“(...) Tinha a liberdade de ser leal
... tinha ... tinha o dever de ser leal comigo. (...) Seja preciso Igor. Eu tô
cansado. Eu tô cansado de tanta mentira contra mim. (...) Parem de insinuar
coisas a meu respeito.”
Ex-presidente da República Luiz Inácio da Silva em Interrogatório judicial
em 20/02/2020
“Quero deixar claro Presidente, eu não
sou autor intelectual dessa denúncia. Como o senhor percebe eu sou negro. Nasci
numa periferia. Nesse sentido é um prazer o conhecer. Mas eu estou aqui para
buscar a verdade. É meu dever perguntar, esclarecer.”
Procurador Federal Igor Miranda da Silva
Disponível em:
https://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2020/02/sou-negro-e-nasci-na-periferia.html
Acesso em: 20 de fevereiro de 2020
Direção do Prof. Fernando Henrique Cardoso
XXXVI Novembro de 1972
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
Para tucano, ataque de Jair Bolsonaro
a repórter da Folha é inaceitável e ele deveria se comportar como presidente
Igor Gielow | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O Brasil precisa de liderança,
e o posto hoje está vago. A opinião é do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), que governou de 1995 a 2002.
Para ele, o comportamento de Jair
Bolsonaro, que insultou a repórter da Folha Patrícia Campos Mello, foi
"inaceitável". O atual titular do Planalto precisa se comportar como
um presidente, avalia FHC.
Ele descarta risco institucional.
Afirma, contudo, que "o alarme precisa ser dado" porque a polarização
vigente no país ameaça a democracia —e aponta para a rejeição à corrupção e ao
PT como ponto de partida do debate atual.
No seu campo político, de olho no
Planalto em 2022, ele elogia o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) pela gestão e
pela juventude (34 anos).
Sobre um protegido político seu,
Luciano Huck, ele disse que o apresentador da TV Globo precisa "se
transformar num líder político", porque hoje "conhece o
caldeirão" [referência ao nome de seu programa e ao contato com a
população em quadros da atração]. Já o governador João Doria (PSDB-SP) "conhece
o poder".
O tucano, 88, elogiou os presidentes
da Câmara (Rodrigo Maia, DEM-RJ) e do Senado (Davi Alcolumbre, DEM-AP). Ele
falou no fim da tarde de quarta (19), na Fundação FHC, no centro paulistano.
• Como o sr. vê o clima político do
país?
O risco é a polarização. Você não pode
deixar que a polarização afete o jogo democrático, que supõe a diferença. É
preciso que algumas pessoas que têm responsabilidade institucional, como foi o
caso dos presidentes da Câmara e do Senado, manifestem sua estranheza.
Eu sou bastante cuidadoso, sobretudo
no exterior, porque fui presidente e sei que as coisas são difíceis. Mas está
chegando um momento em que os que são responsáveis pelas chefias do aparelho
institucional se comportem institucionalmente. Quem tem função presidencial tem
de se comportar como tal. Eu sei que às vezes você fala por falar.
• No episódio da repórter da Folha, o
limite foi ultrapassado, não?
Aí a coisa passou para outro plano. É
inaceitável, não tem cabimento você fazer referências assim a qualquer mulher,
pelo que apareceu na mídia. Não acho que haja risco institucional, não sou
alarmista. Acho apenas que é preciso ter um certo cuidado. Vamos pegar uma
pessoa que me deu muita dor de cabeça política, o Lula. Ele agiu
institucionalmente no cargo —no que diz respeito às questões pelas quais ele
foi preso.
Nós sentimos o gostinho da liberdade.
Só quem viveu com censura, como eu vivi, sabe. Isso acabou. Você não pode
atacar todo dia a mídia. Eu sei que a mídia exagera também, talvez até seja sua
função.
Quem tem poder político não pode
utilizá-lo contra isso. Pode reclamar, mas não pode usar sua força para coibir.
Não vai dar certo, vai abrir espaço para o regime que não se quer.
• Mas o sr. vê risco disso?
A democracia é uma planta tenra, não
pode dar de barato que não vai virar outra coisa. Temos de dizer:
"Cuidado, hein? Não passe desse ponto, senão passa". O alerta tem de
ser dado, sem alarmismo. Quem tem poder não pode exagerar. Você tem de se
autocontrolar.
• Como vê a renovada militarização do
governo?
Eu não tenho nenhuma versão negativa
das Forças Armadas, nem poderia ter. Meu pai era general, meu avô foi marechal.
Quando vejo os generais nomeados, tudo
bem, é preciso ver como é a pessoa, se funciona ou não funciona. Agora, tem
limite para tudo. Tem de haver um certo equilíbrio que, quando é rompido, as
prejudicadas são as Forças Armadas. Você não pode confundi-las com o poder
político.
• Governadores escrevem carta contra o
presidente, Maia bate-boca com o general Augusto Heleno (Gabinete de Segurança
Institucional), o Congresso toca a agenda mais positiva. Como o sr. vê isso?
Veja as reformas. O Parlamento assumiu
a primazia, o que leva a crer que uma parte do Executivo não assumiu como
tarefa sua fazer passar.
Isso é inegável. O Brasil não é uma
República parlamentarista, o povo rejeitou isso. Num regime presidencialista, a
iniciativa é do Executivo, o Parlamento não pode substituir, pode suprir
lacunas.
E levar adiante as reformas não
significa só mandar a reforma. Tem de falar com os parlamentares e tem de
convencer a nação sobre a necessidade delas.
• Como o sr. vê a atuação do Paulo
Guedes?
Em todo governo há um ministério cujo
titular é mais capaz de liderar. Eu não conheço o Guedes, mas sou favorável à
reforma da Previdência, tentei fazer uma também. Está faltando falar com o
país. Quando o presidente não tem interesse ou qualidade, o ministro precisa
falar.
• Sim, mas aí o ministro falou que as
domésticas não deveriam ir tanto à Disneylândia.
Ele não tem experiência política.
• Isso não trai um espírito da certa
elite brasileira?
É algo cultural. Nos Estados Unidos,
eles conseguiram acreditar na Constituição, em que todos são iguais perante a
lei. Aqui não é bem assim. As pessoas não se sentem iguais. Todos nós temos, em
graus diferentes, impulsos que não são democráticos, que não são de igualdade.
Não deveria ser assim. Então, acho que
essas expressões contra mulheres, contra pobres, vêm daí, de um desprezo de
classe que é incompatível com a regra democrática.
• Fala-se muito em uma extensão do
mandato do Rodrigo Maia, por exemplo, vamos mudar a Constituição.
Não acho que seja solução, nem creio
que ele aceite isso. Tem de respeitar as regras. Se você as desrespeita no
Congresso, vai começar a desrespeitar no Executivo.
• O sr. promoveu mudança em 1997, com
a adoção da reeleição. Não é contraditório? É diferente agora?
Veja, eu sempre fui favorável a um
mandato maior. Nós não discutimos na Constituinte, e quatro anos não é nada
para alguém governar. É melhor ter uma reeleição. Mas você não pode ser
favorável à permanência. Tem limite.
• O tumulto político segue até a
eleição de 2022?
Depois da eleição municipal de
outubro, tudo vai girar em torno da expectativa de futuro. Apesar das
instituições, elas não funcionam sem lideranças. É preciso ter pessoas. Você
não leva o eleitorado a votar pelo que você fez, mas sim pelo que você pode
fazer. Alguém vai encarnar esse futuro. Pode ser o próprio Bolsonaro, com a
permanência da polarização. Eu não gostaria.
• Quem é o tal centro? Huck, Doria e
Eduardo Leite?
Eu vejo o Eduardo Leite positivamente
porque ele faz um bom governo e é jovem. Eu vou fazer 90 anos no ano que vem, é
preciso passar o bastão.
Veja os movimentos de renovação da
política, eles não estão nos partidos. Mas não basta ser jovem. O que eu vejo,
em renovação, está por aí, neles [o trio acima]. Quem vai ser, vai depender do
que vai acontecer.
• E o ar está sulfuroso, a polarização
de 2018 ainda está presente.
Exatamente, ela vem de trás. A
polarização vem da oposição ao PT, é isso. Corrupção e PT. Aí você vem imaginar
que tem comunismo no mundo? Isso é ridículo, é anacrônico, para dizer o mínimo.
• E o Huck? Ele se colocou, não?
Ele se colocou um pouco mais. Mas o
Huck por enquanto é uma celebridade. Ele está se transformando num líder político.
Vai ter que se transformar se quiser ser presidente, vai ter de passar por essa
etapa. Pode? Pode.
• E o Doria?
Ele tem, digamos, virtudes diferentes.
O Huck conhece o caldeirão. O João conhece o poder. É difícil saber o que vamos
precisar mais daqui a um ano e meio, o que vai sensibilizar mais o povo. Será a
capacidade de conhecer o Estado e trabalhar com as forças organizadas ou será a
erupção de um sentimento coletivo? Eu não sei. Idealmente, todos deveriam se
unir.
• Parece difícil.
É difícil. E é indiscutível que o
presidente tem força, a hipótese de reeleição precisa sempre ser considerada.
Ele já se elegeu e a polarização rende para quem está polarizando. Ela é ruim
para o país e para a democracia, mas rende voto.
• Em 1995, o sr. enfrentou aquela
greve dos petroleiros. Eles estão parados de novo. O sr. faz algum paralelo de
pressão, vê a possibilidade de outras agitações sociais?
Essa é a principal questão do mundo, a
crise das instituições. A explosão moderna se dá não só nas relações formais de
classes, há curtos-circuitos em qualquer coisa.
Eu me lembro que encontrei por acaso o
ministro Eliseu Padilha [Casa Civil de Michel Temer] durante a greve dos
caminhoneiros de 2018 e ele não tinha com quem conversar. Não havia líder, partido,
sindicato. Isso obriga a liderança de pessoas, que falem com a nação. Pode
acontecer de novo? Pode.
• Os protestos de 2013 tiraram algo
dessa pressão, não?
Sim, mas mostraram a possibilidade.
Não sei quando vai estourar de novo ou em que setor. Há um mal-estar,
insegurança, basta ver o desemprego. As pessoas se sentem inseguras, precisam
de liderança. Não quero ser injusto com quem exerce a liderança, é difícil.
• A liderança também se impõe pela
situação, como ocorreu quando Winston Churchill virou premiê britânico no
começo da Segunda Guerra Mundial. O posto de líder no Brasil está vago?
Acho que sim. Há alguns candidatos.
O Brasil é um país muito diverso, é
difícil você exercer influência. Estamos em um momento em que é preciso
construir pontes. É mais difícil do que saltar no vazio. E estamos construindo
muralhas.
Disponível em:
http://gilvanmelo.blogspot.com/2020/02/entrevista-brasil-sofre-vacuo-de.html
Acesso em: 20 de fevereiro de 2020
FLORESTAN FERNANDES
O NEGRO NO MUNDO DOS BRANCOS
DIFUSÃO EUROPÉIAS DO LIVRO
Rua Bento Freitas, 362 – 6º
Rua Marquês de Itu, 79
São Paulo
INTRODUÇÃO
Este livro reúne vários escritos,
publicados em períodos diferentes. A maioria foi escrita recentemente (entre
1965 e 1969). No entanto, alguns foram elaborados em época mais distante (em
1942 e 1943 ou em 1951 e 1958). O tema central e dominante consiste sempre na
situação do negro e do mulato da sociedade brasileira, vista a partir de São
Paulo.
[...]
A brasilidade, que herdamos do passado
escravocrata e das primeiras experiências de universalização do trabalho livre,
é demasiado estreita e pobre para fazer face aos dilemas humanos e políticos de
uma sociedade racial e culturalmente heterogênea. Temos de aprender a não
expurgar os diferentes grupos raciais e culturais do que eles podem levar
criadoramente ao processo de fusão e unificação, para que se atinja um padrão
de brasilidade autenticamente pluralista, plástico e revolucionário.
[...]
Antes de encerrar esta introdução,
gostaríamos de agradecer aos que autorizaram a reprodução dos trabalhos
coligidos neste volume. (...) Outrossim, agradeço o interesse de meu colega e
amigo, Professor Fernando Henrique Cardoso, pela inclusão deste livro em Corpo e Alma do Brasil. O mesmo
agradecimento endereço a Paul-Jean Monteil, mais um amigo dedicado e
compreensivo, que o editor.
São Paulo, 8 de setembro de 1971.
Florestan Fernandes
Disponível em: https://eraju2013.files.wordpress.com/2013/09/fernandes-florestan-o-negro-no-mundo-dos-brancos-1.pdf
Acesso em: 20 de fevereiro de 2020
Referências
https://mundovelhomundonovo.blogspot.com/2020/02/sou-negro-e-nasci-na-periferia.html
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiKyqYGSs-6cU6iOrCPrXUhnGhkANoa7BhhekxeuaM4t9tgmhRaIvnJzPO7ia7Ia5bNIOPdQOaoYSGhkZWRJQ4nYE8JPwlENEqGyx3F1UvOhygxjmt8BHEEHklNQa55UCXdEjnZdeZN0aZL/s200/FHC+FOLHA+20.2.20.jpg
http://gilvanmelo.blogspot.com/2020/02/entrevista-brasil-sofre-vacuo-de.html
https://eraju2013.files.wordpress.com/2013/09/fernandes-florestan-o-negro-no-mundo-dos-brancos-1.pdf
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