quarta-feira, 4 de outubro de 2023

A DIGNIDADE DO CARGO

----------- _________________________________________________________________________________________________________ Não, Não Me Arrependo de Nada _________________________________________________________________________________________________________ ---------- Non, Je Ne Regrette Rien Édith Piaf Non, Je Ne Regrette Rien Non, rien de rien Non, je ne regrette rien Ni le bien qu'on m'a fait Ni le mal, tout ça m'est bien égal! Non, rien de rien Non, je ne regrette rien C'est payé, balayé, oublié Je m'en fous du passé! Avec mes souvenirs J'ai allumé le feu Mes chagrins, mes plaisirs Je n'ai plus besoin d'eux! Balayé les amours Avec leurs trémolos Balayés pour toujours Je repars à zéro Non, rien de rien Non, je ne regrette rien Ni le bien qu'on m'a fait Ni le mal, tout ça m'est bien égal! Non, rien de rien Non, je ne regrette rien Car ma vie, car mes joies Aujourd'hui, ça commence avec toi! Não, Não Me Arrependo de Nada Não, nada de nada Não, não me arrependo de nada Nem o bem que me fizeram Nem o mal, tudo isso, tanto faz para mim! Não, nada de nada Não, não me arrependo de nada Está pago, varrido, esquecido Não quero saber do passado! Com minhas recordações Acendi o fogo Minhas mágoas, meus prazeres Não preciso mais deles! Varridos os amores E todos os seus temores Varridos para sempre Recomeço do zero Não, nada de nada Não, não me arrependo de nada Nem o bem que me fizeram Nem o mal, tudo isso, tanto faz para mim! Não, nada de nada Não, não me arrependo de nada Pois minha vida, pois minhas alegrias Hoje, tudo isso começa contigo! Composição: Michael Vaucaire / Charles Dumon't. ___________________________________________________________________________________________________________________ -----------
--------- HOLOFOTE Morre o ex-ministro da Educação Murílio Hingel 4 de outubro de 2023 Por O Pharol ---------- Murílio de Avellar Hingel, ex-ministro da Educação no governo Itamar Franco (1992-1995), morreu na madrugada desta quarta-feira (4) na França, onde estava em viagem. Ainda não há detalhes sobre a causa da morte. Familiares estão tomando as providências para fazer o translado do corpo para o Brasil. Nascido em 5 de abril de 1933 em Petrópolis, Murílio obteve formação e construiu sua carreira na educação em Juiz de Fora, onde foi diretor da Faculdade de Filosofia e de Letras (1964) e responsável pela criação do Colégio João XXIII e a da Faculdade de Educação. https://jornalopharol.com.br/2023/10/morre-o-ex-ministro-da-educacao-murilio-hingel/ ________________________________________________________________________________________________________________ ---------- ----------- La mer (tradução) Charles Trenet La Mer 1938-1946 La mer O mar __________________________________________________________________________________________________________________ ------------
------------- Grupo Divulgação estreia “O Golpe” e celebra 60 anos de teatro de José Luiz Ribeiro 2 DE OUTUBRO DE 2023CULTURA E ARTE Público terá que descobrir a charada: quem vai dar o golpe em quem? (Foto: Pedro Moysés) Uma senhora que é dona de obras de arte e mora em um apartamento de frente para o mar é vítima de uma armadilha e pode perder todo o seu patrimônio. Mas será que os supostos golpistas e a vítima são mesmo o que parecem ser? Esse é o enredo de “O Golpe”, a nova peça do Grupo Divulgação, escrita e dirigida por José Luiz Ribeiro. A estreia acontece nesta quarta-feira, 4, às 20h, no Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A temporada segue com espetáculos de quarta a sábado, no mesmo horário, até o dia 18 de novembro. A nova peça, que pode ser definida como uma comédia policial, é especial por um outro motivo: o espetáculo marca os 60 anos de dedicação contínua à arte teatral por parte do coordenador do Grupo Divulgação, José Luiz Ribeiro. A data será celebrada exatamente em 15 de novembro. No mesmo dia, em 1963, aconteceu a estreia da primeira peça dirigida por Ribeiro – “Brasil, Espaço 63”. Eram mais de cem atores em cena, sob o comando do diretor, à época com 21 anos de idade. Servidores docentes e técnico-administrativos (TAEs) na ativa ou aposentados, trabalhadores terceirizados e estudantes com assistência estudantil da UFJF podem retirar um par de convites na bilheteria do teatro. Basta apenas apresentar comprovante de vínculo com a Universidade, como carteira funcional ou o contracheque. Quem vai dar o golpe em quem? Texto é uma comédia policial em que os personagens têm múltiplas facetas (Foto: Pedro Moysés) A história de “O Golpe” tem início quando Edy Marie, uma carioca francófila, acaba de voltar de mais uma de suas viagens à Paris. Ao chegar ao apartamento, a senhora percebe que parte de suas obras de arte – como uma tela do artista plástico juiz-forano Carlos Bracher – sumiu do local. A partir daí tem início uma trama de suspense com pitadas de humor, em que vemos um conjunto de personagens muito interessados nos bens de Edy Marie. Uns parecem querer passar a senhora para trás e há quem demonstre a intenção de preservar o espólio das garras de golpistas. Ao público, restará resolver a charada: quem quer mesmo dar o golpe? Será que todos os personagens são o que realmente parecem? Segundo o autor e diretor, a peça é uma crônica do tempo atual, em que novas modalidades de golpe surgem aplicadas pela internet. Tudo isso com um ritmo narrativo típico do cinema, uma característica ressaltada na iluminação: as cenas se sucedem, com mudanças no jogo de luzes, semelhantes aos cortes cinematográficos. -------------
------------- Narrativa tem ritmo de cinema, com jogo de luzes semelhante aos cortes cinematográficos (Foto: Pedro Moysés) “A Edy é muito ‘francesa’, daquelas pessoas que moram no Rio pensando na França. Por isso, para a trilha sonora, selecionamos clássicos da música francesa. A gente tem ‘La mer’ (de Charles Trenet), ‘Non, je ne regrette rien’ (interpretada por Édith Piaf)”, conta José Luiz Ribeiro. Para a intérprete de Edy Marie e professora do Departamento de Fundamentos, Teorias e Contextos da Faculdade de Comunicação (Facom), Márcia Falabella, o plantel de personagens é formado por figuras que “querem sobreviver e buscam o caminho mais fácil”. Em meio a esse cenário, há espaço para o riso. “É um riso da torpeza humana. Acho que o texto é brilhante, enxuto. O cartaz da peça mostra um alvo. Então eu acho que nesse alvo, o Zé Luiz acertou. Na mosca”, avalia a docente e atriz. 60 anos de teatro de José Luiz Ribeiro -----------
---------- “O Golpe” é o 183º texto de José Luiz Ribeiro, que completa 60 anos de teatro (Foto: Divulgação) ---------- “O Golpe” é o 183º texto teatral escrito por José Luiz Ribeiro. O número de espetáculos dirigidos pelo artista chega a 294. Filho de imigrantes portugueses e nascido em Juiz de Fora, Ribeiro estudou Jornalismo na antiga Faculdade de Filosofia e Letras (Fafile) e foi professor da Facom por quatro décadas. Em 1972, foi idealizador e responsável direto pela transformação do antigo casarão da Faculdade de Direito em Forum da Cultura, durante o mandato do reitor Gilson Salomão. Para Márcia Falabella, que convive com Ribeiro há 37 anos, ele é uma referência e um exemplo. “O Zé segue levando à frente o estandarte. E outros acreditam no sonho e vão atrás. Ele abriu caminhos para muitas pessoas e eu sou uma delas. Poucos conseguem fazer o que ele faz, estando em uma cidade fora do grande eixo de produção cultural. É um resistente quixotesco”, brinca. Cartaz da peça (Foto: Divulgação) No elenco, Márcia Falabella como Edy Marie; os sobrinhos de Edy são interpretados por Lendel Smânio (Evaristo) e Pedro Moysés (Elaino). Lúcio Araújo é Eustáquio; e Igor Santos é o ator Edmilson e seus diferentes personagens. O figurino é de Malu Ribeiro. A sonoplastia é de Aian Cruz. Cenário, desenho de luz e direção são de José Luiz Ribeiro. O Teatro do Forum da Cultura fica localizado na Rua Santo Antônio, 1.112, Centro. O espaço conta com ar-condicionado para proporcionar maior conforto ao público. Serviço “O Golpe” Teatro do Forum da Cultura – Rua Santo Antônio, 1.112, Centro. Datas: de quarta-feira a sábado, entre 4 de outubro e 18 de novembro. Horário: 20h. Outras informações: (32) 2102-6306 – Forum da Cultura Página do Grupo Divulgação no Instagram https://www2.ufjf.br/noticias/2023/10/02/grupo-divulgacao-estreia-o-golpe-e-celebra-60-anos-de-teatro-de-jose-luiz-ribeiro/ ______________________________________________________________________________________________________________________ ------------
----------- Morre o ex-ministro da Educação Murílio Hingel 4 de outubro de 2023 Por O Pharol ------------ Murílio de Avellar Hingel, ex-ministro da Educação no governo Itamar Franco (1992-1995), morreu na madrugada desta quarta-feira (4) na França, onde estava em viagem. Ainda não há detalhes sobre a causa da morte. Familiares estão tomando as providências para fazer o translado do corpo para o Brasil. Nascido em 5 de abril de 1933 em Petrópolis, Murílio obteve formação e construiu sua carreira na educação em Juiz de Fora, onde foi diretor da Faculdade de Filosofia e de Letras (1964) e responsável pela criação do Colégio João XXIII e a da Faculdade de Educação. Após atuar na Secretaria de Educação e Cultura de Juiz de Fora, Murilo Hingel exerceu algumas funções no Ministério de Educação, atuou também na Campanha Nacional de Escolas da Comunidade, tornou-se Ministro da Educação no Governo Itamar Franco e Secretário Estadual de Educação de Minas Gerais (1999-2002). Em sua gestão como ministro da Educação, no período de outubro de 1992 a janeiro de 1995, durante o governo Itamar Franco, as universidades receberam o maior volume de recursos até então da história. Em dois anos, foram aplicados o equivalente a R$ 2,5 bilhões em equipamentos, bibliotecas e em hospitais universitários. Marcou seu trabalho pelo diálogo com todas as universidades, então acostumadas com a linguagem das grandes metrópoles. Confira aqui entrevista dada por Murílio Hingel para O Pharol em 2021. _________________________________________________________________________________________________________ Informações acima inicialmente publicadas pelo site O Pharol Foto: UFJF ______ https://jornalopharol.com.br/2023/10/morre-o-ex-ministro-da-educacao-murilio-hingel/ ___________________________________________________________________________________________________________ ----------
---------- A dignidade do cargo Murílio Hingel assumiu o Ministério da Educação quando Itamar estava na Presidência de forma provisória, em virtude do afastamento temporário de Fernando Collor decretado pela Câmara dos Deputados. O vice-presidente só seria empossado definitivamente após a renúncia em 29 de dezembro de 1992. “Minha própria nomeação como ministro de Estado, o Itamar assinou vice-presidente da República no exercício da Presidência da República.” Ele só viria a usar o título depois da renúncia do titular e de sua posse. “Sim, isso era um presidente da República. Estava à altura do momento da situação e deixou um país com uma nova aura de esperança, de reconstrução do futuro, o que hoje está se perdendo por todas as características do momento atual.” Hingel: não havia interferência no MEC (Foto Leonardo Costa) Hingel lembra que nunca houve ingerência do presidente em seu ministério. Ele assumiu a pasta com a necessidade de cumprir as metas assumidas em 1990 com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) durante a Conferência Mundial sobre Educação para Todos. Não perdeu tempo, mergulhou na espinhosa relação da União com estados e municípios, mobilizando os diversos atores educacionais na elaboração de um Sistema Nacional de Educação. Nascia assim o Plano Decenal de Educação, baseado em metas construídas por meio do diálogo entre todos os entes federativos. A obrigação de planejar os rumos da educação no país a cada dez anos se tornaria obrigatória em 1996, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Daí também nasceu o Plano Nacional de Educação (PNE). Teve um dia que Hingel foi até o presidente para reclamar da desvinculação de receitas da educação. “Conto essa história porque vai mostrar para você quem é Itamar.” A medida provisória de implantação do Plano Real previa a desvinculação de 20% das receitas da União. “Então eu, pessoalmente, fui ao Itamar e disse: olha, eu não concordo com a desvinculação de 20% dos recursos da educação. Isso é prioridade nacional. O Itamar virou-se para mim e falou: se você não concorda, vá ao Congresso Nacional e defenda sua posição.” O ministro foi aos parlamentares e acabou sendo duramente criticado. “Acusaram-me de querer derrubar o Plano Real no seu nascedouro.” Ele acabou não conseguindo segurar a desvinculação das receitas da educação, mas levou como recompensa uma mudança no texto de outra medida provisória. “Consegui que fosse alterado o dispositivo que dizia: os 20% da desvinculação serão destinados preferentemente à saúde e à educação.” Não transigia nas questões éticas Por telefone, Pedro Simon fala de saudade com a reportagem de O Pharol. “Vocês, então, são da minha querida Juiz de Fora. Que saudade do presidente Itamar. Como esses tempos difíceis me levam ao meu amigo Itamar.” O ex-senador, que neste ano completou 91 anos, ainda se surpreende com o passar do tempo. “Mas já faz dez anos que o Itamar nos deixou? Quanta saudade.” ------------
Pedro Simon despediu-se da vida pública em 2014 (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado) Convidado a descrever do que sente saudade, ele não titubeia: “Da decência, da retidão”. Simon toma o caso do Henrique Hargreaves, ex-ministro da Casa Civil envolvido em suspeita de corrupção no caso do orçamento. “Vocês de Juiz de Fora sabem que o Hargreaves era da cozinha do Itamar. E o que ele faz: afasta o Hargreaves até ser concluída a investigação. Inocentado, ele é reconduzido à pasta cem dias depois. Essa lição nunca foi repetida por nenhum governo.” Para Simon, a importância do Governo Itamar ainda será revista. “Estamos falando de um presidente que assumiu o mandato sem partido, sem apoio e sem povo. O eleitor havia votado no Collor. Quem colocou o Itamar lá foi o Congresso. Estávamos iniciando a era da redemocratização. Itamar construiu um Governo de coalizão inimaginável. Fez tudo isso sem uma vírgula de corrupção. Ninguém nunca recebeu nem um mil réis para aprovar coisa alguma.” O fato de Itamar não transigir nas questões éticas, segundo Simon, gerou as bases para seu Governo e para o país que se tem hoje. “Saímos de um Brasil mergulhado na insegurança e no medo para um Brasil de economia estável e democracia consolidada. É uma pena que não se dê ao Itamar seu devido valor. É uma pena que não compreendam que, das difíceis e necessárias decisões tomadas no Governo Itamar, nasceram as bases para os governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e Dilma Rousseff.” ------------- ---------- Relacionado Como o episódio com Lilian Ramos fez Itamar antecipar a escolha de seu sucessor 20 de fevereiro de 2023 Em "Holofote" José Dirceu: ‘O PT errou ao não participar do Governo Itamar’ 7 de julho de 2021 Em "Conjuntura" Cartas para Larissa: a amizade de Itamar Franco com uma menina de seis anos durante a presidência 4 de julho de 2021 Em "A vida dos outros" https://jornalopharol.com.br/2021/07/itamar-foi-sondado-por-brizola-e-covas-antes-de-ser-vice-de-collor/ ___________________________________________________________________________________________________________________ ------------
---------- Luiz Carlos Azedo - Boulos escapou da armadilha de Thatcher Correio Braziliense A greve dos metroviários refletiu a disputa no PSol, que, no fim de semana, resultou em pancadaria entre “trotskistas” e “leninistas” no congresso da legenda Com a greve dos metroviários de São Paulo e dos funcionários da Sabesp, a empresa paulista de saneamento — promessa de campanha do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR) —, o candidato do PSol à Prefeitura de São Paulo, deputado Guilherme Boulos, quase caiu numa armadilha política, na qual os grandes beneficiados seriam o prefeito Ricardo Nunes (MDB), postulante à reeleição, e a deputada federal Tabata Amaral (PDT), também candidata de oposição. Como o governador paulista não pretende recuar do projeto de privatização, o que seria renegar um compromisso eleitoral, a situação de Boulos estava muito difícil, por causa do desgaste que a greve lhe acarretava, em função dos transtornos à vida dos paulistanos. Liderada por sindicalistas do PSol, a greve refletia a disputa interna na legenda de Boulos, que no fim de semana resultou em pancadaria entre “trotskistas” e “leninistas” da legenda. Depois do congresso, Valério Arcary (ex-Convergência Socialista e PSTU) e o ex-deputado Milton Temer (ex-PCB e PT) continuaram se digladiando, com sinais trocados, mas por escrito: curiosamente, Temer está à esquerda de Arcary. Leon Trotsky foi um dos companheiros de Vladimir Ilich Lênin na Revolução Russa de 1917. Líder da oposição de esquerda bolchevique, depois da morte de Lênin, foi expurgado do Partido Comunista por Joseph Stálin, o líder do Partido Comunista da antiga União Soviética na Segunda Guerra Mundial. Trotsky defendia uma “revolução mundial” e considerava a “construção do socialismo num só país”, como queria Stálin, o limiar de uma restauração capitalista. E a armadilha de Margareth Thatcher? Em meados da década de 1980, a primeira-ministra britânica resolver levar adiante as privatizações das empresas estatais e promover um grande ajuste fiscal no “estado de bem-estar social” edificado pelos trabalhistas no pós-Segunda Guerra Mundial. O maior obstáculo que enfrentou foi a greve dos mineiros. Eles eram 200 mil operários, espalhados por 130 minas de carvão, e constituíam um dos mais poderosos grupos de pressão da política britânica. Hoje, não passam de 1.800, nas seis minas que permanecem abertas. Foram reduzidos à fuligem depois de 16 meses de greve, entre 1984 e 1985, que terminaram sem nenhum acordo. A derrota do mais poderoso sindicato do Reino Unido foi um catalisador do programa neoliberal de Thatcher e o primeiro passo para a revisão dos direitos trabalhistas. As mudanças na economia resultaram em alterações profundas na mineração, na siderurgia e nas manufaturas de um modo geral. A classe operária britânica iniciava o seu declínio como ser social e político. Um dos momentos mais dramáticos da greve foi a chamada “Batalha de Orgreave”, quando milhares de grevistas e policiais se enfrentaram. Margareth Thatcher ficou muito desgastada politicamente, pela forma dura como tratou o episódio e pelos transtornos vividos pelos britânicos, principalmente no inverno, mas não recuou. A volta por cima foi a Guerra das Malvinas (Falklands, na nomenclatura britânica), quando a popularidade de Thatcher chegou ao auge, por decidir tomar de volta o arquipélago do Atlântico Sul que os argentinos haviam ocupado e reivindicam até hoje. Politização A greve dos funcionários do Metrô e CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e dos funcionários contra as privatizações foi imediatamente politizada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas: “Infelizmente, aquilo que a gente esperava está se concretizando. Temos uma greve de metrô, CPTM e Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Uma greve ilegal, abusiva, claramente política. Uma greve que tem por objetivo a defesa de um interesse muito corporativo”, declarou. Nesta terça-feira, a capital paulista amanhecera caótica. As linhas 1,2,3 e 15, operadas pelo Metrô foram completamente paralisadas. Funcionaram apenas as linhas 4 e 5, concedidas à iniciativa privada, mas superlotadas. No caso da CPTM, estavam paradas três das cinco linhas. Operavam parcialmente as linhas de trens 7 e 11, mas nenhuma faz o trajeto completo e têm intervalos maiores de espera. As linhas 8 e 9, também privatizadas, mantiveram operação. Tarcísio acusou os sindicatos de desrespeitarem a decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), de sexta-feira, que proibiu a greve total dos trabalhadores do Metrô. Deveria ser assegurada a circulação da frota de 100% dos trens nos horários de pico (das 6h às 9h e das 16h às 19h) e 80% nos demais períodos, sob pena de multa de R$ 500 mil. No final da tarde, os trabalhadores da Sabesp anunciaram o fim da greve, mas os metroviários ainda pretendiam continuar. Presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa rebatia, em transmissão pelas redes sociais, as declarações do governador. Segundo a líder sindical, a privatização dos serviços do Metrô, trens e da Sabesp já está em andamento, e não apenas em fase de estudos. Como Tarcísio não vai desistir das privatizações, o desgaste da greve com a população recairia muito mais sobre Boulos. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, aliado do governador, acertou o seu principal adversário, Boulos, ao atirar nos grevistas. O prefeito também havia se desgastado, por se aproximar do ex-presidente Jair Bolsonaro, com quem tirou fotos num almoço. Agora, foi a vez do desgaste d candidato do PSol, que tenta conquistar os eleitores de centro que não votaram em Bolsonaro na capital paulista, onde Lula e Haddad venceram as eleições. Quem assistiu de camarote foi Tabata Amaral, candidata à terceira via nas eleições para a Prefeitura de São Paulo. A saída de Boulos foi acabar com a paralisação rapidinho. Era a greve errada, no local errado e na hora errada. _________________________________________________________________________________________________________ ----------
------------- Wilson Gomes* - Não existe ódio do bem Folha de S. Paulo Debate das últimas semanas registra um revés para o estilo identitário de ativismo que cerca a opinião pública O debate público das últimas semanas registrou um revés para o estilo identitário de ativismo na opinião pública. Os episódios, em sequência, do linchamento moral da professora da UFBA e da revelação de posts de cunho racista da então assessora do Ministério da Igualdade Racial foram lidos, fora dos círculos habituais de condescendência, como sólidas evidências das críticas que se fazem ao modelo identitário de luta política: a beligerância permanente, a satanização do antagonista, a paixão por vigiar e punir, a vitimização como álibi para a violência e o duplo padrão moral adotado, que não tolera a menor violação por parte dos outros, mas que concede imunidades especiais aos seus. Naturalmente, os interessados em garantir prerrogativas morais para esse estilo de militância se sentiram compelidos aos panos quentes e à racionalização. Uma das defesas mais especiosas foi o recurso a uma "ética de inscrição", por contraste com uma "ética de atitudes" que você e eu adotamos. Na ética de atitudes, os comportamentos são julgados, um a um e à luz de valores, para serem considerados certos ou errados. Na ética de inscrição, os que fazem parte de um grupo especial —seguidores da fé verdadeira, quem quer a emancipação dos seres humanos, pessoas oprimidas et cetera— estão moralmente aprovados mesmo quando agem mal. No máximo, cometem deslizes. A moralidade da sua inscrição se sobrepõe à imoralidade do comportamento e a anula. A segunda linha de defesa é um clássico. Eu já a chamei nesta coluna de "mimetismo defensivo" e consiste basicamente em vender a ideia de que o identitarismo não é uma estratégia de militância, mas a forma de ser de movimentos com pautas morais elevadas. Ora, a política de identidade, desde que se começou a teorizá-la no fim dos anos 1970, é apresentada como um tipo de estratégia política de grupos estigmatizados. Não se confunde com os próprios grupos, que podem ou não adotá-la. Havia feminismo e luta por direitos civis antes dos anos 1980, assim como é possível ser feminista e antirracista sem adotar a militância identitária. Mas, convenhamos, há coisa mais confortável do que se dizer, complacentemente, que identitários negros são "o movimento negro" e que, como são vítimas da sociedade, o que fazem é desculpável? Ou que quem condena uma prática deplorável de um transativista identitário está atacando todas as pessoas trans? A causa de um movimento vira um escudo: é preciso que o crítico do comportamento seja lido como inimigo da causa. De fato, o movimento negro luta por direitos, mas quem adota um padrão identitário de militância sobrecarrega essa luta, quando não se desvia dela, para se dedicar cotidianamente às suas estratégias de vitimização, de vocalização do ressentimento, de defesa do seu monopólio da virtude, de coleta e desfrute pessoal de bônus e compensações devidos a todos aqueles de quem se proclama representante, de guerrilha permanente. Desculpem, isso não é luta para conquistar coisas, mas por superioridade moral e por posições no mercado de virtudes. O identitarismo é só um estilo de militância, organizada em torno da identidade coletiva de um grupo cujos membros se consideram estigmatizados ou oprimidos pelo resto da sociedade, para enfrentá-lo por meio da luta por representações, valores, comportamentos e linguagem. Há identitários de esquerda ou de direita, conservadores ou liberais. Há, inclusive, identitários pertencentes a maiorias demográficas, como os xenófobos anti-islâmicos da Europa. Evangélicos, nacionalistas de direita ou de esquerda e até a militância homofóbica adotam padrões identitários de militância em toda parte do mundo. Só não há identitário universalista, tolerante e pluralista, por incompatibilidade de valores. O assédio, a guerra permanente, a reivindicação de superioridade moral mesmo quando se é a mão que brande o chicote, a intimidação, nada disso é um exagero eventual, um caso isolado, um episódio desimportante, mas o próprio método de militância identitária, em coerência com as premissas que adota. A complacência dos progressistas, que correm para tudo mitigar, racionalizar, finda por reforçar esse comportamento ao oferecer vexaminosos salvo-condutos, excludentes de ilicitudes e indulgências para pecados futuros. Essa cumplicidade não apenas desmoraliza a crítica de esquerda aos mesmos abusos praticados pelo "outro lado", como termina por ser corresponsável pelo "ódio do bem". Só que ódio do bem não existe. *Professor titular da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e autor de "Crônica de uma Tragédia Anunciada" ____________________________________________________________________________________________ ------------
----------- Vera Rosa - Lula atuou em operação anti-Milei O Estado de S. Paulo Presidente pediu para Tebet avalizar empréstimo de US$ 1 bi do CAF para a Argentina Era uma sexta-feira do fim de agosto quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que tinha urgência em falar com Simone Tebet. A ministra do Planejamento não estava em Brasília, mas foi logo contatada por telefone. A pressa de Lula não era à toa: o Brasil precisava autorizar, ainda naquele mês, uma operação para que o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) concedesse empréstimo de US$ 1 bilhão à Argentina. Com participação de 37,3% no capital do CAF, batizado em seu nascimento como Comunidade Andina de Fomento, o Brasil tem o maior peso nas decisões do banco. Em situação econômica dramática, com inflação de mais de 100% ao ano e sem dólares na praça, a Argentina necessitava do empréstimo ponte para o FMI liberar um desembolso de US$ 7,5 bilhões. Tebet é a governadora do Brasil no CAF e por isso a operação de socorro precisava do seu aval. A rigor, o país vizinho não poderia mais ter acesso aos recursos porque já havia esgotado o limite de crédito. Lula, porém, entrou em cena e os países-membros do CAF aprovaram a transferência de US$ 1 bilhão diretamente para o FMI, em nome da Argentina. Dos 21 países que compõem o CAF, somente o Peru votou contra. De lá para cá se passou um mês e hoje faltam menos de três semanas para a eleição que vai definir o sucessor de Alberto Fernández na Casa Rosada. A possibilidade de vitória de Javier Milei, político visto como a versão piorada de Jair Bolsonaro, provoca cada vez mais pânico no Planalto. Líder populista com um discurso antiestablishment, Milei prega a dolarização do país, a saída do Mercosul e a extinção do Banco Central. Auxiliares de Lula classificam a eventual ascensão do deputado argentino como um desastre. Tanto que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a dizer que “o Mercosul está em risco”. Defensor do libertarianismo, Milei já insultou os dois principais parceiros comerciais da Argentina: chamou Lula de “socialista com vocação totalitária” e descreveu a China como “governo de assassino”. O Planalto tem feito tudo para dar uma força ao ministro da Economia, Sergio Massa, que disputa a cadeira de Fernández. Mas a briga está cada vez mais difícil para o peronista. A eleição na Argentina é no próximo dia 22 e tudo indica que haverá segundo turno. Diante do cenário de incertezas, Lula decidiu partir para o “tudo ou nada”. A estratégia é ancorada por um diagnóstico pragmático: o possível triunfo de Milei ressuscita um polo de extrema direita na América Latina. Perto dessa hecatombe, a partilha de mais cargos com o Centrão virou apenas uma pimentinha nos olhos de Lula. __________________________________________________________________________________________

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