domingo, 2 de fevereiro de 2020

Angústias e crença de um sociólogo, ex-presidente


MANEIRAS




Fernando Henrique Cardoso* - Angústias e crença

- O Estado de S. Paulo / O Globo
domingo, 2 de fevereiro de 2020


É pena ver o governo mergulhado em crenças atrasadas que podem prejudicar nosso destino

Fim e começo de ano são épocas de balanço pessoal, familiar, das empresas e mesmo do País. Sem maiores pretensões, direi umas poucas palavras sobre o mais geral: o que me preocupa ao ver o Brasil como nação.

Primeiro, a maior angústia coletiva: levantar o gigante de seu berço. Tarefa que vem sendo feita ao longo de gerações. É inegável que houve avanços, alguns consideráveis. Bem ou mal, de uma sociedade agrário-exportadora, que usava escravos como mão de obra, o País passou a dispor de uma economia urbano-industrial, baseada no trabalho livre. Para isso não só as migrações internas, como a imigração foram fundamentais. Com elas se acentuou nossa diversidade cultural.

Hoje somos uma nação plural, na qual a contribuição inicial dos portugueses se robusteceu muito, não apenas por havermos conseguido passar da escravidão para o trabalho livre, mas também por termos incorporado os negros à nossa sociedade (embora ainda de forma parcial) e em nossa cultura. Incorporamos também um significativo conjunto de pessoas vindas da Europa latina e de outros segmentos populacionais do continente europeu, além de árabes e asiáticos, sobretudo japoneses. E desde o início da colonização houve miscigenação com as populações autóctones.

Dado o mosaico, será que conseguimos de verdade criar uma nação consciente de seu destino comum e acreditar que ele seja bom? Esse é o desafio que explica parte de nossas incertezas. Hoje somos muitos, mais de 210 milhões de pessoas habitam o Brasil. Nossa força, como também nossas dificuldades se ligam ao tamanho dessa população: somos muitos, diferentes e desiguais. Não me refiro à desigualdade provinda da diversidade, que nos enriquece, mas da que mantém na pobreza boa parte dos nossos conterrâneos. Esta é outra fonte de nossas angústias: como envolver num destino comum, de prosperidade e bem-estar, tanta gente social, cultural e economicamente desigual? Se há algo a admirar nos Estados Unidos é que, como nação, e apesar de existirem as mesmas, e até maiores, diversidades e confrontos entre seus habitantes, eles conseguiram criar e transmitir o sentimento de que “estão juntos”. A crença nos valores da pessoa humana, da democracia e da liberdade, que a Constituição americana expressa, serviu de cimento para que os Estados Unidos avançassem.

Precisamos de algo semelhante. Um dos caminhos é o da educação. Enquanto tive poder de decisão, pendi para ampliar a inclusão dos jovens na pré-escola e no ensino fundamental. Não porque descreia da importância do ensino secundário e do superior (nem poderia, dada minha vivência como professor), mas porque nos dias de hoje quem é bom de verdade avança, mesmo que sozinho, e se torna “global”. Porém o que conta para a formação nacional é a média, e não a ponta de excelência. E a média não avança se a base da pirâmide não for ampla e sólida.

Até que ponto se conseguiu avançar?

Em certos setores, bastante: nos segmentos produtivos nos quais fomos capazes de introduzir ciência e tecnologia. Assim aconteceu especialmente na agricultura, que desde o passado se apoiou na tecnologia. O Instituto Agronômico de Campinas exemplifica bem o que ocorreu com a produção cafeeira. Por trás de cada produto em que a agricultura avançou sempre houve o apoio de alguma instituição de fomento e pesquisa.

Mesmo na indústria houve esforços consistentes no desenvolvimento de uma indústria de base moderna (aço, petroquímica) e na produção de bens de transporte tão sofisticados quanto aviões. A indústria extrativista, que era pouco eficiente, se agigantou (basta ver o que aconteceu com o petróleo). E tudo isso requereu melhorias na infraestrutura.

No mundo contemporâneo, a tradução de ciência em tecnologia se acelerou. E o Brasil tem mostrado dificuldade de acompanhar essa aceleração, o que tende a aumentar a distância entre nós e os países mais avançados, limitando as nossas possibilidades de desenvolvimento.

É essa a grande preocupação quanto a nosso futuro. Pouco se fez em algumas das áreas que mais avançam na era contemporânea: robótica, inteligência artificial, machine learning, todo um conjunto de tecnologias características da chamada indústria 4.0.

É pena ver o governo atual mergulhado em crenças atrasadas que podem prejudicar no largo prazo o nosso destino como nação. Se, em vez de namorar o criacionismo e o “terra-planismo” – uma quase caricatura –, os que nos governam acreditassem mais na ciência, na diversidade e na liberdade; se, em vez de guerrear contra fantasmas (como o “globalismo” ou a penetração “gigantesca” do “marxismo cultural”), os que se ocupam da educação, da ciência e da tecnologia no Brasil voltassem sua vista para observar como se dá a competição entre as grandes potências e dedicassem mais atenção à base científico-tecnológica requerida para desenvolvimento de um país moderno, democrático e que preza a liberdade, estaríamos mais seguros de que nossas inquietações, com o tempo, encontrarão solução.

Espero que encontrem, pois os governos passam e as nações permanecem.

*Sociólogo, foi presidente da República









Estou Aqui
Roberto Carlos
Pra Sempre: Década de 90

Estou aqui (1983)

Roberto Carlos - Erasmo Carlos







Estou aqui
Outra vez em busca desse abrigo
Do conforto desse olhar amigo
Luz do meu caminho, a direção
Estou aqui
Por tantas angústias e conflitos
Como tantos outros tão aflitos
Sabem que você é a solução

Estou aqui
À procura do caminho certo
Como quem precisa num deserto
Por milagre, a fonte, a salvação

Estou aqui
Venho iluminar meus pensamentos
E aliviar meus sofrimentos
Só você eu sei é a solução
Por isto meu amigo
Cada vez mais forte é a minha fé e a minha crença
Em toda parte encontro seu olhar, sua presença
E elevo o pensamento em oração

Cristo, meu amigo
Sua luz me mostra a direção a ser seguida
Você é a verdade, é tudo, é o caminho, a vida
Só você, eu sei é a solução

Por isto meu amigo
Cada vez mais forte é a minha fé e a minha crença
Em toda parte encontro seu olhar, sua presença
E elevo o pensamento em oração

Cristo, meu amigo
Sua luz me mostra a direção a ser seguida
Você é a verdade, é tudo, é o caminho, a vida
Só você, eu sei é a solução

Compositor: Roberto Carlos - Erasmo Carlos










Maneiras
Zeca Pagodinho





Se eu quiser fumar, eu fumo
Se eu quiser beber, eu bebo
Eu pago tudo que eu consumo
Com o suor do meu emprego

Confusão eu não arrumo
Mas também não peço arrego
Eu um dia me aprumo
Pois tenho fé no meu apego

Eu só posso ter chamego
Com quem me faz cafuné
Como o vampiro e o morcego
É o homem e a mulher

O meu linguajar é nato
Eu não estou falando grego
Eu tenho amores e amigos de fato
Nos lugares onde eu chego

Eu estou descontraído
Não que eu tivesse bebido
Nem que eu tivesse fumado
Pra falar de vida alheia

Mas digo sinceramente
Na vida, a coisa mais feia
É gente que vive chorando
De barriga cheia
É gente que vive chorando
De barriga cheia

Composição: Sylvio Da Silva










Referências


http://gilvanmelo.blogspot.com/2020/02/fernando-henrique-cardoso-angustias-e.html
https://youtu.be/kNyXGbfAI9w
https://www.vagalume.com.br/roberto-carlos/estou-aqui-2.html
https://youtu.be/6hXbgTFpBbk
https://www.letras.mus.br/zeca-pagodinho/49300/

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