sexta-feira, 22 de maio de 2020

Falácia da relação efeito, cloroquina








Batimentos cardíacos descompassados de horror




Defendida por Bolsonaro, cloroquina aumenta risco de morte em pacientes, diz estudo
João Ker, O Estado de S.Paulo
22 de maio de 2020
ESPECIAL CORONAVÍRUS
Disponível em:
https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,defendida-por-bolsonaro-cloroquina-aumenta-risco-de-morte-em-pacientes-diz-estudo,70003311202
Acesso em: 22/05/2020



Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor
Aldir Blanc



Dois Pra lá, Dois pra cá
João Bosco









Sentindo frio em minh'alma
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava
São dois pra lá, dois pra cá
Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor
Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me pergunte mais
A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias
No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar
Eu hoje me embriagando
De whisky com guaraná
Ouvi tua voz murmurando
São dois pra lá, dois pra cá
Composição: Aldir Blanc / João Bosco.










Estudo com 96 mil pacientes não encontra benefício de uso de cloroquina contra Covid-19 e detecta risco de arritmia cardíaca
Maior pesquisa já feita sobre a relação entre o Sars CoV-2 e o uso da substância foi publicada nesta sexta-feira (22) na revista 'The Lancet'.
Por Carolina Dantas, G1
22/05/2020 10h01  Atualizado há uma hora





Cloroquina e Hidroxicloroquina não têm eficácia comprovada contra a Covid-19 — Foto: Reprodução/TV Globo

Uma pesquisa científica publicada na renomada revista "The Lancet" com 96 mil pacientes aponta que a hidroxicloroquina e a cloroquina não apresentam benefícios no tratamento da Covid-19. Os resultados divulgados nesta sexta-feira (22) mostram que também não há melhora na recuperação dos infectados, mas existe um risco maior de morte e piora cardíaca durante a hospitalização pelo Sars CoV-2.

Dados do estudo:

96.032 pacientes internados foram observados;
Idade média de 53,8 anos com 46,3% de mulheres;
Pacientes são de 671 hospitais em 6 continentes;
14.888 pacientes receberam 4 tipos de tratamentos diferentes com a cloroquina e a hidroxicloroquina;
As hospitalizações ocorreram entre 20 de dezembro de 2019 e 14 de abril de 2020.

O grupo de cientistas comparou os resultados de 1.868 pessoas que receberam apenas cloroquina, 3.016 que receberam só hidroxicloroquina, 3.783 que tomaram a combinação de cloroquina e macrólidos (uma classe de antibióticos), e mais 6.221 pacientes com hidroxicloroquina e macrólidos. O grupo de controle, que serve para comparação e não fez uso dos medicamentos, é formado por 81.144 pacientes.

No final do período, 1 a cada 11 pacientes do grupo controle havia morrido - 7.530 pessoas (9,3%). Todos os quatro tipos de tratamento foram associados com um risco maior de morrer no hospital:

Dos que apenas usaram cloroquina ou hidroxicloroquina, cerca de 1 a cada 6 pacientes morreram. Foram 307 pessoas que tomaram cloroquina (16,4%) e 543 ue tomaram hidroxicloroquina (18%).

Dos que tomaram cloroquina ou hidroxicloroquina com macrólidos, cerca de 1 a cada 5 pacientes morreram. Houve 839 mortes (22,2%) no caso de uso de cloroquina com antibiótico e 1.479 (23,8%) na combinação de hidroxicloroquina com antibiótico.

Os cientistas excluíram fatores que podem influenciar os resultados, como idade, raça, índice de massa corporal e outras condições associadas (doenças cardíacas, diabetes, e doenças pulmonares).

De acordo com os autores, os pacientes medicados com as substâncias apresentaram também risco maior de desenvolver arritmia cardíaca. A maior taxa foi vista em pacientes que receberam a hidroxicloroquina em combinação com os antibióticos: 8% ou 502 pessoas em um grupo de 6.221. O grupo controle, que não recebeu as substâncias, teve um índice de 0,3%.

Este é o maior estudo feito com pacientes infectados e internados com a Covid-19 e a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina.

A Organização Mundial da Saúde (OMSafirmou nesta quarta-feira (20) que as substâncias podem causar efeitos colaterais e não têm eficiência contra doença. Marcos Espinal, diretor do departamento de doenças comunicáveis da Opas, também disse que "não há evidências para recomendar cloroquina e hidroxicloroquina".

"Este é o primeiro estudo em larga escala a encontrar evidências robustas estatisticamente de que o tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina não traz benefícios a pacientes com Covid-19", disse o autor Mandeep Mehra, líder da pesquisa e diretor do Brigham and Women's Hospital Center for Advanced Heart Desease, em Boston, nos Estados Unidos.

Independente disso, os cientistas argumentam que há a necessidade de mais pesquisas internacionais para comprovação dos dados e uma análise definitiva. Por enquanto, portanto, não há comprovação de que as substâncias ajudem no combate à Covid-19.

Estudo de Nova York

Em 8 de maio, outra revista, a britânica "The New England Journal of Medicine", publicou os primeiros resultados robustos internacionais sobre a efetividade do tratamento da hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com coronavírus. De acordo com os autores, não foram encontradas evidências de que a droga tenha reduzido o risco de intubação ou de morte.

A pesquisa revisada por outros cientistas (pares) antes da publicação foi feita no Presbyterian Hospital, em Nova York, e observou pacientes com teste positivo para o vírus. Todos estavam em um quadro moderado a grave, definido pelo nível de saturação de oxigênio no sangue inferior a 94%. Foram admitidas 1.446 pessoas com a doença entre 7 e 8 de abril de 2020, e 70 delas foram excluídas por já terem recebido alta, morrido ou sido intubadas.

Até o início deste mês, não havia estudos mais efetivos a respeito do uso desses medicamentos. A primeira pesquisa divulgada foi feita na França e analisou 26 pacientes, mas excluiu 6 deles com uma piora do quadro após o uso do medicamento. Mesmo que alguns infectados tenham apresentado uma melhora no quadro, a retirada do pequeno grupo dificultou a interpretação dos dados. A pesquisa foi bastante criticada pela comunidade científica.

Protocolo para uso no Brasil

Na quarta-feira, o Ministério da Saúde do Brasil divulgou um documento que orienta o uso da hidroxicloroquina no país em pacientes infectados pelo Sars CoV-2. Nesta quinta-feira (21), uma nova versão foi editada com a assinatura de secretários da saúde da pasta.

A mudança no protocolo era um desejo do presidente Jair Bolsonaro, defensor da cloroquina no tratamento da doença causada pelo novo coronavírus. Não há comprovação científica de que a cloroquina é capaz de curar a Covid-19. Outros estudos internacionais também não encontraram eficácia no remédio e a Sociedade Brasileira de Infectologia não recomenda o uso.

O protocolo da cloroquina foi motivo de atrito entre Bolsonaro e os últimos dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Em menos de um mês, os dois deixaram o governo.

O texto do ministério mantém a necessidade de o paciente autorizar o uso da medicação e de o médico decidir sobre a aplicar ou não o remédio. A cloroquina não está disponível para a população em geral.

CORONAVÍRUS – CLOROQUINA











Me deixe hipnotizado pra acabar de vez
Com essa disritmia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia

Martinho José Ferreira






3º Sargento Burocrata
Martinho José Ferreira,
o Martinho da Vila




Disritmia
Martinho da Vila








Eu quero me esconder debaixo
Dessa sua saia prá fugir do mundo
Pretendo também me embrenhar
No emaranhado desses seus cabelos
Preciso transfundir seu sangue
Pro meu coração, que é tão vagabundo
Me deixa te trazer num dengo
Pra num cafuné fazer os meus apelos
Me deixa te trazer num dengo
Pra num cafuné fazer os meus apelos
Eu quero ser exorcizado
Pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografado
Mas pelas retinas desses olhos lindos
Me deixe hipnotizado pra acabar de vez
Com essa disritmia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Eu quero ser exorcizado
Pela água benta desse olhar infindo
Que bom é ser fotografado
Mas pelas retinas desses olhos lindos
Me deixe hipnotizado pra acabar de vez
Com essa disritmia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Vem logo, vem curar teu nego
Que chegou de porre lá da boemia
Composição: Martinho Da Vila. 







Por trás da resistência à quarentena há um conjunto extenso de insuficiências históricas, sem solução numa situação de emergência, como esta, que é também a de insuficiência de governo.





sexta-feira, 22 de maio de 2020
José de Souza Martins* - O saber médico e o popular
- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

A ignorância é, desde a origem do Brasil, um instrumento de poder. É esse o cenário que define os problemas da saúde pública em situação de emergência como agora

Os reiterados apelos de autoridades médicas para que a população permaneça em quarentena, durante a epidemia da covid-19, tem tido consequências aquém do esperado e, principalmente, do necessário. Há diversos fatores sociais e culturais por trás da imprudência coletiva. A começar de que milhões de brasileiros não têm habitação ou a habitação adequada ao isolamento.

Além do que, esses apelos se baseiam no pressuposto equivocado de que toda a população regula seu comportamento costumeiro, em questões de saúde, pelas mesmas concepções dos médicos e dos cientistas.

Equivocado porque, historicamente, o brasileiro é culturalmente duplo, nas concepções e na língua, uma das consequências das duas escravidões que fizeram o Brasil que conhecemos, a indígena e a negra, além da influência do branco retrógrado. Somos um país atrasado. O que faz do conhecimento científico um conhecimento paralelo ao popular, e com ele em disputa.

No geral, médicos intuem isso. Problema que se abrandaria se nos currículos das faculdades de medicina fosse incluída a antropologia. Uma ponte sobre o abismo que separa e contrapõe as duas culturas.

Tenho observado, em minhas pesquisas, muitos casos, embora fragmentários, no Brasil inteiro, que evidenciam o quanto amplos setores da população estão muito longe das recomendações da cultura médica. E do que seria próprio de uma sociedade cujas normas de saúde fossem reguladas pela racionalidade própria da ciência.

Os muitos casos esparsos que observei deixam claro que o saber popular sobre doença e saúde, mesmo nas grandes cidades, está numa relação de conflito e de antagonismo com o saber médico. O próprio presidente da República, por ignorância e oportunismo explícitos, expressa diariamente esse conflito, ao agir para contestar a medicina.

Num cenário desses, é difícil definir normas de saúde pública, especialmente em momentos de emergência e de urgência. É de limitada eficácia, numa disputa desse tipo, a recomendação de normas da noite para o dia.

Esta é uma interpretação impressionista desse desencontro. Mas do peculiar impressionismo de que se vale todo pesquisador e cientista para definir o primeiro e provisório quadro de sua observação científica sobre determinado problema ou questão.

Seu senso comum é diverso do senso comum popular. É, antes, uma sistematização de conhecimento científico, que lhe permite ver, na urgência de situações inesperadas, o que o conhecimento popular não permite ver senão impropriamente no plano mágico e, eventualmente, religioso.

O problema começa com o fato de que há no Brasil, historicamente, uma ampla ignorância induzida, que se tornou o fundamento de uma cultura paralela de permanente disputa entre juízos de valor e juízos de realidade. A ignorância é, desde a origem do Brasil, um instrumento de poder.

É esse o cenário que define os problemas da saúde pública, em situação de emergência, como agora. Os serviços de saúde chegam à massa da população, seja dos pobres, seja da classe média, precariamente. É mais fácil fazer uma consulta médica do que fazer os exames recomendados pelo médico, que podem demorar meses. As coisas se complicam se for necessária uma internação, uma cirurgia.

Com isso, o médico se torna coadjuvante das improvisações e soluções da medicina popular, do curandeirismo, dos benzimentos. As pessoas ficam sabendo que suas dores e incômodos têm nome, nome de doenças. Mas a solução acaba sendo procurada fora do âmbito médico. Não é casual que aqui a medicina científica seja de fato apenas a segunda instância da medicina popular, da automedicação, das campanhas de liquidação de remédios das farmácias.

Um dos aspectos mais problemáticos desse desencontro é a descrença no saber médico. Sou usuário de hospital público e gosto de acompanhar as conversas de sala de espera. As pessoas trocam informações sobre as queixas que estão levando ao médico. Os outros pacientes opinam, fazem diagnósticos, até dizem que exames o queixoso recomende ao médico para que apenas faça a requisição.

Quando falha o convencimento alternativo do leigo, também paciente, entra o diagnóstico religioso. A conversa, então, se torna proselitismo em favor do grande médico de todas as enfermidades. Já presenciei na espera do ambulatório do Hospital Universitário da USP um desentendimento entre três evangélicos, vinculados a três diferentes igrejas fundamentalistas, por eles mesmos identificadas, porque um impugnava a visão religiosa do outro em nome da sua.

Por trás da resistência à quarentena há um conjunto extenso de insuficiências históricas, sem solução numa situação de emergência, como esta, que é também a de insuficiência de governo.

*José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, é autor de "O Cativeiro da Terra" (Contexto).










sexta-feira, 22 de maio de 2020
Ruy Castro* - Covid e caserna
- Folha de S. Paulo

Os soldados estarão espirrando juntos nos quartéis?

Graças a Jair Bolsonaro, atualmente na Presidência da República, o Ministério da Saúde está sendo ocupado pelos militares. Significa que, por falta de gente do ramo, leia-se médicos, no comando, a Covid-19 continuará rompante no país. Mas faremos alguns progressos. Nos hospitais, por exemplo, os pacientes serão acordados a corneta. Haverá juramento matinal à bandeira, rufo de tambores à visita de um coronel e revista diária de tropas, digo, enfermeiros, pelo oficial de serviço.

O que nos leva a uma pergunta. Já que nossos generais não acreditam em besteiras como confinamento, quarentena e distanciamento social, e não se conformam com que os escritórios, fábricas, igrejas, lotéricas e até manicures estejam parados, como anda a coisa entre eles? A julgar pela nova orientação do ministério, os militares não devem estar impondo ao seu pessoal os cuidados que muitos de nós, paisanos covardes, achamos prudente seguir.

Assim, pode-se imaginar que, neste momento, os quartéis estão cheios de rapazes marchando juntos, fazendo ginástica juntos, dando tiro juntos, dormindo juntos e acordando juntos, e também tossindo, assoando-se e espirrando juntos. Um soldado e um cabo, capazes de fechar sozinhos o STF, levarão a mão à testa centenas de vezes por dia, de acordo com o número de continências que terão de bater para o sargento. Não é um risco?

Mais perguntas. Se se distribuir máscaras à tropa, serão de lona verde-oliva para combinar com a farda? Fuzis e granadas estão sendo higienizados? Cavalos são sujeitos à Covid? E como vai o estoque de cloroquina na caserna? Sabendo-se que o Chefe Supremo das Forças Armadas é um camelô especializado na droga, ela deve estar sendo servida compulsoriamente no rancho.

Bom sinal. Sinaliza que o governo talvez comece a cuidar de parte da população. Pena não ser a minha parte. Não passo de um reles reservista de terceira.

*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.










Referências




https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,defendida-por-bolsonaro-cloroquina-aumenta-risco-de-morte-em-pacientes-diz-estudo,70003311202
https://youtu.be/wU4J5J0PbWM
https://www.letras.mus.br/joao-bosco/46515/
https://s2.glbimg.com/f_nu6xzzIwBQHqQjvB6wJQmZYJw=/0x0:1920x1080/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/W/8/QrKDBXSTykYyVDAwNO3Q/frame-00-02-47.322.jpg
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/22/estudo-com-mais-de-90-mil-pacientes-mostra-que-hidroxicloroquina-nao-e-eficiente-contra-a-covid-19-e-pode-causar-arritmia-cardiaca.ghtml
https://youtu.be/ObU62GlC7mE
https://www.letras.mus.br/martinho-da-vila/47310/
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/05/jose-de-souza-martins-o-saber-medico-e.html#more
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/05/ruy-castro-covid-e-caserna.html#more
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEijd5IqQVwgcHeHSGl0_rXYjh7slRTXaUNkocPR__EFVhrIsDe-fIQAQvaeD3LZglJllWDQoDFBVCpMMkwi584Px7PnoGyLt5gvWHWLWmNTsKIbMGxiKwh1yYhwAKkhVxZI-uzyF6bFCEY/s1600/martinho+da+vila+fardado.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário