“No
entanto, ela ainda se move.”
Luiz
Sérgio Henriques*: Por um cosmopolitismo moderno
- O Estado de S.Paulo
21 de julho de 2019
O antídoto mais eficaz contra a ameaça de recuos
pavorosos como o que se seguiu a Weimar
Analogias históricas são, sempre e ao mesmo tempo,
tentadoras e inexatas. O fantasma da República de Weimar, a frágil experiência
democrática que em poucos anos sucumbiu a seus dilaceramentos internos, costuma
ser uma das fontes preferidas de tais comparações, como se a desordem
contemporânea guardasse em si o germe de algo parecido com o fascismo clássico.
Então como agora, a democracia constitucional parecia fadada à derrota diante
do bolchevismo, cedo demais desfigurado por elementos crescentes de
intolerância e fanatismo, e especialmente diante da reorganização corporativa e
autoritária de sociedades como a italiana ou a alemã. A demanda de disciplina
supunha homens fortes e não podia admitir o jogo dos partidos, que
enfraqueceria povos e destruiria nações, as quais, como voltam a dizer, devem
ser cultuadas über alles.
Não é razoável acreditar que fascismo ou comunismo
estejam às portas ou que nossas ruas e instituições devam ser palco de combates
tremendos entre os adeptos de uma coisa ou da outra. Mas de Weimar ainda vêm
advertências inquietantes, como as que se relacionam aos riscos da exacerbação
sectária – suicida, a divisão entre social-democratas e comunistas – ou da
submissão dos conservadores aos modos de agir e pensar da extrema direita. A
desordem, explorada com método por essa direita subversiva, não prenunciava
nenhuma revolução socialista; antes era a melhor amiga da ordem autoritária em
preparação. E Weimar ruiria sob o peso da intrínseca miséria política
evidenciada no sombrio diagnóstico de que, no fundo, não era mais do que “uma
democracia sem democratas”.
Analogias não bastam, mas às vezes jogam uma luz
indireta. Nosso tempo está atravessado por uma grande variedade de contradições
e talvez a maior delas seja entre a unificação mercantil do mundo, até
recentemente realizada sob a bandeira do liberalismo econômico, e as limitações
da regulação política dos impactos que provoca, não em último lugar o
esgotamento de recursos num mundo percebido como a única casa de que dispomos.
Em momentos de maior otimismo chegou-se a supor como inscrita na própria
natureza das coisas a constituição paulatina de uma sociedade civil global, que
se somaria mais ou menos organicamente ao arcabouço de acordos e instituições
nascidos no segundo pós-guerra. Os processos da economia, assim, não teriam
curso automático, condicionados que estariam por múltiplos atores e personagens
portadores de outro tipo de lógica.
A crise de 2008, tão ou mais grave que a de 1930, pôs em
xeque essa perspectiva harmoniosa. Donald Trump não foi propriamente um raio em
céu sereno, mas chocou, e cotidianamente ainda choca, com o nativismo virulento
expresso em seu América first – de fato, a afirmação desabrida de interesses
brutos – e a desconcertante denúncia de arranjos multilaterais criados em ampla
medida pelos Estados Unidos, sem falar no caráter regressivo da agenda de
costumes. Com Trump e seu deus de ira e ressentimento, a mais antiga democracia
moderna abandona a linguagem da hegemonia e desdenha daquele softpower, que,
apesar de tudo, foi um dos pilares do “século americano”, ao lado da imensa
força produtiva e, naturalmente, da capacidade militar. A hegemonia americana,
na definição famosa, nascia originalmente da fábrica, disciplinava almas e
corpos e sobrepujava implacavelmente estruturas mais atrasadas, como a
europeia. Agora a América é para poucos, repele internamente os “não
americanos” e move-se no mundo na base de ameaças e retaliações, mesmo contra
velhos aliados.
As consequências que daí se seguem são surpreendentes.
Recente número da revista The Economist sugere, com alarme, que hoje estão em
risco não só o liberalismo clássico, de que a publicação é coerente baluarte,
mas diretamente a própria ideia conservadora, tal como se cristalizou desde a
Revolução Francesa. O princípio da cautela, o elogio da lenta evolução de
práticas e costumes, a recusa de rupturas drásticas, que só artificiosamente
desviariam uma sociedade do seu curso traçado ao longo de séculos, todos esses
sinais típicos do conservadorismo “de ontem” têm sido contestados
sistematicamente pelo agressivo revolucionarismo antimoderno da nova direita. E
deve-se reconhecer que a narrativa agônica sobre o mundo formulada por tal
“direita alternativa” teve sucesso até agora, especialmente na pars destruens,
ainda que se possa duvidar que uma estratégia de guerra permanente – cultural e
religiosa – possa substituir estavelmente a busca de consensos e valores
compartilhados.
A esquerda não escapou ilesa do sarampão ideológico,
basta lembrar que com o resultado eleitoral americano e fenômenos análogos,
como o Brexit, houve quem imaginasse possível saudar o golpe de misericórdia na
“globalização neoliberal”. Para essa parte da esquerda, não se trata de partir
audaciosamente para a nova fronteira anunciada pela crescente interdependência,
mas de recuar temerosamente para os limites do Estado-nação, só no interior do
qual seria possível defender as conquistas do passado. Na verdade, essa
esquerda “soberanista” mimetiza, em tom menor, o movimento do adversário, de
cujas ações e de cujo programa se torna, querendo ou não, mero comparsa.
Eppur si muove. Nem governos que se veem como borrões do
trumpismo podem se esquivar do novo horizonte global, como se viu ainda há
pouco com o tratado entre os dois grandes blocos da América Latina e da Europa.
Liberais, conservadores e socialistas, filhos legítimos da modernidade,
continuam a ter relevantes chances de se renovar e retomar o controle da
narrativa. Para tanto, tendo bem presente o vínculo nacional e o senso das
realidades próximas, deverão sempre considerar o significado mais profundo de
um cosmopolitismo moderno, o antídoto mais eficaz contra a ameaça de recuos
pavorosos como o que se seguiu a Weimar.
Luiz Sérgio Henriques*
*Tradutor e ensaísta, é autor de ‘Reformismo de esquerda
e democracia política’ (Fundação Astrojildo Pereira, 2018)
A expressão Eppur
si muove é usada com frequência como um apontamento de que os fatos
físicos continuam sendo os mesmos, independente de opiniões ou religiões.
Processo
de Galileu Galilei
“O Processo de Galileu
Galilei (em italiano: Il processo a Galileo Galilei) foi uma
sequência de eventos, começando em torno de 1610, culminando com o julgamento e
condenação de Galileu Galilei pela Inquisição Católica
Romana em 1633 por seu suporte ao heliocentrismo.
Galileo
perante o Santo Ofício, quadro do século XIX por Joseph-Nicolas Robert-Fleury
‘Lido o veredicto e cumprida a cerimônia de abjuração
pública (ao término da qual, segundo contam alguns, Galileu teria murmurado
ironicamente: "eppur si muove " - "e,
no entanto, ela se move"), o sábio recolheu-se à residência do grão-duque
da Toscana, seu velho amigo, onde começou a cumprir a sentença. Pouco depois,
alojou-se por algum tempo no palácio do arcebispo Piccolomini,
em Siena, mudando-se finalmente para Florença, onde passaria seus últimos
anos de vida.’
Pintura
retratando o interrogatório de Galileu diante dos inquisidores.
"Eppur
si muove" (No entanto, se move), teria sido dita
por Galileu Galilei (1564-1642), após sair do Tribunal do Santo Ofício, assim como era chamado o tribunal
da Inquisição Romana.
Sendo assim, nas linhas é descrito um pouco da vida deste gênio da física, da matemática
e da astronomia. Considerado por alguns como o "Pai da Astronomia Moderna".
Considerado o “Pai da Astronomia Moderna”, suas ideias
estão ainda disponíveis para os que não queiram reduzir o mundo ao sol contra a
terra. Ao “nós contra eles”. Ou por reflexo extremado, e terrível, “eles contra
nós”.
“(...)Em 1610,
ele publicou suas descobertas astronômicas, em seu livro, intitulado O
Mensageiro das Estrelas (Sidereus
Nuncius). Basicamente nesse livro, além de expor suas anotações,
teorias, descobertas, ele propunha que a Teoria Heliocêntrica de
Nicolau Copérnico (1473-1543), estaria certa. Vários anos antes de
Galileu descrer das palavras da Igreja, em se dizer que a Terra era o centro do
"universo", Copérnico já havia sugerido o mesmo. E em sua teoria
heliocêntrica, ele dizia que era o Sol que estava ao centro do
"universo" e os demais planetas giravam em torno deste e não o
contrário, como defendia a Igreja Católica até então. A teoria de Copérnico foi
acusada de heresia, e proibida de ser lida. (...)”
Referências
http://gilvanmelo.blogspot.com/2019/07/luiz-sergio-henriques-por-um.html?m=1
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bd/Galileo_before_the_Holy_Office.jpg
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifV0Ul78s5kJhyphenhyphenJPKcEgRyFsFfPif2i5xyFpleLk_CdoYwu30ratZaOwNz85qcu2bre-uZvuwn0idpVtCh7pzNkvyT5V7YsshAXFw904FB0uxVLr-W2f4Ac-ZUMBMDIHYw1HSUBunOiTIp/s280/Galileo_facing_the_Roman_Inquisition.jpg
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmW3WQIQmHFJOEF7r3AZX2K2lL6st3wd3YoRfFZvlqWnyYJUyuU58hxZ9ovaOKY1js27mSpzif110gHEPHPXj3LMQMeXsRKa4P4F8qVjOyjfzQEEX-NmISxZFP-H0A_zTFfY45ViXLbwU-/s320/Galileo.arp.300pix.jpg
http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2010/01/eppur-si-muove.html?m=1
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