Por Zuenir Ventura
Há um despertar
crítico da sociedade
O que há de comum entre membros de
torcidas organizadas e intelectuais, artistas, políticos e juristas? É que
eles, depois de um longo silêncio, acabam de se expressar, por meio de
manifestos e na rua, em defesa da nossa ameaçada democracia. O fenômeno veio
ilustrar o que as pesquisas de opinião já apontavam: a insatisfação com o
governo. Ontem mesmo, quando um importante assessor de Bolsonaro era acusado de
operar robôs, isto é, de espalhar notícias falsas, era publicado o levantamento
do Ibope revelando que 90% dos brasileiros querem uma legislação contra as fake
news.
Antes, o mesmo instituto mostrava que
70% dos consultados consideravam o governo atual como ruim, péssimo ou regular.
O resultado deu origem ao movimento #Somos70porcento, que invadiu as redes
sociais.
Dos manifestos, o “Basta”, de
advogados e juristas, defende com ênfase as instituições democráticas e acusa o
presidente de já ter cometido crimes de responsabilidade, o que, como se sabe,
pode levar ao impeachment.
O mais amplo é o #Juntos, que já conta
com mais de 200 mil assinaturas, e conseguiu o que parecia impossível nestes
tempos de polarização e intolerância. Juntou os contrários num mesmo texto,
colocando lado a lado direita, esquerda e centro. Apresenta-se assim, olha que
beleza: “Com ideias e opiniões diferentes comungamos dos mesmos princípios
éticos e democráticos.
Queremos combater o ódio e a apatia
com afeto, informação, união e esperança.” E termina: “Vamos juntos sonhar e
fazer um Brasil que nos traga de volta a alegria e o orgulho de ser
brasileiro.”
Esse despertar crítico da sociedade,
que parecia indiferente à indiferença de um presidente que diz ir aonde o povo
está e até agora, apesar da pandemia, não visitou um hospital, preferindo o
“povo” do cercadinho em frente ao palácio, foi um presente que, otimista
incorrigível, recebi pelos meus 89 anos feitos esta semana, parte dos quais
vividos sob a ditadura tão sonhada pelo capitão. Aliás, ele já disse que sua
única restrição é que ela torturou em vez de matar mais.
O Globo, 02/06/2019
O ‘mito’ e a
mitomania
Por Zuenir Ventura
Dizem que político mente por dever de
ofício. Mas há os que abusam. O site Intercept garante que Bolsonaro, por
exemplo, mentiu publicamente 200 vezes desde que tomou posse, isto é, mais de
uma mentira a cada 24 horas. A julgar pelos últimos dias, o número não é
exagerado.
Em uma só manhã, o presidente mentiu
para a imprensa estrangeira sobre a fome, o desmatamento, a educação, o uso de
agrotóxicos. Ele às vezes tem o comportamento de um mitômano, mente por
compulsão.
Na primeira entrevista ao “Jornal
Nacional” depois de eleito, ele disse que sua bandeira era a passagem bíblica
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. E terminou dirigindo-se aos
crédulos: “Agradeço aos que acreditaram na verdade e confiaram no meu nome nas
urnas”.
Aos correspondentes, no entanto, ele
afirmou que não existia fome no Brasil. Depois, ao tentar consertar, mentiu
novamente, admitindo que apenas “alguns” não têm acesso à comida — na realidade
são mais de cinco milhões de brasileiros nessa situação.
Quanto ao desmatamento, o Brasil não é
o país que mais preserva o meio ambiente, como ele anuncia. Está em 30º lugar,
de acordo com o Banco Mundial.
Mas o que mais irritou Bolsonaro foi o
Inpe revelar o aumento de 88% em relação a julho de 2018, ou seja, mais de mil
quilômetros quadrados de floresta. Em vez de xingar os grileiros, ele acusou os
dados de “mentirosos” e insinuou que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, estava
a serviço de alguma ONG.
Galvão classificou as acusações como
“piadas de um garoto de 14 anos” e disse que o presidente não respeita a
dignidade e a liturgia do cargo. Também a SBPC divulgou manifesto em apoio ao
Inpe e a seu diretor. “Dr. Ricardo Galvão é um cientista reconhecido
internacionalmente, que contribui para a ciência, tecnologia e inovação do
Brasil”.
Quanto a Míriam Leitão, Bolsonaro
mentiu, acusando-a de mentir sobre sua prisão. Mas ele já comentou a cena em
que os torturadores puseram na sua cela uma jiboia e apagaram a luz. “Coitada
da cobra”, debochou o então deputado.
O Globo, 24/07/2019
"Foi por aí que eu perdi... Foi por aí
que eu perdi... Foi por aí que eu perdi...".
“ETERNO RETORNO”
‘Um mundo se desenrola diante de mim.
Prédios, carros, pessoas
parecem cumprir seu patético “destino”.
Um “destino” cheio de mudanças,
acertos e desacertos
que parecem se repetir infinitamente
sem que nada, absolutamente nada,
se revele de forma Nova... Radical.
Prédios, carros, pessoas
parecem cumprir seu patético “destino”.
Um “destino” cheio de mudanças,
acertos e desacertos
que parecem se repetir infinitamente
sem que nada, absolutamente nada,
se revele de forma Nova... Radical.
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-concepcao-nietzscheana-niilismo.htm’
DURANTE REUNIÃO
Lula critica
manifestos suprapartidários e diz não ter idade para ser "maria vai com as
outras"
Ex-presidente afirmou que muitos dos
documentos articulados pela sociedade civil desconsideram os direitos dos
trabalhadores
01/06/2020 - 16h37minAtualizada
em 01/06/2020 - 17h14min
FOLHAPRESS
Joelmir Tavares
O ex-presidente Lula criticou
em reunião do PT nesta segunda-feira (1º) os manifestos suprapartidários em
defesa da democracia surgidos nos últimos dias, sob o argumento de que os
documentos articulados pela sociedade civil desconsideram os direitos dos
trabalhadores.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, as
iniciativas buscam recriar o clima das Diretas Já e uniram adversários
ideológicos diante dos ataques do presidente Jair Bolsonaro a
instituições e à Constituição. A principal mobilização da atual leva é o Movimento
Estamos Juntos, mas pelo menos outros seis grupos estão se consolidando nesse
cenário.
Lula defendeu que o partido analise as
iniciativas antes de tomar qualquer decisão e as relacionou a um projeto da
elite brasileira — embora parte dos manifestos venha se organizando por meio da
internet, com a possibilidade de qualquer cidadão aderir.
— Li os manifestos e acho que tem
pouca coisa de interesse da classe trabalhadora. Não se fala em classe
trabalhadora, nos direitos perdidos — afirmou.
Para ele, os textos só falam
genericamente no que chamou de corte recente de direitos. O ex-presidente se
disse incomodado com a presença, nas listas, de nomes de pessoas que apoiaram o
impeachment de Dilma Rousseff (PT) e que, na visão do petista,
abriram caminho para a eleição de Bolsonaro. Em diversos momentos, ele
reivindicou protagonismo para o partido.
— Sinceramente, eu não tenho mais
idade para ser "maria vai com as outras". O PT já tem história neste
país, já tem administração exemplar neste país. Eu, sinceramente, não tenho
condições de assinar determinados documentos com determinadas pessoas — afirmou
Lula.
Na fala, transmitida em redes sociais,
o ex-presidente disse ter lido os manifestos do Estamos Juntos (inicialmente
assinado por artistas e intelectuais) e do Basta! (organizado por advogados e
outros representantes do universo jurídico).
Alguns dos manifestos, segundo Lula,
são "feitos com boas intenções" e contam com "gente muito boa
assinando", mas também há "aqueles que estão fugindo do barco" —
que apoiaram Bolsonaro e agora querem se desvencilhar dele.
— Nós precisamos apoiar qualquer
manifesto que for para resolver o problema do Brasil, (mas) não podemos ser
levados pela euforia — acrescentou Lula, afirmando que a sigla não pode se
deixar ser usada por pessoas que são contra Bolsonaro, mas apoiam a política
econômica do ministro Paulo Guedes:
— (Tem) muita gente de bem que
assinou. E tem muita gente que é responsável pelo Bolsonaro. O PT tem que
discutir com muita profundidade, para a gente não entrar numa coisa em que
outra vez a elite sai por cima da carne seca, e o povo trabalhador não sai na
fotografia.
O petista disse não ter certeza se o
objetivo das mobilizações é tirar Bolsonaro, "porque o que interessa para
a elite brasileira é a política de desmonte do Guedes. Eles estão tentando
reeducar o Bolsonaro, mas não querem reeducar o Guedes".
Após as justificativas, Lula defendeu
que o PT tome "muito cuidado" diante das iniciativas:
— Para a gente não pegar o primeiro
ônibus que está passando. É preciso que a gente analise todos esses manifestos
e que conversemos com os organizadores para saber o que eles querem.
Na opinião dele, "há um interesse
muito grande da elite brasileira em voltar a governar o país sem o PT".
— As pessoas acabaram de cometer um
ato ilícito, tirando uma presidente democraticamente eleita pelo povo, e aí
perceberam que o troglodita que eles elegeram não deu certo. Eles agora querem
tentar tirar o troglodita para quê? — afirmou.
— Até o Fernando Henrique Cardoso, que
é um dos ajudaram a derrubar a Dilma, porque se acovardou, (assinou) —
continuou o petista, citando a adesão do tucano ao Estamos Juntos — Eu não
posso aceitar com muita facilidade aquilo que as pessoas que ajudaram a
destruir o país estão querendo fazer — disse, sem citar nomes.
PT deve "agradecer"
manifestações contra Bolsonaro, mas propagar as suas ideias
Lula falou aos colegas de legenda que
o PT deve "agradecer a todos os brasileiros e brasileiras de todos os
pensamentos ideológicos que foram para a rua protestar contra o
Bolsonaro", mas não pode abrir mão de propagar suas ideias e reafirmar a
defesa dos trabalhadores.
— O PT não é uma coisa qualquer que
pode ser menosprezada. Eu vejo uma tentativa muito grande de isolar o PT, de
fazer com que o PT desapareça do cenário político — insistiu — Eu acho que
todos esses manifestos têm uma importância para a sociedade e para a
democracia, mas é preciso que o PT defina qual é o manifesto que interessa para
o PT, qual é a linguagem que interessa para o PT — discursou.
O ex-presidente disse ainda aos
colegas de legenda que o partido precisa ter clareza de qual discurso
apresentar à sociedade e que não pode "se deixar levar outra vez pela
elite brasileira".
— Eu só quero dizer para o PT o
seguinte: o PT não tem idade para outra vez entrar enganado numa disputa. Nós
sabemos por que queremos o impeachment do Bolsonaro: porque nós queremos que
este país seja governado para os interesses dos trabalhadores brasileiros —
afirmou.
Grito do
excluído
Por Dora
Kramer
Veja
2 jun 2020
Lula é
voz isolada na condenação aos manifestos de unidade
Na tela dos
autores dos manifestos, a unidade dos que têm como referência a defesa dos
valores da democracia e da cidadania. Contra, por suposto, o modo como
Bolsonaro pretende governar.
Para manejar cachorro e gado, basta
que cachorro e gado tenham as vidas de cachorro e de gado para esses antípodas
da polarização buscada e forçada!
Luiz Inácio não
vai com os outros
Por Bruno Boghossian
Folha de S. Paulo
2 jun 2020
Petista rejeita aliança por acreditar
que pode se contrapor sozinho a uma recessão econômica
A quatro dias do segundo turno de
2018, Lula cobrou a união de “todos e todas que defendem a democracia”. Numa
carta escrita da prisão, o ex-presidente anotou que o país caminhava em direção
a uma “aventura fascista” e afirmou: “É o momento de unir o povo, os
democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad”.
O petista agora indica que aquela era
uma peça de marketing de baixa qualidade. Nos últimos dias, ele criticou
esforços pela criação de uma frente contra tendências autoritárias de Jair
Bolsonaro.
Classificou manifestos em defesa da
democracia como projetos da elite e desestimulou o PT a aderir aos movimentos.
“Sinceramente, eu não tenho mais idade
para ser maria vai com as outras”, afirmou o ex-presidente num evento do
partido, na segunda (1º).
A rejeição ao governo se alargou, mas
Lula só parece preocupado em preservar hegemonia em seu próprio campo político.
O ex-presidente se recusa a compartilhar a liderança de um pacto de oposição e
resiste a abrir mão de itens de sua agenda em nome de princípios mais
abrangentes.
Para o petista, os movimentos pela
democracia são parte de um plano da elite para “voltar a governar o país sem o
PT”, ignorando a agenda de redistribuição de renda que se tornou marca da
sigla. Sem perceber que o eixo de contestação a Bolsonaro se desloca
rapidamente para o centro e para a direita, no entanto, ele corre o risco de
ser atropelado também dentro da esquerda.
Alguns aliados de Lula dizem que o
ex-presidente se comporta de maneira pretensiosa e autocentrada. Eles entendem
que é preciso unir forças políticas com programas distintos e admitem que a
esquerda pode não ser capaz de disputar o comando dessa frente neste momento.
Lula rejeita essa aliança por
acreditar que o PT pode se contrapor sozinho a uma possível recessão econômica
sob o atual governo. Em nome desse projeto, ele se mostra disposto a alimentar
uma divisão que pode facilitar o caminho para as investidas autoritárias de
Bolsonaro.
Grito do excluído
Por Dora Kramer
Lula é voz isolada na condenação aos
manifestos de unidade
Veja
2 jun 2020
Lula recusa participação do PT em coletivo
onde ele não é protagonista. Não é a 1ª vez
Surpreende a condenação de Lula à recente
movimentação dos opositores do modo Jair Bolsonaro de governar.
O gosto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pelo sectarismo e o atrito na ação política não é novidade. Construiu
assim a trajetória do PT na oposição até a pragmática adesão à dinâmica “paz e
amor” para conseguir chegar ao poder.
Voltou à pregação da intolerância na derrocada
de sua condição de líder da oposição.
Por isso não deveria, mas surpreende a
condenação de Lula à recente movimentação dos opositores do modo Jair Bolsonaro
de governar e a recusa do petista de assinar qualquer um dos manifestos que se
avolumam em defesa dos ideais democráticos, cujo propósito é o de reunir
signatários sem distinção partidária, social, ideológica e/ou profissional.
Lula pede que o incluam fora dessa alegando
que os documentos não fazem referência “aos direitos dos trabalhadores”. Sim, a
referência é aos direitos gerais dos cidadãos brasileiros de viver numa
democracia plena. O ex-presidente não ignora isso, como de resto não ignoram todos
os que tenham lido os enunciados dos manifestos.
Portanto, Lula faz a confusão
propositadamente. O real motivo está linhas adiante de sua justificativa,
quando diz que está muito velho para ser “maria-vai-com-as-outras” e se dá ao
direito de não compartilhar ações com “determinadas pessoas”.
Não é a primeira vez que Luiz Inácio recusa
participação do PT em movimentos coletivos robustos nos quais não seja ele o protagonista.
Foi assim quando negou voto a Tancredo Neves no colégio eleitoral de 1985, foi
assim quando de início recusou assinar a Constituição de 1988 (recuou, depois),
foi assim quando repudiou participação na coalização de forças integrantes do
governo de transição de Itamar Franco, foi assim quando repudiou o Plano Real.
Ao rejeitar
manifestos pró-democracia, Lula se arrisca a deixar de ser protagonista
Por Sérgio Roxo
O Globo
2/06/2014:14
Lula
em debate para marcar os 40 anos do PT, em fevereiro: ex-presidente pode ter
perdido o poder catalisador do passado Crédito: Brenno Carvalho / Agência
O Globo
Ao criticar os manifestos
pró-democracia lançados no fim de semana, o ex-presidente Lula talvez
tenha sacramentado a sua despedida do papel de protagonista da vida política
nacional que exerceu desde a redemocratização. Seja no movimento pelas Diretas,
nos dois processos de impeachment ou nas oito eleições presidenciais ocorridas
no período, o líder petista sempre esteve em cena com destaque.
Agora, caso os movimentos atuais
ganhem corpo (o manifesto Estamos Juntos já conta com 2,5 milhões assinaturas),
Lula pode se consolidar apenas como líder de um grupo minoritário e sectário na
política nacional, num movimento oposto ao que o levou ao poder em 2002.
Pessoas próximas reconhecem que o
ex-presidente ainda não encontrou o seu espaço depois que deixou a prisão, em
novembro. Seu círculo de interlocutores diminuiu, tanto na quantidade como na
diversidade de visões.
Em sua fala contra os movimentos
pró-democracia na segunda-feira, Lula descartou dividir manifestos com quem
apoiou o impeachment de Dilma Rousseff. Porém, não mencionou que, ainda em
2017, durante uma caravana pelo Nordeste, foi recebido com pompa em Alagoas
pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Renan presidia o Senado na época do
afastamento da ex-presidente e votou pelo impeachment.
Lula também gerou constrangimentos
entre aliados. Ao dizer não ter mais idade para ser “maria vai com as outras”,
o ex-presidente criticou de forma indireta Fernando Haddad, que assinou o
manifesto Estamos Juntos. Quando citou o Basta!, voltou-se contra boa parte dos
advogados do Grupo Prerrogativas, que apoiaram a sua cruzada contra a
Lava-Jato.
Ao destilar as suas críticas aos
documentos pró-democracia, Lula se esquece que a sua participação em um
movimento desse tipo hoje em dia talvez não tenha mais o poder catalisador do
passado. Em março, um manifesto pela renúncia de Bolsonaro reuniu nomes de
partidos de esquerda e centro-esquerda. Na ocasião, muitos políticos só
aceitaram assinar o texto porque o petista ficou de fora.
Por Sérgio Roxo
Crítica de Lula a
antigolpistas é reacionária. Ou: entre estratégia e erro
Reinaldo Azevedo
Colunista do UOL
02/06/2020 08h50
Até me vejo tentado a começar assim o
texto: "Lula comete um erro ao criticar os manifestos suprapartidários em
defesa da democracia..." Mas penso que seria uma tolice. O petista, a
exemplo de Bolsonaro, nunca erra. Eles anteveem o futuro para os seus. E não!
Eles não são iguais. Concorde-se ou não, o petista trava as suas disputas no
terreno da democracia. Bolsonaro aspira à destruição do regime em nome do que
ele chama "liberdade". Lula é de centro-esquerda; Bolsonaro é um
fascitoide vulgar e truculento. Dito isso, sigamos.
Nesta segunda, Lula viu em manifestos
como o "Estamos Juntos", de que este escriba é signatário, só a
expressão dos interesses da elite brasileira, desprezando os dos trabalhadores.
A frase é falsa porque o manifesto não especulou ou arbitrou sobre escolhas de
política econômica, o que certamente provocaria divisões. O que se faz lá é
buscar o que nos une a despeito das diferenças: a defesa da democracia, que diz
respeito ao conjunto do povo brasileiro.
Bem, poderia objetar que o
ex-presidente não viu mal nenhum em fazer o maior arco de alianças partidárias
da história do Brasil quando no poder, e a tal "elite brasileira" não
teve do que reclamar. Sim, esta é estupidamente ingrata com ele. Nunca lucrou tanto.
Mesmo assim lhe deu as costas. Mas isso só nos diz do desamor da elite por
Lula, não do desamor de Lula pela elite.
Digamos que a dita-cuja estivesse, de
fato, representada no manifesto (e isso é falso!), pergunto: ele divide o
poder com a elite, mas não um manifesto em defesa da democracia? Não há
resposta para pergunta. Ou melhor: há, sim. E eu a darei aqui.
O petista também se insurgiu contra a
assinatura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma velha obsessão,
porque o tucano apoiou o impeachment de Dilma, que o ex-presidente vê na raiz
da eleição de Bolsonaro. Bem, em primeiro lugar, Lula comete o erro — e isto é
erro mesmo! — de contar a história que não houve. Em segundo lugar, o homem que
foi condenado sem provas e mantido preso ao arrepio da Constituição (o que
sempre afirmei) não põe na conta da eleição de Bolsonaro os descalabros que
vieram a público sobre a gestão petista.
A Lava Jato cometeu ilegalidades —
chame-se pelo que são: crimes — e barbarizou o devido processo legal e a
política, mas isso não significa que roubalheira não tenha existido. Com Dilma
no poder, Bolsonaro não teria sido eleito? Por quê? O atual presidente chegou
àquela cadeira cavalgando o antipetismo. Se o partido estivesse na Presidência,
talvez o ogro tivesse sido eleito no primeiro turno. Mas também eu não contarei
a história que não houve.
ALIANÇAS
Partiu do próprio Lula a inciativa de
levantar o veto a alianças com legendas e lideranças que apoiaram o impeachment
nas eleições municipais. A esquerda do PT queria, mas ele considerou isso um
erro -- o que eu também acharia em seu lugar. Digam-me cá: o PT pode dividir
o palanque com nomes que defenderam o impeachment, mas não um manifesto em
favor da democracia? Não há resposta para essa outra pergunta. Ou melhor: há,
sim. E eu a darei aqui.
Lula afirmou na reunião do partido:
"Sinceramente,
eu não tenho mais idade para ser maria vai com as outras. O PT já tem história
neste país, já tem administração exemplar neste país. Eu, sinceramente, não
tenho condições de assinar determinados documentos com determinadas
pessoas".
As Marias estão apenas indo para a
democracia e para a militância contra a fascistização do poder e o golpismo. E
em defesa de valores civilizatórios como tolerância e pluralidade. Se Lula não
pode estar nesse grupo, vá lá, que faça o seu, mas por que atacar as outras
iniciativas? Ademais, boa parte dos parlamentares que votaram em favor do
impeachment havia pertencido à base de apoio. Alguns patriotas que se
apresentam para dividir o butim do governo Bolsonaro estiveram nos governos
Lula e Dilma. O PT pôde dividir estatais com valentes que depois se tornaram
entusiastas do impeachment, mas não um manifesto em defesa da democracia?
Disse ainda o presidente:
"Nós
precisamos apoiar qualquer manifesto que for para resolver o problema do
Brasil, [mas] não podemos ser levados pela euforia. (...) Tem] muita gente de
bem que assinou. E tem muita gente que é responsável pelo Bolsonaro. O PT tem
que discutir com muita profundidade para a gente não entrar numa coisa em que
outra vez a elite sai por cima da carne seca, e o povo trabalhador não sai na
fotografia."
Vamos ver.
"Qualquer manifesto que for
resolver o problema do Brasil"? Uau! Só a pedra filosofal teve busca mais
dedicada... Manifestos não resolvem problemas, mas congregam pessoas à volta de
um núcleo de ideias. O "Estamos Juntos" não é partido nem quer ser.
Ao contrário: o texto evoca duas vezes os partidos e prega a valorização da
política, não sua destruição.
Sabe quem é responsável por Bolsonaro,
Lula? O eleitor! Ocorre que ninguém se elege para ser ditador, tenha o partido
como símbolo uma estrela ou uma pistola. O senhor acha mesmo que o PT não
contribuiu em nada para levar a maioria do eleitorado a escolher o atual
presidente da República?
Lula faça o que quiser com o PT. Como
resta evidente, os manifestos e atos em defesa da democracia avançam
independentemente das resoluções do seu partido e de suas declarações. Em certo
sentido, ele presta um favor aos fatos: facções da seita bolsonarista acusavam
o "Estamos Juntos" de ser petismo maquiado. Não é. E, sim!, há também
petistas lá.
NÃO É ERRO, É UM
MÉTODO
Sabem por que o PT governa com as
elites, mas não assina manifestos com ela (na hipótese de que fosse verdade
tratar-se de um texto elitista)? Sabem por que o PT fará alianças com partidos
e lideranças que apoiaram o impeachment, mas não assina manifestos com eles?
Porque a legenda só aceita composições quando pode, como é mesmo?,
"hegemonizar" o processo. E, nesse caso, a sociedade civil saiu na
frente.
Sim, eu entendo a
"racionália" lulista. Ela faz sentido e tem história na história (se
me permitem...) dos partidos de esquerda. Ocorre que aquele não é um manifesto
dos petistas para a sociedade, mas um manifesto da sociedade para todos os
agentes políticos, também os petistas.
Assim, a não adesão é uma escolha
política, não um erro.
Já a crítica a quem se junta para
combater o golpismo e a fascistização do país, ah, aí é erro mesmo, Lula! Tão
feio como agradecer à natureza por ter criado um monstro como o coronavírus
para evidenciar a importância do Estado.
Lula precisa parar, tirar a chuteira,
ajeitar a meia, repor o calçado, ajustar o cadarço e, só então, tentar cobrar o
pênalti. Ou vai continuar a mandar a bola para o mato do passado, do atraso e
das ideias mortas. A crítica é reacionária. Para o mal do Brasil. Afinal,
trata-se da mais importante liderança popular do país e do comandante máximo do
maior partido de oposição.
Dr. Responde: O
que é Mitomania?
Hospital
Israelita Albert Einstein
“O psiquiatra, Dr. Mauro Moore
Madureira explica o que é a Mitomania. Muitos acham que Mitomania é uma doença,
porém, o Doutor explica que a Mitomania é na verdade, um hábito considerado
doentio de usar mentiras para parecer ser mais do que é.”
Mitomania:
entenda a compulsão por mentir
Ver Mais Londrina
“Você conhece alguém que mente demais?
Alguém que sempre conta um mentira ou outra? Isso pode ser um distúrbio
psicológico chamado mitomania. Em nosso estúdio, o psicólogo Rafael Pavani
comenta sobre casos e situações.”
Admirável Gado
Novo
Zé Ramalho
Ôôô, boi
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ôôô, boi
O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam essa vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Não voam, nem se pode flutuar
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ê, ô, ô, vida de gado
Povo marcado, ê!
Povo feliz!
Ôôô, boiA
Composição: Alçeu Valença / Zé
Ramalho.
Zé Ramalho - Vida
de Gado
Referências
http://www.academia.org.br/artigos/o-mito-e-mitomania
http://www.academia.org.br/artigos/o-mito-e-mitomania
https://monografias.brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-concepcao-nietzscheana-niilismo.htm
https://veja.abril.com.br/blog/dora-kramer/grito-do-excluido/
https://veja.abril.com.br/blog/dora-kramer/grito-do-excluido/
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/06/bruno-boghossian-luiz-inacio-nao-vai.html
https://abrilveja.files.wordpress.com/2020/05/2.jpg.jpg?quality=70&strip=info&w=680&h=453&crop=1
https://veja.abril.com.br/blog/dora-kramer/grito-do-excluido/
https://ogimg.infoglobo.com.br/in/24458229-d0d-211/FT1086A/652/Luiz-Inacio-Lula-da-Silva-em-debate-com-Pepe-Mujica.png
https://oglobo.globo.com/analitico/coronavirusacentua-perda-de-relevancia-da-industria-no-brasil-24460243
http://aprovinciadopara.com.br/ao-rejeitar-manifestos-pro-democracia-lula-se-arrisca-a-deixar-de-ser-protagonista/
https://noticias.uol.com.br/colunas/reinaldo-azevedo/2020/06/02/critica-de-lula-a-antigolpistas-e-reacionaria-ou-entre-estrategia-e-erro.htm
https://youtu.be/SSkZYHZ_Nv0
https://www.youtube.com/watch?v=SSkZYHZ_Nv0
https://youtu.be/yfb2vaPPVXg
https://www.letras.mus.br/ze-ramalho/49361/
https://youtu.be/JGdy_kc27zI
https://www.youtube.com/watch?v=JGdy_kc27zI&feature=youtu.be
https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2020/06/lula-critica-manifestos-suprapartidarios-e-diz-nao-ter-idade-para-ser-maria-vai-com-as-outras-ckawwaigj005u01tkyhpmzkwb.html
https://youtu.be/lMPXSzUaIfM
http://aprovinciadopara.com.br/ao-rejeitar-manifestos-pro-democracia-lula-se-arrisca-a-deixar-de-ser-protagonista/
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