Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quarta-feira, 21 de setembro de 2022
Tatuagem do tempo
QUEM ESTÁ AO PÉ DELE
ESTÁ SÓ AO PÉ DELE
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velhas árvores - olavo bilac - declamação antoninho biscaro
2.328 visualizações 22 de jun. de 2018 "música, prosa e verso" - soneto velhas árvores do poeta olavo bilac, interpretação de antoninho biscaro.
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Velhas Árvores
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olavo Bilac
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"ninguém ousou arrostar o bando"
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TREM DAS ESTAÇÕES
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Mundo Bita - Trem das Estações ft. Milton Nascimento
264.618.910 visualizações 1 de set. de 2017 TREM DAS ESTAÇÕES
As cores do outono, inverno, primavera e verão brilham na tela, assim como brilha o Bituca, personagem do cantor Milton Nascimento, que tem participação super especial neste clipe. A locomotiva puxa os vagões e a criançada embarca junto na aventura.
O Mundo Bita é feito de músicas, cores, aprendizado e alegria. Tudo com muito carinho para que pequenos e adultos brinquem e cresçam juntos. Divirtam-se com a serie musical “Bita e a Natureza” e conheça também: "Bita e os Animais", "Bita e as Brincadeiras", "Bita e o Nosso Dia" e “Bita e o Corpo Humano”.
Letra da Música – TREM DAS ESTAÇÕES
Quando Primavera for, você verá que toda flor irá se desabrochar
Um jardim encantador, a vasta cabeleira verde que nasceu no pomar
Sombra para refrescar, o perfume pelo ar
Caixa de lápis de cor pra colorir a primavera com amor
Nos vagões do trem do tempo vão as quatro estações
Cada qual tem seu momento pra cantar suas canções
Quando chegar o verão, a gente vira marinheiro no balanço do mar
Pode pôr o pé no chão. O Sol amanheceu mais cedo, vem comigo brincar
Muita roupa no varal, corre-corre no quintal
Sai um suco de limão pra esfriar a cuca quente do verão
Nos vagões do trem do tempo vão as quatro estações
Cada qual tem seu momento pra cantar suas canções
Quando outono vier, pode pegar o guarda-chuva para não se molhar
A vovó mexe a colher, no fim da tarde gostosuras para saborear
Folha que no vento cai, logo cedo o Sol se vai
Fruta para quem quiser e tudo mais que o outono nos trouxer
Nos vagões do trem do tempo vão as quatro estações
Cada qual tem seu momento pra cantar suas canções
Quando inverno aparecer, o frio vem pela janela, toma todo o lugar
Cobertor pra aquecer, prepara um balde de pipoca pra família lanchar
A preguiça que bateu, colo que vovô me deu
Chocolate pra beber, pra todo gelo do inverno derreter
Nos vagões do trem do tempo vão as quatro estações
Cada qual tem seu momento pra cantar suas canções
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https://www.youtube.com/watch?v=k7rcvY17W6c
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Cântico das árvores, poesia de Olavo Bilac, no Dia da Árvore
21
09
2015
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Plantar, Britta Barlow, GoodHousekeeping1927-05Ilustração de Britta Barlow, Revista Good Housekeeping, maio de 1927.
Cântico das árvores
Olavo Bilac
Quem planta uma árvore enriquece
A terra, mãe piedosa e boa:
E a terra aos homens agradece,
A mãe os filhos abençoa.
A árvore, alçando o colo, cheio
De seiva forte e de esplendor
Deixa cair do verde seio,
A flor e o fruto, a sombra e o amor.
Crescei, crescei na grande festa
Da luz, de aroma e da bondade,
Árvores, glória da floresta!
Árvores vida da cidade!
Crescei, crescei sobre os caminhos,
Árvores belas, maternais,
Dando morada aos passarinhos,
Dando alimento aos animais!
Outros verão os vossos pomos:
Se hoje sois fracas e crianças,
Nós, esperanças também somos
Plantamos outras esperanças!
Para o futuro trabalhamos:
Pois, no porvir, novos irmãos,
Hão de cantar sob estes ramos,
E bendizer as nossas mãos!
-x-
Este poema foi musicado pelo maestro Francisco Braga.
Em: Apologia da árvore, Leonam de Azeredo Penna, Rio de Janeiro, IBDF: 1973, p. 137.
https://peregrinacultural.wordpress.com/2015/09/21/cantico-das-arvores-poesia-de-olavo-bilac-no-dia-da-arvore/
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“Ninguém é apenas bom ou mal,
ninguém é integralmente autêntico,
somos todos construções de imagens.”
(MORAES, 2008: 116)
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Fale mal... mas fale de mim
Ataulfo Alves e Marino Pinto - 1939
Fale mal
Mas fale de mim
Não faz mal
Quero mesmo assim
Você faz cartaz pra mim
O desfeito teu
Me põe no apogeu
Minha diretriz ainda é tratar
Do meu lado sem no entanto
Atrasar o de ninguém
E razão você não tem
Para ser meu inimigo
De outra feita
Venha aprender comigo
Meu conselho
É um espelho pra você, amigo
Ná Ozzetti - Voz
Swami Jr. - Violão e Baixo Fretless
Milton Mori - Cavaquinho
Nailor Proveta - Clarineta
Douglas Alonso - Surdo e Tamborim
Guilherme Kastrup - Surdo com vassoura,Cuíca e Pandeiro
Arranjo - Swami Jr.
https://www.gruporumo.com.br/index.php?mpg=08.00.00&nfo=98&leta=F
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terça-feira, 20 de setembro de 2022
Poesia | Ciência & Letras - João Cabral de Melo Neto, uma fala só lâmina
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'Numa crônica intitulada Semiótica dos Ritos Fúnebres, publicada no livro Banalogias (Objetiva), o filósofo carioca Francisco Bosco tece considerações muito interessantes sobre a morte e os velórios. Segundo ele, qualquer cadáver encerra em si toda a dinâmica do sublime: não é “ser” nem “ente”, nem “sujeito” nem “objeto”. Bosco explica: “O cadáver já não é vida, mas tampouco é a morte em sua condição de certeza encoberta ou fatalidade abstrata. O cadáver é a morte viva. Ora, a morte viva, diante de nós vivos, é precisamente a experiência do sublime”.'
terça-feira, 20 de setembro de 2022
Luiz Carlos Azedo - O custo-benefício do funeral de Elizabeth II para Bolsonaro
Correio Braziliense
Ela parecia eterna, principalmente depois de milhões de memes nas redes sociais exaltando sua longevidade. Entretanto, a morte sempre é um fato com grande poder de irradiação
https://gilvanmelo.blogspot.com/2022/09/luiz-carlos-azedo-o-custo-beneficio-do.html
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O Tejo | Poema de Fernando Pessoa com narração de Mundo Dos Poemas
5.041 visualizações 4 de jan. de 2021 Poesia e poema de autor português. Fernando António Nogueira Pessoa (1888 — 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Um dos maiores génios poéticos de toda a nossa Literatura e um dos poucos escritores portugueses mundialmente conhecidos. A sua poesia acabou por ser decisiva na evolução de toda a produção poética portuguesa do século XX. Se nele é ainda notória a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, não só quanto à criação (e invenção) de novas tentativas artísticas e literárias, mas também no que respeita ao esforço de teorização e de crítica literária. É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterónimos - Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterónimo Bernardo Soares.
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Nas entrelinhas: O “melhor país do mundo” não é o de Bolsonaro
Publicado em 21/09/2022 - 05:41 Luiz Carlos AzedoPolítica
O discurso na ONU foi uma tentativa de se apropriar do sentimento de brasilidade, da mesma forma como fez com a Bandeira brasileira e as comemorações do Bicentenário da Independência
O presidente Jair Bolsonaro discursou, ontem, na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos, como é de praxe no cerimonial do órgão, desde a sua criação no imediato pós-II Guerra Mundial, embora não exista nada escrito que o Brasil deva ter essa honraria no seu regimento. Descreveu um país que não é exatamente aquele no qual estamos vivendo, com o claro propósito de aproveitar a oportunidade para se apresentar aos eleitores como um estadista reconhecido internacionalmente e, ao mundo, como um governante generoso e bem-sucedido. A abertura, porém, foi esvaziada pela ausência do presidente dos EUA, Joe Biden, que mudou a agenda e só falará hoje.
O discurso de Bolsonaro foi mais um gesto para se apropriar do nosso sentimento de brasilidade, da mesma forma como fez com a bandeira brasileira e as comemorações do Bicentenário da Independência, no 7 de Setembro, que descreveu no discurso como “a maior demonstração cívica da História do país”. Descendente de italianos, Bolsonaro é um “oriundi” traduzido, no conceito antropológico do termo, como acontece com a maioria dos brasileiros descendentes de europeus, que não renegam a cultura de seus povos de origem nem assumem uma condição “chauvinista”, colocando-a acima da nossa cultura popular.
A dificuldade de Bolsonaro está em não compreender plenamente o conceito de “brasilidade”, a qualidade de quem é brasileiro, que está profundamente associado à nossa diversidade étnica e cultural. O “ser brasileiro” não é uma invenção das antigas elites escravocratas nem das escolas militares, mas uma construção multidimensional, por meio da arte, da dança, dos ritos, da música, da culinária, dos símbolos e, principalmente, da nossa literatura, que fez a crítica dos nossos hábitos e costumes, papel hoje exercido pela nossa teledramaturgia. Num país continental, não poderia ser diferente.
Quando um brasileiro acredita que somos “o melhor país do mundo”, não está se referindo a um governo ou à conjuntura, mas aos vínculos culturais mais profundos, tecidos ao longo de gerações. Iniciado após a Independência, em 1822, o processo de constituição da identidade nacional somente consolidou-se a partir da década de 1930, após Getúlio Vargas chegar ao poder. Está ligado à constituição de um Estado nacional moderno e à língua portuguesa, falada em todo o território nacional. Daí a importância da nossa literatura, hoje tão desprezada. As obras de José de Alencar, autor de O Guarani, por exemplo, foram fundamentais para associar nossa identidade às belezas naturais do território e à presença indígena na formação da nação brasileira.
Na contramão
Os Sermões, de Padre Vieira; Inocência, de Visconde de Taunay; O Cortiço, de Aluísio de Azevedo; Dom Casmurro, de Machado de Assis; Macunaíma, de Mário de Andrade; Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto; Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Jubiabá e Gabriela, cravo e canela, de Jorge Amado; Navalha na Carne, de Plínio Marcos, por exemplo, construíram um mosaico cultural cujo influência na música, na dramaturgia e nas artes plásticas perdura hoje. Artistas como Tarsila do Amaral, Chiquinha Gonzaga e Ivone Lara, Cartola e Paulinho da Viola, Chico Buarque e Tom Jobim, Caetano e Gil, Cazuza e Renato Russo, cada qual à sua época, foram intérpretes desse sentimento profundo de brasilidade.
O “melhor país do mundo” está no imaginário popular, não estava no discurso que Bolsonaro fez ontem na ONU, onde afirmou que 80% da Floresta Amazônica permanecem intocados: “Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi descoberto, em 1500”. No mesmo dia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que o número de queimadas registradas na Amazônia, até ontem, já superou o total registrado em todo o ano de 2021. Em nove meses incompletos (261 dias), foram 76.587 focos de incêndio na região. No ano passado inteiro, foram 75.090.
Bolsonaro é o principal responsável pelo aumento do desmatamento da Amazônia, ao desmantelar órgãos como o Ibama e o Instituto Chico Mendes, além de estimular garimpeiros, pecuaristas e madeireiros a avançar floresta a dentro. A Amazônia Legal, com 59% do território brasileiro, ocupa nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranhão. Na semana passada, por causa das queimadas, a fuligem e o cheiro das queimadas foram sentidos de São Paulo ao Rio Grande do Sul. A política ambiental de Bolsonaro está na contramão da política ambiental preconizada pela ONU e, hoje, é um dos principais fatores do nosso isolamento internacional.
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O rato do campo e o rato da cidade (Fábula), de Monteiro Lobato
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O rato da cidade e o rato do campo (Fábula), de Monteiro Lobato
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O rato do campo e o rato da cidade
Certo ratinho da cidade resolveu banquetear um compadre que morava no mato. E convidou-o para um festim, marcando hora e lugar.
Veio o rato da roça, e logo de entrada muito admirou do luxo de seu amigo. A mesa era um tapete oriental, e os manjares eram coisa papa-fina: queijo do reino, presunto, pão de ló, mãe-benta. Tudo isso dentro de um salão cheio de quadros, estatuetas e grandes espelhos de moldura dourada.
Puseram-se a comer.
No melhor da festa, porém, ouviu-se um rumor na porta. Incontinente, o rato da cidade fugiu para o seu buraco, deixando o convidado de boca aberta.
Não era nada, e o rato fujão voltou e prosseguiu o jantar. Mas ressabiado, de orelha em pé, atento aos mínimos rumores da casa.
Daí a pouco, novo barulhinho na porta e nova fugida do ratinho.
O compadre da roça franziu o nariz.
Sabe do que mais? Vou-me embora. Isto aqui é muito bom e bonito, mas não me serve. Muito melhor roer o meu grão de milho no sossego da minha toca do que me fartar de gulodices caras com o coração aos pinotes. Até logo.
E foi-se.
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Fonte:
Do livro "Fábulas e Histórias diversas"
Pesquisa e adequação ortográfica: Iba Mendes (2018)
http://www.poeteiro.com/2018/11/o-rato-do-campo-e-o-rato-da-cidade.html
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Miraí - Meus tempos de criança - Ataulfo alves
73.640 visualizações 17 de set. de 2009 Não nasci aqui mas meus pais e avós, tios e primos, minha família tão querida!
Estar em Miraí é reviver época tão maravilhosa da minha meninice
Música
MÚSICA
Miraí
ARTISTA
Ataulfo Alves
https://www.youtube.com/watch?v=Wrj4_SikWBM
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM LINGUÍSTICA
FABIANA CASTRO CARVALHO
INTERDISCURSO, CENAS DE ENUNCIAÇÃO E ETHOS
DISCURSIVO EM CANÇÕES DE ATAULFO ALVES
VITÓRIA-ES
2010
RESUMO
Esta dissertação trata da constituição do ethos discursivo, relacionado às cenas
enunciativas e ao interdiscurso, em quatro canções de Ataulfo Alves que
apresentam em comum o tema da infância e a saudade da cidade natal. Tomamos a
Análise do Discurso de linha francesa em suas novas tendências, a partir da
abordagem de Maingueneau (1989, 1996, 2008), como suporte teóricometodológico, visto que, conforme esse autor, essa metodologia se propõe a estudar
a linguagem levando em conta sua exterioridade. Nossos objetivos foram: examinar
o modo de constituição do ethos discursivo; aprofundar-nos nos estudos em AD;
pesquisar o papel do samba no Brasil; conhecer a vida e a obra de Ataulfo Alves
levando em conta sua importância na MPB; analisar quatro de suas canções tendo
por base três noções: interdiscurso, cenas enunciativas e ethos discursivo, nas
perspectivas apontadas por Maingueneau para a AD. As análises privilegiaram a
letra da música como objeto de estudo, mas foram considerados aspectos musicais,
quando eles se mostraram relevantes à constituição do ethos. O que se pretendeu
mostrar é que o sujeito enunciador fala a partir do lugar que ocupa na relação de
forças que constitui a sociedade. Após a análise de cada canção, efetivada a partir
dos temas “infância” e “terra natal”, os resultados apontaram para a construção de
uma imagem de si projetada no discurso nos moldes do discurso dominante, visto
que o sujeito enunciador não questiona os Aparelhos Ideológicos do Estado, mas
adéqua seu discurso a eles. Através dos rastros interdiscursivos pudemos notar que
as canções foram tecidas a partir do reconhecimento do Outro, inclusive de sua
anexação. Além disso, a construção da cenografia como um espaço do desejo e do
passado conferiu ao discurso um tom de sofrimento que colaborou para a
construção de um enunciador melancólico, resignado com o presente e saudosista.
Palavras-chave:
Análise do Discurso. Gênero canção. Interdiscurso. Cenas enunciativas. Ethos
discursivo. Ataulfo Alves.
ABSTRACT
This dissertation deals with the constitution of the discursive ethos, related to
enunciatory scenes and interdiscourse, which are studied in four Ataulfo Alves’ songs
that presented in common: The childhood’s and The hometown’s miss themes. We
follow the French Discourse Analysis line in their new trends, from Maingueneau’s
approach (1989, 1996, 2008) as a theoretical and methodological support, since, as
this author, this theory purpose is the language studying, taking into account its
externality. Our objectives were: to examine how the discursive ethos is formed, to
make a deeper study on AD, to search for the samba’s role in Brazil, to know the life
and the work of Ataulfo Alves taking into account its importance in MPB; to analyse
four of his songs based on three notions: interdiscourse, enunciative scenes and
discursive ethos, in the prospects outlined by Maingueneau for the AD. The analysis
concentrated on the lyrics as an object of study, but the musical aspects were
considered when they show themselves to be relevant to the ethos’s constitution. It
was intended to demonstrate is that the enunciating person speaks from its place
where he occupies in relation to the power that constitutes the society. After the
analysis of each song, realized from the childhood and hometown themes, the results
pointed to the construction of an image of himself projected into the discourse along
the lines of the dominant discourse, as the enunciating person does not question the
state’s ideological devices, but adjust his speech according to them. Through the
interdiscursive traces we could realize that the songs were woven from the
recognition of the Other, including its attachment. In addition, the construction of the
scenography as a desire’s and past’s space gave to the discourse a tone of suffering
that helped to build a melancholy and nostalgic ethos, resigned to the present and
missing.
Keywords:
Discourse Analysis. Genre song. Interdiscourse. Scenes enunciation. Ethos
discourse. Ataulfo Alves.
INTRODUÇÃO
Ataulfo Alves1
, citado por Toledo (2008: 45), dizia que “A nossa música é uma das
mais belas do mundo, uma maravilha de ritmo”. Sou da mesma opinião de Ataulfo,
pois a música brasileira também me encantou e me acompanhou desde os “meus
tempos de criança”. Com três anos, bem antes de aprender a ler e a escrever, eu já
cantava acompanhada pelo som dos acordes do violão e do teclado do meu pai. Ela
esteve comigo durante toda a minha vida, inclusive na escola. As inúmeras
apresentações de trabalhos no ensino fundamental e médio – quando eu levava o
violão ou o teclado para a sala de aula, a fim de cantar com meus colegas uma
canção sobre o tema apresentado, normalmente nas aulas de Português e Literatura
– exemplificam essa relação antiga com as notas musicais.
No entanto, ela não é apenas uma recordação da minha vida escolar durante minha
infância e/ou adolescência. Pelo contrário, a música me acompanhou no curso de
graduação em Letras, quando se transformou em objeto de estudo para algumas
pesquisas e trabalhos, chegando a compor meu corpus na monografia de conclusão
de curso, em que analisei a construção da identidade do “mito da Amélia”, sob a
ótica da Análise Crítica do Discurso, a partir da canção Ai, que saudades da Amélia,
de Ataulfo Alves e Mário Lago.
Quando fiz minha especialização em Ensino de Língua Portuguesa, a música
também me acompanhou, pois foi a partir da canção Inútil, composta por Roger
Moreira e interpretada pelo grupo Ultraje A Rigor, que vi despertar em mim o
interesse por estudar a silepse em produções textuais de alunos do Ensino Médio.
Agora a música me acompanha também no mestrado, uma vez que integra esta
dissertação, trabalho de pesquisa que pretendeu analisar algumas canções de
Ataulfo Alves – desta vez considerando apenas canções que ele compôs sozinho,
sem parceria – a partir dos conceitos interdiscurso, cena enunciativa e ethos
discursivo, tendo como suporte teórico-metodológico a Análise do Discurso de linha
francesa.
1
Sabemos que seu nome de registro é Ataulpho Alves (cf. TOLEDO, 2008), no entanto optamos por
utilizar Ataulfo Alves, por ser este o seu nome artístico.
A escolha do corpus deveu-se, principalmente a dois motivos: o primeiro é o fato de
Ataulfo Alves ser nascido e criado em Miraí-MG, minha terra natal. Por sermos
conterrâneos, ouvir, ler e cantar suas canções são hábitos cotidianos desde os meus
primeiros anos. O segundo representa a consciência da importância da música
popular brasileira (MPB) na construção da identidade nacional.
Além disso, vale salientar que 2009, ano de desenvolvimento da presente
dissertação, foi também o ano de comemoração do centenário de nascimento do
referido cantor e compositor. Tomar suas canções como amostra para nossa análise
é, portanto, uma forma de homenagear este artista que se tornou um marco para a
MPB ao criar obras que pertencem à antologia do samba urbano-carioca, mas que
possuem melodia triste e ritmo lento, peculiaridades de sua mineiridade. Queremos,
assim, resgatar a vida e a obra de Ataulfo, analisando as letras de canções que
emergiram das gerais de Minas para o Brasil.
Ataulpho Alves de Souza nasceu em Miraí, em 1909. Cresceu na Fazenda
Cachoeira, onde morava com a família, e desde novo era capaz de fazer versos,
uma vez que ouvia sempre o som da viola, além dos versos improvisados, do
gemido da sanfona e das toadas cantadas pelos viajantes que por lá passavam.
Filho de Severino de Souza e Matilde de Jesus, Ataulfo assumiu a responsabilidade
de ajudar no sustento da casa com apenas 11 anos, devido à morte de seu pai. Com
menos de 20 anos, ele se mudou para o Rio de Janeiro, onde teve contato com as
rodas de samba, fato que indubitavelmente colaborou para que sua vocação musical
renascesse e ele começasse a compor, ofício que só foi interrompido em 1969, por
ocasião de sua morte (cf. CABRAL, 2009).
A noção de ethos, conceito proposto para análise neste trabalho, vem da retórica
como sendo uma imagem de si projetada pelo locutor através de seu discurso.
Optamos por analisar tal categoria nas canções de Ataulfo Alves porque
acreditamos que tal noção se liga à questão da construção da identidade, uma vez
que implica em considerar as representações que locutor e alocutário fazem um do
outro e as estratégias que orientam o discurso do locutor a fim de sugerir certa
identidade. O enunciador, responsável pelo que é dito no discurso, fala de um lugar social e se relaciona com os estereótipos dos sujeitos do grupo social no qual o
discurso é produzido.
Devido ao fato de o discurso construir uma representação de sua enunciação,
optamos por analisar o ethos discursivo relacionando-o aos conceitos de cena
enunciativa e interdiscurso, pois acreditamos que são elementos indissociáveis que
constroem e legitimam o discurso. As cenas de enunciação são tripartidas em cena
englobante, cena genérica e cenografia. Esta última, que confere credibilidade à
enunciação, possibilitou o reconhecimento do enunciador. O interdiscurso, conjunto
de discursos que mantém uma relação discursiva entre si, tripartido em universo
discursivo, campo discursivo e espaço discursivo, possibilitou relacionar a memória
coletiva à análise das canções.
Através da presente dissertação, analisamos as canções de Ataulfo Alves pelo viés
da Análise do Discurso (doravante AD) por considerar que tal proposta resgata a
importância desse cantor e compositor, além de levar a uma reflexão sobre o
momento histórico em que ele viveu para que seja feita uma leitura sobre as
condições de produção do discurso cantado em seus sambas, que tinham como
principal rede de distribuição musical o rádio – meio de comunicação que atingia os
vários segmentos sociais daquele tempo.
A AD é uma disciplina que estuda a relação entre linguagem, sentido e ideologia.
Vale ressaltar que todo discurso está situado historicamente e esta teoria nos
possibilita a recorrência à História para que sejam verificadas as condições de
produção das canções selecionadas a fim de que produzam sentido. Nesse
contexto, a AD, nas perspectivas apontadas por Maingueneau (1989, 1996, 2008),
aparece como o referencial teórico que melhor contribui para a análise aqui
proposta, uma vez que, por meio dela, são abarcados outros conceitos que estão
relacionados ao ethos discursivo, tais como: sujeito, interdiscursividade, cenas de
enunciação, condições de produção, memória discursiva, dentre outros.
Nessa teoria, o discurso é uma organização situada para além da frase; é orientado
no sentido do ponto de vista do locutor e da linearidade temporal (possui um
propósito e um lugar de circulação social); é interativo e não existe fora de um contexto. A AD toma o discurso como produto de um contexto social, permeado pela
ideologia, e alia o linguístico ao extralinguístico, pois não há neutralidade nem
mesmo no uso mais cotidiano dos signos. Aliás, a palavra é o lugar privilegiado para
a manifestação da ideologia.
A AD funciona, portanto, de maneira eficaz como instrumental teórico para essa
pesquisa, visto que se propõe a estudar a linguagem relacionada à sua
exterioridade, isto é, leva em conta o homem na sua história, os processos e as
condições de produção da linguagem por meio da análise da relação da língua com
os sujeitos que a falam e, para tal, considera o papel crucial das condições de
produção.
Como foi dito acima, o objetivo geral deste trabalho foi analisar canções de Ataulfo
Alves tendo por base os conceitos de interdiscurso e cena enunciativa a fim de
apreender como se constitui o ethos discursivo. Os objetivos específicos foram
aprofundar os estudos em Análise do Discurso, principalmente no que tange ao
conceito de ethos discursivo; pesquisar o papel do samba de 1930 a 1970, no Brasil;
conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra do cantor e compositor Ataulfo Alves;
e analisar quatro de suas canções que fazem referência à infância na cidade de
Miraí: Meus tempos de criança, Minha infância, Miraí (Cidade Miraiense...) e Miraí
(Meu Miraí que eu não me esqueço...) tendo por base os conceitos de
interdiscursivo, cena enunciativa e ethos discursivo.
É importante destacar, desde o início, que privilegiamos a letra da canção e o
discurso como objeto de estudo, apesar de reconhecermos a interdependência
existente entre a linguagem verbal (letra) e a linguagem musical (melodia e ritmo) no
gênero canção. Desse modo, o foco desta pesquisa será a linguagem verbal,
embora alguns aspectos da linguagem musical sejam citados, mas não
aprofundados.
O problema que motivou a realização desta pesquisa foi observar como se revela o
ethos no discurso das letras das canções selecionadas, como ele se constitui na
cena enunciativa e qual a sua relação com o interdiscurso. Esta é uma pesquisa
relevante porque, ao atribuir um valor científico às letras de canções de Ataulfo Alves aqui selecionadas, pretendemos valorizá-las e mostrar que também nelas o
sujeito fala a partir do lugar que ocupa na relação de forças da qual a sociedade é
constituída. Não se trata do sujeito físico, mas da projeção de sua imagem no
discurso que, muitas vezes, concretiza-se em estereótipos.
Nessa introdução, foram apresentados os principais pontos deste trabalho: foram
estabelecidas motivações e justificativas para o desenvolvimento da pesquisa e do
corpus escolhido, além da identificação do tema, a definição dos objetivos e a
especificidade dos suportes teóricos e metodológicos para a efetivação das análises.
Nos capítulos que seguem, são desenvolvidos os pontos citados:
• Capítulo I – Considerações sobre a Análise do Discurso – este capítulo trata
do arcabouço teórico adotado na pesquisa. Falamos sobre o itinerário da
Análise do Discurso, a inserção de Dominique Maingueneau nessa teoria, a
abordagem de ethos discursivo por ele proposta. Este capítulo versa ainda
sobre o gênero canção, concebido como um gênero de caráter intersemiótico
que une a linguagem verbal e a não-verbal. Além disso, é apresentada a
metodologia seguida no trabalho.
• Capítulo II – Contextualização histórica das canções selecionadas para
análise – neste capítulo apresentamos a amostra escolhida e falamos sobre o
papel do samba na MPB; além disso fazemos um inventário sobre aspectos
da vida e da obra do cantor e compositor Ataulfo Alves, bem como uma
contextualização histórica de sua produção discursiva.
• Capítulo III – Interdiscurso, cena enunciativa e ethos discursivo em canções
de Ataulfo Alves – versa sobre nossas análises, que apontaram para a
construção de uma imagem nostálgica e saudosista do sujeito enunciador, um
ethos projetado no discurso nos moldes do discurso dominante, pois o
enunciador adéqua seu discurso aos Aparelhos Ideológicos do Estado.
• A guisa de conclusão é a parte que sintetiza os resultados das análises da
amostra. Aproveitamos para tecer considerações sobre o percurso
desenvolvido nessa pesquisa, suas dificuldades e suas contribuições em
relação a outras pesquisas desenvolvidas nessa área.
À GUISA DE CONCLUSÃO
De caráter intersemiótico, conjugando a linguagem verbal e a linguagem musical, o
gênero canção, tomado como amostra em nossa pesquisa a partir das letras de
quatro canções de Ataulfo Alves selecionadas para análise, mostra que a MPB é, de
fato, uma espécie de catalisador do pensamento brasileiro. A MPB é fator que
constitui a cultura brasileira, pois carrega histórias do povo, transmitidas de geração
em geração. Através das canções tomadas enquanto discurso foi possível perceber
como se revela o ethos discursivo, como ele se constitui na cena enunciativa e sua
relação com o interdiscurso.
A temática da cidade natal e da infância, trabalhada de modo específico em cada
canção, levou-nos a observar a construção de uma imagem de si projetada no
discurso nos moldes do discurso dominante no contexto histórico em questão. O
sujeito enunciador não questiona os Aparelhos Ideológicos do Estado, antes adéqua
seu discurso a eles. Desse modo, foi possível observar a construção de um ethos
pequeno-burguês resignado com o presente, marcado pelo tom saudosista,
melancólico, nostálgico.
O interdiscurso constituiu-se, nas análises, como um diálogo entre os diferentes
discursos. As canções foram tecidas a partir do reconhecimento do Outro e até
mesmo de sua incorporação. Foi possível comprovar, através dos rastros
interdiscursivos, que todo discurso traz no bojo o Outro, pois o dialogismo é inerente
à linguagem.
As cenas de enunciação ocuparam espaço marcante na análise. A cena englobante
referia-se ao discurso lítero-musical; a cena genérica tratava do gênero canção; a
cenografia correspondeu ao contexto que cada canção implicou. Por recordar
momentos passados, resignando-se com o presente, o enunciador se apresentou
como sofredor. A cenografia era, então, um espaço do desejo, característica
romântica. Sua escolha não se deu sem propósitos, visto que o discurso se
desenvolveu a partir dela, a fim de conquistar a adesão do coenunciador com a
instituição da cena enunciativa que o legitimou.
Nossos objetivos foram alcançados, pois examinamos a constituição do ethos
discursivo nas cenas enunciativas em relação com o interdiscurso tendo em vista as
quatro canções selecionadas, aprofundamos os estudos em AD, pesquisamos o
papel do samba no Brasil, inventariamos aspectos da vida e da obra de Ataulfo
Alves e analisamos as quatro canções selecionadas para compor a amostra,
identificando as imagens de si projetadas no discurso.
Como nosso propósito era verificar fatores identitários e culturais ligados à tríade
“interdiscurso, cenas enunciativas e ethos discursivo”, a AD, em suas novas
tendências, mostrou-se um importante e adequado arcabouço teórico-metodológico
de base para a análise empreendida nessa dissertação, graças ao olhar
intersemiótico e discursivo proposto por Maingueneau (1989, 1996, 2008), uma vez
que os três elementos atuam conjuntamente na produção de sentidos.
Quanto ao sujeito empírico Ataulfo Alves, vemos o mesmo como um resultante do
processo histórico-social do qual participou, evidentemente. Contudo, por ter sido
eleito para representar a grande massa dos negros brasileiros e ter sido convidado a
se colocar do lado do poder, como a figura que dizia do momento de renovação
social e política do país, ele garantiu seu lugar na história, aproveitou bem os
espaços a ele atribuídos e soube contornar as adversidades.
Quarenta anos depois da morte desse cantor e compositor, ele ainda é figura viva na
memória popular, destacando-se como personalidade, como também, o que mais
nos impressiona, é sempre lembrado pela atualidade dos seus discursos, já que a
ideologia dominante, à qual ele adere, ainda é a mesma. É só nos lembrarmos de Ai,
que saudades da Amélia, por exemplo.
Ataulfo Alves é considerado um dos pilares sobre os quais se ergueu a MPB. Cem
anos após seu nascimento e quarenta anos após sua morte, sua obra permanece
viva, pois o samba continua sendo uma marca cultural do Brasil. A ele nossas
saudações miraienses, já que por ele Miraí ocupa destaque no cenário nacional.
***
***
3.2 Análise da canção 1:
Meus Tempos de Criança
(Ataulfo Alves – 1956)
1. Eu daria tudo que eu tivesse
2. Pra voltar aos dias de criança
3. Eu não sei pra quê que a gente cresce
4. Se não sai da gente essa lembrança
5. Aos domingos, missa na matriz
6. Da cidadezinha onde eu nasci
7. Ai, meu Deus, eu era tão feliz
8. No meu pequenino Miraí
9. Que saudade da professorinha
10. Que me ensinou o beabá
11. Onde andará Mariazinha
12. Meu primeiro amor, onde andará?
13. Eu igual a toda meninada
14. Quanta travessura que eu fazia
15. Jogo de botões sobre a calçada
16. Eu era feliz e não sabia
Auxiliados pela História, verificamos que a infância do sujeito empírico Ataulfo Alves
não foi um “mar de rosas”, pois o menino teve uma infância pobre e de trabalho para
ajudar no sustento da família, no município de Miraí, MG. Na juventude, mudou-se
para o Rio de Janeiro e lá também teve vários empregos: entregador de recados,
ajudante de lanterneiro, lavador de vidros, prático de farmácia. Sua vocação musical
é fruto do contato com as rodas de samba, depois do expediente.
Relacionando o sujeito empírico e o sujeito enunciador do discurso, percebemos que
a canção Meus tempos de criança, produzida em 1956, parece colocar em prática o senso comum moral de que “devemos pautar a nossa vida como se toda a gente a
olhasse” (MORAES, 2008:114). Talvez por isso, sejam citados apenas aspectos
positivos dos seus tempos de criança na pequena cidade miraiense, apesar da
infância difícil do sujeito empírico. O enunciador rememora sua vida, seu modo de
ser, organizando suas lembranças no fio da escrita e buscando o efeito de
autenticidade, explicitando apenas experiências que merecem ser recordadas,
porque são boas de se viver.
O enunciador revela, no discurso, a dor da saudade (da infância, da professorinha,
de seu primeiro amor); apresenta-se como um narrador-personagem, que fala da
sua história. Em princípio, podemos dizer que a canção, cujo tema já se apresenta
no título Meus tempos de criança, é uma forma de registrar momentos marcantes
vividos pelo sujeito em sua infância. Sua lástima se centra no fato de não ser mais
criança, pois era feliz na infância, uma vez que podia, entre outras coisas, fazer
travessuras e jogar botões pela calçada. Subentende-se aí a infelicidade do
presente, provavelmente relacionada às pressões da vida adulta, às coerções
sociais e às regras que o mundo adulto impõe em oposição à felicidade do passado
de liberdade.
Quanto aos aspectos formais, já na leitura da primeira estrofe da letra da canção,
pode-se perceber o tom de melancolia da enunciação: nos versos 1 e 2 o sujeito
afirma que daria tudo para voltar à infância e nos versos 3 e 4 ele questiona a
necessidade de crescer, tornar-se adulto, uma vez que as lembranças dos tempos
de outrora permanecem em sua memória. Devido à impossibilidade de voltar ao
passado, ele lamenta o crescimento e centra sua recordação ao “eu” menino. O
enunciador diz que “daria” tudo que “tivesse”, mas poderia ter dito que “dá tudo que
tem”. Ao fazer essa escolha lexical, o enunciador mostra que tem consciência de
não poder voltar ao passado.
Na segunda estrofe o enunciador se desloca do presente para rememorar suas
vivências infantis. Lá ele cita a “missa na matriz” nos dias de domingo, verso que
insere o sujeito na comunidade discursiva católica, pois aparecem marcas
linguísticas do discurso religioso. De fato o enunciador cita tais reuniões católicas
como uma de suas lembranças. Destacamos o verso 7, que apresenta uma mudança no coenunciador da enunciação: aqui, o enunciado é destinado a Deus “Ai,
meu Deus, eu era tão feliz”. Ressaltamos que a relação entre o discurso líteromusical e o discurso religioso é fecunda na MPB. Podemos citar essa ocorrência em
outros sambas de Ataulfo Alves, como Ai, que saudades da Amélia, canção na qual
aparecem os versos “Ai, meu Deus, que saudades da Amélia/ Aquilo sim é que era
mulher”.
Na terceira estrofe ele faz alusão ao universo escolar, revelando a saudade que
sente da professora, e manifesta a falta de informações quanto ao paradeiro de
Mariazinha, seu primeiro amor. São explicitadas as marcas do discurso escolar,
quando o enunciador cita a professora alfabetizadora, ou seja, a “professorinha” que
lhe ensinou o “beabá”.
Por fim, na quarta estrofe, a liberdade, a travessura, os jogos que o faziam felizes
são contrapostos ao presente. Há polifonia no último verso, pois ao dizer “Eu era
feliz e não sabia”, no passado, podemos perceber outra voz que diz, no presente,
“Não sou feliz, hoje sei”.
A negação encena o choque entre duas atitudes antagônicas, de dois enunciadores
diferentes: um enunciador assume o ponto de vista rejeitado e o outro assume a
rejeição deste ponto de vista. Para Maingueneau (1989: 81), “a noção de negação é
ambígua”, havendo dois tipos: a negação descritiva, em que o locutor descreve um
estado de coisas; e negação polêmica, que se opõe a uma afirmação anterior (a AD
mantém laços privilegiados com a negação polêmica, como é o caso da canção
supracitada).
Se, de um lado, temos a paz, a harmonia, a inocência, a ingenuidade, a magia, a
espontaneidade e a liberdade próprias da infância; por outro lado, temos o
pensamento, a cultura, a sociedade, o desencantamento, a inserção de um novo
meio ou novo mundo social, a racionalidade, as restrições, as regras e a estranheza
que o mundo adulto suscita.
Essa lembrança sonhadora do passado é muito comum na MPB e na Literatura,
onde se encontram letras de canções e poemas em que paira a nostalgia de um passado perdido e idealizado. Nesse sentido, existe um confronto de julgamentos
entre o ontem e o hoje, sendo o ontem idealizado e pleno de felicidade, enquanto no
hoje se encontra a dureza da realidade infeliz.
Com linguagem simples e coloquial, em Meus tempos de criança, o enunciador se
posiciona como sujeito de sua própria história, o que se comprova explicitamente a
partir das marcas linguísticas da subjetividade no discurso (eu, a gente, me, meu,
meus etc.). O texto é singular, de estilo próprio, caracterizado por versos com
métrica regular (nove sílabas métricas); rimas padronizadas (o primeiro verso de
cada estrofe rima com o terceiro e o segundo rima com o quarto), etc.
Por estar no tempo presente da enunciação recordando um tempo passado,
aparecem verbos em diversos tempos. O futuro do pretérito (daria), o imperfeito do
subjuntivo (tivesse) e o infinitivo (voltar) criam uma atmosfera de nostalgia, como se
pode notar nos dois primeiros versos: “Eu daria tudo que tivesse/ Pra voltar aos dias
de criança”. O pretérito perfeito (ensinou) e o pretérito imperfeito (era, fazia, sabia)
explicitam o deslocamento do presente para a recordação do passado.
O presente (cresce, sai) da primeira estrofe é utilizado para exprimir sua situação
atual, que é de descontentamento, de infelicidade, como vemos no terceiro e no
quarto versos: “Eu não sei pra quê que a gente cresce/ Se não sai da gente essa
lembrança”. Já o futuro do presente (andará) é utilizado para revelar a incerteza do
paradeiro, como se verifica em “Onde andará Mariazinha?/ Meu primeiro amor, onde
andará?”
Quanto ao vocabulário, ressaltamos que a palavra não constitui unidade de análise
em si. No entanto, os campos semânticos relacionados nessa canção colaboram
com a constituição da imagem que o enunciador permite que o coenunciador crie de
si no discurso. Ao falar da infância, temos, por exemplo, palavras como “criança,
meninada, travessuras, jogo de botões”; ao tratar da religião, marcadamente
católica, aparecem as palavras “domingos, missa, matriz, Deus”; quando o assunto é
a vida escolar, o léxico é “professorinha, ensinou, beabá”.
De fato, as palavras são empregadas devido às suas virtualidades de sentido na
língua. Além do valor semântico, elas adquirem estatuto de signos de pertencimento
a uma formação discursiva e o enunciador escolhe unidades lexicais que marcam
sua posição no campo discursivo. Na última estrofe, o enunciador se iguala aos
demais meninos com os quais convivia. É interessante notar o uso do substantivo
“meninada” para designar um conjunto de meninos e/ou meninas que se reuniam
para fazer travessuras.
Considerando o caráter intersemiótico do gênero canção, podemos dizer que Meus
tempos de criança segue uma métrica musical, com acentuação clara do tempo forte
do compasso (2/4), sem subverter o português, utilizando a acentuação usual das
palavras, sem erro de prosódia. Tal construção parece favorecer a construção da
imagem do sujeito como alguém com competência de conjugar as linguagens verbal
e musical. Vale lembrar que as letras de canções equivalem à poesia devido à
utilização de recursos semelhantes aos da criação poética (métrica, rima, ritmo,
sonoridade).
Pela memória discursiva, podemos relacionar Meus tempos de criança ao poema
Pobre velha música, de Fernando Pessoa (1888-1935), considerado o poeta mais
significativo do Modernismo de Portugal, pois neste texto aparece também o desejo
de voltar a uma infância apresentada como um momento de felicidade efêmero e
eternamente recuperável nos momentos da fraqueza do presente. Além do mais, os
últimos versos, questionando a existência da felicidade, parecem dialogar entre si.
“Pobre velha música!
Não sei porque agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te.
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.”
(PESSOA, 2009)
Contrapondo-se o verso “Eu era feliz e não sabia” aos versos “E eu era feliz? Não
sei: / Fui-o outrora agora”, os sujeitos enunciam o sentimento de felicidade dos
tempos vividos percebido somente no presente. Ambos reencontram a felicidade, ao
recordar os tempos infantis. Desse modo, confirma-se a hipótese do primado do
interdiscurso, defendido por Maingueneau em sua abordagem, pois um discurso não
existe sozinho, mas dialogando com outros. Definido como um conjunto de discursos
que mantém entre si uma relação discursiva, o interdiscurso está relacionado à
memória coletiva onde acontece o funcionamento do discurso em que os sujeitos
estão inscritos.
Além disso, podemos relacionar a canção Meus tempos de criança ao poema
Infância, de Carlos Drummond de Andrade. Tal como Ataulfo Alves (nascido em
1909 em Miraí-MG), o poeta Drummond (nascido em 1902 em Itabira-MG) pertenceu
à década em que ocorreu a crise da arte que resultou no Modernismo, movimento
literário de expressiva contribuição para a criação de uma identidade brasileira.
Sobre a essa identidade, Toledo (2008: 97) afirma:
“A identidade nacional brasileira começou a ser melhor definida a partir do
Modernismo. Antes, havia apenas uma identidade "transplantada". Afirmar
uma identidade étnico-cultural é afirmar uma certa originalidade, uma
diferença, e, ao mesmo tempo, uma semelhança, já que idêntico é aquele
que é perfeitamente igual. Na identidade existe uma relação de igualdade
que cimenta um grupo, válida para todos os que a ele pertencem. Porém, a
identidade se define em relação a algo que lhe é exterior, diferente.”
Ataulfo e Drummond dividiram o mesmo tempo e o mesmo espaço. Podemos
estabelecer semelhanças quanto às histórias de vida dos dois, pois ambos deixaram
suas cidades de origem e partiram de trem de ferro para novos lugares. Ataulfo
mudou-se para o Rio de Janeiro, onde teve várias profissões, destacando-se como
prático de farmácia e lá se envolveu com as rodas de samba, desenvolvendo sua
musicalidade. Já Drummond mudou-se para Belo Horizonte, onde se formou em
Farmácia, embora não se interessasse pela profissão. Como não se adaptou à vida
de fazendeiro, Drummond mudou-se para o Rio de Janeiro em 1934 e chegou a ser
Ministro da Educação e da Saúde Pública. Apesar disso, sobressaiu-se como poeta.
Entretanto, não são as semelhanças observadas quanto à história de vida dos dois
sujeitos empíricos, que alcançaram notoriedade na sociedade brasileira (Ataulfo na MPB e Drummond na Literatura Brasileira), que nos interessam de perto, mas sim o
pertencimento dos dois textos a um mesmo campo discursivo, bem como o
tratamento semântico do tema “saudade da infância”. Eis o poema Infância
(DRUMMOND, 2004: 67):
“Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.”
O tema tratado no poema refere-se às reminiscências da infância. O enunciador
organiza seu discurso a partir das lembranças e impressões guardadas em sua
memória. O espaço em que se desenvolve é a fazenda da família, espaço
interiorano de tranquilidade e segurança proporcionado pelo núcleo familiar do
menino, cujo cotidiano é relatado, quando se enuncia que: o pai ia para o campo
montado a cavalo, a mãe cosia e zelava pelo sono do irmão mais novo, o menino lia
entre as mangueiras e fazia comparações entre sua história e a história lida.
Destacamos a segunda estrofe do poema, em cujos versos é relembrado o
momento “brando de luz” do meio-dia em que “a preta velha”, ex-escrava, chamava
para o café (preto, gostoso e bom), sinal da hospitalidade mineira. Além disso, é
feita a comparação da cor da negra livre com a cor do café e é percebida a analogia
da história do sujeito que enuncia com a história de Robinson Crusoé, ambos
solitários e isolados do contato humano, embora por motivos diferentes. Crusoé ficou afastado da civilização devido a um naufrágio, enquanto o enunciador do
poema se diz só pelo fato de viver no interior ou simplesmente pelo fato de ser
criança, como notamos no verso “Eu sozinho menino entre mangueiras”.
Os versos “E eu não sabia que minha história/ era mais bonita que a de Robinson
Crusoé” finalizam o poema com a ideia de que a felicidade é suficiente para que sua
história de vida seja considerada bela. Essa melancólica conclusão se identifica com
o verso “Eu era feliz e não sabia”, que finaliza a canção de Ataulfo. Assim, tanto em
Infância quanto em Meus tempos de criança, além da revelação da melancolia, das
lembranças e da saudade da infância, são registradas confissões dos bons tempos
antigos, de uma felicidade que ficou no passado e é recordada pelo “eu” no
presente. Conforme Toledo (2008: 107):
“Ambos revelam nos versos, em flash-back, flagrantes singulares,
compartilhados, cada um a seu modo, em Miraí e em Itabira, buscando
restaurar o passado, no presente, com a simplicidade das cenas de um
tempo e um espaço, resguardados em suas memórias, e que, aqui, são
resgatados em um tempo bem distante, mas com a mesma intensidade
com que fora outrora experimentado, revelando peculiaridades do ambiente
mineiro.”
Em nossa análise, a cena englobante da canção corresponde ao discurso líteromusical; a cena genérica corresponde ao gênero canção e a terceira cena, a
cenografia, corresponde ao contexto que a obra implica. Já os primeiros versos de
Meus tempos de criança dão corpo à cenografia do texto que se dará através da
recordação.
A cena é construída pela cronografia que marca a oposição entre a infância, tempo
passado que representa a felicidade, e o tempo presente, de ausência de felicidade.
A topografia refere-se à cidade de Miraí, relacionada à infância, no passado. Quanto
ao lugar onde acontece a fala do presente, o enunciador não a explicita. No entanto,
se relacionarmos o enunciador ao sujeito empírico, podemos supor que se trata da
então capital do país, Rio de Janeiro, onde o cantor e compositor Ataulfo Alves viveu
sua carreira musical.
O ethos, imagem de si no discurso, integra a cenografia da recordação e visa a
conseguir a adesão do coenunciador. Para que isso aconteça, o modo como o
sujeito diz e o que ele diz são de capital importância. A estrutura narrativa que se
constrói na letra nos leva a identificar o tom, o caráter, a corporalidade, o mundo
ético do fiador, a partir de seu comportamento discursivo.
É possível observar no discurso um tom nostálgico e saudosista que idealiza o
passado e é com base nesse tom de lastimação e saudade que o enunciador tenta
provocar a comoção no coenunciador. O diminutivo de afetividade (cidadezinha,
pequenino, professorinha, Mariazinha) quando menciona as lembranças que ficaram
em sua memória, a linguagem simples, entre outras características do padrão
discursivo utilizado, contribuem para a construção da imagem de si no discurso.
O caráter é associado a um feixe de traços psicológicos atribuídos ao enunciador
pelo coenunciador. Trata-se de um sujeito sentimentalista, que valoriza as origens,
imagem que se constrói em outras canções, nas quais se preza a tradição e
condena-se quem despreza sua origem, conforme os versos “Desprezar a origem
que tem/ É negar sua própria razão”, encontrados na canção Gente bem, composta
por Ataulfo e gravada em 1966. A corporalidade (compleição física) do enunciador é
construída na cena que se desenvolve no texto: uma criança indo à missa na matriz,
indo à escola estudar, jogando botões sobre a calçada da rua com outras crianças.
A subjetividade que se manifesta em seu discurso é concebida como uma voz que
não pode ser dissociada do corpo que enuncia. Essa voz dialoga com outras vozes
e traz para seu interior crenças e valores (remissões ao discurso religioso e ao
discurso escolar) que são carregados de ideologias, pois não existem discursos e
sujeitos neutros.
Além disso, podemos identificar o mundo ético habitado pelo sujeito que enuncia.
Tal texto foi produzido numa prática discursiva que pressupõe a seguinte
organização social: quanto à inscrição e ao posicionamento, é o próprio enunciador
quem se recorda da infância vivida a partir do lugar social que habita no mundo ético
como profissional da música. No presente da enunciação, já adulto, o sujeito se
lembra de suas vivências, ao enunciá-las cantando.
O gênero canção colocado em questão nessa nossa análise teve, na época de
Ataulfo Alves, o rádio como principal suporte. Suas canções eram divulgadas por
esse meio de comunicação, fundamental para aquele tempo. O código de linguagem
adotado nas letras de suas músicas é o português coloquial. Seu padrão discursivo
adota uma linguagem clara e simples, respeitando as normas gramaticais, no
entanto, sem seguir ao extremo o padrão da língua culta.
Considerando a prática intersemiótica da canção, vale dizer que, quanto ao ritmo
lento e triste da melodia de Meus tempos de criança, eles podem ser considerados
como características do estilo próprio do sujeito empírico. A esse respeito
encontramos na coleção MPB Compositores: Ataulfo Alves (1996) a afirmação de
que os sambas do referido artista parecem um mineiro andando devagar, sem
pressa, cheio de ginga e sempre chegando ao lugar certo, ethos facilmente
apreendido quando escutamos a canção e analisamos o discurso.
A linguagem não-verbal da canção colabora com a construção do ethos, pois, além
do andamento lento, a melodia em tom menor favorece a criação de uma atmosfera
de tristeza, de calma e reflexão. A voz que canta8
, repleta de pequenos glissandos9
nos finais das frases, bem como o uso do tempo rubato, acelerando e retardando
ligeiramente o tempo da peça musical, ou seja, “roubando” um pouco do tempo de
algumas notas e compensando-o em outras, cooperam para a construção de uma
imagem melancólica do enunciador.
Embora o coenunciador possa considerar o discurso sentimentalista e idealista, ele
se identifica com o ethos, pois o ser humano geralmente tem o hábito de usar o
passado como uma crítica ao presente, como acontece nessa primeira canção
analisada, especialmente quando o último verso “Eu era feliz e não sabia” deixa
entrever a falta de felicidade do presente.
8
Fazemos referência às gravações nas quais o próprio Ataulfo Alves é o cantor. Se forem ouvidas
interpretações de outros cantores para a mesma canção, provavelmente haverá alteração na
construção do ethos.
9 Glissando é uma expressão italiana, utilizada na terminologia da música para indicar uma passagem
suave de uma altura a outra.
Vale ressaltar, ainda, que a posição assumida pelo enunciador em seu discurso nos
leva a relacioná-lo com a identidade católico-burguesa, uma vez que, em seu
discurso estão presentes dois importantes Aparelhos Ideológicos do Estado (a igreja
e a escola) aos quais o sujeito é assujeitado. O discurso da canção funciona como
uma estratégia de autorreferencialidade ao apresentar a cenografia da recordação.
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Tattoo
Jordin Sparks
Ouça Tattoo
Tattoo
No matter what you say about love
I keep coming back for more
Keep my head in the fire, sooner or later
I get what I'm asking for
No matter what you say about life
I learn everytime I bleed
The truth is a stranger, Soul is in danger
I gotta let my spirit be free
To admit that I'm wrong and then change my mind
Sorry but I have to move on and leave you behind
I can't waste time so give it a moment
I realized nothing's broken
No need to worry about everything I've done
Lived every second like it was my last one
Don't look back, got a new direction
I loved you once needed protection
You're still a part of everything I do
You're on my heart just like a tattoo
Just like a tattoo
I'll always have you
I'll always have you
Sick of playing all of these games
It's not about taking sides
When I looked in the mirror, didn't deliver
It hurt enough to think I could stop
Admit that I'm wrong and then change my mind
Sorry but I've gotta be strong and leave you behind
I can't waste time so give it a moment
I realized nothing's broken
No need to worry about everything I've done
Lived every second like it was my last one
Don't look back got a new direction
I loved you once needed protection
You're still a part of everything I do
You're on my heart just like a tattoo
Just like a tattoo
I'll always have you
I'll always have you
If I live every moment
Won't change any moment
Still a part of me in you
I will never regret you
Still the memory of you
Marks everything I do
I can't waste time so give it a moment
I realized nothing's broken
No need to worry about everything I've done
Lived every second like it was my last one
Don't look back got a new direction
I loved you once needed protection
You're still a part of everything I do
You're on my heart just like a tattoo
Just like a tattoo
I can't waste time so give it a moment
I realized nothing's broken
No need to worry about everything I've done
Lived every second like it was my last one
Don't look back got a new direction
I loved you once needed protection
You're still a part of everything I do
You're on my heart just like a tattoo
Just like a tattoo
I'll always have you
Tatuagem
Não importa o que você diga sobre amor
Eu continuo querendo mais
Deixo minha mão no fogo, cedo ou tarde
Eu consigo o que estou pedindo
Não importa o que você diga sobre a vida
Eu aprendo toda a vez que eu sangro
A verdade é uma estranha, a alma está em perigo
Eu tenho que deixar meu espírito ser livre
Para admitir que estou errada e então mudar minha mente
Desculpe, mas eu tenho que seguir e deixar você para trás
Eu não posso perder tempo, então dê um momento
Eu percebi que nada está quebrado
Não preciso me preocupar com tudo que eu fiz
Vivi cada segundo como se fosse o último
Não olho para trás, tenho uma nova direção
Eu te amei uma vez, precisava de proteção
Você ainda é uma parte de tudo que eu faço
Você está no meu coração como uma tatuagem
Como uma tatuagem
Eu sempre terei você
Eu sempre terei você
Cansada de jogar todos esses jogos
Não se trata de tomar partido
Quando eu olhei para o espelho, não entreguei
Dói o bastante pensar que eu poderia parar
Admitir que estou errada e então mudar minha mente
Desculpe, mas eu tenho que ser forte e deixar você para trás
Eu não posso perder tempo, então dê um momento
Eu percebi que nada está quebrado
Não preciso me preocupar com tudo que eu fiz
Vivi cada segundo como se fosse o último
Não olho para trás, tenho uma nova direção
Eu te amei uma vez, precisava de proteção
Você ainda é uma parte de tudo que eu faço
Você está no meu coração como uma tatuagem
Como uma tatuagem
Eu sempre terei você
Eu sempre terei você
Se eu viver cada momento
Não mudaria nenhum momento
Ainda uma parte de mim em você
Eu nunca vou me arrepender de você
Ainda a sua memória
Marca tudo o que eu faço
Eu não posso perder tempo, então dê um momento
Eu percebi que nada está quebrado
Não preciso me preocupar com tudo que eu fiz
Vivi cada segundo como se fosse o último
Não olho para trás, tenho uma nova direção
Eu te amei uma vez, precisava de proteção
Você ainda é uma parte de tudo que eu faço
Você está no meu coração como uma tatuagem
Como uma tatuagem
Eu não posso perder tempo, então dê um momento
Eu percebi que nada está quebrado
Não preciso me preocupar com tudo que eu fiz
Vivi cada segundo como se fosse o último
Não olho para trás, tenho uma nova direção
Eu te amei uma vez, precisava de proteção
Você ainda é uma parte de tudo que eu faço
Você está no meu coração como uma tatuagem
Como uma tatuagem
Eu sempre terei você
Ouça Tattoo
Composição: Mikkel Storleer Eriksen.
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