Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 7 de novembro de 2023
QUERELAS DO MUNDO
Sol
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Na figura, temos uma concepção artística em escala real que compara o tamanho do Sol aos demais planetas do Sistema Solar.
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👆Encarte do Jornal dos Sports (JS)
Primavera árabe
E logo o horror
Querer que o mundo acabe-se
Sombras do amor
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Querelas do Brasil
Aldir Blanc - Tema
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Palhaços líderes brotaram macabros
No império e nos seus vastos quintais
Ao que revêm impérios já milenares
Munidos de controles totais
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A onda de protestos nos países árabes que aconteceu entre 2010 e 2013 ficou conhecida como Primavera Árabe. [1]
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Nas entrelinhas: Esquerdismo contaminou questões do Enem sobre o agro
Publicado em 07/11/2023 - 07:28 Luiz Carlos Azedo
Brasília, Educação, Exportações, Governo, Meio ambiente, Memória, Militares, Política, Política, Tecnologia
A tese da esquerda brasileira era de que o Brasil não poderia se desenvolver com latifúndio e dominação do capital estrangeiro. O que aconteceu foi o contrário
Há mais de 100 anos, a reforma agrária é uma ideia-força para a esquerda brasileira. Demorou para ter apoio popular e, a rigor, nunca se completou. É uma das faces do atraso brasileiro e nosssa iniquidade social. Em Portugal, a reforma agrária aconteceu na Revolução do Mestre de Avis (1383-1385), coroado João I. Foi uma revolução burguesa, que deu origem ao primeiro Estado Nação da Europa. A vitória da burguesia comercial e a reforma agrária impulsionaram tremendamente as indústrias naval e vinícola de Portugal, sem as quais não teriam ocorrido as grandes navegações.
No Brasil, a primeira oportunidade perdida foi na Independência, em 1822. José Bonifácio, em Apontamentos sobre as sesmarias, defendeu as pequenas propriedades, e a distribuição de terras aos indígenas, ex-escravos e colonos portugueses chegou a ser proposta por ele, para as “terras baldias”, numa estratégia de conciliação com os senhores de escravos. A prioridade dada ao arranjo institucional, no qual a monarquia foi a chave para manter a integridade territorial, e capacidade de fazer inimigos de Bonifácio inviabilizaram suas propostas, mesmo não havendo abolição.
A segunda oportunidade foi perdida da Abolição propriamente dita, em 1888, à Proclamação da República, em 1889. No primeiro caso, o Marques de Ouro Preto, em vez de indenizar os ex-escravos, indenizou os escravocratas. Seu projeto Auxílio à Lavoura distribuiu aos ex-senhores de escravos 86 mil contos de réis, o equivalente a um quarto do Orçamento do Império, emprestado pela Casa Rothschild, de Londres, para pagamento em 50 anos e garantia de juros do governo brasileiro. Na segunda oportunidade, Rui Barbosa, ministro da Fazenda de 1890 a 1891, revogou a legislação do Auxílio à Lavoura, para criar um Banco Hipotecário e tributar as propriedades, mas foi derrotado pela elite agrária.
Na Revolução de 1930, não foi muito diferente. Getúlio Vargas chegou ao poder confrontando as elites agrárias de São Paulo e Minas, mas não levou adiante a reforma agrária. Rapidamente se recompôs com esses setores e limitou seu ímpeto reformista a algumas colônias agrícolas e assentamentos em terras da União. Em contrapartida, a legislação trabalhista acirrou os conflitos no campo. Os antigos colonos e meeiros foram expulsos das fazendas, que passaram a recorrer ao trabalho temporário de boias frias nas culturas de algodão, café, cana de açúcar e laranja.
Esse processo contribuiu para a radicalização política que nos levou ao golpe de 1964. Naquele ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população era de 79,8 milhões de pessoas. O número dos que viviam em área rural alcançava 33 milhões. A produção agrícola, porém, não atendia todo o mercado interno. O latifúndio improdutivo ocupava grandes extensões de terras. Os trabalhadores rurais eram mal remunerados e viviam situação de penúria. As ligas camponesas e sindicatos de trabalhadores rurais pressionavam João Goulart e queriam uma reforma agrária na “lei ou na marra”. Jango anunciou a desapropriação de terras às margens de ferrovias, estradas e açudes federais no famoso comício da Central do Brasil, no Rio, em 13 de março de 1964, para 200 mil pessoas. Seu governo acabou ali. Em 31 de março, foi deposto pelos militares com amplo apoio do político e social.
Ideologia e realidade
Por ironia, o Estatuto da Terra, aprovado pelo presidente Castelo Branco durante o regime militar, tornou-se a grande bandeira de organização dos sindicatos rurais, que obtiveram muitas conquistas. A lei dizia que o Estado tinha a obrigação de garantir a terra para quem nela vive e trabalha. Definia o latifúndio improdutivo passível de desapropriação e o modulo rural mínimo para a produção. Entretanto, foi no governo de Fernando Henrique Cardoso, sob comando do então ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, o maior avanço: entre 1995 e 1998, foram desapropriados 7 milhões de hectares, como 287.539 famílias assentadas em quatro anos. No governo Sarney, 4 milhões de hectares já haviam sido desapropriados.
Nada disso consta das provas do Enem sobre a questão agrária. Três questões preconceituosas sobre o agronegócio e a revolução tecnológica na prova voltaram a envenenar as relações entre o setor agrícola e o governo Lula. A rigor, o ministro da Educação, Camilo Santana, não tem nada a ver com o caso, porque a prova é feita por um colegiado de professores, com autonomia de cátedra. Mas é quem pagará a conta. Grosso modo, condenam o capitalismo no campo. É inacreditável, porque a reforma agrária é uma bandeira capitalista, democrático-burguesa, pois se trata de redistribuir a propriedade da terra, e não de coletivização forçada.
O pior é não compreender a importância e o papel do agronegócio no desenvolvimento. Isso não significa endossar o uso de agrotóxico, o reacionarismo ruralista e a violência no campo, a grilagem de terra, a derrubada da floresta para pasto e plantação de soja, o contrabando de madeira etc. A tese da esquerda brasileira, nas décadas de 1950 e 1960, era de que o Brasil não poderia se desenvolver com latifúndio e dominação do capital estrangeiro. O que aconteceu foi o contrário desse dogma: graças a isso, o país se industrializou e as grandes propriedades deram origem ao nosso agronegócio altamente produtivo.
Hoje, o Brasil é o quarto maior produtor agrícola do mundo, atrás apenas da China, da Índia e dos Estados Unidos; lidera a produção de café, carne bovina, frango in natura, celulose, soja, açúcar e, agora, milho. Em breve, será o maior produtor de algodão. Tudo o que o governo Lula não precisava era essa confusão provocada por três questões do Enem pautadas pelo esquerdismo anacrônico, e não pela realidade. Como vimos na história recente, reforma agrária e agronegócio não são coisas incompatíveis.
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Bancada do agro quer anular três questões do Enem 2023; veja quais
Frente parlamentar argumenta que as perguntas são de cunho ideológico e que candidatos poderiam assinalar qualquer alternativa. Professores discordam
POR TAÍS ILHÉU
ATUALIZADO EM 7 NOV 2023, 11H24 - PUBLICADO EM 6 NOV 2023, 16H37
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), formada por congressistas ligados ao agronegócio brasileiro, divulgou uma nota nesta segunda-feira (6) pedindo a anulação de três questões do Enem 2023. Segundo o grupo, as perguntas não tem “critério científico ou acadêmico” e são de “comprovação unicamente ideológica”. Professores ouvidos pelo GUIA DO ESTUDANTE discordam – apontando, inclusive, que importantes cientistas brasileiros foram referenciados nas questões.
Além disso, uma das questões ia justamente no caminho contrário do que argumentam os parlamentares, de estigmatização do agronegócio: dizia que a expansão legal da soja não deve ser vista como única culpada pelo desmatamento, e sim atividades ilegais de grileiros.
“Não cabe dizer que houve qualquer tipo de inclinação ideológica ou mesmo juízo moral, e sim uma análise muito séria sobre problemas que a gente precisa enfrentar, porque dizem respeito a direitos e garantias sociais que estão na Constituição e que estão em documentos assinados pelo Brasil e por outros países, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos”, afirma Luis Felipe Valle, professor de Geografia do Curso e Colégio Oficina do Estudante
A Frente Parlamentar do agronegócio afirma que vai convocar o ministro da Educação, Camilo Santana, para prestar esclarecimentos na Câmara e Senado.
+ Confira aqui o gabarito extraoficial das provas branca, rosa, amarela e azul
Desmatamento da Amazônia, modo de vida no Cerrado e bilionários
As questões alvo de questionamento da FPA são as de número 70, 71 e 89 (tomando como referência a prova branca), todas de Ciências Humanas. A questão 70 tratava do desmatamento da Amazônia, e o texto do enunciado afirmava que, para além do plantio de soja, “a lógica que gera o desmatamento está articulada pelo tripé grileiros, madeireiros e pecuaristas”.
Luis Felipe Valle, do Oficina do Estudante, afirma que esta questão, ao contrário do que reivindicou a Frente Parlamentar, não tinha viés ideológico contra o agronegócio. Pelo contrário, esclarecia que a devastação ambiental precisa ser vista para além da expansão da soja, com enfoque na atividade de grupos ilegais como os grileiros.
O texto do enunciado, destaca o professor, foi escrito por um renomado pesquisador que estuda há mais de 40 anos a Geografia Agrária e leciona na USP (Universidade de São Paulo). Seu objeto de pesquisa – e também tema desta questão do Enem – são as terras devolutas, porções de território que pertencem ao Estado mas estão sem finalidade. Essas terras, explica o professor do Oficina, “acabam sendo utilizadas justamente para atividades irregulares, geralmente ocupadas por grileiros, onde há o desmatamento e a extração de madeira irregular ou até mesmo a mineração”.
O propósito do enunciado era demonstrar que “a pecuária regular e a agricultura regular não podem ser confundidas com essas atividades irregulares feitas, geralmente, em terras devolutas”, conclui. A ocupação irregular destes territórios é que causa do desmatamento, segundo o autor.
A pergunta seguinte, de número 71, falava sobre o turismo espacial capitaneado pelos bilionários, e trazia dois textos de apoio com visões opostas. O primeiro afirmava que a humanidade de maneira mais ampla pode se beneficiar dessas empreitadas, enquanto o segundo apresentava uma crítica aos bilionários. A resolução era de ordem interpretativa, ou seja, os candidatos deveriam compreender qual a mensagem veiculada por cada texto de apoio.
+ O que daria para fazer com a fortuna dos bilionários?
A última questão questionada pela bancada do agro é a 89, que trazia um texto sobre o Cerrado brasileiro. O artigo foi elaborado por pesquisadores da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e publicado na revista científica Elisée, classificada como B1 – alto nível de excelência nacional. O texto afirmava que o avanço do agronegócio está impactando o modo de vida das populações locais, submetendo-as a uma lógica mercadológica e oferecendo riscos de saúde.
De acordo com o professor do Oficina do Estudante, esta questão, de fato, trazia um olhar crítico para o agronegócio, mas pautado em evidências. “Ela é absolutamente embasada em fatos científicos que simplesmente constatam que, embora o agronegócio seja bastante lucrativo para os grandes exportadores de commodities, os efeitos colaterais para os camponeses e para os ecossistemas são muito devastadores e são muito graves”, analisa. Entre os efeitos, ele lista especialmente os agrotóxicos, que inviabilizam a agricultura familiar.
Segundo os parlamentares ruralistas, as três questões deveriam ser anuladas por “negacionismo científico” e por permitir que os alunos marcassem “qualquer resposta”, dependendo do ponto de vista. Professores de cursinhos que realizaram a correção da prova, no entanto, chegaram a uma resolução para as perguntas. Confira abaixo.
Questão 70
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Questão 71
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Questão 89
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https://guiadoestudante.abril.com.br/enem/bancada-do-agro-quer-anular-tres-questoes-do-enem-2023/
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Alegria, Alegria
Caetano Veloso
Caminhando contra o vento
Sem lenço, sem documento
No Sol de quase dezembro
Eu vou
O Sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
O Sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia?
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não? Por que não?
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço, sem documento
Eu vou
Eu tomo uma Coca-Cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
Ela nem sabe, até pensei
Em cantar na televisão
O Sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não? Por que não?
Por que não? Por que não?
Por que não? Por que não?
Composição: Caetano Veloso.
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Anjos Tronchos
Caetano Veloso
Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Desses que vivem no escuro em plena luz
Disseram: Vai ser virtuoso no vício
Das telas dos azuis mais do que azuis
Agora a minha história é um denso algoritmo
Que vende venda a vendedores reais
Neurônios meus ganharam novo outro ritmo
E mais, e mais, e mais, e mais, e mais
Primavera árabe
E logo o horror
Querer que o mundo acabe-se
Sombras do amor
Palhaços líderes brotaram macabros
No império e nos seus vastos quintais
Ao que revêm impérios já milenares
Munidos de controles totais
Anjos já mi, ou bi, ou trilionários
Comandam só seus mi, bi, trilhões
E nós, quando não somos otários
Ouvimos Schoenberg, Webern, Cage, canções
Ah, morena bela
Estás aqui
Sem pele, tela a tela
Estamos aí
Um post vil poderá matar
Que é que pode ser salvação?
Que nuvem, se nem espaço há?
Nem tempo, nem sim, nem não
Sim, nem não
Mas há poemas como jamais
Ou como algum poeta sonhou
Nos tempos em que havia tempos atrás
E eu vou, por que não? Eu vou, por que não? Eu vou
Uns anjos tronchos do Vale do Silício
Tocaram fundo o minimíssimo grão
E enquanto nós nos perguntamos do início
Miss Eilish faz tudo do quarto com o irmão
Composição: Caetano Veloso.
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Caetano Veloso tenta resolver questão do Enem sobre suas músicas
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Caetano Veloso tenta resolver questão do Enem 2023 que cita suas músicas, mas chega a duas alternativas corretas
Em brincadeira proposta por Paula Lavigne, cantor e compositor analisa pergunta que usa trechos de "Alegria, Alegria" e "Anjos Tronchos".
Por g1
06/11/2023 16h16 Atualizado há um dia
Caetano Veloso tenta resolver questão do Enem sobre suas músicas
Será que Caetano Veloso acertaria a questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 sobre duas de suas músicas: "Alegria, Alegria" e "Anjos Tronchos"?
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Enem no WhatsApp
De pijama, aos 81 anos, "no sol de quase dezembro", ele foi desafiado por sua esposa, a produtora Paula Lavigne, a voltar aos tempos de estudante e responder a essa pergunta da prova de Linguagens, aplicada no último domingo (5). Veja o vídeo acima.
Os candidatos do Enem (e Caetano) tinham de comparar trechos de cada canção e apontar o que há de comum entre eles.
"Quando eu li, achei que são todas [as alternativas corretas]", brincou o artista.
Depois de analisar mais atentamente as opções, ele chegou a duas respostas: B e D. "Aparentemente, são as mais apuradas, assim", disse.
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Questão do Enem 2023 cita canções de Caetano Veloso — Foto: Reprodução/Inep
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Segundo o gabarito extraoficial do g1, formulado com o Curso Anglo, a resposta é B. Veja o vídeo da resolução abaixo:
Enem 2023: correção da questão de Português sobre a música 'Alegria, alegria', de Caetano
Enem 2023: correção da questão de Português sobre a música 'Alegria, alegria', de Caetano
LEIA TAMBÉM:
Veja gabarito extraoficial do Enem 2023
Fiquei doente e perdi a prova; o que fazer?
Primeiro domingo de Enem
O primeiro domingo de Enem trouxe a redação -- sobre a invisibilidade do trabalho de cuidado feito pelas mulheres -- e, nas provas de linguagens e ciências humanas, questões sobre racismo, Palestina, cântico da torcida do Fluminense e ditadura militar, por exemplo.
No geral, as perguntas foram consideradas bem contextualizadas, contemporâneas e com a "cara do Enem", segundo professores ouvidos pelo g1. Leia mais aqui.
2º dia do Enem
No próximo domingo (12), os candidatos farão as provas de matemática e ciências da natureza. Confira os horários de aplicação (no fuso de Brasília):
Abertura dos portões: 12h
Fechamento dos portões: 13h
Início das provas: 13h30
Término das provas no 2º dia: 18h30
O candidato só poderá sair com o Caderno de Questões nos últimos 30 minutos de prova.
📽️ No vídeo abaixo, veja se macetes de matemática realmente ajudam no Enem:
Veja se macetes de matemática realmente ajudam no Enem
Veja se macetes de matemática realmente ajudam no Enem
CAETANO VELOSO
ENEM
INEP
https://g1.globo.com/educacao/enem/2023/noticia/2023/11/06/caetano-veloso-tenta-resolver-questao-do-enem-2023.ghtml
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Joel Pinheiro da Fonseca - O Enem é ideológico?
Folha de S. Paulo
Estudante não é chamado a se posicionar; é-lhe pedido que interprete autores
Sinais de que o ano se aproxima do fim: decoração de Natal nas lojas e discussões sobre a "ideologia" no Enem. Desta vez não foi diferente: a bancada do agro já pediu que o MEC anule três questões da prova, por terem "cunho ideológico".
Nos anos anteriores, a preocupação com a "ideologia" (fantasma que ninguém define direito) na prova se centrava em temas de sexualidade —lembremos da pergunta sobre o dialeto LGBT, em 2018, que fez tremer a família brasileira— e da ditadura militar, que chegou a ser banida da prova.
No campo da sexualidade, este Enem não ousou. Já a ditadura voltou a figurar, como deve ser. Ideológica era a decisão de censurar menção a um período importante de nossa história recente.
Há boa variedade de temas, inclusive vários que destoam de opções ideológicas simplórias: a opressão de mulheres afegãs com a volta do Taleban, a política da China para esmagar minorias étnicas, o imperialismo dos incas, a devoção popular da Cavalgada de Santana. A questão 71, uma das três que revoltou a bancada do agro, é uma das mais interessantes: apresenta dois pontos de vista opostos —um otimista, um pessimista— sobre a nova corrida espacial protagonizada pelos super-ricos. O que há de ruim nisso?
Uma das outras perguntas (70) que incomodou o agro fala do desmatamento na Amazônia, mas com uma nuance importante: diz que a soja não é responsável por ele. Discutir o desmatamento já é "ideologia"? Sobra a questão 89, que realmente traz uma visão bastante negativa do agronegócio moderno, embora isso venha como a opinião de um autor a ser lida e interpretada pelo estudante, e não como a afirmação de um fato.
Na seleção de autores, aí sim, ficam claras as preferências ideológicas do Enem: Sartre, Foucault, Merleau-Ponty, Paulo Freire, Milton Santos. São autores de referência, e não há nada a se objetar em sua inclusão, mas falta diversidade. Em particular, faltam vozes mais à direita. A prova quase nada afirma sobre a realidade; fora uma ou outra questão, temos só leitura e interpretação de textos.
Sendo assim, o mosaico de textos deveria abarcar a diversidade ideológica da produção intelectual do país e do mundo, algo que só virá se nossa academia passar a valorizar o debate de ideias, e não a mera reprodução das mesmas referências.
O Enem me fez lembrar da minha passagem pela academia brasileira, na graduação e mestrado em filosofia. O estudante não é, em nenhum momento, chamado a se posicionar. É-lhe pedido apenas que interprete diferentes autores. O acadêmico brasileiro se esconde atrás das citações, deixando ver suas preferências apenas na escolha dos comentadores que citará. É o mesmo espírito do Enem.
E aí mora o maior problema: toda essa sofisticação na leitura de textos acaba impedindo a referência à realidade, sem a qual nada daquilo faz sentido. O que costuma ser visto como um mérito da prova —não demandar "decoreba"— é uma fraqueza. Ela exclui mais do que inclui. A leitura dos textos é difícil. As respostas são ambíguas. Não raro, mais de uma se encaixa. Caetano Veloso, que tem duas músicas citadas numa questão, disse que não conseguiria responder. Para ele, todas as alternativas estão certas.
O que será mais democrático: lançar o estudante num mar de textos, alguns com palavras difíceis e temas de que ele nunca ouviu falar, ou cobrar um pouco menos disso e um pouco mais de datas e fatos importantes da nossa história e do nosso presente? Se ele não sabe quem foi Tiradentes ou quando começou a ditadura, qual a chance de que consiga ler e interpretar Foucault?
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Eterno - Carlos Drummond de Andrade - Devaneios, com Nelson Freitas - Ep. 39
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Eterno – Carlos Drummond de Andrade
Por Revista Prosa Verso e Arte -12/01/2017
Eterno
E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.
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(Le silence éternel de ces espaces infinis m’effraie.)
— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.
Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eternissíssimo
A cada instante se criam novas categorias do eterno.
Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma
[força o resgata
é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos loucos
é tudo que passou, porque passou
é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
[passageiras as obras.
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um
[mar profundo.
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
[afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.
Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
[essência
ou nem isso.
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
[pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma
[esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo.
– Carlos Drummond de Andrade, em “Fazendeiro do Ar”. Rio de Janeiro: José Olympio, 1954.
https://www.revistaprosaversoearte.com/eterno-carlos-drummond-de-andrade/
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"Eu confesso chorando que outra vaquinha igual a essa não tem. Bezerrão mamava. E eu mamava também."
"I confess, crying, that there's no other little cow like this one. The little calf was nursing, and I was nursing too."
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Minha Vaquinha
Amácio Mazzaropi
Para mim acabou a alegria que tinha no meu coração
Eu estou chorando
Chorando de dor
Só Deus sabe a aflição pra tirar a Espinafra do matadouro
Emprestei o dinheiro e o meu sacrifício de nada adiantou
Emprestei o dinheiro e o meu sacrifício de nada adiantou
Eu confesso chorando que outra vaquinha igual essa não tem
Bezerrão mamava
Eu mamava também
Só um monte de terra é o que resta a vaquinha no fundo do chão
Já se foi a Espinafra que era a alegria do meu coração
Já se foi a Espinafra que era a alegria do meu coração
E a vida pra mim continua tristonha, eu preciso viver
E viver pensando
Tudo que sofri
Uma dor como essa, eu tenho certeza, ninguém sofreu
Eu não sei como foi que a minha Espinafra coitada morreu
Eu não sei como foi que a minha Espinafra coitada morreu
Composição: Elpídio dos Santos.
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