Dos giros às oscilações do Pavão
Do desfazimento do obreiro no fazer
um sindicalista com a massa informe da política nos poros para ligas, trincas e
refazimento no desfazer.
Pêndulo de Foucault, Pantheón de
Paris
Enviado
em 17 de jun de 2008
Pêndulo de Foucault no Pantheón,
onde foi provado o movimento de rotação da Terra.
versão impressa ISSN 0101-3106
Ide
(São Paulo) vol.33 no.51 São Paulo dez. 2010
RESENHAS
The labyrinth and the psychoanalysis
Eunice Nishikawa*
Morgenstern, Ada
(2009). Perseu, Medusa & Camille Claudel:
sobre a experiência de captura estética. São Paulo: Ateliê Editora. 227 p.
E,
de repente, um encontro inesquecível: o encontro com Perseu e Medusa. Um
impacto, um arrepio, um instante de “petrificação”. O encontro com o
desconhecido, com um mito que para mim era uma incógnita... Jamais esqueci
aquele momento. (p. 23)
O
fato ocorreu na Exposição Camille Claudel em São Paulo, em fins de 1997. O
encontro com esta obra – Perseu e Medusa −, uma escultura em mármore branco,
obra de Camille Claudel, dá origem à aventura vivida pela autora. Este, entre
outros acontecimentos, resultou no livro cujo título mais parece um enigma.
Afinal, qual a relação entre Perseu, Medusa e Camille Claudel? Que título! Do
que trata o livro? Penso que trata do enigma, mas entendido por meio de
pinceladas contemporâneas, trabalho de uma artista plástica.
Fajardo
(2008, p. 23), em uma entrevista concedida à Revista Brasileira de
Psicanálise, considera “que se é um enigma, você não está lá apenas para
entender o discurso, e sim para compor as peças faltantes”. É esta a
característica da arte contemporânea, um convite para você participar e compor
as peças que faltam. Não se trata mais de uma narrativa, em que é possível
entender o que se fala, mas da própria construção daquilo que pode ser narrado
pelos intérpretes. Penso que o título já é em si uma síntese da proposta da
autora: mulher, psicanalista e artista plástica, que com pinceladas nos remete
à sua obra como escritora, concedendo lugar para que Camille Claudel a
interrogue, a capture e a faça trabalhar; e para que nós, seus leitores, sejamos
também capturados. Não há como decifrar o enigma – mas, quem sabe, ser
devorado?
Lemos
então o subtítulo: “Sobre a experiência de captura estética”. Creio que há aqui
um indício importante da relação entre arte e psicanálise, um campo que merece
ser mais explorado. Desde os sintomas psicossomáticos que compõem uma síndrome
(de Stendhal) que acomete os que veem as obras-primas da Renascença pela
primeira vez (Mangel, citado por Morgenstern, p. 40), que envolve palpitação,
sentimento de vertigem, eu acrescentaria “petrificação”, pela qual o corpo do
espectador é afetado pelo contato com a obra, até a aceitação de que
“precisamente algumas das maiores e mais poderosas criações da arte constituem
enigmas ainda não resolvidos pela nossa compreensão” (Freud, 1914/1974, p.
253). Mas Ada vai além e nos remete à captura como significante, que busca
encontrar significados, os quais, ao serem encontrados, tornam-se novos
significantes, gerando uma experiência labiríntica.
Para
não se perder nessa experiência labiríntica há que se levar o fio de Ariadne.
Daí o segundo capítulo: “Puxando fios, desfazendo emaranhados”, no qual Ada
mostra como compôs o fio da meada.
Estamos
então prontos para a aventura única e estimulante, pois, se Camille Claudel
como personagem já nos toca e comove (p. 25), sua história é contada através da
obra, a escultura Perseu e Medusa, em uma composição em que vida e obra se
entrelaçam. Sob o título “Compreender” enveredamos pelos caminhos tortuosos de
uma vida criativa e conturbada, nos quais a relação entre Camille e Rodin é
apresentada com um toque especial, mas de forma indireta através do mito, no
qual Medusa acaba sendo decapitada por Perseu. São pinceladas sensíveis, mas
vigorosas, que alcançam a dor e a violência. Em nenhum momento encontramos uma
interpretação banal, uma psicanálise selvagem.
A
partir deste núcleo central, somos apresentados ao contexto no qual a escultura
foi criada: não apenas no eixo vertical, “a história transversal da obra, mas
também uma história longitudinal – focalizando o que precede e o que sucede a
obra” (p. 94). Uma incursão pelo momento histórico e cultural do fim do século
XIX, início do século XX, na França, com a introdução do termo “modernidade”
por Baudelaire, e com o movimento impressionista na pintura, no qual, como
assinala a autora, o “foco de atenção não era mais o objeto e, sim, a atividade
mental do sujeito que o percebe” (p. 107). Além do mais o espectador é
convocado a se implicar na obra: “A partir das pinceladas descontínuas, de
regras cromáticas inusuais, a pintura de Cézanne colocava o espectador numa
posição de reflexão – numa posição, portanto, ativa” (p. 108).
Dois
capítulos são dedicados à escultura: “A arte da escultura e suas
especificidades” e “A escultura de Camille Claudel”. Não por acaso, acredito, a
autora cita Frayze-Pereira e seu livro Arte, dor: inquietudes entre estética e
psicanálise, nas considerações sobre os mitos fundantes da arte da escultura:
Zeus que, compadecido, petrifica a altiva Níobe, que chora desesperada a perda
de seus inúmeros filhos, e Dédalo, que concebe o labirinto em que será
encerrado o terrível Minotauro (Morgenstern, 2009, p. 113; Frayze-Pereira,
2006, p. 272). Como link entre os dois capítulos, a autora escreve:
“Curiosamente, Níobe ferida será a última obra criada e preservada por Camille
Claudel” (p. 113). Também no viés histórico, Ada retoma a concepção de
escultura de Michelangelo, que serviu de modelo para Freud falar da técnica
psicanalítica: “Por escultura, entendo aquilo que se faz por um processo de
subtração (per forza di levare); o que se faz por um processo de adição (per
via di porre – ou seja, a modelagem) é mais semelhante à pintura” (p. 114). No
entanto, é o uso da argila, o modelado, que irá marcar a revolução na técnica da
escultura na modernidade, principalmente através de Rodin.
A
vida e a obra de Camille Claudel foram marcadas pelo encontro com Rodin. “No
período em que Camille trabalhou no ateliê do artista, uma intensa paixão entre
eles eclodiu. De alguma forma, essa experiência contribuiu para a criação de
uma espécie de fusão artística – além da amorosa” (p. 122). Ada nos mostra não
apenas o entrelaçamento dos estilos dos artistas e amantes, mas também o modo
como Camille afirmava um estilo próprio, diferenciando-o cada vez mais do
trabalho de Rodin. Essa diferenciação vai ficando evidente nas obras após o
aborto sofrido em 1892 − A valsa e Cloto − e, segundo Lessana, citado por Ada,
“enquanto as esculturas de Rodin têm uma ‘pele’ que as recobre”, o modo como as
estátuas de Camille desabrocham do interior para o exterior “acusam a expressão
do desencarnado e da tortura”, assim como transparece “uma poderosa emanação da
expressão interior – o medo, o apelo, o carinho, o pavor... e a proximidade da
morte” (p. 128). Temos ainda a escultura A idade madura, considerada por muitos
críticos a obra-prima de Camille. “A escultura Níobe ferida encerra seu ciclo
produtivo, como se também fechasse outro circuito, com a volta ao momento
fundador da escultura: Zeus transformando Níobe em pedra” (p. 133).
Chegamos
ao terceiro e último bloco: “A caminho da conclusão”. Continuo a metáfora do
labirinto como o outro mito fundante da arte da escultura. Acompanhando a
autora na sua aventura observamos como ela, com todo o cuidado, tece o fio de
Ariadne e consegue encontrar a saída. O mesmo não aconteceu com Camille
Claudel, que acabou confinada no seu labirinto. No início do livro lemos: “Pois
... ela (Camille) nos legou uma criação muito especial. Uma criação que foi
relegada ao esquecimento – exatamente como a criadora, esquecida por trinta
anos num sanatório” (p. 25).
Dois
temas fundamentais são trabalhados pela autora: “Reflexões sobre o olhar” e
“Pensando a paixão: entre a fusão e a individualidade”, que considero
decorrentes da sua relação com Camille Claudel, vida e obra, e o entrelaçamento
com a psicanálise. Há na forma como a relação arte e psicanálise é tratada a
possibilidade de uma troca e um enriquecimento no trajeto entre ambas − uma
psicanálise implicada (conceito de Frayze-Pereira), baseada em “uma experiência
estética – da dinâmica da presença e ausência do sensível” –, como “uma
silenciosa abertura ao que não é nós e que em nós se faz dizer” (p. 169). Mas
também uma experiência poderosa que tanto nos permite dizer, como ao não mais
dizer, vai além do calar. É essa a matéria bruta da arte e posteriormente da
psicanálise.
Os
outros três capítulos: “Um caminho entre a psicanálise e a arte”, “Ler uma obra
de arte: a questão da interpretação”, e o último, “Prosseguindo na captura”,
considero um trabalho de reflexão da autora na sua relação com a obra e a
psicanálise. Seria a explicitação dos duplos, do espelho. Espelho e labirinto
que bela combinação! A captura como ilusão – mas que desilusão! No dizer de
Ada: “Há que se considerar intangível o gesto da criação” (p. 201).
Para
terminar, além de recomendar vivamente o livro, quero contar que na verdade
esta resenha é fruto de um reencontro, pois conheci Ada Szklo nos bancos do
ginásio. Era uma escola experimental em tempo integral, Ginásio Estadual
Vocacional “Osvaldo Aranha”, onde tivemos aula de Artes Plásticas com Evandro
Carlos Jardim e Maciej-Babinski. Nas escolas vocacionais, “segundo relato da
professora Maria Nilde Mascellani, a arte e a literatura faziam parte do
currículo, já ‘que as formas de expressão são humanizadoras e dão uma dimensão
muito mais profunda do entendimento das coisas práticas, do mundo construído’”
(Tamberlini, 2005, p. 42). Com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), de dezembro de
1968, muitos professores e alunos foram presos e a professora Maria Nilde foi
envolvida em mais de 300 processos. Fica aqui um relato breve de uma
experiência de ensino na qual ciência e arte davam-se as mãos na busca da
verdade.
Referências
Fajardo,
C. (2008). Entrevista. Revista Brasileira de Psicanálise, 42(3), 15-27.
Tamberlini,
A. R. M. B. (2005). Os ginásios vocacionais, a história e a possibilidade de
futuro. In Rovai, E. (Org.), Ensino vocacional: uma pedagogia atual (pp.
27-49). São Paulo: Cortez.
Eunice
Nishikawa
Rua
Dr. Alceu de Campos Rodrigues, 247/14
04544-000
– São Paulo – SP
tel.: 11
3846-6926
Recebido:
05/10/2010
Aceito:
20/10/2010
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31062010000200020
Merval Pereira
Academia
Brasileira de Letras
Talvez
não seja coincidência que Lula, nesse momento de extrema pressão sobre si,
tenha sido diagnosticado com uma labirintite no Hospital Sírio e Libanês em São
Paulo. Em Psicanálise, o labirinto é um modo de circular, andar, se expressar,
sem finalidade marcada. Mas de não perder a cinética, o movimento, sair da
apatia.
Lula
em seu labirinto talvez seja a uma imagem perfeita para explicar a situação
atual do ex-presidente, pressionado para assumir o lugar de Dilma na campanha
presidencial, mas resistindo com receio de colocar em risco sua lenda.
© 2002 Prof. C.A. dos Santos
Instituto
de Física – UFRGS
Texto
revisado em outubro/2002
Em
1600, Giordano Bruno foi condenado à fogueira pela Inquisição porque
acreditava que a terra se movia em torno do seu eixo e em torno do sol.
Trinta e três anos depois, Galileu Galilei só não teve o mesmo destino porque
renunciou à sua convicção científica.
A
dificuldade em confirmar a rotação da terra reside no fato de que se trata de
uma rotação muito lenta (0,0007 rotações por minuto). Em 1851, o astrônomo
francês Jean Bernard Leon Foucault realizou uma bela e simples experiência
capaz de demonstrar a rotação da terra. Com uma corda de 67 metros, fixa no
teto do Panteon de Paris, ele suspendeu uma esfera de ferro de 28 kg e
imprimiu-lhe um movimento pendular.
Na
seqüência, o plano do pêndulo passou a apresentar uma lenta rotação no
sentido horário. Este movimento foi facilmente explicado a partir da
suposição de que a terra gira em torno de seu eixo.
Este
experimento ficou mais conhecido pelo nome do dispositivo usado, isto é, pelo
pêndulo de Foucault, tendo sido considerado, pelos leitores da revista Physics
World, o décimo mais belo experimento da física.
Agradecimentos
Para
saber mais:
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Veja
também
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Links
interessantes sobre física
|
Josias de Souza
23/03/2016 11:21
Josias de Souza
23/03/2016 04:56
Marcelo
Odebrecht aguarda que sua delação seja aceita
Fausto Macedo, Julia Affonso e
Ricardo Brandt
Estadão
Depois
de presidente afastado da maior empreiteira do País divulgar publicamente,
nesta terça-feira, 22, que busca delação premiada com a Lava Jato, força-tarefa
em Curitiba diz que ‘acordos de leniência e de colaboração premiada somente são
possíveis com o completo desvelamento, por parte dos envolvidos, dos fatos
criminosos que já são investigados, além da revelação plena de outras
ilegalidades’
O
Ministério Público Federal, em Curitiba, divulgou nota nesta quarta-feira, 23,
em que nega a existência negociação de acordo de colaboração premiada com
executivos do Grupo Odebrecht e que “a simples intenção demonstrada não tem o
condão de descaracterizar a contínua ação” da empresa “em obstruir as
investigações em andamento” dentro da Operação Lava Jato
NOTA OFICIAL
“O
Ministério Público Federal, diante da nota emitida pelo Grupo Odebrecht em 22
de março de 2016, bem como da sua repercussão na imprensa, vem esclarecer:
1.
não existe sequer negociação iniciada sobre acordos de colaboração com executivos
ou leniência com o Grupo Odebrecht;
2.
a simples manifestação dessa vontade pela imprensa, seja por indivíduos, seja
por qualquer grupo empresarial investigado, não possui qualquer consequência
jurídica, motivo pelo qual as investigações e atos processuais continuarão em
andamento;
3.
a divulgação de qualquer intenção de acordo através de imprensa fere o sigilo
das negociações exigido pela lei para a celebração do acordo;
4.
a simples intenção demonstrada não tem o condão de descaracterizar a contínua
ação do Grupo Odebrecht em obstruir as investigações em andamento, como ficou
caracterizado na recente 26ª fase da Operação Lavajato, com a tentativa de
destruição de seu sistema de controle informatizado de propina;
5.
o Ministério Público Federal mantém o entendimento de que acordos de leniência
e de colaboração premiada somente são possíveis com o completo desvelamento,
por parte dos envolvidos, dos fatos criminosos que já são investigados, além da
revelação plena de outras ilegalidades que tenham cometido e que ainda não
sejam de conhecimento das autoridades, e da reparação mais ampla possível de
todas essas ilegalidades.”
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A
nota está se referindo apenas ao presidente Marcelo Odebrecht, que se
relacionava direto com o alto escalão da República. A presidente Dilma Rousseff
inclusive fez pressão para libertá-lo, segundo o minucioso depoimento do
senador Delcídio Amaral. Quanto a Odebrecht, a delação premiada já começou,
através da secretária do “Departamento de Propinas” e do presidente de uma das
subsidiárias, que estão fazendo revelações sensacionais. Em tradução
simultânea, esta nota oficial revela apenas que, para aceitar a delação
premiada específica de Marcelo Odebrecht, o Ministério Público Federal exige
que ele realmente conte tudo o que ele sabe sobre Lula, Dilma e outros
destaques da política. (C.N.)
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