Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 17 de abril de 2023
LUZ
"Viver da própria luz"
"Luz no palco."
"O QUE SE CALA"
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ETERNAMENTE DAL FILM LUCI DELLA RIBALTA
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Pagode Chinês - Palácio Nacional de Sintra
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AO VIVO: WW - 17/04/2023
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CNN Brasil
Transmissão iniciada há 32 minutos
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O presidente Lula fez declarações e compromissos na China que ferem interesses e valores nacionais.
Alguns acordos podem trazer benefícios comerciais, mas não justificam a visita de Estado nem compensam as concessões feitas pelo Brasil.
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Há uma boa notícia: Lula resistiu às pressões de Xi Jinping para aderir à Nova Rota da Seda, eivada de denúncias de corrupção e empréstimos draconianos. O comunicado final diz que os dois presidentes “manifestaram interesse em examinar sinergias” em investimentos, incluindo a “Iniciativa do Cinturão e da Rota”.
Criado pelo ditador chinês em seu primeiro ano no poder, em 2013, o plano investiu cerca de US$ 1 trilhão em 147 países, segundo levantamento do Council on Foreign Relations. O programa é tão opaco que não há informações oficiais precisas sobre ele.
A estratégia é vertebrar o mundo com infraestrutura que facilite o escoamento de alimentos, minérios e energia para a China, cobrando juros altos que, se não forem pagos, resultam na absorção do ativo pelo governo chinês. Para as autocracias da África e da Ásia, os contratos têm as vantagens de não incluir governança contábil nem ambiental.
Comércio e investimentos entre Brasil e China andam sozinhos. No governo de Jair Bolsonaro, que tinha relação ruim com a China e atravessou a pandemia, o comércio bilateral cresceu 52% e os investimentos chineses, 79%. O Brasil já é o maior destino de investimentos da China, com 13,6%. Intensificar essas relações é correr o risco de ir da interdependência para a dependência assimétrica.
Em seu discurso na posse de Dilma Rousseff na presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (o “Banco dos Brics”), Lula disse que “todas as noites” se pergunta por que as transações entre os países têm de passar pelo dólar. O comunicado final cita que os dois concordaram em “fortalecer o comércio em moedas locais”.
O Banco Central chinês não é independente, e o governo pode desvalorizar a moeda quando quiser, como já fez várias vezes, para baratear as exportações ou as dívidas públicas. O valor dessa parte das reservas brasileiras ficará sujeito às canetadas de Xi.
Lula visitou a fabricante de equipamentos de telefonia Huawei, que perdeu 69% de lucro líquido no ano passado porque foi excluída de contratos em países como EUA, Canadá, Reino Unido, Itália, Austrália e Nova Zelândia, e a Alemanha estuda fazer o mesmo. Mesmo que ignore as advertências desses países sobre os riscos de segurança no uso de seus equipamentos, o Brasil pode ser prejudicado pela ruptura da cadeia de fornecedores da empresa, causada pelas sanções americanas.
Nos temas da invasão da Ucrânia pela Rússia e hostilidades da China contra Taiwan, Lula abraçou as posições chinesas, que na prática violam a soberania dos países.
"Lourival Santanna é o melhor analista internacional disponivel no Brasil." https://www.estadao.com.br/internacional/lourival-santanna/lula-na-china-fez-declaracoes-e-compromissos-que-ferem-interesses-nacionais-leia-a-coluna/
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O dia em que brasileiros pediram ajuda aos Estados
Unidos para barrar um golpe de Bolsonaro
João Paulo Charleaux
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Um grupo de mais ou menos vinte brasileiros viajou aos Estados Unidos em julho de
2022 para convencer o governo americano a impedir que o então presidente, Jair
Bolsonaro, desse um golpe de Estado no Brasil. A comitiva desembarcou em
Washington no dia 24 de julho. Ao longo de seis dias, foi recebida a portas fechadas pelo
Departamento de Estado e por sete parlamentares do Partido Democrata, incluindo um
dos membros da comissão parlamentar que investigava a invasão ao Capitólio, ocorrida
em 6 de janeiro de 2021, e que, naquele momento, buscava conexões entre as
armações antidemocráticas de membros das famílias Trump e Bolsonaro.
A ideia era mostrar ao governo dos Estados Unidos que Bolsonaro tinha a intenção de
empastelar as eleições presidenciais de outubro daquele ano e já dispunha dos meios
para alcançar esse fim. A mensagem era de que, em Brasília, políticos de extrema direita
contavam com o apoio das Forças Armadas, das forças policiais e de um número
crescente de civis que tinham se armado para pôr abaixo a democracia no maior país da
América do Sul. Os membros da comitiva queriam uma chance de explicar cara a cara
aos americanos que o Brasil, sozinho, não tinha capacidade de conter aquele golpe, e só
uma pressão internacional contundente poderia impedir que o pior acontecesse na reta
final da disputa eleitoral.
O tempo era curto. No momento em que a comitiva brasileira pôs os pés em Washington,
faltavam 70 dias para o primeiro turno. A agenda era difícil, porque pressupunha que
autoridades oficiais do governo americano, como os membros do Departamento de Estado, abririam as portas para um grupo de brasileiros que não estava revestido de
nenhum cargo diplomático e governamental, ou mesmo de um mandato público. Eram
apenas líderes de organizações da sociedade civil.
No dia marcado, 26 de julho, às oito da manhã, a comitiva saiu do Hotel State Plaza e
cobriu a pé as três ou quatro quadras até um dos edifícios do Departamento de Estado,
em Washington. Do lado de dentro do prédio, o encontro aconteceu com membros do
Brazil Desk – nome dado aos diplomatas e outros burocratas americanos responsáveis
pelas relações com o Brasil –, além de membros dos departamentos de Assuntos
Multilaterais, Direitos Humanos, Organismos Internacionais e Hemisfério Ocidental, que
também se perfilaram à mesa para ouvir a comitiva.
Até a reunião ter início, alguns colegas jornalistas brasileiros receberam com
desconfiança a informação de que aquela agenda ambiciosa de fato seria cumprida. Eles
tinham razão para desconfiar. Afinal, foi mantido segredo sobre alguns dos nomes dos
interlocutores e sobre parte dos locais dos encontros, fazendo tudo parecer
excessivamente misterioso ou simplesmente pouco crível nessa agenda. Mas o mistério
tinha uma razão de ser: os organizadores da comitiva temiam que o embaixador do
Brasil nos Estados Unidos, Nestor Forster, um conhecido militante bolsonarista,
contactasse uma a uma as autoridades que tinham manifestado interesse em receber o
grupo brasileiro, com o intuito de demovê-las da ideia às vésperas desses encontros.
Forster era conhecido em Washington por desacreditar organizações brasileiras tidas por
Bolsonaro como inimigas.
Mas a comitiva conseguiu passar por baixo do radar do Itamaraty – ou pelo menos dos
setores bolsonaristas que tinham se incrustado na estrutura da política externa brasileira
– para cumprir aquela agenda. Uma vez abertas as portas e iniciados os encontros, ficou
claro que havia um grande desafio a cumprir: era preciso redobrar as manifestações
americanas em defesa da democracia do Brasil e fazer com que essas declarações
tivessem de fato poder dissuasório sobre os golpistas. Ou seja, fazer com que o governo
americano vociferasse ameaças críveis de retaliação caso o resultado das eleições fosse
desrespeitado no Brasil.
Se você perguntasse àquela altura à diplomacia americana quantas vezes ela tinha
saído em defesa da democracia no Brasil, durante os anos Bolsonaro, os funcionários te
enviariam oito links contendo transcrições de declarações públicas feitas por diferentes
autoridades do governo dos EUA. Se você pedisse um comentário adicional, eles diriam
não ter nada a acrescentar.
A primeira dessas manifestações públicas tinha ocorrido ainda em 9 de agosto de 2021 –
portanto, quase um ano antes da visita dessa comitiva a Washington. Naquela data, Juan
Gonzalez, um americano nascido em Cartagena, na Colômbia, que, no governo Biden,
assumiu o posto de diretor sênior para o Hemisfério Ocidental no Conselho de
Segurança Nacional dos Estados Unidos, apareceu usando pela primeira vez uma
formulação de frase que seria repetida à exaustão nos meses seguintes: fulano
expressa, manifesta ou reitera a “confiança no sistema eleitoral brasileiro”.
O governo Biden temia que a invasão ao Capitólio, ocorrida em Washington, em 6 de
janeiro de 2021, se repetisse no Brasil; o que, de fato, acabaria ocorrendo em 8 de
janeiro de 2023. A preocupação com a erosão da democracia era tão grande que, antes
de completar seu primeiro ano na Casa Branca, Biden promoveu uma Cúpula pela
Democracia, com a participação de mais de cem países, incluindo o Brasil de Bolsonaro.
Por causa da pandemia, o encontro foi virtual. O presidente brasileiro mandou um recado
por vídeo repleto de generalidades sobre um tema pelo qual ele demonstrou, demonstra
e viria a demonstrar reiteradas vezes ter desprezo.
Da primeira declaração de Gonzalez, em agosto de 2021, até o primeiro encontro
pessoal entre Biden e Bolsonaro, em Los Angeles, na Cúpula das Américas, em 9 de
junho de 2022, passou-se quase um ano sem que os EUA fizessem qualquer nova
declaração pública mais contundente em relação ao risco de um golpe no Brasil. Depois
desses meses de banho-maria, o então presidente brasileiro parece ter se sentido
seguro o bastante para tentar seu lance mais audaz até então: no dia 7 de julho de 2022,
um mês depois de ter sido recebido por Biden em Los Angeles, Bolsonaro anunciou que
reuniria dentro do Palácio da Alvorada, em Brasília, todas as representações
diplomáticas estrangeiras para denunciar ao mundo alguma coisa bombástica sobre o
sistema eleitoral brasileiro. “Será um convite a todos eles”, disse Bolsonaro referindo-se
ao corpo diplomático internacional. “O assunto será um PowerPoint, nada pessoal meu,
para nós mostrarmos tudo que aconteceu nas eleições de 2014, 2018, documentado,
bem como essas participações dos nossos ministros do TSE [Tribunal Superior Eleitoral],
que são do Supremo, sobre o sistema eleitoral”, anunciou o então presidente, com a
habitual falta de clareza com a qual tornou conhecidos seus pronunciamentos.
A reunião com os embaixadores ocorreu no dia 18 de julho de 2022. Mais ou menos
quarenta diplomatas estiveram presentes, num anúncio explícito de que, se Lula
ganhasse, não tomaria posse. Ninguém sabia de que forma Bolsonaro implementaria o
golpe que estava anunciando ao mundo, mas já não havia dúvidas de que esse golpe
viria. No dia seguinte, a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil divulgou um
comunicado no qual afirmou que “as eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo
do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para
as nações do hemisfério e do mundo”. Era uma resposta clara, agressiva e imediata às
ameaças de Bolsonaro.
Foi uma semana depois dessa reunião de Bolsonaro com os embaixadores que a
comitiva da sociedade civil brasileira se sentou à mesa com o pessoal do Departamento
de Estado, em Washington. Nos Estados Unidos o Departamento de Estado é o
responsável pela condução institucional da política externa americana, equivalente ao
Itamaraty. Mas, ao contrário do que ocorre no Brasil, o Congresso americano tem um
peso enorme na formulação e na condução da agenda de política externa. E os
parlamentares que têm assento nas comissões de política externa da Câmara e do
Senado têm conexões fortes e constantes com suas bases eleitorais. No caso da
América Latina, esse lobby vem forte da parte dos cubanos que vivem na Flórida, por exemplo. Colombianos, mexicanos e venezuelanos também são atuantes. Mas os
brasileiros exercem pouco esse papel. A comitiva brasileira quis, de maneira algo
quixotesca, compensar de forma episódica essa falta de lobby constante.
Depois da primeira investida no Departamento de Estado, o grupo passou a se encontrar
com os parlamentares num Capitólio ainda simbolicamente fumegante depois da invasão
trumpista. Os brasileiros se sentaram numa sala de um dos anexos do Capitólio e
esperaram em silêncio pela chegada do personagem mais influente naquela história
toda. Jamie Raskin era um democrata que estava na crista da onda, participando de
todos os noticiários e talk shows noturnos. Ele integrava a comissão parlamentar de
investigação do 6/1, como ficou conhecida a invasão ao Capitólio.
Raskin entrou na sala ladeado por um grupo de assessores. O deputado tem uma testa
larga encimada por uma cabeleira negra e ondulada, puxada para trás – um traço extinto
hoje pela luta que trava contra um câncer. Na hora em que Raskin entrou na sala, tive a
impressão de estar diante de um palhaço de algum circo antigo, um clown sem
maquiagem, no sentido das linhas de expressão do rosto e do jeito serelepe de se
mover, como quem domina a cena e chama para si, naturalmente, o rufar dos tambores.
Todos se sentaram ao redor de uma longa mesa. Raskin ficou de pé. O deputado
posicionou-se atrás da cadeira reservada para si e apoiou os braços no espaldar alto.
Enquanto ouvia os brasileiros se apresentando, um depois do outro, ele ficava
empinando a cadeira, num jogo distraído de balanço, para frente e para trás. A atitude
me pareceu excessivamente informal, o que costuma acontecer com pessoas que,
quando encontram brasileiros, acham que estão lidando com gente que vive numa
eterna escola de samba. A impressão foi confirmada por um comentário qualquer feito
por Raskin a respeito de o segurança dele querer um Brasil estável porque era
naturalmente destino de suas férias de fim de ano. Os assessores riram. Os membros da
comitiva, nem tanto.
Há um jogo combinado nessas situações: o deputado ou senador finge prestar toda a
atenção do mundo no que está sendo dito, mas, em algum momento, quando a conversa
começa a ficar enfadonha, algum assessor irrompe na sala e diz que vai começar uma
votação importantíssima no plenário. O congressista sai fora e deixa um ajudante –
pessoa, claro, da maior confiança e competência, alguém sobre quem se possa dizer
que “falar com ele é o mesmo que falar comigo. Sinto muito. O dia a dia aqui no
Congresso tem dessas coisas. Vocês vão me desculpando. Mas fiquem à vontade” e
zaz, vai embora.
Raskin tinha preparado a cena, como indicava o fato de sequer ter se sentado. O que ele
não esperava é que Anielle Franco, uma das pessoas que faziam parte da comitiva
brasileira, estaria contando a ele sobre como a irmã dela, Marielle Franco, tinha sido
morta a tiros junto com o motorista, Anderson Gomes, em março de 2018, na mesma Rio
de Janeiro para a qual o segurança risonho do deputado queria viajar.
Como esperado, o assessor irrompeu no salão na hora H, abrindo com pressa as
pesadas portas de madeira que vão do chão ao teto, e começou a dizer algo como:
“deputado, vai começar a votação em plenário”, mas Raskin parece ter mudado a cena
e, como um clown acrobático e habilidoso, improvisou ali mesmo todo o script de sua
escapada. Ele fez um gesto com as mãos, sinalizando ao assessor que não iria sair dali
por nada, pois estava vidrado no relato de Anielle sobre a violência das milícias
fluminenses contra alguém que, como ele, era uma parlamentar. A comitiva tinha fisgado
a atenção do deputado.
O segundo ato não tardou. Alguém no grupo citou de passagem que Eduardo Bolsonaro
desembarcou em Washington dois dias antes da invasão ao Capitólio. Raskin
aparentemente nunca tinha ouvido essa informação. Ele olhou para um dos assessores,
como se perguntasse: “Como não sabemos disso? Do que se trata? Como assim?” O
deputado mostrou-se interessado em saber quais as ligações entre Trump e de seu exassessor de campanha Steve Bannon com a família Bolsonaro. Ninguém soube dar
detalhes sobre essas ligações, porque esses detalhes não são conhecidos. O filho do
presidente chegou a Washington e esteve na Casa Branca às vésperas do 6/1, mas não
se sabe ao certo o que ele pode ter feito por lá, além de encontrar, falar e ouvir. Uma
jornalista brasileira que cobre o Congresso americano e estava presente nessa reunião
deu um passo à frente e começou a brifar Raskin e seus assessores sobre esses fatos.
“Nós precisamos investigar isso”, ele respondeu.
A declaração de Raskin foi mal interpretada no Brasil. O integrante da CPI do Capitólio
estava dizendo que queria investigar de que forma Trump e Bannon podiam estar
exportando o know-how golpista americano. Raskin não tinha poderes para investigar um
cidadão brasileiro em sua CPI, ainda mais esse cidadão sendo o presidente de um outro
país ou o filho do presidente. Mas foi inútil tentar aclarar, pois em poucos minutos todos
os portais brasileiros traziam a notícia de que a Câmara dos EUA queria incluir Eduardo
Bolsonaro nas investigações sobre o ataque ao Capitólio, o que, claro, não aconteceu.
Terminada a reunião, eu conversei com Raskin no corredor. E ele me disse o seguinte:
“Esta reunião foi muito educativa e deixou claro que as forças democráticas do Brasil
temem que algo similar ao que aconteceu em 6 de janeiro de 2021 nos EUA se repita em
seu próprio país. Por isso estão em contato com partidos políticos, movimentos e
cidadãos do mundo todo para que se unam a eles em defesa da democracia
constitucional e das eleições.”
Algo semelhante foi dito pelo senador Bernie Sanders, uma espécie de Pepe Mujica
americano, no que diz respeito à mescla de idade, militantismo e vibração jovial com as
causas que fazem a cabeça das esquerdas latino-americanas. Sanders deu enorme
espaço e atenção aos membros da comitiva. “O que eu ouvi, infelizmente, soa muito
familiar para mim, por causa dos esforços de Trump e de seus amigos para minar a
democracia americana. Não estou surpreso que Bolsonaro esteja tentando fazer o
mesmo no Brasil. Esperamos muito que o resultado das eleições seja reconhecido e
respeitado, e que a democracia prevaleça, de fato, no Brasil”, disse já no corredor.
A agenda se estendeu para muito além disso. Houve visitas ainda aos deputados Hank
Johnson, Mark Takano e Sheila Cherfilus McCormick. A comitiva teve reuniões ainda
com assessores dos senadores Patrick Leahy, presidente do Senado, e Ben Cardin,
além de alguns embaixadores de países-membros da OEA (Organização dos Estados
Americanos), que pediram para não serem identificados, e também pela CIDH
(Comissão Interamericana de Direitos Humanos) – estes dois últimos seriam atores
decisivos caso houvesse qualquer impasse na apuração dos votos e os relatórios dos
observadores internacionais fizessem o caso parar na OEA, em Washington.
Um aspecto curioso é o de que o grupo de peticionários brasileiros era formado apenas
por representantes de organizações da sociedade civil. Não eram embaixadores,
doutores ou deputados, mas líderes de organizações não governamentais ligadas aos
indígenas, aos movimentos negros, além de feministas e pessoas dedicadas à defesa
mais abrangente dos direitos humanos, da democracia e da liberdade de expressão –
em suma, o grupo era formado pelo que, no violento jogo de dardos do bolsonarismo,
corresponderia ao centro do alvo.
Ao todo, foram reunidas para a viagem dezenove organizações desse tipo, como os
institutos Marielle Franco, Vladimir Herzog e da Mulher Negra, a Comissão Arns e o
Pacto pela Democracia, além de siglas ligadas às quilombolas, às lésbicas, aos gays,
bissexuais, travestis, transexuais e intersexos. A maior parte dos membros eram jovens
mulheres – algumas delas, indígenas; outras, negras – que figuravam como estrelas
ascendentes da pauta identitária que tem marcado as agendas das esquerdas não só no
Brasil, mas nos EUA também. Essas organizações são mantidas e incentivadas por
aportes vindos de uma mescla de financiadores estrangeiros tradicionais, como a Open
Society Foundations, do magnata George Soros, e por fundos formados por abastadas
famílias brasileiras que simpatizam com essas causas, sendo o Galo da Manhã, que hoje
administra a filantropia da família Bracher, um dos principais financiadores brasileiros do
setor.
A articulação da viagem foi assumida por uma organização chamada WBO (Washington
Brazil Office), um “think tank” que mistura pesquisa, produção de informação e lobby
político, e sobrevive de recursos de origem semelhante à das demais organizações. O
WBO teve um parto lento: começou a ser gestado em 2020, foi constituído formalmente
em 2021 e teve seu lançamento público em 2022. A organização nasceu para fazer a
ponte entre esses movimentos brasileiros e os interlocutores em Washington, sendo
comandado por duas figuras: o brasileiro Paulo Abrão e o americano James Naylor
Green. Abrão foi secretário nacional de Justiça da presidente Dilma Rousseff, além de ter
sido secretário executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA
(Organização dos Estados Americanos), em Washington. Green é filho de uma engajada
família quaker de Baltimore, que militou contra a ditadura brasileira nos anos 1970 e
1980, antes de tornar-se um dos mais prestigiados brasilianistas americanos, professor
na Universidade Brown e autor de diversos livros influentes sobre política, história e
cultura brasileira. Embora seja um militante aguerrido do movimento gay, Green chegou a ser tomado pelo colunismo político-social brasileiro como amante de Dilma por tê-la
acompanhado em passeios por Nova York em 2017, quando ela viajou aos EUA para dar
palestras e espairecer do golpe baixo sofrido no ano anterior.
O meio-campo da comitiva levada a Washington pelo WBO era formado por figuras mais
ou menos anônimas. Mas, pelas laterais do grupo, avançavam conhecidos ex-membros
de governos petistas – além de Abrão, faziam parte da comitiva Rogério Sottili, diretorexecutivo do Instituto Vladimir Herzog, que tinha sido secretário de direitos humanos de
Dilma e assessor especial da Casa Civil do governo Lula, e Paulo Vannuchi, membro da
Comissão Arns que foi ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos do governo
Lula. O trio formado por Abrão, Sottili e Vannuchi se enquadraria no que as novas
esquerdas resumiriam como “homens brancos velhos e influentes” do setor. Eles
emprestaram credibilidade ao lobby pela democracia em Washington, mas souberam dar
palco e passagem à nova geração, mais bem talhada para o figurino em voga.
A mescla dos perfis dos membros da comitiva era a seguinte: os mais velhos já tinham
feito parte de governos petistas no passado. Os mais novos tinham uma ambição latente
de vir a ocupar cargos públicos num eventual governo Lula, no futuro. A comitiva refletia,
portanto, essa tensão que as esquerdas vivem, tendo de um lado um setor mais
tradicional, formado principalmente por homens brancos de sólida carreira acadêmica e
militância política, com origem no movimento sindical ou na luta contra a ditadura e pela
transição democrática; e, de outro, jovens ligadas às questões de gênero e de raça, às
pautas indígenas e de meio ambiente, às causas das novas esquerdas, chamadas
frequentemente de “identitárias”. Na ala antiga, estavam homens como Sottili e Vannuchi.
Na ala nova, mulheres como Sheila de Carvalho e Anielle Franco – a primeira foi a
Washington representando o Instituto de Referência Negra Peregum e o grupo de
advogados denominado Prerrogativas, ou simplesmente Prerrô, que se tornou mais
conhecido por questionar juridicamente a prisão de Lula na Operação Lava Jato. A
segunda viajou representando o Instituto Marielle Franco. Mais tarde, terminada a
viagem da comitiva, debelado o golpe e sacramentada a vitória de Lula, Carvalho seria
nomeada assessora especial do ministro da Justiça, Flávio Dino, e Anielle se tornaria
ministra da Igualdade Racial.
Com tantos ex e futuros membros de governos petistas, tornava-se difícil explicar que
aquela não era uma comitiva que tinha ido a Washington para militar em causa própria.
Esse era, então, o primeiro desafio: deixar claro que, embora os membros da comitiva
tivessem um lado ideológico e até, em alguns casos, um lado partidário, o objetivo da
visita não era defender Lula, mas o processo eleitoral como tal, que, se respeitado
cabalmente, provavelmente resultaria num terceiro mandato do líder petista, conforme as
pesquisas indicavam. De forma simples, o pedido era para que os interlocutores
americanos reconhecessem o resultado da eleição de outubro tão logo ele fosse
anunciado, fosse quem fosse o vencedor, para evitar que, nas primeiras horas após a
apuração, Bolsonaro e seus seguidores tentassem de alguma forma virar a mesa à força.
Afastar as suspeitas de partidarismo era só um dos desafios. O outro era debelar uma
contradição implícita: aquele era um grupo de pessoas de esquerda que estava indo
pedir ao governo dos EUA que tomasse uma atitude em relação à dinâmica da política
interna do Brasil. O antecedente não era nada bom porque, no Brasil, ainda ecoava com
força o papel nefasto que os americanos tinham desempenhado em 1964, quando deram
apoio ao golpe que engendrou uma ditadura de 21 anos.
Entre 1964 e 2022, muita coisa havia mudado nas relações entre os dois países. Mas,
entre as coisas que permaneciam inalteradas, a desconfiança da esquerda brasileira em
relação ao governo americano era uma das principais. Não havia muito espaço no dito
setor progressista brasileiro para varrer para debaixo do tapete o passivo da Guerra Fria.
Cinquenta e oito anos antes da visita dessa comitiva a Washington, os EUA tinham
penhorado apoio ao golpe que depôs João Goulart no Brasil. A chamada Operação
Brother Sam consistia em sinalizar aos militares golpistas brasileiros que eles teriam
apoio de forças americanas, caso encontrassem resistência inesperada de parte de
tropas leais a Jango, em março de 1964. A Marinha dos EUA planejava, naquela época,
deslocar do Caribe para a costa brasileira uma porção de navios. No fim, nada disso foi
necessário. Como se sabe hoje, não houve resistência ao golpe. O apoio militar
americano limitou-se, naquele momento, a dar respaldo, a mostrar que a maior potência
do mundo estava do lado dos golpistas, contra Jango e contra a esquerda brasileira.
Poucos membros da comitiva de julho de 2022 gostariam de ver as coisas postas dessa
forma, mas o fato é que aquele era um grupo de esquerdistas brasileiros indo a
Washington pedir que os EUA tomassem alguma atitude em relação aos rumos da
política interna do Brasil. Num certo sentido, era uma Operação Brother Sam ao contrário
só que, dessa vez, com os americanos se colocando ao lado da democracia.
A verdade é que a comitiva até tinha membros petistas e lulistas, mas ela não era uma
panfletagem por um e por outro. Ela também pedia ajuda ao governo americano, mas
não era um convite à intervenção. Essas duas nuances eram importantes do lado
brasileiro da história. Do lado americano, o problema estava no fato de que todos os
deputados e senadores contactados pela comitiva eram membros do Partido Democrata,
o que poderia fazer parecer que tudo não passava de uma grande ação entre amigos
esquerdistas.
Para diluir o peso do Partido Democrata naquilo tudo, tentou-se até incluir a deputada
republicana Liz Cheney como interlocutora. Liz é uma combativa política conservadora
nascida num ninho de falcões em Madison, capital do estado de Wisconsin. O pai dela é
Dick Cheney, um dos arquitetos da Guerra do Iraque, que foi ministro da Defesa de
George Bush e vice-presidente de George W. Bush. Naquele momento, Liz figurava
como um dos maiores desafetos de Donald Trump, por ter criticado duramente a
campanha golpista do ex-presidente americano. Ela passou a liderar a dissidência a
Trump no campo republicano, e foi nessa condição que assumiu o cargo de vicepresidente da comissão que investigava a invasão ao Capitólio de 6 de janeiro. Tentouse uma aproximação da comitiva com Liz, mas o convite não prosperou.
(Incluir Liz Cheney na agenda foi a primeira sugestão que me lembro de ter feito a Paulo
Abrão quando ele me convidou para embarcar nessa comitiva como assessor de
imprensa do WBO.)
O resultado mais visível de todo esse périplo foi uma série de iniciativas parlamentares –
cartas, moções, declarações, manifestações com os mais diversos nomes – nas quais a
Câmara e o Senado dos EUA pediam que o presidente Joe Biden pressionasse
Bolsonaro para que ele não desse um golpe. A carta mais contundente nesse sentido foi
assinada por 39 parlamentares e pediu que Biden deixasse “inequivocamente claro para
o presidente Bolsonaro, seu governo e as forças de segurança que o Brasil se
encontrará isolado dos EUA e da comunidade internacional de democracias caso haja
tentativas de subverter o processo eleitoral do país”.
Esse foi o tamanho da pressão pública americana nos campos legislativo, diplomático e
midiático. Já no campo militar, é difícil saber quantas e quais mensagens foram dadas, e
de que forma. O fato mais contundente nessa área foi a vinda de Jake Sullivan,
conselheiro de segurança nacional dos EUA, a Brasília, no dia 5 de agosto de 2022. Não
há muita informação pública sobre o conteúdo das conversas, mas a lista de autoridades
bolsonaristas visitadas por Sullivan na ocasião dá uma boa medida dos interesses
discutidos. Além de Bolsonaro, o conselheiro de segurança da Casa Branca esteve com
o almirante Flávio Rocha, então secretário especial de Assuntos Estratégicos do governo
brasileiro; Walter Braga Netto, secretário da Defesa; Augusto Heleno, ministro-chefe do
Gabinete de Segurança Institucional; e Hamilton Mourão, vice-presidente da República.
Tudo isso, tendo a tiracolo o mesmo Gonzalez que havia sido responsável pela primeira
manifestação pública dos EUA sobre a confiabilidade das urnas, em 9 de agosto de
2021.
Já empossado presidente, Lula foi a Washington em 9 de fevereiro, onde foi recebido por
Biden e por parlamentares como Sanders, que meses antes tinham se engajado de
corpo inteiro na pressão internacional pelo respeito ao resultado das eleições. As
organizações que participaram da comitiva da sociedade civil até tentaram incluir na
agenda de Lula algum encontro, qualquer evento ou menção mais formal a todo o
esforço que havia sido feito em julho de 2022. Mas aquele já não era o Lula candidato,
mas um presidente revestido de formalidades e de interesses muito vinculados ao
protocolo do Itamaraty e às pressões dos demais ministros de seu gabinete.
Do lado das organizações, correu uma brisa de ressentimento, do tipo: “agora
empossado, ele não pode se esquecer de nós, da sociedade civil, sob risco de tomar um
golpe, que nem a Dilma”. Coisas assim. Mas foram murmúrios. Muita gente que militava
nesses movimentos sociais conseguiu ou viria a conseguir cargos no governo. Tudo se
assentou, de uma forma ou de outra. E agora, passado o pior, a esquerda brasileira terá
pelo menos quatro anos para se decidir sobre o que foi tudo isso: uma revisão, uma
reciclagem, um amadurecimento, um olhar mais aberto às nuances do papel que os EUA
desempenharam no passado e desempenham hoje em relação ao Brasil, às esquerdas latino-americanas? Ou um soluço pontual numa longa história indigesta e imutável? O
registro dos fatos ocorridos em Washington em julho de 2022 talvez possam oferecer
elementos novos para quem se propõe a interpretar essa história.
João Paulo Charleaux
É jornalista, com reportagens publicadas em Nexo, O Globo, Estadão e Folha. Lançou
em 2022 o livro Ser Estrangeiro: Migração, Asilo e Refúgio ao Longo da História, pela
Companhia das Letras.
piauí
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segunda-feira, 17 de abril de 2023
Opinião do dia – Karl Marx*
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se a si e às coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, gritos de guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada.”
*Karl Marx (1818-1883). “O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852”, p.7. Os Pensadores, Marx, v. II. Editora Nova Cultura /Abril, 1988.
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Sem combinar com os russos - 04/04/2021 - Ruy Castro - Folha
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segunda-feira, dezembro 12, 2016
Combinar com os russos - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 12/12
RIO DE JANEIRO - Diz a lenda que, pouco antes do jogo Brasil x URSS pela Copa do Mundo de 1958, na Suécia, Vicente Feola, o treinador brasileiro, reuniu seus jogadores no vestiário e traçou a estratégia que, com a bola de pé em pé pelo nosso ataque no meio da defesa russa, levaria ao primeiro gol do Brasil. Não tinha erro — a jogada era mortal. De repente, Garrincha perguntou a Feola: "Mas o senhor já combinou com os russos?".
Desde então, estabeleceu-se que, antes de qualquer decisão importante, não importa o assunto, é bom primeiro combinar com os russos. Mesmo assim, é raro o dia em que alguém por aqui não se dê mal justamente por isto – por não ter combinado com os russos.
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, decidiu pelo afastamento do senador Renan Calheiros da presidência do Senado e, horas depois, teve o desprazer de ver sua medida derrubada pelo plenário do STF. Ele não combinou com os russos — digo, seus colegas. Na sequência, o presidente Michel Temer nomeou o tucano Antonio Imbassahy para a Secretaria de Governo, no lugar do solerte Geddel Vieira Lima, e teve de recuar os alfes ao ver sua decisão mal recebida pelo grupo político que o apoia. Não foi surpresa – Temer nunca se lembra de combinar com os russos.
A expressão é boa, mas a história de Garrincha não aconteceu e ele nunca disse a frase. Para meu livro "Estrela Solitária", sobre a vida do jogador, conversei com quatro pessoas presentes naquele vestiário em 1958: o preparador físico Paulo Amaral e os jogadores Bellini, Didi e Nilton Santos. Todos me disseram que Garrincha sequer foi chamado a ouvir a preleção — porque não adiantava, só fazia o que lhe dava na cabeça.
O que não quer dizer que, na vida real, não se deva combinar com os russos. A menos, claro, que você seja o Garrincha.
Postado por PERCA TEMPO - O BLOG DO MURILO
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OPINIÃO
08 de abril de 2021
Sem combinar com os russos
Por Ruy Castro
“Não adianta, Ruy. A gente escreve, mas ninguém toma providências”. Era o que me dizia, entre sério e rindo, Carlos Heitor Cony. Referia-se às lendas que se tornam fato e, mesmo que os historiadores as desmintam, elas voltam à tona e à circulação. Uma delas, aquela sobre Garrincha e os russos.
A poucos minutos do jogo Brasil x URSS pela Copa de 1958, o treinador Vicente Feola deu as últimas instruções: “Garrincha, você recebe a bola e dribla o lateral russo. O quarto-zagueiro virá na cobertura e você o dribla também. Já na linha de fundo, cruze para a área onde Vavá estará livre, porque o zagueiro central terá saído para cobrir o quarto-zagueiro”. Garrincha ouviu e disse: “Tá bem, seu Feola. Mas o senhor combinou com os russos?”
Em meu livro “Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha”, de 1995, ignorei de propósito essa história. Tinha boas razões para isso. Perguntara ao preparador físico da seleção, Paulo Amaral, e aos jogadores Gilmar, Bellini, Orlando, Didi e Nilton Santos. Todas estavam naquela preleção. E nenhum escutou o diálogo.
Mas acabo de saber agora que, um dia, ele aconteceu. Só que não com Garrincha. E sim com Pipi, ponta-esquerda do Corinthians, em 1946. A cena é a mesma. Antes de um jogo, o treinador José Foquer instruiu-o: “Pipi, ao receber a bola caia para a direita e desloque seu marcador. O zagueiro virá em cima de você. Ou você o dribla e chuta a gol, ou passa ao melhor colocado”. E por aí foi até que Pipi, considerado craque e grande gozador, perguntou-lhe: “Foquer, você conversou com eles pra me deixarem fazer isso?”.
A fonte dessa versão foi Domingos da Guia, glória do futebol e companheiro de Pipi no Corinthians naquele ano. Ele a contou numa crônica para a Última Hora, de 2 de julho de 1957, que Marcelo Dunlop, implacável historiador do Flamengo e do futebol, descobriu e, sem combinar com os russos, me enviou.
https://correiodamanha.com.br/opiniao/6035-sem-combinar-com-os-russos
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Luz
Djavan
No burro a canga
Na menina a tanga
O verde do mar é um
Verde num tom quase azul
Do infinito ao zoom
Marelou
Candomblé oxum
Zamburar pra tirar egum
O que não se vê
Tá aí
Como tudo o que há
Minha fé riu-se de mim
Pelo quanto triste
Eu falei de dor
Como se no fundo
Da dor
Não vivesse a paixão
Mal-me-quer
A vida segue seu lamento
Um tanto flor
Um leito de rio
No cio
Um cheiro de amor
É amor
Quando não diz
É fogo por um triz
Um trem entrou
No meu eu
E divagou feliz
E na dor
Eu passo um giz
Arco-irisando a solidão
Na lição
Que o sol me traduz
Viver da própria luz
Composição: Djavan.
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Elza Soares - O Que Se Cala (Áudio Oficial)
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O QUE SE CALA
(Douglas Germano)
Mil nações moldaram minha cara
Minha voz, uso para dizer o que se cala
Ser feliz no vão, no triz é força que me embala
O meu país é meu lugar de fala!
Pra que separar?
Pra que desunir?
Por que só gritar?
Por que nunca ouvir?
Pra que enganar?
Pra que reprimir?
Por que humilhar?
E tanto mentir?
Pra que negar
Que o ódio é que te abala?
O Meu país é meu lugar de fala!
Pra que explorar?
Pra que destruir?
Por que obrigar?
Por que coagir?
Pra que abusar?
Pra que iludir?
E violentar?
Pra nos oprimir?
Pra que sujar o chão da própria sala?
Nosso país, nosso lugar de fala
Kiko Dinucci – Guitarra, Synth e Sampler
Rodrigo Campos – Guitarra
Marcelo Cabral – Bass Synth
Guilherme Kastrup – Bateria
Mariá Portugal – Bateria
Os Capoeira - Percussões:
Mestre Dalua – Conga e Tamborim
Felipe Roseno – Sabbath e Tamborim
Cauê Silva – Atabaque e Tamborim
Naipe Bixiga 70 – Sopros:
Cuca Ferreira – Sax Barítono
Daniel Nougueira – Sax Tenor
Daniel Gralha – Trumpet
Doug Bone – Trombone
Arranjo de base: Kiko Dinucci, Rodrigo Campos, Marcelo Cabral, Mariá Portugal e Kastrup
Arranjo de percussão: Os Capueira
Arranjo de metais: Bixiga 70
ELZA SOARES
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As Alvarengas | Joaquim Cardozo
"Tous les chemins vont vers la ville”
Verhaeren
As alvarengas!
Ei-las que vão e vem; outras paradas,
Imóveis. O ar silêncio. Azul céu, suavemente.
Na tarde sombra o velho cais do Apolo.
O sol das cinco ascende um farol no zimbório
Da Assembléia.
As alvarengas!
Madalena. Deus te guie, flor de Zongue.
Negros curvando os dorsos nus
Impelem-nas ligeiras.
Vem de longe, dos campos saqueados.
Onde é tenaz a luta entre o Homem e a Terra.
Trazendo, nos bojos negros.
Para a cidade.
A ignota riqueza que o solo vencido abandona.
O latente rumor das florestas despedaçadas.
A cidade voragem.
É o Moloch, é o abismo, é a caldeira...
Além, pelo ar distante e sobre as casas.
As chaminés fumegam e o vento alonga.
O passo de parafuso.
E lentas.
Vão seguindo, negras, jogando, cansadas;
E seguindo-as também, em curvas n’água propagadas.
A dor da terra, o clamor das raízes.
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