Cores? Sim, para poucos. Só o replay
era para todos
De vez em quando, algumas pessoas
dizem que assistiram à Copa de 1970 com imagens coloridas, por mais que a
televisão brasileira tenha começado a deixar o preto e branco de lado só em
1972.
Brasil conquista o tricampeonato
mundial de futebol no México
No dia 21 de
junho de 1970, a seleção brasileira de futebol conquistou, no México, o seu
terceiro título mundial de futebol. A equipe também entrou para a história como
uma das melhores de todos os tempos. O time verde-amarelo ganhou todas as três
partidas da primeira fase: Tchecoslováquia (4-1), Inglaterra (1-0) e Romênia
(3-2). Depois, venceu o Peru (4-2), o Uruguai (3-1) e a disputa na final contra
a Itália, quando goleou o rival por 4 a 1. A Copa do Mundo no México também
entrou para a história como a primeira a ser transmitida a cores e via satélite
para todo o mundo. Curiosamente, pouco antes do Mundial, o então treinador do
Brasil, João Saldanha, não havia convocado Pelé por conta de uma lesão e também
porque o Rei do Futebol tinha miopia. Contudo, Saldanha foi demitido antes da
Copa do Mundo e o seu sucessor, Zagallo, tratou de chamar Pelé para disputar o
campeonato na México.
Imagem: El
Gráfico [Domínio público], via Wikimedia Commons
ROMA - FILME 2018 - TRAILER OFICIAL NETFLIX
Roma: O melhor filme do ano e da Netflix!
Gustavo Cruz
Publicado em 15 de dez de 2018
Roma é o melhor filme do ano e da
Netflix, confira nesse vídeo tudo sobre o filme!
MORELIA
#Entrevista Alfonso Cuarón
Mi cine, tu cine
Publicado em 22 de nov de 2018
En el marco del 16 Festival
Internacional de Cine en Morelia, platicamos con el realizador de ROMA, una de
las películas más esperadas en los últimos años y con la que se ha llevado
diversos reconocimientos a nivel mundial.
Filme Roma, de Alfonso Cuarón
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
Doutora em Estudos da Cultura
Autobiográfico,
inspirado na infância do próprio diretor Alfonso Cuarón passada
num contexto de classe média mexicana, durante os anos 1970, Roma é
um filme feito a preto e branco extremamente intimista e poético.
O projeto
mais pessoal do diretor está indicado ao Oscar 2019 em dez categorias (entre
elas Melhor Filme, Melhor Filme em Língua Estrangeira, Melhor Direção e Melhor
Atriz).
Trata-se do
primeiro longa metragem em espanhol (e mixteca) nomeado para Melhor Filme no
Oscar, que jamais foi entregue a um filme de língua não inglesa.
A produção,
que aborda especialmente as diferenças raciais e sociais, é também
pioneira por ser o primeiro filme produzido por uma plataforma
de streaming a emplacar público e crítica.
Roma já
arrebatou um Leão de Ouro (Festival de Cinema de Veneza) como Melhor Filme e
dois Globos de Ouro (Melhor Diretor e Melhor Filme Estrangeiro).
Resumo
A história
se passa durante um breve espaço de tempo - cerca de um ano - em um ambiente
específico: a casa da família. Embora os personagens passeiem por outros
espaços (o bairro pobre que abriga os namorados das empregadas, a casa de campo,
a praia), a maior parte do desenrolar acontece dentro da casa localizada na Rua
Tapeji.
A família e a casa são talvez os grandes protagonistas
de Roma.
Trailer
Ficha
Técnica
Título
original
|
Roma
|
Lançamento
|
30 de
agosto de 2018
|
Diretor
|
Alfonso
Cuarón
|
Roteirista
|
Alfonso
Cuarón
|
Gênero
|
Drama
|
Duração
|
135
minutos
|
Atores
principais
|
Yalitza
Aparicio, Marina de Tavira, Diego Cortina Autrey
|
Prêmios
|
Globo de
Ouro de Melhor Diretor (2019)
Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro (2019) Leão de Ouro (Festival de Cinema de Veneza) - Melhor filme Dez nomeações para o Óscar 2019 |
Cartaz do filme Roma.
Roma: "No importa lo que te
digan, siempre estamos solas"
NSTAGRAM: @ALFONSOCUARON /
@CARLOSSOMONTEYalitza Aparicio y Marina de Tavira, en 'Roma'. Instagram:
@alfonsocuaron / @carlossomonte
"Estamos solas. No importa lo
que te digan, siempre estamos solas", le dice Sofía a Cleo una noche
que llega borracha y lista para enfrentar, después de meses, el abandono de su
marido.
"Estamos sozinhas, não
importa o que digam a você, estamos sempre sozinhas", diz Sofía uma
noite, quando chega bêbada e pronta para enfrentar, depois de meses, o abandono
do marido.
Nas ondas do rádio de Roma captada no carro da família
Todo Pasará
Nelson Ned
Yo te dí tanto amor por un día
y después sin querer te perdí
no pensé que tu amor dolería
que también lloraría por ti.
Más todo pasa, todo pasará
y nada queda, nada quedará
solo se encuentra la felicidad
cuando se brinda el corazón
Laralalala,laralalala
Laralalala,laralalala
Laralalala,laralalala
Laralalala,laralalala
Laralalala,laralalala
Volveré a querer algún día
no tendré ya jamás que llorar
aunque en mí ya no hay alegría
de esperanza ya puedo gritar.
Más todo pasa, todo pasará
y nada queda, nada quedará
solo se encuentra la felicidad
cuando se brinda el corazón
Laralalala,laralalala
Laralalala,laralalala
Laralalala,laralalala
Laralalala,laralalala
Laralalala,laralalala.
Composição: Nelson Ned
Copa do Mundo FIFA de 1970
|
|
Copa Mundial de Fútbol México
70
Mexico 70 |
|
Dados
|
|
Participantes
|
16
|
Organização
|
FIFA
|
Anfitrião
|
México
|
Período
|
31 de maio – 21 de junho
|
Gol(o)s
|
95
|
Partidas
|
32
|
Média
|
2,97 gol(o)s por partida
|
Campeão
|
Brasil (3º
título)
|
Vice-campeão
|
Itália
|
3º colocado
|
Alemanha
Ocidental
|
4º colocado
|
Uruguai
|
Melhor marcador
|
|
Melhor ataque (fase inicial)
|
Alemanha
Ocidental – 10 gols
|
Melhor defesa (fase inicial)
|
Nenhum gol:
Itália
México
|
Maior goleada
(diferença) |
México 4—0 El Salvador
Estádio Azteca, Cidade do México 7 de junho, Grupo 1, 2ª rodada |
Público
|
1 603 975
|
Média
|
50 124,2 pessoas por
partida
|
Premiações
|
|
Melhor jogador jovem
|
|
Fair play
|
Peru
|
Mas talvez quem melhor tenha expressado o que
o Brasil sentiu, ao acompanhar a progressão brasileira até o título, foi João
Saldanha, o comentarista da Globo.
“Confesso que estou emocionado”. Quem havia
assistido àquele momento histórico – a primeira Copa do Mundo exibida ao vivo
para o Brasil – também estava. Mesmo que todas as imagens abaixo tenham sido
vistas em preto e branco pela maioria da população brasileira.
A Copa na televisão brasileira: 1970
Por: Felipe dos Santos Souza
3 de junho de 2018 às 17:42
3 de junho de 2018 às 17:42
Desde o último sábado, até a véspera
da abertura da Copa, publicaremos uma série de especiais sobre a história dos
Mundiais na televisão brasileira. Nesta segunda-feira, a terceira parte, sobre
a Copa de 1974. Clique aqui para conferir os textos anteriores.
Ainda estava demorando. Embora os
jogos da Seleção Brasileira nas Copas de 1962 e 1966 já tivessem sido vistos –
no caso de 1966, os jogos de outras seleções também -, a televisão ainda ficava
um ou dois dias atrasada, perdendo para o imediatismo do rádio na transmissão
de um Mundial. Para o Brasil, isso mudou a partir de 1969. Neste ano, no dia 28
de fevereiro, com a transmissão ao vivo de uma bênção especial do papa Paulo VI,
diretamente do Vaticano, foi oficialmente inaugurada a Embratel (Empresa
Brasileira de Telecomunicações), estatal brasileira de telecomunicações que
cuidava do assunto. Estava aberta a possibilidade de os dias de atraso virarem
apenas alguns segundos. Faltava ainda uma estação que recebesse sinais de
satélite – e a Embratel a montou em sua base de Tanguá, distrito de Itaboraí,
no Rio de Janeiro, incluindo o país na rede Intelsat, formada nos Estados
Unidos, em 1964. Tal rede era abrangida pelo satélite Intelsat II, a 36 mil
quilômetros de altitude. Enfim, os brasileiros poderiam assistir a Copa do
Mundo ao vivo, a partir de 1970.
Sim, já havia o monopólio
Resolvidos os problemas técnicos,
outros se colocavam na frente – tão importantes quanto os primeiros: a compra
dos direitos. Num Mundial a ser sediado no México, nada mais previsível que os
direitos de transmissão fossem cedidos pela Fifa ao Telesistema Mexicano
comandado por Emilio Azcárraga Milmo, o responsável pela viabilização técnica
dos trabalhos da televisão na Copa de 1962. O Telesistema comprou os direitos
mundiais, por US$ 1.850.000. E segundo José de Almeida Castro (ainda diretor da
TV Tupi) se lembrou em seu livro “25 anos de televisão via satélite”, o Comitê
Organizador montou a empresa VT Latin Programs, para cuidar dos assuntos
comerciais daquela Copa.
Entre tais assuntos, estava a venda
dos direitos de transmissão. E a VT Latin Programs veio ao Brasil para
negociá-los com a Tupi, em São Paulo. Negócio rapidamente fechado: era para a
Tupi exibir a Copa de 1970 com exclusividade. Era. O motivo foi contado por
Almeida Castro: “Com a divulgação [do acordo exclusivo], as reações começaram.
As outras emissoras paulistas e cariocas protestaram por não terem sido
consultadas e alegavam ter sido desrespeitado o protocolo assinado por todos,
em 1966, proibindo a exclusividade nas transmissões de jogos da Seleção
Brasileira”. Pois é: já em 1970, se reclamava de monopólio na exibição de
partidas de futebol.
Para resolver o impasse, o Ministério
das Comunicações (controlador da Embratel) entrou no assunto. No final de 1969,
após reuniões entre o governo e as emissoras, decidiu-se: o contrato entre a VT
Latin Programs e a TV Tupi seria anulado, e as emissoras fariam um “pool” para
exibirem a Copa de 1970 – bom lembrar, “pool” era o grupo formado por emissoras
para se cotizarem e compartilharem materiais técnicos (e até mão-de-obra) numa
cobertura esportiva. No Brasil, estava tudo certo. Faltava combinar com os
mexicanos. Então, em dezembro, viajou para o México uma comitiva, que se
reuniria com Emílio Azcárraga Milmo. Seus membros: Walter Clark, já o poderoso
diretor geral da TV Globo; o supracitado José de Almeida Castro, pela TV Tupi;
Paulo César Ferreira, diretor da Rádio Nacional; e Flávio Alcaraz Gomes, vice-presidente
da ABERT (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) e
representante da Rádio Guaíba gaúcha.
E a reunião de renegociação foi tensa.
O Telesistema pedia US$ 1.200.000 para ceder de novo os direitos ao pool de
emissoras. E havia mais, segundo Walter Clark rememorou na biografia “O Campeão
de Audiência”, de Gabriel Priolli (Best Seller, 1991): “Nós cedíamos o espaço
para a transmissão dos jogos a eles, simplesmente, que exibiam a Copa com seus
próprios anunciantes, sem nenhuma janela para os nossos comerciais. Em
contrapartida, eles pagavam os custos de satélite e nos davam um troço chamado
‘Los Mejores Momentos de la Copa’, um programa com o resumo dos jogos onde
poderíamos colocar mais publicidade”.
As emissoras responderam com a
contraproposta de US$ 550 mil. De início, o Telesistema recusou, via Azcárraga.
Aí, a reunião chegou ao seu clímax, conforme as memórias de Walter Clark: “Foi
então que o Paulo César – que não por acaso, tinha o apelido de “Tarzan” – deu
uma enorme porrada na mesa e blefou, com uma cara de pau: ‘Pois bem, senhor
Azcárraga. O senhor é o homem mais poderoso da América Latina, faça então o que
quiser. Não transmita a Copa para o Brasil, mas também fique certo de que não
vai ter a Seleção Brasileira no campo. O senhor acha que o governo brasileiro
vai permitir que a nossa Seleção jogue, depois de uma ofensa dessas do México?
Jamais. E eu quero ver como vai ficar essa merda da sua Copa, sem o Brasil'”.
Clark riu do blefe: “O Paulo César
blefou com tanta convicção, argumentando que estava ali como representante das
emissoras de rádio e tevê e do governo brasileiro, que o Azcárraga se
intimidou. Achava mesmo que aquele doido falava oficialmente e considerou o
desastre que seria para a Copa a ausência do Brasil. (…) Ele pensou bem e
aceitou a revisão do contrato”. Enfim, por 715 mil dólares, o pool de emissoras
chegou a um acordo e garantiu a exibição do torneio para o Brasil.
Quatro tevês se uniram no pool: Globo,
Tupi, Bandeirantes e Record. Ou melhor: a Rede Globo de Televisão, a Rede de
Emissoras Associadas (obviamente, contendo as emissoras dos Diários Associados,
Tupi à frente) e a Rede de Emissoras Independentes (união entre Bandeirantes e
Record). Para patrocinarem a transmissão do pool, Gillette, Esso e Souza Cruz
pagaram aproximadamente 4,5 milhões de cruzados novos (equivalente a
aproximadamente US$ 1 milhão). Os mesmos patrocinadores bancaram um concurso
para escolha de um tema que servisse de prefixo da abertura das transmissões –
e como se publicou aqui, o concurso equilibradíssimo só decidiu numa
segunda votação final que “Pra frente Brasil” era a vencedora.
(A abertura das transmissões brasileiras para a Copa do Mundo, unindo Globo, Tupi – a líder da Rede de Emissoras Associadas – e a Rede de Emissoras Independentes, que juntou a Record à Bandeirantes. Do arquivo de Ted Richard Paiva Sartori)
Em cores? Sim, para poucos. Só o replay era
para todos
De vez em quando, algumas pessoas
dizem que assistiram à Copa de 1970 com imagens coloridas, por mais que a
televisão brasileira tenha começado a deixar o preto e branco de lado só em
1972. No entanto, algumas das pessoas que falam isso efetivamente viram a Copa
em cores. Foi o caso de Léo Batista, que participava da primeira cobertura de
Mundial pela Globo, na qual chegara naquele mesmo ano, após deixar a TV Rio em
1968 e passar rapidamente pela Excelsior. Em depoimento ao “Memória Globo”,
projeto de memória institucional da emissora carioca, Léo lamentou: “Tem até
uma briga – eu já enjoei desse assunto… porque ou eu sou maluco, ou eu sou
mentiroso, mas eu estou dizendo que eu vi a Copa do México, aqui no Brasil, a
cores!”.
Não é maluco, nem mentiroso: Leo
realmente tinha acesso às imagens coloridas dos jogos. Ele e todos os
envolvidos na cobertura que tinham acesso à base fluminense da Embratel – em
Tanguá, distrito de Itaboraí, como já escrito -, além da sede da estatal de
telecomunicações, na avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. Em São
Paulo, no Tronco-Sul da Embratel, localizado no Edifício Itália, também era
possível assistir à Copa do Mundo em cores. Pela simples razão de que eram os
únicos lugares no país a terem receptores capazes de decodificarem as imagens
coloridas enviadas do México.
Como já dito, só havia tal
possibilidade para um empregado trabalhando na cobertura – ou um felizardo
convidado pela Embratel para ter acesso à base no interior fluminense, à sede
na capital carioca ou ao Tronco-Sul paulistano. Era o que acontecia com
políticos como Francisco Negrão de Lima, então governador do estado da
Guanabara, ou com o próprio presidente Emílio Garrastazu Médici.
Já para os brasileiros não
beneficiados pela sorte, o jeito era ver nos televisores. Em preto e branco
mesmo. O que não quer dizer que os aparelhos foram menos procurados com a
notícia de que, enfim, o Brasil veria a Copa ao vivo: notou-se aumento na venda
de televisões, às vésperas do torneio.
Se havia um problema, ele estava na
abrangência das imagens de tevê para o Brasil. Afinal de contas, a região Norte
não era abrangida pela rede da Embratel; logo, não pôde assistir à Copa, e
ficou com o rádio. O mesmo problema acometeu o Mato Grosso. Já Maranhão, Sergipe
e Alagoas, embora ainda não tivessem emissoras próprias, ficaram a salvo: as
ondas vindas das tevês em Recife e Fortaleza eram captadas nesses três estados
do Nordeste.
Por outro lado, assim como nas
transmissões ao vivo, quem pudesse ver a Copa pela tevê também teria acesso a
uma importante novidade. Lançado havia apenas alguns anos nos Estados Unidos,
após a empresa Ampex desenvolver tal tecnologia, o replay instantâneo seria
visto pela primeira vez no Brasil, num grande evento esportivo. Não que o país
não o conhecesse: a pedido dos narradores que houvessem perdido acidentalmente
algum lance, os técnicos de algumas emissoras já conseguiam “voltar a fita”
logo após um gol, para exibi-lo de novo (Walter Abrahão, um desses narradores
vitimados pelo acaso, batizou o processo de “bilance”). No entanto, o ato de
rebobinar era visto por todos os telespectadores. E o processo desenvolvido
pela Ampex acabou com essa inconveniência.
(Imagens coloridas da Copa de 1970 na tevê? Era só para alguns felizardos)
A escolha dos narradores
Cada emissora integrante do pool
enviou sua própria equipe. Pela Globo, foram ao México o narrador Geraldo José
de Almeida, o cinegrafista Gabriel Kondorf e o grande trunfo da equipe: João
Saldanha, simplesmente o técnico da Seleção Brasileira nas Eliminatórias
daquela Copa (e comandante até março daquele 1970). Já diretor de jornalismo da
emissora, Armando Nogueira também embarcou – apresentaria no “Jornal Nacional”
um bloco dedicado exclusivamente às notícias da Copa.
Pela Tupi, embarcaram dois narradores
televisivamente experientes em Copas: Walter Abrahão e Oduvaldo Cozzi. Rui
Porto (1927-1990) e Geraldo Bretas (1914-1981) eram os comentaristas – como
repórteres, Abrahão e Porto eram os nomes preferenciais. Unidas na cobertura,
Record e Bandeirantes tiveram o comentarista da primeira (Leônidas da Silva) e
o narrador da segunda (Fernando Solera, trabalhando pela primeira vez num
Mundial – e sendo o representante da primeira Copa da história da Bandeirantes,
inaugurada em 1967).
Durante o Mundial, não faltavam outros
programas sobre o assunto nas emissoras. A Globo tinha dois “mininoticiosos”
esportivos: um com Armando Nogueira, e o outro era o já conhecido “Dois minutos
com João Saldanha”, ambos gravados no México. Léo Batista apresentava o “Globo
em dois minutos esportivos”. E aos domingos, havia a “Super Resenha”, com Nelson
Rodrigues e José Maria Scassa entre os debatedores. Na Tupi, também do México,
Rui Porto fazia os comentários da Copa para o “Repórter Esso”. Em São Paulo, a
Bandeirantes inaugurou uma tradição da emissora, exibindo jogos antigos de
Copas – como o Brasil 3×1 Inglaterra de 1962, mostrado em 3 de junho pela
emissora paulista. Programas especiais foram exibidos pelas TVs Cultura (com
Luiz Noriega apresentando) e Tupi (com Gerdi Gomes). Em Minas Gerais, não
faltaram noticiosos (na TV Alterosa, o “Esporte Urgente”, o “Papo de Bola”
e o “Por Dentro da Bola”) nem debates (na TV Vila Rica). Documentários de Copas
– como “Goal!”, filme oficial da edição de 1966 – eram a aposta da TV Piratini,
no Rio Grande do Sul; da TV Jornal do Commercio, em Pernambuco; e das TVs Aratu
e Itapoan, na Bahia.
Todavia, se as emissoras do pool
haviam conseguido renegociar o contrato dos direitos da negociação, não puderam
rever outro ponto: a quantidade de cabines a que a televisão brasileira teria
direito nos estádios mexicanos. Como o primeiro contrato fora feito só com a
Tupi, só uma cabine estava reservada, e só um canal de som ficaria à
disposição. Resultado: ao invés de cada emissora ter sua própria transmissão,
narradores e comentaristas brasileiros se revezariam a cada 45 minutos, de
acordo com sorteio realizado antes da Copa entre as emissoras.
Além dos jogos do Brasil, só mais
cinco partidas foram mostradas ao vivo naquela Copa (México 0x0 União
Soviética, a partida de abertura; Peru 3×2 Bulgária; Uruguai 0x0 Itália;
Inglaterra 1×0 Tchecoslováquia; e Uruguai 0x1 Alemanha, a decisão do terceiro
lugar). As restantes foram exibidas em VTs diários, às 23h, e cada emissora
também destacou um narrador, só para esses compactos. A Globo tinha Luiz
Alberto; a Rede de Emissoras Independentes – leiam-se Record e Bandeirantes –
tinha José Lino; e a TV Tupi, Fernando Sasso, fazendo sua primeira Copa pela
tevê. Todos eles, narrando dos estúdios no Brasil.
A propaganda da transmissão do pool brasileiro
para Peru x Bulgária, jogo em que a Copa de 1970 teve seu primeiro gol
(Reprodução/Thiago Uberreich)
Os problemas em Peru x Bulgária
Como a partida de abertura da Copa de
1970 ficou sem gols, nem a equipe da Tupi nem a equipe da Globo puderam narrar
o primeiro tento daquele Mundial. Peru x Bulgária, então, foi a segunda partida
– substituindo Inglaterra x Romênia, a partida anteriormente destinada
Globo-Tupi-Rede de Emissoras Independentes. Para o jogo, estava destinada a
dupla Fernando Solera (Bandeirantes) e Leônidas da Silva (Record), no primeiro
tempo, enquanto Walter Abrahão e Geraldo Bretas fariam os 45 minutos finais
representando a Tupi.
Isso, pelo menos a princípio. Na hora
do jogo, o carro que levava a equipe brasileira de jornalistas de Guadalajara
(onde estavam hospedados) a León teve dois pneus furados. Enquanto esperavam
após o segundo furo, ainda longe do estádio e já com a partida se aproximando,
todos viram um pequeno ônibus rural andando. Em depoimento a Alberto Léo,
Fernando Solera contou que Enéas Machado de Assis, coordenador da transmissão,
não teve dúvidas: foi ao motorista, perguntou uma quantia que desejava, pagou-a
para que o ônibus seguisse dali até León, sem paradas. Todos chegaram, quinze
minutos antes da bola rolar. Até testarem todos os equipamentos, se assegurarem
de que havia ligação técnica com o Brasil… a partida já tinha começado. Restou
acionar os dois narradores que estavam a postos no Brasil, para casos de falha.
Pela Tupi, José Cunha; pela Globo, Léo Batista.
E coube a ele tirar a sorte do gol,
conforme depôs para Alberto Léo, em seu livro “História do jornalismo esportivo
na TV brasileira” (Rio de Janeiro, Maquinária, 2017): “Quando cheguei ao
estúdio, vi que a transmissão estava prejudicada (…) Dei sorte, pois tinha um
jornal aberto com as escalações e os números dos times que estavam jogando.
Peguei aquilo, sentei no estúdio e comecei a narrar, justifiquei o problema do
som e fui narrando. (…) Enquanto a técnica se empenhava em acertar o áudio que
vinha do México, eu fui narrando e, de repente, a bola veio para o Chumpitaz,
que era meio-campo da seleção peruana, ele tentou esticar para a ponta direita
e o jogador Dermendjiev, ponta-esquerda da Bulgária, pegou a bola, avançou,
driblou um zagueiro adversário e chutou forte para abrir o placar. Bulgária 1 a
0, e eu tinha narrado, para a televisão, o primeiro gol da Copa do Mundo do
México”. Solera e, depois, Abrahão voltaram, e a transmissão seguiu
normalmente, mas o pioneirismo coubera a Léo Batista.
O anúncio da transmissão do pool de Globo,
Tupi e Emissoras Independentes (Record e Bandeirantes) para a final da Copa de
1970 (Reprodução de jornal/Thiago Uberreich)
As vozes do tri se eternizam
Só nos jogos do Brasil, porém, é que a
emoção realmente aflorava. Se foi impedido de narrar o primeiro gol da Copa
pelo azar, Fernando Solera foi duplamente compensado. Escalado para ficar junto
a Leônidas da Silva (da Record, sempre bom lembrar) no primeiro tempo da
estreia brasileira, contra a Tchecoslováquia, era do narrador paulistano a voz
do 1 a 1 que Rivellino fez, de falta. Como não narrava só para a Bandeirantes,
Solera usou o protocolar grito de gol ao invés do bordão que tinha para as
bolas na rede dos jogos que narrava no canal: “O melhor futebol do mundo no
13!”. E como se não bastasse, Solera ainda fez junto a Leônidas da Silva
simplesmente os 45 minutos finais da decisão contra a Itália. Ou seja: foi o
arauto dos três gols que fecharam a histórica campanha do terceiro título
mundial. A Bandeirantes não deixou passar: festejou a sorte de seu narrador,
num anúncio em jornais após a Copa.
Se Solera teve sorte, Walter Abrahão
veiculou todas as emoções que pôde em suas transmissões. O sorteio rendeu ao
paulistano, em sua terceira Copa pela Tupi, a possibilidade de narrar momentos
importantes daquela campanha, como o gol de Jairzinho que rendeu o 1 a 0
brasileiro contra a Inglaterra e os dois gols no segundo tempo da semifinal
contra o Uruguai. No terceiro, de Rivellino, já aos 44 minutos do segundo
tempo, Abrahão resumiu o alívio: “O terceiro gol do Brasil! Brasil no Azteca!”.
De quebra, ainda coube a ele entrevistar jogadores como Clodoaldo e Gérson, na
véspera da final, após o reconhecimento do gramado do estádio que sediou o 4 a
1 na Itália.
Mas em matéria de emoção, dos quatro
narradores brasileiros a terem narrado a Copa no México – pela Tupi, Oduvaldo
Cozzi narrou lances como o primeiro gol brasileiro na final, além dos
mencionados Solera e Abrahão -, o mais conhecido talvez seja Geraldo José de
Almeida (1919-1976). Já com larga experiência no rádio, o paulistano fora para
a TV Excelsior em 1964. De lá, no fim da década de 1960, “Gera” (como era
conhecido) foi para a Globo. E esbanjava confiança na seleção. Primeiro, fora
de campo – em entrevista a Flávio Prado, no ano passado, Fernando Solera
comentou: dividindo quarto com Geraldo no hotel em que a equipe do pool se
hospedava, testemunhou o impacto que a progressão da campanha da Seleção
causava no narrador global. “Ele chegava dos jogos, ia ao frigobar, tirava uma
cerveja, saía com ela para lá e para cá dentro do quarto, e dizia: ‘Sola, Sola…
esse Brasil me mata!’. Ia para fora e gritava: ‘Brasil, Brasil!'”.
Dentro de campo, a emoção de Geraldo
José de Almeida era clara nas várias expressões usadas durante as narrações.
Para citar Pelé, Almeida se valia de uma criação do colega Walter Abrahão:
falava simplesmente “ele”, ao invés do apelido de Edison Arantes do Nascimento.
Criava expressões para quase todos os jogadores brasileiros – Tostão era o
“Mineirinho de Ouro”, e Gérson, “o Monstro de Guadalajara”. Ao ver um bom passe
numa jogada, se impressionava: “Que bola-bola!”. Ao lamentar gols sofridos e
más sortes brasileiras em campo, perguntava: “Que que é isso, minha gente?!”.
Numa bola perto do gol, dizia que ela passara “por pouco, muito pouco, pouco
mesmo”. Mas na hora de narrar o gol, não poupava a voz para pedir aos
telespectadores: “Olha lá, olha lá, olha lá no placar!”. Fez muito isso na Copa
– por exemplo, no segundo tempo da estreia contra a Tchescoslováquia, ou nos 45
minutos finais contra o Peru (quartas de final), ou no primeiro tempo da
semifinal contra o Uruguai, como se pode ver abaixo. Por isso, para muitos,
Geraldo José de Almeida virou a “voz do tri” – legado lembrado até hoje, e que
teve representante familiar: Luiz Alfredo, seu filho e também narrador de tevê,
que voltará a ser citado daqui a alguns textos.
Mas talvez quem melhor tenha
expressado o que o Brasil sentiu, ao acompanhar a progressão brasileira até o
título, foi João Saldanha, o comentarista da Globo. E não foi na tevê, não: foi
num jornal. Ao escrever a coluna sobre o Brasil 4×1 Itália, publicada no
“Última Hora” do dia seguinte à final, o técnico que acompanhara o início
daquele trabalho histórico reconheceu: “Confesso que estou emocionado”. Quem
havia assistido àquele momento histórico – a primeira Copa do Mundo exibida ao
vivo para o Brasil – também estava. Mesmo que todas as imagens abaixo tenham
sido vistas em preto e branco pela maioria da população brasileira.
Na próxima parte: em 1974, com algumas
transmissões próprias, aparecem na cobertura televisiva brasileira da Copa dois
personagens que seriam muito conhecidos
Referências
http://dspa.com.br/wp-content/uploads/2017/11/Copa-do-mundo-poster-mexico-1970-293x300.jpg
http://travinha.com.br/wp-content/uploads/2014/05/copa1970_01.jpg
http://travinha.com.br/wp-content/uploads/2014/05/copa1970_01.jpg
https://seuhistory.com/hoje-na-historia/brasil-conquista-o-tricampeonato-mundial-de-futebol-no-mexico
http://travinha.com.br/2014/05/27/curiosidades-da-copa-1970-mexico-e-o-tri-do-brasil/
https://youtu.be/0ypgyvU-TDU
https://www.youtube.com/watch?v=0ypgyvU-TDU
https://youtu.be/PYJ-3fqNW38
https://www.youtube.com/watch?v=PYJ-3fqNW38
https://youtu.be/I7MjtcDTdAY
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https://o.aolcdn.com/images/dims?crop=821%2C543%2C0%2C0&quality=85&format=jpg&resize=630%2C417&image_uri=https%3A%2F%2Fs.yimg.com%2Fos%2Fcreatr-uploaded-images%2F2018-12%2F5a4a9760-ff29-11e8-b7f9-3ff413f6a34f&client=a1acac3e1b3290917d92&signature=dfaf3b780be54ced89fac183d8619366dfe87758
https://www.huffingtonpost.com.mx/adriana-vera-orozco/roma-no-importa-lo-que-te-digan-siempre-estamos-solas_a_23617457/
https://youtu.be/vlkXPTiEsUk
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https://www.letras.mus.br/nelson-ned/1816219/
https://trivela.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Webp.net-resizeimage-1.jpg
https://youtu.be/HxXJvGDDPP8
https://youtu.be/xbUenomd6ic
https://trivela.com.br/wp-content/uploads/2018/06/CHAMADA-PERU-BULGARIA-768x493.jpg
https://trivela.com.br/wp-content/uploads/2018/06/CHAMADA-BRASIL-ITALIA-768x479.jpg
https://youtu.be/CUBi1ZGK2a0
https://youtu.be/BfwtHoA2y0I
https://youtu.be/j2j5hpk-LaU
https://trivela.com.br/copa-na-televisao-brasileira-1970/
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