Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023
Voltei O linda
“o inesperado é sua norma máxima”.
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No texto, Leminski imagina uma vinda hipotética do filósofo francês René Descartes ao Brasil, a convite do conde Maurício de Nassau.
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CANAL LIVRE - ANDRÉ LARA RESENDE
Band Jornalismo
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Transmissão ao vivo realizada há 3 horas
O Canal Livre do próximo domingo recebe um dos idealizadores do Plano Real, ex-diretor do Banco Central e recém nomeado para a Comissão de Estudos Estratégicos do BNDES, o economista André Lara Resende. O programa vai debater a atual conjuntura econômica brasileira, os embates sobre a taxa de juros e as reformas que o Brasil precisa aprovar no Congresso Nacional.
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Luiz Carlos Azedo - Políticas externa e interna não são assimétricas
Correio Braziliense
Com menos de 50 dias de governo, é muito cedo para um diagnóstico sobre o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, uma “jaula de cristal” está em construção
Adeus, senhor presidente, do ex-ministro de Planejamento chileno Carlos Matus, é um romance-ensaio inspirado no governo de Salvador Allende, que assumiu o poder com grandes expectativas de mudança e foi destituído no sangrento golpe de Estado do general Augusto Pinochet. Na ficção, o protagonista é um ex-presidente que fracassou, e seu consolo é que o sucessor também está fracassando em meio a reuniões ministeriais surreais e até a uma tentativa frustrada de golpe militar. Sindicalistas, políticos de esquerda e de direita, empresários, tecnocratas, acadêmicos, idealistas, jornalistas e amigos corruptos tecem a trama, em meio a polêmica sobre como equilibrar as finanças e estimular o crescimento.
Em outra obra — O líder sem Estado-Maior —, Matus faz uma critica profunda aos governantes latino-americanos, compara seus imponentes e frágeis gabinetes a uma “jaula de cristal”, na qual o presidente se isola e se torna prisioneiro de uma pequena corte. “Um homem sem vida privada, sempre na vitrine da opinião pública, obrigado a representar um papel que não tem horário. Não pode aparecer ante os cidadãos que representa e dirige como realmente é, nem transparecer seu estado de ânimo.”
“O governante sente-se satisfeito com seu gabinete: nem sente que precisaria melhorá-lo nem saberia como fazê-lo porque o desacerto está no comando”, descreve. Na tentativa de realizar o impossível, continua Matus, “deteriora a governabilidade do sistema e não aprende, porque não sabe que não sabe. Encontra-se entorpecido por uma prática que acredita dominar, mas que, na realidade o domina. Acumula experiência, mas não adquire perícia; tem o direito de governar, sem ter a capacidade para governar. Nesse caso, pode ser que seu período eficaz de governo resulte nulo, pela impossibilidade de combinar, ao mesmo tempo, o poder para fazer e a capacidade cognitiva para fazer”.
Com menos de 50 dias de governo, é muito cedo para um diagnóstico sobre o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, a “jaula de cristal” parece em construção. Velhos companheiros do presidente da República, sobreviventes da crise ética, do colapso do governo Dilma Rousseff e do tsunami eleitoral de 2018 que levou Jair Bolsonaro ao poder, avaliam que Lula não tem um estado-maior. Aparentemente, não o deseja, embora não falte gente capaz na sua equipe de governo. Até agora, Lula não cometeu nenhum erro grave, mas a repetição de pequenos erros também desgasta.
É preciso distanciamento dos interesses imediatos para uma boa avaliação do processo em curso. A primeira comparação deve ser entre o desgoverno que tínhamos, com um projeto político “iliberal”, e o novo governo, democrático e civil. A mudança de rumo foi de 180 graus, do desmonte das políticas públicas e do permanente conflito institucional para o resgate dos direitos humanos e uma relação de equilíbrio e harmonia entre os Poderes.
Entretanto, com apenas uma semana de governo, Lula se viu diante de uma tentativa de golpe de Estado, cuja face mais visível foi a depredação do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), em 8 de janeiro. A resposta democrática civil foi a demonstração de força das nossas instituições políticas; e a solidariedade internacional nos reposicionou no Ocidente.
Cadeias globais
Políticas externa e interna não são assimétricas. A viagem de Lula aos Estados Unidos consolidou sua aliança com o presidente democrata Joe Biden, em torno da defesa da democracia e da questão ambiental. Retirou o Brasil da rota dos regimes “iliberais”do Oriente, mas isso não significa a superação das contradições e conflitos da globalização nem supera as dificuldades da nossa inserção nas novas cadeias de produção global.
Nosso principal parceiro comercial não são mais os Estados Unidos, é a China. Parceiros comerciais mais competitivos dominaram o nosso mercado e deslocaram a produção brasileira de mercados tradicionais de nossas exportações industriais, como a América Latina. Esse é o grande cenário.
A China emerge como grande potência do Oriente e emula o Ocidente. Os países do G-7, há 30 anos, tinham cerca de 70% da renda mundial. Hoje, detêm algo em torno de 45% ou menos. Esse deslocamento de renda se deveu à fragmentação da produção e à expansão de cadeias globais de valor.
Além da China, mais cinco países em desenvolvimento se beneficiaram fartamente desse processo: Coreia do Sul, Índia, México, Polônia e Tailândia. O Brasil ficou à margem, desperdiçou o ciclo de commodities ao aumentar o consumo sem ampliar seus investimentos. Tentou adensar cadeias locais antes de se integrar ao dinâmico processo de formação de cadeias globais e fracassou.
O discurso de Joe Biden sobre o Estado da Nação aponta aos Estados Unidos o caminho da reverticalização de suas cadeias de produção. Isso oferece mais ou menos oportunidades ao Brasil? Em vez de questionar a integração, precisamos estudar como nos inserirmos nas novas cadeias globais da indústria 4.0 e transitar para a economia verde, por meio da democracia, explorando a formação de cadeias de valor regionais, a nova tendência da globalização. É preciso um novo consenso nacional.
Muito se discute a questão dos juros altos e os desencontro entre as políticas econômica e monetária. Lula se depara com a ameaça de recessão e a emergência da situação social no país, cujos exemplos extremos são 40 mil moradores de rua na cidade de São Paulo, a nossa maior e mais rica metrópole, e o genocídio dos ianomâmis em Roraima.
O governo estuda três medidas para ativar a economia: a elevação do salário mínimo, a mudança na tabela do Imposto de Renda e a rolagem das dívidas de 80 milhões de cidadãos insolventes. São medidas emergenciais, focadas nos brasileiros que mais precisam do governo, porém, recolocam em discussão a relação entre equilíbrio fiscal e gasto público.
Em tempo: volto depois do carnaval.
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WW - Edição especial | A briga de Lula com o Banco Central - 12/02/2023
CNN Brasil
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Transmissão ao vivo realizada há 2 horas #CNNBrasil
Assista ao programa WW deste domingo, 12 de fevereiro de 2023, apresentado por William Waack.
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Pedro S. Malan* -Reconstrução do País e política monetária
O Estado de S. Paulo
Não deveria haver ideologia nessa discussão, assim como não deveria haver ideologia no debate sobre o nível das taxas de juros corrente
Vale relembrar o que disse Lula no primeiro discurso após sua vitória, na noite de 30 de outubro de 2022: “Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais e das ideologias, para que a democracia saísse vencedora. (...) A partir de 1.º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação. (...) A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra. (...) Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo a ser temido ou destruído”.
Lula enfatiza a necessidade de reconstruir o País e sua alma. Recorro, a respeito desse propósito tão louvável, a Fernando Pessoa: “O primeiro passo para uma regeneração, econômica ou outra (do País), é criarmos uma atitude mental, um estado de espírito de confiança nessa regeneração”. Porém o que importa, de fato, no mundo real tem que ver com resultados efetivos. Estes, segundo o mesmo Pessoa, dependem de três coisas: “saber trabalhar”, “descobrir oportunidades” e “criar relações tanto na vida material quanto na vida mental”. O resto é sorte, diz Pessoa (“como herdar do tio brasileiro ou não estar onde caiu a granada”).
O momento recomenda que eu faça um comentário sobre as críticas à política monetária tal como conduzida pelo Banco Central; e sobre o voluntarismo de certas sugestões para “resolver” o problema.
Desde junho de 1999 o Brasil decidiu que seu regime monetário seria o regime de metas de inflação, que desde então vem servindo bem ao País. O Brasil decidiu tentar, desde 2000, ter um regime de responsabilidade fiscal, com a aprovação da lei que levou este nome. Temos um regime de taxas de câmbio flutuantes desde janeiro de 1999, quase um quarto de século. Os três foram avanços institucionais importantes.
Aquilo que seremos ou não como sociedade depende, é claro, de inúmeras outras questões econômicas, político-institucionais e sociais, que transcendem em muito as questões macroeconômicas. Mas um mínimo de previsibilidade, estabilidade, credibilidade e responsabilidade na área macroeconômica é condição inafastável para que os avanços nas outras áreas, que a tantos parecerão muito mais importantes, possam ser alcançados e consolidados.
Tenho insistido, há muito, na importância de distinguir entre (1) a decisão, que é política, sobre os regimes (monetário, cambial e fiscal) a adotar; (2) a operacionalização da política (monetária, cambial e fiscal), uma vez dados os regimes nas três áreas, e (3) sobre os níveis e variações específicos que assumem, a cada momento, as variáveis fundamentais de cada regime: a taxa de juros, a taxa de câmbio e, no caso do regime fiscal, os déficits (fluxo) e dívidas (estoques).
É importante a reafirmação da decisão política de que o regime de metas de inflação é o mais apropriado para o País. Dado nosso longo histórico nesta área, não teria qualquer credibilidade um governo que se limitasse a afirmar que “envidaria o melhor de seus esforços para manter a inflação sob controle – mas que não abriria mão de outros, mais importantes, objetivos econômicos e sociais”.
Há uma certa convergência, no caso do regime monetário, em favor do regime de metas de inflação. Mas há também uma crescente intenção de discutir a forma pela qual o Banco Central operacionaliza o regime, em particular a definição da meta de inflação para alguns anos à frente, bem como o nível e a trajetória dos juros básicos da economia.
É importante preservar a lei que assegura autonomia ao Banco Central para operacionalizar a política monetária por meio de decisões sobre a taxa de juros e seu curso futuro. Decisões adotadas dadas as metas estabelecidas, não pelo Banco Central, mas pelo governo – por intermédio do Conselho Monetário Nacional, no qual hoje estão presentes, além do BC, os ministros da Fazenda e do Planejamento.
É importante que haja debate honesto sobre o tema. Um debate baseado em discussões sobre nossa própria experiência, bem como sobre a experiência internacional. Um debate que deixe de lado o recurso a voluntarismos variados que não levam em conta o efeito e as consequências de decisões tomadas sobre o processo de formação de expectativas sobre o curso futuro da inflação, do câmbio e da dívida.
Há, sobre esses temas de fundamental importância, controvérsias legítimas entre pessoas de boa-fé. Não deveria haver ideologia nessa discussão, assim como não deveria haver ideologia no debate sobre o nível das taxas de juros corrente. Se os atuais 13,75% são vistos como “excessivos” e “insustentáveis”, é possível discutir as razões para tanto – e procurar as convergências possíveis entre soluções plausíveis. Dentre as quais se incluem talvez ligeiras elevações das metas antes definidas para 2024 e 2025. Sem perder de vista, nunca, que essas discussões não têm como excluir as questões fundamentais relacionadas às perspectivas de evolução dos resultados fiscais e dos efeitos sobre a trajetória da dívida no médio e longo prazos.
Economista. Foi ministro da Fazenda no governo FHC.
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Música | Voltei Recife - Os Bicudos & Fios de Choro
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Poesia | Três Coisas - Paulo Mendes Campos
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“quem me compreenderá?”
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O “Catatau”, romance-idéia, como Paulo Leminski (1944 – 1989) passa a caracterizá-lo a
partir da sua segunda edição, vem inicialmente a público em 1975, após nove anos do
surgimento da sua hipótese central, já bastante conhecida. De acordo com o autor, durante
uma aula ministrada por ele sobre as Invasões Holandesas ao nordeste brasileiro, no período
colonial, aparece-lhe a seguinte intuição inicial: “e se Descartes tivesse vindo para o Brasil
com Nassau, (...) ele, Descartes, fundador e patrono do pensamento analítico, apoplético nas
entrópicas exuberâncias cipoais do trópico?” (LEMINSKI, 1989, p. 207).
Na verdade, essa idéia-guia já havia sido posta em prática alguns anos antes, na elaboração do
conto “Descartes com Lentes”, inscrito no 1º. Concurso de Contos do Paraná, em 1968, e
publicado posteriormente, em forma de homenagem, exatamente no dia em que o poeta
estaria completando 49 anos, em 24 de agosto de 1993 (v. anexo A). O conto já trazia a fábula
básica do “Catatau”: Renatus Cartesius, um hipotético duplo textual do filósofo francês Renné
Descartes (1596 – 1650) com o nome latinizado, encontra-se, numa manhã, embaixo de uma
árvore no lugar correspondente ao horto/parque florestal anexo ao palácio do príncipe
Maurício de Nassau. Sob os efeitos de um alucinógeno, passa em revista a fauna e flora
tropicais, e os princípios da lógica européia, da qual foi um dos mentores e expoente.
Enquanto sonha seu drama, atormentado pela aparente ininteligibilidade da realidade tropical
frente aos seus conceitos, espera por Arciszewisky (assim grafado pelo historiador Pedro
Calmon, mas de inúmeros modos no conto e no romance de Leminski), também um duplo
textual de um estrategista do exército da Companhia das Índias Ocidentais, um nobre polonês,
aquele que supostamente poderia explicar-lhe o novo mundo e suas bizarrices. Mas
Arciszewisky chega completamente bêbado, portanto, incapaz de ajudá-lo. Os textos, conto e
romance, se encerram, então, com uma mesma pergunta: “quem me compreenderá?”.
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Façamos aqui um breve registro a respeito desta “hipótese-fantasia” que orienta a fábula do
“Catatau”. Segundo o poeta, tradutor e ensaísta recifense Delmo Montenegro (2004, p. 266), o
“Catatau não é um romance histórico. Apesar de Occam, Descartes, Nassau, Arciszewski e
Marcgraf terem existência concreta para a ciência histórica, eles nunca, never, jamais
coabitaram temporalmente um mesmo situs”. Para ele, a intuição leminskiana, em razão de
um caso de homonímia, teria sido vítima, embora feliz sob o ponto de vista poético, de uma
armadilha. De fato, Descartes servira, na Holanda, a outro Maurício de Nassau, ao príncipe da
dinastia de Orange, nascido em 1567 e morto em 1625, e não ao que viria a ser o GovernadorGeral no Brasil, o conde João Maurício de Nassau-Siegen (1604 – 1679). Ainda segundo
Montenegro, haveria uma confusão sobre os topônimos Vrijburg e Mauritstad, referidos por
Leminski como denominações da cidade de Olinda. O primeiro seria, na verdade, a
designação de uma das moradias do conde Maurício de Nassau (eram conhecidas três); e o
segundo o nome de outra cidade, erguida na antiga Ilha de Antônio Vaz, hoje de Santo
Antônio, para ser o centro da gestão holandesa. Ocorreriam também algumas confusões sobre
o personagem Arciszewski, no que diz respeito a datas e fatos históricos que o envolveram.
Estas ressalvas são importantes na medida em que nos esclarecem sobre o fundo histórico
aludido no romance, evitando algumas interpretações apressadas e equivocadas, porém, devese ressaltar o caráter ficcional da narrativa que, por isso mesmo, tem liberdade plena para os
jogos de significações e alusões. Dito isso, retomemos a apresentação do livro.
O conto trazia, segundo revelação posterior de seu autor, em estado de latência, um projeto de
desenvolvimento, como se exigisse uma expansão. Do conto ao romance, vários
procedimentos passaram a ser incorporados, entre eles a proliferação de neologismos
literários, especialmente de palavras-valise, e uma crescente e proposital fragmentação do
texto, a partir, principalmente, da utilização de diversos processos de montagem, redundando
28
em uma narrativa altamente descontínua, caótica e obscura. Leminski (1989, p. 210) esclarece
que “o inesperado é sua norma máxima”. E complementa:
***
O ritmo, não o metro. O Catatau registra direções, não assunto.
Oftalmografa a passagem das distâncias nas células fotoelétricas das
afinidades eletivas; regula a articulação das partículas até estas se
descontrolarem, gerando leis de crescente complexidade, que já
emergem precipitando novas catástrofes de signos. Por isso, atenção
flutuante nas ex-abruptas passagens do sentido para o nonsense, do
suspense para o pressentimento. (p. 211)
***
No capítulo 5 deste nosso estudo, intitulado Produtividade e Performance no “Catatau”,
apresentamos a riqueza desses procedimentos empregados na reelaboração do texto inicial do
referido conto, objetivando o desenvolvimento do texto definitivo do romance.
Vejamos como alguns críticos e escritores se posicionaram diante do livro. Risério (1989, p.
221) assim se refere a ele: ”O Catatau não é romance nem ensaio. Texto conceitual e poético,
além ou aquém de gêneros”. Bonvicino (1989, p. 224) o aponta como “a prosa mais densa e
inventiva dos últimos dez anos”. Costa (1989, p. 226) afirma que ele é “a retomada da linha
evolutiva da poesia concreta. É vanguarda”. Barbosa (2004, p. 392) o qualifica como
“romance pós joyciano que pode ser considerada a peça de prosa mais ousada escrita no
Brasil depois (cronologicamente) de Guimarães Rosa e das Galáxias, de Haroldo de
Campos”. Todos esses testemunhos confirmam o compromisso do “Catatau” com a prosa de
invenção e, conseqüentemente com a chamada “literatura da criação” (PINO, 2004), que
descrevemos no próximo capítulo.
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1 “CATATAU”: A IDÉIA DE UM ROMANCE
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Descartes com Lentes (Foto: Elenize Dezgeniski)
Série 'Teatro em casa' apresenta 'Descartes com Lentes', baseado em conto do escritor Paulo Leminski
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"Domingo (18/04), o Teatro #EmCasaComSesc recebe a atriz e diretora teatral Nadja Naira, da companhia brasileira de teatro, com o exercício cênico “Descartes com Lentes”. Com direção de Marcio Abreu, a montagem traz à cena um conto do escritor Paulo Leminski (1944-1989). No texto, Leminski imagina uma vinda hipotética do filósofo francês René Descartes ao Brasil, a convite do conde Maurício de Nassau. Junto com sua comitiva, repleta de cientistas, naturalistas, desenhistas e pintores, Descartes tenta desvendar e descrever as excentricidades e belezas do país tropical; procura filosofar sobre o Brasil e o modo de vida do seu povo. A apresentação será realizada na sede da companhia, no prédio histórico do Largo da Ordem, em Curitiba (PR), com adaptações que fazem da obra uma performance-aula-memória. Classificação indicativa: 16 anos."
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DESCARTES COM LENTES
(Conto de Paulo Leminski que deu origem ao “Catatau”)
Ego, Renatus Cartesius, cá perdido neste labirinto de enganos deleitáveis, vejo o mar,
vejo a baía e vejo as naus. Vejo mais. Já lá ao três anos que deixei a Europa e a gente civil: lá
presumo morrer à sombra de meus castelos e esferas armilares, jazendo na ordem de meus
antepassados. “Barbarus hic ego sum quia intellegor ulli”, - isso do exílio de Ovídio é meu.
Do parque do Príncipe, contemplo o telescópio, o cais, o mar e os pássaros do Brasil.
Como é do meu hábito de verdes anos, medito deitado nas primeiras horas da manhã só me
fazendo à rua muito tarde, já sol de meio-dia.
Estando no parque de Vrijburg, circundado de plantas gordas, na suas folhagens
descomunais, flores enormes de altas cores, cintilantes de gotas d’água e de insetos; seu
cheiro é uma carne, o ambiente é sólido, eu poderia tocá-lo.
Bestas de toda sorte circulam em gaiolas, jaulas, ou soltas – animais gerados pela
inclinação do eixo da terra, do equinócio. O chamado, na algaravia destes reinos, tamanduá, c/
a língua serpenteando entre as formigas de que extrai todo seu mantimento; levanta-se de pé à
laia de homem, formidando e formigófago: o olhar míope de ver formigas cara a cara, tropeça
num formigueiro e rola, envolto em formigas. Tatu é convento, rochedo e bastião; disfarçado
de pedra, gela com elas e crescem árvores, repousando enquanto pensa seus juízos
irrefutáveis.
As capivaras, ratos magnos, o estômago maior que o corpo, concentrando comida.
Numa gaiola, o tucano, indeciso sobre o penhasco do bico, ser pedra ou bicho.
Monstros da natura desvairada nestes áreas. A jibóia, python que Apolo não matou, abre todo
seu ser em engolir; engloba antas, capivaras, veados, - de que deixa fora das goelas os chifres,
- como uma árvores caída com galhos -, até que apodreça em seu bucho;então cospe os chifres
e come outro. Exorbitantes, vivem séculos, diz Marcgrav. Certamente vivem séculos. Crias?
Qual não será filhote? Cada vez maiores, a mãe delas todas acabará por engolir o orbe. Não,
esse pensamento não é corrupção dos climas, é inchação do calor em minha cabeça. Que se
passa comigo? Hei de abrir meu coração a Articzewski e saberá esclarecer essa treva que me
envolve. Virá. Articzewski virá. Nossas manhãs de fala fazem-me falta. Quanto falta para que
chegue? Um papagaio pegou meu pensamento, diz palavras em polono, imitando Articzewski.
Bestas geradas no mais aceso do fogo do dia... Comer esses animais há de perturbar
singularmente as coisas do pensar. Passo os dias entre essas bestas estranhas e à noite meus
sonhos se povoam de estranha fauna e flora, de bicos e dentes... É a flora faunizada e a fauna
florescida. Singulares excessos. Escrevendo as “Primae Cogitationes circa generationem
animalium”, - de haec omnia non cogitavi. Esperarei consumindo desta erva de negros que
Articzewski me forneceu, chiba, chibaba, dianga, diamba, ou diancha, como a registra
Marcgrav em seu “Lexicon omnium vegetalium quibus in Brasiliae utetur”. É uso de
tououpiambaoults, de gês e de negros minas. Aspirar estes fumos de ervas, encher os peitos
com os vapores deste mato, a cabeça quieta. Cresce de súbito o sol e as árvores vuhebehasu,
que é enviroçu, embiraçu, inveraçu, conforme as incertezas da fala destas regiões, onde as
palavras são podres, perdendo sons, caindo em pedaços pelas bocas dos bugres, água, fala que
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fermenta. Índio é gente que carrega enormes pesos nos beiços, pedras, paus, penas, e não
podem falar, falam como quem tem a boca cheia de bichos vivos. Os movimentos dos animais
é augusto e lento, todos se olhando de jaula para jaula e para mim. A árvore vuhebehasu, de
cerne mole, à maneira de carne ulcerada, casca com verrugas, as folhas grandes lóbulos de
orelha, com um látex como porra pelos poros das formigas, dos seus galhos – tufos de
parasitas, os frutos são ninhos de formiga, labirintos dos marimbondos, onde os
tououpinambaouts vêm caçar maracanãs. Vejo baleias: limitado no mar Atlântico pelas tribos
de baleias e no lado do poente pelos desertos de ouro em pó onde sopra o vento que vem do
reino dos incas. E os aparelhos ópticos, meus aparatos? Ponho mais lentes no telescópio, tiro
outras; amplio; regulo; aumento, diminuo, o olho enfiado nestes cristais, e trago o mundo
mais perto ou o afasto longo do pensamento: escolho recantos, seleciono céus, distribuo
olhares, reparto espaços, o Pensamento desmonta a Extensão, - e tudo são aumentos e
afastamentos. Um olhar com pensamento dentro. Sempre fumando desta erva-que-dói. Como
coça. Insetos insetívoros... E de Articzewski (ou Articzowski?) nada... Nem signos nem
sinais... E esse sol epilético... Por três anos em vão alcei meu pensamento sobre esta fauna e
esta flora e sinto que estes bichos de olhar calmo estão pensando em mim. Maravilha é pensar
esse bicho. Como pensar esse bicho? Duvido que Articzewski possa. Ao poderemos. Este
bicho é proteu, aquela ave é orfeu, este vapor é morfeu? Quem mordeu? Metamorfose. Isso é
dúvida ou concessão à má natura? O que é olho de onça, o que é vagalume? Enquanto o
macaco representa e gesticula humano – o papagaio fala, e parece gente em pedaços, uma
parcela no macaco e uma porção num papagaio. Batavos há que tem perdido a razão nestas
zonas, casando-se em conúbios múltiplos com as índias, falam o linguajar deles, que é como
os sons dos estalos e zoos deste mundo. Duvido de Cristo em nheengatu. Índio é gente? Este
país cheio de brilho e os bichos dentro do brilho é uma constelação de olhos de fera. E de
noite a cabeça cheia de grilos e gritos tem pensamentos de bichos... Esponjas, antenas, pinças
certeiras. Pensamento é susto. Que fome! Uma arara acende-se em escândalos mas não é
Artichofski. Num galho reto da árvore sob a qual me jazo (“patulae recumbans sub tagmine
fagi”), está o assim designado bicho preguiça que requer uma eternidade para ir dez palmos:
este animal não vive no espaço, vive no tempo, no calor e na intensidade. Este mundo não se
justifica. Que perguntas fazer? Gigantomaquia, batracomiomaquia. Esta alimária levando
eternidades para nada é o relógio deste meu estar fracassado: o bicho mede-me o tempo do
intenso. Uma insógnita parada numa reta. Preciso lembrar disso para Artizcoff, e a preguiça
sobre mim. Nem a fumaça que emito a perturba no calor do seu estar. Este mundo é o lugar do
desvario e a justa razão aqui se delira. Umas árvores de papagaios: formigas comem uma
árvore numa noite, - e os papagaios no sono, donde tantas árvores secas com os respectivos
esqueletos apensos. E o calor... Esta canícula... O calor é pura substância onde bóiam gaivotas
e o pensamento não entra nesses espaços nem ingressa nesse mundo.
As aves sem fôlego, no sol, no fogo... O arúspice vê no vôo das aves o futuro pelo
muito eterno do presente em que elas vivem. Não, esses pensamentos recuso, refuto e repilo.
Sinto coisas crescerem em mim, contra mim e em prol deste mundo. Nada há aqui onde
apóies o pensar. A esta terra faltam-lhe castelos, tumbas, estátuas, palácios catafalcos,
cenotáfios, marcos miliários, arcos de triunfo, torres, estirpes. Fico feito Sísifo rolando rochas
de cogitações que escorregam de volta no seu próprio peso. Faltam coordenadas... E essa
preguiça... Com esse sono pesado, estou ancorado no presente, acordado neste pensar (ou
pesar?) permanente... Artissef me levantará do chão e de minhas dúvidas. Um mecanismo de
passarinhos! Aumento o telescópio: mais lentes. Lentes e dentes. Omito. Aqui não se reparte,
não se divide. Um dia a selva desmorona em cima de Mauritstadt e a afunda na lama e no
calor. Não esse pensamento não. Atrapalhos e trambolhões. Trabalhos de hércules. Podar as
opiniões recebidas, as verdades dadas e os dados herdados, passando o rio Aqueloo, - e o
discernir é o Aqueloo; cortar as sete cabeças da Hidra da vã presunção e inchaço de saber, que
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são, a) pensar que se sabe, b) dizer que sabe não sabendo, c) distorcer o cristal da verdade, d)
ter o erro como verdade, f) não precisar de ninguém para chegar à verdade, g) precisar de
todas as autoridades para chegar à verdade. Isso é hidra. Saber é hidra? Disso é mister cortar
as sete cabeças. Colher os pomos de ouro do jardim das Hespérides (estes cajus) além das
colunas: ir por partes, repartir. Sim, repartirei. Confirmo: Articavski, reparti. Parti, rachei,
reparei. E de trabalhos não chegarei aos doze. Para que trabalhar tanto? “Credo ut
intellegam”, sim, mas já não creio no que penso. Já duvido se existo: êxito. Se existe este
tamanduá, eu não existo. Pensar é uma esponja? Tamanduá não é verdade; eu quero a
verdade. Com os santos padres de La Flèche aprendi a obrar em presença de Deus; e aqui, -
obrando em presença de bichos? Pelo Sagrado Coração de Jesus! E que é do Cérebro de
Jesus? Ah, se o rio de pensar fossem silogismos e subjuntivos!Aqui tudo tão enigmas. Esta
vuhebehasu é esfinge, e Cérbero bebe o Estige e a água do meu cérebro. Quero dizer: aqui não
se pensa: e olhar com lentes já é o máximo do pensar... É o sumo do pensar, e aqui estou no
máximo e no excedente. Nas excelências. A cabeça furada de cáries. Um côco roído de
formigas. Nestes climas onde o bicho come os livros e o ar caruncha os pensamentos, estas
árvores ainda pingando as águas do dilúvio. Ah, Brasil, Parinambouc, minha Tróia, este
mundo é sujeira; este mundo não sai: é uma sujeira em meu entendimento no vidro de minhas
lentes.
O próprio do corporal alimento é, em alimentando, ir-se-lhe o sabor da boca; mas os
frutos desta terra são caju, maracujá, guabirobas e ananazes; o sabor fica na boca e não passa.
Essas frutas são fruto de minha imaginação ou usufruto de meu cismar? Esta nota a porei em
nótula ao “De Saporibus”: em Marpion não. E metamorfoses, as coisas rolam, transformam-se
sem sair do lugar. Calor e mosquitos que me carcomem os pensamentos. Meu pensar
apodrece entre mamões, caixas de açúcar e flores de Ipê. Durmo com um teorema na cabeça,
comendo abacaxi, e acordo com a boca cheia de formiga. Vae! Ai do Pensamento e da
Extensão. Cancelado e cancelado. A humana criatura aqui não mais “substância pensante”
mas substância pesando, substância substante, que sei? A ciência do silêncio e do pensar
violento. Lá na torre, Marcgrav, Goethuisend, Usselinex e Post colecionam em vitrines e
vidro os bichos e flores deste mundo; mas não sabem que deviam por o Brasil inteiro num
alfinete sob o vidro? Não, esse pensamento não. A sombra da preguiça pesa sobre meu
entendimento como um penedo. O sol por dentro dos cachos, frutas explodem em fachos,
entre penas de insetos, plumas. Pirilampos de pensamentos, lampejos. A cabeça pensa com a
boca podre, os dentes carcomidos de açúcar? A aranha ali leva para fazer a teia o mesmo
tempo que levo para pensar um teorema. Ou perco? Se perco, perdi-me Artizhofski achar-meá para mim e para ele?
Quando vim com Maurício, não pensava; quando vim, vinha. De fumar a boca se
enche de terra e a cabeça de uma água calma. Investi,; pelejei contra Paranambouc de ponto
em branco no meu método – “mirabilis fundamentum” – mas ora sei que todo método é
método de preservar-se da irrupção de novas realidades. Que mau astro me trouxe a parar
nestas paragens? Que signo? Câncer, - comido dos cânceres de Câncer, ou flechado nas setas
de Sagitário, náufrago nas águas do Aquário; e ponho na Balança um bicho que rói o fiel e a
balança rui. Vim com as naus se Nassau para expor meu método às tentações deste mundo,
para prová-lo nesta pedra de-toque, mas meu pensar bate nessa pedra – e o eco é pleonasmo, é
tautologia, eco a mesmice; reflete, devolve e recusa: siso de Narciso.
- Ignoras, mundo, tudo que pensei?
- Sei.
- Qual é teu arcano que decifrar não consigo?
- Sigo.
- Aonde vai esta preguiça que para nada tanto tempo levou?
- Vou.
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- Onde reside tua verdade para eu buscá-la?
- Cala
- Cogito ergo sum?
- Um.
- Quem me conta desta mundo, que tento mas não disseco?
- Eco.
Concrescem as horas e as obras, eu perdido no pó deste pensar, no meio destas cobras. Raízes
com ostras. Raízes. Monstros à mostra. Abortos abertos ao sol, e troncos. O aparente aparece.
Isso é baralho: um ás na hora vale mais que Aristóteles. Mas que digo! Alguém está pensando
no meu entendimento, ou já criei bicho na memória? Ou é alguma carne, alguma rês, que
comi? O ser é espesso, definitivo. Precário. Ou uma erva, um clima, uma região e um zôo
podem mais que meu entendimento e minha alma imortal? Salvá-la-ei? “Quod vitae sectabor
iter?” Isso de Ausônio perguntei-me em verdes anos. E agora entre tououpinambaoults, que
me importa? Às vezes parece-me que a terra pulsa como um coração; ou será o meu? De
quem será? Que pensam os índios sobre isso tudo? Índio pensa? Artixoff mo dirá; ocorre-me
que está aqui há dez anos: e não pensando mais? Com aquelas tatuagens todas, pensa ainda?
Um homem escrito pensa? Esse pensamento recuso, refuto, repilo, deserdo, rasuro, desisto.
Índios comem gente. Pensamento é susto. Estes conceitos – eu os quero perpetua. Perpétuos
em minha memória – estes sucessos. Demasias. Este mundo, este mato. Índios comem gente.
Como será? Sepultar em nós um corpo com nome e coração, e me vem de súbito a fome de
devorar Artixofski. Terei seus pensamentos? Sentirei seus males, sofrerei de sua sede. saberei
de seus sabores e deveres? Estes conceitos – eu os quero esquecer. Artixoff não saberá deles,
não se pensa mais nisso. Índio pensa? Índio come gente – isso sim. Índio me comendo,
pensará estes meus pensares ou pensará de todo esse peso, parado no momento? Um índio
come a tua perna olhando cara a cara, olho a olho, com tua cabeça caveirada. Eu vi com estes
olhos que a terra há de comer. Ou não? Ora saibam que os tououpinambaoults espetam no
fálus certos espinhos e acúleos para inchá-los como troncos, e mal podem suster-se ao peso
daquilo e incham pelo amor de inchar que não há mulher que os sofra, como tudo incha e infla
nestes climas. Ah, como penso mal! Elefantíase do meu cogito! Uma fumaça sobe aos ares.
Queimam os campos? Ou é a guerra? Artixov enfrenta os de Parinambouc. Os corvos
comedores de olho enfrentam o sol e se assanham nas pupilas. Não, chega de ficção, não há
guerra, tudo é paz, é sossego, só essa angústia assustada. Aponto a luneta e partem naus.
Erguem velas com gente suando de saudade. Partem mas não vão. E a âncora que içam vem
viva, é um caranguejo que corta as cordas e as jugulares. Naquela água de abacate, nada
navega, nada se locomove. E a bússola é um relógio morto. E o pensar estelar destes insetos
com antes azuis e ágeis? É o meu? Não é o meu, que eu sou de repartir e separar. Ah, como
era eu Cristo ao dar seu pão repartindo em pequeninos! Sinto o pisar dos bichos, e o pesar dos
peixes nessas águas onde bóiam mamões. Nada que mereça o bronze ou a bela linguagem. O
olho do sol pisca. Artisheffsky para cair sobre meu pensamento. A preguiça não come. Incha
de estar ali. Parada no ponto exato. Gerar e girar. Meu corpo só podia ter o tamanho que tem.
Vulnerável à dúvida, ao dente e ao olhar, - vulnerável a lâminas, flechas, arcabuzes, - e a
cabeça que pensa uma clava de tououpinambaoults esmaga. Não há dúvida. Ai, como dói essa
constelação na úlcera de minha dúvida metódica! E o método duvidoso desses bichos? É
preciso matar para garantir o método; aquele olhar te olhando é pensamento, e isso dói.
Pisando até esmagar aquela cabeça, o ar se limpa: você apaga essa fogueira do pensar, em
cujo fumo gesticulamos afônicos e acéfalos. Afasta-te, remove-te, Parinambouc dá-me o
espaço de pensar-te e, em te pensando, salvar meu pensamento da danação, vade retro! Sylva
aestu aphylla, sylva horrida... Intumuere aestu... Falar por falar é coisa que nunca fez mal.
Pensar por pensar, Consumir-se suando de pensar como um círio, aceso na cabeça e as
formigas me comendo e me levando em partículas para suas monarquias soterradas. A
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existência existe no existente, a presença presente no presenciar, as circunstâncias no
circunstancial, o íntegro integrado no integral, a totalidade totalmente no total. Contacto
compacto com coisas coesas. No grande livro do mundo, Parinambouc são páginas
enigmáticas fechadas ao siso e à fala. Este capítulo não cifro nem decifro; ou é erro? Sofro, e
este livro sem textos é só ilustração e iluminura. Não traduzo nem meio. Coagido, cogito.
Giro e jazo. Um círculo de giz em volta de meu juízo, uma nuvem, uma caligem, um bafo me
embacia o entendimento para que não entenda Parinambouc, e Parinambouc é o círculo, a
nuvem, a caligem. Cogito ergo sum? Sursum corda. Ergo. Dentes e lentes. Cogito e corrijo.
Agito. Fedor de antas e araras. Uma fera urra dando à luz. A onça está parindo Articzewsky?
Ai, ui, este pensamento sem bússola é meu tormento. Meu penar e no pesar. Ah, quando verei
meu pensar e meu entendimento – fênix – renascer das cinzas deste cigarro de maconha?
Ocaso do sol do meu pensar. Novamente: a maré de desvairados pensamentos me sobe no
pomo de Adão como um vômito. Estes não. É esta terra: é um erro, um engano de natura, um
desvario, um delírio, um desvio. Uma doença do mundo. E doença doendo, eu aqui com
lentes esperando Articxoffski, e aspirando. Aumento o telescópio; na subida, lá vem
Artyxovsky... Mas como? Vem bêbado... Artyshesky bêbado... Bêbado como polaco que é...
Bêbado? Quem me compreenderá?
[Conto transcrito de: LEMINSKI, Paulo. Descartes com lentes. Curitiba: Ócios do Ofício,
1993. (Coleção Buquinista)]
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/ECAP-7DHF3S/1/tese.pdf
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INTRODUÇÃO
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Lara Resende critica juros altos do BC e afirma que Brasil pode enfrentar 'recessão séria'
MÔNICA BERGAMO
dom., 12 de fevereiro de 2023 às 11:21 AM BRT
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 27-08-2013 - O economista André Lara Resende durante debate sobre os Limites Planetários do Crescimento Econômico,em São Paulo (SP). (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)
SÃO PAULO, SP, BRASIL, 27-08-2013 - O economista André Lara Resende durante debate sobre os Limites Planetários do Crescimento Econômico,em São Paulo (SP). (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O economista André Lara Rezende criticou duramente as altas taxas de juros mantidas pelo Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto.
Na semana passada, Lula voltou a atacar o BC. Como a coluna Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, revelou, ele considera que Campos Neto traiu o governo e quer levar o país à recessão.
Em entrevista ao Canal Livre, da TV Bandeirantes, que vai ao ar neste domingo (2), o economista reforça o alerta. E diz que a taxa alta, combinada com balanços negativos dos bancos, pode colocar, sim, o país em recessão.
"O fato de que tivemos quebras no varejo leva os bancos a retraírem drasticamente o crédito. Assim, você agrava o processo de desaquecimento da economia e coloca o país em uma possível recessão muito séria", diz.
Ele também afirma que o argumento de que o Brasil passa por uma crise fiscal não se sustenta.
"Primeiro, esse terrorismo é feito permanentemente, o 'risco fiscal'. A relação dívida do PIB brasileiro, os resultados do ano passado, foi de superávit primário de 1,3%. A dívida-PIB caiu para 73%, há anos falam que vamos bater em 100%, 90%, mas esse é o nível mais baixo dos últimos seis, sete anos", segue o economista.
Questionado sobre os riscos de um déficit fiscal permanente, ele respondeu: "Pera aí, me explica por que não é sustentável? O que quer dizer risco fiscal? Risco de sustentabilidade? É a dívida. [O economista norte-americano] Jeffrey Sachs, que tivemos uma reunião ontem desse Comitê Estratégico do BNDES para investimento a longo prazo, repetiu o que me disse em um jantar no início deste mês. Se você olha as contas brasileiras, os números brasileiros e pergunta sobre o país, falam que o país está perfeitamente bem, com a economia em ordem. Há um endividamento muito inferior ao de todos os países desenvolvidos, em linha com os países em desenvolvimento. E a dívida brasileira é integralmente em moeda nacional".
Ele disse também que o fato de a dívida brasileira ser maior do que a de países de desenvolvimento semelhante é natural.
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"A nossa é pouco acima dos países emergentes. Somos um país maior, e quanto mais sofisticado no mercado financeiro, maior a dívida interna. A dívida interna é o ativo sem risco do sistema financeiro, deve ter uma proporção. É mais coerente medir a proporção de dívida com ativos privados. Porque a dívida pública é uma dívida do governo e um ativo do setor privado, as pessoas se esquecem isso. Se o governo superavitar e reduzir a dívida interna para zero, o setor privado perderia 70% do PIB em termos de riqueza financeira", disse ele.
"Portanto, a situação fiscal brasileira é muito razoável. O Brasil tem nos últimos anos, sempre teve no século 21, em quase todos os anos, superávit primário. Alguns anos teve déficit primário e depois voltou e nesse ano voltou a ter superávit de 1,3% do PIB. Como se pode dizer que é um risco fiscal e por isso a taxa de juros tem que ser alta? A taxa de juros básica quem determina é o Banco Central, a de longo prazo é fixada pelo mercado na expectativa do custo de carregamento, por isso ela também é determinada pelo Banco Central", seguiu ele.
"O brasileiro é todo financiado por brasileiro. Quem financia o Brasil são os brasileiros, em moeda nacional. Quem compra dívida pública não é investidor, é rentista. Investidor é quem investe com risco, na dívida pública não tem risco", concluiu o economista.
A entrevista de Lara Resende será exibida às 20 horas no BandNews TV e à meia-noite, na Band e também pelo YouTube.
A apresentação é de Rodolfo Schneider com a participação dos jornalistas Juliana Rosa, André Basbaum e Rodrigo Orengo.
https://cartacampinas.com.br/2021/04/serie-teatro-em-casa-apresenta-descartes-com-lentes-baseado-em-conto-do-escritor-paulo-leminski/
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90. Narvik (2023)
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Películas buenas de Netflix: 90 joyas actuales y alabadas por la crítica que quizá se te han escapado
De Mudbound a Sin novedad en el frente, Netflix ha acumulado en apenas cinco años un arsenal de buenas películas, pero no todas han tenido tanta proyección mediática. Aquí tienes las mejores.
Por Gonzalo Cordero
Updated: 10/02/2023
https://www.esquire.com/es/actualidad/cine/a30908858/netflix-peliculas-buenas-actuales-critica/?utm_medium=Social&utm_source=Facebook&fbclid=IwAR2d0k9DmNIjmVxM-8qTOXcayI-KKLGQKnoJMhasjVcW62tDF2YomZguWxw&mibextid=l066kq#Echobox=1676025126
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