The Lancet: “So what?”
(The Lancet/Reprodução)
Um duro editorial publicado nesta
quinta-feira (7) por uma das revistas científicas de medicina mais importantes
do mundo, a The Lancet, destaca a gravidade da pandemia de coronavírus no
Brasil por sua alta taxa de transmissão — mas, ao lado dos alarmantes números
no país, o texto aponta que "talvez a maior ameaça à resposta à covid-19
no Brasil seja seu presidente Jair Bolsonaro".
Com título Covid-19 in Brazil: so
what? ("Covid-19 no Brasil: e daí?"), fazendo referência a uma
fala recente de Bolsonaro sobre a piora do coronavírus no Brasil, o editorial
afirma que as declarações e atitudes do presidente brasileiro e as turbulências
políticas que levaram à saída recente de dois ministros do governo, Luiz
Henrique Mandetta e Sergio Moro, são "uma distração mortal no meio de uma
emergência de saúde pública".
O editorial destaca ainda a
vulnerabilidade "especialmente das 13 milhões de pessoas morando em
favelas, aqueles que estão desempregados e a população indígena do Brasil"
diante do coronavírus. A publicação veio primeiro na versão online, mas o
editorial faz parte na edição semanal que será publicada no sábado.
Enorme
subnotificação
O texto começa afirmando que o
coronavírus chegou mais tarde na América Latina, mas que após seu primeiro caso
em fevereiro, o Brasil passou a ter o maior número de ocorrências e mortes pela
covid-19 na região.
O editorial aponta como preocupante
uma possível e "enorme" subnotificação de casos e o fato de o Brasil
ter aparecido como o país com a mais elevada taxa de transmissão (2.81) em um
estudo recente da universidade inglesa Imperial College envolvendo 48 países.
"Ainda assim, talvez a maior
ameaça à resposta à covid-19 no Brasil seja o seu presidente Jair
Bolsonaro. Quando na semana passada jornalistas o questionaram sobre o rápido
aumento de casos, ele respondeu: 'E daí? Lamento, quer que eu faça o
quê?'", diz o editorial, relembrando declaração do presidente no final de
abril.
"Ele (Bolsonaro) não só continua
semeando confusão, desprezando e desencorajando abertamente as medidas sensatas
de distanciamento físico e confinamento introduzidas por governadores e
prefeitos, mas também perdeu dois importantes e influentes ministros nas três
últimas semanas", completa o editorial, referindo-se à saída dos
ex-titulares dos ministérios da Saúde e Justiça.
"Uma perturbação como essa no
coração da administração (federal) é uma distração mortal no meio de uma
emergência de saúde pública e também um sinal drástico de que a liderança do
Brasil perdeu seu compasso moral, se é que já teve algum"
Mas o editorial afirma que, ainda que
hipoteticamente esta "lacuna de ações do governo federal" não
existisse, o país ainda teria dificuldades pelas fragilidades sociais de sua
população - como moradores de favela, com acesso precário à água e com moradias
muito adensadas, embora destaque-se que "muitas favelas se organizaram
para implementar medidas das melhor maneira possível".
"O Brasil tem um setor de
trabalho informal bastante grande, em que a maior parte das fontes de
rendimento deixaram de ser opção perante as medidas implementadas (de contenção
ao coronavírus). A população indígena já estava sob ameaça séria mesmo antes da
chegada da covid-19 porque o governo tem ignorado ou até incentivado a
exploração ilegal de minas e de madeira na floresta amazônica."
"Agora, há o risco destes
mineiros e madeireiros introduzirem esta nova doença em populações
remotas."
'Bolsonaro precisa mudar drasticamente
o seu rumo'
O editorial destaca ainda que, embora
os principais focos da doença sejam as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro,
"há sinais de que a infecção está se deslocando para o interior dos
Estados, onde estão cidades menores, sem recursos adequados como leitos de
terapia intensiva e ventiladores mecânicos."
Por outro lado, o texto do Lancet
exalta a mobilização de representantes da sociedade civil, como uma carta
aberta liderada pelo fotógrafo Sebastião Salgado e publicada em 3 de maio
clamando por proteção aos indígenas; e a atuação da Academia Brasileira de
Ciências e da Associação Brasileira de Saúde Coletiva contra cortes no
financiamento da ciência e da assistência social durante o governo Bolsonaro.
"Estas ações trazem esperança.
Contudo, a liderança no nível mais elevado do governo é crucial para
rapidamente evitar o pior nesta pandemia, como tem sido evidenciado em outros
países", finaliza o editorial.
"O Brasil como país deve se unir
para dar uma resposta clara ao 'e daí?' do presidente. Bolsonaro precisa mudar
drasticamente o seu rumo ou terá de ser o próximo a sair."
Não é a primeira vez que a Lancet
publica editoriais sobre o Brasil, e tampouco sobre Bolsonaro.
A revista, fundada em 1823 na
Inglaterra, publicou em agosto de 2019 posicionamento intitulado Bolsonaro
ameaça a sobrevivência da população indígena no Brasil criticando a ameaça
às garantias dos povos indígenas de domínio de suas terras e de acesso à saúde.
Em meio à eleição presidencial de
2018, um editorial da Lancet apresentou em outubro brevemente as
propostas dos então candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad para a saúde,
concluindo que "as propostas de ambos para a saúde são baseadas em
abordagens ideológicas com pouca contribuição de dados clínicos ou sobre saúde
pública".
Na edição do relatório Journal
Citation Reports 2018, da consultoria Clarivate Analytics, o Lancet apareceu
como o segundo periódico com maior fator de impacto (métrica composta por
vários indicadores da influência de uma publicação científica) dentre 160
revistas avaliadas na categoria medicina, atrás apenas do New England Journal
of Medicine.
The Lancet:
Bolsonaro é a maior ameaça no combate à covid-19 no Brasil
Para a revista,
presidente "continua a semear a confusão" e demissões de ministros e
problemas políticos em meio à pandemia são "distração mortal"
Por Tamires Vitorio
access_timePublicado em 7 maio 2020,
19h32
Bolsonaro:
presidente já foi citado outra vez pela publicação (Ueslei
Marcelino/Reuters)
Para a The Lancet, uma das revistas
científicas mais prestigiadas do mundo, o presidente brasileiro Jair
Bolsonaro (sem partido) é a maior ameaça ao combate à covid-19 no
Brasil.
Na noite desta quinta-feira (7), o
país atingiu 9 mil mortos e outros 135.106 infectados pela doença.
No editorial da próxima edição, que
será publicada no dia 9 de maio, com o título “Covid-19 in Brazil: so what?”, a
publicação repercute a frase de Bolsonaro na semana passada, quando ao ser
perguntado sobre o número recorde de mortes em 24 horas no país, afirmou: “E
daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
“Bolsonaro não só continua a semear a
confusão ao desencorajar as medidas sensatas de distanciamento social e
lockdown tomadas por governadores e prefeitos, mas também perdeu dois
importantes e influentes ministros nas últimas três semanas”, diz o editorial.
A The Lancet define Luiz Henrique
Mandetta, ex-ministro da Saúde, como “respeitado e querido” e Sergio Moro,
ex-ministro da Justiça, como “uma das figuras mais poderosas do governo”.
Para a publicação, “tantos problemas
no coração da administração é uma distração mortal no meio de uma emergência de
saúde pública” e “um sinal de que a liderança do Brasil perdeu seu compasso
moral, se é que já teve um”, completa.
Riscos e
fragilidades
O editorial começa falando sobre a
América Latina ter sido um dos últimos continentes a sofrerem com a pandemia do
coronavírus. Em seguida, cita um estudo da Imperial College apontando que o
Brasil tem a maior taxa de transmissão entre 48 países e define a
subnotificação dos casos como “preocupante”.
“Ainda assim, talvez a maior ameaça ao
combate à covid-19 no Brasil seja o próprio presidente do país, Jair
Bolsonaro”, escreve a Lancet.
Apesar disso, a revista aponta que o
combate teria sido complicado mesmo sem a atuação contraproducente de
Bolsonaro. “Quase 13 milhões de brasileiros moram em favelas com mais de três
pessoas por cômodo, e pouco acesso à água limpa. As recomendações de distância
física e higiene se tornam quase impossíveis nesses ambientes”, diz.
A revista elogia iniciativas de
organizações científicas brasileiras contra as decisões do presidente, assim
como a carta aberta do fotojornalista Sebastião Salgado pedindo proteção às
populações indígenas brasileiroas, lembrando que elas já estavam sob ameaça da
mineração e do desmatamento antes mesmo da pandemia e que agora o risco é que
mineradores e exploradores levem a doença.
Por outro lado, a revista vê motivos
para esperança em pesquisas e na fabricação de respiradores, e kits de testes,
por exemplo. “Ainda assim, a liderança no alto nível do governo é crucial em
advertir rapidamente o pior resultado dessa pandemia, como é evidente em outros
países”, finaliza o texto.
Bolsonaro tem pressionado por uma
reabertura da economia sem apresentar uma estratégia clara para contenção de
casos. A Nova Zelândia, por exemplo, só anunciou medidas para aliviar a
quarentena depois de ter praticamente eliminado a transmissão comunitária.
Lugares que afrouxaram o isolamento
social antes de controlar a doença, como é o caso de Santa Catarina e da
Flórida, viram os números de casos subirem rapidamente.
Em agosto do ano passado, em meio ao
aumento das queimadas na Amazônia, a The Lancet publicou um editorial com o
título “Bolsonaro ameaça a sobrevivência da população Indígena no Brasil“, no
qual afirmou que “a presidência de Bolsonaro representa a ameaça mais séria
para a população Indígena Brasileira desde a Constituição de 1988”.
Exclusivo:
Mandetta diz que divulgação de exames de Bolsonaro é questão política
CNN Brasil
“O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique
Mandetta afirmou que não vê “utilidade fática” na divulgação dos exames para o
novo coronavírus feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em
entrevista à CNN nesta quinta-feira (7), 21 dias depois de deixar a pasta,
Mandetta disse considerar que exames médicos são uma questão particular do
paciente com seu médico. “Tem que ver o que está motivando [o pedido para que
os exames sejam divulgados], eu não consigo entender isso”, afirmou. A
divulgação dos exames de Bolsonaro é consequência de um processo movido pelo
jornal "O Estado de S.Paulo", que pediu à Justiça que Bolsonaro fosse
obrigado a apresentar o resultado. “Vi um laudo médico falando que o paciente
[Bolsonaro] testou negativo. O juiz acha que não é suficiente, quer o papel do
exame. Eu vejo isso como algo mais político, mais jurídico.” Entrevista
realizada em 07 de maio de 2020 no programa Live CNN, apresentado por Mari
Palma e Phelipe Siani.”
Referências
https://abrilexame.files.wordpress.com/2020/05/lancet.jpeg?quality=70&strip=info&w=761&h=1024
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52584428
https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcQkvDJ_t_sRxoEtcXi9vcrp7eNKVFSCJabVBHkwh6Qb5cRKblj_&usqp=CAU
https://abrilexame.files.wordpress.com/2020/04/bolsonaro-1.jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453
https://abrilexame.files.wordpress.com/2020/05/lancet.jpeg?quality=70&strip=info&w=761&h=1024
https://exame.abril.com.br/brasil/the-lancet-bolsonaro-e-a-maior-ameaca-no-combate-a-covid-19-no-brasil/
https://youtu.be/71SBG_FvxjU
https://www.youtube.com/watch?v=71SBG_FvxjU
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