberto
Jefferson
Condenado
a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão e com pena
recém-perdoada pelo STF, o ex-deputado quer voltar ao comando do PTB ainda
durante o processo do impeachment de Dilma, ao qual é favorável
'O bandido pelo qual eu mais torço é o Eduardo Cunha'
Luciana Nunes Leal
31
Março 2016 | 18h 19
O
ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ)
RELACIONADAS
RIO
- Condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do mensalão, o
ex-deputado Roberto Jefferson obteve perdão da pena no último
dia 22 e se prepara para reassumir em 14 de abril, a
presidência do PTB, atualmente ocupada por sua filha, a deputada Cristiane
Brasil. Quer voltar ao comando partidário ainda durante o processo do
impeachment da presidente Dilma Rousseff, ao qual é favorável.
Pelos
cálculos do petebista, 17 dos 19 deputados do partido deverão votar contra
Dilma. O indulto acabou com proibições impostas pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), como falar de política e só viajar com autorização judicial. Em
entrevista aoEstado, Jefferson, de 62 anos, volta à velha forma: mistura
acusações a antigos aliados, ironia e lembranças do período de pouco mais de um
ano em que ficou na prisão.
Jefferson
diz que, na época do mensalão, não sabia, mas agora tem certeza de que o
ex-presidente Lula sabia da corrupção que envolvia o PT e parlamentares da
base. “Eu tive a impressão de que o mentor intelectual do mal era o Zé Dirceu (ex-deputado
federal, condenado pelo mensalão e preso por envolvimento no esquema de
corrupção da Petrobrás). Mas hoje (...) não tenho mais dúvida de que o Lula
estava a par de tudo. Não aconteceu sem que o Lula soubesse. O Lula realmente
sabia de toda essa corrupção e ele institucionalizou essa corrupção a partir
dessa chefia do governo.”
Embora
veja legitimidade no deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é investigado na
Operação Lava Jato, para presidir a Câmara durante o processo do impeachment,
Jefferson diz não ter dúvida de que o peemedebista será preso. “Eduardo é o
bandido pelo qual eu mais torço”, diz. “Ele foi o adversário mais à altura do
Lula. Lula nunca esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral,
intelectual que ele”, ironiza.
Como
foram os primeiros dias depois do indulto?
Quarta-feira
à noite o pessoal foi lá e tirou a tornezeleira. Quinta-feira de manhã cedinho
peguei a moto e fui embora (para Levy Gasparian, cidade no interior do
Estado). Fiquei tão tenso que a minha mão direita doía. Eu andava dentro do
condomínio (onde mora, na Barra da Tijuca, zona oeste carioca), mas é
diferente. Rodei 600 quilômetros só para matar a saudade do asfalto.
O
senhor vê paralelo do processo de impeachment da presidente Dilma e do
ex-presidente Fernando Collor de Melo, que acompanhou de perto?
A
questão moral é a mesma. O que motivo o impeachment do presidente Collor foi
uma acusação de corrupção. O que motiva o impeachment contra a presidente Dilma
e o PT é o sentimento de corrupção. Contra o Collor havia uma mobilização da
empresa paulista, que havia sofrido a queda do monopólio, a indústria
automobilística, que teve que abrir para ter uma competição com carros mais
modernos. Havia uma grande contrariedade da Fiesp, da Febraban. Havia o ódio
petista das derrotas sofridas, o ressentimento da elite do PSDB de São Paulo,
que havia perdido a eleição para o Collor. Era mais conduzido partidariamente e
mais ligado ao movimento econômico. Hoje a diferença, apesar da corrupção, é
que é uma coisa da classe média, A, B, C, que foi para a rua espontaneamente. O
povo quer fora PT, fora Lula, fora Dilma, o fim da corrupção. O impeachment do
Collor foi mais político, nasceu dentro do Congresso Nacional. O impeachment
que movimenta a sociedade contra a Dilma é judicial. Não é um impeachment com
motor político. O herói é o juiz Sérgio Moro, os promotores do Paraná.
Os
defensores da presidente apontam golpe, no sentido de que a Constituição não
está sendo respeitada. Como o senhor vê essa reação?
Eles
querem fazer um paralelo com João Goulart (presidente deposto no golpe de
1964). Ali podemos dizer que foi um golpe, não uma revolução. Agora não há um
movimento para derrubar o governo com uma ruptura constitucional. O impeachment
é legal, é constitucional, tem o rito constitucional fiscalizado pelo Supremo
Tribunal Federal. Não há golpe. Dilma não pode se comparar ao Jango. O
impeachment da Dilma se compara ao do Collor.
Quando
o senhor, que fazia parte da “tropa de choque” do Collor, percebeu que o
impeachment seria aprovado na Câmara?
Eu
sempre achei que o Collor não sairia do impeachment, ele era muito mal visto.
Era uma espécie de Dilma de saco roxo, como ele costumava dizer. A Dilma é
autoritária, arrogante, o Collor era assim no passado. Ninguém gosta dela.
Quando a pessoa vê a oportunidade de dar um pontapé, vai dar.
Mas
é preciso haver crime para haver impeachment. Há prova de crime?
Tem
a pedalada fiscal, tem essa questão eleitoral, o esquema montado para
financiamento da campanha. Aquele PC Farias era menino de procissão perto dessa
turma do PT.
O
senhor acredita que a presidente Dilma e o ex-presidente Lula sabiam da forma
como chegavam os recursos para as campanhas eleitorais?
À
época do mensalão, eu não acreditava, eu achava que parava na Casa Civil. Eu
tive a impressão de que o mentor intelectual do mal era o Zé Dirceu. Mas hoje,
com as provas colhidas, com a abertura que a imprensa fez do material colhido,
tenho absoluta certeza de que o Lula era senhor de tudo que havia no País.
Existem
provas disso?
Essas
delações premiadas, o (ex-deputado) Pedro Corrêa dizendo isso, o
senador Delcídio Amaral (ex-líder do governo no Senado) dizendo isso.
Não tenho mais dúvida de que o Lula estava a par de tudo. Não aconteceu sem que
o Lula soubesse. O Lula realmente sabia de toda essa corrupção e ele
institucionalizou essa corrupção a partir dessa chefia do governo.
Essa
tese vale para o mensalão e para o petrolão?
Posso
falar agora que vale para o mensalão. Naquela época eu não poderia falar.
Vi outro dia o Pedro Corrêa dizendo que o financiamento do mensalão vinha do petróleo,
uma das fontes do mensalão era o petróleo. Era muito dinheiro para ser apenas o
Marcos Valério através de uma conta de publicidade.
Quando
o senhor deixou a prisão, em maio do ano passado, o senhor fez um gesto
indicando que estava entalado com o petrolão, mas estava impedido de falar pelo
STF. O que isso significa? O senhor conhecia a conexão entre o petrolão e o
mensalão?
Não
conhecia, não. Não imaginei que chegasse tão longe o processo de corrupção
instituído pelo PT. Foi inusitado para mim.
O
senhor tinha conhecimento do esquema de corrupção na Petrobrás?
Eu
não soube dessas coisas da Petrobrás naquela época. O que eu sei é que a
Petrobrás sempre foi a empresa elite dos partidos mais poderosos. As estatais
no Brasil são o braço financeiro das corporações sindicais e dos partidos. Quem
financia partido político são as estatais. Vamos ter que repensar isso. Se
queremos país moderno, vamos ter que fazer privatização, porque não vai
permitir a concentração da corrupção. Um assalto de US$ 1 bilhão como o (da
refinaria) de Pasadena você não ia escutar em lugar nenhum. Só na
concentração de poderes que a Petrobrás tem. O Brasil vai ter que enfrentar a
privatização. A estatal é a semente da corrupção no Brasil. Os partidos
políticos disputam os cargos nas estatais para seu financiamento. No fragor
dessas denúncias está Dona Dilma, pegando de volta as estatais do PMDB para
distribuir no varejo para os deputados. Isso é corrupção. O que vão assaltar
nos seis meses enquanto durar o processo de impeachment dela é uma loucura. Vai
todo mundo querer fazer caixa, porque ela cai em seis meses. “Cobra 100% de
comissão aí!” Tem que ser rapidinho, vai ser igual dinamite em caixa de banco.
O
PTB pleiteou alguma diretoria ou gerência importante na Petrobrás?
Nunca,
nós éramos muito pequenos. O PTB teve a presidência da Eletronorte, a diretoria
do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e aquela diretoria
dos Correios.
E
Furnas?
Uma
diretoria nos foi oferecida pelo presidente Lula, para compensar a não
transferência dos recursos nas eleições em que PT fechou acordo com PTB. O PTB
fechou uma grande aliança com o PT nas capitais, a Marta (Suplicy) foi
eleita com apoio do PTB em São Paulo. Eles ofereceram R$ 20 milhões para
financiamento do PTB e deram R$ 4 milhões. Foram os R$ 4 milhões que o Marcos
Valério levou. Como eles não cumpriram os R$ 16 milhões e no PTB ficamos com
uma grave dívida e uma crise interna, o presidente Lula tentou montar para o
PTB um caminho de financiamento para suprir esse gasto, a diretoria de Furnas (de
Engenharia), onde estava o Dimas Toledo. Mas não se concretizou.
O
que aconteceu? Havia um esquema anterior?
Havia.
Eu soube disso quando indicamos doutor Francisco Spirandel para ocupar o lugar
do Dimas. Recebi contato do Zé Dirceu para que eu fosse conversar com ele na
Casa Civil. Ele disse “em vez de trocar o Dimas, por que a gente não faz um
acordo, você mantém o Dimas e ele passa a ajudar o PTB?” Eu disse “da minha
parte, sem problema”. Dimas foi à minha casa conversar, foi quando conheci o
Dimas. Dimas disse “minha diretoria rende de apoio R$ 3 milhões por mês, mas eu
tenho comprometidos R$ 1 milhão com o PT de Minas, R$ 1 milhão com o PT
Nacional, dou R$ 600 mil a 12 deputados do PSDB, R$ 50 mil a cada um, eles
apoiam de vez em quando o governo federal. E R$ 400 mil para a diretoria.
E
qual era a origem desse dinheiro?
Os
contratos que ele gerenciava lá na Engenharia. Comissão da Engenharia. Então
combinamos: a gente mantém o apoio ao PT de Minas, aos 12 deputados que ajudam
nas votações mais importantes do governo do Lula e passa a dar R$ 1
milhão para financiar o PTB Nacional. Eu falei “da minha parte, perfeito”.
Estava fechado e marcamos encontro com o presidente Lula para comunicar que não
precisava trocar o Dimas, que tinha esse acordo. Eu, Zé Dirceu, Walfrido dos
Mares Guia, que era ministro do PTB, e o presidente Lula. Lula perguntou
“quando esse cara de vocês, Spirandel, assume?” Eu disse que havia o acordo de
convivência do PTB com o PT. (Lula disse) “Quero ouvir de você”. E eu
contei o que acabei de dizer para você. Lula disse “não estou de acordo, porque
esse Dimas é o cara do Aécio, só faz propaganda para o governo de Minas, do
Aécio, se vocês não trocarem eu vou trocar”. Eu disse “então bota o Spirandel”.
Quando acabou a reunião, Zé Dirceu me interpela “você quis o boi com chifre e
tudo, se você bate o pé, ele mantém o Dimas’. Eu disse “Zé, por que você não
interveio?” Desci com Walfrido para a garagem, ele segurou meu braço e disse
“você foi para o céu”. Eu disse “acho que eu fui para o inferno, a reação do Zé
Dirceu foi muito ruim”. Uma semana depois veio a matéria da Veja (que
exibiu gravação de um funcionário dos Correios cobrando propina e dizendo que
falava em nome de Jefferson), que se assemelha à verdade, mas não é a verdade.
Zé Dirceu montou com a Veja aquela matéria.
E
o movimento seguinte foi o senhor revelar o esquema do mensalão?
Tentaram
segurar, disseram para eu deixar a presidência do PTB, iriam nomear um deputado
ferrabrás, mas que faria um relatório final não me indiciando. Eu disse “não
conta comigo não, entrei pela porta da frente e é de onde vou sair, mas prepara
porque vai ter tiro daqui, vou pegar vocês, o que eu tenho vou botar para
fora”. Deu no que deu. Ali foi a origem de tudo, a origem desse momento que o
Brasil vive hoje. Eu te confesso que até aquele momento eu achava que o PT, que
o Lula, tinham ética. Um partido igrejeiro, quase de batina, de barba preta e
sotaina, nascido do útero da Igreja.
Quem
eram os 12 deputados do PSDB que recebiam propina de Furnas?
Não
sei, não perguntei. Devem ter ajustado um grupo de 12 deputados federais que,
naquelas votações mais importantes, votava com o governo.
O
senhor foi indiciado pela Polícia Civil do Rio por corrupção e lavagem de
dinheiro relacionado a Furnas. Como vai responder?
Pedi
ao Ministério Público para me ouvir. Uma delegada pediu meu indiciamento
indireto sem me ouvir. Não me furto a nada. Ela disse que eu confessei. Nós não
recebemos. Eu pensei que a lei punisse só fato consumado. Nunca vi a lei punir
intenção. O PTB nunca recebeu nenhum recurso de Furnas, do Dimas Toledo, ele
não chegou a operar para ajudar do PTB. Vou esclarecer. Faz parte da vida. Eu
tive que me eviscerar para dar essa partida, para tirar a máscara da face do
PT, botar o rei nu. E a evisceração provoca esse tipo de julgamento açodado.
“Esse cara é Judas, vamos malhar”. Eu tenho que compreender.
Como
petrolão e mensalão se conectavam?
Hoje
eu leio o petrolão como fonte de financiamento do mensalão. Um dos graves
problemas do PT foi o financiamento dos partidos políticos. Hoje pode fazer
PMB, PSD, P não sei o quê...tem 40 partidos. Quando o PT encontra resistência
em uma direção partidária, dissolve aquele partido, pega um grupo, faz outro
partido. Quem se manteve firme e não se fragmentou foi o PMDB. Quando o PMDB
viu que o PT estava tentando esfacelar o partido, criando esse PSD com o
ex-prefeito de São Paulo (Gilberto Kassab) começou ali a reação.
Eduardo Cunha vem reagindo a partir dali. Essa janela que abriram agora (que
permitiu troca de partido) é mensalão de novo. Os caras que se aproximavam
para conversar pediam luvas de R$ 1 milhão, R$ 600 mil e mensalão de R$ 30 mil,
R$ 40 mil, R$ 50 mil por mês. É a mesma coisa do mensalão. Aconteceu tem dez
dias. O PTB foi assediado.
Por
quem?
Teve
gente que me procurou (para ir para o PTB). “Preciso de R$ 1 milhão”. Eu
disse “aqui no PTB não se paga mensalão para ninguém”. Eram deputados de outra
legenda que vinham com essa conversa para passar para o PTB. Perdemos alguns
deputados e sei que cantaram na orelha deles essa conversa. Quem patrocina? O
PT, o governo. Não vou citar ninguém. Está na raiz do PT a corrupção. Pelo que
vejo, (o dinheiro que abastecia o mensalão) vinha de vários lugares.
As estatais estão sempre na corrupção e as para estatais, que são as
empreiteiras. Não tenho pena da Odebrecht, tinha que fechar. Dá chance às
pequenas que estão começando no Brasil. Não pode importar uma empresa de fora.
Que conversa é essa de ‘o petróleo é nosso, a ponte é nossa’. Quem vier para cá
vai ter que contratar a mão de obra aqui.
Por
que o PTB não tinha espaço na Petrobrás?
Tinha
um senador do PTB, não em acordo de partido, que mandava na BR, nessas
cooptações que o PT fez no Senado, no varejo. Mas o PTB nunca esteve em direção
de qualquer empresa desse porte. Não sou santo nem quero fingir que sou. Mas eu
sempre tive limites, nunca passei da linha amarela. Quando sentava um
empreiteiro na minha frente, levado, vamos dizer, pelo presidente da
Eletronorte. Eu dizia “leve em consideração três coisas para ajudar o PTB:
primeiro, o interesse da empresa estatal; segundo, o interesse da sua empresa;
terceiro o que você puder dar”. Sempre a conversa foi confortável. “Naquela
época tinha caixa 2. Hoje não existe mais. Ele perguntava “como o senhor quer
receber?” Eu dizia “como você quiser dar ao PTB, por dentro, por fora”. As
coisas eram tratadas dessa maneira.
Por
que o senador e ex-presidente Fernando Collor deixou o PTB?
Porque
não está conformado, porque a direção nacional do partido se posiciona pelo
impeachment. Ele pediu um pouco de moderação, achava que a Cristiane(Brasil,
filha de Jefferson, deputada federal e presidente nacional do PTB) estava
sendo muito dura com a presidente Dilma, com o presidente Lula. Eu falei: “ela
não vai mudar o discurso e eu não vou pedir a ela para mudar”. Essa foi a
principal razão. Eu aproveitei e cobrei que ele organizasse o PTB em Alagoas.
Só ele tem se elegido. Tem que fazer vereador, prefeito. Fomos cordiais um com
o outro. Realmente a Cristiane tem que moderar um pouquinho.
Acredita
que haverá condenações e prisões no petrolão como houve no mensalão?
Penso
que o Lula não vai escapar. O mensalão parou na antessala dele, na Casa Civil.
Mas o petrolão entrou dentro do Palácio (do Planalto). Ou esse (Marcelo)Odebrecht
fala ou vai levar 30 anos na cadeia. Marcos Valério levou uma martelada de 40
anos. O processo do petrolão é diferente do mensalão. O mensalão surgiu do
embate político, de uma denúncia que eu fiz. No petrolão não tem nem voz da
oposição. A oposição está em silêncio porque muito dos seus estão
comprometidos, tem muita gente da oposição enroscada nas empreiteiras.
Já
houve um comentário de que o senador Delcídio Amaral seria um novo Roberto
Jefferson, por causa da delação premiada que ele fez. O que o senhor acha?
Vejo
com bons olhos, apesar de eu não ter feito delação premiada. Nem pleiteei isso.
Arquei com as consequências das minhas atitudes. Eu fiz uma luta política. O
juiz perguntou se eu queria fazer e eu disse que delação premiada é conversa de
canalha. Hoje tenho até outra visão disso. Penso que Delcídio fez uma bela
contribuição. O gesto dele de tentativa de obstrução à Justiça foi menos grave
que o ministro (Aloizo) Mercadante. Mas houve dois pesos e duas
medidas. Delcídio foi preso, e Mercadante sequer foi incomodado.
Por
que o senhor mudou de opinião em relação às delações?
A
Lava Jato não teria avançado (se não fossem as delações). Eu fui condenado
até mais que o Genoino (José Genoino, ex-presidente do PT), que assinava
as promissórias do PT e dizia que assinou sem ver. Isso é conversa de petista.
“O sítio é do meu amigo, o apartamento é do meu amigo, o barquinho é do meu
amigo." Isso é conversa de petista. O que eu fiz eu assumi. Mas não me
abati, nunca reclamei, respeitei a decisão, cumpri a decisão. Se tivesse que
fazer, fazia tudo de novo. É o preço que eu tive que pagar pelas atitudes que
cometi. Hoje eu não repetiria essas atitudes.
O
que o senhor não repetiria?
Não
faria parceria com o PT. O PT não dá, quer se aboletar no poder, quer
transformar o País em uma ditadura comunista, socialista. Isso eu repilo, tenho
pavor, acho um atraso.
O
senhor vai voltar para a política?
Para
a política eleitoral, talvez não. Lá em casa já tem deputada federal. Prefiro
presidir o partido. Depois do indulto, está uma pressão para que eu reassuma.
Minha filha quer me reconduzir à presidência do PTB. Preciso chegar agora,
tanto para ajustar minha biografia, como para participar desse movimento que é
um ponto final da corrupção institucionalizada.
Como
o senhor vai orientar o PTB? O partido está dividido em relação ao impeachment?
Você
vai ter uma surpresa. Divisão é meio a meio. São 19 deputados, eu penso que no
máximo o PTB dará dois votos a Dilma.
E
o relator do processo, deputado Jovair Arantes, que é do PTB?
O
relator vai acompanhar o sentimento da maioria da comissão (do
impeachment). Penso que o Jovair não fará um relatório ofensivo à presidente.
Ele vai se basear tecnicamente. Não é o que ele está me dizendo, é minha
maneira de ver. Jovair é hábil e equilibrado. Relator tem que ouvir todos,
tirar a média ponderada. Se ele se expressar pelo impeachment, não será com uma
linguagem panfletária, ofendendo a presidente, a memória, o currículo da
presidente. As pessoas vão se surpreender com o relatório do Jovair.
Na
Comissão do Impeachment, como está o peso de deputados a favor e contra?
Acho
que dá dois terços a favor do impeachment. No plenário, penso que Dilma não
chegará a 150 votos.
Se
houver impeachment, qual será a posição do PTB em um possível governo de Michel
Temer?
Michel
não pode errar, tem que ter um ministério acima do bem e do mal, de gente
capaz, qualificada. Não pode ter suspeita. Vai ter que ser um governo tipo
Itamar Franco. Temer tem que fugir dos que vão com goela aberta. Minha sugestão
para preenchimento de vagas em estatal é chamar uma comissão do Ministério
Público. Senado não adianta, porque é o senador que indica.
O
PTB vai fazer parte do governo?
O
PTB não é de gente oferecida. Queremos uma pauta moderna, de privatização. Acho
que Temer tem que ser estadista, tem que levar esse governo com cautela,
apresentar emenda do fim da reeleição com mandato de cinco anos.
O
deputado Eduardo Cunha tem legitimidade para presidir a Câmara no momento em
que está em curso o processo de impeachment?
Tem
legitimidade, sim. Ele responde a vários inquéritos, tem que ter cuidado. Minha
preocupação é que a prisão humilha muito as pessoas. Para ele a situação vai
complicar. Vai levantar de manhã cedo... chinelo de dedo, bermuda azul,
camiseta branca. Está lá no coletivo dos presos, aquele cheiro de gente doente,
com tuberculose, com Aids. Banheiro com cheiro terrível, banho frio. De manhã
cedo, todo mundo em fila. “Senhor Roberto Jefferson!” “Presente, senhor.”
Cabeça baixa, mão para trás. De noite, o “confere”, aquela averiguação que se
faz. É duro. Dinheiro contadinho, R$ 100 por semana para comprar na cantina. E
quem tem R$ 100 tem que comprar para todo mundo. Se furar a bola, tem que dar
uma bola nova. Tem que aturar isso. Limpar privada, varrer o chão. O que me
preocupa são as filhas e a esposa, mulheres bonitas, cheirosas, entram lá
naquele meio, vão ser assediadas. Vão acordar (na prisão) com aquelas
mulheres deitadas na cama, vão apanhar na cara, vão denunciar, vão apanhar de
novo. O cara vai ter que aturar isso. O ambiente prisional é muito duro, muito
triste, muito pesado. O cara não pode expor a esposa, a filha. Não ataca a
Justiça, não ataca o Ministério Público, o Judiciário. Respeita. O cara tem 20
contas no exterior, nunca declarou. Gastos milionários em cartão de crédito.
Traz para si, tira a esposa e a filha. Ele não pode permitir a filha e a esposa
passarem por isso. É a preocupação que eu tenho. As coisas são muito evidentes.
É
possível Cunha responder aos inquéritos e continuar no comando da Câmara?
É
ele que tem que conduzir (o processo do impeachment). Ele está lá (na
presidência da Câmara). Ele foi o adversário mais à altura do Lula. Lula nunca
esperou encontrar um bandido da mesma qualidade moral, intelectual que ele. O
bandido pelo qual eu mais torço é o Eduardo Cunha. Vai puxar a barba do
Rasputin. Gelado, frio, equilibrado. O Lula , o PT e esse fórum de São Paulo(conferência
de partidos de esquerda latino americanos) são bandidos da laia do Eduardo
Cunha, topam tudo. Como Deus faz as coisas. Botou um cara ali que qualquer jogo
ele joga, qualquer parada ele topa e sabe onde aperta o calo do outro bandido.
Pega o outro bandido na esquina. Dudu é o bandido que eu mais gosto, o vilão
que eu torço por ele, o vilão da minha novela. E estou doido para ele puxar a
barba do Rasputin.
O
senhor viu as mudanças que aconteceram no Conselho de Ética e atrasaram o
processo contra o presidente da Câmara?
Tenho
horror ao Conselho de Ética. Conselho de Ética e CPI são coletivos de donzelas
furadas. Sabe o que é? Uma vez fui ao mercado de Salvador e o menino dizia
“donzela furada, três por cinco reais”. É uma rosquinha de polvilho, que aqui a
gente trata de mentirinha. Aquela comissão de ética e as CPIs são impregnadas
de donzelas furadas, tudo mentirinha. Todo mundo rabudo querendo pisar no rabo
do outro para se lavar. Tenho aversão.
Roberto Jefferson fala sobre
Mensalão, Lava-Jato, Lula e Cunha (Entrevista Completa 01/04/16)
Veja os melhores momentos do
'massacre' sofrido por ministro do STF no Roda Viva
Roda Viva | Marco Aurélio Mello |
04/04/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário