Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 4 de junho de 2024
SENTINELA ANTONICO
ANTONICO,
SUBMERSA EM DELÍCIAS, LISBOA ESTÁ DESTRUÍDA. E DANÇA-SE EM PARIS. ESPECTADORES TRANQUILOS. INTRÉPIDOS ESPÍRITOS CONTEMPLANDO A DESGRAÇA DESSES MORIMBUNDOS. VOCÊS PROCURAM PAZ. AS CAUSAS DO DESASTRE. TUDO VAI BEM, DIZEM VOCÊS. E TUDO É NECESSÁRIO POR ACASO O UNIVERSO SEM ESSE ABISMO INFERNAL SEM SUBMERGIR LISBOA ESTAVA SENDO PIOR
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Poesia | Como fazer-te saber que há sempre tempo, de Mario Benedetti
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Última manutenção na construção barroca de 1644 foi feita ainda no governo FHC
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Assim como na "Canção da América", de Milton Nascimento e Fernando Brant, onde se canta que "amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração", Mino Carta merece uma retribuição por sua sincera amizade. A canção nos lembra que, mesmo com a distância e o tempo dizendo "não", o que importa é ouvir a voz que vem do coração. Mino, com seu coração italiano, assim como Dona Marisa e seus filhos que gozam de cidadania italiana, não merece apenas elogios ao Berlinguer e ao PCI no calor da visita a Curitiba, mas uma lembrança guardada do lado esquerdo do peito.
Getúlio Vargas foi mais generoso com Jango, tal qual na música "Antonico", de Ismael Silva, onde um pedido de ajuda é feito em nome da amizade: "Faça por ele como se fosse por mim". Da mesma forma, Pixinguinha não deixou Ismael Silva na rua da amargura, e Ismael retribuiu anonimamente com "Antonico", que Gal Costa eternizou.
Assim, a amizade verdadeira, que Milton canta que "qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar", e o pedido de ajuda sincera de Ismael Silva em "Antonico", mostram que a verdadeira amizade e lealdade não conhecem barreiras e merecem ser sempre reconhecidas e celebradas. Mino Carta, portanto, merece ser lembrado e retribuído com a mesma generosidade e amizade que ele demonstrou.
O abandono do palácio que abriga a embaixada do Brasil em Roma
Última manutenção na construção barroca de 1644 foi feita ainda no governo FHC
Por Robson Bonin
24 Maio 2024, 07h01
Uma das tantas joias arquitetônicas de Roma, o Palazzo Pamphili, sede da embaixada do Brasil na Piazza Navona, enfrenta um preocupante estado de abandono.
A última manutenção na construção barroca de 1644 foi feita ainda no governo FHC. Funcionários relatam riscos de incêndio no lugar. O Itamaraty deve fazer melhorias em breve adotando o modelo de financiamento privado articulado com patrocinadores.
O objetivo, segundo o governo, é restaurar afrescos no interior do prédio e as fachadas originais.
Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/radar/o-abandono-do-palacio-que-abriga-a-embaixada-do-brasil-em-roma/mobile
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Antonico
Ismael Silva
Oh, Antonico
Vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Ele está mesmo dançando na corda bamba
Ele é aquele que na escola de samba
Toca cuíca, toca surdo e tamborim
Faça por ele como se fosse por mim
Até muamba já fizeram pro rapaz
Porque no samba ninguém faz o que ele faz
Mas hei de vê-lo muito bem, se Deus quiser
E agradeço pelo que você fizer, meu senhor
Composição: Ismael Silva.
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Canção da América
Milton Nascimento
Letra
Significado
Amigo é coisa pra se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou
Amigo é coisa pra se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam: Não
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier (seja o que vier)
Venha o que vier (venha o que vier)
Qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar
Seja o que vier (seja o que vier)
Venha o que vier (venha o que vier)
Qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar
Composição: Fernando Brant / Milton Nascimento
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ARTE E CULTURA
ANTÔNIO ABUJAMRA ENTREVISTA O JORNALISTA MINO CARTA (BLOCO 03)
TV Cultura
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Imagem via Gallica.bnf.fr / Bibliothèque Nationale de France
O poema de Voltaire sobre o terramoto de 1755
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Chama-se "O Poema sobre o Desastre de Lisboa" e espelha o impacto que a tragédia teve por toda a Europa.
É provável que tenhas alguma ideia da grandeza do terramoto de 1755, por tudo o que a história nos ensinou. Mas pela distância – e até por algum desinteresse generalizado que incompreensivelmente encobre o tema – é menos provável que tenhas noção da dimensão e impacto que o acontecimento teve para Portugal e para o mundo.
Sim, porque a extensão foi global. O sismo influenciou de forma determinante muitos pensadores europeus do Iluminismo. Foram vários os filósofos que fizeram menção ao terramoto nos seus escritos e teorias, do quais se destacam nomes bem famosos como Voltaire, Rosseau ou Adorno.
Além de mencionar a tragédia lisboeta no seu Candide, Voltaire tem um poema dedicado à grandeza do sismo. Chama-se Poème sur le désastre de Lisbonne (Poema sobre o desastre de Lisboa). A arbitrariedade da sobrevivência marcou o autor que satirizou a ideia, defendida por autores como Gottfried Wilhelm Leibniz e Alexander Pope, de que “este é o melhor dos mundos possíveis”.
Com a catástrofe portuguesa, Voltaire viu ruir todas as suas concepções do Mundo vigentes à época, pois considerava que tal fenómeno jamais poderia ter ocorrido se a Terra fosse, como até esse momento se acreditava cegamente, uma mera criação divina, regulada pelos princípios de ordem e harmonia.
O poema vive em livro, editado e traduzido por várias editoras, e vale a pena ser lido para perceber a visão de um dos maiores génios da história, sobre um acontecimento que, tendo acontecido em Portugal, foi visto como uma calamidade por toda a Europa, com repercussões sociais e políticas além fronteira. Fica com um excerto da editora Frenesi, com tradução de Jorge P. Pires.
Ó infelizes mortais! Ó deplorável terra!
Ó agregado horrendo que a todos os mortais encerra!
Exercício eterno que inúteis dores mantém!
Filósofos iludidos que bradais «Tudo está bem»;
Acorrei, contemplai estas ruínas malfadadas,
Estes escombros, estes despojos, estas cinzas desgraçadas,
Estas mulheres, estes infantes uns nos outros amontoados
Estes membros dispersos sob estes mármores quebrados
Cem mil desafortunados que a terra devora,
Os quais, sangrando, despedaçados, e palpitantes embora,
Enterrados com seus tectos terminam sem assistência
No horror dos tormentos sua lamentosa existência!
Aos gritos balbuciados por suas vozes expirantes,
Ao espectáculo medonho de suas cinzas fumegantes,
Direis vós: «Eis das eternas leis o cumprimento,
Quem de um Deus livre e bom requer o discernimento?»
Direis vós, perante tal amontoado de vítimas:
«Deus vingou-se, a morte deles é o preço de seus crimes»?
Que crime, que falta comentaram estes infantes
Sobre o seio materno esmagados e sangrantes?
Lisboa, que não é mais, teve ela mais vícios
Que Londres, que Paris, mergulhadas nas delícias?
Lisboa está arruinada e dança-se em Paris.(…) Ide interrogar as margens do Tejo;
Revolvei os escombros deste sangrento despejo;
Perguntai aos moribundos, nesta morada de pavor,
Se é o orgulho quem clama: «Ajudai-me, Senhor!
Ó céus, tende piedade do humano fadário!»
«Tudo está bem», dizeis vós, «e tudo é necessário.»
Mas quê! O Universo inteiro, sem este abismo infernal,
Sem engolir Lisboa, teria estado em maior mal?(…)
Não, não ostenteis mais a meu coração alterado
Essas imutáveis leis da necessidade,
Essa cadeia dos corpos, dos espíritos, e dos mundos.
Ó sonhos de sábios! Ó desvarios profundos!
Deus tem na mão a corrente, e não está acorrentado;
Por sua escolha benévola tudo é determinado:
Ele é livre, ele é justo, e não é implacável.
Porque sofremos então com um amo justo e amável?
(…)
Elementos, animais, humanos, tudo está em guerra.
Há que reconhecê-lo, o “mal” está sobre a terra:
Seu princípio secreto não nos é de todo conhecido.
Do autor de todo o bem, terá o mal decorrido?
(…)
Um Deus veio consolar a nossa raça alarmada;
Visitou a terra, mas não a mudou em nada!
Diz-nos um sofista arrogante que ele o não pôde fazer:
«Ele poderia», diz outro, «mas havia de o querer:
Querê-lo-ia, sem dúvida;» e, enquanto se apregoa,
Há trovões subterrâneos que vão engolindo Lisboa,
E de trinta cidades dispersam os lambris,
Das margens sangrentas do Tejo até ao mar de Cádis.
Ou o homem nasceu culpado, e Deus pune sua raça,
Ou esse senhor absoluto do ser e do espaço,
Sem furor, sem piedade, tranquilo, indiferente,
De seus primeiros decretos segue a eterna torrente;
Ou a matéria informe, a seu mestre rebelde,
Transporta consigo defeitos tão necessários quanto ela;
Ou Deus nos põe à prova, e esta estadia mortal
Não é senão uma passagem estreita para um mundo eternal.
Aqui experimentamos dores transitórias:
Falecer é um bem que termina as nossas misérias.
Mas quando por fim sairmos desta passagem de agruras,
Qual de nós pretenderá merecer colher venturas?
(…)
Leibniz nunca me ensina por que nós invisíveis,
No mais bem ordenado dos universos possíveis,
Uma desordem eterna, um caos de infelicidades,
A nossos vãos prazeres mistura certas dores que são verdades,
Nem por que é que o inocente, tal como o culpado,
Sofre do mesmo modo este mal desgraçado.
Também não concebo como tudo estaria bem:
Sou como um médico; infelizmente nada sei.
(…)
“Um dia tudo estará bem”, eis aí a nossa esperança;
“Tudo está bem hoje em dia”, eis aqui a ilusão.
(…)
Outrora um califa, chegado à hora em que se falece,
Ao deus que adorava disse então como prece:
«Trago-te, ó único rei, único ser sem limitação,
Tudo o que não possuis na tua imensidão,
Os defeitos, os remorsos, os males e a ignorância.»
Mas poderia haver acrescentado ainda “a esperança”.
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