domingo, 23 de abril de 2023

UM OUTRO OLHAR

CONTROVÉRSIAS NA CIÊNCIA E NA POLÍTICA 1956-1957 ***
*** "Quais são os riscos de se manter uma usina nuclear (Foto/divulgação) Atualmente, existem mais de 440 reatores nucleares ativos em todo o planeta. Neste sentido, 10% da eletricidade global é advinda dessa fonte e, além disso, ela é considerada a “energia do futuro” devido ao seu caráter limpo e sustentável. Entretanto, é necessário entender quais são os riscos de se manter uma usina nuclear." *********************
*** Carl Friedrich von Weizsäcker (Quiel, 28 de junho de 1912 — Starnberg, 28 de abril de 2007) foi um físico e filósofo alemão.[2] Foi membro do grupo Os Dezoito de Göttingen, que se manifestou em 1957 contra o armamentismo atômico da Alemanha Ocidental. *** "Ele foi o membro mais longevo da equipe que realizou pesquisas nucleares na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, sob a liderança de Werner Heisenberg." *** " - Em todas essas questões semipolíticas - disse Carl Friedrich -, é difícil dizer o que é concreto e o que não é. (...) Outros fatores também têm que ser levados em consideração." " - Assinei, de fato, a declaração, mas detesto esse tipo de coisa. Afinal, declarar publicamente que se é a favor da paz e contra a bomba atômica não passa de uma consversa tola. Todo ser humano, em sã consciência, deve ser a favor da paz e contra a bomba, e ninguém precisa de nós, cientistas, para lhe dizer isso. (...) Nada se ganha com isso." " - Mesmo assim, as pessoas serão lembradas dos horrores de uma guerra atômica e, se esse lembrete fosse inútil, você dificilmente teria assinado a declaração de Mainau." " - Pode ser. No entanto, quanto mais genérica e menos restritiva do ponto de vista legal, menor é o valor da declaração." " - Muito bem, teremos de pensar em alguma coisa melhor. Mas temos que fazer alguma coisa." CONTRAPONTO A PARTE E O TODO HEISENBERG PP. 256-257 **************************
*** Lula em encontro com presidente de Portugal | Foto: Ricardo Stuckert / PR / CP *** Em boas-vindas a Lula, Rebelo diz que paz no mundo pressupõe retirada da Rússia da Ucrânia Presidente português afirmou que serão assinados pelo menos 13 acordos de cooperação com o Brasil 22/04/2023 | 9:48 AE O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, em discurso de boas-vindas ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que a paz no mundo pressupõe retirada das forças armadas da Rússia da Ucrânia. "Paz para ser duradoura e justa, nos termos da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas votada em fevereiro por Brasil e Portugal, pressupõe a disponibilidade da federação russa de retirada imediata das forças armadas", disse Rebelo, em entrevista coletiva a jornalistas ao lado de Lula. A declaração de Rabelo ocorre na esteira de falas do presidente Lula que colocou em situação de igualdade a Rússia e a Ucrânia, o que desagradou a países da União Europeia e aos Estados Unidos. Rebelo citou uma eventual adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e defendeu soberania de Estado. "Para aceitação de paz complementados na defesa dos princípios de direitos internacionais como soberania de Estado e integridade do território invadido", afirmou o presidente português ao mencionar casos em que Brasil e Portugal podem desempenhar parcerias multilaterais. Rebelo se dispôs também a ajudar o Brasil a retirar brasileiros que estão no Sudão em meio aos conflitos que ocorrem no país. "O presidente sabe melhor que eu quando Portugal ou União Europeia pode desenvolver papel de ajuda em relação a esses irmãos brasileiros", disse. VEJA TAMBÉM - Lula se encontra com presidente e primeiro-ministro de Portugal neste sábado O presidente português mencionou a cimeira luso-brasileira, na qual serão assinados pelo menos 13 acordos de cooperação entre os países. "Teremos cimeira para tratar dos nossos povos e dos irmãos brasileiros, para construir o futuro na inovação científica, na energia, na economia, no plano civil e militar multilateral e bilateral", defendeu Rebelo. Rebelo resgatou elogios anteriores feitos ao presidente Lula, destacando que é um dos "líderes" do seu tempo e citando em generosidade. "Sejam bem-vindos a esta pátria que tanto deve aos irmãos brasileiros", disse ao cumprimentar Lula e a primeira-dama Janja. POLÍTICA LULA PORTUGAL MARCELO RABELO https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/pol%C3%ADtica/em-boas-vindas-a-lula-rebelo-diz-que-paz-no-mundo-pressup%C3%B5e-retirada-da-r%C3%BAssia-da-ucr%C3%A2nia-1.1021259 *******************
*** sábado, 22 de abril de 2023 Dora Kramer - Trancos e barrancos ***
*** Folha de S. Paulo Luiz Inácio da Silva tem feito escolhas tão ruins quanto enigmáticas O governo ainda não fez quatro meses e a coleção de desacertos supera em muito a quantidade (e a qualidade) de acertos. Até a unanimidade em torno da reação aos ataques de 8 de janeiro ficou tisnada pelas imagens do general da estrita confiança do presidente da República em passeio ameno no Palácio invadido. Luiz Inácio da Silva tem feito escolhas tão ruins quanto enigmáticas. Não obtém bons resultados e por isso suscitam a dúvida sobre qual a motivação dele ao arrumar briga no campo externo com o Ocidente e, no terreno interno, prestigiar as ilegalidades do MST, levando o líder invasor na viagem à China. Isso para tratar dos episódios mais recentes e ruidosos. Nesse embornal cabem a turra com o Banco Central, a oferta de holofote a Sérgio Moro, o castigo aos pobres na suspensão do marco do saneamento e ainda toda sorte de improvisos cujo ápice deu-se na atabalhoada suspensão da isenção de taxas às compras nos sites asiáticos. A única escolha com explicação clara é a manutenção de Jair Bolsonaro como antagonista preferencial. Quem não gostaria de ter nessa condição alguém com tal sorte de passivos? De resto, a seleção de atritos não tem razão de ser. Guarda semelhança com o que a historiadora Barbara Tuchman celebrizou em sua "Marcha da Insensatez", relatando ao longo da história decisões de governantes que se voltam contra os próprios. Conviria Lula e companhia darem uma conferida no livro. Mas, ao que consta, o presidente não segue nem gosta de conselhos. Além do mais, parece embarcado numa egotrip aguda que acentua sua vocação para dono de verdades embaladas em platitudes que animaram plateias e o trouxeram até aqui. Mas o tempo passou, os critérios da sociedade se aprimoraram e não aceita que os trancos aproximem o país à beira de perigosos barrancos. ************************************************************
*** Flávia Oliveira - Um outro olhar ***
*** O Globo Iniciativas tomadas até agora terão impacto positivo na vida dos brasileiros No turbilhão formado pelo comentário impróprio do presidente da República sobre a guerra Rússia-Ucrânia na passagem por China e Emirados Árabes Unidos, assuntos relevantes da agenda global acabaram negligenciados. Documentos e declarações oficiais dos chefes de Estado sinalizaram atenção ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e do enfrentamento à emergência climática. Em Abu Dhabi, Lula chegou a propor que o G20 passe a debater até mesmo uma regulação internacional para as plataformas digitais. É assunto que preocupa o Brasil, à luz das ameaças da extrema direita à democracia e dos recentes episódios de violência contra escolas. Foi em 2015 que os 193 membros das Nações Unidas se comprometeram a perseguir um conjunto de 169 metas socioeconômicas e ambientais para melhorar a vida no planeta até 2030. Os 17 objetivos, conhecidos como ODS, vão da erradicação da fome e da pobreza à igualdade de gênero. Incluem acesso a saúde e educação, água e saneamento; trabalho decente e energia limpa; consumo responsável e cidades sustentáveis. A pandemia da Covid-19 interrompeu uma trajetória de avanços, que já vinha trôpega. Na edição 2022 do Relatório Luz, em que ONGs, movimentos sociais e universidades monitoram o cumprimento das metas, o Brasil retrocedeu em indicadores de saúde, educação e trabalho. Os autores chamaram a atenção para uma realidade gravíssima: — Num contexto de crise sanitária e climática, o aumento da pobreza, da fome, da perda de biodiversidade e da qualidade de vida no Brasil indica, de forma irrefutável, uma sociedade adoecida não apenas pelos efeitos devastadores da Covid-19, mas também pelo crescimento das desigualdades. Das 168 metas aplicáveis ao Brasil, dois terços (110) estão em retrocesso, em decorrência de políticas públicas interrompidas, negativamente alteradas ou financeiramente asfixiadas. Aumentaram mortalidade materna, exposição a agrotóxicos, fome, precarização do mercado de trabalho. A invasão da Ucrânia pela Rússia agravou o cenário, em virtude dos efeitos, sobretudo, na oferta e nos preços dos alimentos mundo afora. Boa parte das decisões restritivas de política monetária — que jogam para cima a taxa de juros e para baixo o crescimento econômico — tem a ver com custos da energia, dos combustíveis e da comida. É bom sinal que países em diálogos bi ou multilaterais ressuscitem acordos pactuados, porém secundarizados pela urgência da crise sanitária, pelo ambiente econômico instável, por relações internacionais tensionadas por um conflito sem horizonte de fim. Há coisas interessantes acontecendo país e mundo afora, que o foco teimoso nos enredos de sempre interdita. Há uma cena antológica em “Desconstruindo Harry” (Woody Allen, 1997) em que o protagonista se desespera com o mundo que, por incompreensível, julga desfocado. Como reposta, ele ouve que o problema está na lente que usa, não na cena, nas pessoas, nos objetos que observa. O Brasil adentrou um túnel escuro por quatro longos anos. Depara agora com os primeiros raios de sol. A democracia mostrou-se resiliente a uma saraivada de ataques e a uma tentativa de golpe. A centena de réus ratificados pelo Supremo Tribunal Federal nesta semana são indício de justiça — sem anistia. Num par de viagens internacionais, o governo voltou com R$ 62 bilhões em acordos firmados com China e Emirados Árabes Unidos. Ainda ontem, os Estados Unidos anunciaram com pompa que o Brasil receberá, em cinco anos, meio bilhão de dólares para combater o desmatamento na Amazônia. O plano de enfrentamento está em consulta pública e deverá ser lançado até meados de maio. Recriado, o Ministério da Cultura tem quase R$ 9 bilhões para distribuir em editais a uma cadeia produtiva que emprega mais de 7 milhões de brasileiros e representa 3,11% do PIB nacional, mais que a indústria automotiva, estimou o Observatório Itaú Cultural em relatório recente. O orçamento das universidades será recomposto. Famílias já começaram a receber o adicional do Bolsa Família por crianças de até 6 anos; adolescentes também serão incorporados ao programa, quase esfacelado dois anos atrás. O teto de gastos dará lugar a um regime fiscal mais realista e eficiente. Vem aí a reforma tributária. Depende do Congresso Nacional garantir que ela promova justiça para que os mais pobres paguem menos; avesso do presente. Cada uma dessas iniciativas tem ou terá impacto positivo na atividade econômica, na qualidade de vida e no futuro dos brasileiros. Elas precisam ser olhadas, medidas e avaliadas com outro peso, outro olhar. **************************************** *** Lula participa de primeiros compromissos em Portugal | SBT Brasil (22/04/23) *** SBT News 22 de abr. de 2023 #sbtnews #mundo A crise no GSI também foi assunto no primeiro dia de compromissos do presidente Lula, em Portugal | #sbtnews #mundo *************************************************** *** Ucrânia: Lula diz 'entender' Europa, mas defende ser hora de 'parar guerra' *** Caíque Alencar Do UOL, em São Paulo 22/04/2023 09h33Atualizada em 22/04/2023 11h0 O presidente Lula (PT) afirmou hoje que "entende o papel" da União Europeia de apoio à Ucrânia contra a invasão da Rússia, mas que é hora de "parar a guerra". A declaração foi dada em entrevista coletiva após encontro do brasileiro com o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, em Lisboa. O que aconteceu? Lula disse preferir uma "terceira via" na guerra entre Rússia e Ucrânia. "Como a gente vai resolver na prática, você tem que convencer as pessoas que você pensa que não querem parar a parar. Nós estamos em situação em que a guerra da Rússia e da Ucrânia não está fazendo bem à humanidade. É por isso que nós temos que encontrar um grupo de pessoas que esteja disposto a falar em paz", afirmou o presidente, ao ser questionado por jornalistas. "Eu não quero agradar ninguém, eu quero construir uma forma de colocar os dois à mesa. Não precisa destruir o mundo para construir a paz. A Rússia não deveria ter invadido, mas invadiu. Em vez de eu ficar escolhendo lado, eu prefiro escolher uma terceira via", acrescentou Lula. O presidente brasileiro também afirmou que "nunca igualou os dois países". "Eu nunca igualei os dois países porque eu sei o que é invasão, eu sei o que é integridade territorial", disse. No último domingo (16), quando esteve em Abu Dhabi, Lula responsabilizou a Rússia e a Ucrânia pela guerra. A frase provocou repúdio dos Estados Unidos e também da Europa. Ao lado de Rebelo, Lula ainda disse que "se você não fala em paz, você contribui para a guerra". "O chanceler Olaf Scholz foi ao Brasil pedir que a gente vendesse mísseis para que ele doasse à Ucrânia. O Brasil recusou porque, se esses mísseis fossem doados a Ucrânia, eles fossem usados e morresse um russo, o Brasil seria culpado. O Brasil estaria na guerra. E o Brasil não quer guerra." Lula está em viagem internacional de seis dias a Portugal e à Espanha. Esse é o primeiro compromisso oficial do presidente na Europa desde a posse, em janeiro. Lula disse que Portugal e Brasil devem 'conversar mais' O presidente disse que a relação entre os dois países precisa ser mais "ousada" e "desaforada". "É preciso que nossos ministros discutam mais", afirmou. "Muitas vezes nós pecamos porque nós conversamos pouco. Às vezes se pensa que nós não precisamos conversar porque Brasil e Portugal já são muito amigos. Nós precisamos conversar porque o papel de um presidente da República é abrir portas, mas quem tem competência para fazer negócios são os empresários", disse Lula. 'Vivemos o renascimento do extremismo', disse Lula Em seu discurso, Lula também condenou o que ele chamou de "renascimento do extremismo". "Nós estamos ameaçados pela política do extremismo e do discurso de ódio alimentado pelas fake news. É impressionante o que está acontecendo no mundo." Para o presidente, um dos reflexos disso foram os ataques à Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro e o período eleitoral no Brasil. "É quase que fazer política no submundo, destruindo as instituições. O que vem depois é sempre pior, é sempre muito pior. Esse é um risco que passamos a ter com a eleição do Trump nos EUA, e eu não sei onde vamos parar." https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2023/04/22/lula-pronunciamento-portugal-guerra-russia-ucrania.htm ******************************************************** *** Teatro Cego: Um Outro Olhar *** AGENDA 24 de mai. de 2022 Já pensou em assistir uma peça no escuro completo? É isso que propõe o espetáculo “Teatro Cego - Um Outro Olhar”. A montagem, com artistas cegos no elenco, traz a experiência de não enxergar, explorando as potencialidades dos outros sentidos. Uma empregada doméstica e sua patróa passam, ao mesmo tempo, por diferentes fases no tratamento de câncer, esse é o centro da história. Confira e conheça mais sobre essa produção. Exibido em 6 de maio de 2022 https://www.youtube.com/watch?v=wrZyT9g1i2E ************************************************* IRRUPÇÃO ABRUPTA DE NORMA HAD HOC ***
*** As PECs e a erosão constitucional - 20/04/2023 - Opinião - Folha *** José Eduardo Faria* - As PECs e a erosão constitucional ***
*** Folha de S. Paulo Uso desmedido de emendas corrói estrutura, coerência e legitimidade da Carta Aprovada no final de 2021, a Proposta de Emenda Constitucional dos Precatórios modificou a metodologia de cálculo do limite do teto de gastos, permitindo maiores dispêndios no Orçamento de 2022. Menos de um ano depois, a aprovação da PEC da Transição, após as eleições presidenciais de outubro, voltou a modificar os dispositivos sobre gastos, desta vez para acomodar mais despesas, sob a justificativa de estimular programas sociais. Ela também determinou a criação de um novo marco fiscal até agosto de 2023, e o governo já deixou claro que recorrerá a uma PEC para introduzi-lo. Se caminhar nessa linha, serão três alterações constitucionais discordantes sobre um mesmo tema num período muito curto de tempo. Por isso, a dúvida é saber se a aprovação de tantas PECs não acabará introduzindo na Constituição normas que tendem a desfigurá-la. Como entre a promulgação da Carta e dezembro de 2022 já foram aprovadas 128 emendas constitucionais, essa indagação ganha ainda mais relevância. Na medida em que a vida social e econômica é dinâmica por sua natureza, em princípio toda Constituição deve estar aberta a uma revisão ou sujeita a receber emendas. Revisões constitucionais também são necessárias para impedir que a vontade política de uma geração se imponha de modo descabido sobre as seguintes. Quando permanece imutável, a Constituição acaba ultrapassada pelos fatos, tornando-se ineficaz. Contudo, se alterada excessivamente e na mesma velocidade em que esses fatos ocorrem, perde força como marco normativo. Por isso, só o uso responsável e prudente das emendas permite que a Carta mantenha eficácia ao longo do tempo, preservando as estruturas do regime político, os direitos individuais, as liberdades fundamentais, as regras eleitorais e os marcos normativos das finanças públicas. Ao assegurar uma combinação entre estabilidade e flexibilidade, emendas são um fator de estabilização institucional. Essa é a razão para que os requisitos para a aprovação de uma PEC sejam mais complexos do que as regras para mudanças na legislação infraconstitucional. É uma forma de proteger a Constituição contra alterações decorrentes de razões conjunturais. São esses requisitos que permitem ao texto constitucional preservar sua força normativa, ao mesmo tempo em que se adapta às mudanças sociais. O problema é que os congressistas nem sempre seguem rigorosamente os procedimentos previstos para a aprovação de uma emenda. Em razão de seus interesses eleitorais, muitas vezes desprezam o próprio regimento interno da Câmara e do Senado, como ocorreu com a aprovação da PEC 1/22, que abriu caminho para o populismo fiscal a menos de três meses das eleições. Sua aprovação foi articulada pelo Palácio do Planalto e pelo centrão com o objetivo de reverter o desempenho de Jair Bolsonaro nas pesquisas. Na prática, as PECs formuladas mais por razões conjunturais do que estruturais não são propriamente emendas. Não passam de uma sucessão de novos artigos de um texto constitucional que vai sendo reescrito conforme as conveniências dos eventuais ocupantes do Executivo e do Legislativo. Em belo artigo, Rogério Arantes e Cláudio Couto mostraram que, de todas as emendas aprovadas nos primeiros oito anos de vigência da Constituição, só 31,2% tratavam de regras sobre o funcionamento das instituições. As demais 68,8% tratavam de políticas públicas, que mudam de governo para governo. Quando uma Constituição é alterada continuamente, a hipermutabilidade de suas normas corrói sua estrutura, sua coerência e sua legitimidade, o que abre caminho para insegurança jurídica e instabilidade econômica. O risco de novas PECs é acelerar ainda mais a perda da autoridade normativa da Constituição. Se do ponto de vista formal o texto constitucional ainda sobrevive, por dentro vem sendo erodido há tempos por emendas formuladas sem um padrão temático e voltadas às questões conjunturais. *Professor titular e decano da Faculdade de Direito da USP, é chefe do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito *************************************************************
*** Governo tem de ser visto com um outro olhar | Flávia Oliveira | O Globo sexta-feira, 21 de abril de 2023 Flávia Oliveira - Um outro olhar O Globo Iniciativas tomadas até agora terão impacto positivo na vida dos brasileiros No turbilhão formado pelo comentário impróprio do presidente da República sobre a guerra Rússia-Ucrânia na passagem por China e Emirados Árabes Unidos, assuntos relevantes da agenda global acabaram negligenciados. Documentos e declarações oficiais dos chefes de Estado sinalizaram atenção ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e do enfrentamento à emergência climática. Em Abu Dhabi, Lula chegou a propor que o G20 passe a debater até mesmo uma regulação internacional para as plataformas digitais. É assunto que preocupa o Brasil, à luz das ameaças da extrema direita à democracia e dos recentes episódios de violência contra escolas. Foi em 2015 que os 193 membros das Nações Unidas se comprometeram a perseguir um conjunto de 169 metas socioeconômicas e ambientais para melhorar a vida no planeta até 2030. Os 17 objetivos, conhecidos como ODS, vão da erradicação da fome e da pobreza à igualdade de gênero. Incluem acesso a saúde e educação, água e saneamento; trabalho decente e energia limpa; consumo responsável e cidades sustentáveis. A pandemia da Covid-19 interrompeu uma trajetória de avanços, que já vinha trôpega. Na edição 2022 do Relatório Luz, em que ONGs, movimentos sociais e universidades monitoram o cumprimento das metas, o Brasil retrocedeu em indicadores de saúde, educação e trabalho. Os autores chamaram a atenção para uma realidade gravíssima: — Num contexto de crise sanitária e climática, o aumento da pobreza, da fome, da perda de biodiversidade e da qualidade de vida no Brasil indica, de forma irrefutável, uma sociedade adoecida não apenas pelos efeitos devastadores da Covid-19, mas também pelo crescimento das desigualdades. Das 168 metas aplicáveis ao Brasil, dois terços (110) estão em retrocesso, em decorrência de políticas públicas interrompidas, negativamente alteradas ou financeiramente asfixiadas. Aumentaram mortalidade materna, exposição a agrotóxicos, fome, precarização do mercado de trabalho. A invasão da Ucrânia pela Rússia agravou o cenário, em virtude dos efeitos, sobretudo, na oferta e nos preços dos alimentos mundo afora. Boa parte das decisões restritivas de política monetária — que jogam para cima a taxa de juros e para baixo o crescimento econômico — tem a ver com custos da energia, dos combustíveis e da comida. É bom sinal que países em diálogos bi ou multilaterais ressuscitem acordos pactuados, porém secundarizados pela urgência da crise sanitária, pelo ambiente econômico instável, por relações internacionais tensionadas por um conflito sem horizonte de fim. Há coisas interessantes acontecendo país e mundo afora, que o foco teimoso nos enredos de sempre interdita. Há uma cena antológica em “Desconstruindo Harry” (Woody Allen, 1997) em que o protagonista se desespera com o mundo que, por incompreensível, julga desfocado. Como reposta, ele ouve que o problema está na lente que usa, não na cena, nas pessoas, nos objetos que observa. O Brasil adentrou um túnel escuro por quatro longos anos. Depara agora com os primeiros raios de sol. A democracia mostrou-se resiliente a uma saraivada de ataques e a uma tentativa de golpe. A centena de réus ratificados pelo Supremo Tribunal Federal nesta semana são indício de justiça — sem anistia. Num par de viagens internacionais, o governo voltou com R$ 62 bilhões em acordos firmados com China e Emirados Árabes Unidos. Ainda ontem, os Estados Unidos anunciaram com pompa que o Brasil receberá, em cinco anos, meio bilhão de dólares para combater o desmatamento na Amazônia. O plano de enfrentamento está em consulta pública e deverá ser lançado até meados de maio. Recriado, o Ministério da Cultura tem quase R$ 9 bilhões para distribuir em editais a uma cadeia produtiva que emprega mais de 7 milhões de brasileiros e representa 3,11% do PIB nacional, mais que a indústria automotiva, estimou o Observatório Itaú Cultural em relatório recente. O orçamento das universidades será recomposto. Famílias já começaram a receber o adicional do Bolsa Família por crianças de até 6 anos; adolescentes também serão incorporados ao programa, quase esfacelado dois anos atrás. O teto de gastos dará lugar a um regime fiscal mais realista e eficiente. Vem aí a reforma tributária. Depende do Congresso Nacional garantir que ela promova justiça para que os mais pobres paguem menos; avesso do presente. Cada uma dessas iniciativas tem ou terá impacto positivo na atividade econômica, na qualidade de vida e no futuro dos brasileiros. Elas precisam ser olhadas, medidas e avaliadas com outro peso, outro olhar. ***********************************************
*** sábado, 22 de abril de 2023 Pablo Ortellado - Nada de bom pode sair do circo da CPMI O Globo É ingenuidade acreditar que conseguiremos resultados com embates televisionados entre Eduardo Bolsonaro e André Janones As imagens da invasão do gabinete da Presidência da República veiculadas na quarta-feira pela CNN tornaram inevitável a instalação da CPMI para apurar o ataque às sedes dos Poderes. Na edição apresentada pela CNN, o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, parece ser conivente com a invasão do Palácio do Planalto, e alguns de seus subordinados dão a impressão de colaborar com os invasores. Olhando a íntegra das imagens, publicadas no dia seguinte, podemos até aceitar a verossimilhança da explicação do general: que não houve conivência da parte dele, apenas perplexidade e impotência e que a ação leniente de seus subordinados era desobediência. Talvez seja verdade, mas nada disso explica a razão de essas imagens terem sido mantidas longe do escrutínio do público e, aparentemente, da própria Presidência da República. Agora, essas perguntas legítimas se somam às teorias da conspiração da oposição, e não há mais como parar o trem desgovernado de uma CPMI. Desde a noite do 8 de Janeiro, meios bolsonaristas defendem a tese tresloucada de que a invasão das sedes dos Três Poderes foi um movimento pacífico de protesto infiltrado por agentes provocadores esquerdistas, cujo vandalismo foi facilitado pelas forças de segurança, numa espécie de cilada para criminalizar o movimento. Nada disso, obviamente, se sustenta. As imagens das câmeras de segurança permitiram identificar vândalos que são notórios bolsonaristas e estavam acampados em frente ao Q.G. do Exército em Brasília. Além do mais, não faz o menor sentido o governo ter fomentado um movimento que queria derrubá-lo, para o qual a ocupação das sedes dos Poderes era apenas uma parte, coordenada com outras ações como o bloqueio de estradas, a derrubada de linhas de transmissão de energia e a interrupção do abastecimento de combustíveis. Porém, por mais inverossímil que seja essa alegação, ela segue disseminada entre os bolsonaristas e tem sido o motor de sua insistência por uma CPMI, que deveria tentar esclarecer a eventual participação de agentes provocadores e por que, alertado pelos serviços de inteligência sobre uma invasão iminente, o governo não tomou as medidas cabíveis. As imagens ambíguas do general Gonçalves Dias um tanto inerte enquanto vândalos invadiam o quarto andar do Palácio do Planalto parecem respaldar as especulações conspiratórias dos bolsonaristas. Agora, o estrago está feito. Teremos mesmo uma CPMI. Passaremos os próximos meses assistindo a acalorados e ridículos embates entre políticos da situação e da oposição, disputas sobre quem deve ser convocado e depoimentos que não passam de pretextos para políticos repetirem narrativas consolidadas. Nada de bom pode sair de uma investigação sobre esse tema conduzida por políticos em ambiente tão carregado. É uma pena, porque ainda há muitas perguntas sem resposta. Precisamos descobrir em que medida integrantes do governo Lula falharam em tomar providências para impedir a invasão. Precisamos atribuir as devidas responsabilidades à Abin, ao GSI, à polícia do Distrito Federal, à Polícia Federal e ao Batalhão da Guarda Presidencial e entender o que foi apenas incompetência e o que foi colaboração com uma tentativa de golpe de Estado. Precisamos também olhar com muito mais cuidado para o movimento que invadiu a sede dos Poderes e atribuir responsabilidade aos participantes de maneira proporcional e apoiada nas evidências. Há imagens mostrando vandalismo e uma tentativa clara de derrubar a ordem democrática, mas há também imagens de manifestantes tentando impedir o vandalismo e a violência. Invadir a sede de um Poder da República é uma coisa, destruir propriedade pública outra; tentar um golpe de Estado, uma terceira, muito mais grave. Precisamos descobrir em que medida a dona de casa que acampou no Q.G. do Exército acreditando na retórica de um movimento cívico pacífico foi cooptada e radicalizada ou apenas enganada por lideranças que articulavam a tomada violenta das sedes dos Poderes visando a um golpe de Estado. Precisamos, finalmente, identificar os financiadores e os estrategistas do movimento golpista e suas conexões com a cúpula política do bolsonarismo. É muita ingenuidade acreditar que conseguiremos qualquer dessas coisas com embates televisionados entre Eduardo Bolsonaro e André Janones. *************************************************************

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