sábado, 16 de abril de 2016

Explico algunas cosas


Perguntam-me: onde estão os lírios?
E a metafísica coberta de papoulas?
E a chuva que muitas vezes golpeava
suas palavras enchendo-as de frestas e pássaros?

Vou lhes contar tudo o que me passa.
Eu vivia num bairro de Madrid, com campanários,
com relógios, com árvores.

Dali se via o rosto seco de Castela
como um oceano de couro.
Minha casa era chamada
a casa das flores, porque por todas as partes
brotavam gerânios: era uma bela casa
com cachorros e crianças.

Raul, lembra? **
Lembra, Rafael? **
Frederico, lembra? **
Debaixo da terra,
lembram da minha casa com balcões
onde a luz de junho afogava flores em suas bocas?
Irmão, irmão!

Tudo
era burburinho de vozes, o sal das mercadorias
aglomeração de pão palpitante,
mercados de meu bairro de Arguelles com sua estátua
como um tinteiro pálido entre as merluzas:
o azeite chegava em colheres,
uma profunda palpitação
de pés e mãos enchia as ruas,
metros, litros, essência aguda da vida,
pescados amontoados,
contextura dos tetos com sol frio no qual
a flecha se fatiga, delirante marfim fino das batatas,
tomates se espalhando até o mar.

E numa manhã tudo estava ardendo,
e numa manhã fogueiras saiam da terra
devorando seres,
e desde então fogo,
pólvora desde então,
e desde então sangue.

Bandidos com aviões e mouros,
bandidos com anéis e duquesas,
bandidos com padres de preto abençoando-os
vinham pelos céus a matar crianças,
e pelas ruas o sangue de crianças
corria simplesmente, como sangue de crianças.

Chacais que os chacais rechaçariam,
pedras que o cardo seco morderia e cuspiria,
víboras que as próprias víboras odiariam!

Frente a vocês vi o sangue
de Espanha levantar-se
para afogá-los em uma só onda
de orgulho e de punhais!

Generais traidores:
olhem minha casa morta,
olhem a Espanha dilacerada:

porém de cada casa morta sai metal ardendo,
em vez de flores,
porém de cada ferida da Espanha desperta a Espanha,
porém de cada criança morta levanta-se um fuzil com olhos,
porém de cada crime nascem balas
que acharão um dia o vosso coração.

E me perguntam: por que os seus poemas
não falam dos sonhos, das folhas,
e dos grandes vulcões de seu país natal?
Venham ver o sangue pelas ruas,
venham ver o sangue pelas ruas,
venham ver o sangue
pelas ruas!
Pablo Neruda
De España en el corazón

** Neruda, provavelmente, está se referindo aos poetas Rafael Alberti,
Federico Garcia Lorca e Raúl Silva Castro. Lorca foi assassinado por nacionalistas durante a guerra. Segundo um juiz, ele era “mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver”.





Pablo Neruda - Explico algunas cosas (en la voz del autor)


PABLO NERUDA - Explico algunas cosas



Pablo Neruda (1904-1973) foi um poeta chileno, considerado um dos mais importantes escritores em língua castelhana. Recebeu o Premio Nobel de Literatura em 1971.

Pablo Neruda (1904-1973) nasceu na cidade de Parral, no Chile, no dia 12 de julho de 1904. Filho de um operário ferroviário e de uma professora ficou órfão de mãe logo ao nascer. Batizado com o nome de Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, ainda na adolescência, adotou o nome de Pablo Neruda, inspirado no escritor tcheco Jan Neruda.

Em 1906, muda-se com seu pai para a cidade de Temuco. Com sete anos ingressa no Liceu, e ainda na época escolar publica seus primeiros poemas no periódico A Manhã. Em 1919, obteve 3° lugar nos Jogos Florais de Maule, com o poema “Noturno Ideal”. Em 1920, começa a escrever para a revista literária Selva Austral, já usando o pseudônimo de Pablo Neruda.

Em 1921 muda-se para a capital Santiago, onde ingressa no curso de Pedagogia do Instituto Pedagógico da Universidade do Chile. Nesse mesmo ano, ganha o prêmio da Festa da Primavera com o poema “A Canção da Festa”. Em 1923 publica “Crepusculário” e em 1924 publica “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”. Em 1926, publica “O Habitante e Sua Esperança”, “Anéis” e “Tentativa do Homem Infinito”, com forte marca Modernista.

Em 1927, Pablo Neruda inicia a carreira diplomática, após ser nomeado cônsul na Birmânia. Em seguida vai para Siri Lanka, Java, Singapura, Buenos Aires, onde conhece o poeta Federico Garcia Lorca, e em Barcelona, onde trava contato com Rafael Alberti.

Com a Guerra Civil Espanhola, em 1936, é destituído do cargo de cônsul. Em 1937, na França, comovido com a guerra e a morte de Garcia Lorca escreve “Espanha no Coração”. Nesse mesmo ano retorna para o Chile e dedica-se a escrever baseado em temas políticos e sociais. Em 1939, Pablo Neruda é designado cônsul em Paris e logo depois cônsul Geral no México. Nessa época escreve “Canto Geral do Chile”.

Em 1943, é eleito senador da República. Critica o tratamento dado aos trabalhadores das minas, na presidência do Gonzáles Videla, é perseguido e se exila na Europa.

No dia 11 de julho de 1945, o poeta, que tinha preferência pelas ideias comunistas, declamou um poema “Dito no Pacaembu”, para mais de 80 mil pessoas no estádio do Pacaembu, em São Paulo, em homenagem a Luís Carlos Prestes, político comunista brasileiro recém-saído da prisão.

Em 1952, publica “Os Versos do Capitão” e dois anos depois publica “As Uvas e o Vento”. Em 1965, recebe o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Oxford. Em 1971 recebe o Prêmio Nobel de Literatura.
Em 1973, Neruda abriu mão de sua candidatura à presidência da república do Chile, em favor do socialista Salvador Allende, que possuía as mesmas afinidades ideológicas do poeta. É designado embaixador na França, mas doente retorna ao Chile em 1972.

Pablo Neruda faleceu em Santiago, capital do Chile, no dia 23 de setembro de 1973. Depois de sua morte, foram publicadas suas memórias com o título “Confesso Que Vivi”.

Informações biográficas de Pablo Neruda:

Data do Nascimento: 12/07/1904
Data da Morte: 23/09/1973

Morreu aos: 69 anos

Última atualização do biografia de Pablo Neruda: 16/03/2015.





Escritor checo nacido en Praga el 10 de julio de 1834 y fallecido en la misma ciudad el 22 de agosto de 1891. Fue uno de los más importantes representantes de la escuela realista checa. De su apellido tomó el suyo el escritor chileno Pablo Neruda.

Jan Neruda pasó su infancia en el bello barrio de Mala Strana de la capital checa. Ese fragmento de la ciudad, cuyo nombre significa literalmente "parte pequeña", está situado a la orilla izquierda del río Moldava y hecho de callejas y plazas diminutas y tabernas centenarias, todas situadas a poca distancia el recinto del Castillo de Hradcany. Es fácil entender que nacer y criarse en semejante entorno no es algo baladí para un escritor. En el caso de Jan Neruda, las callejuelas de Mala Strana marcarán todo el conjunto de su obra.

Los Neruda no eran una familia acomadada. Su padre había sido soldado, y cuando Neruda nació regentaba la cantina del cuartel de Ujecz. Más adelante, aunque sin mucha fortuna, montó un pequeño negocio. Su madre, a la que el pequeño Jan estuvo siempre muy unido, ejercía de asistenta en una de las bellas casas de Mala Strana, tan distinta a la pequeña vivienda que ocupaban los Neruda. A pesar de los pocos recursos de su familia, Jan pudo estudiar, primero en una escuela del barrio (donde aprendió alemán) y después en el Colegio Académico de Praga, donde se puso de manifiesto su inclinación por las letras en general y la literatura checa en particular. Terminados sus estudios empezó a dar clase de Lengua e inició también su andadura literaria siempre vinculado a la llamada "Escuela de Mayo", que tomaba su nombre del poema "Mayo" del gran escritor checo Karel Macha. La Escuela de Mayo propugna un nuevo modo de entender la sociedad volviendo la mirada hacia el género humano y revitalizando la idea del patriotismo checo. Es en esta época cuando Neruda empezó a publicar sus primeros textos ensayísticos en el periódicoNarodny List, a los que seguirán otros artículos y crónicas (el profesor Roberto Mansberger afirma que publicó más de dos mil) en las publicaciones Cas y Hlas. Más adelante vendrían los primeros poemas, que escribió poco después de la muerte de su padre y bajo el título Flores del cementerio. Su consagración como poeta vendrá con el volumen Cantos cósmicos. En cuanto a la postura teórica de Neruda, evolucionaría hasta posiciones más radicales como oposición a la opresión germana, que parecía negar la existencia de la lengua checa. Su nacionalismo se exageró hasta el punto de que llegó a ser acusado de antisemitismo por la publicación de un texto en el que parece criticar la idiosincrasia judía en materia económica.

Jan Neruda tenía treinta y cinco años cuando conoció a una muchacha llamada Anna Holinova, que fue su amor durante algún tiempo. Sin embargo, a pesar de que Anna correspondía sus sentimientos, Neruda se dio cuenta de que ella no podría compartir nunca sus inquietudes intelectuales, y no se decidió a pedirla en matrimonio. Al igual que el escritor, Anna nunca se casaría. Pero el gran amor de Jan Neruda llegaría dos años después, cuando ya contaba treinta y ocho años, cuando conoció a la bella Karolina Svetla, una dama culta, aficionada a la lectura y a la escritura y que, por desgracia para él, ya estaba casada. Ella y Neruda mantuvieron durante algún tiempo una intensa relación epistolar, pues a pesar de que el sentimiento amoroso era mutuo, ella no quiso nunca dejar a su marido. Finalmente, la correspondencia de Neruda y Svetla fue descubierta por el esposo de ésta, y la relación se quebró de forma definitiva. Fueron quizá los fracasos amorosos los que empujaron a Neruda a emprender varios viajes por Europa y Oriente, donde entró en contacto con distintas culturas. De estos viajes nació el libro Cuadros parisienses.

La poesía de Neruda no ha tenido demasiada difusión en castellano, cosa que no ocurrió con sus cuentos, reunidos en volúmenes como Imágenes de la Vieja Praga,Escenas y arabescos o Cuentos de Mala Strana, en los que recrea el ambiente y los tipos del barrio que le vio nacer. Los cuentos reflejan un particular y finísimo sentido del humor y una intensa ternura por todos y cada uno de los personajes que crea y que van reflejando, uno a uno, todo ese mundo de Mala Strana que rodeó al autor desde su primera infancia, desde los arquetipos a los tipos populares, desde los personajes estrafalarios hasta los más comunes. Hacia todos dirige Neruda su mirada compasiva, pero también su agudo escalpelo para diseccionar, entender y definir. Por ejemplo, el texto "El gremio de mendicantes" (perteneciente al volumenImágenes de la Vieja Praga) es una verdadera e impagable galería de mendigos, cuidadosamente dividido en categorías. Tal y como el autor había afirmado una vez en una declaración de intenciones "escogeré mis personajes dentro de la vida". Así lo hizo, pues tomó sus caracteres del paisaje urbano de Bohemia. Por sus cuentos desfilan oficinistas, estudiantes, funcionarios, viudas, huérfanos, enterradores, criadas, escolares y profesores, pobres y ricos, en una auténtica colmena que retrata la vida praguense del XIX.

A pesar de que se cuidaba escrupulosamente y trataba de llevar una vida sana, Neruda era un hombre de salud muy débil que se complicó aún más cuando, a los cincuenta y cuatro años, resbaló en una acera helada y se hirió en la rodilla. Tras pasar mucho tiempo en reposo absoluto, nunca se recuperó de esa lesión, y de hecho en sus últimos años toda una sucesión de enfermedades, que parecían encadenarse unas a otras, le mantuvieron casi confinado en su casa, donde vivía completamente solo.

Moriría tres años después, en 1891. Su entierro fue una notable manifestación de duelo popular, y entre todos los que acudieron a rendirle homenaje destacó la que fuera su novia, Anna Holinova, que dejó en su ventana un ramo de violetas.
Marta Rivera de la Cruz
Autor










*

(Brasil, 1945)

Quantas coisas quisera hoje dizer, brasileiros,
quantas histórias, lutas, desenganos, vitórias,
que levei anos e anos no coração para dizer-vos,
pensamentos
e saudações. Saudações das neves andinas,
saudações do Oceano Pacífico, palavras que me
disseram
ao passar os operários, os mineiros, os pedreiros,
todos
os povoadores de minha pátria longínqua.
Que me disse a neve, a nuvem, a bandeira?
Que segredo me disse o marinheiro?
Que me disse a menina pequenina dando-me
espigas?

Uma mensagem tinham: Era: Cumprimenta Prestes.
Procura-o, me diziam, na selva ou no rio.
Aparta suas prisões, procura sua cela, chama.
E se não te deixam falar-lhe, olha-o até cansar-te
e nos conta amanhã o que viste.

Hoje estou orgulhoso de vê-lo rodeado
por um mar de corações vitoriosos.
Vou dizer ao Chile: Eu o saudei na viração
das bandeiras livres de seu povo.

Me lembro em Paris, há alguns anos, uma noite
falei à multidão, fui pedir auxílio
para a Espanha Republicana, para o povo em sua
luta.
A Espanha estava cheia de ruínas e de glória.
Os franceses ouviam o meu apelo em silêncio.
Pedi-lhes ajuda em nome de tudo o que existe
e lhes disse: Os novos heróis, os que na Espanha
lutam, morrem,
Modesto, Líster, Pasionaria, Lorca,
são filhos dos heróis da América, são irmãos
de Bolívar, de O’Higgins, de San Martín, de Prestes.
E quando disse o nome de Prestes foi como um
rumor imenso
no ar da França: Paris o saudava.
Velhos operários de olhos úmidos
olhavam para o fundo do Brasil e para a Espanha.

Vou contar-vos outra pequena história.

Junto às grandes minas de carvão, que avançam
sob o mar,
no Chile, no frio porto de Talcahuano,
chegou uma vez, faz tempos, um cargueiro
soviético.

(O Chile não mantinha ainda relações
com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Por isso a polícia estúpida
proibiu que os marinheiros russos descessem,
e que os chilenos subissem).
Quando a noite chegou
vieram aos milhares os mineiros, das grandes
minas,
homens, mulheres, meninos, e das colinas,
com suas pequenas lâmpadas mineiras,
a noite toda fizeram sinais, acendendo e apagando,
para o navio que vinha dos portos soviéticos.

Aquela noite escura teve estrelas:
as estrelas humanas, as lâmpadas do povo.
Também hoje, de todos os rincões
da nossa América, do México livre, do Peru
sedento,
de Cuba, da Argentina populosa,
do Uruguai, refúgio de irmãos asilados,
o povo te saúda, Prestes, com suas pequenas
lâmpadas
em que brilham as altas esperanças do homem.
Por isso me mandaram, pelo vento da América,
para que te olhasse e logo lhes contasse
como eras, que dizia o seu capitão calado
por tantos anos duros de solidão e sombra.

Vou dizer-lhe que não guardas ódio.
Que só desejas que a tua pátria viva.
E que a liberdade cresça no fundo
do Brasil como árvore eterna.
Eu quisera contar-te, Brasil, muitas coisas caladas.
carregadas por estes anos entre a pele e a alma,
sangue, dores, triunfos, o que devem se dizer
o poeta e o povo: fica para outra vez, um dia.
Peço hoje um grande silêncio de vulcões e rios.
Um grande silêncio peço de terras e varões.
Peço silêncio à América da neve ao pampa.
Silêncio: com a palavra o Capitão do Povo.
Silêncio: Que o Brasil falará por sua boca.

Pablo Neruda
Canto Geral
Tradução de Paulo Mendes Campos
Revista por Maria José de Queiroz
Difel/Difusão Editorial – edição 1979




Jan Neruda
Rep. Checa
1834 // 1891
Poeta




1 Citação
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Quem não sabe nada tem de acreditar em tudo.



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