ERNEST
FISCHER
Lendo essas linhas
espero estar um pouquinho mais junto de ti quando lembrares de mim.
A Função da Arte
“A POESIA É
INDISPENSÁVEL. Se eu ao menos soubesse para quê...” Com esse encantador e
paradoxal epigrama, Jean Cocteau resumiu ao mesmo tempo a necessidade da arte e
o seu discutível papel no atual mundo burguês.
Arte e Capitalismo
A alienação
Bertolt
Brecht salienta vivamente esse ponto na sua “Canção do Mercador” de Die Massnahme:
Como saber o que é o arroz?
O que é o arroz, que eu não conheço?
Não tenho idéia do que seja
Nem mesmo sei de alguém que o saiba.
Do arroz? Do arroz só sei o preço.
Não só o ser
humano vai-se tornando cada vez mais obliterado pela unilateralidade da sua
atividade – por sua existência feita detalhe – como também as relações sociais
e as condições circundantes vão-se tornando cada vez mais difíceis de serem
compreendidas. Roberto Musil escreveu em O
Homem sem Qualidades:
O conviver
dos homens tornou-os tão grosseiros e espessos e suas relações tornaram-se tão
complicadas que ôlho algum consegue devassar área alguma; e todo homem, fora do
círculo estreitíssimo de sua atividade imediata, torna-se dependente dos
outros, qual uma criança. Jamais a mentalidade da corja foi tão limitada como
hoje, quando ela tudo dirige.
O homem, que
se tornou homem pelo trabalho, que superou os limites da animalidade
transformando o natural em artificial, o homem, que se tornou um mágico, o
criador da realidade social, será sempre o mágico supremo, será sempre o
Prometeu trazendo o fogo do céu para a terra, será sempre Orfeu enfeitiçando a
natureza com a sua música. Enquanto a própria humanidade não morrer, a arte não
morrerá.
Caviar
Zeca
Pagodinho
Você sabe o
que é caviar?
Nunca vi,
nem comi
Eu só ouço
falar
Você sabe o
que é caviar?
Nunca vi,
nem comi
Eu só ouço
falar
Caviar é
comida de rico
Curioso
fico, só sei que se come
Na mesa de
poucos, fartura adoidado
Mas se olhar
pro lado depara com a fome
Sou mais ovo
frito, farofa e torresmo
Pois na
minha casa é o que mais se consome
Por isso se
alguém vier me perguntar
O que é
caviar, só conheço de nome
Você sabe o
que é caviar?
Nunca vi,
nem comi
Eu só ouço
falar
Mas você
sabe o que é caviar?
Nunca vi,
nem comi
Eu só ouço
falar
Geralmente
quem come esse prato
Tem bala na
agulha, não é qualquer um
Quem sou eu
pra tirar essa chinfra
Se vivo na
vala pescando muçum
Mesmo assim
não reclamo da vida
Apesar de
sofrida consigo levar
Um dia eu
acerto numa loteria
E dessa
iguaria até posso provar
Você sabe o
que é caviar?
Nunca vi,
nem comi
Eu só ouço
falar
Mas você
sabe o que é caviar?
Nunca vi,
nem comi
Eu só ouço
falar
Composição:
Barbeirinho Do Jacarezinho / Marcos Diniz
Detalhes
Roberto
Carlos
Não adianta
nem tentar me esquecer
Durante
muito tempo em sua vida
Eu vou
viver
Detalhes
tão pequenos de nós dois
São coisas
muito grandes pra esquecer
E a toda
hora vão estar presentes
Você vai
ver
Se um outro
cabeludo aparecer na sua rua
E isto lhe
trouxer saudades minhas
A culpa é
sua
O ronco
barulhento do seu carro
A velha
calça desbotada ou coisa assim
Imediatamente
você vai lembrar de mim
Eu sei que
um outro deve estar falando ao seu ouvido
Palavras de
amor como eu falei, mas eu duvido!
Duvido que
ele tenha tanto amor
E até os
erros do meu português ruim
E nessa
hora você vai lembrar de mim
A noite
envolvida no silêncio
Do seu
quarto
Antes de
dormir você procura
O meu
retrato
Mas da
moldura não sou eu quem lhe sorri
Mas você vê
o meu sorriso mesmo assim
E tudo isso
vai fazer você lembrar de mim
Se alguém
tocar seu corpo como eu
Não diga
nada
Não vá
dizer meu nome sem querer
À pessoa
errada
Pensando
ter amor nesse momento
Desesperada
você tenta até o fim
E até nesse
momento você vai
Lembrar de
mim
Eu sei que
esses detalhes vão sumir
Na longa
estrada
Do tempo
que transforma todo amor
Em quase
nada
Mas
"quase" também é mais um detalhe
Um grande
amor não vai morrer assim
Por isso,
de vez em quando você vai
Vai lembrar
de mim
Não adianta
nem tentar me esquecer
Durante
muito tempo em sua vida
Eu vou
viver
Não, não
adianta nem tentar
Me esquecer
Composição:
Erasmo Carlos / Roberto Carlos
Disseram Que Eu Voltei Americanizada
Carmen
Miranda
Me disseram
que eu voltei americanizada
Com o burro
do dinheiro
Que estou muito
rica
Que não
suporto mais o breque do pandeiro
E fico
arrepiada ouvindo uma cuíca
Disseram que
com as mãos
Estou
preocupada
E corre por
aí
Que eu sei
certo zum zum
Que já não
tenho molho, ritmo, nem nada
E dos
balangandans já "nem" existe mais nenhum
Mas pra cima
de mim, pra que tanto veneno
Eu posso lá
ficar americanizada
Eu que nasci
com o samba e vivo no sereno
Topando a
noite inteira a velha batucada
Nas rodas de
malandro minhas preferidas
Eu digo
mesmo eu te amo, e nunca "I love you"
Enquanto
houver Brasil
Na hora da
comidas
Eu sou do
camarão ensopadinho com chuchu
Composição:
Vicente Paiva
As religiões podem melhorar nossa
vida porque ajudam a carregar o fardo da mortalidade. Mas os seres humanos,
pelo menos foi meu aprendizado de vida, continuam frágeis e limitados como
sempre foram.
Por isso, com o olhar de hoje, vejo
como charlatanismo a proposta de Che Guevara de criar um novo homem. Na
verdade, somos e seremos muito menos importantes do que julgamos ser. Creio que
morreria de tédio num mundo perfeito. Por isso, dispenso a crença na vida
eterna e procuro me ajeitar com minha condição de simples mortal.
fernando
gabeira:
GURUS,
CHARLATÕES E CURANDEIROS
17.12.2018
EM BLOG
Volto de
Goiás, onde revisitei o centro de João de Deus, em Abadiânia, e o sítio de Sri
Prem Baba, em Alto Paraíso. Duas cidadelas espirituais, atingidas em níveis
diferentes por um dos tradicionais adversários do espírito: a carne.
Na década
dos 80, visitei o ashram de Rajneesh em Poona, na Índia. Faz anos, portanto,
que me interesso pelo tema. Não tenho uma opinião formada, como os autores Joel
Kramer e Diana Alstad, que escreveram o livro “The Guru Papers”, cujo subtítulo
é: “máscaras de um poder autoritário”.
Eles afirmam
que a relação entre guru e discípulos é uma espécie de deslocamento das
estruturas sociais autoritárias para o âmbito das relações pessoais. Há algo,
no entanto, que minha experiência individual leva a uma concordância com eles:
religiões milenares não conseguiram alterar a fragilidade da natureza humana.
Mas isso não
é uma grande novidade. O avanço da ciência e da tecnologia também não
significou necessariamente um avanço ético.
Kramer e
Alstad tratam mais de gurus de origem oriental. No capítulo em que descrevem
seu poder sexual sobre os discípulos, destacam duas condições que o favorecem:
o celibato e a promiscuidade, no fundo uma ausência de vínculos que deixa o
discípulo mais vulnerável.
Alguns gurus
de origem oriental vêm de sociedades mais rígidas. No Ocidente, tentam aplicar
algumas de suas técnicas e rituais sob o argumento da liberação de impulsos
reprimidos.
Em muitos
casos, a relação com a discípula é vista como uma espécie de uma graça que a
distingue dos outros. Mas há também a tentação de formar haréns com as escolhidas.
No caso de
Sri Prem Baba, esses elementos não estão presentes. Mesmo porque, apesar de
formado na Índia, ele é brasileiro, oriundo de uma sociedade mais liberal.
Ainda assim,
ao me referir de passagem ao caso que teve com uma discípula, afirmei que era
relativamente consensual. Isso porque o poder do guru é muito grande. Ao seguir
um guru, somos convidados a nos render. Como lembram os autores, paixão
significa abandono, deixar rolar: render-se, de uma certa forma, é um caminho
para a paixão.
O caso de João
de Deus é diferente. Ele é famoso por curar. Quando o entrevistei, percebi
alguns traços do rude garimpeiro e uma certa ignorância sobre as forças ou
entidades que lhe comunicavam o poder de curar.
Muito
possivelmente, a relação entre um paciente e o curandeiro não tem as
características de rendição emocional entre guru e discípulo.
Ora é uma
necessidade de sobrevivência, ora a superação de um doença que impossibilita a
vida plena, ou mesmo uma tentativa de contornar a condenação à morte pela
medicina tradicional.
Ironicamente,
no caminho para Abadiânia, soube que na cidade próxima, Alexânia, um padre foi
condenado por abuso sexual. O mesmo aconteceu em Anápolis, onde João de Deus
mora.
O mais
irônico ainda é constatar que a concentração de poder nas mãos do guru ou do
curandeiro os deixa espetacularmente fragilizados diante da vida.
No mundo
político, as delações premiadas são validadas por provas. No universo
espiritual, entretanto, basta a palavra do outro para desfechar uma onda de
condenação. E isso vale inclusive para os campos onde o poder masculino se
impõe: basta ver a comoção que o movimento feminista provocou no universo das
artes nos EUA.
As religiões
podem melhorar nossa vida porque ajudam a carregar o fardo da mortalidade. Mas
os seres humanos, pelo menos foi meu aprendizado de vida, continuam frágeis e
limitados como sempre foram.
Por isso,
com o olhar de hoje, vejo como charlatanismo a proposta de Che Guevara de criar
um novo homem. Na verdade, somos e seremos muito menos importantes do que
julgamos ser. Creio que morreria de tédio num mundo perfeito. Por isso,
dispenso a crença na vida eterna e procuro me ajeitar com minha condição de
simples mortal.
O roteiro da
minha viagem era o cinturão espiritual em torno de Brasília, uma espécie de
contraponto à permissividade do universo político, onde a carne não chega ser
um adversário considerável, no máximo uma distração na longa ordem do dia.
Artigo
publicado no Jornal O Globo em 17/12/2018
Referências
FISCHER, E. A
necessidade da arte. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
https://youtu.be/4rkr4kTo9nY
https://www.letras.mus.br/zeca-pagodinho/78414/
https://youtu.be/SRvbS7pP7F4
https://www.letras.mus.br/roberto-carlos/6971/
https://youtu.be/e4WZVQAh_Hw
https://www.letras.mus.br/carmen-miranda/185585/
http://gabeira.com.br/gurus-charlatoes-e-curandeiros/
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