domingo, 15 de outubro de 2023

JOÃOZINHO-SEM-MEDO

Mundo, mundo, vasto mundo ----------- -------------- Poema de Sete Faces Carlos Drummond de Andrade ------------- _________________________________________________________________________________________________________ Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem na sombra Disse: Vai, Carlos, ser gauche na vida _________________________________________________________________________________________________________ ------------- _________________________________________________________________________________________________________ As casas espiam os homens Que correm atrás de mulheres A tarde talvez fosse azul Não houvesse tantos desejos _________________________________________________________________________________________________________ ------------ _________________________________________________________________________________________________________ O bonde passa cheio de pernas Pernas brancas, pretas, amarelas Para que tanta perna, meu Deus? Pergunta meu coração Porém, meus olhos Não perguntam nada _________________________________________________________________________________________________________ -------------- _________________________________________________________________________________________________________ O homem atrás do bigode É sério, simples e forte Quase não conversa Tem poucos, raros amigos O homem atrás dos óculos e do bigode _________________________________________________________________________________________________________ -------------- _________________________________________________________________________________________________________ Meu Deus, por que me abandonaste? Se sabias que eu não era Deus Se sabias que eu era fraco _________________________________________________________________________________________________________ -------------- _________________________________________________________________________________________________________ Mundo, mundo, vasto mundo Se eu me chamasse Raimundo Seria uma rima, não seria uma solução Mundo, mundo, vasto mundo Mais vasto é meu coração _________________________________________________________________________________________________________ ------------- _________________________________________________________________________________________________________ Eu não devia te dizer Mas essa Lua Mas esse conhaque Botam a gente comovido como o diabo _________________________________________________________________________________________________________ ------------- Composição: Carlos Drummond de Andrade. ________________________________________________________________________________________________________________ ------------ -------- ___________________________________________________________________________________________________________ JOGA LOGO _______________________________________________________________________________________________________________ ÍTALO GALVINO JOÃOZINHO-SEM-MEDO Era uma vez um menino chamado Joãozinho-sem-medo, pois não tinha medo de nada. Andando pelo mundo pediu abrigo em uma hospedaria. — Aqui não tem lugar — disse o dono. — Mas, se você não tem medo, posso mandá-lo para um palácio. — Por que eu sentiria medo? — Porque ali todo mundo sente. Ninguém saiu de lá, a não ser morto. De manhã, a Companhia leva o caixão para carregar quem teve a coragem de passar a noite lá. Imaginem Joãozinho! Levou um candeeiro, uma garrafa, uma lingüiça, e lá se foi. À meia-noite, estava comendo sentado à mesa quando ouviu uma voz saindo da chaminé: — Jogo? E Joãozinho respondeu: — Jogue logo! Da chaminé desceu uma perna de homem. Joãozinho bebeu um copo de vinho. Depois a voz tornou a perguntar: — Jogo? E Joãozinho: — Jogue logo! E desceu outra perna de homem. Joãozinho mordeu a lingüiça. De novo: — Jogo? — Jogue logo! E desceu um braço. Joãozinho começou a assobiar. — Jogo? — Jogue logo! Outro braço. — Jogo? — Jogue! E caiu um corpo, que se colou nas pernas e nos braços, ficando em pé um homem sem cabeça. 57 — Jogo? — Jogue! Caiu a cabeça e pulou em cima do corpo. Era um homenzarrão gigantesco, e Joãozinho levantou o copo dizendo: — À saúde! O homenzarrão disse: — Pegue o candeeiro e venha. Joãozinho pegou o candeeiro, mas não se mexeu. — Passe na frente! — disse Joãozinho. — Você! — disse o homem. — Você. — disse Joãozinho. Então, o homem se adiantou e, de sala em sala, atravessou o palácio, com Joãozinho atrás, iluminando o caminho. Embaixo de uma escadaria havia uma portinhola. — Abra! — disse o homem a Joãozinho. E Joãozinho: — Abra você! E o homem abriu com um empurrão. Havia uma escada em caracol. — Desça — disse o homem. — Primeiro você — disse Joãozinho. Desceram a um subterrâneo, e o homem indicou uma laje no chão. — Levante! — Levante você! — disse Joãozinho. E o homem a ergueu como se fosse uma pedrinha. Embaixo da laje havia três tigelas cheias de moedas de ouro. — Leve para cima! — disse o homem. — Leve para cima você! — disse Joãozinho. E o homem levou uma de cada vez para cima. Quando foram de novo para a sala da chaminé, o homem disse: — Joãozinho, quebrou-se o encanto! E arrancou-se uma perna, que saiu esperneando pela chaminé. — Destas tigelas, uma é sua. Arrancou-se um braço, que trepou pela chaminé. — Outra é para a Companhia, que virá buscá-lo pensando que está morto. Arrancou-se também o outro braço, que acompanhou o primeiro. 58 — A terceira é para o primeiro pobre que passar. Arrancou-se outra perna e ele ficou sentado no chão. — Pode ficar com o palácio também. Arrancou-se o corpo e ficou só a cabeça no chão. — Porque se perdeu para sempre a estirpe dos proprietários deste palácio. E a cabeça se ergueu e subiu pelo buraco da chaminé. Assim que o céu clareou, ouviu-se um canto: — Miserere mei, miserere mei. Era a Companhia com o caixão, que vinha recolher Joãozinho morto. E o viram na janela, fumando cachimbo. Joãozinho-sem-medo ficou rico com aquelas moedas de ouro e morou feliz no palácio. Até um dia em que, ao se virar, viu sua sombra e levou um susto tão grande que morreu. LIVRO DO ALUNO http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000589.pdf ______________________________________________________________________________________________________________________ ----------------- ------------- Jogador Canção de João Bosco Visão geral Letras Ouvir Letras Joga o jogo Joga a vida roubada Joga vinte-e-um Joga carambola, sinuca, bilhar Joga pra espetar Pra matar pra defesa Joga o jogo Joga a vida roubada Joga vinte-e-um Joga carambola, sinuca, bilhar Joga pra espetar Pra matar pra defesa Olha a mesa Olha o quadro, olha firme no olhar do parceiro Olha o taco Olha o roubo, confere o dinheiro E não chia que um bom jogador Joga o jogo E não chia que um bom jogador Joga o jogo E não chia que um bom jogador Joga o jogo Joga o jogo Joga a vida roubada Joga vinte-e-um Joga carambola, sinuca, bilhar Joga pra espetar Pra matar pra defesa Joga o jogo Joga a vida roubada Joga vinte-e-um Joga carambola, sinuca, bilhar Joga pra espetar Pra matar pra defesa Olha a mesa Olha o quadro, olha firme no olhar do parceiro Olha o taco Olha o roubo, confere o dinheiro E não chia que um bom jogador Joga o jogo E não chia que um bom jogador Joga o jogo E não chia que um bom jogador Joga o jogo Joga o jogo Fonte: LyricFind Compositores: Joao Bosco ____________________________________________________________________________________________________________________ -----------
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----------- domingo, 15 de outubro de 2023 Celso Lafer* - Em torno do STF O Estado de S. Paulo Para que adquira a plenitude de sua repercussão geral, é fundamental que a colegialidade institucional seja resguardada A justiça é o tema dos temas da Filosofia do Direito por causa da força de um sentimento forte, mas impreciso, que atravessa os tempos: o Direito, como uma ordenação de convivência humana, deve ser permeado e regulado nas suas normas e aplicação pela justiça. Na administração da justiça, o dever ser desta “ideia a realizar” é, em nosso país, uma responsabilidade institucional do Supremo Tribunal Federal (STF). Pedro Lessa, notável professor de Filosofia do Direito no Largo de São Francisco e admirável ministro do STF, apontou para a relevância do sentimento de justiça e do seu vínculo com o Judiciário, no clássico Do Poder Judiciário (1915). Destacou que o Judiciário é o primeiro poder que aparece na sociedade, pois é pela administração da justiça que se satisfaz a primeira necessidade sentida pelas agremiações humanas. É o que reverbera em passagens do Deuteronômio. O desafio do exercício desta missão, que está nas mãos do STF, não é tarefa fácil. São múltiplas as vertentes do justo, o papel do Direito nas sociedades contemporâneas tem uma função de gestão de convivência humana e a guarda da Constituição de 1988 é muito abrangente à luz do disposto nas matérias que contempla. Essa abrangência é fruto das aspirações de justiça da sociedade brasileira que as constitucionalizou em 1988 na lógica do pacto de redemocratização da qual se originou a Constituição. É o que vem ensejando a significativa judicialização da política e levando o STF a decidir muitas questões conflitivas. Daí a proeminência atual do STF na vida brasileira. É o que o expõe a críticas, muitas válidas, outras não, e às insatisfações que provêm de setores de uma sociedade que é hoje muito mais polarizada e fragmentada do que em 1988. Essa insatisfação expressa uma visão de que decisões do Supremo têm sido fundamentadas em motivações políticas e proferidas sobre assuntos políticos que extravasam a lógica da separação dos Poderes. Cabe pontuar que decisões que julguem constitucionalmente inválidas normas emanadas do Congresso ou inexequíveis atos do Poder Executivo são da competência do STF, nos termos da Constituição e da nossa tradição constitucional. O exercício desta função tem um inegável caráter político num Estado Democrático de Direito. Por isso, o poder jurídico do STF de se pronunciar sobre a nulidade de atos de outros Poderes no exercício de sua função pode implicar, pela natureza sobre a qual se exerce, o tomar parte, na ação política de governo, na clássica lição de Pedro Lessa. É o que caracterizou julgados do STF na pandemia, que possibilitaram a ampla vacinação da população brasileira, e os que contiveram as efetivas ameaças à democracia brasileira. Pode-se deles dizer que, com base na Constituição, responderam ao sentimento de justiça e fulminaram os desmandos dos excessos negacionistas. A preeminência do STF na vida brasileira é pauta da agenda política do País. Responder a este desafio requer que o STF, na pluralidade de seus ministros, seja a expressão da ação conjunta de uma instituição que tem um objetivo comum, que se expressa pela sua colegialidade. Precisa transmitir como o saber de seus votos atende às exigências da administração da justiça. Nesta linha cabe evocar o que diz Pe. Antonio Vieira no Sermão da Sexagésima: “O que só sai da boca para nos ouvidos; o que nasce em juízo penetra e convence o entendimento”. O discurso de Rosa Weber, ao término de sua gestão, e o de Luís Roberto Barroso, na sua posse na presidência, enfrentam este desafio com uma pertinência não identificável nas propostas das PECs apresentadas no Congresso que tratam de questões relacionadas ao STF. O de Weber tem a auctoritas de quem exerceu a função com o decoro da dignidade, o lastro da experiência de longos anos de judicatura e, inter alia, o mérito de quem reforçou a colegialidade com emendas regimentais que circunscrevem a latitude da ação individual dos ministros. O discurso de Barroso articula a visão de um magistrado que é reconhecido e qualificado professor universitário. Entre as diretrizes de sua gestão voltada para a administração da justiça, pontua a relevância da segurança jurídica, asseguradora da previsibilidade das condutas e, lembro aqui, seguindo a lição de Bobbio, que a coerência é uma virtude jurídica que cabe ao STF resguardar. O STF não é um tribunal de consensos plenos. Comporta, na sua pluralidade, válidos e diferentes pontos de observação. No entanto, para que adquira a plenitude de sua repercussão geral, é fundamental que a colegialidade institucional seja resguardada. Esta é uma responsabilidade que cabe ao presidente do STF, como Barroso deixa claro no seu discurso de posse, concluído com a metáfora de um equilibrista que, sem rede, caminha pela vida e seus desafios. O seu desafio na presidência do STF é o da coragem da liderança, no apontar rumos, animado pela paciência de consultar, tendo a sabedoria de avaliar qual é o tempo certo para cada uma destas duas atividades. *Professor Emérito da Faculdade de Direito da USP, foi ministro das Relações Exteriores (1992; 2001-2002) ______________________________________________________________________________________________________________ -----------
---------- domingo, 15 de outubro de 2023 Lourival Sant’Anna - Manter a tensão interessa aos envolvidos O Estado de S. Paulo Atual ambiente estimula o radicalismo palestino. Os ultranacionalistas de Israel sabem disso Em toda disputa, o maior objetivo é provocar no adversário a reação esperada. A previsibilidade decorrente dessa tática permite o planejamento estratégico. Quem domina essa técnica é capaz de manter a iniciativa. Reduzido à condição de coadjuvante, o adversário consome seu tempo e energia reagindo, enquanto o protagonista se ocupa do próximo lance. Se dois atores em lados opostos souberem empregar esse método com maestria e sem limites morais, ele se torna a única tática efetiva. O centro do tabuleiro é esvaziado, e a eletricidade se concentra nos polos opostos. Os extremistas palestinos e israelenses empregam essa técnica há 80 anos. Sua eficácia avassaladora e seu custo humano são comprovados mais uma vez. As Forças de Defesa de Israel ignoraram as advertências dos serviços de inteligência israelense, egípcio e americano. Elas falharam durante as incursões do Hamas no dia 7 porque suas atenções estavam voltadas para as prioridades do governo de Binyamin Netanyahu: a expansão das colônias judaicas na Cisjordânia e o acesso de fiéis judeus ao complexo da Mesquita de Al-Aqsa. O governo israelense não concede alvará de construção para palestinos na Cisjordânia e demole casas novas, assim como as residências das famílias de palestinos acusados de atos de violência. Ao mesmo tempo, financia a construção de novas moradias e a criação de novos assentamentos para judeus na Cisjordânia. Essa política tem elevado as tensões e fomentado a atuação de células terroristas e de ataques de palestinos contra colonos judeus e contra as forças de segurança israelenses. Os judeus podem andar armados; os palestinos, não. Os colonos, muitos deles recém-chegados da Europa e dos Estados Unidos, invadem casas de palestinos cujas famílias moram na Cisjordânia há muitas gerações, e os agridem, gritando frases como “vão embora, aqui não é a sua terra”. Algumas vezes, sob o olhar de aprovação de soldados israelenses. REGRA. O ministro de Segurança Itamar Ben-Gvir, líder dos colonos judeus da Cisjordânia, defende o livre acesso de fiéis judeus ao complexo da Mesquita de Al-Aqsa. Grupos religiosos judeus acreditam que suas orações nesse local dariam início à construção do 3.º Templo. O 2.º Templo foi destruído pelos romanos no ano 70. No mesmo local foi construída a mesquita entre 685 e 715. Os tratados de Paris e de Berlim, que regem o acesso a lugares sagrados em áreas disputadas, firmados em 1856 e 1878 respectivamente, determinam que só os judeus rezem no Muro das Lamentações, as fundações que restaram do 2.º Templo, e só os muçulmanos tenham acesso à parte de cima. Israel tradicionalmente respeitou essa regra, violada pelo atual governo ultranacionalista. No terceiro dia da festa judaica dos Tabernáculos, dia 1.º, a polícia israelense ordenou que os palestinos fechassem suas lojas na Cidade Velha de Jerusalém, e impediu o acesso dos muçulmanos, para garantir a entrada de judeus no complexo de Al-Aqsa. O Hamas denominou a incursão no dia 7 de “Inundação de Al-Aqsa”. Segundo seu comandante militar, Mohammed Deif, a operação começou a ser planejada em maio de 2021, depois que policiais israelenses invadiram a mesquita, durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã, espancaram e arrastaram palestinos de dentro de lá, alegando que eles os haviam atacado. O Hamas venceu as eleições de 2006 na Faixa de Gaza e seu rival palestino, o Fatah, ganhou na Cisjordânia. Mas Estados Unidos e União Europeia anunciaram o corte da ajuda de meio bilhão de dólares cada para os palestinos, se o Hamas assumisse, por considerá-lo organização terrorista. O Fatah então continuou governando Gaza até o ano seguinte, quando o Hamas tomou o poder no território à força. Desde então, houve cinco guerras entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, que está sob bloqueio israelense. Metade da população do território está desempregada. Segundo o Programa de Alimentos da ONU, 1,84 milhão de palestinos não tem comida suficiente, ou seja, um terço da população nos dois territórios e mais Jerusalém Oriental. Desses, 1,1 milhão vive em “grave insegurança alimentar” – 90% deles na Faixa de Gaza. Esse ambiente estimula o radicalismo palestino. Os ultranacionalistas israelenses sabem disso. A perpetuação do conflito interessa a ambos. Fazer essa análise não é justificar a violência. É entender suas causas. E, nesse sentido, honrar suas vítimas. ____________________________________________________________________________________________________________________ ---------------
------------ domingo, 15 de outubro de 2023 Luiz Carlos Azedo - O antissemitismo estrutural que emerge na guerra de Gaza Correio Braziliense Sim, árabes e judeus são semitas. Na Antiguidade, fenícios, hebreus, babilônicos, arameus e outros se deslocaram da Península Arábica para a Mesopotâmia, 3 mil anos antes de Cristo O movimento negro brasileiro consolidou o conceito de racismo estrutural e desconstruiu a tese de que o Brasil é uma democracia racial, devido à miscigenação e ao voto direto, secreto e universal, que garante a negros, mulatos e pardos — classificação agora considerada “politicamente incorreta” — os mesmos direitos políticos da “elite branca”. O racismo estrutural, porém, limita o alcance desses direitos do ponto de vista econômico, social e mesmo político, se considerarmos as estruturas de poder. Consiste na organização da sociedade de maneira a que privilegie um grupo de certa etnia ou cor em detrimento de outro, percebido como subalterno. A exclusão e discriminações complexas mascaram o fenômeno. O racismo estrutural é uma forma de exploração e opressão, enraizada na estrutura social e nas relações institucionais, econômicas, culturais e políticas. Uma outra forma de racismo estrutural é o antissemitismo, que tem características completamente diferentes, porque não está associado à condição econômica e social subalterna, ao contrário, mas à condição étnica, especificamente, e ao preconceito cultural. Enquanto em relação aos negros, o racismo vem dos tempos da escravidão, no início do século XVI, o nosso antissemitismo tem origem na atuação da Inquisição católica, nos tempos da Reconquista, que expulsou árabes e judeus da Península Ibérica. Sim, árabes e judeus são semitas. Na Antiguidade, fenícios, hebreus (judeus), babilônicos, arameus e outros se deslocaram da Península Arábica para a Mesopotâmia, 3 mil anos antes de Cristo. O termo semita como designação para esses povos do Oriente Médio foi cunhado pelo historiador alemão August Ludwig von Schloezer, em 1871, a partir de referências bíblicas. Apesar das diferenças religiosas e étnicas, segundo o Antigo Testamento, todos eram descendentes de um dos três filhos de Noé: Sem. Entretanto, o termo antissemitismo é usado para designar o ódio e a aversão contra judeus por conta dos eventos históricos que resultaram na migração desses povos para vários cantos do mundo, como aconteceu com as famílias sefarditas na Espanha e Portugal. A primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel (Rocha de Israel), foi fundada no Recife, em 1641, durante a dominação holandesa (1630-1657), pelo rabino luso-holandês Isaac Aboab da Fonseca. Com a derrota dos invasores holandeses na Batalha dos Guararapes, os judeus migraram de Pernambuco para Nova Amsterdã, atual Nova York, onde formaram a Congregação Shearith Israel, a primeira sinagoga da América do Norte. Sionismo O surgimento do movimente sionista no século XIX, em resposta à diáspora e à milenar perseguição aos judeus, com objetivo de reocupar a Palestina e construir um Estado-nação, apartou árabes e judeus. Sion significa Jerusalém, a cidade sagrada para os judeus, muçulmanos e cristãos, cujo lado oriental, que era administrado pela Jordânia, foi ocupado por Israel em 1967, na Guerra dos Seis Dias. Sempre houve resistência ao sionismo entre os judeus, principalmente entre os judeus assimilados da Europa. A filósofa judia-alemã Hannah Arendt chegou a participar do movimento sionista, mas se desvinculou na década de 1940. Autora de A Condição Humana e Raizes do Totalitarismo, Arendt cunhou a expressão “banalidade do mal”para explicar o Holocausto, ao descrever o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann. Sequestrado num subúrbio de Buenos Aires por um comando israelense, em 1960, Eichmann foi levado para Jerusalém. No mais importante julgamento de um criminoso nazista depois do tribunal de Nuremberg, em vez do monstro sanguinário, surgiu um burocrata medíocre e carreirista, incapaz de refletir sobre os próprios atos ao receber uma ordem. Para Arendt, o processo desnudou a capacidade de o Estado transformar o exercício da violência homicida em organogramas e mero cumprimento de metas. O julgamento legitimou a grande vitória sionista que fora a criação do Estado de Israel, pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948, com objetivo de evitar um novo Holocausto, como o perpetrado pelo líder da Alemanha nazista, Adolph Hitler, na Segunda Guerra Mundial. Entretanto, os palestinos (de maioria muçulmana), que já viviam no atual território de Israel, não aceitaram a hegemonia judaica. Desde então, conflitos e guerras inviabilizaram a criação de um Estado palestino. O radicalismo político e religioso de ambas as partes inviabilizou todos os acordos. No atual conflito, o ataque terrorista do Hamas, inimaginável e inaceitável, não justifica o que ocorre em termos humanitários em Gaza, onde a população civil está sem água, energia elétrica, combustível, alimentos e remédios, forçada ao êxodo por bombardeios indiscriminados do Exército israelense. O pior é que essa crise desperta o antissemitismo em quase todos os lugares. No caso do Brasil, árabes e judeus se integraram à vida nacional e convivem em harmonia, traduzem sua cultura para a nossa realidade (viva o Arranco de Varsóvia!), sem chauvinismo nem perda de identidade. É uma conquista civilizatória à qual não devemos nunca renunciar. ________________________________________________________________________________________________________________ ------------ ------------- Miserere (latim) Músicas Católicas Miserere (latim) Miserere mei, Deus Secundum magnam misericordiam tuam Et secundum multitudinem miserationum tuarum Dele iniquitatem meam Amplius lava me ab iniquitate mea Et a peccato meo munda me Quoniam iniquitatem meam ego cognosco Et peccatum meum contra me est semper Tibi soli peccavi, et malum coram te feci Ut justificeris in sermonibus tuis, et vincas cum judicaris Ecce enim in iniquitatibus conceptus sum Et in peccatis concepit me mater mea Ecce enim veritatem dilexisti Incerta et occulta sapientiae tuae manifestasti mihi Asperges me hysopo, et mundabor Lavabis me, et super nivem dealbabor Auditui meo dabis gaudium et laetitiam Et exsultabunt ossa humiliata Averte faciem tuam a peccatis meis Et omnes iniquitates meas dele Cor mundum crea in me, Deus Et spiritum rectum innova in visceribus meis Ne proiicias me a facie tua Et spiritum sanctum tuum ne auferas a me Redde mihi laetitiam salutaris tui Et spiritu principali confirma me Docebo iniquos vias tuas Et impii ad te convertentur Libera me de sanguinibus, Deus, Deus salutis meae Et exsultabit lingua mea justitiam tuam Domine, labia mea aperies Et os meum annuntiabit laudem tuam Quoniam si voluisses sacrificium, dedissem utique Holocaustis non delectaberis Sacrificium deo spiritus contribulatus Cor contritum, et humiliatum, Deus, non despicies Benigne fac, domine, in bona voluntate tua sion Ut aedificentur muri ierusalem Tunc acceptabis sacrificium justitiae, oblationes, et holocausta Tunc imponent super altare tuum vitulos Misericórdia Tem misericórdia de mim, ó Deus Segundo sua misericórdia infinita E segundo sua compaixão, apaga Minhas transgressões Lava-me inteiro da minha iniquidade E purifica-me do meu pecado Pois reconheço minhas transgressões E diante de mim está sempre meu pecado Pequei somente contra ti, pratiquei o que é mau aos teus olhos Tens razão, portanto, ao falar, e tua vitória se manifesta ao julgar Eis que eu nasci na iniquidade Minha mãe concebeu-me no pecado Eis que ama a verdade no fundo do ser E me ensinas a sabedoria no segredo Purifica meu pecado com o hissopo e ficarei puro Lava-me, e ficarei mais branco do que a neve Faz-me ouvir o júbilo e a alegria E dancem os ossos que esmagastes Esconde a tua face dos meus pecados E apaga minhas iniquidades todas Ó Deus, cria em mim um coração puro Renova o Espírito firme no meu peito Não me rejeites para longe de tua face Não retires de mim teu Santo Espírito Devolve-me o júbilo da tua salvação E que o Espírito generoso me sustente Vou ensinar teus caminhos aos transgressores Para que os pecadores voltem a ti Livra-me do sangue, ó Deus: Deus, meu salvador E minha língua aclamará tua justiça Ó Senhor, abre os meus lábios E minha língua anunciará o teu louvor Pois tu não queres um sacrifício Um holocausto não te agrada Sacrifício a Deus é um espírito contrito Coração contrito e esmagado, Tu não desprezas, ó Deus Faze o bem a Sião, por teu favor Reconstrói as muralhas de Jerusalém Então te agradarás dos sacrifícios de justiça e holocausto E em teu altar se oferecerão novilhos Composição: G. Allegri. _______________________________________________________________________________________________________________________

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