‘Que me perdoem os políticos, mas caixa dois é trapaça’
'Não poder haver um endurecimento geral do sistema, o sistema carcerário não comporta', diz Moro
'Não poder haver um endurecimento geral do sistema, o sistema carcerário não comporta', diz Moro
Ministro da
Justiça participou de almoço do Instituto dos Advogados de São Paulo e afirmou
que está aberto ao diálogo e que sugestões e críticas ao seu pacote
anticorrupção e antiviolência podem ser levadas em consideração.
Por Tatiana Santiago, G1 SP
07/02/2019
15h15 Atualizado há 26 minutos
Moro participa de almoço promovido pelo Instituto
dos Advogados de São Paulo (Iasp) — Foto: Tatiana Santiago/G1
O ministro da
Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, afirmou nesta quinta-feira (7) que o
endurecimento do sistema penitenciário tem de ser seletivo, porque as cadeias
não seriam capazes de absorver uma quantidade maior de presos. A declaração,
feita durante uma palestra em São Paulo, foi dada três dias depois de o ministro apresentar um pacote
anticrime.
"Não poder
haver um endurecimento geral do sistema, o sistema carcerário não comporta, mas
mais é necessário um endurecimento em relação à criminalidade grave",
afirmou Moro.
"Nós sabemos
que nossos presídios estão superlotados, nós sabemos que isso é um problema.
Então esse endurecimento tem que ser um endurecimento seletivo."
O ministro
participou de almoço e reunião promovidos pelo Instituto dos Advogados de São
Paulo (Iasp) em hotel na Zona Sul de São Paulo.
Na segunda-feira
(4), em Brasília, ele havia apresentado um projeto anticorrupção e
antiviolência que prevê alterações em 14 leis. O objetivo é ter mais
efetividade no combate a três frentes principais:
·
corrupção;
·
crime organizado;
·
e crimes violentos.
O ministro disse
que a corrupção, o crime violento e o crime organizado estão relacionados. Moro
mencionou os ataques das facções criminosas no Ceará e afirmou que é preciso
combatê-las. "Se o estado brasileiro não reagir de uma maneira incisiva
contra essas organizações elas ficarão mais poderosas e cada vez mais
audazes", declarou.
O pacote, que
dentre outros pontos prevê a criminalização do caixa 2, prisão após condenação
em segunda instância como regra no processo penal e punições mais rigorosas,
tem de ser aprovado por deputados e senadores para entrar em vigor.
Sistema
carcerário
Na palestra desta
quinta em São Paulo, Moro ressaltou a ineficiência do Estado na manutenção do
sistema carcerário. "A situação nos nossos presídios demanda mais
investimentos e investimentos mais eficientes", disse.
Questionado se está
disposto a conversar ou recuar em algum ponto do pacote, Moro declarou estar
aberto ao diálogo.
"O espaço de
democracia liberal é o espaço da tolerância e do debate. Estamos apresentando o
projeto, estamos esperando o presidente se restabelecer de saúde para
apresentar esse projeto ao Congresso. E a todo momento estamos abertos ao
diálogo. [...] Há sugestões e críticas que podem ser levadas em consideração",
afirmou.
Sobre a declaração
do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a respeito ddo
fato de a Reforma da Previdência ser prioridade do governo Bolsonaro, Moro
disse que seu pacote anticorrupção e antiviolência não "contamina".
"Acho que a
prioridade do governo é a Reforma da Previdência, porque existe uma crise
fiscal", respondeu, citando que isso precisa ser "debelado".
"Mas, como o próprio presidente disse, as duas questões podem ser tratadas
em paralelo. Ao meu ver, uma não prejudica a outra."
O ministro citou
também o "empenho do governo do presidente Bolsonaro em enfrentar essas
duas questões". Para ele, trata-se "das duas principais questões que
afligem a população brasileira".
"Existe um
problema fiscal, que afeta a qualidade dos serviços públicos, que os recursos
começam a faltar. E por outro lado, a questão da segurança pública e da própria
corrupção. Então, essas questões podem ser enfrentadas em conjunto como bem
colocou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia."
Sistema
Falido
Durante seu
discurso, Moro lamentou que um julgamento composto por um júri leve mais de dez
anos para ser realizado e mencionou que, muitas vezes, os jurados podem se
sentir ameaçados pelos réus.
“O sistema não está
funcionando e o sistema não está aí para servir juízes, advogados, advogadas,
promotores ou mesmo o ministro da Justiça. Está aí para servir o cidadão e nós
temos que reconhecer a falência desse nosso modelo que não permite o julgamento
de um homicídio ocorra em um prazo mais razoável”.
No pacote
anticrime, ele propõe que a decisão tomada pelo tribunal do júri seja
imediatamente executada.
“Os criminosos mais
poderosos são aqueles que conseguem escapar da Justiça, que conseguem manipular
o sistema judicial”, diz o ministro.
Morro disse que é
preciso reconhecer a falência do governo que não permite que o julgamento de um
homicídio seja em um prazo razoável. “É necessário retirar homicidas,
feminicidas de circulação. Por mais que a corrupção seja grave, por mais que
organizações criminosas sejam perigosas, ainda são o homicídio e o feminicídio
os crimes mais graves, privar alguém da sua vida”, ressaltou ele.
Moro participa de almoço promovida pelo Instituto
dos Advogados de São Paulo (Iasp) — Foto: Tatiana Santiago/G1
Entenda o
pacote anticrime
Na apresentação do
projeto, Moro disse que os três eixos centrais da proposta (corrupção, crime
organizado e delitos violentos) devem ser tratados no mesmo pacote porque
"os três problemas estão estão vinculados; não adianta tratar de um sem
tratar dos demais".
"O crime
organizado utiliza a corrupção para ganhar impunidade. Por outro lado, o crime
organizado está vinculado a boa parte dos homicídios do país", disse Moro.
"Um grande porcentual de homicídios está vinculado às disputas do tráfico
e às dívidas do tráfico, usuários que não conseguem pagar a sua dependência
acabam sendo cobrados por essas organizações."
Moro ainda afirmou:
"O crime contra a administração pública, como a corrupção, esvazia os
cofres públicos, diminui os recursos disponíveis para que o Estado, a União
Federal possam adotar políticas mais eficientes contra a criminalidade
organizada, contra a criminalidade violenta".
Entre os itens de
destaque do texto, estão criminalização do caixa 2, prisão após condenação em
segunda instância como regra no processo penal e punições mais rigorosas.
Veja
principais pontos do pacote anticrime:
Moro apresenta projeto de lei anticrime para
governadores
Jornal GloboNews
edição das 10h
--:--/--:--
Moro apresenta projeto de lei anticrime para
governadores
·
Caixa 2: pelo projeto,
será crime arrecadar, manter, movimentar ou utilizar valores que não tenham
sido declarados à Justiça Eleitoral. Essa prática é comumente chamada de “caixa
dois”.
·
Prisão após segunda instância: o
texto determina que a prisão após condenação em segunda instância seja a regra
no processo penal. Isso já acontece por entendimento do Supremo Tribunal
Federal (STF), mas passaria a constar da lei. O projeto acrescenta um artigo ao
Código de Processo Penal em que estabelece que um tribunal, ao proferir acórdão
condenatório, "determinará a execução provisória das penas privativas de
liberdade". Pela proposta, o tribunal poderá "excepcionalmente"
não determinar a execução provisória da pena se houver uma "questão
constitucional relevante" no caso específico.
·
Crimes contra a administração pública: a
proposta estabelece o regime fechado para início de cumprimento de pena para os
condenados para os crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e peculato.
Pela legislação hoje em vigor, o regime fechado só é aplicado para condenações
acima de 8 anos.
·
Crime com arma de fogo: o texto
também prevê início de cumprimento da pena em regime fechado para todos os
condenados por crimes em que se utilizam armas de fogo.
·
Crime hediondo com morte: em
caso de crimes hediondos em que houver morte, o condenado só poderá progredir
de regime (do fechado para o semiaberto, por exemplo) após cumprir três quintos
da pena. Hoje, esse período é de dois quintos da pena.
·
Confisco de bens: uma pessoa
condenada a mais de seis anos de prisão poderá ter bens confiscados de acordo
com a diferença entre aquilo que ela possui e a quantia compatível com seus
rendimentos lícitos. Em caso de confisco, obras de arte poderão ser enviadas a
museus.
·
Combate às organizações criminosas: o projeto
altera a Lei nº 12.850/2013, que define organização criminosa. A proposta
amplia o conceito e estabelece novas regras sobre prisão de líderes e
integrantes. O texto inclui na lei a previsão de que condenados por organização
criminosa sejam encontrados com armas iniciar o cumprimento da pena em
presídios de segurança máxima. O texto também prevê que os condenados não terão
direito a progressão de regime. Além disso, a proposta amplia de um para três
anos o prazo de permanência de líderes de organizações criminosas em presídios
federais.
·
Pagamento de multa: o
projeto estabelece, entre outras mudanças do Código Penal, que a multa imposta a
um condenado deve ser paga dez dias depois de iniciada a execução definitiva ou
provisória da pena.
·
Arma de fogo: o texto
aumenta em metade da pena a condenação para guardas municipais, praticantes de
atividades desportivas ligadas a tiro e agentes de segurança que tiverem
condenações anteriores e cometerem crimes como: tráfico de arma de fogo e porte
ilegal de arma de fogo.
·
Tribunal do júri: a proposta
prevê alteração no Código de Processo Penal para que decisão de Tribunal do
Júri seja cumprida imediatamente. Isso vale, especialmente, para assassinatos.
·
Legítima defesa: O projeto
prevê que, no julgamento de crimes em legítima defesa, "o juiz poderá
reduzir a pena até a metade ou deixar de aplicá-la se o excesso decorrer de
escusável medo, surpresa ou violenta emoção". O caso só será julgado se
houver excesso – por exemplo, número muito alto de tiros. Já no caso de
policiais em serviço, a proposta deixa mais clara quais situações podem ser
consideradas ações de defesa. O texto permite livrar de penas o agente policial
ou o agente de segurança pública que matar alguém em serviço em situação de
"conflito armado ou em risco iminente de conflito armado" e para
prevenir "injusta e iminente agressão a direito seu ou de outrem"
agressão ou risco de agressão a reféns. Ou o agente que "previne agressão
ou risco de agressão à vítima mantida refém durante a prática de crimes".
A lei atual define legítima defesa como a situação em que o policial,
"usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual
ou iminente, a direito seu ou de outrem". Na prática, não responderiam a
processo criminal policiais em serviço que matarem alguém em razão de confronto
ou pessoas comuns que apresentarem provas de que a morte ocorreu em legítima
defesa.
·
Plea bargain: o pacote
incluiu a "plea bargain", termo em inglês que se refere à confissão
de crimes por parte do acusado. Não se trata de delação premiada, na qual o
acusado deve apontar os demais coautores do crime. Moro explicou: "Acordo
de colaboração (...) foi amplamente utilizado na Lava Jato: é um criminoso que
resolve trair os seus pares, colaborar, entregando crimes de terceiros, além do
dele mesmo, e por isso recebe os benefícios. E o plea bargain – ele [acusado]
confessa, admite e negocia a pena (...). A ideia é diminuir os custos do
processo judicial, a velocidade e tramitação do processo para aqueles casos nos
quais haja confissão circunstanciada se possa resolver casos sem o julgamento
custoso".
·
Perfil genético: a proposta
altera a Lei de Execução Penal e de a lei que estabeleceu o Banco Nacional de
Perfil Genético. O texto define que condenados por crimes dolosos (com
intenção) serão submetidos à identificação do perfil genético, por extração do
DNA, na chegada à unidade prisional. Os condenados por crimes dolosos que não
tiverem sido submetidos à identificação do perfil genético na chegada ao
estabelecimento prisional deverão ser submetidos ao procedimento durante o
cumprimento da pena. Uma das mudanças diz respeito ao tempo que as informações
ficarão guardadas. De acordo com o texto, a exclusão dos perfis genéticos dos
bancos de dados ocorrerá no caso de absolvição do acusado ou, mediante
requerimento, decorridos 20 anos do cumprimento da pena no caso do condenado.
Antes, os dados eram excluídos do banco de acordo com o prazo de prescrição do
crime estabelecido em lei.
Moro: ‘Que me perdoem os políticos, mas caixa dois é trapaça’
Brasil 07.02.19
18:23
No seu encontro com advogados em São Paulo, Sergio Moro
abordou explicitamente os trechos de seu pacote anticrime que tratam do caixa
dois.
“Que me perdoem os políticos, mas caixa dois é trapaça. Tudo bem, não é
tão grave como a corrupção, que tem contrapartida, mas ainda assim tem que ser
criminalizado”, declarou o ministro da Justiça, acrescentando que a corrupção
“mina a capacidade de investimento do Estado”.
Resta saber se Onyx Lorenzoni –que
confessou ter recebido R$ 100 mil da J&F, via caixa dois, para sua
campanha de 2014– perdoará o colega de ministério.
Referências
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https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/02/07/endurecimento-contra-o-sistema-carcerario-tem-que-ser-seletivo-diz-moro.ghtml
https://www.oantagonista.com/brasil/moro-que-perdoem-os-politicos-mas-caixa-dois-e-trapaca/
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