Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos.
As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quinta-feira, 11 de junho de 2020
Não somos repartição do MEC
Intervenção na Democracia Grapette
só o impossível acontece
o possível apenas se repete
(Chacal)
O mote antigo, gasto em tantas canções do passado, ainda está de pé: a
nossa unidade é a única coisa que poderá nos salvar.
E a unidade pensada em sentido o mais amplo possível, porque em tempos
de terra-planismo e violência não podemos prescindir de ninguém.
Intervenção na Democracia
11
jun
Destaque
No dia 10 de junho de 2020, o Brasil foi surpreendido pela Edição da
Medida Provisória 979, que dispõe sobre a designação de reitor e vice-reitor
pro tempore para universidades federais e de reitor pro tempore para institutos
federais e Colégio Pedro II, no caso de término de mandato dos atuais
dirigentes durante o período da emergência de saúde pública, decorrente da
pandemia da covid-19. Tal Medida Provisória é, claramente, inconstitucional e
perigosa. A inconstitucionalidade patente da MP 979 abriga também uma
provocação ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. Afinal, no
último dia 02 de junho, a MP 914, com a mesma intencionalidade de alterar
regras de escolha de dirigentes, não tramitou e perdeu sua eficácia, por falta
de aceitação do legislativo. E o STF já se manifestou sobre o expediente de
reedição de medida provisória.
Trata-se agora de uma intervenção em nossas instituições, dando curso
aos ataques à autonomia universitária e afrontando diretamente toda a sociedade
brasileira. Temos, porém, a convicção de que o Congresso Nacional e a sociedade
brasileira não serão cúmplices de tamanha agressão à democracia. Suspender
eleições e escolha dos dirigentes universitários ou condicioná-las ao fim
incerto do período da pandemia e, depois, pelo período subsequente necessário
para realizar a consulta à comunidade, até a nomeação dos novos dirigentes, na
dependência dos humores do Presidente da República, implica uma intervenção por
tempo indeterminado, que tão somente revela um mal disfarçado pendor
autoritário e uma chantagem política em desfavor da vida.
Alegam que nas instituições federais de ensino as atividades presencias
estão suspensas e, por esse motivo, não poderiam ocorrer consultas nem reuniões
dos Colégios Eleitorais, nos quais se decidem as listas tríplices, em
conformidade com os respectivos regimentos e legislação vigente. Ora, as
atividades presenciais estão suspensas, sim, mas justamente por orientação das
autoridades sanitárias e da opinião científica mundial. Medidas de igual
natureza, de proteção das pessoas, combinadas com adaptações que preservam a
essência das instituições, ocorrem em todo o mundo. Apesar da grave crise
sanitária, somada à atual crise política e econômica, o Congresso Nacional e os
Tribunais Superiores cumprem suas funções constitucionais. Também,
parlamentares, ministros e servidores trabalham de forma remota. Votações
legais e legítimas, mesmo virtuais. Não se pode, portanto, responsabilizar a
pandemia pelo desgoverno ou pelo fim da democracia.
Salvaguardar vidas é imperativo ético de todas as pessoas responsáveis.
Desse modo, muitas atividades nas universidades foram adaptadas, prosseguindo,
todavia, no essencial, de modo remoto. Assim, órgãos deliberativos têm
funcionado com a regularidade necessária. O funcionamento administrativo está
garantido, e cada instituição encontra as melhores medidas de acompanhamento e
participação de sua comunidade, nas formas e ritmos que, no exercício de sua
autonomia, julga adequados para dar continuidade a seus compromissos de ensino,
pesquisa e extensão. E universidade, sabemos bem, é muito mais do que sala de
aula. Nossos laboratórios, cientistas e
hospitais universitários estão em dedicação extraordinária ao enfrentamento da
COVID-19. Centenas de ações são hoje desenvolvidas em nossas instituições no
combate à pandemia e mais de mil pesquisas estão em curso sobre o coronavírus.
E a sociedade brasileira reconhece e apoia esse trabalho.
Mais uma vez, o governo testa os limites da democracia. Provoca e
insulta nossa responsabilidade cívica ao suprimir a autonomia e a democracia
nas universidades, lugar natural do conhecimento e da liberdade de expressão. A
universidade federal brasileira confia assim que o Congresso Nacional devolverá
ou rejeitará em rito sumário essa Medida Provisória, cabendo também ao STF,
como guardião da Constituição Federal, impedir liminarmente este atentado à
democracia. Não à intervenção em universidades e institutos federais!
Brasília, 10 de junho de 2020
João Carlos Salles Presidente da Andifes
Maia diz que MP para nomear reitores
durante pandemia é inconstitucional
Por Congresso Em Foco Em 10 jun,
2020 - 21:35 Última Atualização 11 jun, 2020 - 11:51
LegislativoEducaçãoGoverno
Presidente
da Câmara, Rodrigo Maia
Fabio Pozzebon
Fabio Pozzebon
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
disse para o jornal Folha de S. Paulo, que considera a medida provisória (MP) 979/2020 inconstitucional.
A MP foi publicada nesta quarta-feira (10) e dá ao ministro da Educação, Abraham
Weintraub, total poder para nomear reitores para universidades e institutos
federais enquanto durar a pandemia de covid-19.
"Não é uma questão contra ou a favor do
governo. É porque a matéria de forma fragorosa está desrespeitando a
Constituição", disse Maia.
O presidente da Câmara falou que devolver a medida
ao Executivo, sem nem analisá-la, é um ato extremo, mas que a decisão cabe ao
presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ainda à Folha, Maia afirmou que
o ideal é o Congresso votar a MP em um curto prazo e derrubá-la.
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11 jun, 2020
A MP assinada pelo presidente Jair Bolsonaro exclui
a necessidade de consulta a professores e estudantes ou a formação de uma lista
para escolha dos reitores. O texto não alcança as instituições cujo processo de
escolha já tenha sido concluído antes da suspensão das aulas presenciais. Mas
somente aquelas em que o mandato termina durante a pandemia.
Deputados federais pedem a devolução da medida.
“(...” Ainda não temos as respostas que necessitamos, mas há
princípios que nos norteiam e não podem ser abandonados em nenhuma hipótese:
seja lá qual for o caminho que escolhamos trilhar, precisamos seguir juntos. O
mote antigo, gasto em tantas canções do passado, ainda está de pé: a nossa
unidade é a única coisa que poderá nos salvar. E a unidade pensada em sentido o
mais amplo possível, porque em tempos de terra-planismo e violência não podemos
prescindir de ninguém. Que venha março, e com ele a certeza de que
encontraremos o caminho justo e a proposta correta, porque será construída por
todos nós, ou simplesmente não será...”
Medida Provisória ataca autonomia universitária na escolha
de reitores
Publicado: 10 Junho 2020
Criado: 10 Junho 2020
Mais um ataque do governo à autonomia das universidades. O Diário
Oficial da União desta quarta-feira, 10, publica a Medida Provisória nº 979,
que dispõe sobre a designação de dirigentes pro tempore nas instituições
federais de ensino durante a pandemia.
No caso de término de mandato dos atuais dirigentes durante o período
da emergência de saúde pública, o ministro da Educação será o responsável pela
designação do reitor pro tempore. E do vice-reitor pro tempore, se couber. E
eles permanecerão no cargo até a nomeação dos novos dirigentes, após a pandemia
e a realização dos tradicionais processos de consulta à comunidade.
Os substitutos também vão designar os dirigentes dos campi e os
diretores de unidades pro tempore.
Confira o texto da MP nº 979:
MEDIDA PROVISÓRIA Nº 979, DE 9 DE JUNHO DE 2020
Dispõe sobre a designação
de dirigentes pro tempore para as
instituições federais de ensino durante o período da emergência de saúde
pública de importância internacional decorrente da pandemia dacovid-19,
de que trata a Lei
nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.
62 da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, com força de
lei:
Art.
1º Esta Medida Provisória dispõe sobre a designação de:
I - reitor e vice-reitorpro
temporepara universidades federais; e
II - reitorpro
temporepara institutos federais e para o Colégio Pedro II.
§ 1º As hipóteses
previstas nocaputse aplicam no caso de término de mandato dos
atuais dirigentes durante o período da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente da pandemia dacovid-19, de que trata a Lei
nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020.
§
2º O disposto nesta Medida Provisória não se aplica às instituições federais de
ensino cujo processo de consulta à comunidade acadêmica para a escolha dos
dirigentes tenha sido concluído antes da suspensão das aulas presenciais.
Art. 2º Não haverá
processo de consulta à comunidade, escolar ou acadêmica, ou formação de lista
tríplice para a escolha de dirigentes das instituições federais de ensino
durante o período da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente da pandemia dacovid-19, de que trata a Lei
nº 13.979, de 2020.
Art. 3º O Ministro de
Estado da Educação designará reitor e, quando cabível, vice-reitor pro
tempore para exercício:
I - durante o período da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da pandemia
da covid-19, de
que trata a Lei
nº 13.979, de 2020; e
II
- pelo período subsequente necessário para realizar a consulta à comunidade,
escolar ou acadêmica, até a nomeação dos novos dirigentes pelo Presidente da
República.
Art. 4º Na hipótese
prevista no art. 3º, o reitor da instituição federal de ensinodesignará os
dirigentes dos campi e os diretores de
unidades pro tempore.
Art.
5º Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília,
9 de junho de 2020; 199º da Independência e 132º da República.
JAIR
MESSIAS BOLSONARO
Abraham
Bragança de Vasconcellos Weintraub
Fonte: ADUFRJ
ENTENDER O MUNDO/MONOGRAFIAS
Terraplanismo
O terraplanismo
é um movimento conspiratório cuja tese fundamental é a alegação de que a
Terra é plana, em oposição à visão comprovada de que a Terra é esférica. Traços desta
crença são encontrados em tempos remotos (por exemplo; os sumérios, os
babilônios, os antigos egípcios, os hebreus primitivos e a maior parte dos
gregos). Mesmo na Grécia antiga, esta tese já havia sido questionada por
alguns cientistas e, depois, na Idade Média, foi questionada por alguns
padres (como, por exemplo, Alberto Magno, Venerável Beda e Tomás de Aquino). No final da Idade
Média e início da modernidade, esta tese foi contestada de maneira mais
incisiva. A esse respeito, os principais nomes são: Copérnico, Galileu, Colombo e Fernão de Magalhães.
No entanto, curiosamente, esta crença reaparece no final do século XIX, e
tem ganhado força atualmente com as mídias sociais. Neste texto, faremos um
panorama do movimento moderno terraplanista. Na primeira seção,
apresentaremos como se deu a formação das primeiras organizações terraplanistas.
Na sequência, discutiremos quais seriam as motivações para alguém defender
que a Terra é plana e quais são as suas falhas. Depois, mostraremos as
evidências que a ciência nos dá a favor da tese de que a terra é esférica.
Por fim, abordaremos um pouco dos aspectos psicológicos do movimento
terraplanista e sua ligação com outras teorias conspiratórias.
O modelo defendido por vertentes terraplanistas. Fonte: Mark Garlick /
Science Photo Libra / MGA / Science Photo Library / AFP.
AS SOCIEDADES TERRAPLANISTAS O movimento moderno em torno da crença da Terra plana foi originado na
Inglaterra por Samuel Birley Rowbotham (1816-1884), por volta dos anos
1850. Rowbotham, conhecido pelo seu pseudônimo Parallax, foi um
inventor e escritor britânico. Seu trabalho, inicialmente publicado em um panfleto
intitulado Astronomia Zetética (1849), no qual ele
defendia a planitude do planeta Terra com base no chamado “o experimento do
nível do rio Bedford”. Suas conclusões, que foram posteriormente reunidas
no livro Earth Not a Globe (1865) é a de que a Terra seria
um disco achatado centralizado no Polo Norte, delimitado ao sul por uma
muralha de gelo, a Antártica. Ele defendia também que o Sol e a Lua
estariam 4.800 quilômetros acima da Terra e que o “cosmos” (o conjunto de
corpos celestes) estaria 5.000 quilômetros acima da Terra.
Rowbotham e seus seguidores (como, por exemplo, William Carpenter) ganharam
notoriedade após uma série de debates com o cientista Alfred Russel
Wallace. Neste período, Rowbotham criou a Sociedade Zetética na Inglaterra
e em Nova Iorque, imprimindo cerca de mil cópias de seu panfleto para a
divulgação de seu trabalho. Após a sua morte, em 1884, Lady Elizabeth
Blount fundou a Sociedade Universal Zetética, que produziu, pelo menos,
duas revistas especializadas em terraplanismo: The Earth Not a
Globe Review (que se manteve ativa até o início do século XX)
e Earth: a Monthly Magazine of Sense and Science (publicada
entre os anos 1901 e 1904, e editada por Lady Blount).
Em 1956, Samuel Shenton criou a Sociedade da Terra Plana (International
Flat Earth Research Society), sucedendo a Sociedade Universal Zetética.
Sua sede estava localizada em sua própria casa, em Dover, na Inglaterra.
Uma diferença importante desta fase inicial da Sociedade da Terra Plana
para a Sociedade Universal Zetética é a de que, devido ao interesse de
Shenton por ciências alternativas e tecnologia, os aspectos religiosos
estavam, agora, menos latentes. Este interesse pela ciência não foi
suficiente, no entanto, para convencer Shenton da esfericidade da Terra,
nem mesmo após as fotos tiradas por satélites e astronautas. Ele teria
atribuído a curvatura presente nestas fotos ao uso de lente grande angular.
Em 1969, Ellis Hillman torna-se presidente da Sociedade da Terra Plana e,
após a morte de Shenton, em 1971, Charles K. Johnson assume o cargo. Ligado
à igreja na Califórnia, Johnson tem como característica principal trazer o
retorno das crenças religiosas ao coração da Sociedade. Neste momento, se é
travada uma batalha ideológica entre a religião e a ciência. Ele fez,
durante as próximas três décadas, o número de membros da sociedade aumentar
para cerca de 3.500, bem como, produziu uma série de publicações, sendo a
mais famosa a Flat Earth News.
Aparentemente, a Sociedade da Terra Plana foi desfeita formalmente com a
morte de Johnson, em 2001, ainda que o nome da sociedade continue sendo
utilizado em diversos websites para se referir aos
defensores do terraplanismo em geral.
MOTIVAÇÕES TERRAPLANISTAS: O EXPERIMENTO DO NÍVEL DO RIO BEDFORD O que teria levado estas pessoas a se reunirem em torno desta crença?
As primeiras motivações terraplanistas parecem ter, em parte, uma origem
religiosa. Muitos alegam, por exemplo, que certas passagens da Bíblia são
compatíveis com a tese de uma Terra plana. Além disso, nossas experiências
do cotidiano corroborariam – um terreno parece plano, mesmo quando visto do
alto; as pessoas na Austrália não estão penduradas pelos seus calcanhares;
etc. Há também motivações de cunho conspiratório, que serão discutidas na
última seção.
Como apontamos no início de nosso texto, o ressurgimento do movimento dos
terraplanistas está ligado aos trabalhos de Rowbotham e seu experimento do
nível do rio Bedford, efetuado no verão de 1938. O experimento pode ser
descrito do seguinte modo: Rowbotham entrou no rio Bedford munido de um
telescópio, e se posicionou em um ponto 20 centímetros acima da água. O
objetivo dele era acompanhar a trajetória de um barco, com uma bandeira em
seu mastro que estava 0,91 metros acima da água. Ele reportou que a
embarcação permaneceu constantemente em seu campo de visão e de maneira
completa por 9,7 quilômetros, até a ponte Welney, onde se deveria,
supostamente, observar a curvatura da Terra por meio da superfície da água.
O topo do mastro deveria estar 3,4 metros abaixo de sua linha de visão.
Rowbotham repetiu o experimento várias vezes ao longo dos anos, mas só obteve
alguma atenção quando um apoiador, de nome Jonh Hampden, decidiu apresentar
o experimento na forma de uma aposta. O naturalista Alfred Russel Wallace
aceitou o desafio. Usando suas habilidades de hidrógrafo e seus
conhecimentos de física, Wallace evitou os erros cometidos por Rowbotham e
venceu a aposta. Os pontos cruciais são os seguintes: primeiramente,
devemos definir uma linha de visão 4 metros acima da água e assim, reduzir
os efeitos da refração atmosférica. Depois, precisamos adicionar um mastro
no meio do trajeto que possa ser usado como referência para que seja
possível ver o “bump” causado pela curvatura da Terra entre os dois pontos
finais.
Um fato curioso é que o pagamento desta aposta teria gerado uma grande
confusão. Hampden inicialmente se recusou a aceitar as demonstrações,
publicando um panfleto alegando que Wallace havia trapaceado. Muitos
processos judiciais se seguiram, e Hampden chegou a ser preso por tentativa
de homicídio e difamação. O mesmo tribunal determinou que a aposta havia sido
inválida e requisitou a devolução do dinheiro. Wallace foi severamente
criticado por seus pares por tentar avaliar uma disputa científica por meio
de uma mera aposta.
No entanto, os terraplanistas não se deram por derrotados. Em 11 de maio de
1904, Lady Elizabeth Anne Blount, que posteriormente teve um papel
importante na criação da Sociedade Universal Zetética, efetuou um novo
experimento. Ela posicionou um fotógrafo em Welney que, utilizando uma
câmera com lentes de longo alcance, tirou uma foto de um grande lençol
branco, cuja borda inferior estava exatamente localizada onde Rowbotham
havia se posicionado no experimento inicial. O fotógrafo montou sua câmera
0,6 metros acima da superfície da água e ficou surpreso ao conseguir
fotografar o lençol. Lady Blount publicou esta foto em toda parte.
Este embate foi travado na English Mechanic Magazine, que
publicou as fotos de Blount e, em 1905, mais dois experimentos que tinham
resultados opostos àqueles obtidos pelos terraplanistas. Um deles,
executado por Clement Stratton, mostrava um mergulho no campo de visão
apenas acima da superfície.
O EXPERIMENTO DO NÍVEL DO RIO BEDFORD E A REFRAÇÃO Vale a pena olharmos com mais cuidado quais foram os erros cometidos
pelos experimentos terraplanistas. Como Wallace já havia constatado em sua
aposta com Hampden, os equívocos cometidos por Rowbotham e Blount podem ser
explicados pelo conceito de refração. Podemos dizer que foi a refração
atmosférica que produziu tais resultados. Devido ao fato de que a densidade
do ar começa a diminuir conforme nos distanciamos da superfície terrestre,
todos os raios de luz que viajam de maneira quase horizontal se dobram para
baixo, fazendo com que a nossa linha de visão seja curva. Se esta medição
for feita muito próxima à superfície, essa curva da luz poderá se equiparar
à curvatura média da superfície da terra, fazendo com que a curvatura e a
refração se anulem, e dando a impressão de que a Terra é plana.
Isto teria sido reforçado por uma inversão de temperatura na atmosfera. O
aumento na temperatura do ar poderia criar uma ilusão de um canal achatado,
e todas as medições ópticas feitas perto do nível do solo seriam
consistentes com uma superfície completamente plana. Aliás, se a taxa de
aumento de temperatura fosse bastante elevada (maior do que 11ºC), nossas
observações ópticas seriam de uma Terra côncava. Em suma, o experimento do
nível do rio Bedford só conduziu à tese da Terra plana porque desconsiderou
conhecimentos básicos sobre refração.
EVIDÊNCIAS DA ESFERICIDADE DA TERRA Para além das demonstrações científicas que nos mostram os equívocos do
experimento do nível do rio Bedford, temos uma série de provas muito fortes
da esfericidade da Terra. Nesta seção, vamos listar algumas delas.
Para começar, em uma Terra plana, os corpos no céu devem ser visíveis ao
mesmo tempo em todas as partes da superfície. Mas isto não é o que acontece
na prática. Por exemplo, as estrelas ao redor da Estrela Polar nunca são
visíveis em baixas latitudes do hemisfério sul; o Cruzeiro do Sul só é visto no
hemisfério sul ou em parte do hemisfério sul muito próximas ao equador
terrestre, etc.
Outro aspecto diz respeito à posição do Sol. Se o Sol é observado ao
meio-dia de diferentes pontos em um mesmo meridiano, ele é visto em
diferentes ângulos. Isto não seria verdade em uma Terra plana. Aliás, foi
precisamente essta informação que permitiu, no ano 240 a.C., Eratóstenes calcular a
circunferência da Terra.
Eratóstenes foi diretor da Biblioteca de Alexandria e, em um
dos manuscritos dessa instituição, tomou conhecimento de que no solstício
de verão, na cidade de Siena (atual Assuã), o Sol ficava, ao meio-dia,
quase exatamente no zênite (que é um termo técnico que designa o ponto
interceptado por um eixo vertical traçado a partir da cabeça de um
observador e que se prolonga até a esfera celeste). Isto permitia que a
imagem do Sol fosse refletida no fundo de um poço. No entanto, em
Alexandria, na mesma data e mesma hora, isso não era possível, pois o Sol
não fica suficientemente perto do zênite. Ele percebeu que se pudesse
determinar o ângulo e a distância entre as cidades, poderia determinar o
tamanho da Terra.
Para determinar o ângulo, Eratóstenes fixou uma vareta perpendicular em
Alexandria e mediu o comprimento da sombra em proporção ao comprimento da
vareta. A constatação foi de que o ângulo era de 7,2 graus, ou seja, a
distância entre as cidades representa 1/50 da circunferência total da
Terra. A distância entre as duas cidades foi calculada do seguinte modo:
pessoas (treinadas para isso) contaram os passos entre uma cidade e outra.
Chegou-se à conclusão de que a distância era equivalente a 5.040 estádios.
Agora, para calcular a circunferência, basta multiplicar o número de
estádios (que representa a parcela da circunferência da Terra confinada aos
limites das duas cidades) por 50 (que é o tamanho da circunferência da
Terra por completo): 5.040 x 50 = 252.000 estádios. Resta-nos saber como
podemos converter esta medida de “estádios” em quilômetros? Existiam muitas
medidas na Grécia com o nome stadium, variando desde 156 metros
a 210 metros. Em 1972, Lev Vasilevich Firsov analisou uma série de
trabalhos realizados por Eratóstenes e Estrabão, e chegou a um valor 157,7
metros. Se multiplicarmos este valor pelo número de estádios temos o valor
de 39.700 quilômetros, muito próximo do número atualmente aceito para a
circunferência da Terra: 40.008 quilômetros.
Tomemos mais algumas razões:
I.
O nascer do Sol, o pôr do Sol, o nascer e o pôr das estrelas e os eclipses
ocorrem em diferentes longitudes, o que não aconteceria se a Terra fosse
plana;
II. Se analisarmos os eclipses, também podemos constatar a esfericidade da
Terra. Por exemplo, em um eclipse total da Lua, o Sol está sempre abaixo do
horizonte. Isto acontece porque o eclipse é causado pela sombra da Terra,
que por ser redonda, cobre completamente a Lua. Já em um eclipse parcial, o
Sol fica parcialmente visível, sendo a sombra da Terra na Lua vista como
tendo uma borda curva;
III. As distâncias entre os meridianos diminuem à medida que avançamos para
o norte no hemisfério norte e sul no hemisfério sul, o que não seria
verdade em uma Terra plana;
IV. Ainda que cálculos de distâncias curtas e de pequenas áreas (lotes
urbanos, por exemplo) sejam feitas com precisão na suposição de que a Terra
é um plano, se tomarmos grandes distâncias (como tentar definir a fronteira
entre os Estados Unidos e o Canadá, ou determinar a posição de aviões
utilizando radares), o cálculo torna-se impreciso;
V. Nenhum mapa mostra corretamente as distâncias, dimensões, formas e
tamanhos. Isto se deve ao fato de haver uma distorção quando nós tentamos
projetar uma terra esférica na superfície plana de um mapa;
VI. Nenhuma parede de gelo intransponível foi encontrada na Antártica, como
defendem os terraplanistas.
Além disso, a curvatura da superfície terrestre é claramente evidenciada em
fotografias tiradas do espaço.
TERRAPLANISMO E AS TEORIAS CONSPIRATÓRIAS Agora, se há tantas evidências que comprovam a esfericidade da Terra, o
que faz tantas pessoas duvidarem? E por que o movimento tem crescido a
despeito dos fatos? Podemos dizer que o movimento terraplanista pode ser
explicado como sendo um movimento baseado em teorias conspiratórias.
O movimento terraplanista tem muitos aspectos que podemos enquadrar como um
comportamento padrão de seguidores de outras teorias conspiratórias.
Normalmente, seus defensores tomam várias evidencias contrárias à tese da
Terra plana (como, por exemplo, fotos da Terra que revelam a forma
esférica) como sendo fabricadas por uma conspiração a favor da Terra
redonda, orquestrada pela Nasa e outras agências
governamentais.
Terraplanistas frequentemente alegam que fotos do globo são alteradas por
programas de edição de imagem; dispositivos de GPS seriam fixos para
fazerem os pilotos de avião pensarem que estão voando em linhas em torno de
uma esfera, quando, na verdade, estariam voando em círculos acima de um
disco, etc. O motivo que faria os governantes não revelarem a verdade da
Terra plana não é muito claro, mesmo para os próprios terraplanistas.
Alguns defendem que seria mais barato forjar um programa espacial falso, do
que, de fato, fazer um.
A psicóloga Karen Douglas aponta que toda teoria da conspiração compartilha
uma base comum. Ela apresenta uma teoria alternativa sobre um tema ou
evento importante e constrói uma explicação vaga de como alguém está
acobertando a suposta “verdade” dos eventos. Uma das características
marcantes, diz ela, é explicar um grande evento, mas sem se ater aos
detalhes. Muito do poder destes grupos conspiratórios está no fato de serem
vagos.
Na verdade, podemos encontrar uma série de aspectos psicológicos que podem
colaborar para que uma pessoa reproduza este tipo de comportamento
conspiratório. Um deles, por exemplo, é o chamado “viés de confirmação”. De
acordo com isto, nós temos uma tendência a procurar informações que
confirmem nossas crenças pré-existentes, e ignorar informações que as
contradizem (algo que pode ser facilmente constatado quando analisamos
discussões sobre futebol ou sobre política nas redes sociais).
Outro aspecto pode ser evolutivo. Nossa espécie evoluiu fazendo uso de
várias estratégias, como, por exemplo, se organizar em grupos. Isto
provavelmente auxiliou a própria preservação da vida. Como resultado disto,
as pessoas teriam um desejo natural de buscar a sensação de pertencer a um
grupo. Ou seja, nós teríamos uma tendência a participarmos de grupos, pois
no passado isto nos deu uma maior chance de sobrevivência.
Este aspecto de comunidade pode ser facilmente encontrado nos movimentos
terraplanistas. Os terraplanistas estão sempre prontos para receber novos
adeptos. Uma vez que alguém se filia a algum grupo terraplanista, este
acaba encontrando um forte senso de aceitação e pertencimento, como se finalmente
ela fizesse parte de um grupo que a entende. Se junta a isto um forte senso
de lealdade e proteção do grupo. As individualidades acabem se diluindo em
torno de uma verdade coletiva.
Mai um ponto psicológico deste movimento diz respeito à confiança.
Confiança parece andar de mãos dadas com “ter razão”. Os terraplanistas
podem sentir a mesma necessidade ao espalhar sua visão de mundo para o
maior número de pessoas possível, aumentando assim a confiança não só no
grupo, mas em si próprio. Em alguns contextos, participar de uma comunidade
pode significar a sua própria identidade.
É importante lembrar, no entanto, que os terraplanistas não se enquadram
completamente na imagem geral de teorias conspiratórias. Em sua grande
maioria, os terraplanistas se concentram especialmente na forma da Terra e
acabam não compactuando com outras crenças também duvidosas, como óvnis, fantasmas, forças paranormais,
etc., o que dá a eles um caráter peculiar.
O QUE É POESIA MARGINAL/GERAÇÃO MIMEÓGRAFO?
Entrevista com Chacal
“Tivemos o imenso prazer de conversar com o Chacal, um dos
maiores poetas marginais do Brasil, sobre a tal poesia marginal ou geração
mimeógrafo: Tema que costuma cair nos vestibulares e que contempla nomes como
Leminski, Ana Cristina César, Cacaso e muitos outros. Compre os livros do
Chacal: Tudo e mais um pouco: http://amzn.to/2xWtsyY 26 poetas hoje: http://amzn.to/2xWxjfx Agradecimentos especiais: Camilla
Pires pela filmagem (youtube.com/pensandomagro) Carol”
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