domingo, 9 de abril de 2023

DESERÇÃO

Abandono do serviço militar, sem licença, permanecendo por um tempo superior ao previsto; crime de deserção. ***
*** Significado de Deserção substantivo feminino ************************************* *** ☀️”Salve Capinan!“🎶🎶🎶 *** *** Positivismo Noel Rosa *** A verdade, meu amor, mora num poço É Pilatos lá na Bíblia quem nos diz Que também faleceu por ter pescoço O autor da guilhotina de Paris A verdade, meu amor, mora num poço É Pilatos lá na Bíblia quem nos diz Que também faleceu por ter pescoço O infeliz autor da guilhotina de Paris Vai, orgulhosa, querida Mas aceita esta lição: No câmbio incerto da vida A libra sempre é o coração O amor vem por princípio, a ordem por base O progresso é que deve vir por fim Desprezaste esta lei de Augusto Comte E foste ser feliz longe de mim O amor vem por princípio, a ordem por base O progresso é que deve vir por fim Desprezaste esta lei de Augusto Comte E foste ser feliz longe de mim Vai, coração que não vibra Com teu juro exorbitante Transformar mais outra libra Em dívida flutuante A intriga nasce num café pequeno Que se toma pra ver quem vai pagar Para não sentir mais o teu veneno Foi que eu já resolvi me envenenar Composição: Noel Rosa / Orestes Barbosa. **********************************************************
*** POSITIVISMO *** Calcule quantos termos tem essa Progressão (2, 4, 8, ..., 2048) *** PROFESSOR VALTER MÁXIMO 16 de jul. de 2021 Concurso - PM ( Policia militar). Calculo da quantidade de termos de uma P. G. Progressão geométrica Diferença entre P.A e P.G. ***
*** Der Teil und das Ganze: Gespräche im Umkreis der Atomphysik. : Heisenberg Werner: Amazon.de: Bücher *** Product details ASIN ‏ : ‎ B002DU3L74 Publisher ‏ : ‎ Deutscher Taschenbuch-Verlag; 2. edition (1 Jan. 1975) Language ‏ : ‎ German ******************************************* "Os positivistas têm uma solução simples: o mundo deve estar dividido entre aquilo que podemos ver com clareza e o resto, sobre o qual é melhor silenciar. Nesses casos, dever-se-ia permanecer calado. Não existe filosofia mais despropositada que esta, considerando-se que não existe quase nada que possa ser dito claramente. Se omitíssemos tudo o que não é claro, provavelmente só nos restariam tautologias desinteressantes e banais." CONTRAPONTO A PARTE E O TODO HEISENBERG P. 248
*** Paulo Fábio Dantas Neto* - A hora da economia e os relógios de dois Poderes Se novo adiamento não for decidido pelo presidente Lula, a proposta do “novo arcabouço fiscal”, elaborada pelo ministério da Fazenda, em articulação com o Planejamento e o conjunto da área econômica do governo, chegará ao Congresso na próxima semana. Concluída há 25 dias, ela foi apresentada ao presidente há mais de duas semanas. Mas sua apresentação ao público foi postergada para após a viagem de Lula à China, inicialmente prevista para final de março. Com o cancelamento daquela viagem, por motivos de saúde do presidente, o ministro Fernando Haddad pôde apresentar a proposta no dia 30 de março, em entrevista coletiva, na companhia da ministra Simone Tebet. O efeito do conteúdo e do método político adotado foi positivo, tanto no meio político, como entre agentes do “mercado". Nada sugere, é claro, uma aprovação automática. Dúvidas e ressalvas importantes estão presentes e o governo deve saber que lidará com um complexo processo de discussões, pressões e negociações. Ele começou no interior do próprio partido do presidente e no âmbito do governo, tendendo a se espraiar pelos demais partidos, empresariado e sociedade civil, tendo o Congresso como eixo de articulação e de decisão final. É sem dúvida um sinal positivo de novos tempos na política brasileira, os quais se impõem, em ambos os Poderes, às lógicas e escolhas particulares desse ou daquele ator político. O ministro da Fazenda tem mostrado muita disposição a tal diálogo e não esconde até mesmo certo contentamento com ele. Sua postura aberta tem sido amplamente reconhecida fora da área governista, mesmo quando esse reconhecimento é acompanhado por algum ceticismo – justificado - quanto à extensão, intensidade e sustentabilidade do aval presidencial a essa atitude. Exemplo notório dessa recepção basicamente positiva são os elogios que a atuação do ministro e o próprio conteúdo da proposta receberam até mesmo do presidente do Banco Central, para frustração de quem enxerga nele uma permanente fonte de tensão e polarização. Há razões, portanto, para se esperar que possa surgir uma solução satisfatória, capaz de combinar prudência fiscal e compromisso com a pauta social que o presidente apresentou na campanha eleitoral. Essa expectativa não exclui a consideração realista de que há um longo caminho a percorrer, no âmbito do Poder Legislativo, o qual se encontra em visível processo de reestruturação institucional e de realinhamento político. Tem se especulado sobre o sentido dos movimentos do governo, supostamente na busca de um novo padrão de relacionamento com o Congresso. Há controvérsia sobre se o presidente está, de fato, tentando fixar um padrão definido e estável de relacionamento, parecido com o antigo presidencialismo de coalizão, que já deixou de vigorar, em sua plenitude, há bom tempo. Por vezes parece mais certo que Lula venha tendo papel mais passivo, seja por preferência (por supor que sua influência prevalece jogando parado, com regras frouxas) ou por falta de escolha. Por uma razão ou por outra (ou por ambas), em vez de tentar um caminho, ele pode estar sendo tentado a seguir, simultaneamente, em diferentes direções, por distintos grupos do Legislativo com os quais a iniciativa parece estar, mais do que com o Chefe do Executivo. Tratarei ainda desses possíveis grupos e direções, mas quero, por mais um instante, comentar o que posso entender, até aqui, sobre os movimentos do presidente. É duvidoso que ele esteja tentando restabelecer o antigo sistema de relações entre Executivo e Legislativo que, em meados da última década do século passado, o cientista político Sérgio Abranches definiu como "presidencialismo de coalizão". Por vezes o presidente parece imaginar é que pode repetir o que fez a partir de 2004. Ali começou o desmonte da lógica de coalizão, que realmente orientara as relações entre Executivo e Legislativo durante os governos FHC até o primeiro ano de governo do próprio Lula. Desde a inflexão de 2004 o sistema que Abranches flagrou firmando-se, na década anterior, passou a funcionar como simulacro, à base de acordos ad hoc, cuja pedra de toque foi o mensalão. Penso que já foi essa variante improvisada do sistema original que Dilma Rousseff não conseguiu revalidar, gerando um vale-tudo e, em seguida, o enfraquecimento do Poder Executivo perante um Legislativo crescentemente balcanizado. A situação crítica que sucedeu à variante improvisada trouxe-nos até aqui, sem que uma nova solução estável se firmasse. Vivemos ainda desdobramentos dessa relação contingente, assistemática e predatória entre os dois poderes, a qual, agora, algumas forças políticas mais responsáveis do Congresso tentam resolver. Em artigos futuros pretendo fazer uma análise mais factual sobre o que sejam atitudes mais ou menos responsáveis (do ponto de vista republicano) existentes no Legislativo. Será preciso, a seu tempo, interpelar veredictos peremptórios sobre um suposto absolutismo de uma convergência corporativa que condenaria aquele Poder a um justo apedrejamento como se ali houvesse apenas patrimonialismo e fisiologismo. Por enquanto ficarei apenas no exemplo da formação, que se esboça na Câmara, de um bloco parlamentar entre o PSD e o MDB, atraindo o Republicanos que, com isso, distancia-se, em tese, de um eixo de direita mais radical que se formaria a partir do PL. Esse movimento é análogo ao que se verifica entre União Brasil e PP com possibilidades de atrair, segundo a colunista Maria Cristina Fernandes, o PSB. Ambos os blocos têm em comum a intenção de se aproximarem mais do governo para negociarem com mais força. O efeito colateral é isolar o bolsonarismo parlamentar, na contramão de prognósticos de que tais partidos poderiam gravitar em torno de uma oposição de extrema-direita. Se eles serão governo ou oposição, a partir das eleições municipais de 2024, ninguém sabe, mas, por ora, o que se vê é demarcação em relação ao bolsonarismo. O mais relevante, no entanto, para o tema deste artigo - o ambiente político onde tramitará a proposta de arcabouço fiscal como primeiro teste das relações entre o governo Lula e o Congresso - não são as semelhanças, mas diferenças entre os movimentos do União Brasil/PP e os do PSD/MDB. Nesse segundo bloco está uma possibilidade maior de combinar pragmatismo na relação com o governo e orientação comum sobre a agenda de políticas públicas. Essa segunda dimensão da atitude parlamentar, nas circunstâncias atuais, não contradiz qualquer pragmatismo. Há sentido eleitoral e para relações com agentes econômicos e segmentos sociais em ligar-se a uma agenda de reconstrução e estabilização. Os presidentes Baleia Rossi (MDB) e Gilberto Kassab (PSD) têm deixado clara, em seus movimentos (especialmente Kassab, ao buscar protagonismo propositivo no debate da âncora fiscal), uma rota mais próxima de uma lógica de coalizão política do que de acordos ad hoc destinados tão somente a contemplar interesses individuais ou corporativos sobre o orçamento da União e a ocupação de cargos no governo federal. É por aí que se pode esperar que a fragmentação da Câmara possa ser resolvida, ou atenuada, por uma via política distinta da que vem sendo imprimida pelo atual presidente da Casa, reduzindo assim discrepâncias, hoje evidentes, entre orientações das cúpulas da Câmara e do Senado. Nunca é demais lembrar que Lira exerce poder relevante, mas que tende a ser declinante, porque tem prazo de validade até, no máximo, as eleições municipais de 2024. No fim da linha desse movimento de placas políticas estruturantes da Câmara está também a eleição do seu sucessor. Se o movimento desse bloco prosperar, a âncora de Haddad virá para ficar, a menos que o presidente da república se mova em sentido contrário e retire do tabuleiro seu até aqui principal jogador. Para além do debate econômico atual, discernir joio e trigo nas agregações parlamentares centristas, ora em formação, é essencial para proteger o país de pautas legislativas bomba, sejam elas de direitos civis, ambientais, ou culturais, assim como de retrocessos corporativos e outras formas de política antirrepublicana. Todas essas possibilidades ameaçam, não necessariamente o governo, mas certamente a sociedade. Elas podem se impor, como preços compulsórios, na viabilização de acordos parlamentares, tanto acordos bem sucedidos, mas tímidos (que subestimem a possibilidade de coalizões progressistas moderadas por reformas relevantes) como acordos afoitos, que supõem possível impor revogaços e revisionismos progressistas fortes a congresso e eleitorado conservadores. São sinais para antenas de partidos e lideranças politicamente responsáveis, sejam governistas, ou não, inclusive federações de partidos como, por exemplo, o PSDB/Cidadania, que, como virtual oposição, distinta do bolsonarismo, terá fragilidades talvez insuperáveis, mas que tem diante de si, para evitar isolamento, a possibilidade de cooperação parlamentar com um bloco centrista distinto do centrão. Quanto a Lula, condutor de um governo estruturado como um mosaico, não sabemos o que pretende (talvez ele saiba). Mas é preciso e talvez possível distinguir, dentre as opções que o Congresso oferece ao presidente, neste momento, as que contribuem para prolongar o relacionamento instável e predatório, posterior ao presidencialismo de coalizão e aquelas que, caso prevaleçam, podem ajudar a construção de algo que se possa chamar de sistema institucional de relações entre os dois poderes. Posto isso, associo-me à visão de que esse "algo" (que somente o exercício prático da política poderá desenhar com eficácia) precisa ser diferente do que foi o presidencialismo de coalizão, mas com uma funcionalidade análoga à que ele possuía há vinte anos. Aquela arquitetura não volta mais, a não ser como farsa. Buscar uma nova solução é um desafio e, ao mesmo tempo, um tributo à experiência de quase duas décadas de descaminhos atitudinais. Faz sentido, ao se observar o movimento dos vários atores, pensar que a palavra decisiva sobre isso caberá ao Poder Legislativo. Afinal, tem razão o cientista político José Álvaro Moisés, quando afirma que não se pode atribuir as crises de instabilidade que têm afetado a política brasileira apenas ao déficit, ou ausência, de capacidade de coordenação de presidentes. Contam muito também a cultura plebiscitária que atinge amplas faixas do eleitorado e fatores da própria estrutura do sistema político. Nesse ponto não creio que se deva criticar o multipartidarismo - aspecto até, digamos, virtuoso, para a amplitude da representação - mas a ausência, por muitos anos, de freios institucionais adequados para combinar representação e governabilidade, o que acabou por conferir poder de veto a uma multiplicidade análoga de atores, como se representação e poder de veto fossem condições plenamente equivalentes. As reformas incrementais que vêm sendo feitas (cláusula de barreira mais rigorosa, fim de coligações em eleições proporcionais) já produzem efeitos positivos quanto a esses gargalos estruturais. O vácuo de coordenação, por parte do Executivo, ainda é evidente também, como dificuldade paralela. Mas independente da orientação que prevaleça sobre isso no governo, o Congresso precisa fazer sua parte, como recentemente fez, em contexto muito mais crítico, durante a pandemia. É preciso reduzir a quantidade de vetos cruzados, o que passa por fortalecer direções e lideranças de partidos relevantes, para tentar superar, tanto o varejo do próprio Congresso (especialmente o da Câmara) quanto o decisionismo plebiscitário de presidentes. Não à toa o Senado mostra-se arena mais sensível a esse requerimento de política positiva. Diferentemente da lógica centrífuga que ainda prevalece na Câmara, no Senado, governo e oposição estão mais bem delineados e, por isso, levados a disputarem o centro. Todas essas questões terão, agora, na discussão e votação do arcabouço fiscal, uma excelente ocasião para começarem a ser resolvidas. Trata-se de um encontro incontornável, mesmo que o reagendamento quase instantâneo da viagem presidencial à China leve a nova protelação dessa pauta, na expectativa de que promessas de investimentos chineses reduzam o patamar de concessões do governo aos imperativos da autocontenção fiscal. Pode ser que o ministro Haddad e seus aliados, dentro e fora do governo, fiquem, algumas semanas a mais, caminhando de novo sobre zinco quente. Mas congresso e governo acabarão acertando seus relógios e compreenderão a chegada da hora de parar de adiar os inadiáveis debate e definição parlamentares sobre o rumo econômico do país. *Cientista político e professor da UFBa *******************************************************
*** Nas entrelinhas: “Quantum fortuna in rebus humanis possit” Publicado em 09/04/2023 - 07:24 Luiz Carlos Azedo Brasília, Comunicação, Congresso, Economia, Eleições, Governo, Meio ambiente, Memória, Partidos, Política, Política, Segurança, Violência A mudança da água para o vinho nas políticas públicas, em comparação com o governo Bolsonaro, precisa ultrapassar os limites das intenções e ser efetivamente implementada “Não ignoro que muitos têm tido e têm a opinião de que as coisas do mundo sejam governadas pela fortuna e por Deus, de forma que os homens, com sua prudência, não podem modificar nem evitar de forma alguma; por isso poder-se-ia pensar não convir insistir muito nas coisas, mas deixar-se governar pela sorte. Esta opinião tornou-se mais aceita nos nossos tempos pela grande modificação das coisas que foi vista e que se observa todos os dias, independente de qualquer conjetura humana. Pensando nisso algumas vezes, em parte inclinei-me em favor dessa opinião. Contudo, para que o nosso livre arbítrio não seja extinto, julgo poder ser verdade que a sorte seja o árbitro da metade das nossas ações, mas que ainda nos deixe governar a outra metade, ou quase. O 25º capítulo do clássico de Nicolau Maquiavel, O Príncipe, intitulado De quanto pode a fortuna nas coisas humanas e de que modo se lhe deva resistir (Quantum fortuna in rebus humani possit, et quiomodo illi sit occurrebndun, em Latin), trata fundamentalmente da relação entre a sorte (Fortuna) e as virtudes (Virtù) na política. O florentino alertava: “Disto depende, ainda, a variação do conceito de bem, porque, se alguém se orienta com prudência e paciência e os tempos e as situações se apresentam de modo a que a sua orientação seja boa, ele alcança a felicidade; mas, se os tempos e as circunstâncias se modificam, ele se arruina, visto não ter mudado seu modo de proceder.” Maquiavel seria um bom conselheiro para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que completará amanhã 100 dias de governo: “Nem é possível encontrar homem tão prudente que saiba acomodar-se a isso, seja porque não pode se desviar daquilo a que a natureza o inclina, seja ainda porque, tendo alguém prosperado seguindo sempre por um caminho, não se consegue persuadi-lo de abandoná-lo. Por isso, o homem cauteloso, quando é tempo de passar para o ímpeto, não sabe fazê-lo e, em consequência, cai em ruína, dado que se mudasse de natureza de acordo com os tempos e com as coisas, a sua fortuna não se modificaria”. A tentativa de golpe de Estado de 8 janeiro, quando a Praça dos Três Poderes foi tomada de assalto e seus palácios invadidos, foi o episódio mais emblemático das dificuldades do novo governo. A trégua nunca ocorreu. O fracasso dos golpistas favoreceu momentaneamente o presidente Lula, que recebeu o apoio do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), da mídia e da opinião pública, porém, esse apoio começa a se desvanecer. Desde a primeira semana, o governo não teve paz. Agora, é cobrado a apresentar um projeto para o país que não é o do PT. Nem poderia ser, porque a frente de esquerda formada por Lula liderou a oposição no primeiro turno, mas precisou do apoio do centro, principalmente no segundo, para derrotar Jair Bolsonaro. O sucesso do governo dependerá do apoio do Legislativo e do acerto de política econômica. Nesse quesito, ainda deixa a desejar. Os projetos legislativos do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária, pré-condição para a retomada do crescimento e a viabilidade das políticas sociais do novo governo, ainda não foram encaminhados ao Congresso, por divergências dentro do próprio governo. E, sobretudo, desarticulação de sua base parlamentar. Centro-direita A mudança da água para o vinho nas políticas públicas, em comparação com o governo Bolsonaro, precisa ultrapassar os limites das intenções e ser efetivamente implementada. Sequer suas medidas provisórias já foram aprovadas no Congresso. Um exemplo de que não bastam as boas intenções é o recrudescimento do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. A operação de resgate dos ianomâmis ameaçados de genocídio e a expulsão dos garimpeiros de suas terras, em Roraima, tiveram o mesmo efeito da reação aos golpistas de 8 de janeiro. Foram muito aplaudidas, o governo ganhou tempo, mas não bastam para manter as florestas em pé, em todos os biomas. É evidente que há uma reação de madeireiros, garimpeiros, grileiros e outros setores bolsonaristas. A oposição se apresenta principalmente nas redes sociais. Lula precisa se convencer, seguindo os conselhos de Maquiavel, de que não pode governar apenas com a sua estrela, nos dois sentidos, e os louros do passado. As contingências são desfavoráveis. Setores que apoiaram Lula no segundo turno, alguns até no primeiro, começam a se sentir pouco representados pelo governo. Além de Bolsonaro ter o engajamento de 30% dos eleitores, o centro começam a afiar espadas ou mesmo fustigar o novo governo. Cobram mais ações em sua direção. Começa a se armar uma ampla aliança de centro-direita em oposição ao governo e ao programa estatizante do PT. Velhos desafetos e ressentidos que apoiaram Lula por gravidade já rasgaram a fantasia. Compartilhe: *********************** *** AO VIVO: WW - Edição de domingo | Políticas públicas no Brasil funcionam? - 09/04/2023 *** CNN Brasil Transmissão iniciada há 5 minutos #CNNBrasil Assista AO VIVO ao programa WW deste domingo, 9 de abril de 2023, apresentado por William Waack. #CNNBrasil O tema deste programa é: Políticas públicas no Brasil funcionam? ******************************************************************** "Indícios vários e concordantes constituem prova." Hely Lopes Meirelles (Ribeirão Preto, 5 de setembro de 1917 — São Paulo, 4 de agosto de 1990) foi um jurista, advogado, magistrado e professor brasileiro. ***
*** "Toda história comporta algum revisionismo, já que sempre podem surgir fatos que mudem a forma de encarar o passado. Foi o que ocorreu com a Operação Lava-Jato, especialmente depois que foram reveladas as mensagens da Vaza-Jato. É natural e até necessário que as conversas entre os procuradores e Sergio Moro, mais a entrada do ex-juiz no governo Jair Bolsonaro, tenham levado a essa revisão. Depois da posse de Lula, porém, tudo mudou de patamar. O primeiro sinal veio ainda em dezembro, quando o PCdoB entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a quarentena de 36 meses imposta pela Lei das Estatais a dirigentes partidários e de campanha eleitoral indicados a cargos de comando nessas companhias." Malu Gaspar O Globo ********************************
*** Na terminologia militar, deserção é o abandono do serviço ou posto por um militar sem permissão de um superior e é feito com o intuito de não regressar à sua posição ou função. Na maioria dos países que mantêm forças armadas permanentes, a pena para deserção costuma ser prisão ou expulsão. Wikipédia *** *** Santos Cruz: “Bolsonaro fugiu para Miami. Foi uma covardia, uma canalhice.” *** Marco Antonio Villa 700 mil inscritos 82.850 visualizações Estreou em 7 de abr. de 2023 ********************************************************* *** Genocídio de Ruanda‬: o relato de Kamara Simeon *** ONU Brasil 22 de jul. de 2016 O genocídio em Ruanda aconteceu entre abril e julho de 1994 e foi um dos maiores massacres da história da Humanidade. Neste vídeo, produzido pela organização Survivors Fund, Kamara Simeon conta como sobreviveu a este momento que marcou para sempre sua vida. Mais, em inglês, em www.un.org/en/preventgenocide/rwanda ***
*** A história do goleiro que foi salvo quatro vezes pelo futebol no genocídio de Ruanda https://trivela.com.br/africa/a-historia-do-goleiro-que-foi-salvo-quatro-vezes-pelo-futebol-no-genocidio-de-ruanda/ ****************************************************************** Como o futebol ajudou Ruanda a se reconstruir depois do genocídio Sobreviventes contam ao Esporte Espetacular como a bola se tornou uma ferramenta de reconciliação Por Martín Fernandez e Guilherme Roseguini — Kigali, Ruanda 09/04/2023 13h40 Atualizado há uma hora Futebol une etnias que guerrearam em Ruanda há quase 30 anos overlay-cleverCloseClose – Vou te matar de qualquer jeito. Mas, se você mentir para mim, eu vou te matar mais rápido. Na manhã de 7 de abril de 1994, Eric Murangwa Eugene estava deitado de barriga para baixo, com as mãos na cabeça e os olhos fechados, no chão de uma casa que ele dividia com outros jovens jogadores de futebol em Kigali, capital de Ruanda. O autor da frase foi um dos cinco milicianos armados que invadiram a casa de Eric naquele dia. Na véspera, o presidente de Ruanda, Juvénal Habayrimana, havia sido assassinado, o que detonou uma onda de violência jamais vista no país, o ponto mais intenso de décadas de hostilidades entre os grupos étnicos hutus e tutsis. ***
*** Futebol em Ruanda — Foto: Martín Fernandez Aos 19 anos, Eric, um tutsi, era goleiro do Rayon Sports, o time mais popular de Ruanda. Mas os soldados hutus não queriam saber. Eles reviravam a casa em busca de armas. Quase 30 anos depois, na mesma rua de terra de Kigali em que tudo aconteceu, Eric reconstruiu a cena numa entrevista ao ge. – Eles começaram a jogar as coisas para lá e para cá. Nessa bagunça, meu álbum de fotografias caiu no chão, aberto. Um soldado virou pra mim e disse: "Você é o goleiro do Rayon?". Eu disse que sim. E ele: "Vou te matar de qualquer jeito. Mas, se você mentir pra mim, vou te matar mais rápido". A constatação de que Eric falava a verdade salvou sua vida. – O soldado não parecia mais amedrontador. Ficou com uma expressão iluminada no rosto. Só queria falar de futebol. Eric Murangwa Eugene, seguiu as instruções de seus quase algozes e foi poupado do genocídio contra os tutsis. Muita gente não teve a mesma sorte, inclusive um irmão de Eric, de apenas 7 anos. Cerca de 800 mil pessoas foram assassinadas, milhões foram feridas, incontáveis mulheres foram estupradas e mutiladas. Pelo menos 2 milhões de pessoas fugiram para outros países. Ruanda tinha 7 milhões de habitantes na época. Quando o genocídio foi interrompido, 100 dias depois aquele 7 de abril, o que sobrou foi um país destruído, uma nação dilacerada. O dano não estava presente apenas nas pilhas de cadáveres, mas na desconfiança e no ressentimento de quem ficou. Ruanda não era apenas um país a ser reconstruído, era também um país a ser reunificado. Crianças jogando futebol em Kigali, Ruanda — Foto: Martín Fernandez ***
*** Crianças jogando futebol em Kigali, Ruanda — Foto: Martín Fernandez *** – Depois do cessar-fogo, depois do genocídio, as pessoas não queriam se reunir. Sabe o que foi organizado, antes de mais nada? Um jogo de futebol. Quem conta é Sylvestre Nzahabwanayo, ele próprio um sobrevivente do genocídio (perdeu o pai e um irmão), professor da Universidade de Ruanda, especialista em educação em áreas de conflito e autor de artigos sobre o pós-genocídio em Ruanda. Em 11 de setembro de 1994, um jogo amistoso entre o Rayon Sports e o Kiyovu, os dois times mais populares do país, reuniu dezenas de milhares de pessoas de forma pacífica. – Aquele jogo deu a nós, ruandeses, um senso de esperança, poucos meses depois do fim dos combates. A sensação foi de que era possível viver de novo – lembra o goleiro Eric Eugene. Eric Eugene, ex-goleiro da seleção de Ruanda — Foto: Martín Fernandez ***
*** Eric Eugene, ex-goleiro da seleção de Ruanda — Foto: Martín Fernandez *** Começava ali um processo deliberado de usar o futebol como pilar da reconstrução do país. Em 1999, foi criada a Comissão Nacional de Unidade e Reconciliação de Ruanda, com objetivo de transformar o lema "nunca mais" em realidade. A Comissão trabalhou em conjunto com ministério do Esporte, Comitê Olímpico e outras instituições públicas e iniciativas privadas para organizar eventos esportivos que transmitissem mensagens de paz e reconciliação. – Mais tarde, a comissão recorreu ao esporte para reintegrar os que perpetraram o genocídio nas comunidades. Organizaram partidas entre perpetradores, sobreviventes e familiares dos mortos. O esporte serviu como porta de entrada, para aproximação das pessoas – conta o professor Sylvestre. Sylvestre Nzahabwanayo, professor da Universidade de Ruanda — Foto: Martín Fernandez ***
*** Sylvestre Nzahabwanayo, professor da Universidade de Ruanda — Foto: Martín Fernandez *** O próprio Eric Eugene, que hoje vive entre Londres e Kigali, criou uma fundação chamada Ishami, que usa o futebol para promover valores como tolerância e reconciliação entre os jovens ruandeses. Nesse contexto, o trabalho de uma mulher seria decisivo para o futuro do país. Nascida em Ruanda, Felicite Rwemarika tinha apenas um ano quando sua família foi forçada a deixar o país. Durante o exílio no Congo e depois em Uganda, onde se formou enfermeira, Felicite viu de perto a importância do esporte para os refugiados. Felicite Remwarika, de Ruanda, é membro do COI — Foto: Martín Fernandez ***
*** Felicite Remwarika, de Ruanda, é membro do COI — Foto: Martín Fernandez *** Ela voltou para Ruanda após o cessar-fogo em 1994, e tratou de incentivar algo que nunca havia existido no país. Mulheres deveriam jogar futebol. Felicite recebeu o ge em seu escritório em Kigali. – Você via uma mulher sentada e dizendo coisas do tipo: "Eu não vou falar com ela porque ela ajudou a matar minha família". A outra, do lado, deprimida porque a família tinha morrido. Mas, quando elas se juntavam para treinar e jogar, havia de novo a sensação de que eram iguais, tinham um objetivo comum. Elas ganharam um papel crucial para acabar com os conflitos e construir a paz. Felicite Remwarika criou a AKWOS (Associação das Mulheres de Kigali no Esporte) e foi presidente da Comissão de Futebol Feminino dentro da Federação Ruandesa de Futebol. Desde 2018 ela é um dos 99 membros do Comitê Olímpico Internacional. Uma das seis árbitras mulheres levadas pela Fifa para a Copa do Mundo do Catar, em 2022, é ruandesa: Salima Mukansanga. ***
*** Campinho de futebol em Ruanda — Foto: Martín Fernandez *** A pacificação de Ruanda por meio do futebol teve – ainda tem – a participação de mais gente que sofreu com a guerra. Como Jean Baptiste Kayiranga, autor de um gol histórico para o futebol daquele país. Em março de 1994, o Rayon Sports derrotou o Al Hilal, do Sudão, por 4 a 1 e se classificou para a segunda fase da Copa dos Campeões da África, um feito inédito. Um mês depois, o genocídio teve início, e o Rayon não pôde continuar sua aventura continental. A onda de violência levou Jean Baptiste a tentar fugir do país. Foi parado numa blitz quando tentava escapar pelo sul, rumo ao Burundi. Até 1994, os documentos de identidade dos ruandeses indicavam se a pessoa era tutsi ou hutu – esse classificação foi abolida após o genocídio. Tal qual seu amigo e colega de time Eric Eugene, Jean Baptiste já tinha certeza de que seria assassinado quando foi reconhecido por um soldado. – Ele olhou para mim e disse: "Ei, esse aí é o Baptiste. Rapaz, o que você está fazendo aí?". Ele me cumprimentou. As pessoas que estavam em volta prontas para me matar começaram a se afastar. "Você não vai morrer". ***
*** Jean Baptiste, ex-jogador e hoje técnico de futebol em Ruanda — Foto: Martín Fernandez *** Jean Baptiste finalmente conseguiu fugir. Rodou por outros países do continente até conseguir voltar a Ruanda. Com a situação estabilizada, chegou a ser convocado para a seleção nacional. Hoje é técnico de futebol. Mas ensina muito mais para seus alunos, de 5 a 17 anos. Os resultados de Ruanda no futebol de alto rendimento são modestos tanto no masculino quanto no feminino. Mas isso importa pouco no contexto de um país destruído e dividido por um genocídio há menos de 30 anos. Hoje Ruanda é o país mais seguro da África. – Aqui ninguém é hutu, ninguém é tutsi. São todos ruandeses – conta Jean Baptiste, cercado de crianças no campo de terra de uma escola ao sul de Kigali. Adolescentes treinam futebol em Ruanda — Foto: Martín Fernandez Ver comentários ****************************
*** À Mesa com o Valor - Carlos Alberto dos Santos Cruz: “Intervenção militar não tem cabimento” | Eu & | Valor Econômico *** Valor econômico, v.21, n.5030, 26/06/2020. Legislação & Tributos, p.10-14 À Mesa com o Valor - Carlos Alberto dos Santos Cruz: “Intervenção militar não tem cabimento” Ricardo Lessa 26/06/2020 “Um líder político inconsequente acarreta danos enormes a seu país.” A frase é de Carlos Alberto dos Santos Cruz, de 68 anos, ministro da Secretaria de Governo nos seis primeiros meses do mandato de Jair Bolsonaro (sem partido). “Não vou faltar com o respeito”, prossegue o general, Ideologizaram o vírus, botaram uma coloração vermelha que seria da China, ideologizaram até mesmo um medicamento Bolsonaro, acrescenta Santos Cruz, se ampara em um pequeno grupo ideológico de fanáticos, “bandidinhos vagabundos com acesso a seu gabinete”. E perde o foco sobre os reais problemas do país, diz ele. “Medíocres, escória. Acham que podem manipular a opinião pública, enchem a paciência da população. Não vai colar, a população não tem essa motivação ideológica e vai responder nas urnas.” “A cada vez que uma pessoa morre, morre um pedaço da gente”, diz Santa Cruz, que recorre a citação ao clérigo John Donne feita por Ernest Hemingway em “Por Quem os Sinos Dobram” (1940). Nenhuma das frases se refere diretamente a Bolsonaro, mas tem endereço certo. Os frequentes movimentos do capitão da reserva em direção aos quartéis e os apelos de participação das Forças Armadas lhe despertam estranheza. “Para quê? Se já recebeu 58 milhões de votos das urnas, agora é só governar.” Todos os atos de um presidente têm consequências, afirma. “Precisa explicar para a população por que ir aos quartéis. Intervenção das Forças Armadas não tem cabimento no Brasil de hoje. É coisa que só passa na cabeça de uma minoria.” Santos Cruz tem reiterado sua posição: as Forças Armadas pertencem ao Estado, e não ao governo. O presidente só é comandante em chefe das Forças Armadas, destaca o general com firmeza, em situações muito especiais, de risco para o país. “Não é para a rotina. Tem que tomar cuidado com os valores básicos.” De herança, recebeu pouco mais que uma estante com livros: a Bíblia; “Os Miseráveis”, de Victor Hugo (1802-1885); “Os Três Mosqueteiros”, de Alexandre Dumas (1802-1870); e outros títulos de aventura que o inspiram até hoje. “Se tiver aventura, pode me chamar.” O importante, ressalta, é que se dê oportunidade, como teve, para as pessoas furarem o bloqueio social. Os brasileiros costumam ouvir a frase: “Somos um país rico, com um povo pobre”. Santos Cruz gosta de desfazer clichês. “É porque você não conhece o Congo, muito mais rico do que o Brasil”, diz o ex-ministro, sobre o país que é cenário do clássico da literatura “Coração das Trevas”, de Joseph Conrad (1857-1924), que descreve a exploração europeia nos tempos em que a mais cobiçada riqueza local era o marfim. Uma criança atingida, e seria o fim de nossa missão”, diz, emocionado sobre a operação de pacificação em Cité Soleil, a maior favela da capital haitiana, Porto Príncipe, que tinha fama de ser a mais violenta do mundo. Sobre o Haiti, sua recomendação de leitura é “O Reino Deste Mundo”, de Alejo Carpentier (1904-1980). “Não vou faltar com o respeito”, prossegue o general, que não menciona o nome de seu ex-companheiro de esportes, a quem conheceu ainda jovem e chegou a ser vizinho na Vila Militar de Deodoro, no Rio. Só deixa explícito que tem sérias discordâncias de ponto de vista com o presidente da República. Para Santos Cruz, o governo desperdiça a grande oportunidade que a sociedade lhe deu para atender aos anseios da família classe média conservadora, “cansada de escândalos e violência”, como a dele mesmo. Ideologizaram o vírus, botaram uma coloração vermelha que seria da China, ideologizaram até mesmo um medicamento Bolsonaro, acrescenta Santos Cruz, se ampara em um pequeno grupo ideológico de fanáticos, “bandidinhos vagabundos com acesso a seu gabinete”. E perde o foco sobre os reais problemas do país, diz ele. “Medíocres, escória. Acham que podem manipular a opinião pública, enchem a paciência da população. Não vai colar, a população não tem essa motivação ideológica e vai responder nas urnas.” “Nada a comemorar, nada a lastimar. Acho que a saída foi boa para mim e para o gove r n o”, diz Santos Cruz, cujo afastamento completa um ano — Foto: Ruy Baron/Valor “Nada a comemorar, nada a lastimar. Acho que a saída foi boa para mim e para o gove r n o”, diz Santos Cruz, cujo afastamento completa um ano — Foto: Ruy Baron/Valor Partiu desse “gabinete do ódio”, como ficou conhecido, reforçado pelo apoio dos filhos de Bolsonaro, o ataque que terminou por afastá-lo há um ano. Uma suposta conversa de WhatsApp, em que Santos Cruz teria criticado o presidente, foi a gota d’água. A Polícia Federal (PF) apurou e concluiu em janeiro que se tratava de uma montagem grosseira, mas o chefe do Executivo não se retratou, nem se desculpou. O combate à corrupção, uma grande promessa de campanha, foi um dos principais motivos que o levaram a aceitar o convite para ocupar um dos quatro gabinetes do Palácio do Planalto mais próximos da Presidência. “A corrupção”, para o ex-ministro, “é o pior dos crimes, porque incentiva os outros crimes”. Mas o governo, em seu ponto de vista, não vem fazendo o suficiente. A demissão barulhenta de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que deixou o governo acusando o presidente de interferência na PF, é mais um revés: “Ele era um ícone, uma esperança de que era possível vencer os corruptos. Em um ano colocou quase uma centena de empresários, políticos, poderosos, na cadeia. Os seguidos desacertos entre presidente e seus ministros causam balbúrdia, uma má impressão na população”. Para Santos Cruz, o governo Bolsonaro desperdiça a grande oportunidade que a sociedade lhe deu — Foto: Ruy Baron/Valor Para Santos Cruz, o governo Bolsonaro desperdiça a grande oportunidade que a sociedade lhe deu — Foto: Ruy Baron/Valor Com tristeza, no isolamento de seu sítio a 50km de Brasília, o general vê o Brasil galgar os primeiros lugares do mundo em número de óbitos na atual pandemia. “A cada vez que uma pessoa morre, morre um pedaço da gente”, diz Santa Cruz, que recorre a citação ao clérigo John Donne feita por Ernest Hemingway em “Por Quem os Sinos Dobram” (1940). Os desencontros de orientações dentro do próprio governo agravaram os efeitos da pandemia no Brasil, afirma. “Ideologizaram o vírus, botaram uma coloração vermelha que seria da China, ideologizaram até um medicamento.” Extremismos, para ele, atrapalham o país, “não levam a lugar nenhum”. Como a doença se espalhou inicialmente em outras nações, Santos Cruz diz acreditar que o Brasil poderia ter aproveitado a chance de enfrentá-la de uma maneira mais eficiente, com união e mais harmonia entre os Poderes. “Falta recuperar a credibilidade, a liderança, dar o bom exemplo, não adianta só reclamar.” Nenhuma das frases se refere diretamente a Bolsonaro, mas tem endereço certo. Os frequentes movimentos do capitão da reserva em direção aos quartéis e os apelos de participação das Forças Armadas lhe despertam estranheza. “Para quê? Se já recebeu 58 milhões de votos das urnas, agora é só governar.” Suposta crítica a Bolsonaro fez Santos Cruz ser demitido do governo — Foto: Alan Santos/PR Suposta crítica a Bolsonaro fez Santos Cruz ser demitido do governo — Foto: Alan Santos/PR Todos os atos de um presidente têm consequências, afirma. “Precisa explicar para a população por que ir aos quartéis. Intervenção das Forças Armadas não tem cabimento no Brasil de hoje. É coisa que só passa na cabeça de uma minoria.” Santos Cruz tem reiterado sua posição: as Forças Armadas pertencem ao Estado, e não ao governo. O presidente só é comandante em chefe das Forças Armadas, destaca o general com firmeza, em situações muito especiais, de risco para o país. “Não é para a rotina. Tem que tomar cuidado com os valores básicos.” Conhecido pela expressão facial pétrea, consagrada pelos cartunistas e fotógrafos no tempo em que foi ministro, o general recusa a fama de carrancudo. “Minhas emoções não variam muito mesmo. Mas uma coisa é a personagem, outra é a vida real. Não dá para viver uma personagem o tempo todo, é preciso separar.” Seu semblante aparece mais relaxado e animado do outro lado da tela do celular, minutos antes do horário combinado para este “À Mesa com o Valor”, um ano exato após sua saída do governo, em 13 de junho. “Nada a comemorar, nada a lastimar. Acho que a saída foi boa para mim e para o governo.” Durante depoimento na CPMI das Fake News, em novembro de 2019 — Foto: Agência Brasil/EBC Durante depoimento na CPMI das Fake News, em novembro de 2019 — Foto: Agência Brasil/EBC Para esta entrevista, o general trocou a “roça” de seu sítio onde tem trabalhado diariamente (“já tem manga, abacate, agora plantei um bananal”) pelo apartamento de Brasília, onde a internet é mais estável. A mesa ficou vazia. Durante quase duas horas de entrevista, o general não bebeu sequer um gole de água. O almoço foi prometido para depois da pandemia. “Algo simples”, disse o militar, como as refeições que costuma fazer. Normalmente são preparadas sob orientação de sua mulher, Dora Regina, com quem é casado há 42 anos, tem dois filhos, uma filha e quatro netos. Nenhum deles seguiu carreira militar. “Nunca fui de pressionar”, explica, “o importante são os valores, honestidade, justiça”. Não é boa ideia, aliás, convidar o general para um programa de almoço ou jantar fora. “Comer, para mim, não é programa, é uma atividade, uma necessidade.” Por isso, mantém quase inalterados os 74kg das cinco décadas que serviu ao Exército. Já um convite para uma caminhada de três dias pelo sertão, dormindo no sereno, ele não recusa. É o que vem fazendo todos os anos, com amigos, na romaria de 120km entre Fortaleza e Canindé. Em 2013, em missão na colina Munigi, com vista para Goma, no Congo — Foto: Sylvain Liechti/Monusco ***
*** Em 2013, em missão na colina Munigi, com vista para Goma, no Congo — Foto: Sylvain Liechti/Monusco *** “Não por religiosidade, mas pela conversa com os amigos e pelo que encontra pelo caminho. A gente vê o povo colhendo gravetos, mais finos que um dedo, para vender como lenha, por R$ 2,00 o feixe.” O hábito de correr, que lhe rendeu a invejável marca de 12 minutos para percorrer 3,6 km, durante um exame médico de rotina aos 37 anos, teve que ser interrompido recentemente, “por problemas no joelho e da idade”. Devido à pandemia, deixou de lado os cavalos e a montaria. Mas, no sítio, garante, pega na enxada o dia inteiro e nem fica com dor nas costas. Diz que se diverte. É como voltar aos tempos de infância e adolescência, na zona rural da cidade de Rio Grande, litoral gaúcho, onde nasceu e se criou. “Hoje é periferia, né? Quer dizer, favela.” Órfão aos três meses do pai - um capitão da Brigada Militar do Estado que morreu de infarto - e aos sete anos da mãe, que morreu de câncer, teve que dar duro com mais sete irmãos para sobreviver. “Foram tempos duros, sim, mas ficaram para trás. Foi uma epopeia.” Myrin Asmani/Monusco/Divulgação — Foto: General teve elogiado comando na Missão de Paz da ONU no Haiti ***
*** Myrin Asmani/Monusco/Divulgação — Foto: General teve elogiado comando na Missão de Paz da ONU no Haiti E recita com o rosto mais alegre um verso do épico “I-Juca Pirama”, de Gonçalves Dias (1823-1864), decorado nos tempos de escola: “Não chores, que a vida/ É luta renhida/ Viver é lutar/ A vida é combate/ Que os fracos abate/ Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar”. Faz um gesto com a mão para espantar lembranças mais penosas. “Dei sorte. Estudei em colégio de madeira, mas com boa qualidade de ensino. Meus pais tinham boa cultura na época. Minha mãe veio de um internato de freiras, tocava piano em casa.” De herança, recebeu pouco mais que uma estante com livros: a Bíblia; “Os Miseráveis”, de Victor Hugo (1802-1885); “Os Três Mosqueteiros”, de Alexandre Dumas (1802-1870); e outros títulos de aventura que o inspiram até hoje. “Se tiver aventura, pode me chamar.” O importante, ressalta, é que se dê oportunidade, como teve, para as pessoas furarem o bloqueio social. Lamenta que o governo não esteja mais empenhado em abrir essas oportunidades. “Governo só faz sentido se tem o foco no social. Classe média, como nós, não precisa de governo.” Não faz sentido, para ele, toda estrutura de funcionalismo, tribunais de contas, fiscais da Fazenda, se o foco não for o social, para melhorar a vida dos mais carentes. Com 16 anos incompletos, Santos Cruz entrou para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército. “Foi um casamento por interesse, inicialmente”, diz. “Tinha um salário - pequeno é verdade-, casa e comida. Mas, depois, veio a paixão.” São 52 anos dedicados ao Exército. Ele diz que, quando ministro, a corporação limitou o seu salário pelo teto constitucional. O mesmo procedimento deveria ser seguido por todos os funcionários públicos, afirma. “Revoltantes”, “vergonhosos”, “vexaminosos” são alguns dos adjetivos que emprega para qualificar os privilégios no Legislativo, Judiciário ou Executivo. “Pode ser legal, mas é imoral um funcionário receber R$ 1 mil na folha de pagamento e outro, R$ 100 mil.” Durante seu tempo no governo, Santos Cruz espantou-se com os valores dos contratos que passaram por sua frente. “Gira muito dinheiro. Com todos os problemas, o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo. Mas ocorrem vazamentos em todos os elos da cadeia de distribuição de recursos no país. É uma corrupção organizada, sistemática”, diz. “Com mais economia e combate à corrupção, daria para fazer muita coisa.” Os brasileiros costumam ouvir a frase: “Somos um país rico, com um povo pobre”. Santos Cruz gosta de desfazer clichês. “É porque você não conhece o Congo, muito mais rico do que o Brasil”, diz o ex-ministro, sobre o país que é cenário do clássico da literatura “Coração das Trevas”, de Joseph Conrad (1857-1924), que descreve a exploração europeia nos tempos em que a mais cobiçada riqueza local era o marfim. A República Democrática do Congo (RDC), colonizada pela Bélgica, estende-se sobre uma “anomalia geológica”, com petróleo, ouro, diamante, cobalto e urânio. “De lá veio o combustível para a bomba de Hiroshima”, afirma o general. A Noroeste faz fronteira com a República do Congo, da capital Brazaville, com colonização francesa; e, ao Sul, com Angola, também muito ricos em minerais, mas tampouco países ricos. Mais de 80% da população da RDC (101 milhões de habitantes) não têm sequer luz elétrica. A colonização, seguida por governos ditatoriais corruptos, deixou o país dividido entre diversos grupos que lutam por suas riquezas, numa das guerras mais sangrentas do mundo, que contabiliza mais de 6 milhões de mortos. A fronteira leste do país, com Uganda, Ruanda, Burundi e Tanzânia, é a mais conflagrada. Foi a essa região que a ONU enviou o general Santos Cruz para comandar uma força multinacional de 23 mil militares, entre 2012 e 2013. Antes, ele desempenhava uma função civil na Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, depois de ter passado para a reserva como general de divisão, sem ter ganho a quarta estrela, topo da carreira, embora tenha se destacado por onde passou e recebido várias condecorações Na República Democrática do Congo, a ONU designou o general para comandar a primeira missão da história da organização com autorização para ações ofensivas contra grupos que ameaçavam a população civil. Também foi a iniciativa mais cara da história das Nações Unidas, depois que a instituição foi criticada internacionalmente por sua inércia diante dos massacres em Ruanda e no próprio Congo, com milhares de mortes diárias. Seu batismo de fogo, como “Force Commander” dos Capacetes Azuis (as tropas multinacionais que servem nas Forças de Paz da ONU), foi na cidade de Goma, a mais populosa da região, com 1 milhão de habitantes. Ela estava havia meses sob cerco do grupo M-23, financiado pelos países vizinhos, que tinha como método cortar a cabeça dos homens das aldeias e desfilar com elas em pontas de lanças durante dias para aterrorizar as populações. Incêndios de casas, estupros e recrutamento forçado de meninos eram outros dos métodos empregados pela milícia. Para romper o cerco à cidade, as tropas comandadas por Santos Cruz combateram por dez dias de fogo cerrado, com dois mortos e 25 feridos entre os Capacetes Azuis e centenas de mortos e feridos no Exército do Congo. Do lado dos guerrilheiros o número de mortes não ficou conhecido. Uma grande quantidade de armas foi apreendida e abandonada na debandada do grupo rebelde. Há poucos dias, Bosco Ntaganda, um dos comandantes do M-23, apelidado Terminator, foi condenado por crimes contra a humanidade pelo tribunal de Haia. A atuação de Santos Cruz mereceu um documentário no canal internacional da Al Jazeera, além de elogios da ONU. Chama atenção no documentário que o “Force Commander” primeiro estende a mão em cumprimento nos encontros com os militares subordinados de outros países, mas é saudado com continências e posição de sentido. Depois retribui a continência, com um tapinha no ombro, bem brasileiro. O general explica que normalmente há um distanciamento maior entre os comandantes e os comandados. “Há um respeito muito grande. Mas procuro sempre me aproximar dos oficiais, sargentos, soldados, porque eles é que estão na linha de frente e, sem eles, nada acontece.” O Congo foi o maior desafio de sua carreira. É um país enorme, como explica, segundo maior da África, pouco menor que o primeiro, Argélia, com aproximadamente um quarto da extensão territorial do Brasil. “Foi importante, mas não dá para ficar feliz quando há tantas mortes envolvidas. E a rapaziada que morre dos dois lados é a mais jovem e mais pobre, enquanto os governantes, políticos e poderosos ficam impunes.” A maior satisfação da guerra é restabelecer a paz, observa. Sua maior recompensa foi ver mais de 100 mil pessoas que estavam refugiadas nos países vizinhos voltando para suas casas - “Aquelas longas filas de gente com roupas coloridas, carregando seus pertences e crianças”. Uma das cidades da região Pinga tinha 6,5 mil habitantes antes da missão da ONU. Quando terminou, havia 25 mil. Uma das comunidades liberadas da cidade de Goma presenteou Santos Cruz com um bastão de madeira, esculpido com um elefante no topo - um símbolo dos chefes locais e liderança para diversas etnias africanas. Essa é uma das raras lembranças de suas mais de 50 viagens pelo mundo que o general levou para seu apartamento em Brasília. “Prefiro guardar na memória.” Mas há exceções. Da comunidade de haitianos em Nova York, pelo comando da missão de paz entre 2006 e 2009, trouxe um emblema com os dizeres: “Pela inspiração de que um homem pode fazer a diferença entre a guerra e a paz”. É uma linha fina entre a vitória e o fracasso, comenta o general. Em seu discurso em Nova York, depois da missão no Haiti, contrariou outro clichê sobre os melhores shows do mundo serem exibidos na Broadway. “Vocês estão enganados. O maior show do mundo que eu vi foi o dos soldados brasileiros no Haiti. Numa noite foram trocados mais de 10 mil tiros, sem uma única vítima entre inocentes. Uma criança atingida, e seria o fim de nossa missão”, diz, emocionado sobre a operação de pacificação em Cité Soleil, a maior favela da capital haitiana, Porto Príncipe, que tinha fama de ser a mais violenta do mundo. Sobre o Haiti, sua recomendação de leitura é “O Reino Deste Mundo”, de Alejo Carpentier (1904-1980). Seu comando, o mais longo à frente da Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti (Minustah), chamou a atenção do então secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon, que pediu ao Exército brasileiro, sem sucesso, para prorrogar a missão de Santos Cruz no Haiti. Em seguida, o sul-coreano convidou o general a elaborar uma proposta para uma intervenção mais efetiva das forças de paz na África. Depois da passagem pelo Congo e Haiti, o brasileiro passou a ministrar cursos de treinamento para outras missões militares em outros países. Em 2018 estava em Bangladesh, quando foi indicado por Bolsonaro para compor seu time ministerial. Apesar das situações precárias e adversas dos dois países africanos, Santos Cruz é taxativo ao comparar as regiões com o Brasil. “Aqui é pior.” A desigualdade aqui, segundo ele, não tem comparação com a de qualquer país que conheceu. “Se uma pessoa se afastar 15km de qualquer capital brasileira, vai conhecer situações horripilantes, de fome, violência e abandono.” O Exército brasileiro sofreu mais no Rio do que em qualquer outro lugar, afirma o general, que foi secretário nacional de Segurança Pública, no governo Temer. Depois que saiu do Planalto, Santos Cruz não dirigiu mais a palavra ao ex-colega de farda. “Não acho que o governo piorou, mas as dificuldades de administrar conflitos e de se relacionar de maneira harmônica com os demais Poderes e outros setores da sociedade têm ficado mais evidentes.” Ele vê incoerência entre os tempos da campanha e a prática atual do presidente. “Na campanha, criminalizou as negociações políticas, agora elogia. Em 2018, era contra a reeleição, hoje parece que tudo é feito com o olho em 2022.” Procurado pela reportagem, o Palácio do Planalto preferiu não se manifestar sobre as declarações de Santos Cruz. ***************** *** Música | Teresa Cristina - Coração Imprudente (Paulinho da Viola) *** LETRA: O quê que pode fazer Um coração machucado Senão cair no chorinho Bater devagarinho pra não ser notado E depois de ter chorado Retirar de mansinho De todo amor o espinho Profundamente deixado O que pode fazer Um coração imprudente Se não fugir um pouquinho De seu bater descuidado E depois de cair no chorinho Sofrer de novo o espinho Deixar doer novamente Compositores: Jose Capinan / Paulo Cesar Baptista De Faria ************************************************************************

Nenhum comentário:

Postar um comentário