“Foi visão? Pobre criança!” A CANOA FANTÁSTICA Castro Alves
Ours du travail germinal des enfants
Fonte:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=50517. Acesso
em: 03/11/2013.
*José de Souza Martins: Levezas do trabalho
infantil
- Valor Econômico / Eu & Fim de
Semana
Ninguém perde a infância sem sofrer as
consequências. Trabalhar no tempo de brincar mutila o entendimento da criança,
rouba-lhe a imaginação e o tempo do afeto
No dia 4 de julho, no Facebook, o
presidente da República defendeu a salubridade do trabalho infantil. Disse que
começou a trabalhar com 9, 10 anos de idade: colhia milho na fazenda em que o
pai trabalhava. E concluiu: "Não fui prejudicado em nada".
Foi, mas disso não tem consciência. Na
alienação, própria do trabalho moderno, o acobertamento de suas reais condições
é uma necessidade da produção, que cria a subjetividade cúmplice de quem
trabalha.
Tenho, diante do nariz, enquanto ouço
a manifestação presidencial, minha Carteira de Trabalho do Menor, de capa
vermelha, emitida pelo Ministério do Trabalho, expedida em 12 de dezembro de
1952, logo depois de ter completado 14 anos de idade.
Com a carteira e o trabalho, o país me
confiscou a adolescência, na jornada de 8 horas de trabalho, 6 dias por semana.
Na verdade, eu já trabalhava desde os 11 anos de idade, trabalho ilegal. Tive
carteira de trabalho só quando minha idade o permitiu. Aí era legal, ainda que
não fosse moral.
Na carteira está anotado o número da
placa de metal que eu levava no peito, que me identificava na portaria da
fábrica: 978TC. Na página 8, consta que fora contratado como praticante por Cr$
3,30 a hora. Na página 21, consta que paguei Cr$ 26,40 de imposto sindical, um
dia de trabalho, relativo a 1953, para o sindicato que eu não sabia o que era
nem onde era.
Em novembro de 1953, comecei a pagar a
contribuição da Previdência Social. Contribuí durante 44 anos, mais a
contribuição compulsória que venho fazendo desde que me aposentei, há 16 anos.
O que soma 60 anos do que é, hoje, na verdade, um tributo, confisco de vida. E
querem aumentar isso! Sem contar os quatro anos de minha infância como
trabalhador clandestino, entre 1950 e 1953, em que o Brasil ficou mais rico às
custas da infância que eu e milhões de crianças não tivemos.
O presidente da República se refere ao
seu trabalho "pesado" porque colhia milho na fazenda em que o pai
trabalhava. Nem por isso a criança Jair Messias deixava de ser explorada. O
empregado da fazenda era seu pai, mas a fazenda recebia de graça o trabalho de
seus filhos.
Como ocorreu com tantas crianças, na
primeira fábrica em que trabalhei, meu trabalho era pesado não porque tivesse
peso, mas porque era perigoso. Exigia de mim um esforço físico que fazia do meu
corpo de criança um precoce corpo de operário adulto. Ficaram sequelas físicas.
Era pesado porque, ao roubar-me a infância, colocou-me sobre os ombros o peso
da vida quando eu ainda não tinha vida suficiente para carregar tamanho peso.
Uma coisa é conhecer o mundo na
experiência de colheita de uma espiga de milho, caso do presidente. Outra coisa
é conhecê-lo no uso de pesada guilhotina no corte de folhas de flandres, ao
usar o peito para aumentar a força que minhas mãos de jogar fubeca ainda não
tinham.
Não vou chorar por ter ido para a
fábrica em vez de ter ficado na rua a brincar com a molecada do subúrbio
operário. Fiz o que qualquer criança fazia, nas fábricas em que trabalhei: o
jogo do contente. Era divertido, embora falso. Eu encarava as máquinas, seu
ruído dodecafônico e seu ritmo horizontalizante da mentalidade e o colorido dos
materiais como parque de diversões.
De fato, quem já trabalhou de verdade
ou viu "Tempos Modernos" (1936) sabe o que é isso. Vê o lado de fora
do trabalho, que faz rir e debochar, mas não o lado de dentro, no
distanciamento do trabalhador de si mesmo que a fábrica produz. No caso da
criança, ela não vê que no fim da jornada de trabalho, quando sai da fábrica,
sai com um pedaço a menos, o da infância que de modo invisível se tornou lucro
e coisa alheia.
Muitos pais acham, com razão, que
preferem os filhos no trabalho e não na rua, para que não fiquem expostos aos
perigos sociais que a rua hoje representa. Mas, para que as crianças não
trabalhassem, os pais teriam que ganhar o suficiente para mantê-las. Não
ganham. Além disso, a sociedade teria que oferecer aos imaturos a educação em
tempo integral e condições de infância e adolescência em tempo integral. É a
liberdade de fantasiar que educa para a vida, não o trabalho impróprio da
criança-coisa.
Ninguém perde a infância sem sofrer as
consequências. Trabalhar no tempo de brincar mutila o entendimento da criança,
rouba-lhe a imaginação e rouba-lhe o tempo do afeto. Ela deixa de ser um filho
para ser um salário. O trabalho antes do tempo empobrece sua visão de mundo. O
presidente da República pode achar que não foi prejudicado em nada, por
trabalhar na infância. Mas, por meio dele, nós fomos. Sua visão pobre do mundo
e da vida, de colhedor de milho, nos empobrece a todos, também as crianças de
agora.
*José de Souza Martins é sociólogo.
Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre
outros livros, autor de “Moleque de Fábrica” (Ateliê Editorial).
Trabalho infantil no mundo
A exploração do trabalho infantil
ainda é uma prática bastante comum em países subdesenvolvidos e deve ser
combatida para evitar a evasão escolar, a miséria e a fome.
Publicado por: Thamires Olimpia
Silva em Geografia humana
Criança trabalhando em uma fábrica de tecidos
nos Estados Unidos, em 1909
O trabalho infantil, isto é, o
desempenho de atividades de qualquer natureza por crianças e adolescentes que
não tenha fins educativos, foi uma prática muito comum em diversas civilizações
ao longo do desenvolvimento da humanidade. Embora atualmente seja uma prática
condenada na maioria dos países, ainda faz parte do cotidiano de milhões de
crianças no mundo inteiro.
♦ Aspectos históricos do Trabalho Infantil
Até a Idade Média, o trabalho
infantil, com exceção do trabalho escravo, estava vinculado ao complemento da
mão de obra para o sustento familiar, sendo pouco comum o desenvolvimento do
trabalho infantil para benefício de terceiros (quando a criança não desfruta do
lucro de seu trabalho). No período feudal, as crianças passaram a trabalhar nos
feudos, para os senhores feudais, e com os mestres artesãos nas Companhias de
Ofício, sendo muito comum, durante esse período, o trabalho infantil em troca
do aprendizado de um novo ofício, comida ou moradia.
A exploração do trabalho infantil
atingiu seu auge durante a Revolução Industrial. Nas primeiras indústrias
implantadas na Inglaterra, França, Alemanha e demais países da Europa, era
comum a exploração da mão de obra infantil em razão de seu menor custo em
comparação com a mão de obra masculina.
Assim, crianças, a partir dos quatro
anos de idade, eram submetidas a regimes de trabalho de cerca de 14 horas
diárias, em locais insalubres, sem controle de acidentes, em troca de pouco
mais do que alimentação e moradia. Em consequência dessa exploração da mão de
obra infantil no início da Revolução Industrial, muitas crianças foram
mutiladas ou perderam a vida em acidentes que aconteceram no interior de
fábricas. Além disso, era comum o abuso infantil dentro dessas fábricas. Erros,
brincadeiras ou até mesmo conversas durante o horário de trabalho recebiam
punições, na maioria das vezes, muito severas.
♦ O início das restrições ao trabalho infantil
Para evitar que essas situações
continuassem a acontecer, em 1802, a Inglaterra implantou a primeira lei de
controle do trabalho infantil nas indústrias do país. Com o passar do tempo,
outros países, como França e Alemanha, também passaram a restringir o trabalho
infantil. Entre as principais medidas implantadas, estavam a proibição do
trabalho infantil noturno, a redução da carga horária máxima e o fim dos
castigos físicos no ambiente fabril.
♦ Consequências do Trabalho Infantil
O conceito de criança tal qual
concebemos hoje, como um ser indefeso que precisa de proteção, surgiu após esse
período e foi um pressuposto para a constatação de que o trabalho infantil
compromete o desenvolvimento da criança e do adolescente. Essa constatação
deve-se ao fato de que crianças trabalhadoras são expostas a acidentes, lesões
e doenças, que, na maioria das vezes, podem ter efeitos permanentes e
irreversíveis em seu organismo, já que, como ainda não atingiram a maturidade
biológica, são menos resistentes.
Além disso, o trabalho, muitas vezes,
impossibilita o convívio com outras crianças e o desenvolvimento de atividades
próprias da idade, como brincar e estudar, comprometendo, assim, o seu
desenvolvimento social e educacional. Diversas pesquisas mostram que uma das
principais causas da evasão escolar é o ingresso precoce da criança e do
adolescente no mercado de trabalho, que, sem qualificação profissional, acabam
ingressando no mercado informal ou em serviços pesados que não exigem
qualificação. Ao permanecer no mercado de trabalho, poucas crianças e
adolescentes regressam para a escola, comprometendo também a sua evolução
profissional.
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O trabalho infantil afeta ainda o
desenvolvimento emocional da criança, que, desde o início da vida, precisa
possuir maturidade para o trabalho. O trabalho infantil pode gerar também
dificuldades para estabelecer laços afetivos em crianças, jovens ou até mesmo
em adultos que ingressaram precocemente no mercado de trabalho em razão das
possíveis situações traumáticas a que estiveram expostas ou das consequências
de maus-tratos sofridos durante o desenvolvimento dessas atividades, visto que
eles ainda são muito comuns entre os “patrões” que infligem a lei e contratam
crianças e adolescentes.
Em consequência dessas constatações,
essa prática passou a ser condenada pela maioria dos países, que passaram a
combatê-la por meio da conscientização das pessoas e adoção de políticas e leis
que punem empresas que contratam crianças para exercer algum tipo de função
empregatícia. Um dos principais órgãos que combatem o trabalho infantil é a
Organização Internacional do Trabalho (OIT), que atua internacionalmente na
promoção de acordos multilaterais para a criação de legislações internacionais
contrárias a essa prática e na promoção de campanhas de conscientização sobre
as consequências do trabalho infantil para a criança e o adolescente.
♦ Dados sobre o Trabalho Infantil
As estratégias de combate ao trabalho
infantil têm conseguido importantes vitórias nos últimos anos. Segundo a OIT¹,
em doze anos (de 2000 a 2012), houve uma redução de cerca de 40% do total de
meninas e 25% do total de meninos que exerciam algum tipo de atividade
remunerada, atingindo uma queda de 78 milhões de crianças trabalhadoras em todo
o mundo.
Embora os resultados desse combate
comecem a aparecer, a erradicação do trabalho infantil ainda é uma conquista
longe de ser comemorada. Ainda é muito comum a ocorrência de crianças
desenvolvendo serviços domésticos (arrumar casas, cuidar de crianças, lavar e
passar roupa etc.), agrícolas (nas pequenas propriedades agrícolas, as crianças
são contratadas para ajudar na produção agropecuária) ou nas ruas dos grandes
centros urbanos (vendendo balas, engraxando sapatos etc.). Estima-se1 que,
em 2012, cerca de 168 milhões de crianças trabalhavam em todo o mundo e metade
desse total desempenhava funções que colocavam a sua saúde, segurança e o seu
desenvolvimento em risco.
Os índices de trabalho infantil são
mais preocupantes em países subdesenvolvidos, principalmente na África
Subsaariana, em alguns países da Ásia e na América. Isso ainda ocorre porque a
principal causa para o trabalho infantil no mundo continua sendo a miséria e a
desigualdade social, aliadas a um sistema educacional precário, que não permite
o desenvolvimento social da população de baixa renda. Sem condições para
garantir o sustento familiar, os adultos responsáveis pela criança acabam
utilizando a mão de obra infantil como um complemento da renda familiar.
Diante disso, para que as medidas de
combate ao trabalho infantil realmente possam dar resultados significativos, é
preciso reduzir a miséria e a desigualdade social no mundo, principalmente em
países subdesenvolvidos. Como o trabalho infantil está relacionado com um
problema social ainda mais complexo, a erradicação total dessa prática é muito
difícil.
Nota:
1 Dados retirados do: BRASIL.
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Organização
Internacional do Trabalho (OIT). III Conferência Global sobre Trabalho
Infantil: relatório final. Brasília, DF: Secretaria de Avaliação e Gestão
da Informação, 2014.
Referências
https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQb9If31wosgsFwwpu0hSPLle01lj-Ya4kvLvM5ZBbHDD31Rmpxhttp://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=50517.
Acesso em: 03/11/2013.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_fafipa_hist_pdp_marinalva_aparecida_consoli.pdf
http://gilvanmelo.blogspot.com/2019/07/jose-de-souza-martins-levezas-do.html
https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/1c36f10225832c975b7a6300f50975cb.jpg
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/trabalho-infantil-no-mundo.htm
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