Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023
FAKE PATRIOT
FALSO PATRIOTA
GERALDO PEREIRA
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Você diz que é patriota,
Mas seu charuto preferido é o cubano,
Se esquece que na Bahia,
Que hipocrisia,
Há o charuto baiano,
Você diz que é patriota,
Sua bebida é de marca escocesa,
Não bebe nossa cachaça,
E ergue a taça,
Com a champanhe francesa.
Seu carro é americano,
Seu queijo é holandês,
Seu azeite vem da Espanha,
O seu vinho é português,
Dentro do seu palacete só se fala inglês,
Dentro do seu palacete só se fala inglês.
Não canta nosso samba,
Não gosta de pandeiro,
Veste um tecido nosso,
Diz que é do estrangeiro,
Fala mal do que é nosso, diz que é brasileiro,
Fala mal do que é nosso, diz que é brasileiro....
Falso Patriota
Geraldo Pereira
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Geraldo Pereira - Cabritada malsucedida / Polícia no morro
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Cabritada malsucedida (Geraldo Pereira-Wilton Wanderley) - gravação de 1953
VICTOR 80.1192 b/set. 53 (26/06/1953)
Polícia no morro (Geraldo Pereira-Arnaldo Passos) - gravação de 1952
SINTER 0000111 b/jan. 52
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Samuel Machado Filho
há 10 anos (editado)
Samba do próprio Geraldo Pereira em parceria com Wilton Wanderley, gravado pelo compositor na RCA Victor em 26 de junho de 1953, uma sexta-feira, com lançamento em setembro do mesmo ano, sob número de disco 80-1192-B, matriz BE3VB-0186. No lado A saiu "Falso patriota", de David Raw e Victor Simon. ISRC: BRBMG-5300025. https://www.youtube.com/watch?v=jbFZKzPb6io
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Fake patriot
You say you're patriot,
But your favorite cigar is Cuban,
Forget that in Bahia,
That hypocrisy,
There is the Bahian cigar,
You say you're patriot,
Your drink is Scottish brand,
Don't drink our cachaça,
And raise the cup,
With the French champagne.
Your car is American,
Its cheese is Dutch,
Your olive oil comes from Spain,
Your wine is Portuguese,
Within your palace only English is spoken,
Within your palace only English is spoken.
Don't sink our samba,
Don't like tambourine,
Wears a fabric of ours,
Says it's abroad,
Speak badly about what is ours, says he is Brazilian,
Speaks badly what is ours, says he is Brazilian ....
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'The words chiseled in stone above the entrance to the U.S. Supreme Court building say, “Equal Justice Under Law.” A truly noble philosophy – in theory.'
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Matéria do nosso Tiberio
A esquerda que devemos respeitar
Gabriel Boric, presidente do Chile é de uma esquerda arejada e comprometida com a democracia como valor universal. Diferenciando-se da maioria da esquerda sul-americana, inclusive da esquerda brasileira, Boric manifestou solidariedade aos opositores nicaraguenses que tiveram sua nacionalidade cassada pelo ditador da Nicarágua, Daniel Ortega. Ortega, antigo líder da Frente Sandinista, transformou-se em um ditador nepotista – sua vice é sua mulher. Boric ao manifestar sua solidariedade, não vacilou em chamar Ortega de Ditador. Enquanto parte da esquerda brasileira, inclusive Lula, tem se omitido de condenar explicitamente as violações dos direitos humanos na Nicarágua e o caráter ditatorial do regime orteguista, o presidente do Chile não relativiza seus valores.
O orteguismo é uma deformação da Revolução Sandinista, que despertou tantas esperanças no passado, quando chegou ao fim a ditadura de Somoza. Na época a Nicarágua era uma espécie de grande fazenda da família Somoza. Hoje o proprietário do país é Daniel Ortega. Pressionado internacionalmente, o ditador da Nicarágua libertou uma quantidade de presos políticos. Mas ao manda-los para o exílio transformou-os em apátridas, cassando sua nacionalidade.
O episódio lembra o que fazia a ditadura brasileira, durante os anos de chumbo. Presos políticos libertados em troca de diplomatas de outros países, entre eles o embaixador dos Estados Unidos, iam para o exílio mas banidos do Brasil, tornando-se apátridas. A ditadura criou a figura do Banido, homens e mulheres sem pátria. Quase todos banidos que voltaram clandestinamente ao Brasil foram assassinados pela ditadura militar.
É triste ver hoje remanescentes dessa esquerda se omitir e não condenar a medida do ditador Ortega de banir do país opositores, parte deles antigos companheiros de Ortega na Frente Sandinista.
O governo Lula se omite em criticar os regimes ditatoriais do nosso continente, sob o pretexto de respeitar os princípios da autodeterminação dos povos e da não ingerência em questões internas de outros países.
É uma deformação da política diplomática brasileira construída desde os tempos do Barão do Rio Branco. Essa política, baseia-se no profissionalismo nas relações diplomáticas, pautando-se pela defesa dos interesses brasileiros e da defesa dos valores universais da humanidade, entre eles o respeito aos direitos humanos e à democracia.
O grande problema é que nossa esquerda é rigorosa na denúncia de violações dos direitos humanos, entre eles a tortura e assassinado de opositores do regime, e da democracia quando praticado por regimes de direita, mas se omite, quando não é conivente, com as mesmas violações quando praticada por regimes de esquerda, como acontece na Nicarágua, Venezuela e Cuba.
Os países que se solidarizaram ao governo brasileiro em decorrência da tentativa de um golpe fascista no 8 de janeiro, não desrespeitaram nossa autodeterminação nem fizeram ingerência em questões internas brasileiras. Apenas reafirmaram valores universais que devem ser compromissos de políticas externas responsável e soberana.
O mesmo se pode dizer dos países que criticam a ditadura nicaraguense por suas violações aos direitos humanos e à democracia.
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Boric se solidariza con los opositores nicaragüenses: "No sabe el dictador que la patria se lleva en el corazón"
Carlos Fernando Chamorro, Sergio Ramírez y Gioconda Belli agradecen al presidente chileno que no calle sobre Nicaragua
Tegucigalpa/ Madrid | Febrero 20, 2023
Gabriel Boric ha pasado las últimas semanas supervisando los grandes incendios que azotan Chile. (Presidencia chilena)
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Gabriel Boric ha pasado las últimas semanas supervisando los grandes incendios que azotan Chile. (Presidencia chilena)
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TEMAS
España, Nicaragua, Daniel Ortega, Chile, Gabriel Boric, democracia, derechos humanos, Sergio Ramírez, Gioconda Belli, Carlos F. Chamorro
MÁS INFO
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(agencias) -El presidente de Chile, Gabriel Boric, trasladó este sábado su solidaridad a los opositores nigaragüenses que han visto retirada su nacionalidad y llamó dictador al mandatario nicaragüense, Daniel Ortega.
"Un abrazo fraterno a Gioconda, Sergio, Sofía, Carlos y a todos quienes Ortega ha pretendido despojarlos de su nacionalidad nicaragüense", ha manifestado Boric en su cuenta de Twitter.
"No sabe el dictador que la patria se lleva en el corazón y en los actos, y no se priva por decreto. ¡No están solos!", ha añadido el presidente de Chile.
"Un abrazo fraterno a Gioconda, Sergio, Sofía, Carlos y a todos quienes Ortega ha pretendido despojarlos de su nacionalidad nicaragüense"
Los ciudadanos declarados apátridas por Ortega, entre los que se encuentran periodistas, activistas, políticos, religiosos o defensores de Derechos Humanos, han sido también designados "prófugos de la Justicia" y les serán confiscados todos sus bienes y sociedades, que pasarán a estar en manos del Estado.
El director del diario Confidencial, Carlos Fernando Chamorro fue uno de los primeros afectados en devolver la cortesía al presidente chileno y a su ministra de Exteriores, Antonia Urrejola, por "su solidaridad con el pueblo de Nicaragua, que lucha para liberarse de una dictadura familiar corrupta".
"Nuestra patria es la aspiración de democracia en libertad y justicia sin impunidad", añadió.
El domingo llegaron, desde España, los agradecimientos de los escritores Sergio Ramírez y Gioconda Belli al presidente chileno por "no callar sobre Nicaragua".
"Muchas gracias presidente Gabriel Boric por encarnar la dignidad y la entereza al no callar sobre Nicaragua. Un abrazo", escribió en Twitter Ramírez, Premio Cervantes 2007, y exiliado en Madrid.
Por su lado, Belli, autora de la novela El país de las mujeres, ganadora del Premio Latinoamericano de Literatura La Otra Orilla 2010 y también exiliada en España, elogió a Boric, hasta ahora el único presidente latinoamericano en condenar abiertamente a Ortega por declarar apátridas a 317 nicaragüenses.
"Gracias por ser consecuente y por apoyar un estado de derecho y la demanda democrática en Nicaragua y Latinoamérica. Mis respetos y cariño a Gabriel Boric", escribió en Twitter la galardonada con el Premio Biblioteca Breve de Seix Barral 2008 por su obra El infinito en la palma de la mano.
"Gracias por ser consecuente y por apoyar un estado de derecho y la demanda democrática en Nicaragua y Latinoamérica. Mis respetos y cariño a Gabriel Boric"
Hasta ahora, los gobiernos latinoamericanos han sido ambigüos con la actitud de Ortega en este caso, con la excepción de Chile. Colombia y México han reaccionado con cautela, en tanto Brasil y Argentina han guardado silencio, al igual que el resto de los países centroamericanos.
Nicaragua retiró la nacionalidad el miércoles pasado a 94 ciudadanos –con lo que sube a 317 la cifra de apátridas en los últimos días– por sus críticas hacia Ortega, quien además ordenó el destierro de 222 ex prisioneros políticos, que fueron excarcelados y enviados en un avión a Estados Unidos.
Entre quienes fueron despojados de la nacionalidad nicaragüense está el obispo Rolando Álvarez, quien el 9 de febrero se negó a ser desterrado a EE UU junto con las otras 222 personas y al día siguiente fue condenado a más de 26 años y 4 meses de prisión.
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POLÍTICANICARÁGUA
Presidente do Chile classifica Daniel Ortega como ditador
19/02/202319 de fevereiro de 2023
Gabriel Boric faz declaração após Nicarágua retirar cidadania de mais de 90 opositores. Chile é o primeiro governo de esquerda da América Latina a condenar abertamente decisão. Brasil se mantém em silêncio.
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O presidente do Chile, Gabriel Boric, classificou neste sábado (18/02) seu homólogo da Nicarágua, Daniel Ortega como ditador. A declaração do líder de esquerda chileno foi feita após Manágua apertar o cerco contra opositores do regime nas últimas semanas.
Na mais recente violação, o governo de Ortega retirou a nacionalidade de 94 opositores e críticos, incluindo antigos aliados que lutaram na Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) contra a ditadura de Anastasio Somoza Debayle, na década de 1970, como o escritor Sergio Ramírez, que chegou a ser vice de Ortega na década de 1980.
Entre os nicaraguenses que perderam a cidadania na quarta-feira estão ainda a escritora Gioconda Belli, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez, e o ex-comandante da revolução Luis Carrión, ao menos 22 jornalistas e ativistas de direito humanos. Eles foram acusados de "traição à pátria".
Além de perder a nacionalidade, a Corte de Apelações de Manágua determinou o confisco a favor do Estado de todos os bens e empresas dos acusados e proibiu o grupo de exercer cargos públicos e concorrer em eleições.
Tanto Belli quanto Ramírez, assim como a maioria dos citados na lista são opositores de Ortega e vivem no exílio. No entanto, há vários mencionados que ainda estão na Nicarágua. A ação ocorre poucos dias depois de Ortega ter deportado 222 detidos, como líderes políticos, padres, estudantes, ativistas e outros dissidentes, para os Estados Unidos. Considerados presos políticos por organizações humanitárias, os opositores deportados também foram acusados do crime de "traição à pátria".
Críticas de Boric
A recente onda de deportações e retirada de nacionalidade de opositores provocou uma enxurrada de críticas contra o governo de Ortega. Neste sábado, o presidente do Chile prestou solidariedade aos opositores.
"O ditador não sabe que a pátria está no coração, nos atos e não se priva por decreto. Não estão sozinhos!", escreveu Boric em sua conta no Twitter.
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Gabriel Boric Font
@GabrielBoric
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Representante gubernamental de Chile
Un abrazo fraterno a Gioconda, Sergio, Sofía, Carlos y a todos quienes Ortega ha pretendido despojarlos de su nacionalidad nicaragüense. No sabe el dictador que la patria se lleva en el corazón y en los actos, y no se priva por decreto.
No están solos!
Gioconda Belli
@GiocondaBelliP
(De mi poema Nicaragua)
Arranco de tu pelo a los que te venden te roban y te abusan
te cuento cuentos en la esquina de mi almohada
te arropo y te tapo los ojos
para que no veas los verdugos que llegan a cortarte la cabeza.
@ReporteNi
1:45 PM · Feb 18, 2023
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https://twitter.com/GabrielBoric/status/1626986309901328385?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1626986309901328385%7Ctwgr%5E770cb1856f5819dfd9bcb0c480037ca1fc086c7c%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.dw.com%2Fpt-br%2Fpresidente-do-chile-classifica-daniel-ortega-como-ditador%2Fa-64755816
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O governo chileno já havia expressado o repúdio à decisão de Ortega na quinta-feira e afirmado que o país estava se tornou uma "ditadura autoritária". O Chile foi o primeiro governo de esquerda da América Latina a condenar abertamente as medidas de Ortega.
Além do Chile, a União Europeia e os Estados Unidos também condenaram a decisão. A Espanha ofereceu cidadania aos nicaraguenses que se tornaram apátridos depois da decisão do governo.
Já o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, disse estar "muito alarmado" com a situação. O porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, destacou que "a Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma que todos têm direito a uma nacionalidade e que ninguém deve ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade".
"O direito à nacionalidade é um direito humano fundamental. Não deve haver perseguição ou represálias contra os defensores dos direitos humanos ou pessoas que expressam opiniões críticas", salientou o porta-voz.
Silêncio do Brasil
Na América Latina, as reações não foram unânimes entre os governos progressistas da região. Apenas o Chile criticou veementemente as decisões da Nicarágua. Colômbia e México tiveram cautela nas declarações.
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O governo da Colômbia, chefiado pelo esquerdista Gustavo Petro, expressou na sexta-feira "preocupação" e disse que as medidas violam "o direito à nacionalidade" comtemplado em tratados internacionais reconhecidos pela Nicarágua. O México disse estar "atento" aos acontecimentos.
Já os governos do Brasil e da Argentina ainda não se manifestaram sobre as violações ocorridas na Nicarágua.
Crise na Nicarágua
Desde abril de 2018, a Nicarágua vive uma crise política e social que se agravou após as polêmicas eleições gerais de 7 de novembro de 2021, nas quais Ortega foi reeleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo e o segundo junto com sua esposa, Rosario Murillo, como vice-presidente, com seus principais adversários na prisão ou no exílio.
Milhares de nicaraguenses foram obrigados a deixar o país após as forças de segurança reprimirem violentamente os protestos antigovernamentais que eclodiram em 2018. Para tentar justificar a repressão, Ortega alega que os protestos foram uma tentativa de golpe, com um suposto apoio externo, visando a queda da presidência e encorajando nações estrangeiras a aplicar sanções aos membros da sua família e do governo.
A perseguição contra críticos do governo continuou nos anos seguintes. No período que antecedeu a eleição de 2021, as autoridades do país detiveram sete potenciais candidatos da oposição. O governo também fechou centenas de ONGs que Ortega acusou de receberem financiamento estrangeiro e de o canalizar para desestabilizar o executivo.
cn (Efe, AFP, DW, Lusa)
https://www.dw.com/pt-br/presidente-do-chile-classifica-daniel-ortega-como-ditador/a-64755816
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Luiz Carlos Azedo - A tragédia de São Sebastião e a sagração de Lampião
Correio Braziliense
Na segunda de carnaval, o presidente Lula visitou o local do desastre e demonstrou disposição de trabalhar com um adversário político, o governador Tarcísio, para socorrer as famílias desabrigadas
A tragédia causada pelas chuvas torrenciais em São Sebastião e adjacências, no litoral norte de São Paulo — provocada pela degradação ambiental nas encostas da Serra do Mar e pelas mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, para o qual contribui fortemente o desmatamento da Amazônia —, foi como uma ducha de água fria em pleno carnaval. Não desanimou os foliões de raça, principalmente nos grandes centros carnavalescos, mas mexeu com quase todos, pelo drama humano que estamos vivendo e a certeza de que o planeta realmente está passando por eventos climáticos desastrosos, que aumentam de escala a cada ano.
O episódio serviu para nos mostrar a grande diferença entre os governos atual e anterior, negacionista do aquecimento global. Ao contrário do comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro durante a tragédia ocorrida em Santa Catarina, em dezembro passado, na segunda-feira de carnaval, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou a base naval de Aratu, na Bahia, onde passava os dias de carnaval, para vistoriar os estragos, confortar a população e coordenar a ação de seu governo junto ao governo paulista e à prefeitura da cidade. Além da empatia com os flagelados, Lula demonstrou disposição de trabalhar com um adversário político, o governador Tarcísio de Freitas (PR), para tratar do que é mais importante: o socorro às vítimas e a recuperação da infraestrutura da região, principalmente a Rio-Santos, cujo tráfego foi interrompido.
Vendo as cenas pela tevê, lembrei-me do último filme de Akira Kurosawa, Depois da chuva, concluído postumamente. Todo o roteiro, a escalação do elenco e pré-produção foram realizados com o diretor em vida. Ao falecer, em setembro de 1998, aos 88 anos, seu filho ofereceria a direção para seu assistente, Takashi Koizumi, que a agarrou com as duas mãos. Ilhei Misawa (Akira Terao) é um ronin em busca de emprego, que vive o dilema de lutar ou não por dinheiro. Ao lado de sua mulher, Tayo Misawa (Yoshiko Miyazaki), é obrigado a parar em uma pequena hospedaria, porque o rio que deveria atravessar transbordou.
A chuva impede que as pessoas saiam para trabalhar, sobretudo carregadores e artistas errantes. Demorará dias até que o leito do rio volte ao normal e seja possível atravessá-lo novamente, o que gera uma crise social, devido à falta de alimentos e aos desentendimentos que surgem quando o egoísmo e o altruísmo estão em confronto aberto diante da escassez. O humanismo de Kurosawa transborda na tela, ao final do filme: quando a chuva passa, o ronin vai às compras e volta com os mantimentos para alimentar os demais abrigados. A comida farta muda da água para o vinho o comportamento das pessoas, que celebram a vida.
A analogia surge por causa das notícias de que, ao lado da grande mobilização dos órgãos públicos e dos voluntários da Defesa Civil, há uma grande demonstração de solidariedade entre os moradores e da população paulista, por meio de doações de água potável, alimentos, roupas, colchões e cobertores para os desabrigados. Infelizmente, também foram registrados saques aos caminhões que transportavam essas doações, talvez por necessidade, muito provavelmente por banditismo mesmo. Vimos também um governo federal preocupado com os mais necessitados, trabalhando de forma coordenada. Ontem mesmo, o presidente Lula já estava em Brasília, liderando seus ministros.
Carnaval da Imperatriz
Mas vamos falar de carnaval. A Imperatriz Leopoldinense venceu o desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro pela 10ª vez, depois de um jejum de 22 anos, com o enredo “O Aperreio do Cabra que o Excomungado Tratou com Má-querença e o Santíssimo não Deu Guarida”. Fez um desfile praticamente perfeito, que contou a saga de Lampião no contexto do Nordeste da década de 1920. A Imperatriz trouxe Matheus Nachtergaele e Regina Casé como Lampião e Maria Bonita, respectivamente, mas o grande destaque foi a filha do casal, Expedita Ferreira da Silva, na última alegoria, que celebrava a herança cultural de Lampião. Com 90 anos, também desfilou na Mancha Verde, no domingo, em São Paulo.
Com três mil componentes divididos em 24 alas, com cinco carros alegóricos, a Imperatriz resgatou a vida de Lampião e seu bando no imaginário popular nordestino, com seus beatos, repentistas, cordelistas, carpideiras e mamulengos. O carnavalesco Leandro Vieira desenvolveu um enredo inspirado nas histórias delirantes de cordéis nordestinos, nosso realismo fantástico, que falam da chegada do cangaceiro Lampião ao céu e ao inferno: A Chegada de Lampião no Inferno, O Grande Debate que Teve Lampião com São Pedro e A Chegada de Lampião no Céu.
Lampião é um mítico anti-herói do nosso cangaço. Na década de 1960, o historiador inglês Eric Hobsbawn incluiu Lampião entre um grupo de criminosos “sociais”, porém se baseou mais nas lendas do que nos fatos, como ele próprio admitiu. Para Alberto Passos Guimarães, foi um fenômeno do banditismo das “classes perigosas”. O cangaço serviu de inspiração para obras como Grande sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha. Produto da miséria, das injustiças sociais e da violência nos sertões nordestinos, Lampião foi glamorizado pela cultura popular, assim como o ronin de Kurosawa.
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Música | IMPERATRIZ CAMPEÃ - Carnaval 2023
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