terça-feira, 13 de setembro de 2016

Traição embaçada e embaraçada




Dois pensadores, dois economistas, dois engenheiros, dois septuagenários em 2016 no Brasil


Do Pernambuco de Frei Caneca, Bandeira, e Gregório Bezerra


Do Rio, de Dom Eugênio, Machado e Geraldão


“Nem o passado é previsível”
Pedro Malan (ex-ministro da Fazenda)


 “De olhos fechados. E com medo de abri-los”
Cristóvam Buarque (ex-ministro da Educação)


Citando Pessoa


Ter opiniões é a melhor prova da incapacidade de as ter. * Uma opinião é uma grosseria, mesmo quando não é sincera. * Toda a sinceridade é uma intolerância. Não há liberais sinceros. De resto, não há liberais. * A tolerância é falha da falta de fé. Crer é não distinguir. * A elegância da descrença Fernando Pessoa


Pessoa Citado


O que há de bom ou mau em qualquer crença, qualquer, é o modo como se crê. O bem ou o mal estão no psiquismo do crente, não na crença. Fernando Pessoa


Em seguida afastou-se até o pedestal da estátua de Fernando Pessoa, próxima ao café. Antonio Vital









Daniel Carvalho
12 Setembro 2016 | 05h30




ENTREVISTA
CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR (PPS-DF)

Voto pró-impeachment que frustrou Dilma Rousseff, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) diz não se considerar um traidor. “Quem traiu foi o PT”, diz o senador. Também faz críticas a Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro. “O Lula era o cara pra ter quebrado esse corporativismo do Brasil. Não fez porque ficou mesquinho, não foi estadista. Caiu na tolerância da corrupção. Se perdeu”, afirmou. Alvo de protestos de grupos contrários ao presidente Michel Temer, defende as polêmicas reformas. “A esquerda parou no tempo”, disse Buarque.

Esquerda no Brasil

A esquerda arcaica que está aí não respeita a aritmética, perdeu qualquer vigor transformador. Está corrompida pelo simples assistencialismo como forma de realização, caiu na corrupção de fato. Parou no tempo.

Economia
A esquerda tem de parar com essa mania de moldar a economia conforme sua vontade. Não consegue. A economia tem vontade própria hoje, que vem de fora.

Reformas

As leis trabalhistas foram feitas em um tempo em que não havia máquina de escrever elétrica. A reforma da Previdência foi feita quando a esperança de vida era de 60 e poucos anos e a taxa de natalidade era de quatro filhos.

PPPs
Esse caminho das parcerias público-privadas é perfeitamente bom. Lamento que Lula não tenha tido essa sensibilidade por estar prisioneiro de uma esquerda antiga. Já devíamos ter feito isso há mais tempo.

Teto para educação
Podemos aumentar para educação se tirar de algum lugar, mas não dá pra aumentar na educação sem tirar de algum lugar. A proposta do Temer tem essa flexibilização. Ele não congelou cada rubrica.

2018
Hoje, não cogito ser candidato a nada, não estou agindo para isso. Agora, não descarto ser candidato, inclusive a presidente, se meu partido quiser e se as circunstâncias levarem a isso.

Impeachment
Toda a minha base, minhas amizades, eram contra o impeachment, porque são da esquerda arcaica. Eu Votei para não cassar os direitos da presidente Dilma Rousseff, porque eu defendo que tem de cassar o seu mandato. Os direitos (políticos), o eleitor é quem cassa.

Dilma
O conjunto da obra da Dilma deixou esse país estraçalhado na economia. A volta dela seria terrível para o Brasil. E ela cometeu crimes, que não foram de grande gravidade, mas cometeu.

Traição
Não me considero traidor. Acho que o PT traiu no governo. Cometeram desonestidades. O governo foi picareta com a Petrobrás, fundos de pensão. As leis em geral foram traídas. Quem traiu foi o PT. A esquerda arcaica traiu o Brasil porque ficou arcaica e traiu o conceito de esquerda.

Lula
O Lula era o cara para ter quebrado esse corporativismo do Brasil. Ele tinha carisma, credibilidade, respeito, amor do Brasil por ele. Não fez porque ficou mesquinho, não foi estadista.
Desprestígio
Essa chance acabou, não só pelo desprestígio do Lula hoje, mas também pela descaracterização dele. Ele ficou preso no corporativismo e no imediatismo. A partir daí é que ele caiu na tolerância da corrupção. Se perdeu. Perde-se quem quer ficar com todo mundo.

Mendonça Filho
Acho muito cedo pra avaliar o ministro da Educação, mas acho que ele tem um passado que permite a gente ter esperança.

Temer
Tenho esperança que faça três coisas: retomar o diálogo e fazer com que o Senado não seja nem hospício, nem estádio de futebol, inclusive com PT e Lula, mesmo que não queiram; reequilibrar as contas com medidas impopulares hoje, mas necessárias para o futuro; e dar credibilidade para o setor privado gerar emprego e crescimento.

Governista ou oposição?
Não sou nem governista, nem oposição. Quero sair desse futebol.

ENTREVISTA A DANIEL CARVALHO

Ilustração: Kleber Sales





Traição embaçada e embaraçada


Frases de Cristovam


Parou no tempo.


A economia tem vontade própria hoje, que vem de fora.


As leis trabalhistas foram feitas em um tempo em que não havia máquina de escrever elétrica.


Já devíamos ter feito isso há mais tempo.


Os direitos (políticos), o eleitor é quem cassa.


Traição
Não me considero traidor.
Acho que o PT traiu no governo.
Cometeram desonestidades.
O governo foi picareta com a Petrobrás, fundos de pensão.
As leis em geral foram traídas.
Quem traiu foi o PT.
A esquerda arcaica traiu o Brasil porque ficou arcaica e traiu o conceito de esquerda.


Lula
O Lula era o cara para ter quebrado esse corporativismo do Brasil.
Ele tinha carisma, credibilidade, respeito, amor do Brasil por ele.
Não fez porque ficou mesquinho, não foi estadista.


Desprestígio
Essa chance acabou, não só pelo desprestígio do Lula hoje, mas também pela descaracterização dele.
Ele ficou preso no corporativismo e no imediatismo.
A partir daí é que ele caiu na tolerância da corrupção.
Se perdeu.
Perde-se quem quer ficar com todo mundo.


Mendonça Filho
Acho muito cedo pra avaliar o ministro da Educação, mas acho que ele tem um passado que permite a gente ter esperança.



Temer
Tenho esperança que faça três coisas: retomar o diálogo e fazer com que o Senado não seja nem hospício, nem estádio de futebol, inclusive com PT e Lula, mesmo que não queiram; reequilibrar as contas com medidas impopulares hoje, mas necessárias para o futuro; e dar credibilidade para o setor privado gerar emprego e crescimento.



Governista ou oposição?
Não sou nem governista, nem oposição.
Quero sair desse futebol.


Glossário Buarqueano


Esquerda arcaica


Vigor transformador


Corrupção de fato


Congelou cada rubrica


Candidato a nada


Traidor


Corporativismo


Mesquinho


Estadista


Desprestígio


Descaracterização


Corporativismo


Imediatismo


Tolerância


Esperança


Diálogo


Credibilidade


Governista


Oposição



O século 20 destruiu religiões seculares que prometiam, para seus seguidores, a salvação aqui na Terra: fascismo, stalinismo, nazismo, maoismo e outros “ismos” que viraram “wasms” (o “já era” da gíria carioca). Restaram duas grandes formas de acreditar: religiões tradicionais que prometem a seus fiéis a salvação na vida eterna, após a morte, e nacionalismos variados, inclusive em suas manifestações mais preocupantes, como o nacional-populismo e o nacional-estatismo, que com frequência andam juntos, e que ainda prometem a salvação terrena para os seus seguidores, beneficiários e demais crentes.


Pedro Malan
11 Setembro 2016 | 06h00
Crenças são o que são, matérias de fé ou paixões da imaginação, que correspondem, com frequência, a emotivas necessidades humanas. Há diferentes graus do acreditar, mas como bem notou Fernando Pessoa, “o que há de bom ou mau em qualquer crença, qualquer, é o modo como se crê. O bem ou o mal estão no psiquismo do crente, não na crença em si”. Em outras palavras, o mau de uma crença e o mal que esta pode causar estão naqueles que utilizam a força do acreditar como critério de verdade. Pior, quando creem que “sua verdade” poderia, pela força da repetição, prevalecer sobre mentes e corações de incrédulos ou portadores de outras crenças. E pior ainda, quando creem que as instrumentalidades do poder do Estado devem ser utilizadas para tal propósito. Não costuma dar certo.

A experiência brasileira pós-2006 é sugestiva a esse respeito. O ilustre ex-ministro Nelson Barbosa deu significativa contribuição a este necessário debate em artigo publicado (em inglês) em 2010 sobre políticas contracíclicas no Brasil. Ali se lê: “Em 2006 (ênfase minha), o governo Lula decidiu por papel mais ativo do Estado na promoção do desenvolvimento econômico e na redução da desigualdade”. Após apresentar avaliação das realizações alcançadas entre a decisão de 2006 até a data em que o artigo foi escrito (fins de 2009, início de 2010) o autor apresenta “as quatro principais lições da experiência brasileira”.

A primeira das lições: “Para se engajar em políticas anticíclicas, o país precisa ter uma situação fiscal estável e reservas internacionais em nível confortável”. A segunda lição: “As ações governamentais são facilitadas pela existência de mecanismos de proteção social e dos tradicionais instrumentos do Estado desenvolvimentista, como bancos públicos, empresas estatais, política industrial (desonerações e incentivos financeiros) e investimento público”. A terceira lição: “A importância da regulação prudencial para prevenir crises e combater seus efeitos”.

Finalmente, a quarta lição tem que ver com o que o autor chama “a economia política da governança sob Lula”, e que assim define: “As autoridades governamentais não perderam muito tempo debatendo as implicações ideológicas de cada iniciativa de política. Em vez de se preocupar com estratégias de saída de determinadas políticas enquanto a crise se desenvolvia, as autoridades enfatizaram a necessidade de rápida e maciça ação do Governo, para evitar que a economia entrasse em uma espiral descendente de recessão e deflação (sic)”.

Uma discussão atualizada, para 2016, do status das “lições de 2010” é importante para o entendimento de duas perguntas-chave para o futuro: onde estamos e por que estamos onde estamos? E com base nesse necessário entendimento, discutir as ações do governo visando o futuro, sem as ilusões voluntaristas que marcaram o período Lula II e, particularmente, da “economia política da governança sob Dilma” a partir do segundo semestre de 2011, culminando no desastre dos anos recentes.

Em entrevista à revista Veja (7/9) a senadora Kátia Abreu, ex-ministra de Dilma e amiga próxima, afirma: “Em 2014 ela cometeu o erro de demorar a perceber que aquele modelo... de aquecer a economia via Estado não funcionava mais... (Ela) pode não dizer com todas as letras e da forma como as pessoas gostariam que ela dissesse, mas ela reconhece isso”.

Pois bem, a ex-presidente terá tempo agora para refletir mais sobre essa experiência e, talvez, se dar conta da importância, para as finanças públicas, e para a retomada do crescimento do Brasil a partir de agora, de algo que ela intuiu, e chegou a expressar, mas tarde demais para quem esteve na posição de chefe da Casa Civil por mais de cinco anos e na Presidência por outros mais de cinco anos.

Disse a presidente em entrevista (7/11/2014), poucos dias após a reeleição: “Ao longo do governo, você descobre que várias coisas estão desajustadas. Várias contas que podem ser reduzidas. O que vamos tentar é um processo de ajuste em todas as contas do governo. Vamos revisitar cada uma e olhar com lupa o que dá para reduzir, o que dá para tirar, o que dá para modificar e o que dá para mandar para o Congresso”. Pois bem, isso terá de ser feito por outros. O lulopetismo, apesar dos 13 anos e pouco, não se ligou muito nesses “problema menores” – nem nos maiores gastos. Muito antes pelo contrário.

Todos os jornais registraram com ênfase as palavras de Dilma nessa mesma entrevista, “vamos fazer o dever de casa”, em termos de combate à inflação e do controle da velocidade de crescimento do gasto público – que vinha crescendo, havia muitos e muitos anos, muito acima do crescimento do PIB e da receita. Mas jornais registraram também as palavras com que Dilma, à sua maneira, mandou seu recado a jornalistas e leitores: “Estou dizendo que vou manter o emprego e a renda. Ponham na cabeça isso”.

Os brasileiros sabem o que lhes aconteceu, e de inédito, nessas duas áreas: o desemprego deve alcançar 12 milhões de pessoas e a renda real por habitante no País terá declinado cerca de 9% no triênio 2014-16. Que adjetivo dar a esta herança que o lulopetismo deixa a seu(s) sucessor(es), que com ela terá(ão) de lidar, sob uma ferrenha oposição que não reconhece suas indeléveis impressões digitais nessa mesma herança?

ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC





Cristovam sabia o que significava a ligação do presidente. Levantou-se e pediu a Kalil para fotografar a cena. “Você vai presenciar uma conversa que vai marcar minha vida”, explicou. Em seguida afastou-se até o pedestal da estátua de Fernando Pessoa, próxima ao café. “Querido”, começou Lula, usando a expressão que costumava se dirigir às pessoas próximas.

Antonio Vital ´É Possível As Realizações do Engenheiro Cristovam Buarque Rumo a Uma Nova Esquerda Geração Editorial


Pedro Sampaio Malan (Rio de Janeiro19 de fevereiro de 1943) é engenheiro e economista, tendo sido professor da PUC-Rio.



Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque GCIH (Recife20 de fevereiro de 1944) é um engenheiro mecânicoeconomista,educadorprofessor universitário e político brasileiro filiado aoPPS. É o criador da Bolsa-Escola, que foi implantada pela primeira vez em seu governo no Distrito Federal. 
Graduado em engenharia pela Universidade Federal de Pernambuco em 1966, envolveu-se na mesma época com a política estudantil, tendo sido militante da Ação Popular, um grupo ligado à Igreja Progressista de Esquerda. Após o golpe militar de 1964, devido às perseguições da ditadura, seguiu para um autoexílio naFrança, onde obteve o doutorado em Economia pela Universidade Panthéon-Sorbonne (Paris), em 1973.[1]

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