domingo, 19 de março de 2017

Bolsonaro e Lula, porta-bandeiras

Bolsonaro e Lula, porta-bandeiras

Em Branco e Preto

“Esse seria o desvio para o inferno, que os democratas, sem exceção, estamos chamados a esconjurar, sob pena de revivermos, como diz o poeta, os mesmos tristes e velhos fatos que já deveriam estar recolhidos aos álbuns do passado.“ Luiz Sérgio Henriques

Lula X Bolsonaro, polarização esdrúxula?

Desistiram da coalizão?

Rei morto rei posto?


“Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.” O 18 Brumário de Luis Bonaparte Karl Marx Capítulo I



Mestre-salas ou mestres-sala

Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, um mestre-sala é um «indivíduo que dirige um baile público» e, em etnografia (regionalismo do Brasil), «figura de destaque nas escolas de samba, que forma par com a porta-bandeira». É, ainda, «o mesmo que mestre-de-cerimônias», isto é, «oficial encarregado do cerimonial nas recepções de uma corte, ou em outros atos solenes; mestre-sala» ou «clérigo a quem é confiada a direção de uma cerimônia litúrgica».
O referido Dicionário Houaiss e o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, concordam, quando indicam que o plural de mestre-sala (escreve-se com hífen) é mestres-salas. Não obstante, a Mordebe — Base de Dados Morfológica do Português regist{#|r}a mestres-sala, forma que faz todo o sentido, quando se verifica que este composto, não tendo uma estrutura de coordenação (não se trata de uma entidade que é mestre e sala ao mesmo tempo), antes cria uma estrutura de adjunção, em que o termo da direita modifica o da esquerda, isto é, em que se define um tipo de mestre. De acordo com os critérios relativos ao plural de palavras compostas por dois substantivos, mestres-sala afigura-se-nos, por conseguinte, a forma mais corre{#c|}ta, não se compreendendo a forma regist{#|r}da nos dicionários em apreço.
Porta-bandeira (também com hífen) tem como plural porta-bandeiras, uma vez que o composto é formado por uma forma verbal (porta) e um substantivo (bandeira): neste caso, apenas o substantivo assume o plural. É, como termo militar, «oficial que leva a bandeira do regimento» ou «indivíduo que carrega uma bandeira ou estandarte em desfile, parada, procissão etc.; porta-estandarte» (cf. Dicionário Eletrônico Houaiss). Em etnografia, e como regionalismo do Brasil, é, «nos blocos carnavalescos e escolas de samba, passista que dança com o estandarte da sua agremiação, fazendo par com o mestre-sala; porta-estandarte» (idem).


Quais são as suas porta-bandeiras?

Oficiais a se apresentar à corte como clérigos a quem é confiada a direção de uma cerimônia macabra


João Bosco - O Mestre-sala dos Mares

Mestre sala dos mares
João Bosco
 

Há muito tempo nas águas
Da guanabara
O dragão no mar reapareceu
Na figura de um bravo
Feiticeiro
A quem a história
Não esqueceu
Conhecido como
Navegante negro
Tinha a dignidade de um
Mestre-sala
E ao acenar pelo mar
Na alegria das regatas
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por
Batalhões de mulatas
Rubras cascatas jorravam
Das costas
Dos santos entre cantos
E chibatas
Inundando o coração,
Do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro
Gritava então
Glória aos piratas, às
Mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça,
Às baleias
Glórias a todas as lutas
Inglórias
Que através da
Nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais.
Composição: Aldir Blanc / João Bosco


EXCLUSIVO! BOLSONARO E A FOLHA DE SP.

Entrevista concedida ao Jornal Folha de São Paulo no último dia 07 de março de 2017.
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Notícias e política
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LULA DESESPERADO frente a Moro,tremeu quando disse quanto ganhava

A apologia da violência – Editorial | O Estado de S. Paulo
"Você não combate violência com amor, combate com porrada, pô.” “Se eu chegar lá um dia (na Presidência da República), vou botar militares em metade dos Ministérios, gente igual a mim.” “Não é a imprensa nem o Supremo que vão falar o que é limite para mim. Vão catar coquinho!” “Por isso que essa porra desse país está nessa merda aí.” Essas boçalidades marcam a entrevista dada à Folha de S.Paulo pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) que, além da ostensiva e gratuita falta de respeito à profissional que o entrevistava, não teve o menor escrúpulo de sugerir que falava em nome dos militares, numa irresponsável tentativa de comprometer as Forças Armadas com a insensatez e a truculência de seu populismo rasteiro.

Jair Bolsonaro conseguiu revelar na entrevista as nuances mais sórdidas de um comportamento que ele certamente entende como político – de um político que se considera habilitado a sonhar com a Presidência da República –, mas não passa da manifestação descontrolada de quem defende o uso da violência para atacar tudo o que não se compatibiliza com sua doentia visão de mundo. É célebre a frase com que o deputado – que a repetiu na entrevista – repreendeu os torturadores que deram chance aos “vagabundos” que passaram por suas mãos de se “vitimizarem” em declarações posteriores: “Isso que dá torturar e não matar”.

Classificar o deputado do Rio de Janeiro como apenas mais uma das figuras “excêntricas”, “exóticas” ou “extravagantes” que compõem o setor mais sombrio do cenário político brasileiro seria cometer um grave equívoco. O equívoco de não levar em conta o potencial da pregação da violência no momento em que, padecendo os efeitos de uma grave crise econômica, política, social e moral, o País se torna excepcionalmente vulnerável à conspiração contra os valores éticos e morais que a incipiente democracia brasileira luta para firmar.

Bolsonaro não aprendeu nada com a experiência autoritária que o País experimentou por mais de 20 anos. As próprias Forças Armadas acabaram se dando conta de que haviam extrapolado os limites da rejeição ao totalitarismo comunista e à corrupção endêmica, que foram dois dos principais pretextos de sua intervenção em 1964, e optaram por aceitar, depois de um longo período de “distensão lenta e gradual”, o restabelecimento das liberdades democráticas. Hoje, dando exemplo de genuíno patriotismo, os militares se dedicam a suas responsabilidades institucionais. Não merecem que um oportunista retrógrado, visivelmente obcecado pelo poder, tenha a ousadia de se apresentar como porta-voz dos quartéis.

O deputado pelo Rio de Janeiro – Estado infelizmente perseguido pelo estigma de abrigar algumas das piores figuras da atual política brasileira – exibe características marcantes de um comportamento antissocial que não se limita a infringir os princípios mais elementares da civilidade. Sua obsessão pela força bruta – a “porrada” que ele preconiza para enfrentar a violência – vem associada, na entrevista, a outros estranhos sintomas de exacerbação de gênero. Dizem que há cura para isso.


O que é lamentável é que figura assim, cujo universo mental se resume a caçar inimigos a porradas, inspire empatia em parte da população. Seu nome surge com cerca de 9% de citações em pesquisas de opinião sobre o primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Há quem diga que isso e nada significam a mesma coisa. Mas o fato é que a pregação sistemática da violência solapa a democracia. E, no limite, cria as condições subjetivas para o surgimento de um líder messiânico – é assim que Bolsonaro se apresenta – como tantos que já infelicitaram o Brasil.

As mesmas pesquisas de opinião que dão 9% de preferência ao deputado Bolsonaro registram grande índice de rejeição a seu nome. Essa rejeição tenderá a aumentar o entendimento, pelo público, dos males que alguém com a personalidade de Bolsonaro pode causar ao País, se galgar postos mais elevados do que permite sua mediocridade.
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2017/03/a-apologia-da-violencia-editorial-o.html


O Duelo
ADOLFO
Bispo de Alger, Marmande, 1861

            Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida como uma viagem que tem um destino certo, não se incomoda com as asperezas do caminho, não se deixa desviar nem por um instante da rota certa. De olhos fixos no seu objetivo, pouco se importa de que os obstáculos e os espinhos da senda o ameacem; estes apenas o roçam, sem o ferirem, e não o impedem de avançar. Arriscar os dias para vingar uma ofensa é recuar diante das provas da vida; é sempre um crime aos olhos de Deus; e, se não estivésseis tão enleados, como estais, nos vossos preconceitos, seria também uma ridícula e suprema loucura aos olhos dos homens.
            É criminoso o homicídio por duelo, o que a vossa própria legislação reconhece. Ninguém tem o direito, em caso algum de atentar contar a vida de seu semelhante. Isso é um crime aos olhos de Deus, que vos determinou a linha de conduta. Nisto, mais que em qualquer outra coisa, sois juízes em causa própria. Lembrai-vos de que vos será perdoado segundo tiverdes perdoado. Pelo perdão vos aproximais da Divindade, porque a clemência é irmã do poder. Enquanto uma gota de sangue correr na Terra pelas mãos dos homens, o verdadeiro Reino de Deus ainda não terá chegado, esse reino de pacificação e de amor, que deve banir para sempre do vosso globo a animosidade, a discórdia e a guerra. Então, a palavra duelo não mais existirá na vossa língua, senão como uma longínqua e vaga recordação do passado: os homens não admitirão entre eles outro antagonismo, que a nobre rivalidade do bem.




A mensagem da compaixão

o Senhor concluiu: — Se pretendemos banir os males do mundo, cultivemos o amor que se compadece no serviço que constrói para a felicidade de todos.
Ninguém se engane.
As horas são inflexíveis instrumentos da Lei que distribui a cada um, segundo as suas obras.
Ninguém procure sanar um crime, praticando outros crimes, porque o tempo tudo transforma na Terra, operando com as labaredas do sofrimento ou com o gelo da morte.
Do livro: Jesus no Lar Francisco Cândido Xavier






Terça-feira, 22/12/2015, às 06:00, por Helio Gurovitz
A armadilha da polarização na política Parte II - Dois lados desiguais
Desde 2002, o PT venceu as quatro eleições para a presidência da República, duas com Luiz Inácio Lula da Silva, as outras duas com Dilma Rousseff. Em todas, o partido derrotado no confronto final foi o PSDB. Era natural, ao longo da campanha eleitoral, sobretudo no segundo turno, o acirramento dos conflitos entre os partidários de um e outro lado. Depois da posse, o clima costumava desanuviar um pouco, e a política reassumia seu caráter de jogo de tabuleiro, aquele xadrez monótono que nos acostumamos a acompanhar lá em Brasília. Não foi o que aconteceu depois da última eleição.

Até a semana passada, uma vizinha do prédio na frente do meu, em São Paulo, mantinha pendurado na janela um pôster da campanha de Dilma, para todos verem da rua. Nos vários panelaços contra o governo que, desde as manifestações de rua de 2013, têm se sucedido toda vez que Dilma aparece na televisão, essa vizinha costumava imprecar aos berros: “Vocês não querem que pobre ande de avião! Não querem que pobre vá para a universidade!”. A cada grito, era enxovalhada por outros vizinhos que batiam panelas. Não era, como se pode imaginar, um clima dos mais propícios a um debate político civilizado. Mas ainda parece pouco diante do que aconteceu num outro prédio paulistano, onde a briga de uma eleitora de Dilma com um casal que mora no andar de baixo – todos de nível superior, todos relativamente bem de vida – foi parar na delegacia.

Histórias assim se tornaram mais comuns. É como se a ideologia, não importa o nível intelectual, cultural ou sócio-econômico, tivesse se tornado uma válvula de escape para a agressividade humana, como outrora já foi a religião ou, em tempos mais recentes, o futebol. Com a Operação Lava Jato e o processo de impeachment, o clima só piorou. Nas ruas, nos abaixo-assinados, nas redes sociais, as brigas entre “coxinhas” e “mortadelas” – termos depreciativos com que um lado costuma agredir o outro – guardam aquele ar infantil que lembra as disputas incompreensíveis entre corintianos e palmeirenses, montéquios e capuletos, coca e pepsi e dezenas de outras querelas célebres. Quem faz esse tipo de paralelo imagina que os dois lados da briga sejam equivalentes, como dois irmãos que disputam um brinquedo, dois times que querem a mesma taça.

Mas há uma diferença essencial entre os dois lados. Eles não são iguais, e não há como analisar a progressiva polarização da nossa política sem entender isso. Embora na certa alguém vá me acusar de partidarismo, nada há, creiam, de partidário na constatação a seguir: a divisão da sociedade brasileira em dois lados antagônicos foi criada e forjada por único um partido político, o PT. Ou melhor, pelos líderes e pelos marqueteiros petistas, como estratégia para vencer as eleições.

Como os resultados eleitorais têm mostrado, a estratégia funcionou. Embora atingido em seu âmago pelos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil, embora tenha errado feio na condução da política econômica nos últimos anos (fato reconhecido pelo próprio Lula), embora Dilma tenha feito promessas de campanha que todos sabiam impossíveis de cumprir, o PT continua no poder. E continua a governar com base naquele discurso tão bem formulado por seus marqueteiros há anos.

É, antes de mais nada, um discurso sedutor, capaz de “lavar a alma” do brasileiro médio, indignado com séculos de iniquidade, com a história de pobreza e desigualdade que grassa no Brasil. Não é um discurso racional, nem tem compromisso algum com a lógica ou a verdade dos fatos, como analisei em post anterior a respeito da cartilha petista sobre a Lava Jato. “O que importa não é como as coisas são, mas como parecem ser, e como essa aparência ecoa em nossas respostas mais emocionais e instintivas”, escreve o filósofo canadense Joseph Heath em seu livro “Enlightenment 2.0” (ou Iluminismo 2.0, a que retornarei em outro post). “Assim como os anunciantes descobriram que o importante não é o produto, mas a sensação que você tem ao pensar nele, os estrategistas de campanha e preparadores de discursos decidiram que a comunicação política não é sobre o que você diz, mas sobre como você faz o público se sentir.” Como toda propaganda, é um discurso que procura falar ao coração, não à cabeça.

Os dois ingredientes básicos desse discurso são conhecidos de todos, mas não custa resumi-los. O primeiro é a polarização do país entre “nós” e “eles”, “pobres” e “ricos”, “povo” e “elite”, adotada desde a campanha eleitoral vitoriosa de Lula em 2002 e repetida como mantra como forma de desqualificar qualquer opinião discordante. O segundo é a saga heróica de Lula, o retirante nordestino que se tornou uma espécie de messias dos deserdados, um “pai dos pobres” mais original e mais autêntico que seu inspirador Getúlio Vargas, capaz de colocá-los nos aviões e nas universidades, como diz minha vizinha. Os dois ingredientes foram reunidos de modo a armar um discurso tão eficaz para seduzir o eleitor quanto uma boa novela. “Pode-se alegar que todas as campanhas publicitárias de todos os partidos políticos brasileiros, a partir dos anos 80, buscavam extrair vantagens das formas da publicidade e do melodrama industrial”, disse o jornalista Eugênio Bucci recentemente na série de conferências Novo Espírito Utópico. “Isso é verdade cristalina. Com o PT, no entanto, essa tendência foi mais longe e foi mais fundo.”

O melhor paralelo para entender a estratégia petista vem dos Estados Unidos. É o Partido Republicano. Ideologicamente, nada mais distante que um petista e um republicano. Estrategicamente, nada mais parecido. É verdade que a polarização política entre os americanos é mais profunda e mais antiga – começou a se acirrar há pelo menos 40 anos. O sistema eleitoral deles, baseado no voto distrital, também engendra um ambiente político naturalmente bipolar, pois favorece a emergência de dois partidos dominantes. Mas há uma semelhança inequívoca entre republicanos e petistas no estilo do discurso, na estratégia política e até mesmo na natureza do partido.

Como o discurso petista, o republicano se reveste de um caráter anti-elitista e anti-intelectual. Pretende opôr o “bom senso” do povo às “teorias esquisitas” que emanam das elites de técnicos, economistas ou acadêmicos. O pioneiro desse discurso foi Ronald Reagan, conhecido por disseminar histórias sabidamente falsas para colorir suas opiniões com fatos eloquentes. Se os fatos não eram propriamente verdade, e daí? Que diferença fazia? Ao contrário de antecessores como Richard Nixon, Reagan não estava muito preocupado em esconder as mentiras que contava. Desde que elas parecessem verdade, desde que o eleitor “sentisse” que eram verdade e se convencesse de que o importante era votar em Reagan, o jogo estava ganho. Os americanos criaram até uma expressão para se referir a esse tipo de discurso que tem jeitão de verdade: “truthiness”, algo como “verdadice”. Repetidas à exaustão, mesmo que desmentidas, as “verdadices” pegam no eleitorado e vencem a realidade.

Durante os anos 1990, os republicanos deram um outro passo, ainda mais polarizador, para recuperar o poder, perdido para Clinton. Estabeleceram uma estratégia de oposição sistemática a qualquer iniciativa dos democratas no Congresso, sem importar seu efeito no país – exatamente como o PT fez ao longo do governo Fernando Henrique Cardoso. A recusa em estabelecer qualquer tipo de compromisso político contribuiu para fazer com que praticamente sumisse do partido a figura do republicano moderado, tão comum nos anos 1960 e 1970, que buscava alianças com representantes do outro lado. Um estudo recente publicado na revista acadêmica Plos One revela, num gráfico montado com base em todas as votações na Câmara de Representantes americana, o avanço impressionante da polarização ao longo dos anos. Episódios extremos, como a paralisia das atividades do governo (“shutdown”) por duas semanas em 2013, pela recusa republicana em elevar o teto da dívida pública, revelam o risco dessa tendência.

Também nos Estados Unidos, a polarização é assimétrica. Republicanos e democratas são partidos de natureza diferente – e nesse ponto há outra semelhança intrigante entre republicanos e petistas. “Acadêmicos assumem em geral que a esquerda e a direita americanas são imagens no espelho uma da outra, mas na verdade os dois lados exibem diferenças importantes, pouco percebidas”, escrevem os pesquisadores Matt Grossman, da Universidade do Estado do Michigan, e David Hopkins, do Boston College, em estudo recente sobre o assunto. Há, segundo eles, um grau maior grau de “pureza ideológica” entre os republicanos, que atuam na defesa de causas como cortes de impostos, o direito ao porte de armas ou a proibição do aborto – enquanto os democratas se aglutinam em torno da defesa de políticas específicas que defendem grupos de interesses. Grossman e Hopkins argumentam de modo convincente que a intransigência ideológica dos republicanos na defesa dessas causas foi responsável pela hoje irreversível polarização política no país. As consequências para os dois partidos foram distintas. Democratas, como o presidente Barack Obama, têm dificuldade para governar. Republicanos, amarrados à intransigência e à inflexibilidade, têm dificuldade para escolher um candidato com chance nas eleições de 2016.

No Brasil, a situação é bem distinta, mas é possível verificar a mesma assimetria entre partidos mais fiéis à ideologia e outros mais afeitos ao pragmatismo. Em que pesem todas as denúncias de corrupção e as alianças de ocasião em seus 13 anos de governo, o PT e seus aliados à esquerda ainda têm maior consistência ideológica que seus rivais. Quando o PT abandona suas bandeiras em nome do pragmatismo e da governabilidade – da maior presença do Estado na economia à defesa de direitos das minorias –, há uma ruidosa chiadeira das alas mais radicais do partido. O PSDB tem um perfil distinto, mais permeável às alianças e mais preocupado em atender aos grupos de interesse que lhe dão apoio. Seu discurso só se torna mais duro a reboque do PT. É essa falta de "pureza ideológica" que torna a oposição peessedebista tão anódina, ou mesmo artificial, aos olhos do eleitor.
Há, enfim, um terceiro ingrediente que tem, historicamente, funcionado como uma espécie de vacina contra a polarização na nossa jovem democracia: o PMDB. Trata-se de um partido sem consistência ideológica nenhuma – mas pragmatismo em abundância. No lugar-comum de Brasília, o PMDB é o “esteio da governabilidade”. Em qualquer governo. Para exercer o poder no nosso presidencialismo de coalizão, tem bastado ao presidente da República acomodar-se aos interesses das dezenas de grupos regionais que compõem o PMDB, distribuindo cargos e ministérios. Esse toma-lá-dá-cá gera repulsa em quem espera um comportamento moral irrepreensível dos políticos. Mas tem um lado positivo, refletido na governabilidade e na estabilidade institucional, sem nenhuma ruptura em mais de três décadas.
Tem sido assim desde os tempos do velho centrão, surgido logo no final do regime militar. Até agora. Ao romper com o governo Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, rachou também seu partido. As disputas internas hoje opõem até o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o vice-presidente Michel Temer. O vetor dessas disputas é o mesmo que polariza a sociedade brasileira – aqueles favoráveis a manter a aliança com o PT de Dilma; e os antipetistas, favoráveis ao impeachment. À medida que a polarização toma conta do Congresso Nacional e do PMDB, o velho centrão moderado perde força.

No campo tradicionalmente associado à direita, emergem nomes com um discurso conservador de maior consistência ideológica, que encontra forte eco na população, como revela a pesquisa do instituto Paraná Pesquisas publicada no post de ontem. É o caso do próprio Cunha (contrário ao aborto), do deputado Jair Bolsonaro (defensor dos militares e da pena de morte) ou do também deputado e pastor Marcos Feliciano (representante da tendência religiosa, opositor do aborto e do casamento gay).

O sucesso desse tipo de discurso extremista, à esquerda ou à direita, pode vir a arrefecer com o desfecho do processo de impeachment (qualquer que seja ele), com a eventual saída do PT do poder ou com o surgimento de um novo acordo político que permita a governabilidade. O eco crescente desse discurso na população deixa, contudo, margem para ceticismo. Para entender por que, é preciso decifrar como o discurso extremista se tornou tão sedutor nos tempos atuais, não apenas no Brasil. Esse será o tema do próximo post desta série.
Posts da sére "A armadilha da polarização na política"
Parte I – O mito dos moderados
Parte II – Dois lados desiguais
Parte III – A derrota da razão
Parte IV – Dois sentidos para uma palavra
Parte V – Calma, lentidão e humor





O DIA EM QUE O METALÚRGICO (E EX-TINTUREIRO) LUIZ INÁCIO CONFESSOU QUE NÃO TINHA “VOCAÇÃO POLÍTICA”

por Geneton Moraes Neto

Faz trinta anos: um pernambucano que se tornara estrela ascendente do movimento sindical volta a Pernambuco pela primeira vez depois de ficar famoso nacionalmente. As declarações que o visitante ilustre fez naquele dia soam hoje surpreendentes, se confrontadas com o que viria a acontecer com ele. O Lula sindicalista dizia que não se considerava uma “liderança”. Confessava não ter “vocação política”. Desencava os partidos políticos.
Meninos, eu vi e ouvi:
O sobrenome não era um sobrenome. Era uma profissão: metalúrgico. O nome não era um nome. Era um apelido: Lula. A combinação esquisita de um nome que era apelido e um sobrenome que era uma profissão servia para identificar aquele sindicalista que despontava para a fama: “Lula Metalúrgico”. Era assim que nós, repórteres que cobríamos a visita do sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva ao Recife, no remoto ano de 1979, o chamávamos.
Lula já tinha sido capa de uma revista semanal. Começava a atrair a atenção do Brasil como o primeiro líder sindical surgido sob o regime militar. Fazia, ali, a primeira visita a Pernambuco depois de ficar conhecido. Ainda não era uma celebridade.
O pernambucano que visitava Pernambuco pela primeira vez depois de ficar conhecido em todo o Brasil só queria uma coisa: encontrar tempo para se dedicar à família…
Quem poderia imaginar que aquele pernambucano que voltava ao Recife para defender um “novo sindicalismo”  iria, um dia, subir a rampa do Palácio do Planalto como presidente? Ninguém.
O Partido dos Trabalhadores não existia. Era apenas uma idéia na cabeça daquele sindicalista, que, ao abrir a boca diante de platéias, subtraía o “s” do plural das palavras com a mesma desenvoltura com que soltava imprecações contra governos militares que manipulavam os índices de inflação.
O Lula que desembarcou no Recife era um líder sindical que resistia às cantadas para se engajar em partidos políticos – não importa quais fossem. Descubro em meus arquivos uma gravação em que ele avisa:
 ”Não sou filiado a partido político algum. Não sou filiado à Arena, não sou filiado ao MDB. Fui contra o bipartidarismo quando ele foi instituído. Por uma questão pessoal, enquanto houver bipartidarismo, não vou me filiar a partido político algum. Quem sabe, um dia, surja um partido em que os trabalhadores tenham voz, onde os trabalhadores sejam maioria. Quando surgir esse partido, serei – não tenham dúvida – um dos filiados”.
O sindicalista Lula estava a um milhão de anos-luz do candidato Lula que, quase um quarto de século depois, seria capaz de dar bom-dia a poste em troca de um voto – como faz todo candidato que se preza.
O Lula Metalúrgico pichava gente da Arena e do MDB, dispensava a ajuda de estudantes que se ofereciam para distribuir panfletos a operários, acabrunhava-se com a intromissão de intelectuais na atuação do sindicato, fazia restrições à ótica das pastorais operárias da Igreja Católica, esculachava a conduta da chamada “grande imprensa”.
Aos que tentavam sondar seus planos futuros, oferecia uma resposta que, hoje, soa como curiosidade arqueológica. Lula dizia que, simplesmente, não tinha “vocação política”. Dava-se por satisfeito no exercício da presidência do Sindicato dos Metalúrgicos.
O sindicalista Lula quebra logo a solenidade de um encontro com o arcebispo de Olinda e Recife: “Dom Hélder, meu filho tem nome de costureiro, Sandro, mas é macho!”  
 O então presidente da seção estadual do MDB – Jarbas Vasconcelos, oposicionista brigão que, duas décadas depois, se elegeria duas vezes governador de Pernambuco – é o cicerone na visita que o sindicalista barbudo faz ao arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara.
O arcebispo vivia numa casa modestíssima, nos fundos da Igreja das Fronteiras, no bairro das Graças, no Recife. Um poster de Martin Luther King – com a inscrição “Eu tenho um sonho” – ornamentava a parede da sala. Lula troca gentilezas com Dom Hélder. Diz que a trajetória do arcebispo servia de exemplo para os trabalhadores. Dom Hélder ouve o elogio com um meio-sorriso nos lábios. O metalúrgico apresenta aos anfitriões o filho caçula, um menino de um ano e poucos meses: “Ele tem esse nome de costureiro, Sandro, mas é macho!” Dom Hélder, Jarbas Vasconcelos e a mulher de Lula, Marisa, riem.
Aquela viúva que atraíra os olhares do também viúvo Luiz Inácio Lula da Silva se tornaria, tanto tempo depois, a primeira-dama do país. O primeiro marido de Marisa, um motorista de táxi, morreu assassinado num assalto. A primeira mulher de Lula morreu de parto – junto com o primeiro filho do casal.
Depois da visita a Dom Hélder, a estrela emergente do sindicalismo brasileiro fez uma pausa no périplo recifense para conversar com os repórteres. Hoje a cena seria impensável, mas na época era assim que acontecia: em vez de convocar a imprensa para o local da entrevista, Lula é que se dava ao trabalho de ir a uma redação. A gravação foi feita na então sucursal do Recife do Jornal do Brasil, perto da casa de Dom Hélder.
As palavras do “sapo barbudo” ( apelido que ganharia de Leonel Brizola dez anos depois, durante a campanha presidencial de 1989) naquele final de manhã no Recife se transformaram, com o tempo, em relíquias preciosas para os que tentam entender a trajetória política de um presidente que um dia foi um metalúrgico irritado com partidos:   
O “sapo barbudo” (apelido que ganharia dez anos depois, durante a campanha presidencial de 1989) revisita, então, memórias distantes:   Em que situação você saiu de Pernambuco para morar em São Paulo?
Uma passagem pouco conhecida da biografia do metalúrgico Lula em São Paulo : “Trabalhei quase três anos como tintureiro” 
Lula: “Não me lembro se foi em 1951 ou 1952. Mas saí de Pernambuco para não morrer de fome. Fui com toda a família. Meu pai já estava lá. Minha mãe tinha um pedaço de terra em Garanhuns, trabalhava na roça e não conseguia sustentar a família. Então, a única forma que ela encontrou para sobreviver – na época, eu era criança – foi ir embora, para onde estava o marido, para poder tentar cuidar dos filhos. Eu tinha uns seis anos”.
 Quando você começou a trabalhar em São Paulo?
“Comecei a trabalhar em 1958, com 13 anos de idade. Trabalhava como tintureiro, numa tinturaria. Trabalhei quase três anos como tintureiro. Depois, entrei numa empresa metalúrgica. Trabalho hoje nas Indústrias Villares”.
Como é que você entrou no sindicato?
“Eu entrei no sindicato em 1969. Um dia, fui lá ver uma assembléia, gostei e fiquei” 
Você reconhece que é o primeiro líder político que surgiu fora do âmbito parlamentar nesses últimos tempos?
“Nem me considero uma liderança. Eu me considero, muito mais, um elemento que conseguiu captar os desejos de uma classe. Tentei levar os desejos dessa classe adiante e transformá-los numa bandeira de luta. Acho que a sociedade inteira tem muita responsabilidade – como os estudantes, com aqueles movimentos de 1977 -  e os intelectuais. Nós, os trabalhadores, somos um dos setores que entraram na briga”.
Você se considera, então, um resultado da abertura comandada pela sociedade civil?
“Exatamente. Porque faço parte dessa sociedade”. 
Além da circunstância política concreta da abertura, o fato de você ter conseguido se tornar porta-bandeira de uma classe pode ser atribuído a quê? Haveria uma vocação pessoal ou foram apenas as circunstâncias políticas que favoreceram?
“Já começa a ficar difícil falar da gente… Gostaria que, aí, você colocasse de sua cabeça como é que você vê a coisa. Porque, para mim, fica muito difícil falar…”.
 Alguma experiência passada de partidos políticos no Brasil entusiasmou você?
“Não. Lamentavelmente, nenhuma”. 
Que experiência chegou perto do que você espera de um partido representativo?
“Nenhum partido me entusiasmou. O Partido Comunista, por exemplo, sucumbiu da mesma forma que nasceu. Quer dizer: nasceu e morreu. Não foi obra dos trabalhadores. Veio de cima para baixo, um negócio imposto à classe trabalhadora. Alguns partidos que se diziam representantes da classe trabalhadora, como o PTB, o PC e o próprio Partido Socialista, nunca foram legitimamente representantes dos trabalhadores, porque não nasceram da classe trabalhadora. Foram impostos à classe”. 
Quais são, afinal, os planos de Lula na política?
“Não sei. Não pensei ainda. Deixe contar uma coisa: toda essa vida que tenho levado tem me afastado muito de minha mulher e dos meus filhos. Hoje, praticamente, não disponho de um horário para minha família. Não posso permitir que minha mulher fique sozinha na hora de cuidar da família. A única coisa de que tenho certeza é que, no dia 25 de abril de 1981, eu me desligo do sindicato. O que vai acontecer depois daí só vou saber a partir do dia 25. Não tenho vocação política. Por enquanto, o que pretendo é continuar o trabalho no sindicato”. 


Significado de polarização
s.f. Propriedade de as ondas eletromagnéticas (e mais a luz) apresentarem uma divisão privilegiada da orientação das vibrações que as compõem. / Propriedade das partículas elementares cujos núcleos apresentam uma orientação privilegiada de seu spin. / Tensão contínua aplicada a um tubo eletrônico ou a um transistor, destinada a regular sua zona de funcionamento. / Produção, num eletrolisador, numa bateria ou num acumulador percorridos por uma corrente, de uma força eletromotriz de sentido oposto àquele que produz a corrente. / Fig. Concentração da atenção, das atividades, das influências, num mesmo tema ou pessoa: polarizacão de opinião. // Polarização dielétrica, criação, por um campo elétrico, de dipolos num dielétrico.
Fonte: Dicio


Significado de esdrúxulo
adj. p.ext. Informal. Que se encontra fora das regras usuais ou comuns; que se apresenta de modo incomum, causando admiração e/ou espanto; excêntrico: comportamento esdrúxulo; situação esdrúxula.
adj e s.m. Versos. Diz-se de ou verso cuja última palavra é proparoxítona.
Gramática. Antigo. Vocábulo proparoxítono, ou seja, aquele cujo acento se encontra na antepenúltima sílaba.
(Etm. do italiano: sdrucciolo)
Fonte: Dicio

A democracia em crise e seus partidos | Luiz Sérgio Henriques

- O Estado de S. Paulo

Os democratas estão sendo chamados a esconjurar um desvio para o inferno

Impossível predizer minimamente, no denso cone de sombra em que nos movemos, o futuro do sistema partidário, ainda e apesar de tudo elemento essencial de qualquer moderna democracia de massas que se preze. Partidos – diz a expressão famosa – são, ou devem ser, a democracia que se organiza e se afirma, elos decisivos, mas não exclusivos ou excludentes, de uma relação saudável entre sociedade civil e sociedade política.

Nunca tivemos tradições partidárias propriamente consolidadas, que encarnassem interesses e concepções de mundo relativamente estáveis e transmitidas de uma geração para outra. O peso do Estado na modernização brasileira não raro impossibilitou a emergência e a consolidação de partidos organizadores de opinião e formadores de quadros dirigentes. Basta lembrar que em 1964 se interrompeu bruscamente o sistema que bem ou mal se vinha constituindo nos marcos da Constituição de 1946. E, no ocaso do regime autoritário, Arena e MDB seriam dissolvidos ou mudariam de pele, dando origem ao pluripartidarismo afinal consagrado na Constituição de 1988.

Tradições interrompidas, vida política controlada “de cima” nos períodos autoritários recorrentes, tendência à fragmentação nos momentos de liberdade – tudo isso contribuiu para o caminho inóspito que teve entre nós a formação de partidos nacionais. E aqui se entende por partido nacional não só aquele que se espalha pelo território do País, ou por boa parte dele, como também, e talvez principalmente, aquele que ultrapassa a limitada fronteira de seus (legítimos) interesses próprios, procurando dar uma resposta minimamente coerente aos problemas do conjunto da sociedade. Sem esse movimento de autossuperação não há política, ou pelo menos não há grande política.

A explosão de partidos pós-1988 foi apenas um dos problemas deixados para trás ou ainda insuficientemente tratados. Não que se devesse impedir a livre criação de agremiações, mas certamente se devia obstar que as normas de acesso às formas de financiamento público, incluído o tempo na televisão, se tornassem tão frouxas que a proliferação de siglas virasse um capítulo bizarro do “empreendedorismo” nacional – muito útil na vida econômica, mas fator de desagregação na vida partidária e na parlamentar.

Os partidos com os genes de centro-direita, como o PP e o DEM, progressivamente entraram em declínio, com pouca capacidade programática e limitada inserção na sociedade, apesar de esforços do Democratas no sentido de estabelecer uma agenda econômica liberal. Reuniram-se aos partidos de vocação centrista ou de centro-esquerda, como o PMDB e o PSDB, na categoria de partidos basicamente parlamentares. É verdade que continuam a disputar com êxito eleições locais e empalmam milhares de prefeituras e governos estaduais, sem falar que ostentam milhões de filiados nos cartórios eleitorais, mas este último dado não significa enraizamento ou adesão consciente.

Em certos momentos, como o PMDB na saída da ditadura ou o PSDB na reforma liberalizante, representaram forças sociais vivas e propuseram programas de governo consistentes. Isso durou pouco e, a partir de 2002, na proposição de algum tipo de “projeto nacional” viram-se francamente ultrapassados pelo PT. Caso curioso, o deste último. Resultado de ampla mobilização – que se pense nas comunidades de base, no sindicalismo do ABC ou na adesão de parte significativa dos intelectuais –, quis credenciar-se como uma formação da nova esquerda e até em ruptura com a trajetória estatista e nacional-desenvolvimentista dos comunistas de 1950-1960. Uma pretensão, contudo, que feneceria antes do fim do primeiro mandato do presidente Lula e agora, aliás, se exacerba com o desarquivamento do queremismo para 2018.

Não se pode dizer que, ao afirmar-se como o mais sólido dos partidos, o PT tenha pensado no conjunto do sistema partidário, como seria de esperar de uma força madura. Hostil a alianças no período “heroico”, orgulhosamente isolado na hora de acumulação de forças, a elas se entregou sem nenhum pudor, atropelando requisitos legais, assim que se viu à frente do Executivo. Como resultado, parte considerável de seu grupo dirigente ainda há poucos anos terminaria ingloriamente condenada nos termos da Ação Penal 470, fato tremendo que, em condições normais, deveria desencadear profundo esforço de revisão de ideias e práticas.

À luz do que se seguiu e se prolongou até 2014, dificilmente se pode deixar de considerar aquele partido como fator de desestabilização dos demais, ao continuar a cooptar lideranças e a lotear pedaços do aparelho de Estado possivelmente “como nunca antes na História do País”. Um balanço melancólico, sem dúvida, ainda que se deva dizer que aperformance pateticamente convencional dos outros atores foi, ao longo do anos, um convite à investida que sofreram e a que se adaptaram de um modo ou de outro – ou, pior ainda, replicaram em tom menor nas realidades estaduais sob seu controle. Em síntese, os atores secundários não souberam reagir, organizando-se, e jamais estiveram à altura do desafio, contribuindo com seu anacronismo para o empobrecimento da democracia dos partidos a que hoje, atônitos, assistimos.

As sombras são espessas, a visibilidade é mínima. Tem de haver gente de todo o espectro, esquerda incluída, com um travo amargo na boca e disposta a reconstruir em novas bases seus partidos, suas lealdades e convicções. Admitamos sobriamente que uma possibilidade real, hoje, é a do surgimento de aventureiros a denunciar o jogo partidário como intrinsecamente corrupto e a buscar uma conexão direta e irracional com os eleitores. Esse seria o desvio para o inferno, que os democratas, sem exceção, estamos chamados a esconjurar, sob pena de revivermos, como diz o poeta, os mesmos tristes e velhos fatos que já deveriam estar recolhidos aos álbuns do passado.

*Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das 'obras' de Gramsci no Brasil.


Retrato Em Branco e Preto
Elis Regina
Composição: Antonio Carlos Jobim / Chico Buarque

Já conheço os passos dessa estrada,
Sei que não vai dar em nada,
Seus segredos sei de cor.
Já conheço as pedras do caminho
E sei também que ali, sozinho,
Eu vou ficar tanto pior.
O que é que eu posso contra o encanto
Desse amor que eu nego tanto, evito tanto
E que no entanto volta sempre a enfeitiçar?
Com seus mesmos tristes, velhos fatos
Que num álbum de retratos eu teimo em colecionar.
Lá vou eu de novo como um tolo
Procurar o desconsolo
Que eu cansei de conhecer.
Novos dias tristes, noites claras
Versos, cartas, minha cara, ainda volto a lhe escrever
Pra lhe dizer que isto é pecado.
Eu trago o peito tão marcado
De lembranças do passado e você sabe a razão.
Vou colecionar mais um soneto,
Outro retrato em branco e preto
A maltratar meu coração.



Referências:

http://www.culturabrasil.org/18brumario.htm
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-plural-de-mestre-sala-e-de-porta-bandeira/22626
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2017/03/a-apologia-da-violencia-editorial-o.html
https://evangelhoespirita.wordpress.com/capitulos-1-a-27/cap-12-amai-os-vossos-inimigos/instrucoes-dos-espiritos/iii-o-duelo/
https://oespirita.wordpress.com/2011/10/26/a-mensagem-da-compaixo/
http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/post/armadilha-da-polarizacao-na-politica-parte-ii-dois-lados-desiguais.html
http://g1.globo.com/platb/geneton/2009/09/29/o-dia-em-que-o-metalurgico-e-ex-tintureiro-luiz-inacio-confessou-que-nao-tinha-vocacao-politica/
https://www.significados.com.br/?s=Polariza%C3%A7%C3%A3o
https://www.significados.com.br/?s=esdr%C3%BAxulo
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2017/03/a-democracia-em-crise-e-seus-partidos.html?m=1

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