Dois pensadores, dois economistas, dois engenheiros, dois septuagenários em 2016 no Brasil
Do Pernambuco de Frei Caneca,
Bandeira, e Gregório Bezerra
Do Rio, de Dom Eugênio, Machado e Geraldão
“Nem
o passado é previsível”
Pedro
Malan (ex-ministro da Fazenda)
“De olhos fechados. E com medo de abri-los”
Cristóvam
Buarque (ex-ministro da Educação)
Citando Pessoa
Ter
opiniões é a melhor prova da incapacidade de as ter. * Uma opinião é uma
grosseria, mesmo quando não é sincera. * Toda a sinceridade é uma intolerância.
Não há liberais sinceros. De resto, não há liberais. * A tolerância é falha da
falta de fé. Crer é não distinguir. * A elegância da descrença Fernando Pessoa
Pessoa Citado
O
que há de bom ou mau em qualquer crença, qualquer, é o modo como se crê.
O bem ou o mal estão no psiquismo do crente, não na crença. Fernando Pessoa
Em
seguida afastou-se até o pedestal da estátua de Fernando Pessoa, próxima ao
café. Antonio Vital
Daniel Carvalho
12
Setembro 2016 | 05h30
ENTREVISTA
CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR (PPS-DF)
Voto
pró-impeachment que frustrou Dilma Rousseff, o senador Cristovam Buarque
(PPS-DF) diz não se considerar um traidor. “Quem traiu foi o PT”, diz o
senador. Também faz críticas a Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro.
“O Lula era o cara pra ter quebrado esse corporativismo do Brasil. Não fez
porque ficou mesquinho, não foi estadista. Caiu na tolerância da corrupção. Se
perdeu”, afirmou. Alvo de protestos de grupos contrários ao presidente Michel
Temer, defende as polêmicas reformas. “A esquerda parou no tempo”, disse
Buarque.
Esquerda no Brasil
A esquerda arcaica que está aí não respeita a aritmética, perdeu qualquer vigor transformador. Está corrompida pelo simples assistencialismo como forma de realização, caiu na corrupção de fato. Parou no tempo.
Economia
A esquerda tem de parar com essa mania de moldar a economia conforme sua vontade. Não consegue. A economia tem vontade própria hoje, que vem de fora.
A esquerda tem de parar com essa mania de moldar a economia conforme sua vontade. Não consegue. A economia tem vontade própria hoje, que vem de fora.
Reformas
As leis trabalhistas foram feitas em um tempo em que não havia máquina de escrever elétrica. A reforma da Previdência foi feita quando a esperança de vida era de 60 e poucos anos e a taxa de natalidade era de quatro filhos.
PPPs
Esse caminho das parcerias público-privadas é perfeitamente bom. Lamento que Lula não tenha tido essa sensibilidade por estar prisioneiro de uma esquerda antiga. Já devíamos ter feito isso há mais tempo.
Esse caminho das parcerias público-privadas é perfeitamente bom. Lamento que Lula não tenha tido essa sensibilidade por estar prisioneiro de uma esquerda antiga. Já devíamos ter feito isso há mais tempo.
Teto para educação
Podemos aumentar para educação se tirar de algum lugar, mas não dá pra aumentar na educação sem tirar de algum lugar. A proposta do Temer tem essa flexibilização. Ele não congelou cada rubrica.
Podemos aumentar para educação se tirar de algum lugar, mas não dá pra aumentar na educação sem tirar de algum lugar. A proposta do Temer tem essa flexibilização. Ele não congelou cada rubrica.
2018
Hoje, não cogito ser candidato a nada, não estou agindo para isso. Agora, não descarto ser candidato, inclusive a presidente, se meu partido quiser e se as circunstâncias levarem a isso.
Hoje, não cogito ser candidato a nada, não estou agindo para isso. Agora, não descarto ser candidato, inclusive a presidente, se meu partido quiser e se as circunstâncias levarem a isso.
Impeachment
Toda a minha base, minhas amizades, eram contra o impeachment, porque são da esquerda arcaica. Eu Votei para não cassar os direitos da presidente Dilma Rousseff, porque eu defendo que tem de cassar o seu mandato. Os direitos (políticos), o eleitor é quem cassa.
Toda a minha base, minhas amizades, eram contra o impeachment, porque são da esquerda arcaica. Eu Votei para não cassar os direitos da presidente Dilma Rousseff, porque eu defendo que tem de cassar o seu mandato. Os direitos (políticos), o eleitor é quem cassa.
Dilma
O conjunto da obra da Dilma deixou esse país estraçalhado na economia. A volta dela seria terrível para o Brasil. E ela cometeu crimes, que não foram de grande gravidade, mas cometeu.
O conjunto da obra da Dilma deixou esse país estraçalhado na economia. A volta dela seria terrível para o Brasil. E ela cometeu crimes, que não foram de grande gravidade, mas cometeu.
Traição
Não me considero traidor. Acho que o PT traiu no governo. Cometeram desonestidades. O governo foi picareta com a Petrobrás, fundos de pensão. As leis em geral foram traídas. Quem traiu foi o PT. A esquerda arcaica traiu o Brasil porque ficou arcaica e traiu o conceito de esquerda.
Não me considero traidor. Acho que o PT traiu no governo. Cometeram desonestidades. O governo foi picareta com a Petrobrás, fundos de pensão. As leis em geral foram traídas. Quem traiu foi o PT. A esquerda arcaica traiu o Brasil porque ficou arcaica e traiu o conceito de esquerda.
Lula
O Lula era o cara para ter quebrado esse corporativismo do Brasil. Ele tinha carisma, credibilidade, respeito, amor do Brasil por ele. Não fez porque ficou mesquinho, não foi estadista.
O Lula era o cara para ter quebrado esse corporativismo do Brasil. Ele tinha carisma, credibilidade, respeito, amor do Brasil por ele. Não fez porque ficou mesquinho, não foi estadista.
Desprestígio
Essa chance acabou, não só pelo desprestígio do Lula hoje, mas também pela descaracterização dele. Ele ficou preso no corporativismo e no imediatismo. A partir daí é que ele caiu na tolerância da corrupção. Se perdeu. Perde-se quem quer ficar com todo mundo.
Essa chance acabou, não só pelo desprestígio do Lula hoje, mas também pela descaracterização dele. Ele ficou preso no corporativismo e no imediatismo. A partir daí é que ele caiu na tolerância da corrupção. Se perdeu. Perde-se quem quer ficar com todo mundo.
Mendonça Filho
Acho muito cedo pra avaliar o ministro da Educação, mas acho que ele tem um passado que permite a gente ter esperança.
Acho muito cedo pra avaliar o ministro da Educação, mas acho que ele tem um passado que permite a gente ter esperança.
Temer
Tenho esperança que faça três coisas: retomar o diálogo e fazer com que o Senado não seja nem hospício, nem estádio de futebol, inclusive com PT e Lula, mesmo que não queiram; reequilibrar as contas com medidas impopulares hoje, mas necessárias para o futuro; e dar credibilidade para o setor privado gerar emprego e crescimento.
Tenho esperança que faça três coisas: retomar o diálogo e fazer com que o Senado não seja nem hospício, nem estádio de futebol, inclusive com PT e Lula, mesmo que não queiram; reequilibrar as contas com medidas impopulares hoje, mas necessárias para o futuro; e dar credibilidade para o setor privado gerar emprego e crescimento.
Governista ou oposição?
Não sou nem governista, nem oposição. Quero sair desse futebol.
Não sou nem governista, nem oposição. Quero sair desse futebol.
ENTREVISTA A DANIEL CARVALHO
Ilustração:
Kleber Sales
Traição embaçada e embaraçada
Frases de Cristovam
Parou
no tempo.
A
economia tem vontade própria hoje, que vem de fora.
As
leis trabalhistas foram feitas em um tempo em que não havia máquina de escrever
elétrica.
Já
devíamos ter feito isso há mais tempo.
Os
direitos (políticos), o eleitor é quem cassa.
Traição
Não me considero traidor.
Não me considero traidor.
Acho
que o PT traiu no governo.
Cometeram
desonestidades.
O
governo foi picareta com a Petrobrás, fundos de pensão.
As
leis em geral foram traídas.
Quem
traiu foi o PT.
A
esquerda arcaica traiu o Brasil porque ficou arcaica e traiu o conceito de
esquerda.
Lula
O Lula era o cara para ter quebrado esse corporativismo do Brasil.
O Lula era o cara para ter quebrado esse corporativismo do Brasil.
Ele
tinha carisma, credibilidade, respeito, amor do Brasil por ele.
Não
fez porque ficou mesquinho, não foi estadista.
Desprestígio
Essa chance acabou, não só pelo desprestígio do Lula hoje, mas também pela descaracterização dele.
Essa chance acabou, não só pelo desprestígio do Lula hoje, mas também pela descaracterização dele.
Ele
ficou preso no corporativismo e no imediatismo.
A
partir daí é que ele caiu na tolerância da corrupção.
Se
perdeu.
Perde-se
quem quer ficar com todo mundo.
Mendonça
Filho
Acho muito cedo pra avaliar o ministro da Educação, mas acho que ele tem um passado que permite a gente ter esperança.
Acho muito cedo pra avaliar o ministro da Educação, mas acho que ele tem um passado que permite a gente ter esperança.
Temer
Tenho esperança que faça três coisas: retomar o diálogo e fazer com que o Senado não seja nem hospício, nem estádio de futebol, inclusive com PT e Lula, mesmo que não queiram; reequilibrar as contas com medidas impopulares hoje, mas necessárias para o futuro; e dar credibilidade para o setor privado gerar emprego e crescimento.
Tenho esperança que faça três coisas: retomar o diálogo e fazer com que o Senado não seja nem hospício, nem estádio de futebol, inclusive com PT e Lula, mesmo que não queiram; reequilibrar as contas com medidas impopulares hoje, mas necessárias para o futuro; e dar credibilidade para o setor privado gerar emprego e crescimento.
Governista
ou oposição?
Não sou nem governista, nem oposição.
Não sou nem governista, nem oposição.
Quero
sair desse futebol.
Glossário Buarqueano
Esquerda
arcaica
Vigor
transformador
Corrupção
de fato
Congelou
cada rubrica
Candidato
a nada
Traidor
Corporativismo
Mesquinho
Estadista
Desprestígio
Descaracterização
Corporativismo
Imediatismo
Tolerância
Esperança
Diálogo
Credibilidade
Governista
Oposição
O
século 20 destruiu religiões seculares que prometiam, para seus seguidores, a
salvação aqui na Terra: fascismo, stalinismo, nazismo, maoismo e outros “ismos”
que viraram “wasms” (o “já era” da gíria carioca). Restaram duas grandes formas
de acreditar: religiões tradicionais que prometem a seus fiéis a salvação na
vida eterna, após a morte, e nacionalismos variados, inclusive em suas
manifestações mais preocupantes, como o nacional-populismo e o
nacional-estatismo, que com frequência andam juntos, e que ainda prometem a
salvação terrena para os seus seguidores, beneficiários e demais crentes.
Pedro
Malan
11
Setembro 2016 | 06h00
Crenças
são o que são, matérias de fé ou paixões da imaginação, que correspondem, com
frequência, a emotivas necessidades humanas. Há diferentes graus do acreditar,
mas como bem notou Fernando Pessoa, “o que há de bom ou mau em qualquer crença,
qualquer, é o modo como se crê. O bem ou o mal estão no psiquismo do crente,
não na crença em si”. Em outras palavras, o mau de uma crença e o mal que esta
pode causar estão naqueles que utilizam a força do acreditar como critério de
verdade. Pior, quando creem que “sua verdade” poderia, pela força da repetição,
prevalecer sobre mentes e corações de incrédulos ou portadores de outras
crenças. E pior ainda, quando creem que as instrumentalidades do poder do
Estado devem ser utilizadas para tal propósito. Não costuma dar certo.
A
experiência brasileira pós-2006 é sugestiva a esse respeito. O ilustre
ex-ministro Nelson Barbosa deu significativa contribuição a este necessário
debate em artigo publicado (em inglês) em 2010 sobre políticas contracíclicas
no Brasil. Ali se lê: “Em 2006 (ênfase minha), o governo Lula decidiu por papel
mais ativo do Estado na promoção do desenvolvimento econômico e na redução da
desigualdade”. Após apresentar avaliação das realizações alcançadas entre a
decisão de 2006 até a data em que o artigo foi escrito (fins de 2009, início de
2010) o autor apresenta “as quatro principais lições da experiência
brasileira”.
A
primeira das lições: “Para se engajar em políticas anticíclicas, o país precisa
ter uma situação fiscal estável e reservas internacionais em nível
confortável”. A segunda lição: “As ações governamentais são facilitadas pela
existência de mecanismos de proteção social e dos tradicionais instrumentos do
Estado desenvolvimentista, como bancos públicos, empresas estatais, política
industrial (desonerações e incentivos financeiros) e investimento público”. A
terceira lição: “A importância da regulação prudencial para prevenir crises e
combater seus efeitos”.
Finalmente,
a quarta lição tem que ver com o que o autor chama “a economia política da
governança sob Lula”, e que assim define: “As autoridades governamentais não
perderam muito tempo debatendo as implicações ideológicas de cada iniciativa de
política. Em vez de se preocupar com estratégias de saída de determinadas
políticas enquanto a crise se desenvolvia, as autoridades enfatizaram a
necessidade de rápida e maciça ação do Governo, para evitar que a economia
entrasse em uma espiral descendente de recessão e deflação (sic)”.
Uma
discussão atualizada, para 2016, do status das “lições de 2010” é importante
para o entendimento de duas perguntas-chave para o futuro: onde estamos e por que
estamos onde estamos? E com base nesse necessário entendimento, discutir as
ações do governo visando o futuro, sem as ilusões voluntaristas que marcaram o
período Lula II e, particularmente, da “economia política da governança sob
Dilma” a partir do segundo semestre de 2011, culminando no desastre dos anos
recentes.
Em
entrevista à revista Veja (7/9) a senadora Kátia Abreu, ex-ministra de Dilma e
amiga próxima, afirma: “Em 2014 ela cometeu o erro de demorar a perceber que
aquele modelo... de aquecer a economia via Estado não funcionava mais... (Ela)
pode não dizer com todas as letras e da forma como as pessoas gostariam que ela
dissesse, mas ela reconhece isso”.
Pois
bem, a ex-presidente terá tempo agora para refletir mais sobre essa experiência
e, talvez, se dar conta da importância, para as finanças públicas, e para a
retomada do crescimento do Brasil a partir de agora, de algo que ela intuiu, e
chegou a expressar, mas tarde demais para quem esteve na posição de chefe da
Casa Civil por mais de cinco anos e na Presidência por outros mais de cinco
anos.
Disse
a presidente em entrevista (7/11/2014), poucos dias após a reeleição: “Ao longo
do governo, você descobre que várias coisas estão desajustadas. Várias contas
que podem ser reduzidas. O que vamos tentar é um processo de ajuste em todas as
contas do governo. Vamos revisitar cada uma e olhar com lupa o que dá para
reduzir, o que dá para tirar, o que dá para modificar e o que dá para mandar
para o Congresso”. Pois bem, isso terá de ser feito por outros. O lulopetismo,
apesar dos 13 anos e pouco, não se ligou muito nesses “problema menores” – nem
nos maiores gastos. Muito antes pelo contrário.
Todos
os jornais registraram com ênfase as palavras de Dilma nessa mesma entrevista,
“vamos fazer o dever de casa”, em termos de combate à inflação e do controle da
velocidade de crescimento do gasto público – que vinha crescendo, havia muitos
e muitos anos, muito acima do crescimento do PIB e da receita. Mas jornais
registraram também as palavras com que Dilma, à sua maneira, mandou seu recado
a jornalistas e leitores: “Estou dizendo que vou manter o emprego e a renda.
Ponham na cabeça isso”.
Os
brasileiros sabem o que lhes aconteceu, e de inédito, nessas duas áreas: o
desemprego deve alcançar 12 milhões de pessoas e a renda real por habitante no
País terá declinado cerca de 9% no triênio 2014-16. Que adjetivo dar a esta
herança que o lulopetismo deixa a seu(s) sucessor(es), que com ela terá(ão) de
lidar, sob uma ferrenha oposição que não reconhece suas indeléveis impressões
digitais nessa mesma herança?
ECONOMISTA,
FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC
Cristovam
sabia o que significava a ligação do presidente. Levantou-se e pediu a Kalil
para fotografar a cena. “Você vai presenciar uma conversa que vai marcar minha
vida”, explicou. Em seguida afastou-se até o pedestal da estátua de Fernando
Pessoa, próxima ao café. “Querido”, começou Lula, usando a expressão que
costumava se dirigir às pessoas próximas.
Antonio
Vital ´É Possível As Realizações do Engenheiro Cristovam Buarque Rumo a Uma Nova
Esquerda Geração Editorial
Pedro Sampaio Malan (Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1943)
é engenheiro e economista, tendo sido professor da PUC-Rio.
Formou-se engenharia elétrica pela Escola politécnica daPontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em
1965, e conquistou um doutorado em economia pela Universidade de
Berkeley.
Cristovam Ricardo Cavalcanti
Buarque GCIH (Recife, 20 de fevereiro de 1944)
é um engenheiro mecânico, economista,educador, professor universitário e político brasileiro filiado aoPPS.
É o criador da Bolsa-Escola, que
foi implantada pela primeira vez em seu governo no Distrito
Federal.
Graduado
em engenharia pela Universidade
Federal de Pernambuco em
1966, envolveu-se na mesma época com a política estudantil,
tendo sido militante da Ação
Popular, um grupo ligado à Igreja Progressista de Esquerda. Após o golpe militar de
1964, devido às perseguições da ditadura, seguiu para um autoexílio naFrança, onde obteve o doutorado em Economia pela Universidade Panthéon-Sorbonne (Paris),
em 1973.[1]
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