Revelação
"Doutor, se o senhor soubesse quanta gente usa o meu nome em vão. De vez em quando eu fico pensando para as pessoas lerem a Bíblia pra não usar tanto o meu nome em vão." Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
"Não pense que eu vim trazer paz sobre a terra. Eu não vim trazer paz, mas a espada (Mateus 10:34)
Ex-presidente prestou depoimento nesta terça-feira, 14, como réu em ação penal na qual é acusado de ser o mandante de uma operação para viabilizar pagamentos ao ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró e evitar que o executivo firmasse um acordo de delação premiada com a Lava Jato
"Doutor, se o senhor soubesse quanta gente usa o meu nome em vão. De vez em quando eu fico pensando para as pessoas lerem a Bíblia pra não usar tanto o meu nome em vão." Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
"Não pense que eu vim trazer paz sobre a terra. Eu não vim trazer paz, mas a espada (Mateus 10:34)
Ex-presidente prestou depoimento nesta terça-feira, 14, como réu em ação penal na qual é acusado de ser o mandante de uma operação para viabilizar pagamentos ao ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró e evitar que o executivo firmasse um acordo de delação premiada com a Lava Jato
Fabio
Fabrini e Julia Lindner, de Brasília
ESTADÃO
Num
interrogatório de 45 minutos, prestado à Justiça Federal em Brasília, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou nesta terça-feira, 14, as
acusações de que atuou para “comprar” o silêncio do ex-diretor da Petrobrás
Nestor Cerveró e, com isso, obstruir investigações da Operação Lava Jato.
Em
tom de desabafo e demonstrando um certo nervosismo no início do depoimento, o
petista afirmou que, nos últimos três anos, tem sido “vítima de um massacre”,
com insinuações diárias, pela imprensa, de que será delatado por empresários e
políticos supostamente envolvidos em corrupção.
“O
senhor sabe o que é levantar todo dia achando que a imprensa está na porta de
casa porque vou ser preso?”, questionou. “Tenho dito: duvido, antes, durante e
depois, os que estão presos e os que vão ser presos, que tenha um empresário ou
um político que tenha coragem de dizer que um dia me deu R$ 1 mil ou
que tenha coragem de dizer que um dia o Lula pediu cinco centavos para ele”,
acrescentou.
O interrogatório foi o primeiro de Lula numa ação penal relacionada à Operação Lava Jato.
O interrogatório foi o primeiro de Lula numa ação penal relacionada à Operação Lava Jato.
O
ex-presidente apresentou sua versão para a acusação de que foi o mandante de
uma operação para viabilizar pagamentos ao ex-diretor da Petrobrás Nestor
Cerveró e, assim, evitar que ele firmasse um acordo de delação premiada com a
Lava Jato. A suposta participação de Lula no esquema foi descrita pelo
ex-senador Delcídio Amaral (sem partido, ex-PT-MS) em colaboração fechada com o
Ministério Público Federal (MPF) depois de ser preso. O ex-congressista relatou
que a ordem de Lula para evitar a confissão do ex-dirigente da estatal foi dada
em reunião no Instituto Lula, em São Paulo.
Segundo
a denúncia do MPF, Cerveró revelaria como recursos desviados de um contrato da
estatal com a Schahin foram usados para pagar empréstimo fraudulento, contraído
pelo pecuarista José Carlos Bumlai para financiar o PT. Também réu na ação,
Bumlai é compadre do ex-presidente e tinha livre acesso ao Palácio do Planalto
na gestão dele.
O
ex-presidente disse que fica chateado com “ilações” do ex-senador Delcídio,
declarou que as acusações dele são falsas e que, se há um brasileiro que
“deseja a verdade”, é ele próprio. Explicou que não tinha nenhum motivo para
temer as declarações de Cerveró, com quem não tinha contato, e que o
ex-congressista era quem, na verdade, tinha uma “relação histórica” com ele.
“Certamente,
depois de preso, as pessoas procuram um jeito de sair da cadeia e botar a culpa
nos outros”, justificou, em referência a Delcídio.
Lula
disse que tinha uma relação institucional com Delcídio, que era líder do
governo no Senado, e que discutia vários assuntos com ele. Alegou, no entanto,
nunca ter tratado da situação de Cerveró com o ex-senador, embora o assunto
Lava Jato possa ter surgido nas conversas. “Lava Jato, no Brasil, a gente fala
no café da manhã, no almoço, na janta e até depois da novela.”
Lula
disse que era amigo de Bumlai, mas não tinha conhecimento do empréstimo feito
pelo pecuarista com a Schahin, tampouco do contrato firmado pela Petrobrás com
a empresa, mais tarde, supostamente para que o valor débito fosse considerado
pago. “Fiquei sabendo que o Bumlai tinha feito o empréstimo pela imprensa”,
sustentou Lula.
Pesquisa. O
ex-presidente dedicou boa parte de seu discurso a exaltar realizações de seu
governo num tom, por vezes, semelhante ao de um discurso político. Citou
conquistas sociais e reiterou que os órgãos de investigação tiveram mais
estrutura e autonomia durante os seus oito anos de mandato. Previu que, apesar
do volume de notícias de cunho negativo a seu respeito, seu desempenho em
sondagens eleitorais continuará incomodando opositores. “Vou matar eles de
raiva, porque em todas as pesquisas vou aparecer na frente”, declarou.
Lula
afirmou que o ofende “profundamente” a acusação de que o PT é uma organização
criminosa. Argumentou que o partido é o mais importante já criado no País e que
trabalhou para o fortalecimento das instituições, entre elas a Polícia Federal.
“No
meu governo, a PF tinha de fiscalizar, tinha de investigar, teve dinheiro para
a inteligência e os delegados sabem como é que eles foram valorizados. Eu dizia
só tem um jeito de ningém mais ser preso: é ser honesto”.
O
ex-presidente voltou a criticar integrantes da força-tarefa da Lava Jato em
Curitiba por, supostamente, fazerem “pirotecnia com as pessoas”, mas afirmou
ser a favor das investigações. “Tem gente que acha que eu sou contra a Lava
Jato. Pelo contrário, quero que ela vá fundo. Sou contra tentar criminalizar a
pessoa pela imprensa, e não pelos autos”, justificou.
No
princípio do depoimento, o ex-presidente também foi questionado sobre dados
pessoais, entre eles a renda. Afirmou que ganha remuneração de anistiado
político, de cerca de R$ 6 mil,mais ao menos R$ 20 mil de
benefícios da ex-primeira dama Marisa Letícia, morta no mês passado, em
decorrência de um AVC, além de rendimentos de sua empresa de palestras, a LILS.
“Pode
botar uns R$ 50 mil, estou tentando chutar”, disse Lula, avisando que
seus advogados poderiam enviar tudo, em detalhes, por escrito.
Antes
de deixar a sala de audiências, Lula agradeceu ao juiz federal substituto
Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara, pela oportunidade de falar. “Quero
agradecer a oportunidade de prestar depoimento, pois estou com muita coisa
engasgada”, declarou em uma de suas falas.
O
juiz abriu dez dias de prazo para que a defesa e o MPF façam, eventualmente,
pedidos de diligências que considerem necessárias. Em seguida, será aberta a
fase para que os dois lados apresentem as alegações finais. Depois disso, uma
decisão já poderá ser tomada. O procurador Ivan Cláudio Marx, que representou o
MPF, afirmou que o depoimento transcorreu conforme o esperado.
A
audiência provocou mudanças no trânsito no entorno da Justiça Federal, na Asa
Norte, em Brasília, e também no interior do edifício. Além da sala de
audiências, o depoimento foi transmitido simultaneamente por vídeo em outro
andar do edifício para a imprensa.
Desde
o início da manhã, a rua que dá acesso ao prédio ficou interditada para o
tráfego de veículos. Ao final da audiência, um grupo de cerca de 20 pessoas fez
uma manifestação ao lado de fora a favor do ex-presidente.
Referência
http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/assista-lula-no-banco-dos-reus-na-lava-jato/
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