quarta-feira, 15 de março de 2017

Cuidado! Há um morcego na porta principal

Uma Sátira Tropicalista a Batman e Robin

Em 1969, durante o IV Festival Internacional da Canção, Gotham City, composta por Jards Macalé e Capinan foi bastante vaiada pela platéia do Maracanãzinho, que não compreendia que através da letra, havia uma crítica ao momento que o país atravessava.


Gotham City - IV Festival Internacional da Canção (1969) - Jards Macalé e Capinam

A porta principal

Há dois tipos de políticos: os que veem a política como negócio e os que defendem o bem comum. Essa era diferença entre a direita e esquerda no Congresso, até o PT assumiu o poder

Eis uma velha canção tropicalista que surgiu após os protestos de 1968 e a nuvem negra do Ato Institucional nº5, da lavra de Jards Macalé, com sua voz rouca e levada forte de violão, em parceria com o poeta baiano José Carlos Capinam: “Aos 15 anos eu nasci em Gotham City / Era um céu alaranjado em Gotham City / Caçavam bruxas nos telhados de Gotham City / No dia da independência nacional / Cuidado! Há um morcego na porta principal / Cuidado! Há um abismo na porta principal”. Foi lançada em 1969, no 4º Festival Internacional da Canção, e faz parte do disco Só Morto”. Uma alegoria da ditadura, o morcego era o Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968.
Lembrei do morcego ao conversar com o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), que denuncia: “Estão preparando um golpe dentro do golpe!”. O petista põe a culpa no presidente do PSDB, Aécio Neves (MG). “Ele criou essa situação ao não aceitar o resultado da eleição”, uma alusão à ação dos tucanos que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer. É que o ministro Herman Benjamin prepara o relatório sobre o caso para o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com a tomada dos depoimentos dos delatores da Operação Lava-Jato, nove entre 10 juristas do país apostam no pedido de cassação de Temer.
Sabe-se que o tempo da Justiça não é o tempo da política. Da mesma forma como o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, pode dar ao julgamento um ritmo menor ou maior, no Congresso, o tempo voa quando a maioria quer tomar as rédeas do destino político do país. O “golpe dentro do golpe”, na avaliação de Zarattini, seria a cassação de Temer e a eleição indireta de um novo presidente. Ou seja, uma espécie de abismo na porta principal.
Zarattini é um dos líderes moderados do Congresso, embora faça o discurso que a tropa petista gosta de ouvir. É hoje o principal interlocutor do PT junto às Forças Armadas e tem consciência de que chegou a hora de buscar um entendimento para evitar a implosão do sistema político-partidário. Essa operação é incompatível com a retórica petista nas redes sociais, cuja responsabilidade cabe ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao antecipar a candidatura e estimular as palavras de ordem “Fora, Temer!” e “Diretas Já”! O próprio Lula, porém, sabe disso e manda sinais de fumaça para Michel Temer e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O problema é que a confiança entre eles não existe, somente a necessidade de sobrevivência dos seus partidos.
“No céu de Gotham City há um sinal / Sistema elétrico e nervoso contra o mal / Meu amor não dorme, meu amor não sonha / Não se fala mais de amor em Gotham City”. O clima no Congresso é completamente noir. Bandidos e mocinhos estão com medo de morrer na luta entre o bem e o mal. A Operação Lava-Jato, com as delações premiadas da Odebrecht e o julgamento da ação do PSDB contra a chapa Dilma-Temer, trouxe para o centro do debate a criminalização do caixa dois eleitoral via doações legais. E o protagonismo do Ministério Público e da Justiça Eleitoral tornou-se momentaneamente absoluto. “Não pensem que é só a Lava-Jato, há centenas de prefeitos recém-eleitos sendo afastados pelo país inteiro por decisões judiciais sobre abuso de poder econômico e uso de caixa dois eleitoral”, destaca Zarattini.
Rivotril
Na sexta-feira, havia advogados de plantão em Brasília e jornais contratavam reforços para fazer matérias sobre as denúncias dos políticos citados nas delações premiadas da Odebrecht. Na véspera, a assessoria de imprensa do Supremo Tribunal Federal havia solicitado às redações que providenciassem dois Hds de 1 terabyte cada para salvar os documentos e vídeos dos depoimentos. Um show midiático era esperado, tendo como protagonista o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Foi a noite do rivotril para os políticos enrolados, um ansiolítico da classe dos benzodiazepínicos (faixa preta). A medicação tem prescrição restrita porque afeta a memória, pode causar dependência e levar à depressão.
No começo da tarde, o anúncio foi adiado. O medo aumentou. O MPF pretende denunciar os políticos nos seguintes casos: se o financiador eleitoral admitir, em delação premiada, que a origem do dinheiro era propina em negócio fraudulento; disser que o dinheiro visava favores no Congresso; se o político não declarar em todo ou parte a doação recebida; e/ou ajudar a aprovar um ou mais projetos de interesse de quem fez a doação. Ou seja, vai sobrar para quase todo mundo.
Na democracia, já dizia Max Weber, há dois tipos de políticos: os que veem a política como negócio e os que defendem o bem comum. Essa era a diferença entre direita e esquerda no plano da atuação parlamentar. Depois que o PT assumiu o poder, essa linha divisória quase deixou de existir. Deu no que deu. Acabar com isso no capitalismo, porém, é revogar a lei da gravidade.






Quando a expulsão de um revoltado ou a prisão de um revolucionário por um “filho da puta” pode ser mais digno que uma demissão de um gabola por um “denunciado por achaque”.

Briguei com um dos maiores torturadores

Tacioli – O que você fez pra ser expulso do Colégio Militar?
Jards – Briguei com um dos maiores torturadores da lista do Tortura Nunca Mais!, que era capitão da minha companhia, o Capitão Zaniti. Ele é o terceiro da lista de torturadores. Ele era o capitão da companhia, eu era interno da IV Companhia. Eu vivia tocando violão, brincando. Eu, o Castrinho, o Agildo Ribeiro. Só tinha filho-da-puta lá dentro. E eles não foram expulsos, muito pelo contrário. O Exercito não queria botar o Agildo Ribeiro lá dentro porque era filho do Agildo Barata. A família dele entrou com um processo e ele acabou ingressando no Colégio. Mas o único expulso daquela tropa fui eu. Uns entraram antes, outros entraram depois. O Ivan Lins também, mas o Ivan Lins era caretinha. [risos ] Enfim, o cara chamou a minha mãe pra se queixar. Minha mãe, uma viúva nova, coitada, via ali um bom lugar, porque era um belo colégio, professores ótimos, roupa lavada, cama, comida, disciplina. Era tudo que ela imaginava que era bom. Passei dois anos vagabundeando lá dentro. E preso. Eu não era desse sistema: marchava pra acordar, marchava pra tomar café, marchava pra ir pra sala de aula, marchava pra almoçar, marchava pra ir jantar, marchava pra marchar. De noite, quando deitava na cama, as perninhas ficavam assim. Sonhava que estava marchando pelo mundo afora em quinhentos mil dias. Um negócio maluco! E todo fim de semana, sábado, domingo, os internos iam pra casa. Mas aí havia um negócio: quem se comportasse mal durante a semana e tirasse nota não sei das quantas, ficava com estudos obrigatórios aos sábados e aos domingos. Bom, sábado, domingo, rarará! A gente saía pela janela, pulava o muro junto ao morro da Babilônia, atravessava uma trilha do morro que acabava na praça Nossa Senhora da Paz e íamos paquerar as meninas do Instituto de Educação. Curtinhas, sempre curtinhas, todas. “Ah, calcinha branca! Aquela é vermelhinha! E a rosinha tá ali!” Aí paquerava a menina e levava pra o Metro pra ver um filme. Eu lembro que o meu primeiro namoro no cinema foi com Pillow talk [n.e. Comédia romântica de 1959, dirigida por Michael Gordon, e estrelada por Rock Hudson e Doris Day. No Brasil o filme recebeu o nome de Confidências à meia-noite] Aquilo pra mim foi um filme de sacanagem. A Doris Day no banheiro e o Rock Hudson com os pezinhos assim, somente roçando e falando sacanagem pelo telefone. Pra mim é Hot sex [n.e. Referência a um dos programas eróticos exibidos pela TV por assinatura, o Sexy hot], Playboy pra caralho! E a gente voltava à noite, quando havia um guarda. Em colégios militares o sentinela não pode ter bala na agulha. A gente sabia disso; era somente bala de festim. Aí quando voltávamos o guardinha dizia: “Quem vem lá?”. “Vai tomar no cu, babaca! Enfia esse fuzil no rabo!”. E o cara, “Porra, mas você querem me sacanear?”. “Queremos, sim!” “Vou contar!” “Vai contar? Como você vai contar que deixou a gente sair e agora a gente já está voltando?” “Porra, cara, é mesmo!” Bom, aí o capitão chamou a minha mãe e a deixou no gabinete dele. Eu cheguei junto à porta e ele… “Sentido!”. Pum! Fiquei em posição de sentido. Aí ele bateu a porta na minha cara. Fiquei a uns quatro dedos da porta, com ela fechada na minha cara, em posição de sentido. Já não gostei. Houve uma hora, muito tempo depois, ele abriu a porta e a minha mãe estava chorando, toda triscada e tal. Aí falou: “Veja o que você fez com a sua mãe!”. “Eu fiz com a minha mãe, não, seu filho-da-puta! O que você fez com a minha mãe?!” “Você não pode me tratar assim. Sou seu superior!” “Uma pessoa que faz isso é superior? Seu inferior!” “Só não acabo com você”, disse ele, “porque estamos fardados”. E eu disse: “Não seja por isso”. E fiquei nu no corredor; tirei tudo. Fiquei nu e parti pra cima dele. Foi uma merda! Todas as companhias aproveitaram e tiraram casquinha uns dos outros. O ódio que havia por baixo brotou. Foi uma bosta!




O MAIS QUE PERFEITO- JARDS MACALÉ E VINÍCIUS DE MORAES

Valsa '"O Mais que Perfeito" - de Jards Macalé e Vinícius de Moraes.
Arranjo Marcelo Caldi. Com Lúcia Helena e Marcelo Caldi
Lapa Café - 06082011 - Rio de Janeiro
Som: Henrique Vilhena
Categoria
Música
Licença
Licença padrão do YouTube

Jards Macalé interpreta "O mais que perfeito"

Confira a interpretação de Jards Macalé para "O mais que perfeito", parceria de Vinicius de Moraes com Jards Macalé, que integra o especial "Um amor em cada coração", em homenagem ao centenário do poeta e compositor.




O Mais-Que-Perfeito
Maria Bethânia
 
Ah, quem me dera
Ir-me contigo agora
A um horizonte firme, comum
Embora amar-te

Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que nem presumes

Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais cuidado

Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Ah, quem me dera ter-te
Morar-te até morrer-te


O Mais Que Perfeito
Clara Nunes
 
Ah, quem me dera
Ir-me contigo agora
A um horizonte firme
Comum embora

Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que nem presumes

Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais cuidado

Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te

Ah, quem me dera ter-te
Morar-te até morrer-te

Composição: Vinicius de Moraes / Jards Macalé


Jalousie (Ciúme) - Francisco Alves

Jalousie (Ciúme)

"Esse é o trigésimo nono vídeo de um total de 39, mostrando algumas músicas que ouvia quando criança. A maioria delas sequer existem na internet, quanto mais no YouTube. Acho importante disponibilizá-las como forma de enriquecer a cultura, pois se não existem cópias para visualização em nenhum lugar, com o tempo podem até ser arquivos perdidos para sempre! No mais, perdoem-me pela qualidade do áudio, pois todos os discos são de 78rpm, com mais de cinquenta anos, inclusive trincados, quebrados ou com emendas; não resistiram à ação dos anos. Além disso, não tenho uma estação de remasterização, tendo que gravá-los em MONO."

20 Francisco Alves - 15.020 - CONTINENTAL
2. Jalousie (Ciúme) - Tango | Jacob Gade - Oswaldo Santiago Francisco Alves com Orquestra de Salão
Categoria
Música
Licença
Licença padrão do YouTube
Música
"Jalouse (Ciúme)" por Francisco Alves 


Francisco Alves - Ciúme (Jalousie)

Francisco Alves foi um dos Maiores Cantores do Brasil, sua voz encorpada de Barítono lembrava um pouco a de Bing Crosby, com certeza Chico Viola como também era chamado, foi um dos Grandes Cantores Populares de todos os tempos....

Francisco Alves - Ciúme (Jalousie)

Ciúme é um perfume de flor,
Ciúme é um queixume de dor,
Teus olhos que fingem não me fitar,
Mas que vivem só a me acompanhar.
Ciúme expressão dolorida
Das mil incertezas da vida.
Julgar que outro alguém se interpôs
E que tudo acabou
Entre os dois, entre os dois.

By Rafael Prado in 08, August, 2014.
Categoria
Música
Licença
Licença padrão do YouTube
Música
"Jalouse (Ciúme)" por Francisco Alves



O MAIS QUE PERFEITO - CLARA NUNES



Camisa de Vênus – Gotham City

Gotham City
Camisa de Vênus
Cifra: Principal
Tom: D
(Macalé/Capinan)


Intro: E / G F#m (E G F#m)

(E)                                 G F#m E
Aos 15 anos eu nasci em Gothan City _  _  _
(E)                                    G F#m E
E era um céu alaranjado em Gothan City _  _  _
(E)                                   A7
Caçavam bruxas nos telhados em Gothan City
   B7
No dia da Independência Nacional
------------------------------------------------------
Refrão
   E              G      F#m         E
Cuidado! há um morcego na porta principal
   E           G        F#m          E    (E G F#m)  *
Cuidado! há um abismo na porta principal
------------------------------------------------------
(E)                                               G F#m E
Eu fiz um quarto bem vermelho aqui em Gothan City _  _  _
(E)                                             G F#m E
Sobre os muros altos da tradição em Gothan City _  _  _
(E)                                      A7
No cinto de utilidades as verdades Deus ajuda
   B7
A quem cedo madruga em Gothan City.

Refrão.

Solo: (E G F#m)

                                  G F#m
No céu de Gothan City há um sinal _  _
                                        G F#m
Sistema elétrico e nervoso contra o mal _  _
                                         A7
Tem um sambinha, tem futebol e tem carnaval
   B7
Todos estão dormindo em Gothan City

Refrão.

(E)                                            G F#m E
Os mortos vivos perambulam aqui em Gothan City _  _  _
(E)                                     G F#m E
Agora vivo o que eu vivo em Gothan City _  _  _
(E)                                A7
Chegou a hora da verdade em Gothan City
      B7
E a saída é a porta principal

Refrão.

Solo: E (G F#m E)

-----------------------------------------------------
*
Ps.: Tem uma vinheta do Batman dentro dessa música logo
após o refrão.

Os acordes são: (E Eb D)
-------------------------------------------------------

½ tom
A
A#
B
C
C#
D
D#
E
F
F#
G
G#

Acordes para:violão e guitarratecladocavacoukulele
A7
12
X02020
B7
1234
X21202
D
123
XX0232
E
123
022100
Eb
3ª234
X65343
F#m
34
244222
G
123
320003
Composição: Jards Macalé / Capinam


"Está para se escrever a história da reforma constitucional de 1969. Sofreu intermináveis marchas e contramarchas, fruto de um entrechocar constante das duas tendências referidas." (Chagas, 1979)





O AI-5



O Ato Institucional nº 5, AI-5, baixado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva, foi a expressão mais acabada da ditadura militar brasileira (1964-1985). Vigorou até dezembro de 1978 e produziu um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros. Definiu o momento mais duro do regime, dando poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime ou como tal considerados.
O ano de 1968, "o ano que não acabou", ficou marcado na história mundial e na do Brasil como um momento de grande contestação da política e dos costumes. O movimento estudantil celebrizou-se como protesto dos jovens contra a política tradicional, mas principalmente como demanda por novas liberdades. O radicalismo jovem pode ser bem expresso no lema "é proibido proibir". Esse movimento, no Brasil, associou-se a um combate mais organizado contra o regime: intensificaram-se os protestos mais radicais, especialmente o dos universitários, contra a ditadura. Por outro lado, a "linha dura" providenciava instrumentos mais sofisticados e planejava ações mais rigorosas contra a oposição.
Também no decorrer de 1968 a Igreja começava a ter uma ação mais expressiva na defesa dos direitos humanos, e lideranças políticas cassadas continuavam a se associar visando a um retorno à política nacional e ao combate à ditadura. A marginalização política que o golpe impusera a antigos rivais - Carlos Lacerda, Juscelino Kubitschek, João Goulart - tivera o efeito de associá-los, ainda em 1967, na Frente Ampla, cujas atividades foram suspensas pelo ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, em abril de 1968. Pouco depois, o ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, reintroduziu o atestado de ideologia como requisito para a escolha dos dirigentes sindicais. Uma greve dos metalúrgicos em Osasco, em meados do ano, a primeira greve operária desde o início do regime militar, também sinalizava para a "linha dura" que medidas mais enérgicas deveriam ser tomadas para controlar as manifestações de descontentamento de qualquer ordem. Nas palavras do ministro do Exército, Aurélio de Lira Tavares, o governo precisava ser mais enérgico no combate a "idéias subversivas". O diagnóstico militar era o de que havia "um processo bem adiantado de guerra revolucionária" liderado pelos comunistas.
A gota d'água para a promulgação do AI-5 foi o pronunciamento do deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, na Câmara, nos dias 2 e 3 de setembro, lançando um apelo para que o povo não participasse dos desfiles militares do 7 de Setembro e para que as moças, "ardentes de liberdade", se recusassem a sair com oficiais. Na mesma ocasião outro deputado do MDB, Hermano Alves, escreveu uma série de artigos no Correio da Manhã considerados provocações. O ministro do Exército, Costa e Silva, atendendo ao apelo de seus colegas militares e do Conselho de Segurança Nacional, declarou que esses pronunciamentos eram "ofensas e provocações irresponsáveis e intoleráveis". O governo solicitou então ao Congresso a cassação dos dois deputados. Seguiram-se dias tensos no cenário político, entrecortados pela visita da rainha da Inglaterra ao Brasil, e no dia 12 de dezembro a Câmara recusou, por uma diferença de 75 votos (e com a colaboração da própria Arena), o pedido de licença para processar Márcio Moreira Alves. No dia seguinte foi baixado o AI-5, que autorizava o presidente da República, em caráter excepcional e, portanto, sem apreciação judicial, a: decretar o recesso do Congresso Nacional; intervir nos estados e municípios; cassar mandatos parlamentares; suspender, por dez anos, os direitos políticos de qualquer cidadão; decretar o confisco de bens considerados ilícitos; e suspender a garantia do habeas-corpus. No preâmbulo do ato, dizia-se ser essa uma necessidade para atingir os objetivos da revolução, "com vistas a encontrar os meios indispensáveis para a obra de reconstrução econômica, financeira e moral do país". No mesmo dia foi decretado o recesso do Congresso Nacional por tempo indeterminado - só em outubro de 1969 o Congresso seria reaberto, para referendar a escolha do general Emílio Garrastazu Médici para a Presidência da República.
Ao fim do mês de dezembro de 1968, 11 deputados federais foram cassados, entre eles Márcio Moreira Alves e Hermano Alves. A lista de cassações aumentou no mês de janeiro de 1969, atingindo não só parlamentares, mas até ministros do Supremo Tribunal Federal. O AI-5 não só se impunha como um instrumento de intolerância em um momento de intensa polarização ideológica, como referendava uma concepção de modelo econômico em que o crescimento seria feito com "sangue, suor e lágrimas".
Maria Celina D'Araujo




Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
ATO INSTITUCIONAL Nº 5, DE 13 DE DEZEMBRO DE 1968.
Vide Constituição de 1988.
Vide EMC nº 11, de 1978.
São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições Estaduais; O Presidente da República poderá decretar a intervenção nos estados e municípios, sem as limitações previstas na Constituição, suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais, e dá outras providências.
       O PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e
        CONSIDERANDO que a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, "os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria" (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964);
        CONSIDERANDO que o Governo da República, responsável pela execução daqueles objetivos e pela ordem e segurança internas, não só não pode permitir que pessoas ou grupos anti-revolucionários contra ela trabalhem, tramem ou ajam, sob pena de estar faltando a compromissos que assumiu com o povo brasileiro, bem como porque o Poder Revolucionário, ao editar o Ato Institucional nº 2, afirmou, categoricamente, que "não se disse que a Revolução foi, mas que é e continuará" e, portanto, o processo revolucionário em desenvolvimento não pode ser detido;
        CONSIDERANDO que esse mesmo Poder Revolucionário, exercido pelo Presidente da República, ao convocar o Congresso Nacional para discutir, votar e promulgar a nova Constituição, estabeleceu que esta, além de representar "a institucionalização dos ideais e princípios da Revolução", deveria "assegurar a continuidade da obra revolucionária" (Ato Institucional nº 4, de 7 de dezembro de 1966);
        CONSIDERANDO, no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriundos dos mais distintos setores políticos e culturais, comprovam que os instrumentos jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa, desenvolvimento e bem-estar de seu povo, estão servindo de meios para combatê-la e destruí-la;
        CONSIDERANDO que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que impeçam sejam frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a harmonia política e social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra revolucionária;
        CONSIDERANDO que todos esses fatos perturbadores da ordem são contrários aos ideais e à consolidação do Movimento de março de 1964, obrigando os que por ele se responsabilizaram e juraram defendê-lo, a adotarem as providências necessárias, que evitem sua destruição,
        Resolve editar o seguinte
    ATO INSTITUCIONAL
        Art. 1º - São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições estaduais, com as modificações constantes deste Ato Institucional.
        Art. 2º - O Presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato Complementar, em estado de sitio ou fora dele, só voltando os mesmos a funcionar quando convocados pelo Presidente da República.
        § 1º - Decretado o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente fica autorizado a legislar em todas as matérias e exercer as atribuições previstas nas Constituições ou na Lei Orgânica dos Municípios.
        § 2º - Durante o período de recesso, os Senadores, os Deputados federais, estaduais e os Vereadores só perceberão a parte fixa de seus subsídios.
        § 3º - Em caso de recesso da Câmara Municipal, a fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios que não possuam Tribunal de Contas, será exercida pelo do respectivo Estado, estendendo sua ação às funções de auditoria, julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos.
        Art. 3º - O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição.
        Parágrafo único - Os interventores nos Estados e Municípios serão nomeados pelo Presidente da República e exercerão todas as funções e atribuições que caibam, respectivamente, aos Governadores ou Prefeitos, e gozarão das prerrogativas, vencimentos e vantagens fixados em lei.
        Art. 4º - No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.
        Parágrafo único - Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais, que tiverem seus mandatos cassados, não serão dados substitutos, determinando-se o quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente preenchidos.
        Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em:         (Vide Ato Institucional nº 6, de 1969)
        I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;
        II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;
        III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;
        IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:
        a) liberdade vigiada;
        b) proibição de freqüentar determinados lugares;
        c) domicílio determinado,
        § 1º - O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados.         (Vide Ato Institucional nº 6, de 1969)
        § 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário.         (Vide Ato Institucional nº 6, de 1969)
        Art. 6º - Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo.
        § 1º - O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.
        § 2º - O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.
        Art. 7º - O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na Constituição, poderá decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o respectivo prazo.
        Art. 8º - O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.      (Regulamento)
        Parágrafo único - Provada a legitimidade da aquisição dos bens, far-se-á sua restituição.
        Art. 9º - O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares para a execução deste Ato Institucional, bem como adotar, se necessário à defesa da Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e e do § 2º do art. 152 da Constituição.
        Art. 10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.
        Art. 11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.
        Art. 12 - O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposições em contrário.
        Brasília, 13 de dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República.
COSTA E SILVA
Luís Antônio da Gama e Silva
Augusto Hamann Rademaker Grünewald
Aurélio de Lyra Tavares
José de Magalhães Pinto
Antônio Delfim Netto
Mário David Andreazza
Ivo Arzua Pereira
Tarso Dutra
Jarbas G. Passarinho
Márcio de Souza e Mello
Leonel Miranda
José Costa Cavalcanti
Edmundo de Macedo Soares
Hélio Beltrão
Afonso A. Lima
Carlos F. de Simas


https://youtu.be/VKWnJG1UaTc
Soy Loco Por Ti, America
Caetano Veloso

Soy loco por ti, América
Yo voy traer una mujer playera
Que su nombre sea Marti
Que su nombre sea Marti...

Soy loco por ti de amores
Tenga como colores
La espuma blanca
De Latinoamérica
Y el cielo como bandera
Y el cielo como bandera...

Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores...(2x)

Sorriso de quase nuvem
Os rios, canções, o medo
O corpo cheio de estrelas
O corpo cheio de estrelas
Como se chama amante
Desse país sem nome
Esse tango, esse rancho
Esse povo, dizei-me, arde
O fogo de conhecê-la
O fogo de conhecê-la ...

Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores...(2x)

El nombre del hombre muerto
Ya no se puede decirlo, quién sabe?
Antes que o dia arrebente
Antes que o dia arrebente...

El nombre del hombre muerto
Antes que a definitiva
Noite se espalhe em Latino américa
El nombre del hombre
Es pueblo, el nombre
Del hombre es pueblo...

Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores...(2x)

Espero o manhã que cante
El nombre del hombre muerto
Não sejam palavras tristes
Soy loco por ti de amores
Um poema ainda existe
Com palmeiras, com trincheiras
Canções de guerra
Quem sabe canções do mar
Ai hasta te comover
Ai hasta te comover...

Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores...(2x)

Estou aqui de passagem
Sei que adiante
Um dia vou morrer
De susto, de bala ou vício
De susto, de bala ou vício...

Num precipício de luzes
Entre saudades, soluços
Eu vou morrer de bruços
Nos braços, nos olhos
Nos braços de uma mulher
Nos braços de uma mulher...

Mais apaixonado ainda
Dentro dos braços da camponesa
Guerrilheira, manequim, ai de mim
Nos braços de quem me queira
Nos braços de quem me queira...

Soy loco por ti, América
Soy loco por ti de amores...(4x)

Composição: Gilberto Gil / Jose Carlos Capinam
Data de lançamento: 1968






Referências


http://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/a-porta-principal/
http://mundovelhomundonovo.blogspot.com.br/2015/03/quando-expulsao-de-um-revoltado-ou.html
http://www.ebc.com.br/cultura/galeria/videos/2013/10/jards-macale-interpreta-o-mais-que-perfeito
https://www.cifraclub.com.br/camisa-de-venus/gotham-city/
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/154/AComissaodeAltoNivel.pdf?sequence=3
http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-05-68.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário