O jornalista alemão Dirk Kurbjuweit, da Der Spiegel, inventou alguns anos atrás a
expressão Wutbürger, que
significa “cidadão raivoso”, e no The
New York Times de 25 de outubro Jochen
Bittner publica um interessante artigo em que afirma que a raiva que em
certas circunstâncias mobiliza amplos setores de uma sociedade é um fenômeno
com duas faces, uma positiva e uma negativa.
O AI-5
O Ato Institucional nº 5, AI-5,
baixado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva,
foi a expressão mais acabada da ditadura militar brasileira (1964-1985).
Vigorou até dezembro de 1978 e produziu um elenco de ações arbitrárias de
efeitos duradouros. Definiu o momento mais duro do regime, dando poder de
exceção aos governantes para punir arbitrariamente os que fossem inimigos do regime
ou como tal considerados.
Carmen
Miranda - E o mundo não se acabou
12.12.2018 | 18h52
FHC
diz que Bolsonaro é ‘força raivosa’
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
afirmou que o presidente eleito faz parte “de forças raivosas”, mas que já
mudou de atitude ao propor uma união de brasileiros, durante evento em São
Paulo, nesta quarta, 12.
Questionado sobre a capacidade de Bolsonaro, com
apoio popular, anular “forças raivosas” da oposição, o tucano disse ser
difícil. “É difícil porque ele (Bolsonaro) faz parte das forças raivosas,
o Brasil ficou raivoso. Mas já mudou de atitude, começou a entender que precisa
ter uma coisa que junte as pessoas, tomara que continue por aí”.
O
cidadão raivoso
Nos últimos anos proliferam as mobilizações movidas
pela raiva dos cidadãos. Algumas são positivas, mas não sempre evoluem na
direção adequada
MARIO VARGAS LLOSA
30 OUT 2016 - 12:07 CET
FERNANDO
VICENTE
O jornalista alemão Dirk Kurbjuweit, da Der
Spiegel, inventou alguns anos atrás a expressão Wutbürger, que significa
“cidadão raivoso”, e no The New York Times de 25 de outubro Jochen
Bittner publica um interessante artigo em que afirma que a raiva que em certas
circunstâncias mobiliza amplos setores de uma sociedade é um fenômeno com duas
faces, uma positiva e uma negativa. Segundo ele, sem esses cidadãos raivosos
não teria havido progresso, nem seguridade social, nem trabalho remunerado de
forma justa, e ainda estaríamos no tempo das satrapias medievais e da
escravidão. Mas, ao mesmo tempo, foi uma epidemia de raiva social que espalhou
corpos decapitados pela França do Terror e que, nos nossos dias, acabou levando
ao brutal retrocesso que o Brexit significa para o Reino Unido ou
que fez com que exista na Alemanha um partido xenófobo, ultranacionalista
e antieuropeu –o Alternativa pela Alemanha – que, segundo as pesquisas, conta
com o apoio de nada menos do que 18% do eleitorado. Acrescenta, ainda, que o
melhor representante do Wutbürger nos Estados Unidos é o
inapresentável Donald Trump, além do surpreendente apoio com que ele
conta.
Eu gostaria de
acrescentar alguns outros exemplos recentes de uma “raiva positiva”, a começar
pelo caso do Brasil, a respeito do qual, a meu ver, houve uma interpretação
enviesada e falsa da defenestração de Dilma Rousseff da Presidência. Esse
fato foi apresentado como uma conspiração da extrema direita para acabar com um
Governo progressista e, sobretudo, impedir o retorno de Lula ao poder. Não é
nada disso. O que mobilizou vários milhões de brasileiros e os levou a sair
para as ruas em manifestações maciças foi a corrupção, um fenômeno que havia
contaminado toda a classe política e do qual se beneficiavam igualmente líderes
da esquerda e da direita. Ao longo dos últimos meses, foi possível observar
como a foice do combate à corrupção se ocupou de colocar na cadeia, igualmente,
parlamentares, empresários, dirigentes sindicais e associativos de todos os
setores políticos, um fato a partir do qual tudo o que se pode esperar é uma
regeneração profunda de uma democracia que a desonestidade e o espírito de
lucro haviam infectado até chegar ao ponto de provocar uma bancarrota nacional.
Talvez ainda seja um pouco cedo para comemorar o
ocorrido, mas minha impressão é de que, entre ganhos e perdas, a grande
mobilização popular no Brasil foi um movimento mais ético do que político e
extremamente positivo para o futuro da democracia no gigante latino-americano.
É a primeira vez que isso acontece; até agora, as mobilizações populares tinham
objetivos políticos –protestar contra os abusos de um Governo e a favor de um
partido ou um líder– ou ideológicos –substituir o sistema capitalista pelo
socialismo–, mas, neste caso, a mobilização tinha como objetivo não a
destruição do sistema legal existente, mas a sua purificação, a erradicação da
infecção que o envenenava e que podia acabar com ele. Embora tenha conhecido
uma trajetória diferente, não é algo muito distinto daquilo que aconteceu na
Espanha: um movimento de jovens atiçados pelos escândalos de uma classe
dirigente que causou em muitos a decepção com a democracia e os levou a optar
por um remédio pior do que a doença, ou seja, ressuscitar as velhas e
fracassadas receitas do estatismo e do coletivismo.
O que mobilizou vários
milhões de brasileiros e os levou a sair para as ruas em manifestações maciças
foi a corrupção
Outro caso fascinante de “cidadãos raivosos” é o que
vive a Venezuela hoje. Em cinco ocasiões, o povo venezuelano teve a
possibilidade de se livrar, por meio de eleições livres, do comandante Chávez,
um demagogo pitoresco que oferecia “o socialismo do século XXI” como a cura
para todos os males do país. A maioria dos venezuelanos, aos quais a
ineficiência e a corrupção dos Governos democráticos levaram a se desencantar
com a legalidade e a liberdade, acreditou nele. E pagou caro por esse erro. Por
sorte, os venezuelanos perceberam isso, retificaram sua visão, e hoje há uma
esmagadora maioria de cidadãos –como mostraram as últimas eleições para o
Congresso– que pretende consertar aquele equívoco. Infelizmente, já não é tão
fácil. A camarilha governante, aliada à nomenclatura militar bastante
comprometida com o narcotráfico e à assessoria cubana em questões de segurança,
enquistou-se no poder e está disposta a defendê-lo contra ventos e marés.
Enquanto o país se afunda na ruína, na fome e na violência, todos os esforços
pacíficos da oposição, valendo-se da própria Constituição instaurada pelo
regime, para se livrar de Maduro e companhia se veem frustrados por um Governo
que ignora as leis e comete os piores abusos –incluindo crimes– para impedi-lo.
Ao final, essa maioria de venezuelanos acabará se impondo, é claro, como
aconteceu com todas as ditaduras, mas o caminho ficará semeado de vítimas e
será muito longo.
Seria o caso de comemorar o fato de que não existem
apenas cidadãos raivosos negativos, mas também os positivos, como afirma Jochen
Bittner? Minha impressão é de que é preferível erradicar a raiva da vida dos
países e procurar fazer com que esta se dê dentro da normalidade e da paz, e
que as decisões sejam tomadas por consenso, por meio do convencimento ou do
voto. Porque a raiva muda de direção muito rapidamente; de bem-intencionada e
criativa, pode passar a ser maligna e destrutiva, caso a direção do movimento
popular seja assumida por demagogos, sectários e irresponsáveis. A história
latino-americana está impregnada de muita raiva, e, embora esta se justificasse
em muitos casos, quase sempre ela se desviou de seus objetivos iniciais e
acabou gerando males piores do que os que pretendia remediar. É um tipo de
situação que teve uma demonstração explícita com a ditadura militar do general
Velasco, no Peru dos anos sessenta e setenta. Diferentemente de outras, ela não
foi de direita e sim de esquerda, e implantou soluções socialistas para os
grandes problemas nacionais, como o feudalismo rural, a exploração social e a
pobreza. A nacionalização das terras não beneficiou em nada os camponeses, mas
sim às gangues de burocratas que se dedicaram a saquear as fazendas
coletivizadas, e quase todas as fábricas que o regime nacionalizou e confiscou
foram à falência, aumentando a pobreza e o desemprego. No fim, foram os
próprios camponeses que começaram a privatizar as terras, e os operários das
indústrias de farinha de peixe foram os primeiros a pedir que as empresas
arruinadas pelo socialismo velasquista voltassem para as mãos da iniciativa
privada. Todo esse fracasso teve um efeito positivo: desde então, nenhum
partido político no Peru se atreve a propor a estatização e a coletivização
como uma panaceia social.
Seria o caso de comemorar
o fato de que não existem apenas cidadãos raivosos negativos, mas também os
positivos?
Jochen Bittner afirma que a globalização favoreceu,
acima de tudo, os grandes banqueiros e empresários, e que isso explica, embora
não justifique, o ressurgimento de um nacionalismo exaltado como aquele que
transformou a Frente Nacional em um partido com chances de vencer as eleições
na França. É muito injusto. A globalização trouxe enormes benefícios para os
países mais pobres, que agora, se souberem aproveitá-la, poderão enfrentar o
subdesenvolvimento com mais rapidez e melhor do que no passado, como mostram os
países asiáticos e os países latino-americanos –caso do Chile, por exemplo–
que, ao abrirem suas economias para o mundo, cresceram de forma espetacular nas
últimas décadas. Parece-me um erro muito grave acreditar que progresso
significa combate à riqueza. Não, o inimigo a ser eliminado é a pobreza, e
também, é claro, a riqueza ilícita. A interconexão do mundo graças à lenta
dissolução das fronteiras é uma coisa boa para todos, em especial para os
pobres. Se ela prosseguir e não se afastar do caminho certo, talvez cheguemos a
um mundo em que já não será preciso haver cidadãos raivosos para que as coisas
melhorem.
Admirável
Mundo Novo
Por Caroline Faria
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Escrito por Aldous Huxley em 1931 e
publicado em 1932, “Admirável Mundo Novo” é uma obra da chamada “Social Science
Fiction” e considerada um clássico da literatura até os dias atuais.
Sua história se passa no século VII d.F. (depois de
Ford – Henry Ford, criador da produção em série que revolucionou as
indústrias no século XX), em uma sociedade futura onde os indivíduos são
condicionados desde a concepção, de forma genética, e de forma biológica (por
meio de substâncias misturadas aos alimentos e bebidas) e psicológica a se
conformar com as regras sociais vigentes em um estado autoritário, porém de
forma pacífica.
A distopia (uma
utopia negativa) de Huxley, difere das outras obras que tratam do mesmo assunto
(como “1984” de George Orwell que também trata da vida em um uma
sociedade futura dominada por um regime autoritário) justamente neste ponto: na
sociedade imaginada por Huxley o domínio não era mantido pela repressão ou
violência, mas pelo incentivo dos comportamentos que o estado julga corretos e
pelo controle dos sentimentos humanos através de uma substância, o “Soma”, que
induz as pessoas a se sentirem felizes e conformadas com os desígnios do estado
autoritário.
Aliás, esta era uma temática bastante comum nos anos
30. A ficção científica da década de 30 reflete a preocupação que os
autores da época tinham com o surgimento do fascismo e outras
ideologias totalitárias. Essa preocupação ainda perseguiria Huxley pelos anos
seguintes, ficando bem clara no prefácio que escreveu para a edição de 1947 do
livro: “Vendo bem, parece que a utopia está mais próxima de nós do que se
poderia imaginar há apenas quinze anos. Nessa época coloquei-a à distância
futura de seiscentos anos. Hoje parece praticamente possível que esse horror se
abata sobre nós dentro de um século. Isto se nos abstivermos, até lá, de nos
fazermos explodir em bocadinhos.(...)”.
No “Admirável Mundo Novo” a sociedade é dividida em
castas e os bebês são produzidos em laboratórios onde têm todo seu
desenvolvimento embrionário controlado por cientistas (o tema
da clonagem era uma constante nas histórias de ficção científica da
época de Huxley influenciado, em parte, pelas fileiras de soldados nazistas,
todos aparentemente iguais e, em parte, pelo surgimento da ciência genética),
ainda nesta fase os cientistas determinam a que casta pertencerá o novo
indivíduo e conforme a casta (as mais altas eram as betas, alfas e alfas+)
determinam se ele receberá alimentos bons ou não. No “Admirável Mundo Novo” não
existe a instituição da família e enquanto dormiam as mentes das pessoas eram bombardeadas
com “propagandas” ideológicas.
Arquivado em: Livros
Referências
https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/imagens/dossies/fatos_imagens/fotos/AI5/COSTA_S.JPG
https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5
https://youtu.be/1SqF-hBADoI
https://www.youtube.com/watch?v=1SqF-hBADoI&feature=youtu.be
https://br18.com.br/fhc-diz-que-bolsonaro-e-forca-raivosa/
https://ep01.epimg.net/elpais/imagenes/2016/10/27/opinion/1477572688_830439_1477756444_noticia_normal_recorte1.jpg
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/27/opinion/1477572688_830439.html
https://www.infoescola.com/livros/admiravel-mundo-novo/
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