“Lastimáveis
essas declarações da presidente constitucionalmente eleita e sendo tratada em
seu país com todo o respeito e garantias constitucionais desarvorando-se em
terras estrangeiras.
Ao
assim agir dá mostras de não confiar nas instituições que acabara de elogiar
alguns minutos antes em seu discurso na ONU, considerado equilibrado por
oposição e situação.
Basta
ver a posição assumida pelo seu próprio AGU ao pedir que ela não adotasse essa
postura de achincalhar com nossa democracia.
De
fato, se no discurso sobre o Clima na ONU ela havia dado um passo a frente no
rumo do razoável, nesta última fala deu mil passos atrás no sentido do atraso e
da indigência racional.”
Dilma diz que pedirá que Brasil
seja suspenso do Mercosul se ocorrer ‘golpe’
A
jornalistas estrangeiros em Nova York, ela afirmou que vai recorrer à cláusula
prevista no bloco comercial
POR HENRIQUE GOMES BATISTA, CORRESPONDENTE,
COM REUTERS
22/04/2016
19:50 / atualizado 22/04/2016 21:25
NOVA
YORK - A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira a jornalistas
estrangeiros que pedirá ao Mercosul que suspenda o Brasil do bloco comercial se
ocorrer a quebra do processo democrático no país, após chamar, em coletiva, o
processo de impeachment em curso de "golpe". O Mercosul tem uma
cláusula democrática que pode ser ativada se um governo eleito de um de seus
membros seja deposto, como já ocorreu com o Paraguai.
-
Está em curso no Brasil um golpe, então eu gostaria que o Mercosul e a Unasul
olhassem esse processo. A cláusula democrática implica em uma avaliação da
questão. Nós sempre fazemos essa avaliação - alegou.
A
afirmação aconteceu na noite desta sexta-feira. Pela manhã, durante
participação em cerimônia na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), Dilma
usou parte do seu discurso, no qual apresentou as medidas tomadas pelo governo
brasileiro no acordo climático, para citar o "grave momento que vive o
Brasil".
-
A despeito disso quero dizer que o Brasil é um grande país, que soube superar o
autoritarismo e construiu uma pujante democracia. O nosso povo é trabalhador e
com grande apreço pela liberdade, e saberá impedir quaisquer retrocessos. Sou grata
a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade - declarou ela
diante da plateia de chefes de estado.
Ela afirmou ainda que não falou sobre o processo de
impeachment na ONU porque "não era o momento", preferindo
falar sobre os avanços climáticos no mundo, nos quais o Brasil teve um papel
fundamental. E criticou a imprensa brasileira por ter noticiado, inclusive em
editorial, que ela falaria sobre a crise política sem que isso fosse verdade.
-
Eu não tenho culpa se vocês, bom, sei que não é ninguém aqui pessoalmente,
estou dizendo, em geral, a imprensa, se a imprensa vai e faz até editoriais
dizendo que eu vou à ONU para falar mal do Brasil. Eu fui à ONU para falar a
verdade, e a verdade na ONU é a seguinte: nós tivemos uma participação decisiva
nesta COP 21 (o acordo climático de Paris). Sem nós, essa COP 21 não teria o
resultado que teve. Então vocês tem de ter orgulho que nós fomos decisivos para
que hoje esteja sendo assinado por todos os países do mundo um acordo - disse.
A
presidente também criticou a postura de três ministros do Supremo Tribunal Federal por darem
sua opinião refutando o argumento da presidente de que o processo de
impeachment seria um golpe. Na opinião de Dilma, eles não deveriam
ter se pronunciado. Ela lembrou que o impeachment é previsto na Constituição,
mas que para isso é preciso ter crime de responsabilidade e que “esquecem crime
de responsabilidade”.
-
Não é a opinião do Supremo. É a opinião de três ministros. São apenas três
ministros. E são ministros que não deveriam dar opinião porque vão me julgar -
argumentou.
Dilma
disse que vai “se esforçar muito” para convencer os senadores de sua defesa no
processo de impeachment, afirmando que não teve o “respaldo necessário” na
Câmara, mas dizendo que espera ter esse espaço no Senado. Questionada sobre a
proposta defendida por parte dos políticos, inclusive do PT, de antecipar
eleições, ela afirmou que respeita, pois nunca será contra eleições, mas que
vai defender seu mandato:
-
Eu acho que o meu mandato é algo garantido por 54 milhões de votos do povo
brasileiro. Não sou contra eleição de maneira alguma, acho que uma coisa é
eleição direta, com voto secreto das pessoas, com o povo brasileiro
participando. Agora acho que tem de ser me dado o direito de defender meu
mandato. Eu não sou uma pessoa apegada a cargos, mas agora estou defendendo o
meu mandato. Não acuso ninguém que está propondo eleições diretas de golpista,
isso não é golpe, isso é outra discussão. Você pode aceitar ou não, eu vou
defender meu mandato, eu devo isso aos meus 54 milhões de eleitores.
E
alfinetou:
-
Quem assumirá os destinos do país? Pessoas ilegítimas, pessoas que não tiveram
um voto para presidente? Pessoas que tem na sua trajetória acusação, não quero
julgar ninguém antes, mas estou dizendo um fato de quem tem acusação de lavagem
de dinheiro, de conta no exterior, de processo de corrupção? Não tem contra mim
nenhuma acusação de corrupção.
Sobre
o apoio manifestado por outros chefes de estado, ela lembrou sua relação com os líderes mundiais com os quais ela
se encontrou nesta sexta-feira, na ONU.
-
Eu tenho relações pessoais com os presidentes e todos os presidentes que eu
conheci nessa trajetória, e que conhecem a minha história e conhecem o que está
acontecendo no Brasil, alguns, inclusive, que não são presidentes, disseram
“força”. Outros disseram “solidariedade, é difícil, mas segura, você é
corajosa". É isso que as pessoas fazem porque somos pessoas, além de sermos
ministros ou presidentes, somos pessoas - disse.
Dilma
ainda voltou a alegar que se sente vítima e afirmou que as pessoas que a
criticaram pela possibilidade de falar da situação política no exterior temem,
na verdade, serem taxados como golpistas.
—
Eles temem ser chamados de golpistas por que são golpistas. Dizer que não é um
golpe é incorreto — disse a presidente enfatizando a palavra "temem".
Mesmo
em Nova York, a presidente Dilma Rousseff não deixou de ver manifestações
populares a favor e contra o seu governo. Em frente à embaixada brasileira
antes de falar com os jornalistas estrangeiros, dois protestos, um a favor e
outro contra o impeachment, cada um com cerca de 20 pessoas, fizeram barulho
para chamar a atenção das autoridades brasileiras, repetindo-se os gritos
ouvidos nas cercanias na ONU, mais cedo. Enquanto um grupo batia panelas, outro
chamava atenção com cartazes e flores.
Questionada
sobre como sua família está vivendo este processo de impeachment, Dilma se
mostrou emotiva:
-
Eu não falo sobre a minha família, eu acredito que eles estão sofrendo. Você
imagina o estaria a sua família estaria sentindo, então eu não posso falar
porque dói, dói muito - disse Dilma
APOIO
INTERNACIONAL
Ela foi recebida em Nova York, na noite de
quinta-feira, com flores por um grupo de 50 pessoas, à porta da
residência oficial do embaixador Antonio Patriota, em uma manifestação contra o
impeachment.
Dilma
sentou-se ao lado do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e da
ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e à frente do embaixador Antonio
Patriota. Deputados da oposição também viajaram aos Estados Unidos.
Além
de sustentar a versão do 'golpe' no ambiente internacional, a viagem e o
discurso de Dilma ao encontro da ONU sobre o clima representam uma tentativa do
governo brasileiro de emplacar uma agenda positiva em meio à crise política do
país. A presidente decidiu participar da reunião pouco mais de 24h antes de
embarcar. Receosa em deixar o Brasil, Dilma confirmou sua ida a Nova York a
partir da avaliação de que os veículos de imprensa de fora têm dado mais espaço
para a defesa da presidente.
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